CRESCIMENTO E FENOLOGIA DE ARAÇÁ-PERA
( P S I D I U M A C U T A N G U L U MDC) .
Martha de Aguiar Falcão (1)
Sidney Alberto do Ν. Ferreira (2)
Charles Roland Clement (2)
Tereza Cristina Τ. dos Santos (3)
Rosana de Medeiros Souza (3)
R E S U M O
0
araçá-pera
(Psidium acutangulum D
C) é uma
frutífera
encontrada em forma
silvestre
ou
cultivada na Amazônia. Seus f r u t o s ,
em geral, ácidos, normalmente
são
consumidos na
forma de refresco.
Neste trabalho, são
apresentados e discutidos dados referentes ao
desenvolvimento e fenologia dessa espécie. Para tanto, foram
utilizadas
sete plantas, escolhidas
ao acaso,
que
não haviam sido adubadas e outras sete que receberam 25, 5 0 e 6 0
kg/ha
de
N, Ρ
20
5e
K
20 ,respectivamente. Observou-se que após três anos de estabelecimento da planta
no campo, a mesma
diminui
sua taxa de crescimento, tendo
a
adubação exercido grande
influência no
seu desenvolvimento.
A
floração ocorreu praticamente durante o ano todo, com
menores
emissões florais nos meses de janeiro, fevereiro e
março.
A
frutificação
concentrou-se no concentrou-segundo concentrou-semestre de
cada ano, com maiores produções nos meses de
outubro,
novembro
e dezembro. Os parâmetros
vegetativos, a fl
oração e frutificação foram favorecidas pela adubação
das plantas.
A s abelhas
foram os insetos mais freqüentes durante a floração.
I N T R O D U Ç Ã O
0 a r a ç á - p e r a , também conhecido como araçá-goiaba e araçá-do-Pará, é una e s p é c i e da f a m í l i a Myrtaceae, cujo c e n t r o de origem ainda não f o i determinado, embora s e j a tipicamente Amazônica. Segundo McVaugh ( 1 9 6 9 ) , é difundida no norte da América do S u l , tendo s i d o observada nas Guianas, A l t o Orinoco e Baixo Amazonas. Nestas r e g i õ e s , o araçá-pera ê encontrado c u l t i v a d o ou na forma s i l v e s t r e e neste caso os f r u t o s são de tamanhos bastante reduzidos ( C a v a l c a n t e , 1 9 7 6 ) .
Algumas v e z e s , a e s p é c i e araçá-pera f o i denominada Britoa acida Berg. (Zayas, 1968; Fouque, 1972). Outras v e z e s , Britoa acida f o i dada como sinônimo de Psldiun acutangulue (McVaugh, 1969-, Cavalcante, 1976; Calzada Benza, 1980). Correa (1926) considerou Psidiun acutangulun e Britoa acida como e s p é c i e s d i s t i n t a s . Segundo McVaugh (comunicação p e s s o a l ) , p e l o f a t o de Britoa acida Berg, t e r s i d o uma denominação p o s t e r i o r a de De C a n d o l l e , o c o r r e t o é o uso de Psidiun acutangulura D.C.
1
Fundação Universidade do Amazonas - FUA, Manaus (AM). 2
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus - AM. 3
Bolsista CNPq/FUA.
A planta de araçá-pera é uma pequena árvore de aproximadamente 8 metros de a l t u r a , com os râmulos quadrangulares cora a r e s t a s a l a d a s . As folhas são e l í p t i c a s , de a t é 14 cm de comprimento por 4 a 6 cm de largura, base arredondada ou subcurvada e ápice pontiagudo. A
i n f l o r e s c ê n c i a é a x i l a r , cora 1 a 3 f l o r e s l o n g i p e c i o l a d a s . 0 fruto é uma baga g l o b o s a , peri forme ou e l i p s ó i d e de 6 a 8 cm de diâmetro, chegando a pesar 240 g (Figura 1 ) . As sementes são em número variado e de tamanho uniforme, com mais ou menos 7 mm, obtusamente t r i a n g u l a r e s . Quando maduros, os frutos são amarelos de polpa esbranquiçada, de sabor bastante a g r a d á v e l , embora ácido (McVaugh, 1958; Cacalcante, 1976).
Dada a sua a c i d e z , normalmente os frutos são consumidos na forma de r e f r e s c o , s o r v e t e , doces, g e l é i a e creme. Dentro da v a r i a ç ã o genética da e s p é c i e , existem alguns frutos com menor acidez que podem ser consumidos in natura.
