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A cidade das chaminés. História da industrialização de pesqueira

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BETÂNIA FLÁVIA CAVALCANTI GALINDO

Orientador: José Raimundo Oliveira Vergolino, Ph.D.

Dissertação apresentada como requisito

complementar para obtenção do grau de Mestre

em Administração, do Centro de Pesquisa e

Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa

Viagem.

(2)

AGRADECIMENTOS

Foi um trabalho árduo, mas que me fez despertar para a história de minha cidade e

rememorar a época maravilhosa que em Pesqueira vivi.

Sem a importante ajuda de algumas pessoas este trabalho jamais poderia ser

realizado, por isso, a essas pessoas o nosso sentimento de gratidão é imenso.

Agradeço inicialmente ao meu orientador Prof. Raimundo Vergolino, que com seu

criterioso padrão fez com que eu buscasse ao máximo o aprimoramento da dissertação sem,

contudo, alterar a afabilidade com que me tratou.

Agradeço ao Prof. Olímpio Galvão, pelo constante estímulo que me ofereceu,

fazendo-me crer no êxito da realização do curso.

Aos ilustres professores Fernando Dias e Augusto Oliveira, que muito contribuíram

com o meu aprendizado.

A todos aqueles que me ofereceram subsídios através de material e depoimentos, o

que possibilitou o enriquecimento do trabalho.

À Faculdade Boa Viagem, da qual faço parte do quadro, pela aplicada realização do

mestrado.

Agradeço, por fim, aos meus pais, meu marido, familiares e amigos, que sempre me

(3)

Dedico esta dissertação a uma pessoa

muito especial, Ir. Angélica de Carvalho,

minha mestra e amiga, que representa

todos aqueles que contribuíram para

(4)

Eu ainda era criança

E já me acostumara a acordar Com o apito lamentoso das fábricas Que era o despertador de uma cidade Que sempre cheirou a doce.

(5)

RESUMO

Este trabalho estudou a história-econômica de Pesqueira, proeminente

município do interior pernambucano, que durante cerca de um século, por meio de suas

indústrias alimentícias, tornou-se símbolo de pioneirismo e progresso. Dentro desse contexto

examinou-se o surgimento da industrialização brasileira, na qual o município de Pesqueira

representa um capítulo sui generis, pois o processo industrial da cidade ocorreu concomitantemente com o período de desenvolvimento da indústria nacional, mas com fatores

que a diferenciaram, principalmente, da forma inicial da industrialização nordestina.

Pesqueira, na sua trajetória agroindustrial de doces e de tomate, gerou uma transformação

sócio-econômica singular no Agreste pernambucano, propiciando conseqüências positivas no

cenário econômico do Estado. Os produtos fabris do município tornaram-se conhecidos

nacionalmente e também mundialmente e até os anos de 1950 representava uma das indústrias

mais conceituadas do ramo alimentício. Contudo, da metade do século XX em diante,

Pesqueira, pela soma de vários aspectos negativos, sofreria com o declínio de sua

industrialização. A investigação sobre a origem, apogeu e decadência do processo industrial

pesqueirense se faz, sobretudo, pelos registros históricos, dados econômicos e entrevistas

realizadas com os mais variados citadinos e colaboradores. O objetivo primordial desta

dissertação, portanto, é mostrar a trajetória do município de Pesqueira desde o aparecimento

da atividade industrial até o seu encerramento e evidenciar, ou tornar mais compreensível, a

importância da atividade industrial para o desenvolvimento de Pesqueira e o fato do

fechamento das fábricas ter ocasionado o declínio econômico do município.

(6)

ABSTRACT

This dissertation studied the economic history of Pesqueira, prominent city in

the Pernambuco’s countryside, which for nearly a century, through their food industries,

became a symbol of pioneering and progress. Within this context the emergence of Brazilian

industrialization was examined, in which Pesqueira is a particular chapter, hence the

industrialization process in the city occurred concurrently with the period of the national

industry development, and also different from, the initial form of Brazilian northwest

industrialization. Pesqueira, agribusiness of jams and tomatoes, generated a unique

socio-economic transformation in Pernambuco’s semi-arid, positive influence on the socio-economic

scenario of the state. The products manufactured in the city became known nationally and

globally and until the 1950’s represented one of the most respected the food industry.

However, on the second half of the twentieth century, Pesqueira, due to several negative

factors, would suffer with the decline of its industries. The study on the origin, peak and

decline of the industrial process of the city was made, above all, by historical records,

economic data and interviews conducted with the most varied city dwellers and collaborators.

The primary goal of this dissertation, therefore, is to show the trajectory of the municipality of

Pesqueira since the advent of industrial activity until its closure and present, or make it more

understandable, the importance of industrial activity for the development of Pesqueira and the

fact of the closure of factories caused the decline of the city economy.

(7)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 11

2. PERNAMBUCO E SEU PROCESSO INDUSTRIAL 15

2.1. Uma Alusão ao Início da Industrialização Brasileira 15

2.2. A Industrialização em Pernambuco 23

2.3. O Agreste Pernambucano e sua Base Econômica 33

3. PESQUEIRA: DO COMÉRCIO À INDÚSTRIA 40

3.1. Nas Origens de Ororubá 40

3.2. A Preeminência Mercantil de Pesqueira (1870-1920) 52

3.3. O Início da Industrialização do Município 60

4. A INDUSTRIALIZAÇÃO DE VENTO EM POLPA 67

4.1. Período Áureo da Industrialização Pesqueirense (1910-1950) 67

4.2. Pesqueira se Destaca no Interior Pernambucano 80

4.3. A Influência da Economia na Cultura 93

5. O AROMA DAS CHAMINÉS DESVANECE 107

5.1. A Indústria Começa a Agonizar 107

5.2. Principais Fatores da Derrocada 116

5.2.1. O Contexto Nacional 116

5.2.2. O Solo, a Água e outros Fatores 120

6. CONCLUSÃO 127

FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131

I. Jornais de Pesqueira 131

II. Arquivos Públicos 132

III. Referências Bibliográficas 133

(8)

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BANDEPE Banco do Estado de Pernambuco

BNB Banco do Nordeste do Brasil

CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco

CPATSA Centro de Pesquisas do Trópico Semi-Árido

D. Dona

Dr. Doutor

EMBRAPA Instituto Brasileiro de Pesquisa Agropecuária

ESG Escola Superior de Guerra

FAO Food and Agriculture Organization

GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IRESI Instituto de Relações Sociais e Industriais

N. S. Nossa Senhora

PSD Partido Social Democrático

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela I (2) – Brasil – Extensão da Rede Telegráfica (1861-1907) 18

Tabela II (2) – Brasil – Estrutura Industrial (1850-1919) 19

Tabela III (2) – Produção e Exportação de Açúcar em Pernambuco (1856-1919) 25

(Quantidades médias anuais) Tabela IV (2)–Vendas de Açúcar de Pernambuco no Comércio Interno (1856-1928) 27

(Quantidades médias anuais) Tabela V (2) – Distribuição dos Investimentos Pernambucanos (1873-1930) 28

Tabela VI (2) – Estabelecimentos Industriais de Pernambuco (1907) 30

Tabela VII (2) – Indústrias Manufatureiras no Brasil (1907 e 1920) 32

(Alguns estados brasileiros) Tabela VIII (2) – Produção Algodoeira em Pernambuco (1865-1915) 36

Tabela IX (2) – Municípios por microrregiões do Agreste de Pernambuco 39

Tabela X (3) – Escravos Pertencentes a Antônio dos Santos Coelho 47

(Fazendas de sua propriedade – 1822) Tabela XI (3) – Estabelecimentos Comerciais de Pesqueira (1902-1903) 57

