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Politicidade do cuidado como referência emancipatória para a enfermagem: conhecer para cuidar melhor, cuidar para confrontar, cuidar para emancipar.

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Academic year: 2017

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POLI TI CI DADE DO CUI DADO COMO REFERÊNCI A EMANCI PATÓRI A PARA A

ENFERMAGEM: CONHECER PARA CUI DAR MELHOR, CUI DAR

PARA CONFRONTAR, CUI DAR PARA EMANCI PAR

Mar ia Raquel Gom es Maia Pir es1

Pires MRGM. Polit icidade do cuidado com o referência em ancipat ória para a enferm agem : conhecer para cuidar m elhor, cuidar para confront ar, cuidar para em ancipar. Rev Lat ino- am Enferm agem 2005 set em bro- out ubro; 13( 5) : 729- 36.

Por polit icidade do cuidado ent enda- se o m anej o disr upt iv o da aj uda- poder , ex pr esso pelo conhecer para cuidar m elhor, cuidar para confront ar, cuidar para em ancipar que, cont ext ualizado no processo de t rabalho em saúde, pode se t or nar em ancipat ór io. Est a r ev isão segue o m ét odo da r eflex ão t eór ica par a apr ofundar a am bigüidade do cuidado, concebido pelo m odo de ser solidár io e pelo v ir a ser polít ico. Obj et iv os: a- t eor izar a polit icidade do cuidado com o gest ão da aj uda- poder, capaz de subversão; b- discut ir, à luz da polit icidade do cuidado, o m odelo assist encial em saúde das sociedades capit alist as; c- apont ar dinâm icas disr upt iv as par a a enfer m agem a par t ir do t r iedr o em ancipat ór io do cuidar , indicando aplicabilidades à polit icidade do cuidado no âm bit o do processo de t rabalho em saúde. A principal conclusão do t rabalho sinaliza um a nova lógica do cuidar par a a enfer m agem , onde aj uda e poder se im br icam na const r ução da aut onom ia de suj eit os.

DESCRI TORES: au t on om ia pessoal; con h ecim en t o; em pat ia

POLI TI CI TY OF CARE AS AN EMANCI PATORY REFERENCE FOR NURSI NG:

GETTI NG TO KNOW TO CARE BETTER, DELI VERI NG CARE TO

CONFRONT, DELI VERI NG CARE TO EMANCI PATE

Polit icit y of car e deals w it h t h e in t elligen t an d disr u pt iv e h an dlin g of h elp- pow er . Su ch n ot ion can m ainly be ex pr essed by t he t r ihedr on get t ing t o k now t o car e bet t er , deliv er ing car e t o confr ont , deliv er ing car e t o em an cip at e w h ich , w h en ad ap t ed t o t h e w or k p r ocess in h ealt h , m ay b ecom e em an cip at or y . Th is t h eor et ical- ph ilosoph ical r ef lect ion ex plor es t h e am bigu ou s aspect of car e, ex pr essed by bein g solidar y an d becom ing polit ical. Obj ect ives: a- t o reflect about t he polit icit y of care, as m anagem ent of help- power, which is capable of em ancipat ory subversion; b- t o discuss t he way capit alist societ ies deal wit h healt h care; c- t o point out disr upt ive dynam ics t o nur ses, based on t he em ancipat or y t r ihedr on of car e. The m ain idea of t his ar t icle is t o indicat e applicabilit ies for t he concept ion of polit icit y of car e in t he spher e of t he nur sing w or k pr ocess, sign alin g em an cipat or y pot en t ialit ies.

DESCRI PTORS: per son al au t on om y ; k n ow ledge; em pat h y

POLI TI CI DAD DEL CUI DADO COMO REFERENCI A EMANCI PATORI A PARA

LA ENFERMERÍ A: CONOCER PARA CUI DAR MEJOR, CUI DAR

PARA CONFRONTAR, CUI DAR PARA EMANCI PAR

Por p olit icid ad d el cu id ad o se com p r en d e el m an ej o d isr u p t iv o d e ay u d a- p od er , ex p r esad o p or el t r iedr o conocer par a cuidar m ej or , cuidar par a confr ont ar , cuidar par a em ancipar que, cont ex t ualizado en el pr oceso de t r abaj o en salu d, pu ede ser em an cipat or io. Est a r ev isión se basa en el m ét odo de la r ef lex ión t eór ico- filosófica par a pr ofundizar la am bigüedad del cuidado, concebido por el m odo de ser solidar io e por el venir a ser polít ico. Obj et ivos: a- t eorizar sobre la polit icidad del cuidado com o gest ión de ayuda- poder, capaz de subversión em ancipat oria; b- discut ir, a la luz de la polit icidad del cuidado, el m odelo asist encial en salud de las sociedades capit alist as; c- apunt ar dinám icas disrupt ivas para la Enferm ería, a part ir del t riedro em ancipat orio del cuidado. La principal conclusión del t rabaj o señala una nueva lógica del cuidado para la Enferm aría, donde ayuda e poder se im br ican en la const r ucción de la aut onom ía de los suj et os.

