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Estratégia de sobrevivência dos desempregados da indústria calçadista de Franca - SP

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA "JÚLIO MESQUITA FILHO" Faculdade de História, Direito e Serviço Social

Campus de Franca-SP

JOSÉ RONALDO TELES

ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA DOS DESEMPREGADOS DA

INDÚSTRIA CALÇADISTA DE FRANCA-SP

Tese de doutorado apresentada como

exigência parcial para obtenção do grau de

Doutor em Serviço Social à Comissão

Julgadora da Universidade Estadual Paulista -

Campus de Franca sob a orientação do prof.

Dr. José Walter Canôas.

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BANCA EXAMINDADORA:

Presidente e Orientador______________________________

1º Examinador _____________________________________

2º Examinador _____________________________________

3º Examinador _____________________________________

4º Examinador _____________________________________

(3)

AGRADECIMENTOS

À todos que nos ajudaram na realização desta pesquisa e, em especial, ao prof. Dr. José Walter Canoas, não só porque nos aceitou orientar mas também pelo incentivo e encorajamento, pela confiança e pela atenção.

Ao Corpo Docente do Departamento do Serviço Social da Universidade Estadual Paulista - Campus de Franca-SP, pela amável e competente acolhida a este persistente, incansável e perscrutador do conhecimento humano.

Aos pós-graduandos Verônica da Conceição Cruz, Geraldo César Coelho Fernandes e Nilton José Ferreira, deste Campus, que nos ajudaram de uma forma intensiva nas entrevistas com os empresários e trabalhadores da indústria calçadista.

Aos amigos Roberto e Maurício Ávila, agentes de exportação, que muito nos ajudaram, inclusive na revisão das versões para o inglês e o espanhol.

À todos colegas da pós-graduação, pelo apoio, incentivo e encorajamento, que muito nos ajudou a levar adiante esse desafio.

Aos Diretores das Indústrias de Calçados de Franca pelas entrevistas e depoimentos concedidos que muito nos elucidou e ajudou na elaboração desta tese.

Ao Diretor do Senai pela entrevista, que também muito colaborou para a realização desta pesquisa.

Ao Milton da Silva, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados de Franca e Região, pela entrevista e pelos documentos, que nos ajudaram bastante nesta pesquisa.

À todos da FACEF pela atenção e pelas informações que nos forneceram, que foram bastante valiosos.

À minha família pelo apoio, pela compreensão e pelas minhas ausências durante essa trajetória.

(4)

DEDICATÓRIA

À minha esposa Elena e Aos meus filhos Yohana, Ramayan e

(5)

RESUMO

A Estratégia de Sobrevivência dos Desempregados está entre as principais preocupações sociais da atualidade. O presente estudo teve como objetivo saber como os desempregados sobrevivem mesmo estando desempregados, sem salários, sem renda, principalmente nos momentos de crises do setor calçadista, das três últimas décadas do século passado, ou seja, de 98 a 2000.

Para compreender a questão do desemprego, na cidade de Franca, foi necessário fazer também uma análise das condições das indústrias calçadistas, onde pôde-se detectar as principais causas das crises que ocorrem periodicamente durante o ano, mais conhecida como sazonalidade do setor calçadista, que é uma das principais razões da flutuação do desemprego.

Chegou-se a esse resultado por meio de uma vasta e demorada pesquisa, documental e de campo, com inúmeras entrevistas com empresários, diretores, presidentes de sindicatos, entre outros, ligados ao setor calçadista, no sentido de não só buscar as razões, os meios e os recursos utilizados para superar as crises, como também para evitar as demissões e assegurar a manutenção do emprego. Mas, a pesquisa demonstra que, diante das periódicas crises ou mesmo da sazonalidade, a demissão é mesmo inevitável. Foi com base nessa realidade que centramos a nossa busca em torno das estratégias de sobrevivência dos desempregados. E são eles próprios quem respondem sobre as suas condições, ou seja, como conseguem suprir suas necessidades básicas mesmo sem os recursos que se obtêm quando empregados.

Apesar da imensa relação de opções citadas pelos desempregados, como recursos de sobrevivência, a pesquisa identificou outras razões da precariedade dos trabalhadores da indústria calçadista, através das entrevistas e dos seus próprios depoimentos, onde então se percebe a falta de uma consciência crítica, de uma organização política e sócio-econômica, e sobretudo por falta de movimentos coletivos e de reivindicações mais conscientes, junto aos empresários do setor calçadista, como também aos órgãos representativos governamentais.

Como alternativas de sobrevevência, esta pesquisa apresenta sugestões de trabalho e emprego para este novo século, considerando a necessária e indispensável qualificação profissional e sobretudo com o uso da criatividade.

(6)

RESUMEN

(7)

ABSTRACT

The Strategy of Survival of the Unemployeds is enters the main social concerns of the present time. The present study had as objective to know as the unemployeds survive exactly being dismissed, without wages, without income, mainly at the moments of crises of the shoe industry calçadista sector, the three last decades of the pasT century, or either, of 98 the 2000. To understand the question of the unemployment, in the city of Franca, it was necessary also make an analysis of the conditions of the shoe manufacturers industries, where it could be more detected the main causes of the crises that occur periodically during the year, known as sazonalidade of the shoe industry sector, that is one of the main ratios of the fluctuation of the unemployment. It was arrived this result by means of a vast one and delayed research, documentary and of field, with innumerable interviews with entrepreneurs, directors, presidents of unions, among others, on to the calçadista sector, in the direction of not only searching the used ratios, ways and features to surpass the crises, as also to prevent the resignations and assure the maintenance of the job. But, the research demonstrates that, ahead of the periodic crises or same of the sazonalidade, the resignation is exactly inevitable. It was with base in this reality that we center our fetching around the strategies of survival of the unemployeds. End how is proper they answers on its conditions, or either, as they obtain to exactly supply its basic necessities without the features that if they get when employed. Despite the immense relation options cited for the unemployeds, as survival features, the research identified other ratios of the precariousness of the workers of the calçadista industry, through the interviews and of its proper declarations, where them lack of a critical conscience is perceived, of an organization partner-economic politics and, and over all due to collective movements and of more conscientious claims, together to the entrepreneurs of the calçadista sector, as also to the agencies representative governmental. As alternative of osurvive, this research over all presents suggestions of work and job for this new century, considering the necessary and indispensable professional qualification and with the use of the creativity.

(8)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . 1

CAPÍTULO I I – Abordagens teórica e metodológicas da pesquisa . . . 4

1.1 – Delimitação da pesquisa . . . 4

a) Universo da pesquisa . . . . 6

b) Amostragem . . . . 7

c) Tipo de pesquisa . . . 9

1.2 – Das construções das categorias . . . 10

1.3 – Das hipóteses da tese . . . 11

1.4 – Das abordagens metodológicas . . . 13

1.5 – Das fontes, dos objetos, dos documentos, das entrevistas . . . . 15

CAPÍTULO II II - O impacto da globalização . . . 15

2.1 - O empregado e o desempregado no contexto global . . . 18

2.2 - Franca, um cidade que vive do calçado . . . 26

2.3 - A competitividade da indústria calçadista com as do mundo moderno . . . . 38

2.4 - A produção para o mercado interno, externo e falências . . . 44

(9)

CAPÍTULO III

III- As relações de trabalho na indústria calçadista . . . .. 60

3.1 - A mão-de-obra especializada: sua origem e sua formação . . . 62

3.2 - A demissão, a carência e o processo seletivo dos trabalhadores 68 3.3 - A remuneração e a estabilidade no emprego . . . 72

3.4 - A mão-de-obra terceirizada e a microempresa . . . 75

3.5 - A sobrevivência da empresa e a manutenção do emprego . . . . .. 82

CAPÍTULO IV IV - A trajetória do desempregado . . . 91

4. 1 - As condições do desempregado . . . 94

4. 2 - Estamos desempregados e agora? . . . 104

4. 3 - Em busca do emprego perdido . . . . 107

4. 4 - Discriminação e solidariedade . . . . 113

4. 5 - A consciência do desempregado calçadista . . . 116

CAPÍTULO V V - A estratégia de sobrevivência . . . 124

5. 1 - Recursos sociais de sobrevivência . . . 124

5. 2 - Em busca de alternativas . . . 128

5. 3 - Os reflexos do desemprego na estrutura familiar . . . 135

5. 4 - Tudo pela sobrevivência . . . 141

5. 5 - Estratégia de trabalho neste novo século . . . 144

CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . 149

BIBLIOGRAFIA CITADA . . . 154

BIBLIOGRAFIA GERAL . . . 156

(10)

