BETÂNIA FLÁVIA CAVALCANTI GALINDO
Orientador: José Raimundo Oliveira Vergolino, Ph.D.
Dissertação apresentada como requisito
complementar para obtenção do grau de Mestre
em Administração, do Centro de Pesquisa e
Pós-Graduação em Administração da Faculdade Boa
Viagem.
AGRADECIMENTOS
Foi um trabalho árduo, mas que me fez despertar para a história de minha cidade e
rememorar a época maravilhosa que em Pesqueira vivi.
Sem a importante ajuda de algumas pessoas este trabalho jamais poderia ser
realizado, por isso, a essas pessoas o nosso sentimento de gratidão é imenso.
Agradeço inicialmente ao meu orientador Prof. Raimundo Vergolino, que com seu
criterioso padrão fez com que eu buscasse ao máximo o aprimoramento da dissertação sem,
contudo, alterar a afabilidade com que me tratou.
Agradeço ao Prof. Olímpio Galvão, pelo constante estímulo que me ofereceu,
fazendo-me crer no êxito da realização do curso.
Aos ilustres professores Fernando Dias e Augusto Oliveira, que muito contribuíram
com o meu aprendizado.
A todos aqueles que me ofereceram subsídios através de material e depoimentos, o
que possibilitou o enriquecimento do trabalho.
À Faculdade Boa Viagem, da qual faço parte do quadro, pela aplicada realização do
mestrado.
Agradeço, por fim, aos meus pais, meu marido, familiares e amigos, que sempre me
Dedico esta dissertação a uma pessoa
muito especial, Ir. Angélica de Carvalho,
minha mestra e amiga, que representa
todos aqueles que contribuíram para
Eu ainda era criança
E já me acostumara a acordar Com o apito lamentoso das fábricas Que era o despertador de uma cidade Que sempre cheirou a doce.
RESUMO
Este trabalho estudou a história-econômica de Pesqueira, proeminente
município do interior pernambucano, que durante cerca de um século, por meio de suas
indústrias alimentícias, tornou-se símbolo de pioneirismo e progresso. Dentro desse contexto
examinou-se o surgimento da industrialização brasileira, na qual o município de Pesqueira
representa um capítulo sui generis, pois o processo industrial da cidade ocorreu concomitantemente com o período de desenvolvimento da indústria nacional, mas com fatores
que a diferenciaram, principalmente, da forma inicial da industrialização nordestina.
Pesqueira, na sua trajetória agroindustrial de doces e de tomate, gerou uma transformação
sócio-econômica singular no Agreste pernambucano, propiciando conseqüências positivas no
cenário econômico do Estado. Os produtos fabris do município tornaram-se conhecidos
nacionalmente e também mundialmente e até os anos de 1950 representava uma das indústrias
mais conceituadas do ramo alimentício. Contudo, da metade do século XX em diante,
Pesqueira, pela soma de vários aspectos negativos, sofreria com o declínio de sua
industrialização. A investigação sobre a origem, apogeu e decadência do processo industrial
pesqueirense se faz, sobretudo, pelos registros históricos, dados econômicos e entrevistas
realizadas com os mais variados citadinos e colaboradores. O objetivo primordial desta
dissertação, portanto, é mostrar a trajetória do município de Pesqueira desde o aparecimento
da atividade industrial até o seu encerramento e evidenciar, ou tornar mais compreensível, a
importância da atividade industrial para o desenvolvimento de Pesqueira e o fato do
fechamento das fábricas ter ocasionado o declínio econômico do município.
ABSTRACT
This dissertation studied the economic history of Pesqueira, prominent city in
the Pernambuco’s countryside, which for nearly a century, through their food industries,
became a symbol of pioneering and progress. Within this context the emergence of Brazilian
industrialization was examined, in which Pesqueira is a particular chapter, hence the
industrialization process in the city occurred concurrently with the period of the national
industry development, and also different from, the initial form of Brazilian northwest
industrialization. Pesqueira, agribusiness of jams and tomatoes, generated a unique
socio-economic transformation in Pernambuco’s semi-arid, positive influence on the socio-economic
scenario of the state. The products manufactured in the city became known nationally and
globally and until the 1950’s represented one of the most respected the food industry.