DESCRI PTORES: au t on om ía per son al; con ocim ien t o; em pat ía

1 Enferm eira, Dout or em Polít ica Social, Pesquisador da União Educacional do Planalt o Cent ral ( Uniplac) e Cent ro Universit ário Euro- Am ericano ( Unieuro- DF) ,

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I NTRODUÇÃO

A

politicidade do cuidado reside na intrínseca a m b i v a l ê n ci a d a a j u d a q u e , se n d o p o d e r, t a n t o dom ina com o liberta fazeres hum anos. A característica do cuidar, enquanto gesto e atitude solidária, inclina-se p a r a p r o t e g e r e a sinclina-se g u r a r v i d a , d i r e i t o s e cidadania. Porém , a relação frat erna aí im pulsionada t am bém é opressora e subj ugant e, podendo ut ilizar-se de univ er salidades ét icas t ipicam ent e m oder nas para m ant er- se em posição de dom ínio. A present e r e f l e x ã o t e ó r i ca f u n d a m e n t a - se e m t e se d e d o u t o r a d o( 1 ) e p r e t e n d e a p r o f u n d a r o se g u i n t e

a r g u m e n t o : o t r i e d r o e m a n ci p a t ó r i o d o cu i d a r ( con st r u ção p r óp r ia, calcad a n a ar t icu lação en t r e con h ecim en t o, cu id ad o e p od er ) , n o con t ex t o d a polít ica pública capit alist a, e adapt ado ao pr ocesso d e t r ab al h o em saú d e, p o d e se co n st i t u i r n u m a referência para a enferm agem capaz de dem ocratizar poderes por m eio do fortalecim ento da autonom ia de suj eit os. Tal concepção é delineada em t rês part es: a - p o l i t i ci d a d e d o cu i d a d o : p o r u m a p r o p o si çã o em ancipatória da aj uda- poder; b- m odelo assistencial em saúde: ent re o aprisionam ent o e a libert ação do cu i d a r ; c- t r i e d r o e m a n ci p a t ó r i o d o cu i d a r e e n f e r m a g e m : i n d i ca n d o d i n â m i ca s d i sr u p t i v a s. Pretende- se sobretudo apontar perfis para a form ação e prát ica de enferm agem a part ir de um a concepção am pliada de cu idado, on de as dim en sões sociais, p o l ít i ca s, e co l ó g i ca s e e p i st e m o l ó g i ca s se j a m cont em pladas.

POLI TI CI DADE DO CUI DADO: POR UMA

PROPOSI ÇÃO EMANCI PATÓRI A DA

AJUDA-PODER

A politicidade do cuidado reside no fenôm eno de poder qu e lh e é in t r ín seco, ou n a su a lat en t e possibilidade de subv er são. Acer ca da polit icidade, r efir a- a com o habilidade polít ica hum ana de saber pensar e int ervir crit icam ent e, num a busca im anent e por aut onom ia cr escent e( 2). Tal concepção par t e do

e n t e n d i m e n t o so ci o b i o l ó g i co e d a i n t r ín se ca m u t a b i l i d a d e d o se r v i v o p a r a co n st r u i r u m a fundam ent ação t eórica sobre polit icidade, ent endida com o possibilidade de se const r uir um a sociedade m enos desigual, m ais ét ica e j ust a. Esse debat e põe e m r e l e v o u m a r e f e r ê n ci a i m p o r t a n t e so b r e “ ig u alit ar ism o” ( p ossív el p ela d em ocr at ização d o

poder) em oposição à igualdade ( contraditório porque esse m esm o poder, sendo est rut ural, não desaparece facilm ente) . Na base dessa discussão está a pulsação de um a polit icidade biologicam ent e plant ada, o que torna o ser hum ano, à exem plo de outros seres vivos, p r o f u n d a m en t e co m p et i t i v o s e co o p er a t i v o s, a o m esm o t em po.

A p a r t i r d a d i scu ssã o so ci a l e b i o l ó g i ca am plificada por Dem o( 2), figuram alguns pressupostos

int eressant es. Prim eiro, a polit icidade, ant es de ser r azão h u m an a, lat ej a n a m at ér ia, n a dialét ica da natureza re- discutida pela term odinâm ica( 3). Segundo,

os anim ais são seres políticos ( o que torna o hom em par t e do t odo) , e essa polit icidade n o h om em se com plex ifica, assum indo peculiar idades pr ópr ias do ser d ialét ico q u e sab e in t er v ir p ela r econ st r u ção p e r m a n e n t e . Po r ú l t i m o , t a l a çã o h u m a n a n o cap it alism o t em in t en sif icad o a f ace ag r essiv a e desigu al das r elações sociais, sen do n ecessár io o resgat e da dim ensão ét ica da polit icidade, capaz de for j ar pr ocessos em ancipat ór ios.