LISTA DE QUADROS E GRÁFICO:

Capítulo I

19 – Venda de calçados para o mercado interno . . . 06

20 – Produção – admissão de funcionários . . . .. 08

21 – Produção e produtividade . . . 09

Capítulo II 01 – Produção – 1984 a 2000 . . . . . . 28

02 – Total de funcionários com carteira assinada . . . . 28

03 – Mercado brasileiro de calçados . . . .. 29

04 – Vendas para o mercado externo . . . 29

05 – Produção de calçados no país e em Franca . . . 30

06 – População urbana . . . 31

07 – População de 1991 a 1999 . . . 31

08 – Comércio de exportação . . . 32

09 – Comércio de importação . . . 33

10 – Reclamações Trabalhistas . . . 33

11 – Seguro desemprego (I) . . . 34

12 – Títulos protestados . . . 35

13 – Movimento aeroviário . . . 35

14 – Construção civil (I) . . . 36

15 – Energia elétrica . . . 37

16 – Países importadores . . . .. 38

17 – Produção e produtividade . . . 51

18 – Produção e funcionários . . . .. 52

Capítulo IV 22 – Estado civil . . . . . . 95

24 – Renda familiar . . . .. 96

25 – Moradia . . . 97

26 – Paga aluguel . . . .. 97

27 – Escolaridade . . . .. 98

28 – Estado civil . . . .. 98

29 – Casa própria . . . . . 99

30 – Motivo da perda do emprego . . . .. 99

31 – Seguro desemprego (II) . . . .. 100

32 – desempregados admitidos . . . 100

33 – Contratação na indústria 98/99 . . . .. 101

34 – Faixa etaria dos desempregados . . . .. 102

35 – Estado civil . . . . . 102

36 – Pais com filhos dependentes . . . 103

37 – Renda que os desempregados contam . . . 103

38 – Situação financeira dos desempregados . . . 103

39 – Compromissos honrados . . . 104

(11)

“Quando analisamos uma coisa, Devemos atender à sua essência, Considerando as aparências apenas como Guia que nos leva até à porta, Uma vez transposta essa porta, Há que apreender a essência da coisa. Eis o único método de análise seguro e científico”.

(12)

INTRODUÇÃO

Fala-se hoje sobre a necessidade de se pensar numa estratégia de sobrevivência pelas próprias circunstâncias do contexto do mundo do trabalho. E pode-se dizer também que apenas uma pequena minoria da sociedade pode se isentar dessa preocupação, que são aqueles que detêm as grandes fortunas.

O objetivo desta pesquisa, Estratégia de Sobrevivência dos Desempregados da Indústria Calçadista de Franca, embora o título da tese possa sugerir uma receita de sobrevivência, não é essa a direção que tomou este trabalho, mas sim o de analisar as condições e as perspectivas dos empregos e dos desempregados nessa transição do mundo do trabalho.

A contribuição desta tese tem como pretensão oferecer um referencial teórico que conduza uma linha de raciocínio que vá de encontro às soluções do grande desafio deste século, que é o desemprego, face à globalização, ao avanço tecnológico e à política neoliberal.

A própria realidade do mundo moderno, caracterizada pelo declínio sistemático e inevitável dos empregos, nos induz a ver essa grande preocupação com muito respeito, pois a tendência do desemprego, pelo menos o estrutural, é crescer ainda mais, conforme preconiza um dos analistas dessa área: “Estamos entrando em uma nova fase da história, - em que cada vez menos trabalhadores serão necessários para produzir bens e serviços para a população global” (Rifkin, 1995: p.XVIII). Nessa questão, não há o que contestar, pois já estamos frente à frente com essa realidade, como demonstraremos nesta pesquisa.

(13)

lugares deste planeta. Vivemos agora num mundo globalizado. Por essa razão, iniciamos o desenvolvimento desta pesquisa abrangendo a realidade do contexto global, onde obviamente também estamos inseridos, participando e vivendo todas as angústias e as euforias das novas descobertas.

No primeiro capítulo, analisamos então o contexto global do mundo do trabalho numa perspectiva de identificar como os trabalhadores estão sendo eliminados do processo econômico e como categorias inteiras estão sendo reduzidas, reestruturadas ou desaparecendo, principalmente nos países tidos como avançados, assim como conhecer o grau de inserção da nossa economia no mercado global, a competitividade da indústria calçadista com as do mundo moderno e a composição de Franca como uma cidade que sobrevive através da produção de calçados, além de uma observação crítica da estrutura industrial desse setor. Naturalmente que seria quase impossível desenvolver uma análise sobre os desempregados sem antes analisar as condições e as perspectivas dos empregadores da indústria de calçados.

Em seguida, no segundo capítulo, apresentamos o caráter técnico, teórico e metodológico de nossa pesquisa, como ela nasceu e se desenvolveu, as limitações, o universo, a amostragem, as construções das categorias, as hipóteses, as abordagens metodológicas, as fontes e as entrevistas, pela necessidade e pelas exigências próprias de um trabalho científico, sem perder de vista, é claro, que “se a teoria, se as técnicas são indispensáveis para a investigação social, a capacidade criadora e a experiência do pesquisador jogam também um papel importante” (Minayo, 1992, p.23) . E, sem esquecer também, que o pesquisador tem ampla liberdade teórico-metodológica para realizar seu estudo, mas lembrando que “os limites de sua iniciativa particular estarão exclusivamente fixados pelas condições da exigência de um trabalho científico”. (Triviños, 1987, p. 133)

(14)

iniciativa particular dos empresários calçadistas. Mas, é nesse capítulo que se toma o conhecimento de todo o processo das relações trabalhistas nas indústrias de calçados de Franca, da realidade sobre a mão de obra calçadista, que é o objeto desta pesquisa, quando ela perde o emprego e é forçada a encontrar alternativas de sobrevivência. Esta análise inicia-se desde a formação da mão de obra, passa pelo processo seletivo dos trabalhadores, pela remuneração, pela estabilidade no emprego e pelo processo de demissão, quando então ela é terceirizada e transferida para a microempresa. Lembrando que a manutenção do emprego depende também da sobrevivência da empresa.

E, no quarto capítulo, analisamos basicamente a trajetória do desempregado, onde centramos então a nossa análise sobre o sujeito desta pesquisa, que é o desempregado. É nesse capítulo que se inicia uma verdadeira história de desespero, de tristeza e de dor. Quando se perde o emprego, perde-se também a dignidade, a honra e o respeito, e dão lugar à amargura, à miséria e à fome. São relatos, depoimentos, dos próprios desempregados, que atestam histórias que poucos conhecem, porque estão protegidas sob o manto da hipocrisia, dos princípios morais falidos, como o de dizer que tudo vai bem, enquanto, tudo vai mal.

(15)

I - Abordagens teóricas e metodológicas da pesquisa

Nesta pesquisa, no intuito de alcançar o nosso objetivo, utilizamos de concepções teóricas e metodológicas já conhecidas, como a marxista por exemplo, para a análise da realidade conhecida e vivenciada por todos que de certa forma estão envolvidos ao setor calçadista de Franca.

Naturalmente, que muitas vezes tivemos de utilizar uma metodologia própria em razão das condições e das circunstâncias que envolvem a realidade dos sujeitos da pesquisa, ou seja, dos entrevistados, mas sem perder de vista o objetivo de nossa tese.

1.1 - Delimitação da pesquisa

Este trabalho partiu de uma preocupação que nos acompanha por várias décadas - a luta pela sobrevivência - que também é uma das preocupações mais antiga da humanidade. Quando se pensa no que o homem, às vezes, é obrigado a fazer para garantir a sua sobrevivência, pode-se então perceber o quanto é vasto este tema.

Mas na impossibilidade de se realizar um trabalho dessa dimensão, optamos por um estudo modesto, delimitando a nossa pesquisa apenas na circunscrição de Franca, Estado de São Paulo, nas duas últimas décadas, as de 1980 e 1990 (embora extrapolamos esse período por diversas vezes), junto àqueles que estão diretamente envolvidos com o setor calçadista, seja na categoria de empregados, de empregadores e, sobretudo, de desempregados.

