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ARTIGO
ORIGINAL
Prevalence
and
factors
associated
with
stunting
and
excess
weight
in
children
aged
0-5
years
from
the
Brazilian
semi-arid
region
夽
Clariana
V.
Ramos
∗,
Samuel
C.
Dumith
e
Juraci
A.
César
UniversidadeFederaldoRioGrande(FURG),RioGrande,RS,Brasil
Recebidoem17defevereirode2014;aceitoem2dejulhode2014
KEYWORDS
Child; Bodyweights andmeasures; Height;
Anthropometry; Prevalence;
Nutritionaltransition
Abstract
Objective: Toanalyzetheprevalenceofexcessweightandlowheight,andidentifyassociated
factorsamongchildrenyoungerthanfiveyears.
Methods: Cross-censusstudy.Atotalof1,640childrenfromtwomunicipalitiesinPiauí,Brazil
wereincluded.
Results: Theprevalenceoflowheightwas10.9%(95%CI:9.3to12.4),inverselyassociatedwith
mother’syoungerageandlowlevelofeducation,lowersocioeconomicstatus,motherswhohad fewerthansixprenatalconsultations,andhouseholds thathadmorethanonechildyounger than5years.Excessweightprevalencewas19.1%(95%CI:17.2to21.0),andremainedinversely associatedwithlowermaternalage,lowmaternaleducation,andcesareandelivery.Stunting wasgreaterinchildrenagedbetween12and23months,whileexcessweightdecreasedwith age.
Conclusions: Itisnoteworthythatthestuntingrate,althoughdecreasing,isstillhigh,while
theprevalenceofexcessweight,eveninthisverypoorarea,already exceedstheexpected percentageforapopulationwithbettersocioeconomiclevel.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrightsreserved.
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.jped.2014.07.005
夽 Comocitaresteartigo:RamosCV,DumithSC,CésarJA.Prevalenceandfactorsassociatedwithstuntingandexcessweightinchildren aged0-5yearsfromtheBraziliansemi-aridregion.JPediatr(RioJ).2015;91:175---82.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:claryvitoria@hotmail.com(C.V.Ramos).
PALAVRAS-CHAVE
Crianc¸a; Pesoemedidas corporais; Estatura; Antropometria; Prevalência;
Transic¸ãonutricional
Prevalênciaefatoresassociadosaodéficitdealturaeexcessodepesoemcrianc¸as de0a5anosdosemiárido
Resumo
Objetivo: Analisaraprevalênciadeexcessodepesoedéficitdealturaeidentificar fatores
associadosentremenoresdecincoanos.
Métodos: Estudocensitáriotransversal.Foramincluídas1.640crianc¸asdedoismunicípiosdo
Piauí,Brasil.
Resultados: Aprevalênciadedéficitdealturafoi10,9%(IC95%:9,3-12,4),inversamente
asso-ciadocommenoridadeeescolaridadematerna,menorcondic¸ãosocioeconômica,mãesque fizerammenosdeseisconsultaspré-natalesenessascasashaviamaisdeumacrianc¸amenor decincoanos.Oexcessodepesoteveprevalênciade19,1%(IC95%:17,2-21,0)emanteve-se inversamenteassociadocommenoridadedamãe,baixaescolaridadematernaepartocesáreo. Odéficitdealturafoimaiorparacrianc¸asentre12e23meses,enquantooexcessodepeso diminuiucomaidade.
Conclusões: Destaca-sequeodéficitdealtura,emboraestejadiminuindo,aindaéelevado,
enquanto aprevalência de excesso de peso, mesmo nessa área muito pobre, já supera o percentualesperadoparaumapopulac¸ãocommelhorescondic¸õessocioeconômicas.
©2014SociedadeBrasileiradePediatria.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todososdireitos reservados.