However, on the second half of the twentieth century, Pesqueira, due to several negative
factors, would suffer with the decline of its industries. The study on the origin, peak and
decline of the industrial process of the city was made, above all, by historical records,
economic data and interviews conducted with the most varied city dwellers and collaborators.
The primary goal of this dissertation, therefore, is to show the trajectory of the municipality of
Pesqueira since the advent of industrial activity until its closure and present, or make it more
understandable, the importance of industrial activity for the development of Pesqueira and the
fact of the closure of factories caused the decline of the city economy.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 11
2. PERNAMBUCO E SEU PROCESSO INDUSTRIAL 15
2.1. Uma Alusão ao Início da Industrialização Brasileira 15
2.2. A Industrialização em Pernambuco 23
2.3. O Agreste Pernambucano e sua Base Econômica 33
3. PESQUEIRA: DO COMÉRCIO À INDÚSTRIA 40
3.1. Nas Origens de Ororubá 40
3.2. A Preeminência Mercantil de Pesqueira (1870-1920) 52
3.3. O Início da Industrialização do Município 60
4. A INDUSTRIALIZAÇÃO DE VENTO EM POLPA 67
4.1. Período Áureo da Industrialização Pesqueirense (1910-1950) 67
4.2. Pesqueira se Destaca no Interior Pernambucano 80
4.3. A Influência da Economia na Cultura 93
5. O AROMA DAS CHAMINÉS DESVANECE 107
5.1. A Indústria Começa a Agonizar 107
5.2. Principais Fatores da Derrocada 116
5.2.1. O Contexto Nacional 116
5.2.2. O Solo, a Água e outros Fatores 120
6. CONCLUSÃO 127
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 131
I. Jornais de Pesqueira 131
II. Arquivos Públicos 132
III. Referências Bibliográficas 133
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
BANDEPE Banco do Estado de Pernambuco
BNB Banco do Nordeste do Brasil
CODEVASF Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
CPATSA Centro de Pesquisas do Trópico Semi-Árido
D. Dona
Dr. Doutor
EMBRAPA Instituto Brasileiro de Pesquisa Agropecuária
ESG Escola Superior de Guerra
FAO Food and Agriculture Organization
GTDN Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IRESI Instituto de Relações Sociais e Industriais
N. S. Nossa Senhora
PSD Partido Social Democrático
LISTA DE TABELAS
Tabela I (2) – Brasil – Extensão da Rede Telegráfica (1861-1907) 18
Tabela II (2) – Brasil – Estrutura Industrial (1850-1919) 19
Tabela III (2) – Produção e Exportação de Açúcar em Pernambuco (1856-1919) 25
(Quantidades médias anuais) Tabela IV (2)–Vendas de Açúcar de Pernambuco no Comércio Interno (1856-1928) 27
(Quantidades médias anuais) Tabela V (2) – Distribuição dos Investimentos Pernambucanos (1873-1930) 28
Tabela VI (2) – Estabelecimentos Industriais de Pernambuco (1907) 30
Tabela VII (2) – Indústrias Manufatureiras no Brasil (1907 e 1920) 32
(Alguns estados brasileiros) Tabela VIII (2) – Produção Algodoeira em Pernambuco (1865-1915) 36
Tabela IX (2) – Municípios por microrregiões do Agreste de Pernambuco 39
Tabela X (3) – Escravos Pertencentes a Antônio dos Santos Coelho 47
(Fazendas de sua propriedade – 1822) Tabela XI (3) – Estabelecimentos Comerciais de Pesqueira (1902-1903) 57
Tabela XII (3)–Expansão das Estradas de Ferro em Pernambuco (1851-1930) 58
Tabela XIII (3) – Indústrias de Doces em Pernambuco (1909) 66
Tabela XIV (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 84
(Gado existente nos estabelecimentos rurais por espécie, por municípios) Tabela XV (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 85
(Estabelecimentos rurais recenseados possuidores de mecanismos de transformação ou beneficiamento de produtos agrícolas, por municípios) Tabela XVI (4) – Recenseamento Agrícola de 1920 em Pernambuco 85
(Quadro demonstrativo dos descaroçadores de algodão, por municípios) Tabela XVII (4) – Ensino Primário Municipal em Pernambuco (1927) 86
Tabela XIX (4) – População dos Municípios de Pernambuco (1921 e 1927) 87
Tabela XX (4) – Número e Percentagens de Eleitores nos Municípios de Pernambuco 88 (1935)
Tabela XXI (4) – Prédios Urbanos Computados em Pernambuco, por Municípios (1940) 89
Tabela XXII (4)–Arrecadação das Coletorias Federais do Estado de Pernambuco 90 (1927-1931)
Tabela XXIII (4)–Arrecadação das Coletorias Federais do Estado de Pernambuco 90 (1932-1936)
Tabela XXIV (4) – Exportação (País) dos Principais Produtos do Estado de Pernambuco, 91 Segundo o Valor (1934-1936)
Tabela XXV (4) – Principais Jornais de Pesqueira, Criação por Década (1900-1950) 97
Tabela XXVI (5) – Recenseamento do Município de Pesqueira (1937) 111 (Funções exercidas pelos munícipes)
1.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho destaca o interesse em estudar a história econômica do
município de Pesqueira, cujo fenômeno industrial fez emergir no Agreste pernambucano uma
cidade que durante décadas foi sinônimo de inovação e pioneirismo.