(16)

Outro fator que também nos chamou a atenção e que nos impulsionou para a realização desta pesquisa foram duas obras: Fim dos empregos, de Jeremy Rifkin, e Adeus ao trabalho, de Ricardo Antunes. Estes dois autores, entre outros, deixam evidenciado que o emprego está ameaçado e que, portanto, a sobrevivência dos desempregados torna-se num grande problema, basicamente àqueles que se encontram atrelados ao trabalho formal.

Em razão dessa realidade, a pesquisa se subdividiu em dois blocos: o primeiro foi dedicado aos empregadores, onde se analisa as principais dificuldades do setor calçadista e as condições básicas para a manutenção do emprego. E no segundo, onde se encontra o objetivo principal deste trabalho, que é a busca de estratégias de sobrevivência dos desempregados. A pesquisa concentrou-se mais nos trabalhadores, evidentemente, que ora estão empregados, ora desempregados, sem desconsiderar também outros depoentes que já estiveram envolvidos com a produção de calçados e que hoje encontraram outros caminhos de sobrevivência, como também àqueles que não encontrando nenhuma outra opção, perderam o rumo e hoje vivem apenas de “bicos”.

a) Universo da pesquisa

O universo desta pesquisa está limitada à circunscrição de Franca, cidade do interior do Estado de São Paulo, nordeste paulista, conhecida hoje como a capital do calçado, onde se produz calçados de variados tipos para o mercado interno e externo.

(17)

produção e os preços se mantiveram mais ou menos estáveis, ou seja, uma produção em torno de 8 a 9 milhões de pares ao preço de 10 a 13 dólares. Enquanto na década de 90, tanto a produção como o preço tiveram um aumento significativo, alcançando o seu pico em 1993, quando então a produção de calçados para exportação alcançou um total de 14.545.911 pares, com um faturamento recorde de US$ 228.033.466, ao preço de 15,68 dólares. Em 1995, o preço do sapato chegou a 20,45 dólares, mas a exportação caiu para 7.412. 321 pares.

E, com relação ao mercado interno, as vendas tiveram uma oscilação mais linear, no espaço de 84 à 99, alcançando o pico em 86, com 26 milhões de pares, e depois somente em 97, 98 e 99, quando a produção foi em torno de 25 milhões de pares, conforme o quadro abaixo:

Quadro 1: Vendas de calçados para o mercado interno

ANO Milhões de pares % ANO Milhões de pares %

1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 15,0 18,0 26,0 9,0 15,0 17,5 18,0 17,0 47,00 60,00 74,00 53,00 62,50 64,81 66,67 70,84 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 15,0 17,0 19,8 14,6 18,7 24,3 25,4 25,4 58,37 53,97 62,86 66,36 75,55 83,66 87,59 86,22

FONTE: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca/2000

No quadro acima (1), nota-se que a oscilação do mercado tem uma diferença expressiva em relação ao quadro 04 (vendas para o mercado externo), as flutuações do mercado externo são bem maiores por várias razões, como por exemplo: a concorrência é maior, a variação cambial não é estável, as retaliações não estão descartadas. Enquanto no mercado interno, a oscilação existe mais em função dos planos econômicos e da recessão, ou seja, do enxugamento monetário.

(18)

É com base nesse contexto geral que delimitamos o universo de nossa pesquisa, onde estão inseridos todos os sujeitos e as categorias deste trabalho, como os industriais, os trabalhadores, os comerciantes, os desempregados, os sindicatos patronais e dos sapateiros, os microempresários, a Prefeitura, o Senai, os prestadores de serviços eventuais e temporários, os movimentos reivindicatórios, as contradições, as políticas emergenciais de frente de trabalho e de distribuição de cestas básicas e sobretudo as estratégias de sobrevivência, ou seja, todos que estão envolvidos direta ou indiretamente ao setor calçadista. Foi, portanto, desse universo que extraímos todos os dados, as informações, as argumentações, os elementos para análise desta tese.

b) Amostragem

Entre os vários empresários entrevistados, foram citados na tese apenas seis, não mencionando seus verdadeiros nomes, evidentemente, por falta de autorização dos mesmos e também para evitar constragimento. Para a identificação e o discernimento entre eles, utilizamos letras do nosso alfabeto sem nenhuma ordem lógica.

Foram gravadas 38 entrevistas com trabalhadores empregados, desempregados e trabalhadores informais. Também foram respondidos, tabulados e analisados 40 questionários preenchidos pelos desempregados e mais 53 fichas de cadastramento de trabalhadores desempregados cadastradas no próprio Sindicato dos Sapateiros, para fins de emprego e cesta básica, além de mais 500 fichas cadastradas na Secretaria de Cidadania e Ação Social, para fins de cesta básica, vale transporte e isenção de IPTU.

Em razão do objeto de estudo desta pesquisa, Estratégia de sobrevivência dos desempregados, foi necessário, obviamente, quantificar o número de trabalhadores que são admitidos e demitidos ao longo de uma década para se ter uma noção da mobilidade do emprego, o que justifica a importância de nossa tese.

(19)

razão e ainda considerando que as condições de sobrevivência tende a se agravar, em razão da política neoliberal, que restringe a aplicação de verbas na área social, e também da própria política econômica, pela recessão prolongada, o que torna ainda mais penosa a vida de quem depende de salário para sobreviver e, mais crítica ainda em relação aos desempregados, onde a situação é bastante grave. Veja a relação da produção, admissão e demissão de funcionários no quadro abaixo:

Quadro 2: Produção, Admissão e Demissão de Funcionários Ano Produção

Anual* AdmitidosFunc. Demitidos Func.

1986 35.0 5471 1031

1987 17.0 1484 11389

1988 24.0 3359 655

1989 27.0 2393 2229

1990 27.0 1877 4391

1991 24.0 3828 5977

1992 25.7 2766 804

1993 31.5 1344 881

1994 31.5 271 2855

1995 22.0 950 5751

1996 24.8 1708 1708

Fonte: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca-SP

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Quadro 3: Produção e produtividade

Ano Pares* Empreg. Prod. indiv.

1986 35.0 35.400 988

1996 24.8 18.930 1.310

Fonte: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (*) Milhões

No quadro acima (3), percebe-se uma queda da produção de calçados a nível nacional, em torno de 56% nas seqüências dos anos de l986 a 1994, apesar da população ter crescido significativamente nesse período. A razão se explicaria então pelo crescimento das importações nesses anos, já que a produção de calçados em Franca para exportação também apresentou um crescimento significativo.

c) Tipo de Pesquisa

Apesar das dificuldades que há em caracterizar genericamente a pesquisa qualitativa, pela intensa discussão em torno das bases teóricas, como as estrutural funcionalista, a fenomenológica e a materialista dialética, optamos, em função do gênero deste trabalho, pela materialista dialética.

A nossa pesquisa, embora seja mais do tipo qualitativa, mas como em determinados momentos ela se utilizou dos métodos quantitativos e estatísticos, procuramos não estabelecer qualquer confronto entre as duas metodologias, já que acreditamos também que toda pesquisa pode ser ao mesmo tempo qualitativa e quantitativa, pois "uma visão da realidade social e cultural...obriga o pesquisador a considerar uma série de estratégias metodológicas, marcadas fundamentalmente, pela flexibilidade da ação investigativa " (Triviños,1987, p.123).

(21)

relativamente simples, superficial, estética. Buscou as raízes deles, as causas de sua existência, suas relações, num quadro amplo do sujeito como ser social e histórico, tratando de explicar e compreender o desenvolvimento hipotético do estudo que queremos realizar"(Idem, p.130).

Quanto ao procedimento metodológico utilizado em nossa pesquisa, depois da escolha do tema, efetuou-se uma busca exaustiva de coleta de dados documentais, como: relatórios, artigos de revistas, jornais e periódicos variados, publicações diversas.

Além destas fontes, de grande importância informativa e inclusive como recurso para confrontar as informações obtidas através das entrevistas, depoimentos de empresários, diretores, presidentes de sindicatos, empregados e desempregados, basicamente.

Em seguida, de posse desse material coletado, procedeu-se então a tabulação, a quantificação, o cruzamento de dados, para finalmente fazer a análise, sempre apoiado numa fundamentação teórica. Somente ai pôde-se chegar ao resultado, ou confirmação da hipótese de nosso trabalho, confirmações estas que podem ser observadas basicamente nos capítulos três e quatro.

