• Nenhum resultado encontrado

Prazer e sofrimento do enfermeiro na relação com o trabalho: estudo em um hospital de urgência e emergência de Belo Horizonte

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Prazer e sofrimento do enfermeiro na relação com o trabalho: estudo em um hospital de urgência e emergência de Belo Horizonte"

Copied!
190
0
0

Texto

(1)

E

SCOLA DE

E

NFERMAGEM

P

ROGRAMA DE

P

ÓS

-G

RADUAÇÃO EM

E

NFERMAGEM

PRAZER E SOFRIMENTO DO ENFERMEIRO NA RELAÇÃO

COM O TRABALHO

ESTUDO EM UM HOSPITAL DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DE BELO HORIZONTE

SOLANGE CERVINHO BICALHO GODOY

(2)

PRAZER E SOFRIMENTO DO ENFERMEIRO NA RELAÇÃO

COM O TRABALHO

ESTUDO EM UM HOSPITAL DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DE BELO HORIZONTE

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Orientadora: Profª Drª Marília Alves

Belo Horizonte Escola de Enfermagem

(3)

' ( ) ) ' * +,,

-. * / 0 1

2 * 3 4

5 6 # 7* 8 9 / 4

4

- . : 3 + ' 4 & ;

4 : < 5 ! 4 = > : 1 & ?

1 / 0 ?? 8 9 / 4

4 ??? 50 #

(4)

A minha mãe, Lená, e a Daniel, Daniela e Isabela,

por todo carinho e paciência com que souberam

(5)

Na trajetória de elaboração de uma tese, o sofrimento e o prazer são algo

necessário para o nosso fortalecimento. Houve momentos em que o sofrimento foi mais

intenso, emergiam sentimentos de tristeza e insegurança, sendo necessária uma

introspecção e reflexão. Em outros momentos, manifestavam-se prazer e satisfação, tal

como encontramos no processo de trabalho dos sujeitos que participaram do estudo.

A construção de uma tese gera desgaste, mas, ao inter-relacionar-me

com os trabalhadores da enfermagem que atuavam na unidade pesquisada, pude

perceber que mesmo diante do sofrimento estes encontravam um suporte para

enfrentar o seu dia a dia no trabalho. Este processo refletiu sobre o meu

amadurecimento na pesquisa, o que permitiu que este meu caminhar fosse mais

tranquilo. Assim, agradeço aos enfermeiros que participaram desta pesquisa.

Acreditando na proposta deste estudo, facilitaram o meu processo de aproximação

com o campo, a fim de tornar possível a sua realização.

Aos trabalhadores de enfermagem da unidade de urgência e emergência,

cuja força na luta pela vida me ensinou a superar as dificuldades que a existência

nos impõe. Com os relatos de suas vivencias aprendi a respeitar e valorizar ainda

mais esta profissão.

À equipe da direção do Hospital estudado, que tão bem me acolheu, para

a pesquisa. Obrigado.

À Marília Alves, minha orientadora, pela convivência e amizade,

acompanhando o meu processo de formação, desde o mestrado e me dando

condições para tornar este trabalho uma tese. Obrigada por acreditar nas minhas

potencialidades, e pelas importantes contribuições neste trabalho.

À Marília Rezende pela amizade e companheirismo, compartilhando

momentos delicados deste trabalho, com palavras de conforto, quando precisei e às

vezes oferecendo sua atenção, ouvindo as minhas angústias, medos e vitórias.

Às amigas, Carla Spagnol, Eliane Palhares, Maria Édila Freitas, Mércia

(6)

bibliografias.

Aos Professores, Ana Kirchhof, Claúdia Penna e Daclé Carvalho, pela

leitura cuidadosa do trabalho no Exame de Qualificação e por suas valiosas

contribuições.

Aos Professores, Fernando Coutinho, Luciana Colveiro, Zélia Kilimnik e

Claúdia Penna que se dispuseram a participar da banca examinadora deste estudo.

Aos colegas do Doutorado e membros do Núcleo de Pesquisa em

Administração em Enfermagem da EEUFMG, que compartilharam algum momento

deste processo.

Aos professores da Pós-Graduação da EEUFMG, pelo respeito e

oportunidade de ampliação de conhecimentos.

Aos professores do Departamento de Enfermagem Básica da EEUFMG,

que com todas as dificuldades encontradas, acreditam na formação como uma

estratégia de construção de uma enfermagem mais crítica e reflexiva, oportunizando

a minha liberação para formação.

Um agradecimento especial ao meu pai, Prof.º Luiz Bicalho(in memoriam)

e à minha mãe, Prof.ª Lená Assis, pelo amor, incentivo e apoio incondicional para

que eu pudesse chegar até aqui. Amo vocês! Pai, muita saudade!

Aos meus amores, Daniel, Daniela e Isabela, pessoas especiais e razão

para que eu conseguisse realizar este sonho. Só tenho a agradecer por vocês

existirem em minha vida!

Às amigas Yara Ávila e Eliane Mansur, minhas irmãs de coração, por me

ouvirem nos momentos de incertezas e alegria, por me ajudarem na busca de

caminhos e por estarem comigo nesta caminhada.

Ao Marcus Bicalho e todos aqueles que, direta ou indiretamente,

contribuíram para a construção deste estudo.

Se, de alguma forma, não mencionei ou deixei de lembrar algum nome,

meu pedido de perdão. Sei que todos são importantíssimos. Meu apreço e meu

(7)

Toda riqueza provém do trabalho, asseguram os

economistas. E assim o é na realidade: a natureza

proporciona os materiais que o trabalho transforma

em riqueza. Mas o trabalho é muito mais do que isso:

é o fundamento da vida humana. Podemos até afirmar

que, sob determinado aspecto, o trabalho criou o

próprio homem.

(8)

Este estudo tem por objetivo analisar as manifestações de prazer e de sofrimento do

enfermeiro em relação à organização do trabalho em uma Unidade de Urgência e

Emergência de um hospital referência na área, da rede pública de Belo Horizonte –

MG. Abordar as relações de prazer e de sofrimento do enfermeiro no atendimento

de Urgência e Emergência e sua relação com a organização do trabalho em uma

Unidade de Urgência e Emergência de um hospital terciário implica explicitar fatos e

ações do cotidiano que exigem reflexão e criação, sobretudo pela diversidade de

ações desenvolvidas. Trata-se de um estudo qualitativo, fundamentado no

referencial teórico e metodológico do materialismo histórico dialético. Essa

abordagem permitiu maior aprofundamento do objeto de estudo, focalizando os

trabalhadores no contexto, a visão do fenômeno em sua totalidade e, ainda, a

contradição existente. O cenário foi a Unidade de Urgência e Emergência de um

hospital de grande porte da rede pública de Belo Horizonte. A amostra compreendeu

21 enfermeiros que atuam na Unidade de Urgência e Emergência, cuja escolha

obedeceu aos critérios de aleatoriedade e acessibilidade. Os dados coletados por

meio de entrevistas semi estruturadas e observação foram submetidos à análise de

discurso. A sistematização das informações obtidas possibilitou identificar e analisar

a forma como o trabalho da enfermagem está organizado e como essa organização

gera prazer e/ou sofrimento no enfermeiro. Os resultados foram organizados nas

seguintes categorias empíricas: organização do trabalho na Unidade de Urgência e

Emergência; relações de prazer e sofrimento do enfermeiro com o trabalho na

Urgência; relações de poder no contexto do hospital e estratégias coletivas de

defesa do enfermeiro. Dos resultados emergiram importantes questões relativas às

características do trabalho na Unidade de Urgência que se revelam como uma

condição adversa para o trabalhador, pois os cuidados àqueles que estão em estado

crítico os expõem a condições inadequadas de trabalho que podem contribuir para

um desgaste. A organização do trabalho atual permite a exploração dos

trabalhadores na Unidade de Urgência e Emergência mediante a intensificação do

trabalho, sobrecarregando cada trabalhador, o que reduz os tempos mortos e

(9)

diminuição da capacidade de organização dos trabalhadores em decorrência dos

diferentes contratos de trabalho. O enfermeiro da Unidade de Urgência e

Emergência está exposto a fatores que podem contribuir para o surgimento de

prazer e/ou sofrimento no trabalho. O prazer apresenta-se relacionado com o fato de

se sentir útil, ser reconhecido socialmente e ter a percepção do significado daquele

trabalho que é realizado do principio ao fim, o que traz um sentido positivo ao seu

trabalho. O sofrimento envolve questões organizacionais no que diz respeito ao

desgaste no ambiente hospitalar para o profissional da enfermagem, mediante a

sobrecarga de trabalho, quantitativa e qualitativa; falta de comunicação entre

colegas e convivência constante com o sofrimento, a morte e os conflitos gerenciais,

envolvendo questões relacionadas à autoridade e à falta de autonomia. Na dinâmica

da Unidade de Urgência e Emergência a relação do enfermeiro com o trabalho é

permeada por questões organizacionais, principalmente aquelas específicas do

serviço público de saúde, cuja morosidade nas decisões não combina com a

agilidade da urgência. Assim, a relação de sofrimento do enfermeiro está

relacionada principalmente às condições de trabalho e a de prazer com a finalidade

de suas ações no contexto da urgência. Neste cenário contraditório, o sentido do

trabalho atua como elemento fundamental para a capacidade de manter o equilíbrio

e de não adoecer diante das exigências do trabalho.