Ainda sob as descober t as da biologia, cit e-se a t eoria da aut opoiee-se( 4), onde o dinam ism o das

t ransform ações operadas pela dinâm ica e diversidade d a o r g a n i za çã o d o se r v i v o i m p r e ssi o n a . A cent ralidade da aut onom ia dos fenôm enos biológicos, assum ida com o t r aço pr im or dial e iner ent e à v ida, traduz a vanguarda dessa teoria. A despeito de certo p o si t i v i sm o p r e se n t e e m a l g u m a s co n ce p çõ e s, part icularm ent e quando os aut ores argum ent am que o m eio externo causaria apenas “ perturbações ao ser v i v e n t e ”, o p u l sa r d o s f e n ô m e n o s n a t u r a i s, t ã o i r r e v e r e n t e m e n t e ca r a ct e r i za d o s t a n t o p e l a t erm odinâm ica dos processos irreversíveis( 3), quant o

p e l a a u t o p o i e se( 4 ), co n su b st a n ci a m u m f o r t e

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sua am bivalência int r ínseca. Tal int ent o suger e um m ovim ent o dialét ico onde a relação de dependência acont ece m ais par a const r uir aut onom ia dos at or es envolvidos que para se m ant er em si m esm o, com o ex er cício au t ocen t rado de poder. O cu idado com o gest ão da aj u da- poder t em com o f u lcr o cen t r al a dinam icidade t ant o dos processos hist óricos, quant o d a n at u r eza, assu m in d o- se aq u i u m a ab or d ag em social, ecológ ica e ep ist em ológ ica d o cu id ar. Por existir sobretudo na natureza, o cuidado faz parte da aut opoiese dos seres vivos ( fenôm enos de relação e produção aut ônom os que conform am o ser vivo)( 4) e

da em er gência dos pr ocessos cognit iv os globais de um a m ente incorporada ( no sentido de que a reflexão p r e ci sa i n t e r r o m p e r o s p a d r õ e s h a b i t u a i s d e r ecor r ência e pr ogr am ação do cér ebr o, m ant endo-se atenta e aberta à vivência reflexiva propiciada pela m en t e, aos d esíg n ios d o caos e d a in cer t eza, às t r ansfor m ações adv indas da dúv ida e do acaso)( 5),

ocor r en d o em m ú lt ip las e d iv er sas f or m at ações. Assi m , se j a n a t u r b u l e n t a n a t u r e za q u e b u sca su per ação de equ ilíbr ios pela ir r ev er sibilidade dos fenôm enos, ou na biologia dos processos aut ônom os e em ergent es, o cuidado, não sem conflit o, int erage e t ensiona ser es por dinâm ica int er na, iner ent e ao pulsar da vida.

É p r eci sam en t e p el o co n f l i t o e i n cer t eza pr esent e no gest o de aj uda que ele pode v ir a ser

u m a f o r ça r e v o l u ci o n á r i a , t r a d u zi n d o - se e m politicidade subversiva. Com preender o cuidado com o

v ir a ser, cont rário dialét ico de ser, cont em poriza- o com o possibilidade de m udança inerent e às relações sociais. A liberdade m anifest a na concepção do v ir a ser const it ui a pot encialidade subversiva do cuidado, ex pr essa pela f r iv olidade, f u gacidade e in t r ín seca t r a n si t o r i e d a d e d o p o d e r. O cu i d a d o, v i st o n a t ot alidade, envolve não só o m odo de ser, est rut ura m ais definidora e capt urável, com o t am bém o m odo de v i r a ser, car act er íst ica qu e o t or n a din âm ico, perm eado por volúpia e t ensão dialét ica.

A discussão sobr e o ser - no- m undo inclui a dim ensão da cura/ cuidado, que com põem a estrutura da “ pr e- sença” ( const it uição ont ológica de hom em , ser hum ano e hum anidade)( 6). É na pre- sença que o

hom em const rói seu m odo de ser- no- m undo. Assim , segundo o filósofo da fenom enologia, o ser- no- m undo em sua essência é cur a, ent endida com o condição est r ut ur al de ex ist ência hum ana. Ont ologicam ent e, cur a não pode significar um a at it ude especial par a consigo m esm o porque essa at it ude j á se caract eriza

com o “ pr eceder a si m esm a”, envolv ida por out r os dois m om ent os est rut urais, o “ j á em ” e o “ ser-j unt o a”. O conceit o ônt ico de cura t am bém perm it e ch am á- lo d e cu id ad o e d ed icação, in t eg r an d o os com port am ent os e at it udes hum anas.

So b r e essa d i scu ssã o , Bo f f a p ó i a - se em Heidegger e reconhece o cuidado com o m odo de ser essencial, com o et hos hum ano e dim ensão ontológica “ im possível de ser totalm ente desvirtuada”( 7). Defende

que o cuidado entra na constituição da natureza e do ser hum ano, sem o qual não haveria a própria vida. Co m o t o m p r o f u n d am en t e h u m an o , f i l o só f i co e t eológ ico, p r op õe u m a r esig n if icação d o cu id ad o, fundado num a nova ética do hum ano e na com paixão pela t erra. A consist ência t eórica de Boff, a despeit o da v isív el t en dên cia esot ér ica pou co am biv alen t e, torna o “ saber cuidar” um a referência im portante para as ut opias hum anas. Out r o dest aque opor t uno é a crença de que o cuidado, em sentido irrestrito, reside na im anência da vida e do hum ano, adm itindo- se aqui um a plenit ude incapt urável apenas pela razão.

