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Acta Cirurgica Brasileira
Online version ISSN 16782674Acta Cir. Bras. vol.15 n.4 São Paulo Oct./Nov./Dec. 2000
http://dx.doi.org/10.1590/S010286502000000400003
3 ORIGINAL ARTICLE
ESTUDO ULTRAESTRUTURAL DO COLO UTERINO
DE RATAS OOFORECTOMIZADAS APÓS
APLICAÇÃO DE ÓLEO DE COPAÍBA
1Nara Macedo Botelho Brito2 Luiz KulayJúnior3 Manuel de Jesus Simões4 Oswaldo Alves Mora4 José Antônio Diniz5 Luciana Garcia Lamarão6 Brito NMB, KulayJúnior L, Simões MJ, Diniz JÁ, Lamarão LG. Estudo ultraestrutural do colo uterino de ratas ooforectomizadas após aplicação de óleo de copaíba. Acta Cir Bras [serial online] 2000 OctDec;15(4). Available from: URL: http://www.scielo.br/acb.
RESUMO: Em virtude da extensa utilização empírica do óleo de copaíba em tratamentos ginecológicos, este trabalho visa realizar um estudo ultraestrutural do colo uterino de ratas após aplicação deste óleo. Foram utilizadas 12 ratas adultas distribuídas em 4 grupos: Água, Milho, Padrão e Copaíba. Os animais foram submetidos a ooforectomia bilateral e após 21 dias foi iniciada a aplicação das substâncias. A eutanásia foi realizada em datas prédetreminadas (7o, 14o e 21o dias). Os grupos Padrão, Água e Milho apresentaram epitélio com duas a três fileiras de células poliédricas e núcleos de diferentes tamanhos e formas. Já no grupo copaíba, o epitélio era constituído de várias fileiras de células (8 a 10 fileiras). Concluiuse que o óleo de
copaíba promoveu aumento de fileira de células da camada epitelial com queratinização no colo uterino de ratas ooforectomizadas.
DESCRITORES: Ratos. Colo uterino. Ovariectomia.
INTRODUÇÃO
Na Amazônia, em virtude da riqueza de sua flora, muitas plantas são utilizadas pela população como alternativas para o tratamento de doenças, é a chamada medicina natural. Isto ocorre embora pouco se saiba sobre seus princípios ativos, mecanismos de ação e toxicidade.4,9,14,31O óleo de copaíba, extraído de uma árvore de grande porte denominada Copiafera, tem
assumido grande importância dentre estas substâncias não só na Região Amazônica como também em outros países para os quais é exportado.1,10,12,15,18,19,20,27,31,32
Tem sido utilizado com fins medicinais como antiblenorrágico, anticatarral, antiinflamatório e cicatrizante. Por via vaginal é aplicado sob a forma de óvulos para o tratamento de cervicites e leucorréia.3,7,8,11,16,17,18,20,24,32
Apesar de ser relatado na medicina popular o amplo espectro de ação, poucos trabalhos experimentais foram encontrados testando sua eficácia. Em virtude da extensa utilização empírica do óleo de copaíba em tratamentos ginecológicos, a despeito do pouco
conhecimento acerca do(s) princípio(s) ativo(s), ação e toxicidade,28 este trabalho tem como objetivo estudar o efeito desta substância no colo uterino de ratas.
MÉTODOS
Como amostra foram utilizadas 12 ratas (Rattus norvegicus albinus, Rodentia Mammalia), virgens, adultas, com peso de 200 a 250g, oriundas do Biotério do Instituto Evandro Chagas de BelémPará e adaptados ao Laboratório de Cirurgia Experimental da Universidade do Estado do Pará por um período de 15 dias, recebendo água e ração ad libitum durante todo o experimento.
Os animais foram distribuídos em 4 grupos de estudo constituídos por 3 animais cada: Grupo Água (GA), Grupo Milho (GM) e Grupo Copaíba (GC), conforme a substância a ser aplicada, e ainda um Grupo Padrão (GP) constituído por animais que não receberam tratamento. Todos os animais foram subdistribuídos em subgrupos de acordo com a data determinada para eutanásia, padronizadas como 7º, 14º e 21º dias após o início do tratamento.