Tabela XII (3)–Expansão das Estradas de Ferro em Pernambuco (1851-1930) 58

Tabela XIII (3) – Indústrias de Doces em Pernambuco (1909) 66

Tabela XIV (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 84

(Gado existente nos estabelecimentos rurais por espécie, por municípios) Tabela XV (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 85

(Estabelecimentos rurais recenseados possuidores de mecanismos de transformação ou beneficiamento de produtos agrícolas, por municípios) Tabela XVI (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 85

(Quadro demonstrativo dos descaroçadores de algodão, por municípios) Tabela XVII (4) – Ensino Primário Municipal em Pernambuco (1927) 86

(10)

Tabela XIX (4) – População dos Municípios de Pernambuco (1921 e 1927) 87

Tabela XX (4) – Número e Percentagens de Eleitores nos Municípios de Pernambuco 88 (1935)

Tabela XXI (4) – Prédios Urbanos Computados em Pernambuco, por Municípios (1940) 89

Tabela XXII (4)–Arrecadação das Coletorias Federais do Estado de Pernambuco 90 (1927-1931)

Tabela XXIII (4)–Arrecadação das Coletorias Federais do Estado de Pernambuco 90 (1932-1936)

Tabela XXIV (4) – Exportação (País) dos Principais Produtos do Estado de Pernambuco, 91 Segundo o Valor (1934-1936)

Tabela XXV (4) – Principais Jornais de Pesqueira, Criação por Década (1900-1950) 97

Tabela XXVI (5) – Recenseamento do Município de Pesqueira (1937) 111 (Funções exercidas pelos munícipes)

(11)

1.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho destaca o interesse em estudar a história econômica do

município de Pesqueira, cujo fenômeno industrial fez emergir no Agreste pernambucano uma

cidade que durante décadas foi sinônimo de inovação e pioneirismo.

O estudo tem como objetivos precípuos pesquisar o processo de

desenvolvimento industrial do município e conhecer as principais causas que provocaram o

fim desse processo, extirpando de Pesqueira os cheiros de doce e de tomate que aromatizavam

a cidade, encerrando sua prosperidade econômica.

Quanto à natureza histórica, a dissertação visa examinar a trajetória do

município de Pesqueira desde o aparecimento da atividade industrial, surgida a partir de uma

iniciativa particular e local, até a desregionalização da indústria alimentícia e as demais

causas que provocaram, paulatinamente, o fim da industrialização do município.

A apreciação econômica do trabalho, por sua vez, estende o conhecimento

histórico à importância da atividade industrial para o avanço de Pesqueira e o fato do

fechamento das fábricas ter ocasionado o declínio econômico do município, encerrando o

processo industrial que tornou a cidade símbolo de progresso e desenvolvimento.

A manifesta dissertação foi uma opção pela escolha de um tema regional e de

maior satisfação pessoal. Abordar a origem, o sucesso e o encerramento da industrialização de

Pesqueira, pioneira e influente em Pernambuco e também no Nordeste, acima de tudo se dá

pelo sentimento de carinho do qual a cidade é merecedora.

Pesqueira, nascida no sopé da Serra de Ororubá, teve uma grande importância

agroindustrial para o Estado de Pernambuco, que perdurou por cerca de um século,

estimulando toda uma economia e, por via de conseqüência, o desenvolvimento de uma vasta

(12)

A colonização da Serra de Ororubá, antes chamada de Serra de Urubá pelos

índios ararobás, na qual se situa a cidade de Pesqueira, inicia-se pelos idos de 1654, com a

doação de uma extensa parte do Agreste pernambucano feita pelo rei de Portugal a João

Fernandes Vieira, como recompensa pela sua contribuição na expulsão dos holandeses.

A origem do município de Pesqueira se deu no século XVIII (1762), quando

Cimbres, denominada Aldeia de Ararobá, tornou-se a sexta Vila oficializada em Pernambuco.

Ao pé da Serra de Ororubá, no ano de 1800, Manoel José de Siqueira, anos depois

sucessivamente sargento-mor e capitão-mor, fundou uma fazenda chamada Poço do Pesqueiro

e nela edificou uma grande casa para sua residência, senzalas para os escravos e uma pequena

Igreja sob a invocação de Nossa Senhora Mãe dos Homens.

A fazenda logo se tornou parada obrigatória para os brejeiros e viajantes e

numa posição privilegiada pela condição de sua localização à margem da estrada passou a

povoado e rapidamente surgiu uma nova cidade, Pesqueira, que se tornou um conhecido

entreposto comercial, gerando importantes relações mercantis Recife-Agreste-Sertão.

Em 1880, Pesqueira passou à categoria de cidade, chamada de Santa Águeda

de Pesqueira, tornando-se a 15ª cidade pernambucana e a primeira do Semi-Árido. Quando se

diz que Pesqueira originou-se casualmente, deve-se justamente ao fato de ter surgido pela

descoberta de um novo caminho para se chegar ao Sertão, através do Vale do Ipojuca,

passando pelo sopé da Serra de Ororubá, na qual se localizava a fazenda Poço do Pesqueiro,

que deu origem ao nome de Pesqueira.

A partir de 1883, quando é empossado o primeiro prefeito do município, a

cidade inicia seu desenvolvimento, estimulado pela atividade mercantil que ali se estabeleceu.

Com a chegada da estrada de ferro em 1907, a atividade comercial de Pesqueira atingiu seu

ponto máximo e em razão de sua força econômica, logo no início do século passado a cidade

contava com serviços impensáveis em outras comunidades interioranas, como uma eficiente

iluminação elétrica, água encanada, serviço telefônico, serviço urbano de bondes de tração

(13)

A partir de 1920, quando os trilhos da estrada de ferro estenderam-se até o

Sertão do Estado, Pesqueira perdeu sua preeminência mercantil regional, que perdurou de

1870 a 1920. Todavia, ao tempo que o comércio declinava, outra atividade econômica

começava a ganhar importância na economia do município: a industrial.

Graças à rápida substituição de uma atividade por outra o desenvolvimento do

município continuou. A economia mercantil de outrora garantiu a formação de um excedente

de capital que possibilitou a transformação da base econômica de Pesqueira do comércio para

a indústria.

Enquanto o Agreste tinha sua economia baseada nas culturas de subsistência,

no plantio de algodão e na pecuária extensiva, surgia na região uma atividade diferenciada,

uma indústria nascida da iniciativa local, que tornou sua atividade industrial, representada

principalmente pela Fábrica Peixe, conhecida mundialmente.

A industrialização pesqueirense confunde-se com a própria história de

surgimento da Fábrica Peixe, pois foi o sucesso dessa indústria que incentivou a instalação de

outras fábricas alimentícias, fazendo da cidade um perímetro industrial.

Com o enfraquecimento da atividade comercial, Dona Maria da Conceição

Cavalcanti de Britto, Dona Yayá, esposa do Capitão Carlos de Britto, comerciante da cidade,

começou de forma artesanal a fabricar doce em tacho doméstico e em fogo cru. A idéia deu

tão certo que dois anos depois, em 1901, a pequena fábrica já exportava doces para Recife.

Daí em diante a fábrica se expandiu e perdeu seu caráter artesanal, tornando-se

verdadeiramente uma indústria, a Peixe, a fábrica que mudou a face da cidade.

Delmiro Gouveia, patrono da industrialização nordestina, chegou a dizer que

muito do que aprendeu deveu-se ao tempo que passou em Pesqueira, observando o espírito

empreendedor dos capitães de indústria daquela localidade.

Outras fábricas doceiras logo surgiram em virtude do crescimento da cidade,

(14)

longo do tempo. A Fábrica Peixe cresceu tanto que instalou filiais no Rio de Janeiro, São

Paulo, Minas Gerais e Recife. Com o sucesso das fábricas, o comércio de Pesqueira também

retomou a grande influência mercantil que tinha na região no século XIX e lá surgiu uma das

casas comerciais mais tradicionais do Estado, as Casas José Araújo.