O estudo tem como objetivos precípuos pesquisar o processo de
desenvolvimento industrial do município e conhecer as principais causas que provocaram o
fim desse processo, extirpando de Pesqueira os cheiros de doce e de tomate que aromatizavam
a cidade, encerrando sua prosperidade econômica.
Quanto à natureza histórica, a dissertação visa examinar a trajetória do
município de Pesqueira desde o aparecimento da atividade industrial, surgida a partir de uma
iniciativa particular e local, até a desregionalização da indústria alimentícia e as demais
causas que provocaram, paulatinamente, o fim da industrialização do município.
A apreciação econômica do trabalho, por sua vez, estende o conhecimento
histórico à importância da atividade industrial para o avanço de Pesqueira e o fato do
fechamento das fábricas ter ocasionado o declínio econômico do município, encerrando o
processo industrial que tornou a cidade símbolo de progresso e desenvolvimento.
A manifesta dissertação foi uma opção pela escolha de um tema regional e de
maior satisfação pessoal. Abordar a origem, o sucesso e o encerramento da industrialização de
Pesqueira, pioneira e influente em Pernambuco e também no Nordeste, acima de tudo se dá
pelo sentimento de carinho do qual a cidade é merecedora.
Pesqueira, nascida no sopé da Serra de Ororubá, teve uma grande importância
agroindustrial para o Estado de Pernambuco, que perdurou por cerca de um século,
estimulando toda uma economia e, por via de conseqüência, o desenvolvimento de uma vasta
A colonização da Serra de Ororubá, antes chamada de Serra de Urubá pelos
índios ararobás, na qual se situa a cidade de Pesqueira, inicia-se pelos idos de 1654, com a
doação de uma extensa parte do Agreste pernambucano feita pelo rei de Portugal a João
Fernandes Vieira, como recompensa pela sua contribuição na expulsão dos holandeses.
A origem do município de Pesqueira se deu no século XVIII (1762), quando
Cimbres, denominada Aldeia de Ararobá, tornou-se a sexta Vila oficializada em Pernambuco.
Ao pé da Serra de Ororubá, no ano de 1800, Manoel José de Siqueira, anos depois
sucessivamente sargento-mor e capitão-mor, fundou uma fazenda chamada Poço do Pesqueiro
e nela edificou uma grande casa para sua residência, senzalas para os escravos e uma pequena
Igreja sob a invocação de Nossa Senhora Mãe dos Homens.
A fazenda logo se tornou parada obrigatória para os brejeiros e viajantes e
numa posição privilegiada pela condição de sua localização à margem da estrada passou a
povoado e rapidamente surgiu uma nova cidade, Pesqueira, que se tornou um conhecido
entreposto comercial, gerando importantes relações mercantis Recife-Agreste-Sertão.
Em 1880, Pesqueira passou à categoria de cidade, chamada de Santa Águeda
de Pesqueira, tornando-se a 15ª cidade pernambucana e a primeira do Semi-Árido. Quando se
diz que Pesqueira originou-se casualmente, deve-se justamente ao fato de ter surgido pela
descoberta de um novo caminho para se chegar ao Sertão, através do Vale do Ipojuca,
passando pelo sopé da Serra de Ororubá, na qual se localizava a fazenda Poço do Pesqueiro,
que deu origem ao nome de Pesqueira.