(10)

The purpose of this analysis is to explore the expressions of pleasure and suffering in

nurses relationship work organization and who work in urgency and emergency units

of a key hospital from the public health services provided in Belo Horizonte – MG.

Attending to this subject means, as well, considering everyday actions and facts

related to nursing that require reflection and creativity, mostly in view of the huge

diversity of activities developed. This is a qualitative study based on the theory and

methodology of historical and dialectical materialism. This approach allowed greater

depth of the object of study by focusing on workers in the context and providing the

vision of the phenomenon in its entirety and also its contradictions. The setting of this

study was the office of emergency and urgency of a large public hospital in Belo

Horizonte and the sample taken to this analysis comprised 21 nurses working in that

department chosen randomly. The systematization of the information obtained from

interviews and observations made it possible to identify and analyze the way nursing

is organized and how this organization generates pleasure and/or pain in nurses. The

analysis of these questions was anchored in empirical categories constructed in this

work, that is emotional expressions arising from nurses and the defensive

mechanisms employed by them while working in an emergency unit. These empirical

categories concern: work organization in a hospital, relations of pleasure and pain of

nurses that work in an emergency unit, power relations within a hospital and

collective defensive strategies of nurses. Important issues emerged from the results,

which emphasizes the main contradictions within these questions. A feature of the

service in the emergency unit reveals itself as an adverse condition to the employee,

once the care that must be dedicated to those who are in critical conditions exposes

nurses to inappropriate working conditions that may contribute to generate frictions

with the organization of work. The current organization of work allows the exploitation

of employees in the emergency unit through the intensification of work, which

overloads each worker, reduces downtimes and increases the aggregation of tasks

and the lack of equivalence in payment according to nurses’ skills, capabilities and

specializations due to multiple working contracts. The sense of pleasure in work has

(11)

other hand involves organizational questions concerning the degradation of the

hospital environment due to the overload of the professional nurse, the lack of

communication between working colleagues, the constant process of dealing with

death issues and pain and also the management of conflicts involving authority and

lack of autonomy. Within the relationship between the nurse and work in the

emergency unit the dynamics of work may be damaging due to its organizational

conflicts and the morosity of the public health services. This context produces

relevant impacts in the public system of health, but also allows the sense of work to

be a fundamental aspect in the process of maintaining personal balance in face of

such working exigencies.

Key words: Work. Hospital emergency service. Job satisfaction. Pschological stress.

(12)
(13)

CCQ Círculos de Controle de Qualidade

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

COEP/UFMG Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais

DAPML Departamento de Assistência Policial e Medicina Legal

DPSML Departamento de Pronto Socorro e Medicina Legal

FEAL Fundações Estaduais de Assistência Hanseníase

FEAP Fundações Estaduais de Assistência Psquiatria

FEMUR Fundações Estaduais de Assistência Urgência

FHEMIG Fundação dos Hospitais do Estado de Minas Gerais

GT Grupos de Trabalho

GSA Grupos Semi-Autônomos

REFORSUS Reforço à Reorganização do Sistema Único de Saúde

SAMU Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

SAST Serviço de Atenção à Saúde do Trabalhador

SES Secretaria de Estado de Saúde

SEC Setor de Emergência Clínica

SAN Setor de Apoio ao Neurotrauma

SAME Serviço de Arquivo Médico

SIGH Sistema de Gestão Hospitalar

SAV Setor de Suporte Avançado de Vida

SUS Sistema Único de Saúde

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a

Ciência e a Cultura

UBS Unidades Básicas de Saúde

(14)

1 INTRODUÇÃO ...13

2 OBJETIVOS ...25

2.1 Objetivo geral ...25

2.2 Objetivos específicos ...25

3 REFERENCIAL TEÓRICO ...26

3.1 Organização do trabalho ...26

3.2 Entre o sofrimento e o prazer no trabalho...40

3.3 Organização da Urgência e Emergência em Belo Horizonte...61

4 METODOLOGIA ...72

4.1 Abordagem teórico-metodológica...72

4.2 Caminho metodológico ...79

4.3 Cenário do estudo - Unidade de Urgência e Emergência ... 80

4.4 Sujeitos da pesquisa...83

4.5 Inserção do pesquisador no cenário de pesquisa...85

4.6 Estratégia de investigação ...86

4.6.1 Observação ... 86

4.6.2 Entrevista... 88

4.7 ANÁLISE DOS DADOS...93

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ...97

5.1 Organização do trabalho na Unidade de Urgência e Emergência ...105

5.2 Relações de prazer e sofrimento do enfermeiro com o trabalho na Urgência ...118

5.3 Relações de poder no contexto do hospital...139

5.4 Estratégias coletivas de defesa dos enfermeiros...150

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...158

REFERÊNCIAS...163

APÊNDICE A – Termo de consentimento livre esclarecido...182

APÊNDICE B – Roteiro para anotações de campo na observação...183

APÊNDICE C – Instrumento para coleta de dados ...184

ANEXO A – Termo de autorização do COEP-UFMG para realização da pesquisa ...186

ANEXO B – Termo de autorização do COEP-hospital para realização da pesquisa...187

(15)

1 INTRODUÇÃO

Ao incorporar as atividades como enfermeira em uma instituição

hospitalar, atuando em um Grupo de Readaptação Profissional de um Serviço de

Atenção à Saúde do Trabalhador (SAST), observei que muitos trabalhadores da

equipe de enfermagem retornavam ao SAST com queixas de saúde que, muitas

vezes, estavam relacionadas ao ambiente de trabalho. Grande parte desses

trabalhadores envolvidos no processo de reintegração ao trabalho manifestava, na

consulta de enfermagem, desconforto após um período de licença-saúde, pelo fato

de terem que retornar para o mesmo posto de trabalho, uma vez que estaria exposto

às mesmas condições determinadas pela organização do trabalho.

Assim, o interesse pela saúde do trabalhador e o desafio de investigá-la

decorrem da atividade desenvolvida no SAST, como também de pesquisas

associadas à temática “Absenteísmo-doença”, em hospitais da rede pública, nos

níveis federal e estadual, em 2001 e 2002. O trabalho realizado em 2001 refere-se à

dissertação de mestrado, em que analisei o absenteísmo-doença entre

trabalhadores do Hospital das Clínicas/UFMG, na qual foi possível constatar

elevados índices de absenteísmo por motivos diversos. A enfermagem se destacou

em relação à obtenção de licenças na instituição. Em relação à duração das licenças

e aos motivos, a concentração maior ocorria no período até três dias, sendo

provocados por doenças do aparelho respiratório, afecções osteomusculares,

doenças do aparelho digestivo e transtornos mentais (GODOY, 2001).

Em outro estudo, realizado em 2002, analisando as causas de

afastamento do trabalho por motivo doença em uma rede de hospitais públicos do

estado de Minas Gerais, foram encontrados nos 16 hospitalais estudados 4.735

licenças médicas identificadas no decorrer de um ano. Destas, 65,34%

estenderam-se de 1 a 3 dias, revelando como causas mais frequentes doenças do aparelho

respiratório, doenças do sistema osteomuscular e doenças do tecido conjuntivo. O

hospital da rede, referência em urgência e emergência, destacou-se na concessão

de licenças, e o transtorno mental resultou, geralmente, em licenças prolongadas, o

que sugeria desgaste psíquico do trabalhador (GODOY et al., 2006). Após este

(16)

pela peculiaridade dos serviços prestados diante da necessidade de responder de

maneira mais efetiva e rápida às necessidades dos pacientes que atendiam.