Pesqueira desenvolvia-se velozmente e em decorrência de seu rápido

crescimento foi cognominada de a “Terra do Doce”, “Cidade das Chaminés” e “Capital do

Tomate”, este último epíteto em virtude de ter sido o primeiro município a produzir o tomate

rasteiro no Brasil, próprio para industrialização, e um dos maiores produtores de tomate em

terras contínuas do mundo.

Contudo, todo o sucesso conquistado até a década de 1950 não garantiu uma

estrutura suficientemente segura para conter os fatores que fizeram com que o ditoso

município de Pesqueira visse sucumbir as suas tradicionais indústrias.

Muitas foram as causas que levaram as fábricas a fecharem suas portas, mas

dentre as principais pode-se destacar as difíceis condições edafo-climáticas; a escassez dos

frutos; o crescimento das pragas, gerando o aumento do custo com adubos e defensivos

agrícolas; o contexto nacional de favorecimento econômico das empresas do Centro-Sul; o

desenvolvimento da fruticultura no Vale do São Francisco, entre outros que, reunidos,

provocaram o fim da atividade agroindustrial do município.

Mediante os objetivos da dissertação sobre o processo industrial de Pesqueira

acredita-se, portanto, que o presente trabalho pode contribuir para a compreensão da formação

econômica do município e para o esclarecimento dos fatores que geraram o fechamento das

(15)

2.

PERNAMBUCO E SEU PROCESSO INDUSTRIAL

2.1. Uma Alusão ao Início da Industrialização Brasileira

O presente trabalho não tem por objetivo investigar a fundo a historiografia da

industrialização do Brasil e de Pernambuco, mas apenas fazer uma abordagem sobre esse

início de processo industrial, com a finalidade, mais adiante, de entender a industrialização de

Pesqueira nesse contexto nacional e estadual.

O Brasil, que durante séculos foi colônia de Portugal, teve como primeiro e

mais valioso produto de exportação o açúcar, que até um pouco mais de meados do século

XVIII seria o principal produto do país, promovendo o seu crescimento econômico e abrindo

as portas para a exportação de outros produtos primários.

Para Celso Furtado houve uma diferença fundamental entre a estrutura

produtiva do Brasil e das colônias Inglesas na América do Norte. Enquanto nas colônias

inglesas a agricultura era distribuída em pequenas propriedades e havia muitos comerciantes

urbanos, no Brasil a agricultura era feita em grandes latifúndios que exploravam a

escravidão1, ou seja, à proporção que a renda era mais bem distribuída na América do Norte,

houve o surgimento de um mercado interno que possibilitou a estrutura para desenvolver

outros setores, como os ramos do comércio e da indústria. Ao tempo que no Brasil, a grande

concentração de riqueza pelos latifundiários limitou o mercado interno e impediu que a

economia do país tivesse abertura para outras atividades.

O Brasil teve três principais ciclos econômicos: o da cana-de-açúcar, do ouro e

do café. Este último se tornou o principal produto de exportação no final do século XIX e foi

________________________

1 FURTADO, Celso.

(16)

o produto responsável, em 1891, por 63% das exportações brasileiras 2 e , sem dúvida, foram

as exportações de café que geraram o crescimento da economia brasileira nas décadas finais

do século XIX, o que formou o acúmulo de capital para o posterior desenvolvimento da

indústria, principalmente das indústrias do Sul e do Sudeste, como bem observa o economista

Werner Baer:

“A força básica que apoiou esse desenvolvimento industrial foi o incremento

cafeeiro baseado na mão-de-obra imigrante livre. Investimentos significativos

voltados para a infra-estrutura que atendia ao setor cafeeiro (estradas de ferro,

usinas elétricas, etc.), financiados por fazendeiros e capital estrangeiro,

proporcionaram o ambiente para uma produção industrial local maior e aos poucos

criaram uma demanda para peças de reposição produzidas internamente. A grande

população imigrante empregada nos setores cafeeiros e outros a eles relacionados

gerou um enorme mercado para bens de consumo baratos” 3.

O desenvolvimento industrial do país, contudo, já poderia ter engrenado bem

antes de fins do século XIX, não fosse o interesse do governo português de impedir esse

progresso industrial para manter a colônia em sua dependência econômica e política.

Na primeira metade do século XVII, tinham sido fundadas no Rio de Janeiro

algumas fábricas de tecido, especialmente de algodão, veludo e seda, bordado, corda, bem

como azeite de peixe, sabão, chapéu de palha, objetos de louça, entre outras. Porém, o

governo português não via com bons olhos os progressos de sua colônia e, aos poucos, foi

instituindo decretos e ordenações que limitavam ou mesmo extinguiam essas primeiras

tentativas de industrialização. Tanto que, em 1730, Portugal determinou a expulsão de todos

os joalheiros dos distritos de minas do Brasil, para impedir a criação local de jóias, o que

prejudicaria as rendas fiscais do Reino e, em 1785, o governo português ordenou o

fechamento de todas as fábricas da colônia, com exceção das de confecção de roupas para os

escravos, alegando que o país deveria se preocupar em explorar os seus recursos naturais 4.

________________________

2 PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1970, p. 160. 3

in: A Economia Brasileira. 2ª ed. São Paulo: Nobel, 2003, p. 47.

4

(17)

A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, foi o marco

histórico que iria mudar definitivamente o desenvolvimento econômico do país. Dentro de

poucos anos da chegada da Corte começaram a surgir pequenos estabelecimentos fabris,

inicialmente no Rio de Janeiro, mas foi a década de 1840 que assinalou a expansão econômica

brasileira, com a importação de maquinário trazido da Europa para modernizar o sistema

fabril 5.

Nas primeiras décadas do século XIX existiam poucas oficinas no Brasil e, em

geral, elas se restringiam ao setor têxtil, de papel, couros, gêneros alimentícios e fundições de

metais. Várias empresas foram sendo criadas a partir da década de 1840, pois o país oferecia

isenção de taxas para as empresas que importassem matéria-prima e maquinário e, com esses

privilégios especiais, muitas foram fundadas, principalmente no ramo têxtil. O número de

empresas têxteis em funcionamento cresceu na primeira metade da década de 1870,

precipuamente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo 6.

A partir da década de 1880, com o advento da Proclamação da República, que

trouxe um novo despertar político-econômico, o processo de industrialização do Brasil teve

sua fase de real desenvolvimento, período propício para o surgimento de indústrias de bens de

consumo não-duráveis e os primeiros industriais brasileiros foram importadores que, aos

poucos, começaram também a fabricar os próprios bens no Brasil.

No Nordeste esse desenvolvimento industrial se perfaz inicialmente com a

pouca diversificação fabril, basicamente a partir da exportação de produtos agrícolas, com as

usinas açucareiras, as indústrias têxteis e de alimentos. Em geral, a industrialização nordestina

apoiava-se nas indústrias de açúcar e de tecidos de algodão, mas os estados de Pernambuco e

Bahia, que eram mais desenvolvidos industrialmente do que os demais, destacavam-se

também com outros produtos, como o fumo, a fabricação de chapéus, sabão, velas, cal,

cimento, fundições de metais e produtos químicos.

________________________

5 “O anno de 1840, marca uma nova era de expansão econômica, devida à substituição das primitivas machinas rudimentares

pela machina a vapor, assim como à introducção de habeis artífices trazidos da Europa”. Ibidem, p. 331. Ver também: STEIN, Stanley. Origens e Evolução da Indústria Têxtil no Brasil – 1850/1950. Rio de Janeiro: Campus, 1979, p. 28.