A realidade desta pesquisa tem, no âmbito de seu contexto geral, duas categorias antagônicas: a dos empregados e a dos empregadores, onde se estabelece então o conflito das classes sociais e nas relações entre capital e trabalho. Segue-se daí outras contradições circunscritas no processo dialético, que são percebidas tanto nas relações produtivas, quanto nas relações de mercado.

1.2 - Das construções das categorias

(22)

então, constituir nesta pesquisa algumas das categorias que consideramos essenciais.

Uma delas trata-se da categoria da contradição, conforme ainda o mesmo autor citado apresenta, que ela "estabelece, por exemplo, que a contradição é uma interação entre aspectos opostos, distingue os tipos de contradições (interiores e exteriores, essenciais e essenciais, fundamentais e não-fundamentais, principais e acessórias), determinam o papel e a importância que ela tem na formação material e ressalta que a categoria da contradição é a origem do movimento e do desenvolvimento (Idem, p.55-56),

Naturalmente que certas dificuldades, pela própria natureza da pesquisa, tem que ser superadas num esforço de oferecer algumas respostas ou proposições, mesmo considerando que "para problemas essenciais, como a pobreza, a miséria, a fome, a violência, a ciência continua sem respostas e sem propostas"(Minayo: 2.000, p.10). Mas, esse é o caminho que determinamos com o objetivo de caracterizar não só as categorias, como também a compreensão da realidade.

1.3 - Das hipóteses da tese

Se já é difícil entender como sobrevivem àqueles que recebem apenas um salário mínimo por mês, mais difícil ainda é compreender como sobrevivem os desempregados que nada tem a receber. E, às vezes, por um período prolongado, dado as dificuldades em se conseguir um emprego.

(23)

direitos e conquistar seu espaço? Mas, por que isso não acontece entre os desempregados?

Diante desse contexto que apresentamos, em relação às perspectivas de sobrevivência dos desempregados da indústria de calçados, esta pesquisa partiu do pressuposto de que as alternativas encontradas pelos próprios desempregados estão fundadas na hipótese que transcende os limites do tempo e do espaço, a filantropia.

Mas, embora as atividades filantrópicas, em sua maioria, mantidas por entidades não-governamentais, que sempre estiveram presente nos momentos de crise para assistir àqueles que estão em dificuldades, basicamente em relação aos que perderam o emprego e também aos moradores de rua, seja na distribuição de bens, de recursos, e, às vezes, até mesmo às necessidades básicas de sobrevivência, como alimentação e moradia, há outras hipóteses que também são consideradas relevantes, como por exemplo os "bicos", como são chamados pela maioria, que corresponde aos serviços eventuais, temporários e sem registro em carteira. Incluem-se nessa modalidade de trabalho serviços como faxina, lavagem de roupas, de carros, serventes de pedreiro, colheitas de café, corte da cana, e ainda têm salgados e bolos que são feitos para fornecer aos bares ou vender nas ruas, entre outros.

É com base nessa hipótese, a de que nem todos esperam pela assistência e busca a qualquer custo meios de garantir a sua sobrevivência e a de sua família, sujeitando-se aos mais variados tipos de serviços eventuais que esta pesquisa procurou rastrear, com a finalidade de elucidar os meios que os desempregados conseguem para garantir suas necessidades mais imediatas.

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A quarta hipótese, pouco representativa, é a de que os desempregados, sem qualquer alternativa profissional, naturalmente pela falta de diversidade econômica, acabam retornando para suas cidades de origem, próximas de Franca, onde passam a exercer outras atividades ligadas à construção civil ou até mesmo à agricultura.

E a quinta hipótese é a de que os desempregados, depois de não conseguir emprego, nenhuma colocação, acabam se entregando ao desânimo, à desesperança, e passam a viver na dependência dos familiares, que na maioria das vezes os acolhem como mais um dependente para não abandoná-lo à sua própria sorte e, quando isso não acontece, acabam se incorporando aos moradores de rua, que sobrevivem daquilo que se consegue no dia-a-dia.

Todas essas hipóteses mencionadas não são mais do que pressupostos que todos conhecem e que todos respondem quando indagados sobre as alternativas de sobrevivência dos desempregados. E não há dúvida de que esses recursos são mesmo utilizados como meio de sobrevivência quando se perde o emprego.

Mas, entre estas hipóteses, há também aquela que incomoda e preocupa à classe dominante, aos políticos, a que se relaciona à construção de uma consciência crítica da realidade, de uma consciência social e política, que não se restringe apenas nesses recursos imediatos de sobrevivência e sim numa estratégia de sobrevivência que garanta uma certa estabilidade econômica-financeira, profissional e cultural, de inclusão social, de cidadania. É, com relação a essa hipótese, que esta pesquisa busca com objetividade analisar o processo de avanço e conquista dos seus direitos, e também de seus retrocessos, do conformismo diante do desemprego, e que muitas vezes são levados até mesmo a reproduzir a própria ideologia da classe dominante.

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governamental ou não-governamental, que neste momento estão envolvidos com outros níveis de preocupação.

1.4 - Das abordagens metodológicas

A linha teórica metodológica desta pesquisa seguirá a da análise da dialética marxista, que pretende identificar, além das relações entre capital e trabalho, os conflitos entre empregados e empregadores e suas alternativas de conquistas, de inclusão e de cidadania.

Esta pesquisa se propôs analisar as condições sobrevivenciais dos trabalhadores, principalmente a dos desempregados, sem se furtar de uma análise da consciência social e política tanto da classe empresarial como da classe trabalhadora.

E ainda, as relações de produção, forças produtivas do trabalho, valor do trabalho, lucros, acumulação de capital, valores relativos das mercadorias, expansão industrial, avanço tecnológico, conflitos entre sindicatos, entre outros, foram vistos e analisados no âmbito da dialética marxista.

E, se optamos pela dialética marxista, é porque na realidade o conflito e a contradição predominam sobre a harmonia e o consenso. E um estudo só se torna válido quando consegue perceber as contradições e o processo de transformação, assim como oferecer proposições que possam intervir de alguma forma na construção das categorias.

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1.5 - Das fontes, dos objetos, dos documentos, das entrevistas

Para esta pesquisa foram necessários todos os instrumentos disponíveis para a coleta de dados, tanto documentais como depoimentos e entrevistas. E uma das dificuldades que se interpôs entre o pesquisador e a realidade social, no âmbito da entrevista individual com os empregadores, trabalhadores empregados e desempregados, com os presidentes dos sindicatos, tanto patronal como dos sapateiros, e ainda com os diretores de outras empresas afins, foi na fixação de horários para a realização dos encontros, das reuniões e das entrevistas.

E mais, o pesquisador "é uma pessoa que deseja conhecer aspectos da vida de outras pessoas. Estas, como todos os grupos humanos, têm seus próprios valores que podem ser muito diferentes dos valores dos pesquisadores. Eles possuem interesses, inimizades, setores sociais constituídos por amigos... "(Triviños: 1987, p.141). E não há, obviamente, nenhum interesse por parte deles em estar prestando essas informações.

Além das entrevistas, que foi o recurso mais utilizado, pela própria exigência do objeto deste trabalho, uma vez que se tornaria difícil detectar as alternativas se não pelo questionamento verbal. Agora, para a contextualização geral do objeto, o procedimento técnico mais apropriado, sem dúvida, foi o de consultas em arquivos públicos e particulares, publicações em geral, fichas cadastrais, como as que estão em anexo, relatórios e registros arquivados tanto no Sindicato da Indústria de Calçados como também no Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Calçados, entre vários outros documentos que foram sendo localizados.

E, ainda, para instrumentalizar a consulta ao material coletado, foram criados várias fichas para tabulações, questionários, gráficos, quadros, tabelas, entre outros, além de outros recursos, sobretudo de gravadores.