Introduc
¸ão
OBrasilpassaaindaporummomentodetransic¸ão nutricio-nal,caracterizadoporreduc¸ãomarcantenaprevalênciada desnutric¸ãoeaumentodafrequênciadoexcessodepeso.No entanto,sãorarosnoBrasil1estudosquetenhaminvestigado
namesmapopulac¸ão déficitsdealturaeexcessosdepeso
entremenores de cincoanos. É importante salientarque
tantoosdéficitsquantoosexcessossãoprejudiciaisàsaúde,
causamtanto dano físicoquanto cognitivo ao
desenvolvi-mentoinfantil.Desenvolvimentoinfantilinadequadoafeta
oaprendizado e torna acrianc¸a maispropensaa adquirir
diversasdoenc¸as,comdestaqueparaascardiovascularese
metabólicas.1
Énecessáriaamonitorac¸ãoantropométrica,vistoquea
identificac¸ão precoce tanto de déficit quanto de excesso
de peso possibilita intervenc¸ões com vistas a prevenir
alterac¸õesnodecorrerdavidaepossibilitarpleno
desenvol-vimentonainfânciaenasfasesseguintedociclodevida.2
DadosdaPesquisaNacionaldeDemografiaeSaúde
mos-tramque entre1996 e 2006 houve queda na prevalência
do déficit de altura para a idade de 13,4% para 6,7% no
período,enquanto o déficit de peso paraa idade caiude
4,2%para1,8%.3Nessemesmoperíodo,observou-sedeclínio
dodéficitdepesoparaalturade2,2%em1996para1,5%em
2006evirtualestabilidadenaprevalênciadeexcessopara
esseindicador decercade7%nosdoisanos (2004-2006).3
Emsíntese,nacomparac¸ãodoperíododetempoavaliado,
houvereduc¸ãosubstancialnoriscodedesnutric¸ão infantil
noBrasil, semevidênciadevariac¸ãotemporalnoriscode
obesidade.3
A Pesquisa de Orc¸amento Familiar de 2008-2009, para
crianc¸asmenoresdecincoanos,apontaaregiãoNordeste
como a segunda com maior déficit de peso para a idade
(5,9%) dopaís, só perde paraa região Norte (8,5%).4 Em
relac¸ãoàprevalênciadeexcessodepeso,osciloude25%a
30%nasregiõesNorteeNordeste(maisdoquecincovezes
aprevalênciadodéficitdepeso)ede32%a40%nasregiões
Sudeste,SuleCentro-Oeste(maisdoquedezvezesa
pre-valênciadodéficitdepeso).Oexcessodepesotendeuaser
maisfrequentenomeiourbanodoque nomeiorural,em
particularnasregiõesNorte,NordesteeCentro-Oeste.4
Considerando os aspectos ambientais apontados como
os fatores de maior contribuic¸ão no aspecto nutricional,
especialmenteentrecrianc¸aseadolescentes,evidencia-sea
necessidadedeestudosdebasepopulacionalregionalizados
que abordem asespecificidades e características do
con-textodetransic¸ãonutricionalqueopaísvemmanifestando.5
Dessaforma,o objetivodesteestudofoianalisara
preva-lência deexcessodepeso e déficit dealturae identificar
fatoresassociadosentremenoresdecincoanos.
Metodologia
Estudocensitário,transversal,integrantedoprojeto deno-minadoSaúdedeMenoresdeCincoAnosedeAdolescentes ResidentesnosMunicípiosdeCaracoleAnísiodeAbreu,PI. OsmunicípiosdeCaracoleAnísiodeAbreulocalizam-seao sudestedoEstadodoPiauí. OPiauíé considerado umdos estadosmaispobresdoBrasil.Suaeconomiaestácentrada naagriculturaeoíndicededesenvolvimentohumano(IDH) éde0,7.6,7
Osparticipanteselegíveisparaapesquisaforamtodasas
crianc¸as até59mesesresidentesnasáreas urbanae rural
dessesmunicípiosentrejulhoesetembrode2008.
Devidoànecessidadede identificarfatoresassociados,
foifeitoumcálculodetamanhoamostralaposteori,visto
estapesquisanãotersidoinicialmentedelineadacomesse
objetivo.Comoprevalênciadeexcessodepeso(>+1
escore--z para o indicador peso/altura) foram usados 30% e os
0,05, erro beta de0,20, exposic¸õescom variac¸ão de20%
a80%,frequênciadedesfechoentrenãoexpostosdepelo
menos13%erazãoderiscode1,7.Haveria,assim,
necessi-dadedeincluirpelomenos1.293crianc¸as.Essevalorjáse
encontraacrescidode5%paraperdase15%paracontrole
depotenciaisfatoresdeconfusão.