6

(18)

Há casos peculiares, como ocorreu no município de Pesqueira, cujo início de

seu processo industrial teve um aspecto diferenciado, porque além da pouca necessidade de

importação de insumos, houve também a acumulação de um capital mercantil que serviu de

impulso ao surgimento da atividade industrial, por ter sido, o município, um entreposto

comercial de grande importância no Agreste pernambucano.

Outra contribuição ao desenvolvimento do Brasil, vinculada à industrialização,

a partir da década de 1880, foi o crescimento da rede telegráfica, tanto em extensão como pelo

aumento progressivo do número de estações, o que facilitou o intercâmbio dos

estabelecimentos produtivos, como se pode observar na tabela abaixo. Em Pernambuco, a

comunicação telegráfica chegou em abril de 1873, em Recife.

TABELA I BRASIL

EXTENSÃO DA REDE TELEGRÁFICA (1861-1907)

ANOS EXTENSÃO

KILOMÉTRICA ESTAÇÕES

1861 65 10

1865 187 23

1870 2.080 51

1874 4.458 81

1881-1885 42.207 740

1886-1890 54.862 908

1891-1895 78.134 1.405

1896-1900 101.772 1.888

1901-1907 175.199 3.333

Fonte: IBGE. Séries Estatísticas Retrospectivas. O Brasil, suas Riquezas Naturais, suas Indústrias. Edição fac-similar (original publicado em 1909). V. 2. Rio de Janeiro: IBGE, 1986, p. 232.

De acordo com o recenseamento industrial do Brasil de 1920, como se observa

na tabela seguinte, em meados da década de 1880 havia cerca de 248 estabelecimentos

industriais no país, que quadruplicou no início do século XX e que passou para 5.936

(19)

industrial brasileiro foi intenso e com o predomínio de indústrias leves, de produtos têxteis,

calçados, roupas e indústrias alimentícias 7.

TABELA II BRASIL

ESTRUTURA INDUSTRIAL (1850-1919)

ÉPOCA DA FUNDAÇÃO

N° DE

ESTABELECIMENTOS INDUSRIAIS

N° DE OPERÁRIOS

1850 - 1884 353 26.874

1885 - 1889 248 24.369

1890 - 1894 452 31.123

1895 - 1899 472 14.516

1900 - 1904 1.080 19.170

1905 - 1909 1.358 34.362

1910 – 1914 3.135 53.992

1915 - 1919 5.936 63.950

TOTAL 13.034 268.356

Fonte: Recenseamento do Brasil, 1920, v. 5, 1ª parte, p. 69.

Em relação à tabela II, verifica-se ainda que as duas primeiras décadas

anteriores à Primeira Guerra Mundial foram fundamentais para o crescimento da indústria

brasileira, já que na primeira década do século XX a libra esterlina não estava tão valorizada,

o que facilitou a importação de maquinário. Outro aspecto que contribuiu para o avanço

industrial do país no início do século XX foi a rápida expansão das linhas férreas. As

ferrovias foram muito importantes na comercialização de mercadorias dentro espaço regional,

pois as estradas ou não existiam ou eram extremamente precárias e o único outro meio de

transporte era a cabotagem.

Justamente nesse período desenvolveu-se a indústria doceira pesqueirense e se

quer, com isso, demonstrar como o ambiente econômico nacional era favorável ao surgimento

de novas indústrias, principalmente no setor alimentício.

________________________

7

(20)

A indústria brasileira, portanto, apresenta dois aspectos marcantes: o primeiro,

onde há a predominância de indústrias de bens de consumo, como as têxteis e de alimentos,

totalizando as duas 43,7% para o ano de 1907 e, em 1919, 50,1% das indústrias nacionais. A

segunda característica seria uma industrialização de cunho descentralizado, que criou uma

reserva de mercado regional, devido aos altos custos de transporte e a aplicação de impostos

interestaduais sobre a circulação de mercadorias 8.

A partir de meados do século XIX, portanto, a industrialização tornou-se uma

atividade essencial no desenvolvimento econômico do país e, sem dúvida, é muito precisa a

prolixa, porém, importante explanação de Simonsen sobre os vários fatores que

caracterizaram a evolução do início da indústria nacional:

“A observação desses vários elementos e de outro que vamos examinar,

indicadores da nossa evolução econômica, permite-nos assim sumariar a situação:

a) na primeira metade do século XIX, a inexistência de fatores favoráveis à

industrialização do Brasil, a política livre-cambista que adotamos, e a

concorrência das manufaturas inglesas, impediram a nossa evolução industrial;

b) entre 1862 e 1885, assinalou-se um período de acentuado progresso. As

exportações ultrapassaram as importações, registrou-se, nessa época, a

instalação de algumas pequenas fábricas, principalmente no Distrito Federal;

mas as atividades agrícolas absorviam, praticamente, todos os capitais e

mão-de-obra disponíveis;

c) no último período do século XIX iniciou-se a grande imigração para as regiões

temperadas do sul do país e em princípios do século XX surgiu a

superprodução cafeeira e um conseqüente refluxo de colonos para as cidades;

d) a decretação, em 1888, do trabalho livre, a maior imigração dos colonos

europeus e a grande cultura cafeeira, determinaram a formação de um mercado

interno de alguma importância para os produtos industriais;

________________________

(21)

e) os progressos da eletricidade e a construção de grandes usinas de energia

elétrica, principalmente em São Paulo e no Distrito Federal, constituíram um

dos fatores essenciais à evolução industrial: fontes de energia barata. O

progresso e o barateamento das máquinas operatrizes permitiram o

estabelecimento de indústrias médias de transformação, baseadas na

disponibilidade dessa energia, em maior número nos dois núcleos – São Paulo

e Rio de Janeiro;

f) criaram-se, dessa forma, no século XX, fatores favoráveis ao desenvolvimento

de determinadas regiões do Brasil; energia elétrica abundante e barata (com

papel semelhante ao que os centros olheiros exerceram na Inglaterra, nos

Estados Unidos e na Alemanha); aparelhamento mecânico e moderno e de

preços relativamente baixos; mercados de certa importância e melhores meios

de transporte, pela construção de estradas de ferro e de rodovias; abundância de

mão-de-obra não absorvida pelas fazendas, então em regime de superprodução;

g) como fenômeno econômico geral, as nossas exportações de produtos agrícolas

deixaram de proporcionar poder aquisitivo externo o suficiente para pagar os

produtos industriais reclamados pelo consumo interno. A baixa do câmbio

brasileiro reflete, em grande parte, a situação de desequilíbrio provocada por

uma população que cresce e se civiliza continuamente, e que não dispõe de

meios de pagamento no exterior, para os produtos que necessita. Essa contínua

depressão das taxas cambiais, passou a ser uma forte emulação para o nosso

desenvolvimento industrial;

h) todos esses fatores geraram afinal, uma situação de fato , apropriada à evolução

industrial de determinadas regiões , em condições, porém, ainda bem diversas

das que se verificaram nos Estados Unidos da América do Norte” 9.

Roberto Simonsen, portanto, não só esclarece como se deu a evolução

industrial brasileira, como assevera que a industrialização tem um papel fundamental na

economia nacional, principalmente pelo seu potencial exportador. Também corrobora com

esse pensamento Douglas North, pois para ele “o crescimento de uma região está intimamente

________________________

9 SIMONSEN, Roberto. Evolução Industrial do Brasil e outros Estudos. São Paulo: Editora Nacional e da USP, 1973, pp.

(22)

vinculado ao sucesso de suas exportações e pode ter lugar, ou como resultado da posição

melhorada das exportações existentes relativamente às áreas competidoras, ou como um

resultado do desenvolvimento de novas exportações” 10. As exportações, por conseguinte,

exerceriam um efeito multiplicador sobre o mercado interno.