A partir de 1883, quando é empossado o primeiro prefeito do município, a
cidade inicia seu desenvolvimento, estimulado pela atividade mercantil que ali se estabeleceu.
Com a chegada da estrada de ferro em 1907, a atividade comercial de Pesqueira atingiu seu
ponto máximo e em razão de sua força econômica, logo no início do século passado a cidade
contava com serviços impensáveis em outras comunidades interioranas, como uma eficiente
iluminação elétrica, água encanada, serviço telefônico, serviço urbano de bondes de tração
A partir de 1920, quando os trilhos da estrada de ferro estenderam-se até o
Sertão do Estado, Pesqueira perdeu sua preeminência mercantil regional, que perdurou de
1870 a 1920. Todavia, ao tempo que o comércio declinava, outra atividade econômica
começava a ganhar importância na economia do município: a industrial.
Graças à rápida substituição de uma atividade por outra o desenvolvimento do
município continuou. A economia mercantil de outrora garantiu a formação de um excedente
de capital que possibilitou a transformação da base econômica de Pesqueira do comércio para
a indústria.
Enquanto o Agreste tinha sua economia baseada nas culturas de subsistência,
no plantio de algodão e na pecuária extensiva, surgia na região uma atividade diferenciada,
uma indústria nascida da iniciativa local, que tornou sua atividade industrial, representada
principalmente pela Fábrica Peixe, conhecida mundialmente.
A industrialização pesqueirense confunde-se com a própria história de
surgimento da Fábrica Peixe, pois foi o sucesso dessa indústria que incentivou a instalação de
outras fábricas alimentícias, fazendo da cidade um perímetro industrial.
Com o enfraquecimento da atividade comercial, Dona Maria da Conceição
Cavalcanti de Britto, Dona Yayá, esposa do Capitão Carlos de Britto, comerciante da cidade,
começou de forma artesanal a fabricar doce em tacho doméstico e em fogo cru. A idéia deu
tão certo que dois anos depois, em 1901, a pequena fábrica já exportava doces para Recife.
Daí em diante a fábrica se expandiu e perdeu seu caráter artesanal, tornando-se
verdadeiramente uma indústria, a Peixe, a fábrica que mudou a face da cidade.
Delmiro Gouveia, patrono da industrialização nordestina, chegou a dizer que
muito do que aprendeu deveu-se ao tempo que passou em Pesqueira, observando o espírito
empreendedor dos capitães de indústria daquela localidade.
Outras fábricas doceiras logo surgiram em virtude do crescimento da cidade,
longo do tempo. A Fábrica Peixe cresceu tanto que instalou filiais no Rio de Janeiro, São
Paulo, Minas Gerais e Recife. Com o sucesso das fábricas, o comércio de Pesqueira também
retomou a grande influência mercantil que tinha na região no século XIX e lá surgiu uma das
casas comerciais mais tradicionais do Estado, as Casas José Araújo.
Pesqueira desenvolvia-se velozmente e em decorrência de seu rápido
crescimento foi cognominada de a “Terra do Doce”, “Cidade das Chaminés” e “Capital do
Tomate”, este último epíteto em virtude de ter sido o primeiro município a produzir o tomate
rasteiro no Brasil, próprio para industrialização, e um dos maiores produtores de tomate em
terras contínuas do mundo.
Contudo, todo o sucesso conquistado até a década de 1950 não garantiu uma
estrutura suficientemente segura para conter os fatores que fizeram com que o ditoso
município de Pesqueira visse sucumbir as suas tradicionais indústrias.
Muitas foram as causas que levaram as fábricas a fecharem suas portas, mas
dentre as principais pode-se destacar as difíceis condições edafo-climáticas; a escassez dos
frutos; o crescimento das pragas, gerando o aumento do custo com adubos e defensivos
agrícolas; o contexto nacional de favorecimento econômico das empresas do Centro-Sul; o
desenvolvimento da fruticultura no Vale do São Francisco, entre outros que, reunidos,
provocaram o fim da atividade agroindustrial do município.