O instrumento para coletade dadosfoi constituído de
doisquestionários sobrea crianc¸ae a mãe, aplicados por
entrevistadorespreviamenteselecionadosetreinadosaessa
ouàpessoaresponsávelpelaguardadacrianc¸a.
Coletaram--sedadossobreascondic¸õessociodemográficas,assistência
recebidadurantegestac¸ãoeparto,amamentac¸ãoeusode
servic¸osdesaúde.Nomomentodaentrevista,foiaferidoo
pesodacrianc¸a(balanc¸aportátilcomprecisãode100
gra-masfornecidapeloFundodasNac¸õesUnidasparaInfância
e Adolescência(Unicef)e altura(estadiômetros de
alumí-niocomprecisão de1mm)oucomprimento(infantômetro
Harpendencomprecisãode1mm),esseúltimosemenorde
doisanos.
Paraacoletadedados,forampré-selecionados14alunos
comensinomédiocompletoougraduandosdecursosnaárea
dehumanasdaUniversidadeEstadualdoPiauí(Uespi),
Cam-pusdeSãoRaimundoNonato.Essesalunosforamtreinados
durantecincodiasconsecutivos,oitohoraspordia.O
trei-namentoconsistiudeleituradoquestionárioedomanualde
instruc¸ões,simulac¸ãodeentrevistasepadronizac¸ãode
téc-nicas antropométricas. Após essa etapa, oito delesforam
selecionados econtratados parafazer asentrevistas. Dois
graduados em ciências sociais, e com ampla experiência
nessetipodeestudo,forampreviamentedesignadoscomo
supervisores.Oestudopilotofoiconduzidonomunicípiode
SãoRaimundoNonato,localizadonamesmaregiãodosdois
municípiosincluídosnesteestudo.
Foram constituídas duas equipes compostas por um
supervisorequatroentrevistadores.Cadaequipeficou
res-ponsável pela coleta de dados em um desses municípios.
Oprimeiropassofoimapearenumerarasquadrasdasáreas
urbanaseospovoadosdaárearural.Cadaduplade
entre-vistadorespercorriatodososdomicílios,emsentidohorário,
embuscademenoresdecincoanos.Quandohaviana
resi-dência crianc¸as nessa faixa etária, os questionários eram
então aplicados à mãe ou à pessoa responsável pela sua
guarda.
Esses questionários foram codificadospelos
entrevista-dores no fim de cada dia e repassados no dia seguinte
ao seu respectivo supervisor, o qual os enviava à sede
do projeto. Cada um desses questionários foi revisado e
duplamente digitado em ordem inversa, por dois
bolsis-tas.Após adigitac¸ão decada blocode100 questionários,
os bancos eram comparados e, se necessário corrigidos.
Oprograma usadoparatabulac¸ãodosdadosfoio Epi-Info
6.04(CentersforDiseaseControlandPrevention(CDC),GA,
EUA).8
As variáveis dependentes foramo déficit dealtura eo
excesso depeso. O déficit dealtura paraidade (escore-Z
<---2),quersejaocomprimentonocasodecrianc¸as
meno-resdedoisanos(medidaaferidacomoindivíduodeitado)
ouaestatura paracrianc¸as dedoisanos oumais(medida
aferidacomoindivíduodepé),foiavaliadosegundo
méto-dospreconizadoseregistradaem centímetros.Aidadeda
crianc¸afoicalculada emmeses.E oexcesso depeso(IMC
paraaidadeescore-z>1).9
Asvariáveisindependentesforam:município(Caracole
Anísiode Abreu), área (rural ouurbana), se a mãetinha
companheiro(simounão),escolaridadedamãe(atéquatro
anos,cincoaoitoanosounoveanosoumais),semaisde
umacrianc¸amenordecincoanosnodomicílio(nãoousim),
fezseisou+consultaspré-natal(simounão),tipodeparto
(normaloucesariana),amamentac¸ãoexclusiva(<ummês,
umatrêsmesese29diasou>=4meses),crianc¸aconsultou
nosúltimostrêsmeses(simounão)eíndicedebens(criado
apartirdaanálisedecomponentesprincipaisdesete
carac-terísticasdodomicílioepossedequatrobensdomésticos4
eposteriormentedivididoemtercisdomenoraomaior).