No caso específico de Pesqueira, ela insere-se perfeitamente nessas

colocações, pois adotou uma política de comercialização inter-regional, permitindo-lhe um

crescimento constante, já que não havia uma concorrência forte aos seus produtos na época

em que o país começava seu processo industrial, atingindo mercados promissores como o eixo

Rio-São Paulo, o que fez com que houvesse um permanente escoamento de sua produção e,

com isso, houve um efeito multiplicador na economia no município.

O processo industrial brasileiro, portanto, teve até 1920 seu primeiro impulso

industrial que, segundo o censo de 1920, foi de rápida expansão, com a existência de mais de

13.000 mil estabelecimentos industriais e empregando mais de 275.000 mil operários em todo

o país. Isso sem contar com as usinas açucareiras e salinas que não estão inclusas nesses

números e que somariam mais de 460 estabelecimentos, além das pequenas fábricas artesanais

e manufatureiras.

A partir desse período estava consolidada a indústria brasileira, contudo, o

desenvolvimento industrial iria se desenvolver de forma diferente entre as regiões do país,

gerando discrepâncias econômicas e sociais.

__________________________

10

(23)

2.2. A Industrialização em Pernambuco

Falar de Pernambuco é, na verdade, fazer menção a um Estado que sempre foi

sinônimo de pioneirismo e desenvolvimento na história nacional. A economia pernambucana,

alicerçada na atividade açucareira, manteve-se forte por cerca de quatro séculos (1540 a 1900)

e fez do Estado um centro político, acadêmico e cultural.

A exploração da atividade açucareira foi o que fomentou a economia

pernambucana por tão vasto período e garantiu o desenvolvimento do Estado, assim como

estimulou inicialmente à ocupação de seu território 11 e colocou Pernambuco no cenário

econômico nacional.

O crescimento do mercado de açúcar, a partir da segunda metade do século

XVI, constituiu, segundo Furtado, um fator fundamental para o avanço da colonização do

Brasil e isso se deve, particularmente, à contribuição dos holandeses, pois “especializados no

comércio intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os holandeses eram nessa época o

único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de

grandes dimensões para um produto praticamente novo, como era o açúcar” 12.

Entretanto, o açúcar que foi por tanto tempo o ouro pernambucano tornou-se o

seu entrave, pois quando a atividade açucareira entrou em declínio o Estado foi perdendo a

sua primazia, já que não tinha se preparado para diversificar sua economia para outras

atividades. Com a expulsão dos holandeses, o que parecia uma vitória em termos de

recuperação de território, tornou-se um prejuízo econômico para Pernambuco, uma vez que

eles haviam acumulado conhecimento sobre o manejo da cana-de-açúcar e transferiram seus

interesses na atividade açucareira para as Antilhas.

________________________

11

VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides. A Economia de Pernambuco no Século XXI: Desafios e Oportunidades para a Retomada do Desenvolvimento. Recife e Brasília: Edições Bagaço, 2000, p. 29.

(24)

“É provável entretanto que as transformações da economia antilhana

tivessem ocorrido muito mais lentamente, não fora a ação de um

poderoso fator exógeno a fins da primeira metade do século XVII. Esse

fator foi a expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. Senhores da

técnica de produção e muito provavelmente aparelhados para a

fabricação de equipamentos para a indústria açucareira, os holandeses

se empenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante

núcleo produtor de açúcar. É tão favorável a situação que encontram

nas Antilhas francesas e inglesas que preferem colaborar com os

colonos dessas regiões a ocupar novas terras e instalar por conta

própria a indústria” 13.

A economia açucareira foi responsável por uma importante etapa de expansão

econômica em Pernambuco. No entanto, como a produção de açúcar era a base da economia

nordestina e como os investimentos eram, em geral, direcionados para essa atividade, isso

dificultou a abertura de outros caminhos para dinamizar a economia pernambucana.

Além disso, é preciso ressaltar que a atividade açucareira demorou muito para

se modernizar. Os engenhos utilizavam obsoletas formas de produção e o transporte do açúcar

era feito por meio de animais e barcaças, o que só começou a ser modificado a partir da

segunda metade do século XIX, com a implantação das estradas de ferro. Por outro lado, o

método ultrapassado de produção dos engenhos garantia uma grande absorção de

mão-de-obra, que viria a ser largamente diminuída com o progresso industrial do século XX 14.

Um único produto básico foi responsável pelo bom desempenho da economia

pernambucana por séculos. O açúcar e seus derivados sustentavam a economia do Estado e

graças à exportação do produto outros setores, mesmo que lentamente, foram

desenvolvendo-se, gerando empregos e melhorias na região. Se tomarmos como exemplo os anos de 1886-90,

verificamos que as exportações foram de aproximadamente 120 mil toneladas, o que

______________________

13 Ibidem, p. 25.

14 GUIMARÃES NETO, Leonardo. Introdução à Formação Econômica do Nordeste. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana,

(25)

demonstra a força da economia açucareira na época 15.

TABELA III

PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR EM PERNAMBUCO (1856-1910) (Quantidades médias anuais)

ANOS PRODUÇÃO (ton) EXPORTAÇÃO (ton)

1856-1860 67.339 48.523

1861-1865 57.357 46.741

1866-1870 54.372 63.229

1871-1875 98.231 78.699

1876-1880 116.379 91.882

1881-1885 133.847 103.889

1886-1890 156.321 119.227

1891-1895 173.442

-1896-1900 134.326 40.840

1901-1905 142.015 11.701

1906-1910 141.624 32.993

Fonte: EISEMBERG, Peter L. Modernização sem Mudanças. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977, pp. 42-44.

Depreende-se, da tabela acima, que a partir de 1896 as exportações começam a

declinar gradativamente e isso se deve à venda do açúcar no mercado interno, pois enquanto a

produção do açúcar crescia, as exportações caiam. O aspecto positivo é que a atividade

açucareira passou a depender menos das variações do mercado internacional, mas,

negativamente, ao longo do tempo, a produção pernambucana de açúcar passou a concorrer

com outras regiões do país 16.

O gradual declínio da economia açucareira provocou uma grande queda na

industrialização de Pernambuco, pois o cluster do açúcar, que era muito bem organizado e envolvia boa parte das atividades do Estado, respondia por uma grande parcela do PIB

pernambucano e por isso tão forte foi o impacto econômico devido à diminuição da

comercialização do produto e seus derivados.

________________________

15

VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides. Op. Cit., p. 32.

16

(26)

Para o bom desempenho do produto havia toda uma estrutura, ou melhor, toda

uma cadeia de produção organizada: plantação de algodão no Semi-Árido; o algodão

abastecia as fábricas de tecido que produziam, entre outras coisas, a sacaria necessária para

embalar o açúcar; fábricas metalmecânicas e técnicos especializados nesse tipo de serviço;

crescimento do comércio no varejo e outras atividades paralelas. Pernambuco era

reconhecidamente uma força econômica nacional.

A industrialização do açúcar, por conseguinte, teve também um importante

papel no desenvolvimento de centros urbanos próximos às áreas produtoras, inclusive,

conforme Singer, o aparecimento da indústria em Recife está totalmente ligado à atividade

açucareira ao:

a) criar mercado para certos bens de produção, como cal, sacaria,

veículos, entre outros;

b) ampliar o mercado de bens de consumo, ao provocar mudanças nas

relações na zona rural, com a conseqüente expansão da economia

de mercado em detrimento do setor de subsistência;

c) expulsar do campo levas de trabalhadores que iriam constituir, em

Recife, um verdadeiro Exército Industrial de Reserva 17.