Mediante os objetivos da dissertação sobre o processo industrial de Pesqueira
acredita-se, portanto, que o presente trabalho pode contribuir para a compreensão da formação
econômica do município e para o esclarecimento dos fatores que geraram o fechamento das
2.
PERNAMBUCO E SEU PROCESSO INDUSTRIAL
2.1. Uma Alusão ao Início da Industrialização Brasileira
O presente trabalho não tem por objetivo investigar a fundo a historiografia da
industrialização do Brasil e de Pernambuco, mas apenas fazer uma abordagem sobre esse
início de processo industrial, com a finalidade, mais adiante, de entender a industrialização de
Pesqueira nesse contexto nacional e estadual.
O Brasil, que durante séculos foi colônia de Portugal, teve como primeiro e
mais valioso produto de exportação o açúcar, que até um pouco mais de meados do século
XVIII seria o principal produto do país, promovendo o seu crescimento econômico e abrindo
as portas para a exportação de outros produtos primários.
Para Celso Furtado houve uma diferença fundamental entre a estrutura
produtiva do Brasil e das colônias Inglesas na América do Norte. Enquanto nas colônias
inglesas a agricultura era distribuída em pequenas propriedades e havia muitos comerciantes
urbanos, no Brasil a agricultura era feita em grandes latifúndios que exploravam a
escravidão1, ou seja, à proporção que a renda era mais bem distribuída na América do Norte,
houve o surgimento de um mercado interno que possibilitou a estrutura para desenvolver
outros setores, como os ramos do comércio e da indústria. Ao tempo que no Brasil, a grande
concentração de riqueza pelos latifundiários limitou o mercado interno e impediu que a
economia do país tivesse abertura para outras atividades.
O Brasil teve três principais ciclos econômicos: o da cana-de-açúcar, do ouro e
do café. Este último se tornou o principal produto de exportação no final do século XIX e foi
________________________
1 FURTADO, Celso.
o produto responsável, em 1891, por 63% das exportações brasileiras 2 e , sem dúvida, foram
as exportações de café que geraram o crescimento da economia brasileira nas décadas finais
do século XIX, o que formou o acúmulo de capital para o posterior desenvolvimento da
indústria, principalmente das indústrias do Sul e do Sudeste, como bem observa o economista
Werner Baer:
“A força básica que apoiou esse desenvolvimento industrial foi o incremento
cafeeiro baseado na mão-de-obra imigrante livre. Investimentos significativos
voltados para a infra-estrutura que atendia ao setor cafeeiro (estradas de ferro,
usinas elétricas, etc.), financiados por fazendeiros e capital estrangeiro,
proporcionaram o ambiente para uma produção industrial local maior e aos poucos
criaram uma demanda para peças de reposição produzidas internamente. A grande
população imigrante empregada nos setores cafeeiros e outros a eles relacionados
gerou um enorme mercado para bens de consumo baratos” 3.
O desenvolvimento industrial do país, contudo, já poderia ter engrenado bem
antes de fins do século XIX, não fosse o interesse do governo português de impedir esse
progresso industrial para manter a colônia em sua dependência econômica e política.
Na primeira metade do século XVII, tinham sido fundadas no Rio de Janeiro
algumas fábricas de tecido, especialmente de algodão, veludo e seda, bordado, corda, bem
como azeite de peixe, sabão, chapéu de palha, objetos de louça, entre outras. Porém, o
governo português não via com bons olhos os progressos de sua colônia e, aos poucos, foi
instituindo decretos e ordenações que limitavam ou mesmo extinguiam essas primeiras
tentativas de industrialização. Tanto que, em 1730, Portugal determinou a expulsão de todos
os joalheiros dos distritos de minas do Brasil, para impedir a criação local de jóias, o que
prejudicaria as rendas fiscais do Reino e, em 1785, o governo português ordenou o
fechamento de todas as fábricas da colônia, com exceção das de confecção de roupas para os
escravos, alegando que o país deveria se preocupar em explorar os seus recursos naturais 4.
________________________
2 PRADO JÚNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. 12ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1970, p. 160. 3
in: A Economia Brasileira. 2ª ed. São Paulo: Nobel, 2003, p. 47.