A m u l t i p l i c a ç ã o do araçá-pera ê f e i t a , em g e r a l , por meio de sementes, não e x i s t i n d o informações sobre outras formas de propagação. Em média, a germinação i n i c i a - s e aos 30 dias após a semeadura até 100 dias com aproximadamente 84% de emergência ( F e r r e i r a , 1982).
Este trabalho tem por o b j e t i v o apresentar alguns dados r e f e r e n t e s ao desenvolvimento e f e n o l o g i a de plantas de araçá-pera, não adubadas e adubadas.
MATERIAL E M É T O D O S
Este experimento f o i r e a l i z a d o dentro de um ensaio de adubação de araçá-pera ( A l f a i a & F e r r e i r a , 1988 a e b ) , situado na Estação Exprimental de F r u t i c u l t u r a T r o p i c a l do INPA, no km 40 da BR 174, era Manaus-AM. 0 clima é c l a s s i f i c a d o com ' ' A f i ' *, no sistema de Kõppen, cora médias anuais de 2478 mm de chuva e 25,6° de temperatura ( R i b e i r o , 1976). 0 s o l o nas proximidades do experimento f o i c l a s s i f i c a d o como P o d z ó l i c o Vermelho Amarelo, de textura a r g i l o s a , com r e l e v o suave ondulado e vegetação o r i g i n a l de f l o r e s t a t r o p i c a l úmida (Ranzani, 1980).
No ensaio de adubação, instalado era a b r i l de 1980 cora espaçamento de 6 χ 6 ni, foram e s c o l h i d a s , ao acaso, s e t e plantas de parcelas que não foram adubadas e outras s e t e de parcelas que receberam anualmente 25, 50 e 60 kg/ha de N, P205 e KjO, respectivamente.
0 desenvolvimento das plantas f o i a v a l i a d o através de medições da a l t u r a da p l a n t a , altura do tronco ( d i s t â n c i a e n t r e o c o l o e a inserção do primeiro g a l h o ) , diâmetro da copa e diâmetro do c o l o , era i n t e r v a l o s de quatro meses, desde a b r i l de 1980 a a b r i l de 1985. Para cada período de 12 meses de observação dos d i f e r e n t e s f a t o r e s , f o i calculada a Taxa de Crescimento r e l a t i v o , de acordo com Radford ( 1 9 6 7 ) .
As observações f e n o l ó g i c a s foram efetuadas semanalmente, durante d o i s anos, desde a b r i l de 1983 a março de 1985. Em cada planta, foram e s c o l h i d o s , ao acaso, t r ê s galhos onde se avaliaram a f l o r a ç ã o e f r u t i f i c a ç ã o , estímando-se o t o t a l de f l o r e s e f r u t o s , a t r a v é s de regra de t r ê s simples. Foram observados e capturados os i n s e t o s que visitavam as f l o r e s , para p o s t e r i o r i d e n t i f i c a ç ã o e para r e t i r a r os pólens de suas patas, a fim de serem f e i t a s comparações com os das f l o r e s . 0 método usado na preparação do p ó l e n , em ambos os c a s o s , f o i o da a c e t ó l i s e (Erdtman, 1960), seguido da montagem dos grãos em g e l a t i n a g l i c e r i n a d a .
RESULTADOS E D I S C U S S Ã O
plantas de a r a ç á - p e r a , na qual se v e r i f i c a que a adubação favoreceu a ura maior crescimento das p l a n t a s , durante os c i n c o anos de estabelecimento da cultura no campo, confirmando os dados de A l f a i a & F e r r e i r a ( 1 9 8 8 a ) .
Através das Taxas de Crescimento R e l a t i v o s (Quadro I ) , nota-se que durante os dois primeiros anos, da cultura no campo, registraram-se os mais a l t o s incrementos no desenvolvimento v e g e t a t i v o das plantas de araçã-pera. Do t e r c e i r o ao quinto ano, observa-se que a cultura apresentou uma tendência de diminuição progressiva nas taxas de crescimento, indicando a proximidade de e s t a b i l i z a ç ã o do seu desenvolvimento. Levando-se em conta o e f e i t o da adubação, v e r i f i c a - s e que as plantas adubadas apresentaram maiores taxas de crescimentos no primeiro ano de campo, enquanto as plantas não adubadas apresentaram índices mais elevados no segundo ano.