O maior erro, portanto, se é que assim se pode colocar, já que o declínio do

açúcar em Pernambuco se deve a uma soma de fatores, foi mudar o destino da produção

açucareira, que a partir de 1890 “(...) passou a ser vendida mais e mais no mercado interno e

menos para o resto do mundo” 18.

Celso Furtado, ao elaborar a pedido do então Presidente Juscelino Kubitschek

um estudo sobre o Nordeste, em 1959, que posteriormente originou a SUDENE, defendia que

as exportações poderiam alavancar a economia nordestina:

________________________________

17 SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. São Paulo: Editora Nacional, 1974, pp. 307-308. 18 VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides.

(27)

“No Nordeste, como em toda economia de baixo nível de

desenvolvimento, o setor externo – isto é, as exportações e as

importações – ocupa posição fundamental. Com efeito, quanto menos

desenvolvida é uma economia, menos diversificada é sua estrutura

produtiva, e, portanto, maior é a dependência do exterior para o

suprimento de todos aqueles bens (de consumo ou de inversão) cuja

produção apresenta maior complexidade tecnológica. Não é por outra

razão que, para aumentar a oferta desses bens, mister se torna aumentar

as exportações, ou diversificar a estrutura produtiva pela

industrialização” 19.

TABELA IV

VENDAS DE AÇÚCAR DE PERNAMBUCO NO COMÉRCIO INTERNO (1856-1928) (Quantidades médias anuais)

ANOS TONELADAS

1856-1860 12.177

1861-1865 10.628

1866-1870 10.484

1871-1875 13.392

1876-1880 17.241

1881-1885 21.581

1886-1889 21.581

1897-1901 24.767

1902-1917 78.016

1918-1920

-1921-1925 87.275

1926-1928 114.810

1926-1928 185.070

Fonte: GUIMARÃES NETO, Leonardo. Op. Cit., p. 59.

A industrialização em Pernambuco, como o caso do Nordeste, apresentou um

aspecto marcante, como se percebe na tabela acima, voltou-se praticamente para o mercado

interno e “orientando seu desenvolvimento quase exclusivamente para os mercados internos

________________________

19 in: GTDN (Estudo elaborado pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste). Uma Política de

(28)

do país, o Nordeste desperdiçou, em larga medida, as oportunidades oferecidas pelo comércio

internacional” 20.

A economia açucareira pernambucana ficou condicionada ao mercado interno,

especialmente aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e, embora Pernambuco tenha um

aumento em sua produção açucareira no período de 1902-1928, como demonstrado na tabela

IV, não acompanha o avanço industrial do Sudeste, apoiado pelos excelentes resultados da

economia cafeeira desde o final do século XIX.

Na tabela que segue, observa-se que entre 1870 e 1930 houve uma grande

realização de investimentos em Pernambuco, principalmente na malha ferroviária, no porto e

no setor industrial. As ferrovias desempenharam o papel de conexão das regiões interioranas

ao porto do Recife, interligando especialmente as regiões da Zona da Mata (produção de

açúcar) e do Agreste (produção de algodão) com a zona portuária, que era a via de

escoamento dos produtos para exportação.

TABELA V

DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS PERNAMBUCANOS (1873-1930)

CAMPO DE COLOCAÇÃO (%)

Ferrovias 11,18

Dívida Pública 7,42

Obras do Porto 19,47

Bancos 13,48

Serviço Público 3,04

Indústrias 19,45

Outros 25,94

Fonte: NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Formação e Desenvolvimento do Capital Industrial em Pernambuco (1890/1920): Mercado Interno e Industrialização. Recife: Dissertação de Mestrado, Depto. de História/UFPE, 1988, p. 96.

_______________________

20 GOMES, Gustavo; VERGOLINO, José Raimundo. A Macroeconomia do Desenvolvimento Nordestino: 1960/1994.

(29)

Os investimentos nas linhas férreas foram fundamentais não só para o maior

intercâmbio entre as regiões interioranas, como para o transporte das mercadorias produzidas

no interior do Estado e o recebimento dos insumos importados, sobretudo daqueles que

chegavam por via marítima.

Esses investimentos, apesar de alguns serem feitos com o capital externo e de

empresas privadas, como a Great Western, eram um programa de governo, no sentido de interiorizar o desenvolvimento nacional, conforme se depreende da transcrição abaixo:

“Tendo o Governo decidido prolongar a linha do Recife ao S.

Francisco, que attingia então a Palmares (Una) para Garanhuns, foi

começada a construcção em 2 de Dezembro de 1876. Em 28 de

Setembro de 1887 chegava o trafego a Garanhuns, com a extensão total

de 146,420 kilometros. Em 1891 começou a construcção do ramal de

Glycerio a União, cujo trafego foi inaugurado em 13 de Maio de 1894,

com a extensão de 47,488 kilometros. Este prolongamento e ramal

constituem a linha denominada “Sul de Pernambuco”, arrendada à

Companhia Great Western of Brasil Railway. O seu custo foi de 23.521:175$ e suas condições technicas são as seguintes: bitola 1

metro, raio mínimo 100 metros e declividade máxima de 0”032” 21.

Os investimentos na indústria também se destacaram e embora grande parte

desses investimentos fosse aplicada nas usinas e nas indústrias têxteis, outros ramos

industriais também foram beneficiados, diversificando a indústria pernambucana. Como

exemplo tem-se o caso da indústria pesqueirense, que criou uma atividade fabril alimentícia

inovadora no interior do Estado.

Vale ressaltar, ainda, a importância da movimentação portuária no Recife, dada

a sua privilegiada situação geográfica: “Pela sua situação na parte mais oriental do Brasil, é

escala obrigada de quase todos os paquetes transatlanticos que se dirigem para o sul; e nelle

tocam os vapores de todas as companhias nacionaes que navegam na costa brasileira” 22.

________________________

21 IBGE.

Op. Cit., p. 26.

22

(30)

TABELA VI

ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS DE PERNAMBUCO (1907)

INDÚSTRIAS Nº DE

ESTABELECIMENTOS Nº DE OPERÁRIOS

Assucar (usinas) 46 4.887

Bebidas alcoolicas e gazozas 9 81

Biscoitos 2 42

Cal e cimento 1 120

Calçado 2 277

Chapéos, de feltro, lã, lebre, etc. 2 54

Carvão animal 1 9

Chocolate 1 6

Cordoalha 1 180

Cerveja 1 8

Doce 5 220

Fiação e tecelagem 8 3.700

Fumos preparados 3 757

Fundição e obras sobre metal 5 320

Grampos, colchetes, etc. 1 42

Massas alimentares 1 10

Massa de tomate 2 60

Moveis e decorações 1

-Óleos e rezinas 4 96

Perfumarias 1 42

Pregos 1 15

Preparo de couros 2 200

Phosphoros 1 120

Productos ceramicos 2 44

Productos chimicos 1 400

Refinarias de assucar 3 143

Roupas brancas 1 10

Sabão e velas 5 162

Serrarias e carpintarias 3 26

Tintas para escrever e outras 2 11

TOTAL 118 12.042

Fonte: IBGE. Op. Cit., p. 83.

Muito embora o açúcar tenha sido o principal produto industrial da economia

pernambucana, vê-se, na tabela VI, que mesmo em número menor de estabelecimentos, o

(31)

empregabilidade. Também não se pode olvidar da contribuição que outros pequenos setores

industriais acresciam à economia estadual, pois Pernambuco, se comparado a outros estados

do Nordeste, possuía uma grande diversificação industrial, com cerca de trinta tipos de

empreendimentos fabris, o que na época em questão demonstrava a importância econômica do

parque industrial pernambucano.

A primeira etapa da industrialização de Pernambuco, em fins do século XIX e

nas primeiras décadas do século XX, assim como ocorreu na industrialização do Brasil de

modo geral, caracterizou-se pela formação e acumulação de capital através do mercado

intra-regional e da exportação de produtos primários. Como principal particularidade desse início

de industrialização verificamos a prevalência das indústrias de bens de consumo não-duráveis.

