NOTAS E COMUNICAÇÕES
BESOUROS DINASTÍNEOS (COLEOPTERA, SCARABAEIDAE,
DYNASTINAE) DE QUERARI, MUNICÍPIO DE SÃO GABRIEL DA
CACHOEIRA, ESTADO DO AMAZONAS, BRASIL.
Ricardo ANDREAZZE1
; Catarina da Silva MOTTA2
RESUMO - Besouros dinastíneos foram coletados em Querari, Município de São Gabriel da Cachoeira, região do alto rio Negro, Estado do Amazonas, de abril a maio de 1993. Utilizaram-se lâmpadas de luz mista de mercúrio de 250 W, BL e BLB, sobre um lençol branco, em 33 noites de coletas de 12 horas consecutivas. Foram coletados 76 indivíduos de 20 espécies e 10 gêneros. A tribo Cyclocephalini foi a mais representada (10 espécies), seguida por Phileurini (4 spp.), Oryctini (3 spp.), Dynastini (2 spp.) e Pentodontini (1sp.). Dessas, 7 espécies são registradas pela primeira vez para o Amazonas, 5 delas para o Brasil.
Palavras-chave: Coleoptera, Scarabaeidae, Dynastinae, Amazônia brasileira, Querari
Dynastinae Beetles (Coleoptera, Scarabaeidae, Dynastinae) from Querari, District of São Gabriel da Cachoeira, State of Amazonas, Brazil.
ABSTRACT - Dynastinae beetles were collected at Querari, District of São Gabriel da Cachoeira, upper rio Negro, State of Amazonas in April-May/1993. A mixed 250W mercury vapor lamp, a black light (BL) and black light blue (BLB) lamps were used to atract insects on a white sheet in 33 collecting night periods of 12 consecutive hours. 76 specimens were collected, of 20 species,
and 10 genera were identified. The tribe Cyclocephalini was the most representative (10 species), followed by Phileurini (4 spp.), Oryctini (3 spp.), Dynastini (2 spp.) and Pentodontini (1 sp.). 7 species were recorded for the first time to the State of Amazonas, 5 to Brazil.
Key-words: Coleoptera, Scarabaeidae, Dynastinae, Brazilian Amazon, Querari.
Os b e s o u r o s d i n a s t í n e o s
representam um grupo peculiar dentre
os S c a r a b a e i d a e que c h e g a m a
apresentar grande tamanho (alguns
a t i n g e m m a i s de 2 0 cm de
c o m p r i m e n t o ) e e s t r u t u r a s
diferenciadas na cabeça e protórax,
como os chifres, que os tornam um dos
g r u p o s m a i s e x ó t i c o s entre os
coleópteros (Endrõdi, 1985). São
comumente chamados de
besouro-escaravelho, b e s o u r o - r i n o c e r o n t e ,
besouro-de-chifre e em alguns locais
do B r a s i l são t e m i d o s pela s u a
aparência, barulho que fazem ao voar
e c r e n d i c e s que a t é a t r i b u e m
malefícios causados por estes insetos
(Lenko & Papavero, 1996).
Uma expedição ao rio Uaupés,
região do alto rio Negro, na localidade
de Querari, tornou-se um marco para
o conhecimento dos dinastíneos dessa
região da Amazônia brasileira. Querari
(01°05'N/69°51'W) é uma vila militar
na fronteira com a C o l ô m b i a ,
localizada à margem esquerda do rio
1
Departamento de Identificação e Delimitação (DEID), Fundação Nacional do Índio (FUNAI), SRTVS Qd. 702/902, Plano Piloto 70340-904, Brasília, DF. e-mail: ricardo@funai.gov.br
2
C o o r d e n a ç ã o de Pesquisas em Entomologia (CPEN), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), c.p. 478, 69011-970 Manaus, AM, Brasil. e-mail: motta@inpa.gov.br
Uaupés, pertencendo ao Município de
São Gabriel da Cachoeira, Estado do
A m a z o n a s . Essa área, c o n h e c i d a
estrategicamente como
"Cabeça-do-Cachorro", é predominante de floresta
primária com uma população na área
c o n s t i t u í d a p r i n c i p a l m e n t e por
militares do 2° Pelotão Especial de
Fronteira do Exército e índios Kubeo.