Longe de se adent rar nessa seara filosófica, por fugir aos obj et ivos dest e t ext o, cabe considerá-las com o r efer ências im por t ant es par a o elem ent o d e r u p t u r a p r esen t e n as ex p r essões d o cu id ar -i m a n e n t e e m p o ss-i b -i l -i d a d e s, t r a n sce n d e n t e e m desaf ios. Sej a qu al f or a t en dên cia pr et en dida, a capacidade revolucionária do cuidado ocorrerá m ais pelo seu m odo- de-v ir - a- ser, que pelo m odo- de- ser. Acr ed i t ar q u e as ações sol i d ár i as, r ev est i d as d e aut oridade, podem prom over aut onom ias capazes de

v ir a reordenar desigualdades, im plica em conceber a ce n t r a l i d a d e d o p o l ít i co n a s r e l a çõ e s so ci a i s estabelecidas. Ou sej a, é pela m ediação de interesses, pela negociação árdua de proj et os, pela int ensidade d a ág or a p ú b lico/ p r iv ad o in er en t e às socied ad es h u m a n a s q u e a s p r e t e n sa s l i b e r d a d e s t o m a m concret ude. O cuidado com o aj uda que se re- elabora n a r e l a çã o d e p o d e r e st a b e l e ci d a a co n t e ce principalm ent e pela polit icidade da aj uda, ent endida t ant o pelo seu m odo de ser solidário, com o pelo seu m odo de vir a ser polít ico.

O a r g u m e n t o d e q u e a a j u d a a o desenv olv im ent o, em especial aquela ofer ecida aos países do t erceiro m undo, sem pre se const it uiu num m ecan i sm o d e “ p o d er el eg an t e” é d i scu t i d o p o r Gronem eyer( 8), ao t ent ar um a definição para aj uda.

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os que a eles estão subm etidos negam , repetidam ente sua ex ist ência. É um a for m a de m ant er o cabr est o na boca dos subordinados sem deixar que eles sintam o poder que está dirigindo. Em sum a, o poder elegante não força, não recorre ao cacet e nem às corrent es, sim plesm ent e aj uda.( ...) ”( 8).

Com o t odo poder que se preza em m ant er-se forte, a aj uda atua por m ecanism os cam uflatórios, lançando m ão de apelos pret ensam ent e m orais para consolidar sua hegem onia. Tom e- se o caso da saúde: co m o d u v i d a r d o m é d i co q u e , a l é m d e d e t e r o conhecim ent o sobr e o m eu cor po e m inha doença, prom ove o bem da m inha saúde a partir do seu saber? Aliás, o cuidado, apesar de bem m ais am plo, tende a ser m elhor com preendido no cam po da assist ência à sa ú d e , u m a v e z q u e a s p r o f i ssõ e s t ê m p r o g r e ssi v a m e n t e d i sci p l i n a d o o cu i d a r e m p r o ce d i m e n t o s, t a r e f a s, t e cn o l o g i a s e r o t i n a s hospitalares para lidar com as doenças, fragm entando a pessoa em especialidades dist int as. Nesse caso, a aj uda com o “ poder elegant e” apar ece em sua face m ais velada, sej a porque a enferm idade nos fragiliza diant e da im inência da m or t e, sej a por que a aj uda n o ca m p o d a sa ú d e h i st o r i ca m e n t e se m p r e se aproxim ou do poder do sacerdócio e da benevolência, legit im ando hegem onias secular es.

Sa i n d o d o m i cr o e m d i r e çã o a e sp a ço s m acros, e na t ent at iva de arquit et ar um a concepção d e p od er p ar a a n ov a f or m a g lob al d e econ om ia capit alist a, alguns aut or es m ar xist as defendem que est aríam os vivendo num im pério( 9). O im pério difere

do im perialism o m oderno por não ter um centro único d e p o d e r d e f i n i d o , m a s r e d e s d e p o d e r q u e o sust ent am , onde as forças criadoras da m ult idão que o am p ar am são cap azes d e con st r u ir u m con t r a-im pério t ipicam ent e revolucionário. O m ecanism o de coerção utilizado opera no seio da vida social, atuando em m al h as i n t r i n cad as, sen d o d i sp er so e p o u co l o ca l i zá v el . Fa l a - se em b i o p o d er, u m p o d er q u e t r an scen de a dicot om ia obediên cia/ desobediên cia, r a m i f i ca n d o - se n a a m b íg ü a e sf e r a p r o d u t i v a e reprodut iva da vida social. A discussão de biopoder em Foucault lança as bases da t eoria do im pério, ou d e com o a g est ão d as f or ças d o cor p o f or am , e cont inuam a ser, ext rem am ent e est rat égicas para a a cu m u l a çã o ca p i t a l i st a . A a r t i cu l a çã o e n t r e a r epr odução hum ana e capit alism o, gar ant indo um a f o r ça p r o d u t i v a d ó ci l , f o i o p r i n ci p a l o b j e t o d e int ervenção desse poder disciplinar argum ent ado por Foucault( 10) . Revisitado por Hardt e Negri, o biopoder

parece cont inuar est rat égico para a m anut enção do im pério do capit al sobre o t rabalho hum ano.