Os animais foram submetidos a ooforectomia bilateral por via ventral sob anestesia inalatória com éter etílico, sendo mantidos em gaiolas com ambiente controlado por 20 dias para então, ser iniciada a aplicação da substância de acordo com o grupo a que pertencesse.
No 21º dia após a ooforectomia, ou seja, no dia zero do experimento (D0), foi colhido conteúdo do 1/3 inferior da vagina, utilizandose hastes com algodão embebido em solução salina a 0,9%.2,23 Após colhido, o material foi distribuído sobre lâmina, sendo então,
mergulhada em solução de álcool absoluto para posterior coloração pelo método de HARRIS SHOOR.2,26
Nos Grupos Água, Milho e Copaíba foram aplicados respectivamente água destilada
esterilizada, óleo de milho e óleo de copaíba na sua forma in natura. De acordo com cada grupo, foi aplicado por via vaginal 0,3 ml da substância correspondente, utilizandose seringas descartáveis. No Grupo Padrão não houve aplicação de substância, sendo estes animais submetidos apenas à ooforectomia e posterior estudo do colo uterino dos animais. O óleo de milho utilizado foi adquirido comercialmente e era composto por gorduras
poliinsaturadas, monoinsaturadas e saturadas. A cultura para cocos e bacilos apresentouse negativa. Quanto a análise físicoquímica, foi observado índice de acidez 0,27%, índice de saponificação 191 mg%, índice de refração 1.465, índice de iodo 113 e índice de peróxido 17,7 mEq/kg.
O óleo de copaíba utilizado foi da espécie Copaifera reticulata Ducke, proveniente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA – Amazônia Oriental).
Os animais foram submetidos a eutanásia em data prédeterminada (7º,14º e 21º) por meio de dose inalatório letal de éter etílico, seguido de retirada da peça contendo o colo uterino. O preparo das peças foi realizado no Serviço de Microscopia Eletrônica do Instituto Evandro Chagas em BelémPará e a descrição e eletromicrografias no serviço de Microscopia
Eletrônica da Disciplina de Histologia da UNIFESPEPM. Cada colo uterino foi dissecado sob lupa e retirados fragmentos de aproximadamente 1mm3 de área , e fixados em solução de glutaraldeído 2% por 2h. Após processamento histológico foi realizada a inclusão dos fragmentos em Epon. Os cortes foram então levados ao ultramicrótomo para obtenção de cortes de 0,5um. Os cortes ultrafinos (60 a 90 nm) foram então analisados em microscópio eletrônico.
RESULTADOS
Todos os grupos no 21º dia apresentaram a colpocitologia da seguinte forma: escassez de elementos celulares de origem epitelial e grande concentração de leucócitos. Houve
predomínio, entre as células epiteliais, de células de pequeno diâmetro, núcleo grande, central e vesiculoso com citoplasma basófilo, características da camada basal. Estavam presentes ainda algumas células da camada intermediária. As células acidófilas,
características da camada superficial, eram raras e apresentavam preservação do núcleo e, em algumas, havia sinais de degeneração. Foi observado aumento da concentração de muco. Quanto aos aspectos ultraestruturais, os Grupos Padrão, Milho e Água no 7º, 14º e 21º dias foram descritos em conjunto por apresentarem as mesmas características.
O epitélio era constituído de duas a três fileiras de células poliédricas e núcleos de diferentes tamanhos e formas. Núcleos com equilíbrio na distribuição da cromatina sendo eucromático na porção central e heterocromático na periferia. A membrana citoplasmática mostrou grande quantidade de interdigitações e citoplasma pobre em organelas. Foram visibilizadas algumas mitocôndrias e fragmentos de ribossomos dispersos pelo citoplasma. Na região apical das células mais superficiais foram observadas numerosas vesículas eletrotranslucentes se insinuando para a superfície da célula. Nesta, também foram vistos prolongamentos citoplasmáticos formando pequenas vilosidades. A lâmina basal apresentouse uniforme e levemente retilínea (Fig.1).
citoplasmático, núcleo chafrado e com citoplasma contendo lisossomas. A matriz era bastante fibrosa mostrando grande concentração de fibras colágenas, principalmente do tipo I,
entremeadas em algumas áreas eletrotranslucentes. Apresentou poucos vasos sanguíneos (Fig.2).
