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Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 3 8 ( 1 ) 6 7 -6 8 :, jan-fev, 2 0 0 5
COMUNICAÇÃO/COMMUNICATION
1 . Labo rató rio de Imuno lo gia Clínic a do Departamento de Imuno lo gia da Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, SP. Co mitê de étic a de Pesquisa e Pó s-Graduaç ão da UNOESTE – Área de Saúde. Número do pro c esso no c o mitê de étic a 0 9 7 /0 2 Órgão Financ iado r: Departamento de Pesquisa e Pó s-Graduaç ão .
En de r e ço par a cor r e spon dê n ci a: Dr.Luiz Euribel Prestes Carneiro . Rua Jo sé B o ngio vani 7 0 0 , 1 9 0 5 0 -9 0 0 Presidente Prudente, SP, B rasil. Tel: 5 5 1 8 2 2 9 -1 0 8 4
e-mail: luiz@ farmac ia.uno este.br Rec ebido para public aç ão em 2 0 /2 /2 0 0 4 Ac eito em 1 /1 1 /2 0 0 4
Determinação de anti-estreptolisina “O” e proteína C reativa
entre escolares do município de Laranjal, PR
Determination of antistreptolysin “O” and C-reactive protein
among school children of Laranjal, PR
Luiz Euribel Prestes-Carneiro
1, Eloáh dos Santos Lopes Acêncio
1e Andréa Cristine de Souza do Carmo Pompei
1RESUMO
Pa ra a d e te rm i n a ç ã o d e a n ti - e stre p to li si n a “O” e p ro te í n a C re a ti va , n o m u n i c í p i o d e La ra n ja l- PR, f o ra m a n a li sa d o s so ro s d e 4 1 1 e sc o la re s, e n tre 5 a 1 6 a n o s. Pa ra a n ti - e stre p to li si n a “O”, 1 3 ,6 % ti ve ra m tí tu lo s e le va d o s e 5 ,1 % f o ra m re a ti vo s p a ra p ro te í n a C re a ti va . Nã o f o ra m o b se rva d a s d i f e re n ç a s e m re la ç ã o a o se x o e f a i x a e tá ri a .
Pal avr as-chave s: An ti - e stre p to li si n a “O”. Pro te í n a C re a ti va . Fe b re re u m á ti c a .
ABSTRACT
Fo r a n ti stre p to lysi n “O” a n d C- re a c ti ve p ro te i n d e te rm i n a ti o n , c a rri e d o u t i n La ra n ja l- PR, we a n a lyze d th e se ru m o f 4 1 1 sc h o o l c h i ld re n a ge d f ro m 5 to 1 6 . Fo r a n ti stre p to lysi n O, 1 3 .6 % h a d e le va te d ti te rs a n d 5 .1 % w e re re a c ti ve f o r C- re a ti ve p ro te i n . No d i f f e re n c e s re la te d to a ge o r se x we re o b se rve d .
Ke y-words: An ti stre p to lysi n “O”. C- re a c ti ve p ro te i n . Rh e u m a ti c f e ve r.
Os Stre pto co ccus pyo ge ne s ( estreptococo
β
-hemolítico do grupo A) são importantes bactérias patogênicas gram-positivas, que c olonizam princ ipalmente a orofaringe e a pele, sendo responsáveis por proc essos infec c iosos supurativos e não supurativos. A febre reumátic a ( FR) e a glomerulonefrite pós-estreptoc óc ic a ( GN) são seqüelas não supurativas da infec ç ão c ausada por S. pyo ge n e s4.Embora possa oc orrer em qualquer fase da vida, a infec ç ão estreptoc óc ic a é mais freqüente em indivíduos entre 5 e 1 5 anos. Esta também é a faixa etária de maior inc idênc ia da FR, pois c orresponde ao período de maior susc eptibilidade às infec ç õ es do tr ato r espir ató r io super io r1 3, que são mais
freqüentes em comunidades pobres e rurais, do que em centros urbanos e indivíduos de c lasse média2 6 8. A anti-estreptolisina
“O” ( ASO) é o teste laboratorial mais c omumente utilizado para determinar uma infec ç ão anterior por S. pyo ge n e s e seu estado evolutivo, enquanto que, a determinaç ão daveloc idade de hemo ssedimentaç ão sanguíne a ( VHS) e a pr o te ína C
r e ativa ( PCR) , po de m indic ar um a r e aç ão inflam ató r ia r e c e nte . Em c o nj unto , po de m se r utilizadas e m e studo s e pide m io ló gic o s , a ux ilia n do ta n to n a in ve s tiga ç ã o da infec ç ão po r S. p yo ge n e s, quanto no diagnó stic o da FR1 5.
O objetivo deste trabalho foi a determinação dos níveis de ASO e PCR entre escolares do município de Laranjal-PR, localizado na região central do Estado do Paraná, apresentando clima frio, úmido e geografia montanhosa, sendo formado basicamente por trabalhadores rurais e pessoas provenientes de assentamentos do Instituto Nacional de Colonização Agrária ( INCRA) .