O p o d er, si t u a çã o est r a t ég i ca co m p l ex a , p e r m e a d a p o r d i sp u t a e su b l e v a çõ e s n u m det er m inado cont ex t o sócio- hist ór ico( 10), encar r

ega-se m ais da vida do que da am eaça da m orte, dando-l h e a ce sso d i r e t o a o co r p o b i o dando-l ó g i co a r t i cu dando-l a d o intrinsecam ente com a história. O biopoder que regula a v ida é con t in u am en t e su bv er t ido por ela, n u m a t r am a em ar an h ad a d e r elações q u e su st en t am a própria sociedade. Acom panhando as t ransform ações d o ca p i t a l , q u e h o j e r o m p e b a r r e i r a s f ísi ca s e t er r it or iais, o poder igualm ent e se fr agm ent ou nos cor pos h u m an os, per den do em u n idade defin idor a capt urável, ganhando em ext ensão irrepreensível. Ou se j a , a p e sa r d a co e r çã o e x t e r n a , a s p e sso a s obedecem , ou não, m uit o m ais por dinâm ica int erna, p o r u m a b i o p o l ít i ca q u e l h e é i n t r ín se ca . É precisam ent e sobre a produt ividade das pessoas que o poder im per ial age, por m ecanism os int er nos de cont role m ediados pelo biopoder.

Vár ios au t or es t êm ar g u m en t ad o sob r e a cen t r alid ad e d o p olít ico t an t o p ar a a v id a social, quant o para a biológica( 1- 5), considerando a realidade

com o um caos ordenado que, m esm o sendo dinâm ica, se rege tam bém por regularidades e redes intrincadas d e p o d er. Nesse sen t i d o, o b i o p o d er, i n er en t e à p r o d u çã o a d v i n d a d o t r a b a l h o cr i a t i v o h u m a n o , adquire centralidade tanto para quem dom ina, quanto para que está provisoriam ente subm etido. A par desse d i á l o g o , a r g u m e n t a - se a q u i e m t o r n o d e u m a

pr oposiçã o disr u pt iva do cu ida r, por um cuidado que se r econst r ua sem pr e para cuidar m elhor, por m eio da cent ralidade do polít ico para gerir a aj uda-poder em prol da autonom ia de suj eitos. Para a área da saúde em especial, esse debate se insere na atual discussão sobre m udança do m odelo assist encial em saúde, ou na busca de inovações e reconst ruções do trabalho em saúde capazes de fortalecer a autonom ia de suj eit os, sej am esses profissionais ou usuários do sist em a de saúde.

MODELO ASSI STENCI AL EM SAÚDE: ENTRE

O APRI SI ONAMENTO E A LI BERTAÇÃO DO

CUI DAR

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d a p op u lação, n u m d et er m in ad o con t ex t o sócio-h ist ór ico. Ap esar d o u so b ast an t e con sag r ad o n a lit erat ura do set or, m ant enha- se aqui um a r essalva cr ít ica em r elação à ex pr essão m odelo, por r eduzir polit icidades liber t ár ias. No espír it o do que v em se d iscor r en d o, esse t er m o se r ef er e ap en as a u m a det erm inada form a de organizar o cuidado, em geral vinculada à política de saúde oficial que, por sua vez, se in ser e n o m od o d e p r od u ção cap it alist a. Não significa dizer que sej a a única ou a m ais im portante m aneira de cuidar, haj a vista a diversidade de saberes, prát icas e cult uras que com põem a realidade.

O m odelo de assistência à saúde hegem ônico, curativo e hospitalocêntrico envolve a pesada indústria f a r m a cê u t i ca , d e e q u i p a m e n t o s e i n su m o s t e cn o l ó g i co s p a r a o se t o r, p o r t a n t o , l u cr o s e acu m u lação do capit al. Par a a m an u t en ção dessa form a de produzir cuidados em saúde, que coincide com a r epr odução do sist em a capit alist a, est im ula-se o consum o de ula-serviços e equipam entos em saúde, bem com o a m edicalização dos problem as sociais da população ( form a com que questões de ordem pública são tom ados restritam ente em sua dim ensão privada, sob a lóg ica d o en f oq u e b iom éd ico) , q u e g er am dividendos para o set or privado. Em conseqüência, o m ercado de t rabalho que se abre ao profissional de saúde exige j ustam ente o que as universidades estão pr ont am ent e r espondendo, ou sej a, um pr ofissional especializado e t ecn icam en t e com pet en t e, em bor a alien ad o d e seu p r ocesso d e t r ab alh o ( cu id ar ) e polit icam ent e frágil* .

A m udança pretendida só conseguirá ter êxito se m exer com o m odo com o vem sendo produzidas as ações e serviços de saúde que, se hist oricam ent e v êm pr iv ilegiando o capit al, ur ge v olt ar - se par a o t r abalh o. Nesse sen t ido, a alien ação do t r abalh o, cat egoria m arxist a ut ilizada nas explicações sobre a a cu m u l a çã o d o ca p i t a l , f i g u r a co m o d i scu ssã o r elev ant e par a ent ender com o o cuidado à saúde, nas sociedades capitalistas, apesar de profundam ente transm utado, ainda vem sendo organizado, produzido e acessad o d e m an eir a d esig u al. A alien ação d o t r abalh ador do pr odu t o de su a ação apr esen t a- se par a a econom ia polít ica com o “ a escr av ização do h om em ao ob j et o, com o p er d a d e su a r ealid ad e, desint egr ação da essência genér ica hum ana”( 12). A

vida do hom em , transm utada no seu obj eto, não m ais lhe per t ence, é apr opr iada pelo capit al. Enov elado no processo de alienação, quant o m ais o t rabalhador produz, m enos ele possui para consum o, quanto m ais ele cria valor, m enos se valoriza em sua dignidade. O t rabalho est ranho, abst rat o, ext orquido de qualquer h u m an idade e su bj et iv idade, con st it u i o su bst r at o cent ral da exploração capit alist a. O capit al acum ula-se a p ar t i r d essa r el ação u su r p ad o r a d o su j ei t o hist ór ico e, se er a assim no per íodo da r ev olução industrial estudado por Marx, parece continuar sendo, em bora profundam ent e t ransm ut ado e reconfigurado no im pério de Hart / Negri.