Naanálise dos dados, foi usadoo programa Stata
ver-são11.1.Paraasanálisesbrutaseajustadas,foiempregada
a regressão de Poisson com ajuste robusto da variância.
Foiadotado umvalor-pde 5%como nível de significância
estatísticaparatestesbicaudais.Omodelohierárquico,
cri-adoparaaanálisemultivariável, foiconstruídocomouso
noprimeiro níveldosfatoressociodemográficos(incluindo
município,área,idadedamãe,cordapelemãeecrianc¸a,se
tinhaparceiro,escolaridade,nívelsocioeconômico,número
decrianc¸ascommenosdecincoanosdeidadenodomicílio),
nosegundonívelaassistênciarecebidaduranteagestac¸ão
eoparto(pré-natal,partoealturadacrianc¸a),noterceiro
nívelo padrão deamamentac¸ão e dieta (amamentac¸ão e
tempodeamamentac¸ão)enoquartonívelousodosservic¸os
desaúde(consultanosúltimostrêsmesescommédicoe/ou
enfermeiro).
ApesquisafoiaprovadapeloComitêdeÉticaePesquisa
daUniversidadeFederaldePelotas(Ofícionúmero001/08)
e respeitoua resoluc¸ão vigentepara pesquisas comseres
humanos. O questionário foi aplicado após a aceitac¸ão e
assinaturado termo deconsentimento livre e esclarecido
peloentrevistado.
Resultados
Foramincluídasnoestudo1.640crianc¸asmenoresdecinco anosdosdoismunicípios.Foramobtidasinformac¸õessobre 99%delasemCaracole97%emAnísiodeAbreu.Ataxaglobal denãorespondentesfoide4%(65em1.640).
Atabela 1 apresentaa descric¸ãodaamostra. Crianc¸as
que pertenciam ao município de Caracol apresentaram
maiorprevalência(56,6%),suasmãescomidademédiade
26,2 anos (dp= 7,3) e com escolaridade atéquatro anos
(36,5%).Domicílioscommaisdeumacrianc¸amenordecinco
anosobtiveram umaprevalênciade38,8%.Com relac¸ãoà
gestac¸ão,78,5%dasmãesfizeramseisoumaisconsultasde
pré-natal,72,9%tiveramoúltimofilhoporpartonormale
55,3%forneceramparaacrianc¸aaleitamentoexclusivopor
menosdeummês.Nosúltimostrêsmeses,46%dessasmães
levaramacrianc¸aparaconsultarcommédicoouenfermeira.
Aprevalênciadedéficitdealturafoi10,9%(IC95%:
9,3-12,4).Essaprevalênciafoimaiorparacrianc¸ascujasmães
tinhamatéquatroanosdeestudo:13,3%(IC95%1,59-3,96);
eram mais pobres: 14,8% (IC95%1,65-3,61); tinham mais
deuma crianc¸a menor de cincoanos no domicílio: 13,6%
(IC95%1,14-1,99);eogrupocommenornúmerode
consul-taspré-natal(< 6): 15,4% (IC95%1,18-2,16)(tabela 2). Na
análise ajustada, escolaridade da mãe, índice de bens e
Tabela1 Descric¸ãodaamostradeacordocomas caracte-rísticasanalisada(Piauí,2010)
Variável N %
Município
Caracol 928 56,6
AnísiodeAbreu 712 43,4
Área
Rural 921 56,2
Urbana 719 43,8
Idadedamãe
13a19 179 10,9
20a24 630 38,4
25a29 453 27,6
≥30 378 23,1
Temcompanheiro
Não 186 11,3
Sim 1.454 88,7
Escolaridade(anos)
0a4anos 599 36,5
5a8anos 614 37,5
8oumais 427 26,0
Índicedebens(tercis)
Menor 549 33,5
Intermediário 545 33,2
Maior 546 33,3
Maisdeumacrianc¸amenordecincoanosnodomicílio
Não 1.004 61,2
Sim 636 38,8
Fezseisoumaisconsultasnopré-natal
Não 352 21,5
Sim 1.288 78,5
Tipodeparto
Normal 1.196 72,9
Cesariana 444 27,1
Amamentac¸ãoexclusiva
<1mês 871 55,3
1a3meses 462 29,3
≥4meses 242 15,4
Consultanosúltimostrêsmeses
Não 885 54
Sim 755 46
Total 1640 100
associados com o déficit de altura. Número de crianc¸as menores de cinco anos no domicílio também mostra-se inversamenteassociadocomodéficitdealtura.Parto cesá-reo, que era um fator de protec¸ão, perdeu associac¸ão e o município de Anísio de Abreu passou a ter uma maior prevalência,quando ajustado paravariáveis demográficas e socioeconômicas. Crianc¸as que consultaram nos últimos trêsmesestiveramassociac¸ãolimítrofecomdéficitdealtura (p=0,06).Essedesfechoocorreucommaiorfrequênciaem crianc¸asentreumedoisanosefoimenorparaaquelascom menosdeumano.