O 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 τ -» 1
4 β 12 4 8 1 2 4 8 12 4 8 12 4 8 12 4 MESES DO ANO ( 1 9 8 0 - 1 9 8 5 )
Fig. 2. Dados médios do desenvolvimento de plantas de araçá-pera (Psidium acutangulum DC), não adubadas ( ) e adubadas (+).
chuva, f a t o e s t e também observado era uraari ( F a l c ã o & L l e r a s , 1980a), mapati ( F a l c ã o & L l e r a s , 1980b), pajurá ( F a l c ã o & L l e r a s , 1981), g r a v i o l a ( F a l c ã o et a i . , 1982), cupuaçu ( F a l c ã o & L l e r a s , 1983), araçá-boi ( F a l c ã o et a i . , 1988) e carau-carau ( F a l c ã o et a l . , 1989). Quanto à f r u t i f i c a ç ã o , a mesma se concentrou no segundo semestre de cada ano, cora ura maior número de f r u t o s produzidos no f i n a l do p e r í o d o s e c o , i n í c i o da estação chuvosa, e n t r e os raeses de outubro a dezembro.
Quadro I. Taxas de Crescimentos Relativos (cm/cm.ano) da altura total, diâmetro da copa, altura do tronco e diâmetro do colo de plantas de araçá-pera, não adubadas e adubadas. (*)
Ano* após planto
ι (igei) 2(1962) 3(1983) 4(1964) 5(1985)
A * * » pianta
nio adubada 0.52 0.81 0.47 0.21 0.09
.adubada 1,10 0.64 0.37 0,19 0,08
Diametro copa
.não adubada 0,26 1,04 0,60 0.17 0,15
adubada 0,75 0.92 0.19 0.32 0,06
Atara tronco
. n i o adubada 0.21 1.10 0.62 0.11 0.39
.adubada 1,01 1.00 0.86 0.17 0.12
D&netocoio
. nSo adubada 0.70 0.95 0.62 0.21 0,20
. adubada 1.14 0.90 0,46 0,22 0.15
* Para a «erto da calculo, am cada TCR lo) cooeWerado o período desde abril do ano anterior ale abril do ano acima dtado.
No Quadro I I , observa-se urna grande v a r i a ç ã o nos números absolutos de f l o r e s e f r u t o s e porcentagem de vingamento e n t r e as plantas estudadas, t a n t o naquelas que não foram adubadas quanto nas que receberam f e r t i l i z a n t e s . A c r e d i t a - s e que esta v a r i a ç ã o e s t e j a relacionada cora a v a r i a ç ã o g e n é t i c a e x i s t e n t e e n t r e as p l a n t a s , uma vez que todas as arvores foram provenientes de sementes de f r u t o s de p o l i n i z a ç ã o a b e r t a , c o l h i d o s ao a c a s o . Ainda no Quadro I I , bera como na Figura 3, foram marcantes os aumentos no número de f l o r e s e f r u t o s nas plantas adubadas. Em termos g e r a i s , houve um incremento de 426', f l o r e s e 341% de f r u t o s . A l f a i a & F e r r e i r a (1988b), u t i l i z a n d o ura maior número de plantas para compor a média, obtiveram um incremento na produção de frutos da ordem de 588%. Vale r e s s a l t a r que era n í v e i s mais elevados de f ó s f o r o (75 kg de P205/ h a ) e p o t á s s i o (75 kg de KjO/ha) os incrementos no desenvolvimento v e g e t a t i v o e na produção de frutos de araçá-pera podem ser ainda maiores ( A l f a i a & F e r r e i r a , 1988 a e b ) .
Além da f l o r a ç ã o e f r u t i f i c a ç ã o , foram f e i t a s observações quanto à mudança f o l i a r . Era g e r a l , esta ocorreu de modo l e n t o , no fira da f r u t i f i c a ç ã o , sendo que após o surgimento das f o l h a s novas i n i c i a v a - s e a f l o r a ç ã o . I s t o também aconteceu com outras e s p é c i e s estudadas por ( F a l c ã o et a l . (1988, 1989).
b o n b l f o r n l s ; Heiipona p s e u d l c e n t r i s ; Apls meli 1 f e r a ; Melipona l a t e r a l i s ; Eulaema (Apleulaema) mocsaru; Negai opta s p . ; e P t i t o t r i g o n a l u r i d a . Em menor número, foram encontradas outras abelhas: Polybla c f . d i a i d i a t a , Polybinae e Partamona s p . . Observaram-se também bastante formigas, que foram i d e n t i f i c a d a s como Crematogaster sp. e Ectatonna quadrìdeus. A maioria das abelhas encontradas em araçã-pera foram também encontradas em araçá-boi ( F a l c ã o e t a l . ,
O 1 ι ι ι 1— ι 1 — ι r —ι— « — ι — ι — ι — r — ι — ι 1— ι — ι — τ — ι — ι
A Μ <J J A S O N D J F M A M Ü J A S O N D J F M
1 9 8 3 1 9 8 4 1 9 8 5
Quadro 11. Floração, frutificação e vinga men to* de frutos de plantas araçá-pera, não adubadas e adubadas, por período
de doze meses.