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Pr estes- Car neir o LE e t al
um te ste e m lâmina. As r e aç õ e s po sitivas ( aglutinaç ão ) , indic adas pela presenç a de antic orpos anti-estreptolisina “O” c om taxa igual ou superior a 2 0 0 UI/ml, foram c onfirmadas e tituladas através de reaç ão de hemólise ( Estreptolisina “O”-B io lab-Mér ieux SA-Jac ar epaguá-RJ) . As r eaç õ es negativas ( s us p e n s ã o h o m o gê n e a ) , in dic a da s p e la a us ê n c ia de antic orpos anti-estreptolisina “O”, ou presenç a de uma taxa inferior a 2 0 0 UI/ml. Estes valores de referênc ia são definidos c omo limite patológic o, uma vez que a ASO se eleva ac ima de 2 0 0 UI /m l e m 8 0 % d a s i n fe c ç õ e s p o r S. p y o g e n e s, espec ialmente em c rianç as entre 5 e 1 5 anos1 4. A pesquisa
da P CR ( P CR - B i o l a b - Mé r i e u x S A- J a c a r e p a gu á - R J ) fo i realizada em lâmina. As reaç ões positivas (
≥
7 mg/L) foram diluídas e o título determinado. A análise da assoc iaç ão entre o s grupo s fo i feita pelo teste de qui-quadrado (χ
2) , c o msignific ânc ia estatístic a determinada se p
≤
0 ,0 5 , utilizando-se o GraphPad Software, Prism 3 .0 ( San Diego, CA) .Dos 4 1 1 indivíduos pesquisados, 5 6 ( 1 3 ,6 %) apresentaram títulos elevados de ASO, superiores a 2 0 0 UI/ml ( média dos título s= 4 0 0 UI/ml) e 3 5 5 ( 8 6 ,4 % ) apr e se ntar am título s inferiores a 2 0 0 UI/ml, compondo o grupo dos pacientes não reagentes ( Tabela 1 ) .
região, aliados ao baixo poder sóc ioec onômic o da populaç ão. Essa maio r pr e se nç a e m c lasse s mais po b r e s, po de se r e x plic a da pe la s c o n diç õ e s in a de q ua da s de h a b ita ç ã o , d e pr o m is c uida de e de c o n tá gio pe la s a glo m e r a ç õ e s domic iliares, favorec endo a transmissão do estreptoc oc o 9.
Em Laranjal, apenas 2 7 % dos domic ílios permanentes têm abastec imento de água potável e não há rede de esgotos. B have et al2 enc ontraram títulos elevados para ASO em 1 5 ,8 %
das c rianç as entre 9 -1 2 anos e em 1 6 ,7 % de adultos jovens c om baixo poder sóc ioec onômic o na Índia. Outros autores relataram que títulos elevados de ASO oc orreram em mais de 8 0 % de esc olares c om idade entre 5 e 1 5 anos de idade c o m faringite po r S. p yo ge n e s3 4 8. No B rasil, Silva et al7,
investigando as características da FR em crianças, verificaram que 6 3 ,5 % apresentaram títulos elevados de ASO.
Nossos resultados, por apresentarem uma perc entagem signific ativa de esc olares c om títulos elevados de ASO, aliados às c ondiç ões sóc ioec onômic as, c limátic as e geográfic as da r e gião pe r mite m suge r ir q ue me didas pr o filátic as se j am tomadas, prevenindo o aumento na c omunidade de indivíduos infec tados por S. p yo ge n e s.
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9 . Sto llerman GH. Rheumatic fever. Lanc et 3 4 9 : 9 3 5 -9 4 2 , 1 9 9 7 . Tabela 1 - Determin ação de ASO e PCR correlacion adas ao gên ero, em
soros de pacien tes do mu n icípio de Laran jal-PR.
ASO PCR
reagente não reagente reagente não reagente Total
Sexo n° % n° % n° % n° % n° %
Masculino 33 8,0 177 43,1 11 2,7 199 48,4 210 51,1
Feminino 23 5,6 178 43,3 10 2,4 191 46,5 201 48,9
Total 56 13,6 355 86,4 21 5,1 390 94,9 411 100,0
ASO: χ2 = 1.59 p = 0.2 PCR: χ2 = 0.01 p = 0.9
Em relação à dosagem de PCR, 2 1 ( 5 ,1 %) dos escolares apresentaram reação positiva, Tabela 1 , sendo que 1 0 ( 4 7 ,6 %) resultaram em concentrações de 7 mg/L e 1 1 ( 5 2 ,4 %) resultaram em concentrações superiores. Não foram verificadas diferenças significativas quanto ao gênero e faixa etária, tanto em relação aos níveis de ASO, quanto à dosagem de PCR, o que está de acordo com os dados revistos por Stollerman9.