O excesso de peso teve prevalência de 19,1% (IC95%: 17,2-21,0)efoisemelhantenosdoismunicípios.Menor esco-laridadematernaatéquatroanos:13,1%(IC95%0,35-0,59); menor nível socioeconômico: 11,2% (IC95%0,31-0,53); ter mais de umacrianc¸a com menos de cincoanos no domi-cílio:16,3%(IC95%0,63-0,97);eogrupocommenornúmero deconsultaspré-natal(<6):13,5%(IC95%0,49-0,88)foram fatoresdeprotec¸ãoparaexcessodepesonaanálisebruta. Fazerpartocesáreoapresentouassociac¸ãonegativa:26,1% (IC95%1,29-1,94) (tabela 3). Na análise ajustada,área de
moradia,cordapele,númerodecrianc¸asmenoresdecinco
anose consultaspré-natalperderamaassociac¸ão.
Perma-neceramassociadosaoexcessodepesomaiorescolaridade,
maioríndicedebensepartocesáreo.
Discussão
Este estudo mostrou prevalências elevadas de excesso de pesoedéficitdealtura.Associac¸õesimportantescomofator derisco foramencontradas,comdestaqueparadéficit de alturacombaixoníveldeescolaridadedamãe,baixarenda, menorcondic¸ãosocioeconômicaemenosdeseisconsultas pré-natal.Emrelac¸ãoaoexcessodepeso.mãeadolescente epartocesáreoassociaram-seafatorderiscoecomofator deprotec¸ãobaixaescolaridadematernaebaixonível soci-oeconômico.
Apesquisaapresentouresultadosquedemonstramcerta especificidadepelofatodeterem sidoobtidosa partirde umaamostrahomogêneadeindivíduosdebaixascondic¸ões socioeconômicas,oriundosdaregiãosemiáridadoPiauí,um dosestadoscomaspiorescondic¸õessociais.
O declínio da desnutric¸ão já está acontecendo nessa região. O déficitde peso paraidade foimenor doque 3% (dado não apresentado), o que evidencia que os valores estãodentroda‘‘normalidade’’ecaracterizaamudanc¸ade perfisepidemiológicosquedemarcamatransic¸ão nutricio-nal,nosquaisoproblemadodéficitnutricionalésubstituído peloexcessodepeso.5
Como pontos positivos, esta pesquisa abrange uma
populac¸ãopoucoestudadaemuitodesfavorecida,pelasua
localizac¸ãogeográfica,longedacapitaldoestadoede
difí-cilacesso.Existempoucosestudosqueaveriguamextremos
antropométricose, nessaamostra,aindaforamanalisadas
crianc¸asnosdoisextremos:dedéficitdealturaedeexcesso
depesoeconstatou-seumafasedetransic¸ãonutricional.
Como limitac¸ão, pelo delineamento transversal do
estudo, não se pode descartar o fenômeno da
causali-dade reversaemalgumasassociac¸ões,como porexemplo,
amamentac¸ãoeconsultanosúltimostrêsmeses.
Odéficitde alturaencontradofoi de10,9%,
semelhan-temente ao estudode Saldiva etal.,10 feitonosemiárido
nordestinodo RioGrandedoNorte,com umaprevalência
de9,9%. Osdois retratamasdesigualdades
socioeconômi-casedificuldadedeacessoaosservic¸osbásicosdesaúdee
deassistênciasocialetornamessasregiõesáreas
prioritá-riasparaesforc¸osnanormalizac¸ãodessesdéficitsinfantis.