Ptenta 1 9 6 3 / 1 9 8 4 1 9 8 4 / 1 9 8 5
Flores Frutos Vingamento Flores Frutos Vingamento
NSo adubada
1 144 92 64 648 56 9
2 454 46 10 1887 702 37
3 2355 570 24 1785 465 26
4 146 26 18 1076 40 4
5 97 0 0 987 99 10
6 1087 98 9 2199 326 15
7 32 0 0 136 8 6
Média 616 119 18 1245 242 15
C . V . { % ) 138 171 124 60 109 79
Adubada
1 2700 114 4 3576 744 21
2 4037 286 7 1078 583 54
3 8003 153 2 18982 4171 22
4 6625 1785 27 5067 840 17
5 915 150 16 2265 300 13
β 4443 537 12 6324 599 9
7 1479 206 14 2993 672 22
Média 4029 462 12 5755 1130 23
C . V . ( % ) 65 130 73 106 120 65
* 100 χ (no frutos / n© de flores)
1988) e carau-camu ( F a l c ã o e t a l . , 1 9 8 9 ) , todos da f a m í l i a Myrtaceae, levando a supor que e s t e f a t o s e j a d e v i d o as e s p é c i e s s e encontrarem na mesma área. Quanto à preparação das lâminas com o pólen r e t i r a d o das patas das abelhas, notou-se que tanto a Apis « e l i i f e r a , Eulaema
(Apleulaema) aocsura, Melipona l a t e r a l i s e Melipona pseudocentris possuíam maior número de grãos de põlen de araçá-pera por lâmina. As outras abelhas apresentaram poucos grãos de pôlen de a r a ç á - p e r a . Quanto â suposição de serem auto-fecundadas, 100 botões f l o r a i s foram
r e v e s t i d o s com saquinhos de morim, constatou-se que não houve fecundação.
C O N C L U S Õ E S
As plantas de araçá-pera florescera durante praticamente todo o ano, sendo que a produção de f r u t o s concentra-se nos meses de outubro a dezembro. A adubação exerceu grande i n f l u ê n c i a , tanto para o s parâmetros v e g e t a t i v o s quanto para a f l o r a ç ã o e f r u t i f i c a ç ã o das p l a n t a s . A maior freqüência de abelhas durante a f l o r a ç ã o sugere que e s t e s i n s e t o s são de grande
SUMMARY
The araçá-pera (Feìdium acutanquìum D.C.) is a wild or cultivated fruit species of
Amazonia. I t s f r u i t s are acid but flavorful, normally consumed a s a juice. This paper discusses
i t s development and phenology, using 7 randomly chosen plante that received no fertilizer and
7 t h a t received 2 5 kg/ha N, 5 0 kg/ha P205 a n d 5 0 kg/ha K20 , on a medium texture, yellow
oxisol, 6 0 km n o r t h of Manaus, 3raz\\. Growth r a t e s slowed a f t e r 3 years in t h e field in both
treatments, although t h e fertilized plants were much larger. Flowering occurs year round, with
least emission from January to march. Fruiting is concentrated from octuber t o december.
fertilization increased flowering and fruiting. Bees are t h e m o s t frequent insect visitors on
t h e flowers
A G R A D E C I M E N T O S
Os autores agradecera as v a l i o s a s c o n t r i b u i ç õ e s do Dr. Francisco J. A g u i l l e r a P e r a i t a ( I N P A ) , Dr. Jesus S. Moure ( U n i v . Fed. da B a h i a ) , Dr. Walwick E. Kerr ( U n i v . Fed. de Uberlândia) e Dr. João Camargo ( F a c . Medicina de R i b e i r ã o P r e t o ) p e l a s I d e n t i f i c a ç õ e s dos i n s e t o s . A Dra. Marlene F. da S i l v a p e l a s sugestões apresentadas e ao S r . Daraião Leocádio pela ajuda nos trabalhos de campo.
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