Nu m a at u alização p olêm ica d o m ar x ism o ( principalm ent e pela concepção dúbia de poder e por não dizer com o seria possível “ m udar o m undo sem t om ar o poder” ) , Holloway( 13) aborda a alienação do

t rabalho sob o enfoque da t ransform ação do “ poder-f a ze r ” e m “ p o d e r - so b r e ”, d e poder-f e n d e n d o q u e o capitalism o se baseia não na propriedade das pessoas, m as n a p r op r ied ad e d o f at o. O q u e Mar x ch am a alienação, ou rupt ura do hom em em relação ao seu obj et o de t rabalho, Holloway denom ina de separação do fat o em relação ao fazer. O processo de t rabalho é t raduzido com o “ fluxo social do fazer ”, sendo esse i n e r e n t e a o s co n v ív i o s h u m a n o s. A f o r m a d e d o m i n a çã o e e x p l o r a çã o ca p i t a l i st a r e si d i r i a n a sistem ática usurpação do potencial criativo do hom em , su b j u g a n d o - o à “ co i sa ” p r o d u zi d a e m n o m e d a acu m u lação. Tr at a- se, en t ão, d a “ f et ich ização d o fazer ”, capaz de t ransform ar proposição reconst rut iva em feit o com er cializáv el, alij ado do pr ocesso social que o produziu. Diant e da im inência do im possível, surge a crít ica ou o “ poder- para” ( conhecim ent o) , o q u est ion am en t o q u e t en t a ir além d a ap ar ên cia, t r açando as r azões m ais r ev elador as do fenôm eno crit icado, que t eria com o obj et ivo principal resgat ar a subj et ividade dos suj eit os, recobrando o que fora alienado pela fet ichização( 13).

Fr e n t e à a l i e n a çã o d o t r a b a l h o o u a “ fet ichização do fluxo social do fazer”( 13), ret orne- se

à polit icidade do cuidado, num a t ent at iva de ant ever indícios libertários. Cuidar é m ais que ato m ecanizado, r ot inizado e alienado de sent ido, fazendo par t e da atividade criativa dos seres, com pondo- lhe a estrutura de ser e vir a ser- no- m undo, sendo at it ude hum ana

(6)

in scr i t a n a esf er a v i t al , su b j et i v a e cu l t u r al d as r elações sociais. O f azer h u m an o é p er m ead o d e cuidado, capaz tanto de oprim ir, quanto de libertar. O que Holloway cham a de “ fetichização do poder- fazer”, pode ser t raduzido aqui com o inst it ucionalização do cuidado( 11), significando o aprisionam ent o do cuidar

em norm as, rotinas e técnicas que alienam o cuidado d e su a e x i st ê n ci a cr i a d o r a e r e v e l a d o r a( 7 - 8 ). A

inst it ucionalização do cuidado pr ior iza a t ut ela em det r im ent o da aut onom ia dos suj eit os, inser indo- se n a lóg ica d e ab st r ação d o t r ab alh o em f av or d o capit al. O cuidado inst it ucionalizado, fragm ent ado e ex t or q u id o d e su b j et iv id ad es r econ st r u t iv as v em sustentando um m odelo assistencial inj usto e desigual, sob a form a da aj uda conform ada em política de saúde t i p i ca m e n t e ca p i t a l i st a . Ap e sa r d o p o t e n ci a l t ransform ador presente nessa aj uda- poder, a luta tem sido árdua e inj ust a, com algum as conquist as para a cidadania e m uit as para o m ercado. Nesse cont ext o d e d e si g u a l d a d e s e x t r e m a d a s, u r g e l i b e r t a r a ex pr essiv a for ça r ev olucionár ia pr esent e no at o de cu i d a r, se j a p o r q u e t o r n a m a i s h u m a n a n o ssa exist ência, sej a porque nos inclui com o t odo.