As crianc¸as desassistidas dessas regiões tornam-se
vulne-ráveis àinterrupc¸ãoe/ouretardodeseudesenvolvimento
pleno,poisasdeficiênciasnutricionaispersistentesna
infân-ciacomprometeminicialmenteopesoe,aseguir,diminuem
Tabela2 Análisebrutaeajustadadodéficitdealturacomasdemaisvariáveis(Piauí,2010)
Variável Déficitdealtura(%) Análisebruta Análiseajustada
RP(IC95%) Valorp RP(IC95%) Valorp
Município 0,22 0,05
Caracol 10 1 1
AnísiodeAbreu 11,9 1,19(0,90-1,58) 1,34(1,01-1,79)
Área 0,23 0,27
Urbana 9,8 1 1
Rural 11,7 1,19(0,89-1,59) 0,84(0,62-1,14)
Idadedamãe 0,82 0,87
13a19 10,2 1,05(0,61-0,79) 0,91(0,53-1,59)
20a24 11,7 1,19(0,82-1,74) 1,07(0,72-1,60)
25a29 10,9 1,12(0,74-1,68) 1,11(0,74-1,69)
≥30 9,8 1 1
Temcompanheiro 0,16 0,06
Não 13,9 1,33(0,89-1,97) 1,44(0,98-2,11)
Sim 10,5 1 1
Escolaridade(anos) <0,001 0,04
0a4 13,3 2,51(1,59-3,96) 1,84(1,15-2,94)
5a8 12,3 2,31(1,46-3,65) 1,77(1,10-2,86)
≥9 5,3 1,00 1,00
Índicedebens
(tercis)
<0,001 0,01
Menor 14,8 2,45(1,65-3,61) 1,94(1,30-2,91)
Intermediário 11,6 1,92(1,28-2,90) 1,63(1,07-2,49)
Maior 6,1 1 1
Maisdeumacrianc¸a
menordecinco
anosnodomicílio
0,004 0,02
Não 9,1 1 1
Sim 13,6 1,50(1,14-1,99) 1,37(1,03-1,82)
Fezseisoumais
consultasno
pré-natal
0,002 0,04
Não 15,4 1,60(1,18-2,16) 1,37(1,01-1,84)
Sim 9,6 1 1
Tipodeparto 0,04 0,68
Normal 11,9 1 1
Cesárea 8,1 0,69(0,48-0,98) 1,08(0,75-1,55)
Amamentac¸ão
exclusiva(meses)
0,24 0,69
<1 11,7 1,52(0,94-2,45) 1,21(0,76-1,95)
1a3,9 10,8 1,40(0,84-2,35) 1,12(0,67-1,68)
≥4 7,7 1 1
Crianc¸aconsultounos
últimostrêsmeses
0,11 0,06
Não 9,7 1 1
Sim 12,2 1,25(0,95-1,66) 1,30(0,99-1,72)
RP,razãodeprevalência.