A Unidade de Urgência e Emergência chamou atenção, na medida em

que gerava situações de desgaste físico e emocional ao trabalhador. Conhecendo o

ambiente de trabalho de uma Unidade de Urgência e Emergência, interessei-me em

investigar o índice de absenteísmo-doença entre os trabalhadores nesta unidade; o

risco relativo de absenteísmo-doença por categoria profissional e o motivo do

absenteísmo-doença no referido grupo. O índice absenteísmo-doença encontrado foi

2,06% e a chance de ocorrência de licenças médicas por profissional de

enfermagem, de 4,7. Este índice foi influenciado pela alta razão prevalente

apresentada pela enfermagem. Os principais motivos relatados de licenças médicas

foram as doenças osteomusculares, seguidas de fatores que influenciam o estado

de saúde e o contato com serviços de saúde e doenças do aparelho respiratório

para a equipe de enfermagem em uma Unidade de Urgência e Emergência (GODOY

et al., 2006).

Há que se reconhecer que existe uma multiplicidade de fatores da

organização do trabalho que interfere nas taxas de absenteísmo ou de

presenteísmo, podendo facilitar o aparecimento ou minimizá-lo. Os aspectos que

envolvem estes fenômenos dizem respeito à natureza da organização, às condições

de risco, ao processo de trabalho e aos aspectos relacionais dentro e fora da

empresa. Essa correlação pode ser explicada pelo fato de a ausência ao trabalho

acontecer daí a um certo tempo, entre aqueles que, além de pertencerem a um

grupo mais vulnerável diante das relações contractuais, trabalham em condições

precárias, o que desencadeará o agravamento de saúde e, consequentemente, o

absenteísmo (ARONSSON; GUSTAFSSON; DALLNER, 2000).

Esses fenômenos se atrelam ao fato de que as condições de trabalho

interferem na relação “trabalho e vida” desses sujeitos na organização hospitalar.

Percebe-se que as formas tradicionais de organizar o trabalho não considera a

saúde mental dos indivíduos; ou seja, não trata a organização do trabalho como um

processo dinâmico que envolve a subjetividades dos trabalhadores.

Em se tratando do ambiente hospitalar, as diversas situações

desfavoráveis criadas para o trabalhador, especificamente para a enfermagem,

geram desgaste emocional diante da atividade de trabalho e do convívio com

(17)

seu conflito com a organização do trabalho. As exigências para o enfermeiro que

atua em unidades de Urgência e Emergência centram-se nas habilidades manual e

intelectual, somadas à rapidez diante da pressão para o desempenho das tarefas.

Esse trabalhador está inserido em um ambiente sujeito a situações

geradoras de tensão, somadas à convivência com o sofrimento e a angústia do outro

e com a morte, o que torna tal ambiente complexo e de grande responsabilidade.

Nesse movimento, a organização pode despertar também vivências de prazer, pelo

fato de o trabalhador estar intrinsecamente relacionado com o trabalho ou o sucesso

da execução das tarefas ou seja, o resultado do esforço para recuperar o paciente.

Os estudos que participei em 2002 e 2006 ajudaram-me a compreender

que as condições de trabalho poderiam interferir na relação “trabalho e vida” dos

sujeitos na organização hospitalar. Compreende-se que o ambiente hospitalar −

especificamente, a Unidade de Urgência e Emergência − cria situações

desfavoráveis para o trabalhador, em especial da enfermagem, gerando desgaste

emocional diante da atividade de trabalho e do convívio com situações de dor e

morte. Dessa forma, esse ambiente pode desencadear sofrimento para o enfermeiro

diante do seu conflito com a organização do trabalho, mas também prazer por

participar dos atos que levam à recuperação do paciente.

Na Unidade de Urgência e Emergência, o enfermeiro desenvolve um

número expressivo de atividades administrativas, exigindo deste competência para

viabilizar o gerenciamento da Unidade e da assistência de enfermagem de qualidade

ao paciente sobre seus cuidados. Há falta de tempo para realizar todo o trabalho

necessário e também certo distanciamento físico do paciente, pois a

imprevisibilidade e o aumento da demanda por assistência, características próprias

dessa Unidade, fazem com que o profissional conviva permanentemente com a

necessidade de priorizar atividades mais urgentes (RODRIGUES, 2006). Parece que

o enfermeiro tem a função de atender a tudo e a todos, diante de uma pressão do

hospital, que, segundo Alves (1996), exige dele muito mais a função gerencial das

unidades de trabalho, tendo que se responsabilizar mais pela provisão de recursos e

pela gerência das equipes de enfermagem ou das equipes multidisciplinares do que

pela assistência propriamente dita. A organização do trabalho limita as iniciativas do

trabalhador e determina a divisão do trabalho e dos homens, resultando na

(18)

Dejours (1994), quando a organização do trabalho não consegue gerenciar esse

conflito aumenta a carga psíquica do trabalhador, levando-o ao sofrimento.

No ambiente hospitalar, a Unidade de Urgência e Emergência apresenta

uma especificidade que a distingue dos outros serviços, o que pode ser percebido

na rotina diária, que não tem uma prática sistematizada, pois a necessidade do agir

imediato faz com que, muitas vezes, não seja possível ter o conhecimento do caso

do paciente. Afinal, devem-se empregar as técnicas o quanto antes para a

manutenção da vida. O ritmo de trabalho torna-se frenético diante do imprevisível,

pois a demanda pode elevar-se a qualquer momento com a chegada de pacientes

graves. Costa (2003) afirma que no trabalho em emergência o quadro temporal é

marcado pelo tempo do relógio, pelo ritmo da demanda de usuários e pela jornada

de trabalho. Acrescenta que, além da exigência de pontualidade e regularidade,

existe uma pressão pela rapidez na realização das atividades relacionadas à alta

demanda de trabalho e à corrida em benefício da vida.

Deslandes (2002), em estudo realizado em dois hospitais públicos de

emergência, apresenta a questão do sofrimento dos profissionais diante da

intensificação do trabalho para dar conta da lotação, que excede a capacidade

instalada do setor de emergência, trazendo dificuldades tanto para profissionais

quanto para a enfermagem, em especial, que não tem condições de desempenhar o

trabalho de acordo com a prescrição. Essa pressão para trabalhar de forma não

sistematizada gera sofrimento no trabalhador, diante de sua limitação para

proporcionar uma assistência de qualidade. Percebe-se que a “coisa tem que fluir” e

que as interlocuções no ambiente devem ocorrer, a fim de possibilitar uma breve

avaliação do quadro do paciente e, assim, definir quem não pode esperar para ser

atendido. Dessa forma, a enfermagem torna-se protagonista de grande peso nas

cenas de decisões sobre o atendimento prestado, pois está presente desde a

recepção e atendimento a todos os pacientes que chegam às urgências por motivos

diversos até os últimos cuidados de estabilização ou de pós-morte.

A Unidade de Urgência e Emergência desperta o interesse na medida em

que além da sobrecarga e da intensificação do trabalho, expõe seus trabalhadores a

dor e sofrimento. Outros fatores: quadro insuficiente de pessoal; excesso de

pacientes; a carga horária de trabalho, às vezes superior a 40 horas, devido ao

absenteísmo e à rotatividade; trabalho nos finais de semana; e exposição a produtos

(19)

sujeitos envolvidos − no caso, os enfermeiros − permaneciam naquele local e em

que dimensão seu trabalho gerava prazer ou sofrimento. Em muitos relatos,

reafirmavam o prazer de trabalhar em urgência. Com isso, algo acontecia e os

estimulava a continuar trabalhando em condições, muitas vezes, desfavoráveis.

Torna-se evidente que sofrimento e prazer aconteciam de uma forma

dialética, pois a organização pode, também, oferecer condições favoráveis que

permitam ao sujeito dominar o sofrimento, encontrando prazer no trabalho, enfim,

sentido naquilo que realiza. A finalidade do trabalho − ou seja, contribuir de alguma

forma para salvar vidas − movimentava o dia a dia dos profissionais, que, acionados

pela necessidade do outro, sentiam-se realizados profissionalmente, apesar das

queixas em relação às condições de trabalho.