Falar em m udança do m odelo assist encial, port ant o, pressupõe alt erar a excessiva t ecnificação e coisificação que o cuidado sofr e no pr ocesso de t r abalho dos pr ofissionais em saúde, consider ando, claro, o cont ext o capit alist a em que est ão inseridos. Ta l a p r i si o n a m e n t o d o cu i d a d o é e x p r e sso p e l a e sp e ci a l i za çã o a l i e n a n t e d o t o d o , p e l o m o d o m ecanicist a de pr oduzir ser v iços, pela inibição das autonom ias subj etivas presente na relação de cuidado. Na relação estabelecida no ato de cuidar, onde aj uda e poder se confr ont am e se super am nas sínt eses dos at os produzidos, é possível em ancipar por m eio da const rução de aut onom ias de suj eit os, sabendo-as r elat iv sabendo-as e pr ocessuais. Pelo r econhecim ent o de saberes com o m eio para forj ar poderes adorm ecidos, acr ed i t an d o n o f o m en t o d e p r o j et o s cap azes d e rest abelecer corpo e subj et ividades past eurizadas, e apost ando no incapt urável do viver hum ano, a aj uda pode em ancipar - se da t ut ela, pr oduzindo efeit o de poder m ais igualit ário( 2). Em ancipar pela aj uda pode

ser possív el pelo t r iedr o em ancipat ór io do cuidar – conhecer para cuidar m elhor, cuidar para confront ar, cuidar para em ancipar - onde conhecim ent o, poder e autonom ia se tencionam para libertar o fazer hum ano d a s a m a r r a s q u e o su cu m b e m , p o t e n ci a l i za n d o ut opias concr et izáv eis.

TRI EDRO EMANCI PATÓRI O DO CUI DAR E

EN FERMAGEM: I N DI CAN DO DI N ÂMI CAS

DI SRUPTI VAS

A polit icidade do cuidado se ex pr essa pelo

conhecer par a cuidar m elhor , cuidar par a confr ont ar ,

cu i d a r p a r a e m a n ci p a r e p r o p õ e- se a l i b er t a r o cu i d a d o d e su a i n st i t u ci o n a l i za çã o ca p i t a l i st a p r e d a d ó r i a . O t r i e d r o d o cu i d a r a q u i d e l i n e a d o e n co n t r a e co n a a r g u m e n t a çã o d e Ho l l o w a y, pr incipalm ent e na ut opia do poder - fazer enquant o n e g a çã o d o p o d e r - so b r e . Assi m , n a e sf e r a d o

c o n h e c e r p a r a c u i d a r m e l h o r se i d e n t i f i ca m sim ilit udes com a idéia de “ poder- para” ( resgat e da subj et ividade do suj eit o por m eio do conhecim ent o) . No enfrentam ento do “ poder- sobre” ( constituído) para liber t ar o “ poder - fazer ” ( const it uint e) , suger e- se o

cuidar para confront ar, na perspect iva art iculadora do cu id a r p a r a e m a n cip a r.

Com t al proposição argum ent a- se em favor do conhecim ent o com o for m a nat ur al de par t icipar de um m undo socialm ent e fundado em r elações de

a j u d a - p o d e r. En t e n d a - se co n h e ci m e n t o co m o dinâm ica viva de produzir interpretações, significados, críticas e form as de participar da realidade. Conhecer é sobr et udo r econst r uir possibilidades de conv iv er, a t u a r e i n t e r a g i r co m o p l a n e t a , co n ce b e n d o a disrupção e a provisoriedade com o cerne. É a m aneira co m o a n a t u r e za se m a n t é m d i v e r sa , ú n i ca e i n ca p t u r á v e l , r e co n d u zi n d o t e m p o s, e sp a ço s e hist órias de form a não- linear e irredut ível( 1- 4) .

(7)

Em ancipar pelo cuidado, para a enferm agem , significa repensar as práticas e as relações envolvidas n o se u p r o ce sso d e t r a b a l h o . O cu i d a d o n a enfer m agem , t enso em disput as e cont r adições, é r ealizad o n ão som en t e p elo en f er m eir o, m as p or diversos atores com inserções socioculturais distintas. Ref let ir sobr e a polit icidade desse cu idado r equ er pr ocessos de cr ít ica e r econst r uções per m anent es, am pliando o debate em todos os espaços onde ele se insere, reflet indo sobre os m it os, rit os e fragilidades p o l ít i ca s d a p r o f i ssã o( 1 1 ), b u sca n d o f a ze r e s q u e

aprim orem a possibilidade de dem ocratizar poderes( 14-15). Trata- se de politizar a prática social da enferm agem

nos ricos espaços onde se insere, partilhando decisões e am pliando o debat e em t orno das diferenças. Para além da assist ência, post o que o cuidado é gest o de r elação pr esent e da pr ópr ia v ida, sej a nos espaços de ger ên cia e gest ão, n a abor dagem in div idu al e colet iv a, na educação em saúde, nas at iv idades de p e sq u i sa e e n si n o o u , a i n d a , e m e sp a ço s d e consult or ia, o cuidado da enfer m agem pode aj udar n a co n st r u ção d e p r o j et o s p r ó p r i o s d as p esso as en v olv id as, lu t an d o p or em an cip ar u t op icam en t e ( utopia no sentido de realizável) por inteiro, profissão e so ci e d a d e . O q u e se p r o p õ e , p o r t a n t o , é a reinvenção da prática social de cuidar da enferm agem , d e f o r m a q u e e l a p o ssa m e l h o r co n t r i b u i r p a r a políticas sociais de cunho em ancipatório, baseado num perfil de enferm eiro com qualidade form al e polít ica. De for m a apr oxim ada, pode- se dizer que o t r i e d r o e m a n ci p a t ó r i o d o cu i d a r a q u i d e l i n e a d o referencia o agir da enferm agem na perspect iva de u m a p r á t i ca so ci a l ca l ca d a n a e m a n ci p a çã o , hist or icam ent e confor m ada e com pr om et ida com a redução das desigualdades sociais em saúde. Num a t en t at iv a d e in d icar d in âm icas d isr u p t iv as p ar a a form a desigual com que serviços e práticas de saúde vêm se organizando no contexto das políticas de saúde do Brasil, sust ent adas em m uit o pelos processos de t r ab al h o em saú d e, co n si d er em - se as seg u i n t es prem issas art iculadas com o referências cent rais para se co n ceb er o cu i d ad o n a En f er m ag em , sej a n a form ação ou na prát ica profissional:

- con h e ce r pa r a cu ida r m e lh or - com pr eender o contexto sócio- histórico onde são geradas as relações d e a j u d a - p o d e r n a p o l ít i ca d e sa ú d e ( r e f l e x õ e s am pliadas sobre conform ação do cuidado na polít ica de saúde, num a visão ecológica, social, ont ológica e epist em iológica) ;

- cu id a r p a r a co n f r o n t a r – ger ir cor r elações de

f or ças q u e p r op or cion em con t r ole d em ocr át ico e reordenam ent o de poderes ( polit ização dos espaços de at uação do enfer m eir o, par t ilhando poder es na tentativa de acum ular forças de reação aos processos d e d o m i n a çõ e s e x cl u d e n t e s; f o r t a l e ci m e n t o d e autonom ias individuais e coletivas na equipe de saúde e e m su a r e l a çã o co m o o u t r o , co l e t i v i za n d o conhecim ent os capazes de dem ocrat izar assim et rias de poder) ;

- c u i d a r p a r a e m a n c i p a r – r e a l i za r a g e st ã o inteligente da aj uda- poder na m icropolítica do trabalho em saúde, inserida em contextos sócio- históricos ricos em co r r el açõ es d e f o r ças, cap az d e o p o r t u n i zar cen ár ios pr opícios à descon st r u ção pr ogr essiv a de assim et r ias d e p od er ( cen t r ad o n a p essoa com o su j e i t o d o se u p r o ce sso sa ú d e - d o e n ça , d esen v olv en d o t ecn olog ias d e cu id ar cap azes d e a j u d a r n a co n st r u çã o d e p r o j et o s p r ó p r i o s p a r a m elhoria e/ ou recuperação da saúde; valorização dos diver sos saber es/ valor es da equipe de enfer m agem com o r icas possibilidades de cuidar ; ent endim ent o d o s m i t o s e r i t o s d a en f er m a g em co m o a m p l a s p o ssi b i l i d a d e s d o cu i d a r, d e sm i t i f i ca n d o - o s r ef lex iv am en t e; in cen t iv o aos v ín cu los de cu idado ent r e as pessoas, am pliando a dim ensão do cuidar para além de sua inst it ucionalidade aprisionant e) .

CONCLUSÃO

A politicidade do cuidado pressupõe o resgate da cent r alidade do polít ico na gest ão int eligent e e reconst ruível da aj uda- poder. Argum ent a- se em prol de um a nova lógica do cuidar, onde se exercit e um a u x íl i o q u e, sen d o p o d er, t a n t o su b j u l g a , co m o em ancipa. Assum ir a polit icidade do cuidado com o referência analítica e proposição indutora de m udança significa apostar num a aj uda que priorize a libertação d e f a ze r e s, d e sco n st r u i n d o a s a m a r r a s q u e o ap r ision am e p ot en cializan d o en f r en t am en t os d e sit uações opr essor as. Significa passar de t écnico a ag en t e p ú b lico d e m u d an ça, d e ad m in ist r ad or d e d ecisões a f or m u lad or e in d u t or d as m esm as, d e pacien t e a cidadão, de doen t e a pessoa h u m an a, capaz t ant o de sapiência criat iva, quant o dem olição d e st r u i d o r a , m a s n a p e r f e i t a i m p e r f e i çã o q u e conform a o ser hum ano enquant o vida.

(8)

d e saú de- doen ça m ais au t ôn om os, cen t r ad os n os suj eit os ( sej am esses pessoa, fam ília, com unidade o u e q u i p e d e e n f e r m a g e m ) e n o e n t e n d i m e n t o am pliado do ato político - que tendencialm ente cuida, dom ina e tutela, m as que, tam bém , pode libertar pelo m esm o at o subj et ivam ent e produzido. Tal ut opia se insere na discussão at ual sobre m udança do m odelo a ssi st e n ci a l e m sa ú d e e , co m o t a l , p r e ci sa se r

ent endida na com plexidade que lhe encer r a. O que se pleit eia é invest ir num a epist em ologia dialét ica do cu i d a d o q u e g a n h e e m i n t e n si d a d e su b v e r si v a , m esm o sendo relação de dom inação. O cuidado aqui p r o p o st o co n t e m p l a t o d a a a m b i g ü i d a d e e co m p l e x i d a d e d o su j e i t o , f u n d a m e n t a n d o - se et icam ent e no cuidar com o gest o de poder hum ano inquieto, contraditório e repleto de utopias libertárias.

REFERÊNCI AS BI BLI OGRÁFI CAS

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Referências

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