4
A vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil, em 1808, foi o marco
histórico que iria mudar definitivamente o desenvolvimento econômico do país. Dentro de
poucos anos da chegada da Corte começaram a surgir pequenos estabelecimentos fabris,
inicialmente no Rio de Janeiro, mas foi a década de 1840 que assinalou a expansão econômica
brasileira, com a importação de maquinário trazido da Europa para modernizar o sistema
fabril 5.
Nas primeiras décadas do século XIX existiam poucas oficinas no Brasil e, em
geral, elas se restringiam ao setor têxtil, de papel, couros, gêneros alimentícios e fundições de
metais. Várias empresas foram sendo criadas a partir da década de 1840, pois o país oferecia
isenção de taxas para as empresas que importassem matéria-prima e maquinário e, com esses
privilégios especiais, muitas foram fundadas, principalmente no ramo têxtil. O número de
empresas têxteis em funcionamento cresceu na primeira metade da década de 1870,
precipuamente nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo 6.
A partir da década de 1880, com o advento da Proclamação da República, que
trouxe um novo despertar político-econômico, o processo de industrialização do Brasil teve
sua fase de real desenvolvimento, período propício para o surgimento de indústrias de bens de
consumo não-duráveis e os primeiros industriais brasileiros foram importadores que, aos
poucos, começaram também a fabricar os próprios bens no Brasil.
No Nordeste esse desenvolvimento industrial se perfaz inicialmente com a
pouca diversificação fabril, basicamente a partir da exportação de produtos agrícolas, com as
usinas açucareiras, as indústrias têxteis e de alimentos. Em geral, a industrialização nordestina
apoiava-se nas indústrias de açúcar e de tecidos de algodão, mas os estados de Pernambuco e
Bahia, que eram mais desenvolvidos industrialmente do que os demais, destacavam-se
também com outros produtos, como o fumo, a fabricação de chapéus, sabão, velas, cal,
cimento, fundições de metais e produtos químicos.
________________________
5 “O anno de 1840, marca uma nova era de expansão econômica, devida à substituição das primitivas machinas rudimentares
pela machina a vapor, assim como à introducção de habeis artífices trazidos da Europa”. Ibidem, p. 331. Ver também: STEIN, Stanley. Origens e Evolução da Indústria Têxtil no Brasil – 1850/1950. Rio de Janeiro: Campus, 1979, p. 28.
6
Há casos peculiares, como ocorreu no município de Pesqueira, cujo início de
seu processo industrial teve um aspecto diferenciado, porque além da pouca necessidade de
importação de insumos, houve também a acumulação de um capital mercantil que serviu de
impulso ao surgimento da atividade industrial, por ter sido, o município, um entreposto
comercial de grande importância no Agreste pernambucano.
Outra contribuição ao desenvolvimento do Brasil, vinculada à industrialização,
a partir da década de 1880, foi o crescimento da rede telegráfica, tanto em extensão como pelo
aumento progressivo do número de estações, o que facilitou o intercâmbio dos
estabelecimentos produtivos, como se pode observar na tabela abaixo. Em Pernambuco, a
comunicação telegráfica chegou em abril de 1873, em Recife.
TABELA I BRASIL
EXTENSÃO DA REDE TELEGRÁFICA (1861-1907)
ANOS EXTENSÃO
KILOMÉTRICA ESTAÇÕES
1861 65 10
1865 187 23
1870 2.080 51
1874 4.458 81
1881-1885 42.207 740
1886-1890 54.862 908
1891-1895 78.134 1.405
1896-1900 101.772 1.888
1901-1907 175.199 3.333
Fonte: IBGE. Séries Estatísticas Retrospectivas. O Brasil, suas Riquezas Naturais, suas Indústrias. Edição fac-similar (original publicado em 1909). V. 2. Rio de Janeiro: IBGE, 1986, p. 232.
De acordo com o recenseamento industrial do Brasil de 1920, como se observa
na tabela seguinte, em meados da década de 1880 havia cerca de 248 estabelecimentos
industriais no país, que quadruplicou no início do século XX e que passou para 5.936
industrial brasileiro foi intenso e com o predomínio de indústrias leves, de produtos têxteis,
calçados, roupas e indústrias alimentícias 7.