O objeto deste estudo − relações de prazer e sofrimento do enfermeiro no

trabalho em urgência/emergência − decorre das vivências pessoais em ambiente

hospitalar, onde foi possível observar que as demandas da organização e a natureza

do trabalho desencadeavam nos enfermeiros sentimentos de prazer e sofrimento.

Esse conflito de sentimentos significava um paradoxo. Como é possível

um sujeito sentir-se satisfeito com a atividade realizada se esta traz junto uma

sobrecarga de trabalho e exige dele responsabilidades e um grau de atenção

elevado, além de um ritmo de trabalho intenso e jornadas extensas?

Muitas vezes, foi possível observar que o trabalhador desenvolvia seu

trabalho sem pausa para descansar e convivia constantemente com situações

imprevistas, desencadeadas pelo paciente ou pelo trabalhador e pela organização

do trabalho da Unidade em que estava inserido. Também a convivência diária com

pessoas fisicamente lesadas e com um quadro clínico instável desencadeava

quadros de tensão nos trabalhadores, que procuravam oferecer aos pacientes

condições adequadas para que se recuperassem.

De outro lado, a recuperação dos pacientes desencadeava em vários

momentos sentimentos de prazer pelo resultado e satisfação com a atividade. O

enfermeiro se sentia útil, necessário à sociedade, esquecendo que estava exposto a

longas jornadas de trabalho e à baixa remuneração, que geralmente levam ao duplo

emprego ou extensão de jornadas e ao desenvolvimento de tarefas penosas e

(20)

Em verdade, nenhum trabalho está isento de possibilitar satisfação ou

desgaste físico e mental. Mas a natureza do trabalho, a forma como está organizado

e as condições em que é realizado podem intensificar ou não os quadros de prazer

ou de sofrimento. Assim, o enfermeiro, responsável pela assistência direta a

pessoas com problemas de saúde, torna-se depositário de expectativas diversas,

participando das angústias do paciente, que podem ou não estar relacionadas ao

ambiente hospitalar. Emoções fortes permeiam seu processo de trabalho, tendo em

vista sua capacidade de escuta e comprometimento com resultados positivos.

Há que se ressaltar a incorporação e utilização de novos equipamentos

no processo de trabalho do enfermeiro. Isso vem modificando o seu fazer,

aumentando a pressão pelo desempenho de algumas atividades e exigindo novos

conhecimentos e habilidades para superar as adversidades do ambiente de trabalho.

Atuando em um hospital público, referência para atenção ao trauma,

tenho observado que o trabalho desenvolvido na Unidade de Urgência e Emergência

apresenta para o enfermeiro alguns desafios. Dentre eles, destaca-se o de salvar

vidas, vivido diariamente nessas Unidades e que precisa ser superados mesmo em

condições de trabalho inadequadas, o que gera tensão, diante da necessidade da

rapidez no atendimento aos pacientes graves.

De acordo com a literatura, todo trabalho apresenta determinada carga

psíquica, que aparece como reguladora da carga global de trabalho. Se o trabalho

permite que essa carga seja diminuída, cria-se um equilíbrio para o trabalhador,

mas, se ocorrer o seu aumento, formará um acúmulo de energia psíquica, tornando

a atividade geradora de tensão e desprazer, levando ao sofrimento psíquico

(DEJOURS, 1994).

Da relação do trabalhador com a organização surgem conflitos que

aumentam a carga psíquica imposta pelo trabalho, resultante do confronto do desejo

do trabalhador com as injunções do empregador. Assim, o trabalho na Unidade de

Urgência e Emergência pode desencadear prazer ou sofrimento nas relações dos

profissionais com os pacientes e com o trabalho. Prazer e sofrimento coexistem em

um equilíbrio precário, necessitando ser desvelados para que se assegurem

condutas organizacionais de proteção à saúde física e psíquica dos trabalhadores,

organização do trabalho adequada e bom funcionamento do hospital.

Buscando aproximações com o tema “Prazer e sofrimento no trabalho do

(21)

urgências e emergências, realizou-se um estudo preliminar, em 2007 que permitiu

identificar que as situações de prazer/sofrimento em relação ao trabalho, estavam

relacionadas à finalidade do trabalho e ao fato de contribuir para salvar vidas, dando

sentido às ações. As situações de sofrimento são associadas às pressões da

organização do trabalho e às condições em que este é realizado, aumentando a

carga psíquica e física do trabalhador (GODOY; ALVES, 2007).

O prazer e o sofrimento do enfermeiro no trabalho podem estar

relacionados com a organização do trabalho, uma vez que este sujeito, segundo

Murofuse (2004) e Pires (2000), sofre influências da gerência taylorista, a partir do

momento em que a expropriação do saber e o controle do processo de trabalho

ocorrem de forma parcial, em que o médico interfere no trabalho dos demais

profissionais de saúde, tornando-os dependentes de suas decisões. Além do mais,

no trabalho de enfermagem predominam relações verticalizadas entre os membros

da própria equipe. O enfermeiro assume a função de coordenador das atividades de

cuidado ao paciente e dos demais trabalhadores da equipe de enfermagem

(MUROFUSE, 2004). A divisão técnica e social que se verifica na equipe de

enfermagem reafirma a questão do poder e da autoridade, cabendo ao enfermeiro o

controle para garantir a realização do trabalho. O enfermeiro “fiscaliza” o

desempenho dos procedimentos seguindo as regras e normas da organização e

garantindo um comportamento padronizado por parte das pessoas envolvidas nas

atividades em conformidade com o modelo burocrático que se faz predominante nos

hospitais (MUROFUSE, 2004).

O trabalho do enfermeiro no sistema de saúde tem se caracterizado por

organizar o espaço terapêutico, criando condições para a realização do cuidado e

distribuindo e controlando o trabalho da equipe de enfermagem. O seu objeto de

trabalho, em algumas situações, passa a ser a organização do trabalho ou a

administração, atuando para oferecer condições de assistência multiprofissional e a

realização do cuidado terapêutico (LEOPARDI; GELBCKE; RAMOS, 2001). Atua,

também, com a equipe de enfermagem, repassando tarefas e exigindo seu

cumprimento de acordo com as regras. A divisão do trabalho assim estabelecida

acarreta perda da visão da totalidade que o trabalhador deve possuir, até mesmo ao

enfermeiro, que deveria ter uma visão geral.

A divisão das tarefas e o modo operatório estimulam o sentido e o

(22)

relações de trabalho (DEJOURS, 1992). O autor acrescenta que essa organização

do trabalho pode exercer impacto no aparelho psíquico do trabalhador, decorrente

do conflito entre a sua história individual e a relação com o exercício das tarefas na

empresa, que, de certa forma, ignora a subjetividade do sujeito. A relação

homem-trabalho gera sofrimento ao trabalhador, de natureza mental, caracterizado pela

frustração na adaptação, pela impotência e impossibilidade de modificar a realidade

(DEJOURS, 1992).

A organização do trabalho no ambiente hospitalar para a enfermagem,

segundo Alves (1991), Torres (1999) e Pires, Gelbke, Matos (2004), é marcada por:

acentuada divisão de trabalho; excesso de normas; rotinas; tarefas fragmentadas;

ausência de participação efetiva nos processos decisórios; condições de trabalho

inadequadas; baixos salários; sobrecarga de trabalho e conflitos nas relações com

outros profissionais e dentro da própria equipe. Ao mesmo tempo, o trabalho pode

ser fonte de prazer, diante de: reconhecimento e valorização em relação à

realização da tarefa; descentralização das decisões; autonomia; controle do

processo produtivo; possibilidade de capacitação; e liberdade de expressão.

A ambivalência entre sofrimento e prazer no trabalho apresenta uma

contradição, uma vez que os processos se dão em um movimento de correlação em

espiral, em que todas as partes mantêm uma reciprocidade. O enfermeiro busca

conseguir com esse ir e vir, do todo para as partes e das partes para o todo, de

forma a alcançar o prazer e evitar o sofrimento. Compreende-se, assim, que o

trabalho realizado pode se transformar em algo penoso, levando ao sofrimento,

diante de uma organização de trabalho que apresenta um modo de produção

específico, como também ao prazer, a partir do momento em que pode se expressar

como sujeito no trabalho. A atuação do enfermeiro em situações críticas é

desempenhada, muitas vezes, com significativo sucesso, conduzindo ao sentimento

de realização e de dever cumprido. Após a realização dos procedimentos

necessários, também há uma sensação de satisfação, o que constitui uma forma de

prazer. A reelaboração deste movimento permite que o enfermeiro se reconheça

como sujeito social importante para a existência do outro, conseguindo transformar a

tarefa em um meio para a sua estruturação psíquica.