A indústria têxtil, junto com as usinas, apresentou um grau elevado de

concentração e de centralização de capital, isso ocorreu a partir das condições e da natureza

do processo de constituição do mercado intra-regional em Pernambuco. Enquanto as usinas

açucareiras ocupavam a área rural, as indústrias de tecidos localizavam-se no perímetro

urbano e são essas indústrias que vão fortalecer consideravelmente o processo de

industrialização local 23.

Pernambuco, que desde o início da colonização brasileira foi um dos estados

expoentes da economia nacional, sempre acompanhando o desenvolvimento do país, viu-se a

partir da terceira década do século XX distanciado dos estados das regiões Sul e Sudeste, que

passaram a se desenvolver mais aceleradamente e centralizaram o potencial industrial da

nação.

Pernambuco passou a importar mais produtos de outras regiões do país que

exportar e o déficit na troca comercial do Estado começou a aumentar 24. A economia

pernambucana, então, apresenta sinais de enfraquecimento, principalmente em relação a

alguns estados do Centro-Sul, que principiaram o desenvolvimento do setor industrial do país.

________________________

23 ANDRADE, Manoel Correia de.

Estado, Capital e Industrialização no Nordeste. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, pp. 24-35.

(32)

Isso é possível verificar, na tabela VII, ao se comparar o número de

estabelecimentos, em alguns estados brasileiros, das indústrias manufatureiras nos anos de

1907 e 1920. Contata-se que o setor industrial pernambucano foi largamente superado por

estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e até a Bahia começa a ultrapassar

Pernambuco a partir da década de 1920.

TABELA VII

INDÚSTRIAS MANUFATUREIRAS NO BRASIL (1907 e 1920) (Alguns Estados brasileiros)

ESTADOS

Nº DE

ESTABELECIMENTOS (1907)

Nº DE

ESTABELECIMENTOS (1920)

Distrito Federal 662 1.541

São Paulo 326 4.145

R. G. do Sul 314 1.773

Rio de Janeiro 207 454

Pernambuco 118 442

Minas Gerais 529 1.243

Bahia 78 491

Fonte: LLOYD, Reginald. Op. Cit., p. 332. NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Op. Cit., pp. 18-19.

Entretanto, é importante salientar que algumas ilhas de produção no Estado

mantiveram-se ativas, por condições propícias, como foi o caso da indústria alimentícia de

Pesqueira, que soube aproveitar a potencialidade local dos frutos abundantemente produzidos

naquela região e por isso não foi afetada economicamente durante várias décadas, já que seus

produtos, quase originais e com poucos concorrentes, eram aceitos com facilidade no mercado

(33)

2.3. O Agreste Pernambucano e sua Base Econômica

A colonização da Capitania de Duarte Coelho teve início na extremidade norte

do litoral pernambucano, especificamente em Igarassú, e depois se estendeu para Olinda, que

foi fundada para servir de residência oficial do donatário. Durante mais de um século,

portanto, a colonização se deu apenas nas zonas litorâneas e da Mata, até que houve a

necessidade de descobrir mais espaços em direção ao interior da Capitania.

Em Pernambuco, a penetração no interior, segundo Hilton Sette, deve-se à

adaptação aos diferentes quadros naturais e desbravamentos por melhores roteiros em direção

às localidades cada vez mais distantes do litoral. Quando já estava prestes a se esgotar em

extensão as terras devolutas da Zona da Mata, as fazendas de criação de gado foram-se

multiplicando nas caatingas do Agreste, pois já havia sido aprendida a técnica de ocupação

em áreas de solo raso e de clima semi-árido, além de ser a passagem mais curta e fácil em

direção aos currais sertanejos, que já eram também utilizados para pecuária em regime

extensivo 25.

É nesse contexto que começa a colonização do Agreste, que se deu mais

tardiamente do que as colonizações do Litoral e Zona da Mata, principalmente quando passou

a servir de celeiro de criação de gado para abastecer as necessidades daquelas regiões, que se

dedicavam mais exclusivamente à monocultura da cana, não sendo, portanto, prioritária a

atividade pecuária, já que era considerada uma ocupação subsidiária e até conflitava com a

cultura da cana, pois necessitava de maior expansão dos campos para pastoreio e outras

características que o Agreste poderia melhor oferecer.

O Agreste, destarte, por muito tempo passou a ser o criadouro de gado que

abastecia as zonas mais desenvolvidas e habitadas do Estado, transferindo-lhe as boiadas para

o abate (consumo de carne), bois para fazer moer os engenhos e carrear a cana e o couro para

________________________

25 SETTE, Hilton.

(34)

as pequenas manufaturas artesanais de calçados, arreios e toda espécie de artefatos que dele se

utilizavam.

Nas fazendas dessa região, por força da necessidade de suprimento dos vaqueiros

e seus familiares, foi prosperando a implantação de roçados para a produção de alimentos,

basicamente voltados para o cultivo de milho, feijão e mandioca.

O desenvolvimento da pecuária dá lugar ao adensamento e surgimento de

outras atividades e como resultado dessa evolução há o aparecimento de vilas e povoados e

até mesmo de atividades agroindustriais, nas áreas mais propícias, subsidiárias do criatório e

voltadas, geralmente, para a produção de rapadura e aguardente.

A diversificação das atividades produzidas no Agreste é o que mais diferencia

essa região das demais, o que vai gerar um quadro de relações de produção que vai conduzir,

naturalmente, à divisão social do trabalho na região, como bem explicita Manoel Correia:

“Nos meados do século XVII, quando a população agrestina já

crescera bastante e a pecuária extensiva não era capaz de absorver a

mão-de-obra aí existente, os índios refugiados nos brejos de altitude

foram sendo aldeados e as secas foram fazendo com que os habitantes

da caatinga se abrigassem nos brejos úmidos, ambientando os mesmos

à coleta dos produtos florestais e à agricultura; foi aí que os brejos de

altitude passaram a ser mais densamente povoados. Aí iriam

concentrar-se grupos humanos que se dedicavam à agricultura de

mantimentos e à cultura de cana-de-açúcar, que era transformada por

engenhocas em rapaduras e aguardente, dando origem a sítios e até

pequenas vilas. Agregados dos fazendeiros da caatinga tornaram-se

muitas vezes foreiros, agricultores e rendeiros, que abasteciam o

Agreste de gêneros alimentícios e, quando a cultura e o comércio de

algodão abriram condições, passaram a fornecê-los também à Mata e

ao Sertão” 26.

________________________

(35)

Mas, de fato, a verdadeira alteração econômica em larga escala ocorrida

especialmente na região agrestina foi a introdução da cultura do algodão. Essa ocorrência não

é um fato peculiar, mas a conseqüência da importância que esse produto passou a ter no

cenário mundial naquela época, caracterizado como o “renascimento da agricultura” 27,

porque a ela estão associados enormes contingentes da população européia, ligados às

atividades econômicas e ao comércio internacional, cujos dinamismos foram provocados pela

Revolução Industrial.

Para se ter idéia do interesse do “velho mundo” pelo produto, Pernambuco

exportou para a Europa, em 1811, 1812 e 1813, respectivamente, 28.245, 58.824 e 65.327

sacas de algodão, tornando-se a província que mais lucrou com a exportação do produto

naquele período 28.

Com a criação da máquina a vapor e dos teares mecânicos o aproveitamento do

algodão passou a ser integral, a ponto de tornar-se uma das matérias-primas de maior procura

pelas indústrias 29, já que dele não era só utilizado a fibra para confecção de tecidos, como o

próprio caroço, rico em óleo vegetal, e até mesmo o seu bagaço, usado até hoje para

alimentação animal.