TABELA II BRASIL
ESTRUTURA INDUSTRIAL (1850-1919)
ÉPOCA DA FUNDAÇÃO
N° DE
ESTABELECIMENTOS INDUSRIAIS
N° DE OPERÁRIOS
1850 - 1884 353 26.874
1885 - 1889 248 24.369
1890 - 1894 452 31.123
1895 - 1899 472 14.516
1900 - 1904 1.080 19.170
1905 - 1909 1.358 34.362
1910 – 1914 3.135 53.992
1915 - 1919 5.936 63.950
TOTAL 13.034 268.356
Fonte: Recenseamento do Brasil, 1920, v. 5, 1ª parte, p. 69.
Em relação à tabela II, verifica-se ainda que as duas primeiras décadas
anteriores à Primeira Guerra Mundial foram fundamentais para o crescimento da indústria
brasileira, já que na primeira década do século XX a libra esterlina não estava tão valorizada,
o que facilitou a importação de maquinário. Outro aspecto que contribuiu para o avanço
industrial do país no início do século XX foi a rápida expansão das linhas férreas. As
ferrovias foram muito importantes na comercialização de mercadorias dentro espaço regional,
pois as estradas ou não existiam ou eram extremamente precárias e o único outro meio de
transporte era a cabotagem.
Justamente nesse período desenvolveu-se a indústria doceira pesqueirense e se
quer, com isso, demonstrar como o ambiente econômico nacional era favorável ao surgimento
de novas indústrias, principalmente no setor alimentício.
________________________
7
A indústria brasileira, portanto, apresenta dois aspectos marcantes: o primeiro,
onde há a predominância de indústrias de bens de consumo, como as têxteis e de alimentos,
totalizando as duas 43,7% para o ano de 1907 e, em 1919, 50,1% das indústrias nacionais. A
segunda característica seria uma industrialização de cunho descentralizado, que criou uma
reserva de mercado regional, devido aos altos custos de transporte e a aplicação de impostos
interestaduais sobre a circulação de mercadorias 8.
A partir de meados do século XIX, portanto, a industrialização tornou-se uma
atividade essencial no desenvolvimento econômico do país e, sem dúvida, é muito precisa a
prolixa, porém, importante explanação de Simonsen sobre os vários fatores que
caracterizaram a evolução do início da indústria nacional:
“A observação desses vários elementos e de outro que vamos examinar,
indicadores da nossa evolução econômica, permite-nos assim sumariar a situação:
a) na primeira metade do século XIX, a inexistência de fatores favoráveis à
industrialização do Brasil, a política livre-cambista que adotamos, e a
concorrência das manufaturas inglesas, impediram a nossa evolução industrial;
b) entre 1862 e 1885, assinalou-se um período de acentuado progresso. As
exportações ultrapassaram as importações, registrou-se, nessa época, a
instalação de algumas pequenas fábricas, principalmente no Distrito Federal;
mas as atividades agrícolas absorviam, praticamente, todos os capitais e
mão-de-obra disponíveis;
c) no último período do século XIX iniciou-se a grande imigração para as regiões
temperadas do sul do país e em princípios do século XX surgiu a
superprodução cafeeira e um conseqüente refluxo de colonos para as cidades;
d) a decretação, em 1888, do trabalho livre, a maior imigração dos colonos
europeus e a grande cultura cafeeira, determinaram a formação de um mercado
interno de alguma importância para os produtos industriais;
________________________
e) os progressos da eletricidade e a construção de grandes usinas de energia
elétrica, principalmente em São Paulo e no Distrito Federal, constituíram um
dos fatores essenciais à evolução industrial: fontes de energia barata. O
progresso e o barateamento das máquinas operatrizes permitiram o
estabelecimento de indústrias médias de transformação, baseadas na
disponibilidade dessa energia, em maior número nos dois núcleos – São Paulo
e Rio de Janeiro;
f) criaram-se, dessa forma, no século XX, fatores favoráveis ao desenvolvimento
de determinadas regiões do Brasil; energia elétrica abundante e barata (com
papel semelhante ao que os centros olheiros exerceram na Inglaterra, nos
Estados Unidos e na Alemanha); aparelhamento mecânico e moderno e de
preços relativamente baixos; mercados de certa importância e melhores meios
de transporte, pela construção de estradas de ferro e de rodovias; abundância de
mão-de-obra não absorvida pelas fazendas, então em regime de superprodução;
g) como fenômeno econômico geral, as nossas exportações de produtos agrícolas
deixaram de proporcionar poder aquisitivo externo o suficiente para pagar os
produtos industriais reclamados pelo consumo interno. A baixa do câmbio
brasileiro reflete, em grande parte, a situação de desequilíbrio provocada por
uma população que cresce e se civiliza continuamente, e que não dispõe de
meios de pagamento no exterior, para os produtos que necessita. Essa contínua
depressão das taxas cambiais, passou a ser uma forte emulação para o nosso
desenvolvimento industrial;
h) todos esses fatores geraram afinal, uma situação de fato , apropriada à evolução
industrial de determinadas regiões , em condições, porém, ainda bem diversas
das que se verificaram nos Estados Unidos da América do Norte” 9.