O Grupo Copaíba quer seja no 7º, 14º e 21º dia apresentaram as seguintes características: Epitélio constituído de várias fileiras de células, com aproximadamente 8 a 10 fileiras
embricadas entre si, com grande concentração de interdigitações e desmossomos. A lâmina basal apresentouse com saliências e reentrâncias. As células da camada basal são
ligeiramente cubóides, núcleo eucromático com núcleo evidente. O citoplasma mostrou retículo endoplasmático granular, grande concentração de mitocôndrias e algumas vesículas eletrotranslucentes. Nas camadas intermediárias as células tornamse mais planas com núcleos elípticos, eucromáticos e citoplasma com retículo endoplasmático bastante
desenvolvido. Foi observado também o aumento gradual da concentração de tonfilamentos e grânulos eletrodensos. As camadas mais superficiais mostraram células anucleadas e
acúmulo de queratina (Figs. 3 e 4)
A lâmina própria do Grupo Copaíba apresentou células esparsas, mergulhadas em substância intercelular, constituída por fibrilas colágenas e espaços eletrotranslucentes. Fibroblastos bastante desenvolvidos com núcleos eucromáticos e nucéolos evidentes. Citoplasma com retículo endoplasmático granular e grande concentração de mitocôndrias. Raríssimos leucócitos foram observados. Grande concentração de vasos sanguíneos com luz ampla e célula endotelial com muitas vesículas de pinocitose (Fig. 5).
DISCUSSÃO
O óleo de copaíba destacase dentre as substâncias medicinais de uso popular principalmente na Amazônia como antiinflamatório, cicatrizante e antiinfeccioso por via oral, tópica ou
vaginal.1,3,7,8,15,16,17,18,20,24,27,31,32
Embora seja de uso difundido tanto pela população quanto pelo meio médico, pouco se conhece sobre seu efeito via vaginal quando utilizado para o tratamento de cervicites, leucorréia e mesmo displasias de colo uterino.
Com esta finalidade, os animais foram distribuídos no presente estudo de tal forma que GP determinasse parâmetros de normalidade, visto que foram submetidos apenas à
ooforectomia e à eutanásia, e GA avaliasse possíveis alterações decorrentes da manipulação e/ou aplicação da substância.
A administração do óleo de milho teve como finalidade observar se as modificações
encontradas seriam em decorrência do(s) princípio(s) ativo(s) do óleo de copaíba ou pela característica oleosa da substância.
ciclo estral dos animais, foi realizada ooforectomia bilateral para que, desta forma, todos os animais ficassem em anestro, uniformizando a amostra.
O intervalo de 20 dias entre a ooforectomia e a aplicação das substâncias se deveu ao fato de que, após este período, já haveria cessado os efeitos hormonais do ovário no colo uterino.2 O óleo de copaíba utilizado foi proveniente da espécie Copaifera reticulata Ducke, a mais importante do ponto de vista comercial, uma vez que desta é extraído 70% de todo o óleo comercializado no Brasil.12,18,20,32
O óleo foi aplicado em sua forma in natura pois é desta maneira que o mesmo é utilizado pela população, tendo sido realizadas cultura, análise físicoquímica e criptográfica para se conhecer seus componentes.
A coleta de material para colpocitologia permitiu concluir, de acordo com as características deste material, que os animais realmente se encontravam em anestro. Estes achados coincidiram com os de MORA (1987),26 BACCI (1988)2 e HAMILTON (1947).22
Os Grupos GP, GM e GA quando comparados entre si nos diferentes subgrupos (7º, 14º e 21º) apresentaramse semelhantes tanto nas características do epitélio, quanto nos constituintes da lâmina própria. Estes achados são semelhantes aos de MORA (1987)26 quando estudou os aspectos ultraestruturais do colo uterino de ratas ooforectomizadas, em que observou também uma maior concentração de células e fibras colágenas mais
condensadas, assim como fibroblastos bastante atróficos e com pouco citoplasma.