Foi encontrada associac¸ão entre déficit de altura com baixa escolaridade da mãe. Em Pernambuco,o déficit de estatura foide8,7% em 2006,o qualtambémapresentou associac¸ão commenorescolaridadematerna.11 A
escolari-dadematernatemsidoapontadacomo fatorassociadoao
crescimentoinfantil.12,13 No estudo deMenezes et al. foi
identificadoquefilhosdemãescommenosdequatroanosde
estudo têm chance duas vezes maiorde ficarcom déficit
deestatura.14
Aformacomque amãededicasuaatenc¸ãoaosfilhos,
tanto diretamente como por meio de cuidadores, assim
comoseuacessoaosservic¸osdesaúde,éinfluenciadapelo
níveldeescolaridade.Amãecommaiorescolaridadepresta
assistênciamelhoraosseusfilhosdevidoaomaior
conheci-mentoeinformac¸ão,assimcomoseuacessoaosservic¸osde
saúdeéinfluenciadopeloníveldeescolaridade.15
Nívelsocioeconômico(medidopeloíndicedebens)
Tabela3 Análisebrutaeajustadadoexcessodepesocomasdemaisvariáveis(Piauí,2010)
Variável Excessodepeso Análisebruta Análiseajustada
RP(IC95%) Valorp RP(IC95%) Valorp
Município 19,1 0,99 0,08
Caracol 19,1 1 1
AnísiodeAbreu 1(0,82-1,22) 0,83(0,68-1,02)
Área <0,001 0,10
Urbana 24,8 1 1
Rural 14,7 0,59(0,49-0,73) 0,82(0,65-1,04)
Idadedamãe 0,23 0,02
13a19 24,3 1,36(0,97-1,01) 1,60(1,14-2,25)
20a24 19,5 1,09(0,83-1,43) 1,24(0,95-1,62)
25a29 17,6 0,99(0,73-1,33) 1,02(0,76-1,36)
≥30 17,8 1 1
Temcompanheiro 0,63 0,74
Não 20,4 1,08(0,79-1,47) 0,95(0,70-1,28)
Sim 18,9 1 1
Escolaridade(anos) <0,001 0,04
0a4 13,1 0,45(0,35-0,59) 0,69(0,51-0,92)
5a8 18,3 0,64(0,51-0,80) 0,79(0,62-1,02)
≥9 28,8 1 1
Índicedebens
(tercis)
<0,001 0,001
Menor 11,2 0,41(0,31-0,53) 0,52(0,37-0,73)
Intermediário 18,5 0,67(0,53-0,84) 0,79(0,62-1,02)
Maior 27,7 1 1
Maisdeumacrianc¸a
menordecinco
anosnodomicílio
0,03 0,20
Não 20,9 1 1
Sim 16,3 0,78(0,63-0,97) 0,87(0,70-1,08)
Númerodeconsultas
pré-natal(seisou
mais)
0,004 0,06
Não 13,5 0,66(0,49-0,88) 0,76(0,57-1,01)
Sim 20,6 1 1
Tipodeparto <0,001 0,04
Normal 16,5 1 1
Cesárea 26,1 1,58(1,29-1,94) 1,25(1,01-1,55)
Amamentac¸ão
exclusiva(meses)
0,06 0,58
<1 18,4 0,76(0,58-1) 0,90(0,69-1,17)
1a3,9 17,1 0,71(0,52-0,96) 0,86(0,63-1,15)
≥4 24,2 1 1
Crianc¸aconsultounos
últimostrêsmeses
0,31 0,52
Não 18,2 1 1
Sim 20,2 1,11(0,91-1,36) 1,07(0,88-1,30)
RP,razãodeprevalência.
Verifica-seque a diferenc¸a nasprevalências dedéficit de estaturaentreosextremosdasclassesdopoderaquisitivo édecercadetrêsvezes,comconcentrac¸ãodoretardodo crescimentona infâncianos estratosmenosfavorecidos.11
Nesteestudofoiencontradaprevalênciadedéficitdealtura
aproximadamenteduasvezesmaiorentreosmaispobresem
relac¸ãoàscrianc¸ascommelhorníveleconômico.
Odéficitdealturatevemaiorprevalênciaquandoexistia
maisdeumacrianc¸amenordecincoanosnomesmo
domi-cilio(13,6% versus9,1%), o quepodese atribuir aobaixo
nívelsocioeconômicoeaofatodeterquecompartilharos
mesmosalimentoscomosoutrosmembrosdafamília.Essas
associac¸õesevidenciamque,mesmoemumaregiãopobre,
físicoprejudicado,mesmoapósajusteparaoutrasvariáveis socioeconômicas.
Outra associac¸ão importante encontrada foi a relac¸ão
entremenornúmerodeconsultaspré-nataldamãeebaixa
estaturadacrianc¸a.Issopodeocorrerdevidoàimportância
doperíodogestacionalsobreodesenvolvimentodacrianc¸a.
Novas evidências reforc¸am ainda mais a importância do
estadonutricionaldasmulheresedeseuacompanhamento,
nomomentodaconcepc¸ãoeduranteagravidez,para
asse-gurarocrescimentofetaleodesenvolvimentosaudávelda
crianc¸a, pois32 milhões de bebês nascem pequenos para
aidade gestacionalanualmente, oque representa27% de
todos os nascimentos em países periféricos.1 Esses dados
ressaltamaimportânciadoacompanhamentopré-natalpara
asaúdematernaedacrianc¸a.