Assim, a ambivalência entre prazer e sofrimento evidenciada no trabalho

do enfermeiro em urgências e emergências instiga reflexões. Foi possível encontrar

(23)

apesar das condições adversas comuns na área hospitalar, particularmente em

unidades de urgência e emergência. De outro lado, há os que consideram o trabalho

como fonte de sofrimento, chegando a manifestar doenças como saldo de seu

engajamento no trabalho, apresentando, além da dor física, problemas emocionais e

sociais. Esses fatos reforçam a ideia da elaboração de mecanismos de defesa que

possibilitem ao trabalhador minimizar os efeitos nocivos do trabalho, mas deixam

claro também que, muitas vezes, esses mecanismos, apesar de explorados em sua

totalidade, não são capazes de minimizar o sofrimento, que se torna patogênico,

abalando o equilíbrio psíquico do sujeito, empurrando-o, lenta ou brutalmente, para

uma descompensação.

O trabalho hospitalar tem, geralmente uma organização rígida, autoritária,

com elevada carga de trabalho, que pode imobilizar a criatividade do trabalhador da

enfermagem, resultando em sofrimento para alguns trabalhadores (PIRES, 1999;

PIRES; GELBCKE; MATOS, 2004). O hospital busca, por meio da divisão técnica e

social do trabalho, estabelecer as categorizações hierárquicas, nas quais o

enfermeiro assume o papel de organizador das atividades parcelares do trabalho

coletivo e complexo da equipe, com pouca atuação direta na sua execução, tendo

em vista que atua na coordenação e no controle de todas as áreas de atendimento,

intermediando relações entre os vários agentes, bem como entre os diversos setores

que compõem a infraestrutura.

Para Dejours (1994), a organização do trabalho pode limitar a realização

do projeto espontâneo do trabalhador quando o coloca diante de um modo

operatório preciso. Assim, a atividade torna-se fonte de tensão, desprazer e

sofrimento. Mas o inverso pode acontecer, quando a atividade oferece um campo de

ação para o trabalhador, um terreno no qual este concretiza suas aspirações, suas

ideias, sua imaginação, seu desejo. Este trabalho, quando é livremente escolhido e

a organização do trabalho é suficientemente flexível, torna possível para o

trabalhador organizá-lo e adaptá-lo a seus desejos, transformando o trabalho

fatigante em um trabalho equilibrante, encontrando, assim, prazer em sua atividade.

Torna-se importante ressaltar que a organização do trabalho neste estudo

é entendida como a forma pela qual se ordenam e se coordenam as diferentes

tarefas necessárias aos objetivos da organização, incluindo a divisão de tarefas, a

coordenação dessas tarefas e a organização temporal das diversas atividades

(24)

formas a organização do trabalho é sempre o meio pelo qual se exerce o controle

sobre a atividade de trabalho, dada uma configuração determinada do seu processo”

(LIMA, 1999, p. 57).

A relação de prazer e sofrimento no trabalho é influenciada pelas formas

de organização do trabalho, o que faz com que os processos de trabalho atuais

engendrem padrões de organização que estão em conflito com a constituição

humana (DEJOURS, 1994; FREITAS, 2002). As novas formas de organização do

trabalho não são recentes. Surgiram do questionamento teórico prático dos

princípios taylorista e fordista (LIMA, 1999; PIRES; GELBCKE; MATOS, 2004).

Essas formas de organização, de acordo com Lima (1999), concedem autonomia, de

certa maneira, limitada às tarefas de execução, não alterando o conteúdo do

trabalho diário. Acrescenta que, para romper com essa forma de organização, os

trabalhadores deveriam ser efetivamente mais participativos no processo de

mudança, dando sugestões, provocando transformações capazes de corroer a

divisão do trabalho entre quem planeja e quem executa e fazendo com que o

trabalhador se reaproprie das condições de realização do trabalho.

O enfermeiro da Unidade de Urgência e Emergência se percebe inserido

em um trabalho complexo que abrange uma série de atividades, colocando a

enfermagem diante de inúmeros desafios, como: decisões em relação aos cuidados

oferecidos aos pacientes; assistência a um grande número de pacientes graves;

divisão de tarefas; necessidades diárias de estabelecer prioridades na assistência,

diante da urgência e da escassez de recursos materiais e humanos; e necessidade

de acompanhar os avanços tecnológicos. Tudo isso pode ser fonte de sofrimento

(PITTA, 1990; LUNARDI FILHO, 1995; ALVES, 1996; PIRES, 2000).

Diante das atividades desenvolvidas na Unidade de Urgência e

Emergência, a expressão de prazer no trabalho pode estar presente, pois o

trabalhador encontra formas de equilíbrio em seu engajamento no trabalho e

visualiza, além das condições objetivas de trabalho, sua projeção e realização

profissional, pois consegue propiciar a recuperação de pacientes em risco de morte,

cumprindo, dessa forma, uma função para a qual foi preparado. No entanto, este

mesmo sujeito pode manifestar sentimentos de sofrimento no trabalho a partir do

momento em que tem de lidar com as pressões e exigências do cotidiano de

trabalho. Essa ambivalência prazer versus sofrimento no trabalho hospitalar pode

(25)

úteis para o sujeito e a sociedade. Mas para isso este trabalho apresenta-se regido

por imposições arbitrárias e regulamentos restritivos (LAUTERT, 1999; MARANHÃO,

2000; LIMA JÚNIOR; ÉSTHER, 2001).

As empresas assumem, fundamentalmente, grande importância na vida

dos trabalhadores. Diante disso, deve-se lembrar de que elas são alimentadas pela

emoção, pela fantasia e pelos desejos. As pessoas assumem a vida nas empresas

como vida, e os seres humanos que lá estão como humanos. São pessoas, e não

máquinas. Elas sonham, realizam sonhos e expressam alegrias, frustrações,

inquietações e fragilidades (ENRIQUEZ, 2002). O trabalho é uma referência para a

construção social dos homens e de sua autoestima, sendo uma relação que passa

pelo afetivo e pelo psicológico (FREITAS, 2002).

Freitas (2002) afirma que as empresas não são apenas o lugar no qual o

trabalho é executado; é um lugar contraditório, no qual o prazer e o sofrimento se

fazem presentes para o trabalhador. A manifestação desses sentimentos ocorrerá se

a organização criar possibilidades para que o trabalhador possa encontrar sentido

na sua atividade, mesmo diante das dificuldades e dos desafios, procurando

dominar o ambiente, os imprevistos, a tecnologia, as pressões organizacionais e as

exigências. Dessa forma, todas as situações críticas e as tensões que se

apresentam fazem com que o trabalho se torne parte do indivíduo.

No espaço de trabalho na Unidade de Urgência e Emergência, tanto o

sofrimento como o prazer podem ser experimentados pelos enfermeiros. Essas

manifestações dependerão das possibilidades ou restrições para que o trabalhador

faça as devidas adaptações entre o trabalho prescrito, que está institucionalizado

nas regras organizacionais (explícitas ou implícitas), e o trabalho real. Essa ponte é

representada, de acordo com Dejours (2004b), pela engenhosidade, pelos

quebra-galhos e pelas intervenções criativas de cada trabalhador nos processos produtivos.

Torna-se importante ressaltar que nas organizações encontram-se

frequentemente parcelas dos diferentes modelos de gestão, prevalecendo, no

entanto, de acordo com a política institucional, o destaque para um modelo cujas

características estejam mais presentes e refletem a filosofia da instituição.

Pires, Gelbcke, Matos (2004) afirmam que a organização interfere no

processo de desgaste do trabalhador de enfermagem, dificultando que este

manifeste sua subjetividade e exigindo um comprometimento com a instituição que o

(26)

(2002) salienta que o modelo estrategista organizacional cria pessoas viciadas pela

atividade, pois a organização torna-se objeto de identificação, funcionando de forma

ambivalente entre o prazer e o sofrimento, no qual o desejo e as aspirações podem

encontrar espaço de realização, excitação e prazer, convivendo com a angústia do

fracasso.