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II - O impacto da globalização

O mundo agora está mais vulnerável, a cada momento surgem novas mudanças. Nos países em desenvolvimento, é praticamente impossível se excluir da economia global, o medo de ficar no isolamento econômico, político e cultural, acaba levando Chefes de Estados, de Governo, empresários, ruralistas, industriais a se inserirem nesse movimento denominado de globalização ou mundialização, “que resulta da interdependência, cada vez maior, das economia de todos os países, através da liberdade absoluta de circulação dos capitais, da supressão das barreiras alfandegárias e de regulamentações, e pela intensificação do comércio e do livre mercado, incentivados não só pelo Banco Mundial (Bird), pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e pela Organização Mundial do Comércio (OMC)”1

E ainda, através da globalização, “a economia se mundializa, internacionaliza o capital se aprofunda e se dinamiza, por via da telecomunicação, da robótica, da informática e outras tecnologias sofisticadas, deslocando-se de um lugar para outro, não mais fisicamente, mas por meios eletrônicos, com vistas sempre à apropriação de mercados, à hegemonia econômica, com a conseqüente tecnificação do trabalho” (Bonfim, in: Maccaloz, 1997, p. 37).

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globalização é uma bolha especulativa, que se expressa no mercado de derivativos. É a jogatina da moeda diária. Isso afeta empregos”2 Naturalmente, porque as maiores corporações mundiais estão decidindo agora basicamente o que, como, quando e onde produzir os bens e serviços utilizados pelos seres humanos.

Sem dúvida que não é o trabalhador e nem mesmo os pequenos países quem ganham com essa mudança acelerada do capitalismo. “A globalização é a revolução do fim do século (séc.XX). Com ela, a conjuntura social e política das nações passa a ser desimportante na definição de investimentos. O indivíduo torna-se uma peça na engrenagem da corporação. Os países precisam-se ajustar para permanecer competitivos numa economia global – e aí não podem ter mais impostos, mais encargos ou mais inflação que os outros”3

Essa “transnacionalização da economia...”, como a prefere assim chamar João Bernardo, porque “... as companhias transnacionais não juntam nações, passam por cima delas”. Além do mais, “grande parte do comércio que as estatísticas oficiais contabilizam com o externo é, na realidade, um comércio interno, constituído entre matrizes e filiais” (2.000: p.39), sem dúvida, pode até ser inevitável, mas uma nova ordem mundial está surgindo e, com ela, um novo paradigma de sobrevivência.

Essas mudanças que se sucedem hoje têm raízes profundas, mudanças que já tinham sido previstas por Marx, no século XIX, quando teorizou a respeito da tendência do capitalismo a produzir desemprego, ao lado do excesso de mercadorias.

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coercitivas. Ela o obriga a expandir constantemente seu capital, a fim de preservá-lo, mas expandi-lo não pode exceto por meio da acumulação progressiva" (Marx, in: Sweesy, 1967, p. 109)

Foi na virada da década de 70/80, que o fordismo, debilitado pelo período de retração da economia mundial dos anos 70, deu lugar à acumulação flexível e, nos anos 80, ao conjunto de transformações que ficaram conhecidas como Nova Revolução Industrial (ou 3ª Revolução Industrial). Essa acumulação caracteriza-se ainda pelo surgimento de setores de produção inteiramente novos, e sobretudo por taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional, envolvendo rápidas mudanças nos padrões de desenvolvimento desigual tanto de setores como de regiões geográficas e com níveis relativamente altos de emprego estrutural.

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2.1 - O emprego e desemprego no contexto global

Com a reestruturação mundial do capitalismo, nas últimas décadas do século XX, e com a ruptura do paradigma industrial e tecnológico anterior, além do rompimento do compromisso social, o capital alterou a relação capital/trabalho, sem que nova articulação tenha sido criada, e essa desestruturação do mundo trabalho expandiu-se em diferentes níveis, como: insegurança do mercado de trabalho, do emprego, da renda, da contratação e da representação, conforme analisa Mattoso, a seguir:

Quanto à insegurança do mercado de trabalho, ou seja, pertencer ou não ao mercado de trabalho, “foi favorecida pela ruptura do compromisso keynesiano ou social-democrata e, consequentemente, pela não-priorização do pleno emprego como objetivo de governo. O resultado foi uma sobreoferta de trabalhadores e aumento das desigualdades frente ao desemprego”(Mattoso,1994, p.525).

Mesmo havendo uma significativa retomada do crescimento do emprego nos anos oitenta, ainda assim não foi suficiente para recuperar as perdas dos postos de trabalho dos anos anteriores, devido a substituição de antigos insumos por novos materiais, como efeitos do processo de reestruturação, tais como: informatização, automação e robotização; flexibilização e terceirização da produção; e reconcentração de capitais e constituição de blocos de países (Idem, p.525).

Portanto, em razão deste processo de reestruturação, percebe-se que houve uma redução absoluta do emprego industrial nos anos oitenta, apesar do crescimento econômico, assim como no setor público devido as dificuldades financeiras dos Estados, imobilizados pelo discurso neoliberal que propugnava a redução do Estado nos diferentes países. Os mais atingidos pelo desemprego, nesse período, foram os jovens, os trabalhadores mais idosos ou aqueles com menor qualificação.

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Estados Unidos, França, Holanda, Inglaterra, Itália, Japão, Suécia, Suíça) pela intensificação das facilidades patronais em despedir e utilizar trabalhadores eventuais (subcontratado por tempo determinado), temporários (por tempo parcial, trabalho à domicílio ou independentes, aprendizes, estagiários etc), bem como a outras formas de cortes de custos do trabalho, resultantes do rompimento do compromisso social-democrata e da tentativa de estabelecer unilateralmente as novas regras da relação de trabalho, onde se detecta então as condições mais precárias de contratação, no que se refere aos salários, acesso à seguridade social, assistência médica e aposentadoria (Idem, p.531).

Na década de oitenta, embora tenha registrado um crescimento econômico no período, grande parte dos governos, pressionados pelos empresários, acabou sendo forçado a reduzir as formas de proteção ao emprego, determinando um menor crescimento do emprego industrial e ampliação nos serviços, além de novas estratégias de administração nas empresas e busca de sistemas de produção mais flexíveis.

Quanto a insegurança na renda, foi através da fragmentação do trabalho, da deterioração do mercado de trabalho, da contratação em condições de eventualidade e precariedade e deterioração do mercado de trabalho. “Por outro lado, os rendimentos do trabalho tornaram-se crescentemente variáveis, instáveis ou sem garantia e, por outro, ampliaram-se os níveis de concentração da renda, com o crescimento da desigualdade e da pobreza” (Idem, p.536).

Foi basicamente nessa época, na década de oitenta, que aumentou o distanciamento entre a elevação do poder aquisitivo dos assalariados e o avanço da produtividade, com o rompimento da relação salário/produtividade, ou seja, houve uma flexibilização dos salários conforme a situação de cada empresa e de cada trabalhador, colocando em xeque a rigidez quanto à queda dos salários nominais e/ou reais, isto é, mais sensíveis à situação econômica ou mais dependente das variáveis econômicas (Idem, p. 536).

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empresários, onde estas negociações coletivas tinham por base a indexação à inflação e o repasse da produtividade, na década de oitenta, essa tendência inverteu-se, “o objetivo geral sob a ofensiva do capital reestruturado foi o de permitir a flutuação dos salários, considerados muito rígidos” descentralizando-se a determinação dos salários, desgastando-se a contratação coletiva e introduzindo-se sistemas flexíveis de pagamento. Os gastos sociais e fiscais das empresas ficaram estagnados ou reduzidos, ao mesmo tempo que alteraram-se os parâmetros de indexação e reduziram-se os repasses do aumento da produtividade aos salários (Idem, p.539).

Portanto, associou-se à deterioração da distribuição da renda, resultante do aumento do desemprego, da reestruturação setorial do emprego, da maior disparidade salarial e das desigualdade entre trabalhadores permanentes e periféricos, à própria deterioração da participação dos salários na renda nacional, (p.539).

E quanto a insegurança na contratação do trabalho, após o rompimento do compromisso social e a elevação da insegurança do trabalho em diferentes níveis, relaciona-se ao movimento tendencial da negociação e regulação do trabalho em direção a formas mais individualistas e promocionais, em contraposição às tendências anteriores coletivas e de proteção (p. 541).

Naturalmente que tornando as relações de trabalho mais descentralizadas, através de maior autonomia e da ruptura do compromisso nacional, acabou favorecendo a ampliação das formas de contratos, como contrato parcial ou até mesmo “sem contrato”.

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período, 92 milhões de trabalhadores. E, em contrapartida, na década de oitenta, os sindicatos perderam cerca de 5 milhões de membros(Idem, p.544).