As coletas foram realizadas em
uma das residências da vila militar,
onde foi aberto em uma das paredes
externas, um lençol branco de 1,40 x
2,20m e sobre este, como fonte
atrativa, foram colocadas uma luz
mista de mercúrio de 250 W, uma
lâmpada BL (black-light) e uma BLB
(black light blue), as lâmpadas ficaram
em posição vertical. Este método já foi
utilizado em levantamentos anteriores
desses coleópteros, sendo ainda o mais
i n d i c a d o para a c a p t u r a dos
dinastíneos (Andreazze & Fonseca,
1998; Andreazze, 2001).
Foram realizadas coletas em 3 3
noites consecutivas em intervalos de
12 h o r a s s e g u i d a s (das 18:00 às
06:00h) no período de 06/04 a 22/05/
1993.
As identificações foram feitas
usando-se chaves específicas (Endrõdi,
1985 e Lachaume, 1985; 1992) e pela
análise de genitália dos machos. A
classificação dos Dynastinae segue a
nomenclatura de Lawrence & Newton
(1995). O material foi depositado na
Tabela 1. Espécies de dinastíneos coletados em Querari, Município de São Gabriel da Cachoeira, Estado do Amazonas de 06/04 a 22/05/93. M=machos; F=fêmeas; inds.=indivíduos; gen.=gênero; spp.=espécie. Localidades com asterísco * indicam novos registros.
T R I B O S ESPÉCIES D I S T R I B U I Ç Ã O G E O G R Á F I C A M F T O T A L C Y C L O C E P H A L I N I Cyclocephala guianae E n d r ü d i , 1 9 6 9 GUF, BR ( A M ) 4 7 11 58 i n d s . Cyclocephala lunulata B u r m e i s t e r , 1 8 4 7 E U A - A R G , B R * ( A M * ) 1 11 12 3 g e n . Cyclocephala simulatrix H o h n e , 1 9 2 3 A M C , T R I , P E R , B O L , P A R , B R * ( A M * ) 1 1 10 s p p . Cyclocephala sp.1 BR ( A M ) 5 6 11 Cyclocephala s p . 2 BR ( A M ) 3 5 8 Cyclocephala s p . 3 BR ( A M ) 4 4 HarposcelesparadoxusBurmeister, 1 8 4 7 G U F , E Q A , B R ( A M ) 4 4 Stenocrates mahunkai E n d r ü d i , 1 9 7 3 B O L , B R * ( A M * ) 1 1 Stenocrates omissus E n d r ü d i , 1 9 6 6 B O L , C O L , E Q A BR ( A M ) 3 2 5 Stenocrates rufipennis (Fabricius, 1801) G U I , G U F , C O L , E Q A , A R G , B R ( P A , A M * ) 1 1 P E N T O D O N T I N I Oxyligyrus zoilus (Olivier, 1789) G U F , C O L , B O L , B R ( A M , P A , S P ) 1 1 O R Y C T I N I Coelosis biloba (Linnaeus, 1767) A M C - A R G , BR ( A M ) 2 3 5 7 i n d s . Strategus aff. jugurtha Burmeister, 1847 A M C , V E M , C O L , E Q A , P E R , B R * ( A M * ) 1 1 3 g e n . / 3 s p p . Megaceras sp1 BR ( A M ) 1 1 D Y N A S T I N I Dynastes hercules (Linnaeus, 1758) A M C , BR 2 2 4 6 i n d s . / 2 g e n . / 2 s p p . Megasoma actaeon (Linnaeus, 1758) C O L , E Q A , B O L , G U I , V E N , B R ( A M ) 1 1 2 P H I L E U R I N I Homophileurus quadrituberculatus ( B e a u v o i s , 1 8 0 6 ) A M C - B R ( A M * ) 1 1 4 i n d s . Homophileurus waldenfelsi E n d r ü d i , 1 9 7 8 C O L , B R * ( A M * ) 1 1 1 g e n . / 4 s p p . Homophileurus sp1
Homophileurus s p 2
BR ( A M ) BR ( A M )
1 1
1 1
I N D I V Í D U O S 31 4 5 76
E S P É C I E S 20
A M C = A m é r i c a Central; ARG=Argentina; BOL=Bolivia; BR=Brasil; COL=Colombia; EQA=Equador; EUA=Estados Unidos da América; G U F = G u i a n a Francesa; GUI=Guiana; PAR=Paraguai; PER=Peru; SUR=Suriname; TRI=Tri-nidad; VEN=Venezuela.