Quanto ao Grupo Copaíba, quando comparados os subgrupos (7º, 14º e 21º) apresentaram aspectos ultraestruturais semelhantes, quer seja no epitélio ou na lâmina própria.
Em contraste com os demais grupos, o Grupo Copaíba mostrou um aumento no número de fileiras da camada epitelial, além de células anucleadas na camada mais superficial com queratina.
Este epitélio exuberante não deveria estar presente pois o animal não apresentava ação de estrogênio, o que foi confirmado na leitura da colpocitologia no 21º dia após a ooforectomia. Para determinar tal epitelização, o óleo de copaíba pode ter agido de uma das seguintes maneiras: por efeito pseudohormonal, ação de princípio(s) ativo(s) ou irritação tópica que estimule a epitelização.
Este efeito irritante já foi evidenciado por BRITO (1996)5 estudando a cicatrização de feridas cutâneas abertas em ratos após aplicação tópica de óleo de copaíba.
BRITO e col. (1999),6 por sua vez, ao estudarem o efeito deste óleo no comportamento de ratos observaram agressividade do animal possivelmente decorrente do odor irritativo e ação cáustica.
Um fator importante na queratinização e espessamento do epitélio é a presença de estrogênio, visto que HAMILTON (1947)22 e BACCI (1988),2 dias após realizarem
ooforectomia em ratas, administraram estrogênios exógenos intraperitoneal e observaram epitelização do tecido com queratinização.
Esta capacidade do estrogênio tem sido explorada no tratamento de certas infecções,
particularmente as que ocorrem em mulheres prépúberes ou pósmenopausa, porque nestas o epitélio é delgado e vulnerável.21
componente(s) é responsável por tal propriedade.
CONCLUSÕES
O óleo de copaíba utilizado neste modelo experimental provocou aumento de fileira de células da camada epitelial com queratinização no colo uterino de ratas ooforectomizadas. Na lâmina própria, foram observadas células esparsas mergulhadas em substância intercelular e o citoplasma com retículo endoplasmático granular e grande concentração de mitocôndrias.
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Acta Cir Bras [serial online] 2000 OctDec;15(4). Available from: URL:
http://www.scielo.br/acb
.
context. By vaginal route is apllied for therapeutic of cervicitis and leucohrrea.
Because of the large empirically employment of this oil in gynecological treatment,
the present study objective to study ultraestruturally the effect of this substance in
the rats uterus colo. It was used 12 females rats, adults, distributed in four groups:
copaíba oil, corn oil, water and control. All the animals were submitted to bilateral
oophorectomy and after twenty days began the substances application. The animals
were killed in predetermined time periods (7, 14 and 21 days). The corn oil, water
and control groups showed epithelium with two or three cells filers and copaíba group
showed epithelium with eight or tem. It was concluded that copaíba oil promoted an
increase in the number of epithelial cells with queratinization in the oophorectomized
rats.
SUBJECT HEADINGS: Rats. Cervix uteri. Ovariectomy.
Endereço para correspondência:
Nara Macedo Botelho Brito
Trav. Apinagés 630/201
Belém – PA
66033170
Telefones: (91) 2425179 / 9822030
email:
mnbrito@amazon.com.br
Data do recebimento: 10/07/2000
Data da revisão: 28/08/2000
Data da aprovação: 03/09/2000
1 Trabalho realizado no Laboratório de Cirurgia Experimental (LCE) da Universidade do Estado do Pará (UEPA) com apoio do Instituto Evandro Chagas e financiamento do FUNTEC/SECTAM – PA; Tese de Doutorado apresentada a Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina.
2 Doutora em Medicina pela UNIFESP – EPM.
3 Professor Titular e Livre Docente da Disciplina de Obstetrícia de Tocoginecologia da UNIFESP – EPM.
4 Professor Adjunto de Histologia do Departamento de Morfologia da UNIFESP – EPM. 5 Pesquisador do Instituto Evandro Chagas de Belém – PA .
6 Graduanda em Medicina pela UEPA; Estagiária do LCE/UEPA.