“Na verdade, a lavoura algodoeira não só abriu, à época, perspectiva

econômica para o hinterland nordestino, que somente havia conhecido

a pecuária e a sua atividade subsidiária da produção de alimentos,

como, através do estabelecimento de novas relações sociais, foi

portadora de transformações significativas na economia da região” 30.

________________________

27 GUIMARÃES NETO, Leonardo. Op. Cit., p. 30. 28 BARBALHO, Nelson.

Cronologia Pernambucana – Subsídios para a História do Agreste e do Sertão – de 1811 a 1817. V. 11. Recife: CEHM-FIAM, 1983, p. 203.

29 “O algodão foi cultivado no Brazil desde os tempos coloniaes, sendo o seu primeiro centro de cultura o Estado do

Maranhão. Em breve, porém, a cultura se estendia a outros pontos e a producção se tornava tão remuneradora, que as atividades portuguezas resolveram animar essa promettedora fonte de renda: e em 1750, tomaram medidas para auxiliar o estabelecimento de fabricas no interior do paiz. Foi o mesmo que chegar um phosphoro a um rastilho de pólvora. A industria começou a progredir a passos largos, a tal ponto que os próprios portuguezes, então completamente senhores do mercado brazileiro de tecidos de algodão, se alarmaram”. LLOYD, Reginald. Op. Cit., p. 382.

30 GUIMARÃES NETO, Leonardo.

(36)

Mesmo quando arrefeceu a exportação do algodão em decorrência,

principalmente, do aumento da produção norte-americana, com o fim da Guerra da Secessão e

do incremento do algodão egípcio e asiático, não houve grande repercussão econômica no

Agreste, já que tinham sido instaladas várias indústrias têxteis e de extração de óleo em

Pernambuco, absorvendo, assim, a produção local, cujas áreas produtivas passaram a ser

consorciadas com outros tipos de lavouras, aumentando a sua rentabilidade econômica.

TABELA VIII

PRODUÇÃO ALGODOEIRA EM PERNAMBUCO (1865-1915)

PERÍODOS PRODUÇÃO EM KILOS

1865-1870 57.604.577

1871-1875 52.066.101

1876-1880 32.635.441

1881-1885 56.523.050

1886-1890 92.203.625

1891-1895 86.883.825

1896-1900 74.607.675

1901-1905 95.219.500

1906-1910 85.531.675

1911-1915 98.291.025

Fonte: NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Op. Cit., p. 106.

A tabela acima reproduzida reflete essa argumentação da continuidade da

produção do algodão no Estado. Vendo-se que a partir de 1886 os números são quase sempre

crescentes e correspondem a uma produção algodoeira eficiente, em função do aparecimento

de novas indústrias têxteis 31.

________________________

31 O Estado de Pernambuco, no início do século XX, contava com um número considerável de indústrias de tecelagem e de

(37)

O algodão, sem dúvida, foi um produto primordial para a região agrestina,

contudo, além da predominante característica econômica do Agreste de fixar-se na dualidade

algodoeira-pecuária, outras atividades foram surgindo nesse novo espaço, a exemplo da

agroindústria pesqueirense. Assim, por meio de diferentes atividades que foram despontando,

o Agreste integrou-se definitivamente às zonas situadas à leste do Estado de Pernambuco,

uma vez que crescia a sua densidade demográfica e maior era o intercâmbio entre as regiões.

Pelo fato do Estado apresentar características diversas como fatores

edafo-climáticos, culturais e socioeconômicos, o território pernambucano foi dividido, para melhor

detalhamento de cada região, em mesorregiões. A Zona Agreste do Estado, por sua vez,

corresponde hoje a, aproximadamente, 20% da área total de Pernambuco e é uma área

fisiográfica intermediária, situada entre a Zona da Mata e o Sertão.

“O Agreste é uma zona de transição entre a Mata úmida e o Sertão

semi-árido. (...) Apresenta um clima variado entre subúmido dos

“brejos de altitude” e semi-árida nas partes mais baixas do Planalto da

Borborema, cuja pluviosidade varia entre 500 a 900 mm anuais. Seu

relevo é o mais acidentado do Estado, representado pelo Planalto da

Borborema, cuja altitude varia entre os 450 a mais de 1.000 m de

altitude, como ocorre nas serras de Ororubá, em Pesqueira. (...) Os

solos existentes são do tipo arenoso e franco arenoso, em sua maioria

rasos e com baixa capacidade de água, devido a predominância na área

de rochas cristalinas. A vegetação predominante é a caatinga

hipoxerófila, devido a umidade recebida dos ventos do sudeste” 32.

O município de Pesqueira, foco do presente estudo, faz parte da Microrregião

Homogênea 183, Vale do Ipojuca, localizado na parte centro-norte-ocidental do Agreste. O

município está a 214 Km da Capital do Estado e tem um território bastante acidentado,

contendo várias serras. Pesqueira, situada ao sopé da Serra de Ororubá, deu início a uma

atividade industrial inovadora e se destacou, por um longo período, no Agreste

pernambucano.

________________________

(38)

FIGURA I

REPRESENTAÇÃO DO AGRESTE DE PERNAMBUCO MUNICÍPIOS DA MESORREGIÃO DO AGRESTE

(39)

TABELA IX

MUNICÍPIOS POR MICRORREGIÕES DO AGRESTE DE PERNAMBUCO

Microrregião Vale do Ipanema

68- Águas Belas 69- Buíque 71- Itaíba

66- Pedra 70- Tupanatinga 56- Venturosa

Microrregião Vale do Ipojuca

55- Alagoinha 39- Belo Jardim 18- Bezerros

30- Brejo da Madre de Deus 37- Cachoeirinha 54- Capoeiras

26- Caruaru 19- Gravatá 40- Jataúba

42- Pesqueira 41- Poção 16- Riacho das Almas

44- São Bento do Una 31- São Caetano 43- Sanharó

38- Tacaimbó

Microrregião Alto do Capibaribe

11- Casinhas 15- Frei Miguelinho 29- Santa Cruz do Capibaribe

13- Santa Maria do Cambucá 10- Surubim 28- Taquaritinga do Norte

27- Toritama 12- Vertente do Lério 14- Vertentes

Microrregião Médio Capibaribe

04- Bom Jardim 17- Cumaru 06- Feira Nova

08- João Alfredo 05- Limoeiro 02- Machados

03- Orobó 07- Passira 09- Salgadinho

01- São Vicente Ferrer

Microrregião Garanhuns

50- Angelim 63- Bom Conselho 61- Brejão

57- Caetés 49- Calçado 48- Canhotinho

59- Correntes 58- Garanhuns 67- Iati

53- Jucati 45- Jupi 47- Jurema

60- Lagoa do Ouro 46- Lajedo 51- Palmeirina

65- Paranatama 64- Saloá 52- São João

62- Terezinha

Microrregião Brejo Pernambucano

25- Agrestina 32- Altinho 21- Barra de Guabiraba

22- Bonito 23- Camocim do São Félix 33- Cupira

36- Ibirajuba 34- Lagoa dos Gatos 35- Panelas

20- Sairé 24- São Joaquim do Monte

Imagem

TABELA I BRASIL
TABELA II BRASIL ESTRUTURA INDUSTRIAL (1850-1919) ÉPOCA DA  FUNDAÇÃO N° DE  ESTABELECIMENTOS  INDUSRIAIS N° DE OPERÁRIOS 1850 - 1884 353 26.874 1885 - 1889 248 24.369 1890 - 1894 452 31.123 1895 - 1899 472 14.516 1900 - 1904 1.080 19.170 1905 - 1909 1.358
TABELA III
TABELA IV
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