Esse quadro pode desencadear, de um lado, o sofrimento no trabalho e,

de outro, a construção de estratégias defensivas que irão permitir o alívio da carga

psíquica, tornando-se um instrumento de equilíbrio e fonte de prazer para o

trabalhador. As transformações nas formas de produção trouxeram implicações para

o setor da saúde e, consequentemente, para, os enfermeiros de Unidades de

Urgência e Emergência. No entanto, surgem algumas inquietações relacionadas ao

trabalho do enfermeiro na área de urgência, cujas características da organização do

trabalho se diferenciam de outras unidades de saúde. É o que se procurará

responder com esta pesquisa.

“Que situações geram prazer ou sofrimento no trabalho?”, “Como as

manifestações de prazer e sofrimento do enfermeiro são influenciadas pela

organização do trabalho de uma Unidade de Urgência e Emergência da rede

pública?” e “Quais são os mecanismos defensivos que o enfermeiro emprega

para poder trabalhar na Unidade de Urgência e Emergência?”

Apesar da existência de vasta literatura sobre sofrimento e prazer no

trabalho, investigar as dimensões de sofrimento e do prazer no trabalho do

enfermeiro em uma Unidade de Urgência e Emergência pode oferecer subsídios

para a elaboração de políticas de recursos humanos para a área, uma vez que as

produções científicas sobre o trabalho do enfermeiro neste tipo de unidade são

escassos. Além disso, as Unidades de Urgência e Emergência têm se expandido,

incorporando novos profissionais e novas tecnologias no atendimento a pacientes

em situações críticas de saúde. Diante disso, torna-se necessário explicitar a relação

entre as formas de organização do trabalho e as manifestações de prazer e de

sofrimento do enfermeiro em uma Unidade de Urgência e Emergência de um

hospital de grande porte, confrontando o discurso dos sujeitos e a análise

(27)

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Analisar as manifestações de prazer e de sofrimento do enfermeiro em

relação à organização do trabalho em uma Unidade de Urgência e Emergência de

um hospital referência na área da rede pública de Belo Horizonte – MG.

2.2 Objetivos específicos

• Identificar as manifestações de sofrimento e prazer que permeiam o trabalho do enfermeiro em uma Unidade de Urgência e Emergência

da rede pública de BH/MG;

• Identificar as formas de organização do trabalho da enfermagem em uma Unidade de Urgência e Emergência de um hospital da rede

pública de BH/MG; e

• Identificar os mecanismos defensivos empregados pelos enfermeiros em relação ao sofrimento/prazer na sua prática cotidiana em uma

Unidade de Urgência e Emergência de um hospital referência na

(28)

3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Organização do trabalho

O processo de trabalho, em termos organizacionais, inclui uma tríade

constituída por: instrumentos de trabalho (aquilo que é empregado para transformar

a natureza), objeto trabalhado (a matéria sobre a qual se aplica o trabalho) e

atividade humana (trabalho propriamente dito). Este processo ao absorver

determinada tecnologia, exige uma divisão técnica do trabalho, que vai impondo

uma economia de tempo na execução das tarefas como ponto essencial para

alcançar a produtividade. Essa divisão técnica do trabalho incrementa a

produtividade a favor do capital. A partir do momento em que fragmenta o trabalho,

impede o desenvolvimento integral das potencialidades, intensifica o ritmo de

trabalho, rebaixa o valor da força de trabalho e reduz a capacidade dos

trabalhadores de negociarem a seu favor as condições de troca e uso de suas

habilidades (HOLZMANN, 2002).

No final do século XIX, Taylor aprofundou a divisão técnica do trabalho,

atribuindo uma importância decisiva à separação entre concepção e execução, com

o estudo de tempos e movimentos, acompanhado de uma supervisão rigorosa dos

operários em sua execução (tarefas e tempos prescritos). Logo depois, Ford dá uma

nova dimensão à divisão técnica do trabalho, intensificando a fragmentação das

tarefas e vinculando-a à esteira de montagem, impondo aos operários a execução

das tarefas em função do mecanicismo denominado “tempos impostos”

(HOLZMANN, 2002). Entende-se que as mudanças tecnológicas incorporadas ao

processo constituíram um meio de controle da força de trabalho ao tratarem da

produção em sua forma capitalista.

O capitalista compra a força de trabalho e cuida para que o trabalho se

realize de maneira apropriada, para que se apliquem de maneira adequada os meios

de produção, não se desperdiçando matéria-prima e poupando o instrumental de

(29)

trabalho. O produto é propriedade do capitalista, não do produtor imediato, que seria

o trabalhador (MARX, 1982).

Compreende-se que o capitalismo transformou radicalmente a relação do

homem com a natureza e dos homens entre si, possibilitando a apropriação privada

dos meios de produção apenas para uma parte da sociedade. A exploração do

trabalho em alguns segmentos significativos da sociedade resultava na apropriação

por parte dos proprietários dos meios de produção do trabalho excedente realizado

pelos trabalhadores, caracterizando um quadro de acumulação de capital.

A acumulação de capital em regime capitalista ocorre quando este passou

a desenvolver meios para aumentar a produção, à custa do trabalhador, mutilando-o

e fazendo dele um homem fragmentado, sendo visto como um simples apêndice da

máquina. O trabalhador se isolou de suas potências intelectuais, passando a ver a

ciência como algo estranho e inacessível. Essa submissão do trabalhador fez com

que este realizasse suas atividades em condições inapropriadas, como um

prolongamento da duração do trabalho, ao ponto de não conseguir conjugar, em

diversos momentos, a vida social e familiar (MARX, 1982).

A cooperação vem para reforçar a exploração do trabalhador,

colocando-o prescolocando-o pelcolocando-o encadeamentcolocando-o de fcolocando-orças de trabalhcolocando-o na cadeia de prcolocando-oduçãcolocando-o,

denominado “trabalho social”. Essa cooperação, que trouxe vantagens para o capital

crescente, incorporava a reunião numa mesma oficina de um grande número de

forças de trabalho: economia dos meios de trabalho, aumento da força de trabalho e

possibilidade de combinar as forças de trabalho para execução do trabalho (MARX,

1982).

Mesmo no momento da cooperação simples, reunindo artesões em um

mesmo local de trabalho, a gerência, que era executada pelos próprios donos do

empreendimento, sentia, ainda que de forma rudimentar, a necessidade de

coordenar as atividades, centralizar os suprimentos e registrar custos, produtos,

lucros, perda e outros. Na segunda metade do século XIX, muitos capitalistas não

eram mais do que empregadores imediatos de muitos trabalhadores. Nem havia os

coordenadores de todas as atividades. Passou-se então a utilizar pessoas

especializadas como intermediárias no processo de subcontratação e supervisão

dos empregados (COHN; MARSIGLIA, 1994).

Nesse contexto, desenvolveram-se formas de organização do trabalho em

(30)

ampliavam o mercado. Isso permitia a produção em grandes séries, abrindo espaço

para a introdução de máquinas-ferramenta especializadas, provocando o

crescimento numérico de trabalhadores que poderiam se tornar semiespecializados

após poucos dias de treinamento.

Assim, considerando-se a relação entre o desenvolvimento da tecnologia

e o trabalho em si, seguem-se os modelos de organização que contemplavam a

estruturação do trabalho, com a racionalização da tarefa e a formalização dos

cargos. Dentre os modelos de organização, podem-se mencionar a Escola Científica

ou Escola Clássica, que tem como principais formuladores Taylor, Fayol e Ford;

seguida da Escola de Relações Humanas, com Mayo como principal formulador, e

as Teorias Modernas de Administração, que podem ser resumidas na Teoria

Estruturalista, na Teoria Comportamental e na Abordagem Sociotécnica (COHN;

MARSIGLIA, 1994).

A Escola Científica, ou Escola Clássica, defende a tese de que o

trabalhador, como todo ser-humano, é impulsionado pelo espírito econômico,

competitivo, bastando, portanto, recompensá-lo em relação à sua produção, com

bons salários, para que os conflitos, resistências e organizações sindicais que

pudessem emergir no interior das empresas fossem eliminados. Para esta Escola, a

organização do processo produtivo deveria ser formal, hierarquizada, autoritária e

racionalizada, com a intenção de maximizar a produção. Preconiza o controle

rigoroso sobre o trabalho, definindo não só o ritmo, mas também a única maneira

correta de executar o trabalho.