E, no atual contexto da concorrência internacional, da política neoliberal e do avanço tecnológico, foram então criadas condições nitidamente desfavoráveis ao crescimento econômico e consequentemente à geração de empregos, além do alargamento das desigualdades sociais não só pela concentração de riquezas como também pelo abandono das políticas de pleno emprego e dos Planos Econômicos de Bem-Estar Social.

E a saída para a grave crise econômica mundial, segundo especialistas da área econômica, em debates, mesas redondas, pela mídia, só será através da retomada do desenvolvimento econômico e não com o desemprego e a flexibilização dos direitos trabalhistas. Mas, para essa retomada do desenvolvimento econômico, seria necessário a canalização dos recursos que estão hoje, em sua maioria, na especulação financeira e na corrida armamentista para produção e o bem-estar social, além de padrões de câmbio mais justos entre as nações.

Por outro lado, ao contrário do que se pensa sobre a produtividade, de que quanto mais ela cresce mais alívio traz à vida em comum, não é real porque a maior produtividade tem como objetivo, no atual contexto, fabricar mais bens com menor trabalho.

Com isso, o efeito também se tornou bem diferente, pois, criou-se uma quantidade exagerada de bens que resultou numa avalanche de desemprego e de miséria. E ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos passaram a produzir uma incontrolável abundância de bens, nunca foi tão grande o número de pessoas sem teto, sem trabalho, sem comida. O aumento da produtividade reparte seus frutos de forma extremamente desigual.

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instituição do trabalho temporário, a deteriorização da renda, além da insegurança na organização dos trabalhadores com a redução dos níveis de sindicalização (Mattoso: 2000).

E, se o mundo do trabalho está sofrendo profundas mudanças, isso não significa a perda da importância da categoria trabalho, como fator de estruturação social, como analisa Antunes(1997), apesar da crescente heterogeneização, complexificação e fragmentação do trabalho, esse continua como elemento estruturante da sociabilidade humana numa sociedade produtora de mercadorias. Nessa lógica é preciso pensar uma classe trabalhadora que inclua não apenas assalariados, como também trabalhadores precários, subempregados e mesmo desempregados.

Mas, o que coloca um país ainda mais vulnerável ao empobrecimento são os mecanismos de mercados financeiros internacionais. E, como normalmente os setores produtivos dos países emergentes são carentes de tecnologia e recursos, os governos acabam se endividando sendo necessário emitir títulos para refinanciamento das dívidas, tendo de pagar juros atraentes em relação ao mercado mundial, em razão dos níveis de risco elevados. Neles, os investidores internacionais não fazem investimentos a longo prazo, deixando assim os países emergentes, entre eles o Brasil, com uma grande parcela de suas reservas na forma de capital volátil, o que impede os países de investir em projetos de longo prazo. Mas, as razões que deixaram o país ainda mais vulnerável não terminaram. Há o déficit em transações corrente, que é o indicador de dependência do país em relação aos capitais estrangeiros. Esse indicador, composto por três itens, como: a balança comercial (exportação e importação), a balança de serviços (juros, turismo internacional, remessa de lucros etc) e as chamadas transferências (dinheiro remetido ao Brasil por residentes no exterior, sem relação financeira ou comercial).

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empréstimos ou investimentos estrangeiros para cobrir a diferença. Isso também deixa o país vulnerável quando há crises internacionais e cessa o crédito externo.

E, como se sabe, o país registra déficit crescentes desde o Plano Real, devido aos resultados negativos na balança comercial. O balanço de serviços é tradicionalmente deficitário porque o Brasil é devedor internacional e também porque tem mais investimentos estrangeiros em seu território do que capitais brasileiros investidos no exterior.

Mesmo diante de um quadro assim, é provável que as tecnologias de informação tenham superado todas as expectativas em termos de impacto econômico. Afinal, dentro das novas concepções capitalistas, mudou-se o conceito de empresa, de valor, de trabalho e de emprego. Valorizou-se o conhecimento, a capacidade de análise, a criatividade, a habilidade entre outros. Porém a insegurança gerada pela incerteza tanto política como econômica ainda é muito grande.

Portanto, no mundo agora globalizado, com o rompimento das barreiras não só econômica como também culturais, já não se consegue viver isolado como país auto-suficiente. Todos os países estão hoje interligados economicamente por uma necessidade de sobrevivência. O que acontece no Primeiro Mundo tem seus reflexos imediatamente nos demais países. A sociedade brasileira se insere hoje nesse processo de globalização carregando consigo uma enorme dívida social que exclui parcelas significativas da população dos direitos mínimos de sobrevivência. E tudo parece indicar que a tendência atual da globalização do capitalismo, através desta nova fase de acumulação, baseada nas taxas de juros internacionais, é de racionalizar a mão-de-obra e elevar o índice de desemprego.

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fronteiras foram abertas às importações e os produtos mais baratos começaram a entrar por todos os cantos do país. E não havia outras formas de competir, de vencer a concorrência aos produtos importados senão pela modernização das indústrias.

Mas, do ponto de vista tecnológico, segundo os empresários do setor calçadista, não chegou abalar profundamente as indústrias de Franca e nem de outras cidades produtoras de calçados, porque o sapato continuou sendo produzido, quase que artesanalmente, não só pelo alto custo da tecnologia, como também pela falta de condições das pequenas e médias empresas em adquirir esse equipamento que, sem dúvida, melhora a produtividade, mas acreditam que um investimento tão alto não seja viável.

Na opinião dos industriais, a margem de lucratividade da indústria de calçados está muito baixa e qualquer acréscimo no preço final do sapato pode resultar na perda do mercado, principalmente para os concorrentes asiáticos, que podem vender seu produto mais barato porque tem um custo menor, devido os baixos salários.

Há bastante tempo que Franca passa por freqüentes crises que ocorrem no setor calçadista com a queda das vendas. A curto prazo e difícil solucionar essa oscilação do mercado, porque está vinculada à política econômica do governo federal. Pois a instabilidade econômica do país reflete diretamente no mercado, assim como a política recessiva reduz o poder de compra do consumidor, e a variação cambial que tem seu efeito imediato nos preços.

Nas entrevistas com os empresários da indústria calçadista de Franca, sobre as alternativas encontradas para superar essa sazonalidade do mercado, eles afirmam que nesses cinco anos de Plano Real, que foi um período marcado pela queda acentuada na demanda interna do calçado, além da fuga dos importadores americanos e europeus, tanto na região de Franca, como no Vale dos Sinos, a saída foi fortalecer o mercado interno do Mercosul, que é um mercado promissor para o setor calçadista.

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modelos, descobrindo novos mercados, aumentando as áreas de atuação da empresa, aumentando a produtividade, adquirindo maquinários novos, fazendo investimentos, entre outras, para superar as quedas de vendas e que muitas vezes ainda não são suficientes para evitar a crise e o corte principal que acaba sendo na mão-de-obra, como afirma o presidente do sindicato dos trabalhadores de calçados: "de 1995 a 1997, quando houve a mudança na política econômica brasileira, a exportação tornou-se mais difícil, a empresa entrou em crise e, nesse período, quase 10 mil trabalhadores perderam o emprego"4

2.2 - Franca, uma cidade que vive do calçado

Franca, cidade do interior do Estado de São Paulo, nordeste paulista, conhecida hoje como a capital do calçado, tem registradas atualmente no Sindicato da Indústria de Calçados de Franca cerca de 360 fábricas, com uma capacidade instalada de produção anual de 37.200.000 pares de sapatos para o mercado interno e externo, do tipo sapatos e botas de couro, ambos (masculino e feminino, adulto e infantil); e também tênis de couro, borracha e nailon.

Essa riqueza, pode-se dizer assim porque é o que sustenta a cidade de Franca atualmente, teve seu início no começo do século XX, quando já se destacava como sapateiro Carlos Pacheco de Macedo. Mas, “o pioneirismo do primeiro grande industrial do couro e do calçado de Franca foi, contudo efêmero, seus negócios demandavam investimentos e o endividamento” (Tosi,1998, p.260).

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E, por volta de 1910, as fábricas de calçados já totalizavam 18 estabelecimentos com uma produção em torno de 25.656 pares de botinas, 11.131 de chinelos e 149 botas (Mauro Ferreira, 1989, p.38).