Aprevalênciadeexcessodepesofoide19,1%.Há
estu-dos que associam obesidade infantila diversosdesfechos
desfavoráveis na vida adulta, com destaque para asma,
hipertensão,diabetes,doenc¸ascoronarianasealgunstipos
decâncer,como,porexemplo,colorretalederins.15-17
A maior prevalência do excesso de peso foi na zona
urbana (24,8% versus 14,7% na zona rural). Na análise
bruta morar em zona rural foi fator de protec¸ão, que
perdeu associac¸ão na análise ajustada. Tradicionalmente,
populac¸õesqueresidemnointerior,especialmenteemáreas
rurais, são mais susceptíveis a déficits nutricionais,
prin-cipalmente as crianc¸as. Porém, nos últimos anos, com a
reduc¸ãodadesnutric¸ãodeformaaceleradaeocrescimento
daobesidade,essaevidênciavemdiminuindo,11como
acon-teceuemnossoestudoapósaanáliseajustada.
Asmãesadolescentes(13a19anos)forammais
propen-sas a ter crianc¸as com excesso de peso e a escolaridade
materna baixa foi fator de protec¸ão para esse excesso.
Estudos revelam que a idade materna no nascimento da
crianc¸a,menor ouiguala 20anos, seriadeterminante de
sobrepeso.1,17 Podemosdestacarque a mãeé o eloentre
acrianc¸ae omeioem quevive. Seessamãeseencontra
em uma idade de conflitos, descobertas, transformac¸ões,
que são manifestados na adolescência, eles poderiam
refletir também na alimentac¸ão e saúde do filho dessa
adolescente.
Houve associac¸ão direta entreexcesso depeso e nível
econômico.Supõe-sequecrianc¸ascommelhorescondic¸ões
socioeconômicastenhammaioracessoa determinados
ali-mentosmaiscalóricose,porvezes,maiscaros,assimcomo
maiordiversidadedealimentosemsuascasas.Issopoderia
estimularoganhodepesonessegrupo.
Encontramos também que mães que fizeram cesáreas
apresentaramchancecercade60%maiornaanálisebrutae
25%naanáliseajustadadeterfilhoscomexcessodepeso.
ResultadosemelhantefoiverificadonoestudodeXavieret
al.,18emquenogrupodeescolaresobesos66,7%referiram
ternascidodepartocesáreoeentreaquelescomsobrepeso
55,6%referiramcesariana.
Comesseestudopodemosconcluirqueasmudanc¸as
ocor-ridasnopaísaolongodosanos,comoacriac¸ãodoprograma
bolsa-família, o reajuste do salário mínimo, a melhoria
na distribuic¸ão de renda em algumas regiões e outros
programasgovernamentais ajudaram na transformac¸ão da
economiabrasileira.Nessecenário,observa-sequeas
pes-soas estão saindo da miséria e adquirindo mais bens e
condic¸ões para seu sustento e alimentac¸ão, o que pode
explicaradiminuic¸ãodadesnutric¸ãobrasileiraeoaumento
dosobrepeso/obesidade.
Deve-seatentarparaessecrescimentoeconômico
tam-bémvir acompanhado de políticas públicas voltadas para
aeducac¸ãoemsaúdedapopulac¸ãoeaimplementac¸ãode
programasqueincentivem alimentac¸ãoadequada.
Conhe-ceroperfilnutricionaldascrianc¸asdessaregiãoeosfatores
associadospermitetrac¸arumplanodecontrolenutricional
eorientaressasfamíliasaadquirirhábitosmaissaudáveis.
Destaca-se que o déficit de altura, embora esteja
dimi-nuindo,aindaestáalto(10,9%),enquantoaprevalênciade
excessodepeso (19,1%)jásuperouopercentual esperado
paraumapopulac¸ãonormal,queseriade16%.
Financiamento
ApesquisateveapoiodoConselhoNacionalde Desenvolvi-mentoCientíficoeTecnológico(CNPq)edasprefeiturasdos municípiosestudados,AnísiodeAbreueCaracol,Piauí.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
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