Como um dos formuladores da Escola Clássica, Taylor defendia a

obediência da organização do trabalho em relação aos parâmetros científico e

técnico, que compreende o tempo padrão, melhor método de trabalho, pelo estudo

de tempos e movimentos, e seleção e treinamento dos trabalhadores de acordo com

padrões definidos. Para obter produtividade padronizada, propunha um sistema de

vigilância constante sobre os trabalhadores de níveis hierárquicos inferiores que

poderiam não corresponder ao desejado para a produção (BRAVERMAN, 1987).

Nessa fase, iniciava-se um novo padrão de acumulação, que, de certa forma,

potencializava a intensificação do trabalho para elevar a reprodução de capital. Essa

intensificação para os trabalhadores significou aumento do desemprego e

diminuição dos salários, diante de uma reorganização industrial imposta pelo capital

(31)

O taylorismo e o fordismo atuaram de maneira sólida na etapa do

maquinário, transformando o trabalhador em objeto, e não sujeito da produção,

intensificando o trabalho, reduzindo as opções dos trabalhadores de como realizar

suas atividades e sujeitando-os a movimentos ditados pela máquina e pela

organização do trabalho (BRAVERMAN, 1987). Isso significava um conflito aberto

entre o capital e o trabalho, pois as novas formas de gestão visavam rebaixar os

salários e desqualificar os trabalhadores, elevando a extração da mais-valia relativa.

O modelo clássico de administração, de acordo com Fleury (1987), surgiu

em um período conflituoso na sociedade americana, em se tratando de relações de

trabalho, no qual a implantação do sistema taylorista desbalanceou a relação de

forças e promoveu um esquema de organização extremamente autoritário. A

separação entre os que planejavam e os executores permaneceria preservada, uma

vez que a iniciativa do trabalhador seria eliminada na escolha do método, cabendo à

gerência determinar o método e o tempo-padrão para executar. A escolha do

trabalhador certo para o trabalho certo tinha como base a necessidade de treinar o

sujeito não na atividade profissional, mas para executar a tarefa conforme a gerência

indicasse (FLEURY; VARGAS, 1987a, HELOANI, 1996; PARAGUAY, 2005). Essa

cooperação trabalho-capital se revelou muito difícil, pois de um lado estava o

trabalhador, que sofria com a redução dos salários e a luta do movimento pela

jornada de oito horas, e de outro o patronato, contra-atacando diante dos

movimentos sindicais, que instigavam uma onda crescente de greves.

Com um discurso de prosperidade, Taylor induzia que se pensasse

capital e trabalho sob uma ótica em que ambos se fortaleceriam em um espaço de

cooperação e que o estudo do tempo, somado ao emprego da especialização

possibilitaria a articulação entre trabalho manual e trabalho intelectual. Na tarefa, era

especificado o que deveria ser feito, como fazê-lo e o tempo exato para execução.

Dessa forma, o trabalhador, diante de uma mesma tarefa, deveria incorporá-la,

internalizá-la e realizá-la no tempo-limite especificado, recebendo ao final uma

bonificação por fazer rápido e de acordo com as instruções (PARAGUAY, 2005).

A maximização do uso do tempo e o aumento do ritmo para a realização

de uma tarefa determinada pelo planejador deixavam implícito o quanto Taylor

desejava adestrar o trabalhador, desconsiderando seu saber e impondo-lhe etapas

(32)

Heloani (1996) afirma que, para atender aos interesses do capital na

década de 1920, o taylorismo se consolidava nos Estados Unidos e na Europa. Essa

consolidação se dá ao apresentar a organização científica do trabalho como uma

inovação técnica que usa a racionalidade do trabalho, a redução de custos e o

aumento da produtividade. A autora acrescenta que mesmo diante de movimentos

de oposição em relação ao taylorismo este continuou a ser empregado, pois cumpria

a sua função política de disciplinamento do trabalho. Após a recessão de 1920-1921,

a economia começa a recuperar, aumentando o crescimento do emprego

especializado, que era destinado à execução de tarefas predefinidas a partir da

operação de máquinas-ferramenta.

Em l916, Fayol, um engenheiro e administrador francês, complementa o

trabalho desenvolvido por Taylor, ao propor a racionalização da estrutura

administrativa que gerencia o processo de trabalho com base nos princípios da

unidade de comando, da divisão do trabalho, da especialização e da amplitude de

controle (MOTTA, 1986).

Simultaneamente à consolidação do taylorismo, Henry Ford desenvolve

uma nova proposta de gestão da produção: a linha de montagem. Usava o princípio

da esteira rolante, cujo funcionamento passava a ser ininterrupto, combinando

operações extremamente parceladas dos trabalhadores. O trabalhador, fixo no posto

de trabalho, passava a ser quase um componente da máquina. Os seus movimentos

mecânicos não sofreriam a interferência da sua mente, guardando uma harmonia

com o conjunto da linha de montagem. O trabalhador qualificado dava lugar a um

novo trabalhador, cuja única função era repetir indefinidamente movimentos

padronizados, desprovidos de qualquer conhecimento profissional. A linha de

montagem tornou-se um instrumento de intensificação de trabalho, que resultava em

vantagens de produtividade, a partir da utilização intensa de equipamentos,

instrumentos e instalações. A linha de montagem contribuiu para a desqualificação

do operário e a intensificação do trabalho (FLEURY; VARGAS, 1987b; HELOANI,

1996; LIMA, 1999; PARAGUAY, 2005).

A linha de montagem foi uma solução para a questão disciplinar no

interior da fábrica, além de se revelar como um projeto político que visava assimilar o

saber e a percepção do sujeito trabalhador para a organização. Era uma estratégia

que, segundo Heloani (1996), deixava implícita a reorganização do trabalho,

(33)

de peças, que tentava encobrir a dependência do capital em relação ao trabalho

vivo. A linha de montagem fordista reinventava a correlação da manufatura com a

divisão do trabalho e a produtividade, revelando-se um instrumento de intensificação

do trabalho, pois colocava o trabalhador em um posto específico de trabalho,

executando um único movimento o tempo todo e não devendo se deslocar, pois o

trabalho tinha que vir ao operário.

O fordismo, em sentido mais global, constituiu-se em um sistema de

produção de grandes volumes de produtos padronizados destinados a mercados de

massa, com base no aumento da velocidade do processo de produção, que é

controlada pelo ritmo da linha de montagem. Silva (1991) descreve que entre os

problemas originados do desenvolvimento da linha de montagem e da fragmentação

do trabalho estão: os desequilíbrios nas cargas de trabalho; o impacto negativo da

intensificação do trabalho no bem-estar fisiológico e psicológico do trabalhador,

resultando em cansaço, absenteísmo alto e irregular, doenças, acidentes e baixa

qualidade de trabalho; e a ruptura da ligação entre o esforço e os salários.

A gerência percebeu as deficiências que o taylorismo gerava no que se

refere às formas de conceber e utilizar o trabalho e à falta de definição das

necessidades do homem no trabalho. Essas deficiências comprometiam a

acumulação capitalista. Assim, empenhou-se na busca de alternativas que

permitissem superar tais dificuldades, o que desencadeou correntes pós- tayloristas,

como a Escola de Relações Humanas, o Enriquecimento de Cargos e as Correntes

Tecnocráticas.

A Escola de Relações Humanas defendia a tese de que o homem tem

necessidades psicológicas de sentir-se membro de um grupo social como forma de

reconhecimento, além da recompensa financeira. O trabalhador necessitava

encontrar na organização da produção situações que pudessem favorecer a

cooperação e a sua integração no ambiente de trabalho. Esta corrente do

pensamento administrativo buscou maior adesão dos trabalhadores à empresa para

alcançar maior produtividade, integrando e reunindo-os de uma maneira em geral,

incluindo chefias e lideranças.

A Escola de Relações Humanas que preconizava a humanização do

ambiente de trabalho, obtém maior adesão dos trabalhadores, na perspectiva de

aumentar a produtividade. Esta escola buscou a integração dos trabalhadores à

(34)

prevalecia, diante da intensificação, monotonia e desqualificação das tarefas

(FLEURY, 1987; COHN; MARSIGLIA, 1994; HELOANI, 1996).