Agora, “entre 1928-1934 a indústria do calçado resistia e a indústria do couro parecia contribuir favoravelmente, dada a proximidade geográfica. Havia, também, os efeitos da Crise de 1929... Esta se faz sentir a partir de 1935, quando Franca se aproveitou das condições favoráveis encontradas na cadeia produtiva do couro e dos calçados e se inseriu decisivamente no mercado de sapatos para homens” (Tosi, 1998, p.260).

Em meados de 1940, acentuou-se no município de Franca, o declínio da agricultura, as melhorias de infra-estrutura urbana e o aumento de oportunidades de empregos urbanos. Mas, foi “a partir da Segunda metade da década de 40, que iriam surgir os dois maiores grupos econômicos da cidade: O Samello e o Amazonas” ” (Idem, p.261).

Nos anos 50, inicia-se a implantação de novas tecnologias mais avançadas. E, já no final da década, percebia-se a redução de empregos e salários. Mas, a febre industrial mesmo iniciou-se somente a partir dos anos 60, quando então várias indústrias foram instaladas desordenadamente pela cidade.

E o maior impulso no setor calçadista se deu, nas décadas de 70 e 80, quando, então, a exportação de calçados e couro para os EUA transformou a cidade num dos grandes pólos calçadista do país.

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Quadro 04: produção de 1984 a 2000 (milhões de pares)

Ano Pares Ano Pares

1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 32,0 30,0 35,0 17,0 24,0 27,0 27,0 24,0 25,7 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 - 31,5 31,5 22,0 24,8 29,0 29,0 29,5 32,5 -

Fonte: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca-SP /2000

Numa rápida observação do quadro 04, percebe-se uma oscilação da produção de calçados que pode ser utilizada como parâmetro para outras análises como, por exemplo, o aumento e diminuição de contratações e demissões de funcionários, de reclamações trabalhistas, títulos protestados, entre outros. Conforme se observa, os anos de pico ou de queda na produção são reflexos da variação da política econômica vigente no país.

Quadro 05: Total de funcionários com carteira assinada

MÊS/JULHO TOTAL /FUNC MÊS/JULHO TOTAL/FUNC

1985 33.066 1993 27.259

1986 36.717 1994 26.152

1987 27.286 1995 21.965

1988 28734 1996 19.477

1989 31.242 1997 19.451

1990 30.588 1998 17.213

1991 29.125 1999 17.144

1992 26.641 2000 18.255

Fonte: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca-SP/2000

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não é possível calcular a produtividade devido a terceirização, onde estima-se um grande número de trabalhadores não registrados.

Até 1999, pelas estimativas que circulavam nos sindicatos, nos jornais, eram de 15.000 desempregados em Franca à espera de emprego ou trabalhando em serviços eventuais, informais, na construção civil ou ainda na lavoura, que trataremos mais adiante, nos capítulos finais.

A estatística que se tem atualmente é a do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca, que não é exata, evidentemente, porque existe um outro universo de trabalhadores abstratos, sem carteira assinada, trabalhando precariamente.

No momento atual, as indústrias brasileiras de calçados não estão distribuídas uniformemente. Por exemplo, o forte da produção em Franca (SP) é de calçados masculino e de boa qualidade, já em Novo Hamburgo, Vale dos Sinos (RGS), é o sapato feminino e, em Jaú (SP), é o infantil. No Brasil, há várias outras espalhadas pelos Estados, e ainda outras que foram instaladas mais recentemente no Nordeste, mas tanto a produção como o mercado de exportação e importação e consumo se mantiveram em queda de 96 à 99, veja quadro 06:

Quadro 06: Mercado Brasileiro de Calçados

Item 1996 1997 1998 1999

Produção(1) (2) Importação(1) (3) Exportação(1) (3) Consumo Aparente(1) Consumo Percapita(4) 554 32 143 443 2,82 544 19 142 421 2,68 516 16 131 401 2,55 499 7 137 369 2,21 Legendas:

(1) Em milhões de pares (2) FIBGE

(3) MICT/SECEX

(4) Em pares

No quadro 06, nota-se uma redução em todos os ítens, nos quatro anos que antecedem o ano 2000. Com uma recessão prolongada, uma economia enxuta, uma moeda valorizada, o resultado lógico é a queda dos níveis de crescimento econômico.

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Quadro 07: Vendas para o mercado externo

ANO PARES PREÇO DÓLARES

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2.957.069 4.343.701 5.000.386 7.019.736 16.791.122 10.777.574 9.109.080 8.010.218 9.141.289 9.483.076 8.908.360 7.079.433 10.698.705 14.545.911 11.656.119 7.412321 6.069.191 4.742.371 3.600.075 4.065.523 14,91 15,07 13,01 10,97 9,80 10,35 10,73 13,01 13,97 13,25 14,23 15,15 15,12 15,68 17,15 20,45 20,17 19,52 19,27 17,38 44.080.833 65.479.943 65.068.056 77.032.001 164.553.774 111.499.171 97.733.223 104.248.355 127.688.887 125.634.377 126.747.230 107.226.670 161.786.820 228.033.466 199.856.567 151.550.491 122.387.723 92.584.795 69.383.972 70.670.691

FONTE: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca/2000

Esse quadro (07) é fundamental para a análise do comportamento econômico da cidade de Franca. Pode-se perceber os reflexos dessa flutuação do mercado externo nos demais seguimentos sociais e econômico-financeiro nos diversos setores produtivos, comerciais, sobretudo na questão do emprego e desemprego.

Em relação à produção nacional, Franca participa com um percentual significativo, conforme o quadro 05:

Quadro 08 - Produção Industrial de Calçados no País e o Percentual da Produção em Franca-SP

Ano 86 87 88 89 90 91 92 93 94

Produção

No País* 156,11 141,10 131,55 133,99 115,23 100,00 92,35 102,11 100,14 Produção

Em Franca** 22,% 12% 18,3% 20,3% 23,4% 24% 27,1% 30,3% 31% (*) Fonte: Anuário Estatístico do IBGE/1995

(**) Fonte: Sindicato da Indústria de Calçados de Franca-SP/1997

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Quadro 09: POPULAÇÃO DE FRANCA

ANO URBANA RURAL TOTAL %

1940 20.568 9.070 29.638 -

1950 26.629 9.547 36.176 22.06

1960 43.340 16.647 59.987 65.82

1970 86.852 6.761 93.613 56.05

1980 144.117 4.880 148.997 59.16

FONTE: FIBGE/Franca

Em 1990, por razões governamentais, o censo deixou de ser feito e, portanto, não houve nem mesmo uma contagem presumida da população. Para preencher essa lacuna, lançamos a estimativa do ano anterior, de 1989, que foi de 202.955 habitantes, encontrada na síntese do anuário estatístico da FIBGE.

Neste quadro 06, pode ainda ser observado o aumento populacional referente ao ano de 1940, em relação ao de 1980, que foi em torno de 402,72%, ou seja, a população total saltou de 29.638 para 148.997 habitantes, conforme dados colhidos na própria FIBGE da cidade. Houve uma grande fuga da população da zona rural para a urbana nesse período.

Já, a partir de 1991, existem estimativas anuais da população de Franca, apenas com exceção de 1997, que também não foi feita nenhuma estimativa, veja quadro 10 abaixo:

Quadro 10: População de Franca (1991-1999)

ANO POPULAÇÃO %

1991 233.098 -

1992 240.326 3.10

1993 247.385 2.93

1994 253.876 2.62

1995 267.000 5.17

1996 267.235 0.08

1997 - -

1998 282.957 5.88

1999 290.139 2.54

FONTE: FIBGE/Franca

(43)

teve um crescimento de 14,70%, enquanto que a rural foi de 12,67%, nessas duas referências, é claro.

Agora, ainda com relação ao quadro acima, ou seja, de 1991 à 1999, o crescimento, nesses nove anos, foi de 24,47%, isto é, a população saltou de 233.096, em 91, para 290.139 habitantes em 99, houve um crescimento populacional de 57.041 habitantes, nesse período.

Mas, a questão que se levanta em relação a esse crescimento, ainda que seja mais ou menos linear, e que as evidências desse aumento populacional são incontestáveis, é exatamente quando se compara à oferta de empregos. Houve, sem dúvida um crescimento de empregos na indústria calçadista de Franca, mas em razão das crises econômicas, do avanço tecnológico e da terceirização, o número de postos de trabalho parece ter decrescido em contrapartida ao crescimento da população. Então a indagação que se faz, é: Para aonde teria ido essa população desempregada, e do que estaria ela sobrevivendo hoje?