Coleção Entomológica do INPA.
F o r a m c o l e c i o n a d o s 76
e x e m p l a r e s de 20 e s p é c i e s e 10
gêneros, em 33 noites, 396 horas de
coletas (Tab.1). A tribo Cyclocephalini
foi a mais representativa com 10
espécies distribuidas em 3 gêneros (58
indivíduos, 2 2 % / 3 6 ? ) , seguida por
Phileurini com 4 espécies em 1 gênero
apenas (4 inds., 1%/3&), Oryctini com
3 espécies e 3 gêneros (7 inds., 3%/4&),
Dynastini com 2 espécies e 2 gêneros (6
inds., 3%/3?) e Pentodontini com 1
única espécie (1 ?).
Do total, estão sendo registradas
pela primeira vez, para o Estado do
Amazonas 7 espécies e dentre elas, 5
e s p é c i e s são n o v o s r e g i s t r o s
para o B r a s i l ( a s s s i n a l a d a s por
a s t e r í s c o ) : Cyclocephala
lunu-lata*, Cyclocephala simulatrix*,
Stenocrates mahunkai*, Stenocrates
rufipennis, Strategus aff. jugurtha*,
Homophileurus quadrituberculatus e
Homophileurus waldenfelsi*..
O número de espécies capturadas
e de registros novos em relação ao
n ú m e r o de noites de coleta desta
expedição, mostram o quão importante
são os levantamentos de coleópteros
dinastíneos em áreas da Amazônia de
difícil acesso e ainda pouco alteradas.
Agradecimentos
Ao C o m a n d o M i l i t a r da
Amazônia, Exércio Brasileiro, pelo
a p o i o l o g í s t i c o e a s s i s t ê n c i a aos
trabalhos de campo no 2
oPelotão Es¬
pecial de Fronteira - Querari. Ao Sr.
Roberto Stieger Leite (INPA) e ao
T e n e n t e C o r o n e l Aviador Otelo
Guimarães (Força Aérea Brasileira),
pela orientação e colaboração para a
realização desta expedição.
Bibliografia citada
Andreazze, R. 2001. Dinastíneos (Coleoptera, S c a r a b a e i d a e , Dynastinae) do Parque Nacional do Jaú, Amazonas, Brasil. Acta Amazonica, Manaus (no prelo).
A n d r e a z z e , R.; F o n s e c a , C.R.V. 1 9 9 8 . Dinastíneos (Coleoptera, Scarabaeoidea, Melolonthidae) em uma área de terra firme na A m a z ô n i a C e n t r a l , B r a s i l . Acta Amazonica 28(1): 59-66.
Endrõdi, S. 1985. The Dynastinae of the world. Dr. W. Junk Publishers, Budapest, Hun¬ gary, 800p. 56 plates.
Lenko, K.; P a p a v e r o , N . 1996. Insetos no
Folclore. 2a
. ed. São P a u l o , P l ê i a d e / FAPESP, 468p.
L a c h a u m e , G. 1 9 8 5 . Les Coléoptères du Monde. The Beetles of the World. Vol. 5 Dynastini 1 (premiere partie). Sciences Nat. Venette. France 85 p., 29 pls.
L a c h a u m e , G. 1 9 9 2 . Les Coléoptères du Monde. The Beetles of the World. Vol.14 Dynastidae a m é r i c a i n s . Sciences Nat. Venette. France 89 p., 13 pls.
Lawrence, J.F.; Newton Jr., A.F. 1995. Fami-lies and subfamiFami-lies of Coleoptera (with elected genera, notes, references and data on family-group names). :779-1006. In: Pakaluk, J.; Slipinski, S.A. (eds.): Biology, Phylogeny, and Classification of Co-leoptera: Papers Celebrating the 80th Birthday of Roy A. Crowson. Museum i Instytut Zoologii PAN, Warszawa.
Aceito para publicação em 19/08/2002