As teorias modernas de administração podem ser resumidas na teoria

estruturalista, na teoria comportamental e na abordagem sociotécnica, concebendo

o trabalhador como um indivíduo que, além das necessidades básicas, tem

necessidades psicosociais. Estas teorias propõem para o trabalhador técnicas de

enriquecimento do cargo e participação na consulta técnica e na organização da

produção. Cohn, Marsiglia (1994) explicam que o conflito entre capital e trabalho é

inevitável, mas este pode ser positivo ao indicar a necessidade de abertura de canais

de comunicação e participação dos trabalhadores que possam traduzir em mudanças e

desenvolvimento da organização da produção, com a utilização de técnicas que

promovam a motivação no trabalho, a descentralização das decisões, a delegação de

autoridade e a consulta e participação dos trabalhadores. Os autores acrescentam que

esse conjunto de propostas faz surgir grupos cuja formação/estrutura/organização é

definida pela empresa. Esses grupos não representam o controle do poder pelo

trabalhador, uma vez que este permanece nas mãos do capital.

Para Fleury (1987), a formação dos grupos parte de premissas que

definiriam o planejamento do trabalho com base nas necessidades dos homens e

em sua relação com o trabalho. Tais grupos podem se apresentar como grupos de

trabalho (GT), ou grupos de enriquecimento de cargos, os quais admitem que as

necessidades individuais podem ser resolvidas em cargos isolados e as sociais, por

relações de amizade no ambiente de trabalho. Propõe-se uma maior variedade de

tarefas nos cargos, delegando as responsabilidades de forma gradual, e a

manutenção de um processo de feedback, com a intenção de permitir ao trabalhador

aprender a partir dos próprios erros.

Nos grupos semiautônomos (GSA), as relações sociais têm que ser

sustentadas por relações de trabalho, em um esforço cooperativo, propondo que se

atribua a tarefa a um grupo, e não a uma pessoa, proporcionando mais autonomia

ao grupo para organizar-se como desejar, desde que este complete a tarefa no

prazo, com custo e qualidade determinados pela organização do trabalho. Os

chamados ”Círculos de controle de qualidade” (CCQ), que consistem no contrato

permanente de trabalho e nos sistemas de promoção por senioridade, criam as

condições para que se desenvolva um trabalho em grupo, de maneira cooperativa

(35)

Com o processo constante de automação e qualificação, percebe-se que

os trabalhadores tiveram uma perda crescente do controle sobre o processo e a

organização do trabalho, mediante a introdução de novas técnicas de produção e

formas computadorizadas de controle do processo de trabalho. Essa situação

provocou mudança nas formas de organização do trabalho, iniciando com um

esquema proposto de rotinização do trabalho, que implicava a criação de um

sistema de apoio à produção que planejasse a tarefa até o ponto em que esta

pudesse ser entregue a uma pessoa desprovida de conhecimento sobre o processo.

As tarefas planejadas de modo simples e individualizado poderiam ser realizadas

por outro trabalhador, em situações de substituições. Este esquema apresentava

algumas características como manter a coordenação das tarefas por nível

hierárquico, o que dificultava a organização dos trabalhadores dentro da fábrica,

induzia a rotatividade, mantinha os salários baixos, usava de forma indiscriminada

trabalhadores sem qualificação e não oferecia treinamentos (FLEURY, 1987).

A rotinização intensificou a criação de um sistema hierárquico para a

supervisão das tarefas e um alto grau de divisão de trabalho, com o estabelecimento

de tarefas individuais, além de não oferecer incentivos salariais. Fleury (1987) afirma

que as empresas, em muitos casos, nos seus centros de decisões, direcionam as

preocupações para a questão da produtividade, não possuindo conhecimentos sobre

teorias de organização do trabalho, adotando, assim, um método simples que

emprega a racionalização da tarefa e do cargo. O esquema da rotinização vem, de

certa forma, atender à aplicação do método da racionalização, pois é dirigido para

um tipo de mão de obra não qualificada, barata e instável. A organização do trabalho

neste esquema de rotinização dificulta a qualificação, o aperfeiçoamento do

trabalhador e o agrupamento entre os trabalhadores, além de manter os baixos

salários e induzir a rotatividade.

Lima (1999) destaca que entre as dimensões fundamentais da

organização do trabalho encontram-se a divisão do trabalho, a qualificação e a

autonomia versus controle. Segundo Braverman (1987), a divisão social do trabalho

corresponde à divisão da sociedade em ocupações, cada qual apropriada a certo

ramo de produção, e a divisão parcelada do trabalho, ou divisão técnica, que, sendo

imposta pelo planejamento, desencadeia a fragmentação de um mesmo trabalho em

tarefas cada vez menores, quebrando sua unidade e tornando o trabalhador incapaz

(36)

Entende-se que a divisão social do trabalho subdivide a sociedade,

fortalecendo o indivíduo e a espécie. A divisão parcelada do trabalho subdivide o

homem, menosprezando suas capacidades e necessidades humanas (LAURELL;

NORIEGA, 1987).

Lima (1999) apresenta a divisão do trabalho sob um corte vertical, que

assegura o distanciamento entre a concepção e a execução, no qual um corpo de

especialista, que detém o conhecimento e a capacidade para definir modos

operatórios, determina tudo que é necessário, desde a qualidade da matéria-prima

às pausas para descanso, a fim de que o trabalho seja realizado com eficiência e

sem fadiga excessiva. Na divisão em um corte horizontal, o trabalho é dividido em

múltiplas tarefas. Essas divisões andam lado a lado, sendo que uma é condição e

resultado da outra, dando origem a repetitividade, perda de autonomia e

possibilidade de aumento do controle sobre o trabalhador por parte da organização

(LIMA, 1999).

A qualificação para o trabalho é uma das dimensões que a organização

do trabalho apresenta, pois quanto mais especialista o trabalhador for, melhor

qualificado será para realizar as suas atividades. Essa qualificação reduz a

necessidade de treinamento da mão de obra, bem como o custo de reprodução, e

assim o valor da força de trabalho.

Em um trabalho qualificado, a aprendizagem serve para diminuir a carga

de trabalho, bem como o esforço físico e mental, e a realização da tarefa se dará em

menor tempo. Entende-se, assim, que quanto mais qualificado for o trabalhador,

maior será o domínio do seu métier. Graças a suas habilidades, realiza a sua

atividade com mais facilidade (LIMA, 1999).

No trabalho desqualificado acontece o oposto: o aprendizado se reduz a

aprender a fazer mais rápido. O conteúdo do trabalho está centrado na realização

rápida da tarefa, o que, de certa forma, favorece, a tendência de o trabalhador

querer ficar livre de um trabalho que não tem sentido. Esse processo desencadeia

uma autoaceleração, em que o trabalhador compete consigo mesmo para procurar

ser mais rápido que os colegas. Terminar o trabalho mais cedo torna-se a sua

principal motivação para trabalhar. As consequências desse processo podem ser

desastrosas para a saúde do trabalhador, que emprega gestos automatizados,

acelerando o ritmo de produção e hipertrofiando certas funções e partes do seu

Referências

Documentos relacionados

Carmo (2013) afirma que a escola e as pesquisas realizadas por estudiosos da educação devem procurar entender a permanência dos alunos na escola, e não somente a evasão. Os

Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Universidade de Brasília, 2007. A organização como fenômeno psicossocial: notas para uma redefinição da psicologia organizacional e

O estudo buscou também contribuir para o desenvolvimento científico, disponibilizando para a sociedade os impactos acerca da saúde mental, social e corporal dos

Portanto, podemos afirmar que alcançamos o nosso objetivo, pois o resultado do estudo realizado nos forneceu dados importantes para a compreensão daquilo que nos

Dois termos têm sido utilizados para descrever a vegetação arbórea de áreas urbanas, arborização urbana e florestas urbanas, o primeiro, segundo MILANO (1992), é o

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

No final, os EUA viram a maioria das questões que tinham de ser resolvidas no sentido da criação de um tribunal que lhe fosse aceitável serem estabelecidas em sentido oposto, pelo

Taking into account the theoretical framework we have presented as relevant for understanding the organization, expression and social impact of these civic movements, grounded on