Nesse contexto, o nosso objeto de estudo, ou seja, a questão da sobrevivência, é levantada mais adiante através de análises documentais, entrevistas, depoimentos, destes trabalhadores abstratos, que existem mas não são identificados por trabalharem no anonimato.

Franca teve um crescimento notável pelo bom desempenho das exportações até 94, ao contrário da produção nacional, depois entrou em declínio novamente, em razão da mudança na economia:

Quadro 11 - Comércio de Exportação

ANO EXPORT. (US$) %

1989 133.672.575 - 1990 140.477.765 +5,09 1991 131.758.893 -6.61 1992 190.231.019 +44,37 1993 231.867.326 +21,88 1994 202.927.833 -14,26 1995 154.477.938 -31,36 1996 129.703.325 -19,10 1997 94.310.052 -37,52 1998 71.191.164 -32,46 1999 55.239.148 -28,87

Fonte: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

(44)

uma queda vertiginosa até 1999. Com um decréscimo na ordem de 319.75%, o que indica um empobrecimento significativo da exportação, voltando a melhorar gradativamente após a desvalorização do Real, quando o mercado de exportação começou então a ser reconquistado novamente, com uma considerável diferença, sem esquecer que essa variação cambial acabou reduzindo os salários dos trabalhadores à quase 50%, conforme declaração dos próprios empregados nas entrevistas.

Quadro 12 - Comércio de Importação

ANO IMPORT. (US$) %

1989 32.051 -

1990 32.360 + 0,96

1991 24.090 - 34,33

1992 29.805 + 23,72

1993 40.737 + 36,67

1994 49.919 + 22,29

1995 47.098 - 5,77

1996 46.053 - 2,26

FONTE: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

Já no comércio de importação, quadro 12, há uma lacuna entre 1997 a 1999, o que dificulta a análise comparativa com o da exportação. Mesmo assim, pode-se ver que a partir de 1995 há um crescimento negativo, provavelmente em razão da queda das exportações, que analisaremos mais adiante:

Nos demais segmentos da sociedade, com essa variação no comércio de exportação e importação, os reflexos são quase imediatos, como já mencionamos, e podem ser constatados nos quadros seguintes. Veja como a oscilação na Justiça do Trabalho segue os mesmos parâmetros da indústria calçadista:

Quadro 13 - Reclamações Trabalhistas

ANO RECLAMANTES %

1990 2.129 -

1991 2.139 + 0,46

1992 2.367 + 10,67

1993 1.034 - 129,00

1994 1.262 + 22,06

1995 1.780 +41,06

1996 1.805 +1,45

1997 1.864 +3,67

1998 1.965 +5,42

(45)

o seu pico, o que significa que as demissões diminuíram, havia empregos para todos. E depois voltou a subir com menor intensidade, ou seja, a oscilação se dá no sentido inverso, enquanto a exportação cai, as reclamações trabalhistas sobem.

Outro segmento social relacionado a essa flutuação de mercado, que também pode ser percebido pelos reflexos do setor calçadista, é o próprio seguro desemprego (quadro 14): Os pedidos de seguro subiram até 94 e depois tiveram uma pequena queda gradativa ano a ano, com uma variação para cima em 97. Esse elevado índice indica uma mobilidade maior do emprego:

Quadro 14 - SEGURO DESEMPREGO

ANO PEDIDOS %

1990 11.891 -

1991 15.567 + 30,92

1992 11.635 - 33,80

1993 17.588 + 51,17

1994 24.020 + 36,58

1995 23.533 - 2,07

1996 16.183 - 45,42

1997 19.581 + 21,00

1998 17.374 - 12,71

FONTE: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

No quadro 14, em relação ao pedido de Seguro-Desemprego, pode-se dizer que houve um aumento contínuo de 90 à 98, com uma elevação bastante expressiva em 93 e 94, exatamente no período que houve um acréscimo na produção de calçados, entrando em declínio em seguida, como já se verificou no quadro sobre comércio de exportação. Aqui percebe-se também um expressivo aumento de pedidos seguro-desemprego, em 92, 93 e 94, quando então a indústria estava trabalhando com o seu potencial máximo e, em seguida, o número de pedidos ainda continuou elevado, em razão das demissões provocadas pela queda de produção também nesse período.

Os reflexos dessa oscilação, percebe-se também no quadro seguinte, sobre Títulos Protestados, no período de 88 à 99, ou seja, uma diminuição de protestos sobretudo em relação as duplicatas, letras de câmbio e cheques:

(46)

ANO (1) (2) (3) (4)

1988 8.457 346 851 747

1989 6.243 79 613 511

1990 14.963 252 768 554

1991 22.788 139 1.455 1.215

1992 14.317 119 1.035 1.097

1993 10.615 33 1.053 1.044

1994 23.951 82 1.512 946

1995 16.381 115 2.588 3.270

1996 2.504 72 2.098 2.692

1997 1.827 49 1.464 2.073

1998 18.799 334 2.412 3.866

1999 14.580 26 1.534 2.063

FONTE: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

(1) Duplicatas (2) Letras de Câmbio (3) Notas Promissórias (4) Cheques

Nota-se no quadro 15, uma incidência menor de títulos protestados (duplicatas), em 92 e 93, período de pico da indústria calçadista. Enquanto que em 98, quando as indústrias estavam ainda em dificuldades, devido aos reflexos da economia nacional, houve um acréscimo em todos os títulos. Agora, nesse mesmo período de declínio da produção calçadista, o aumento cheques protestados foi expressivo.

Já com relação ao movimento aeroviário de transporte de passageiro, as oscilações têm características um pouco diferentes:

Quadro 16: MOVIMENTO AEROVIÁRIO

ANO PASSAGEIROS %

1990 8.930 -

1991 9.916 + 11,04

1992 6.767 - 46,53

1993 8.520 + 25,90

1994 7.183 - 18,61

1995 10.616 + 47,79

1996 11.736 + 10,55

1997 8.170 - 43,64

1998 11.204 +37,13

FONTE: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

(47)

certo nervosismo no vaivém, que pode-se identificar ou mesmo deduzir sobre uma possível busca de mercado, de vendas do seu produto.

Seguindo essa mesma linha de raciocínio, pode-se perceber também, na construção civil, o reflexo da flutuação do mercado no setor calçadista:

Quadro 17: CONSTRUÇÃO CIVIL

ANO (1) (2) (3) (4) (5)

1990 39.829 4.305 69.478 107.085 616.326 1991 24.372 4.806 77.829 125.514 453.394 1992 21.735 4.222 88.642 127.389 335.546 1993 22.040 3.983 91.882 141.680 400.455 1994 26.480 1.588 5.266* 133.261 322.470 1995 23.915 1.757 68.070¹ 105.862 411.213 1996 11.760 1.493 50.485 104.748 389.327 1997 9.773 3.186 58.329 127.834 306.996 1998 11.465 1.924 33.709 129.692 270.719 1999 10.909 2.214 15.171² 121.522³ 268.883 FONTE: Departamento de Pesquisas ACIF/FACEF

(1) Reformas e Ampliações (2) Edículas

(3) Moradias Econômicas (4) Área Residencial (5) Área Total Geral ___________

(*) Em 1994, foi quantificado apenas o mês de janeiro.

(1) Em 1995, não foram quantificados os meses de janeiro, fevereiro e março.

(2) Em 1999, não foram quantificados os meses de outubro, novembro e dezembro.

Nota-se no quadro 17, que o maior crescimento, na área de construção civil, foi no ano de 1990, com uma ligeira queda nos anos subseqüentes no total geral. Mas vale destacar que as reformas e ampliações tiveram um crescimento recorde em 90. As edículas em 91, as moradias econômicas em 90 até 93 e, na área residencial, também de 90 a 94, períodos estes em que a indústria de calçados já sinalizava um crescimento nas exportações, que alcançou o seu pico em 1993, como se constata no quadro 11.

A energia elétrica é outro setor que também pode-se perceber os reflexos das crises nas indústrias calçadista, veja quadro 18:

Quadro 18 - ENERGIA ELÉTRICA

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