Roberto Simonsen, portanto, não só esclarece como se deu a evolução
industrial brasileira, como assevera que a industrialização tem um papel fundamental na
economia nacional, principalmente pelo seu potencial exportador. Também corrobora com
esse pensamento Douglas North, pois para ele “o crescimento de uma região está intimamente
________________________
9 SIMONSEN, Roberto. Evolução Industrial do Brasil e outros Estudos. São Paulo: Editora Nacional e da USP, 1973, pp.
vinculado ao sucesso de suas exportações e pode ter lugar, ou como resultado da posição
melhorada das exportações existentes relativamente às áreas competidoras, ou como um
resultado do desenvolvimento de novas exportações” 10. As exportações, por conseguinte,
exerceriam um efeito multiplicador sobre o mercado interno.
No caso específico de Pesqueira, ela insere-se perfeitamente nessas
colocações, pois adotou uma política de comercialização inter-regional, permitindo-lhe um
crescimento constante, já que não havia uma concorrência forte aos seus produtos na época
em que o país começava seu processo industrial, atingindo mercados promissores como o eixo
Rio-São Paulo, o que fez com que houvesse um permanente escoamento de sua produção e,
com isso, houve um efeito multiplicador na economia no município.
O processo industrial brasileiro, portanto, teve até 1920 seu primeiro impulso
industrial que, segundo o censo de 1920, foi de rápida expansão, com a existência de mais de
13.000 mil estabelecimentos industriais e empregando mais de 275.000 mil operários em todo
o país. Isso sem contar com as usinas açucareiras e salinas que não estão inclusas nesses
números e que somariam mais de 460 estabelecimentos, além das pequenas fábricas artesanais
e manufatureiras.
A partir desse período estava consolidada a indústria brasileira, contudo, o
desenvolvimento industrial iria se desenvolver de forma diferente entre as regiões do país,
gerando discrepâncias econômicas e sociais.
__________________________
10
2.2. A Industrialização em Pernambuco
Falar de Pernambuco é, na verdade, fazer menção a um Estado que sempre foi
sinônimo de pioneirismo e desenvolvimento na história nacional. A economia pernambucana,
alicerçada na atividade açucareira, manteve-se forte por cerca de quatro séculos (1540 a 1900)
e fez do Estado um centro político, acadêmico e cultural.
A exploração da atividade açucareira foi o que fomentou a economia
pernambucana por tão vasto período e garantiu o desenvolvimento do Estado, assim como
estimulou inicialmente à ocupação de seu território 11 e colocou Pernambuco no cenário
econômico nacional.
O crescimento do mercado de açúcar, a partir da segunda metade do século
XVI, constituiu, segundo Furtado, um fator fundamental para o avanço da colonização do
Brasil e isso se deve, particularmente, à contribuição dos holandeses, pois “especializados no
comércio intra-europeu, grande parte do qual financiavam, os holandeses eram nessa época o
único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de
grandes dimensões para um produto praticamente novo, como era o açúcar” 12.
Entretanto, o açúcar que foi por tanto tempo o ouro pernambucano tornou-se o
seu entrave, pois quando a atividade açucareira entrou em declínio o Estado foi perdendo a
sua primazia, já que não tinha se preparado para diversificar sua economia para outras
atividades. Com a expulsão dos holandeses, o que parecia uma vitória em termos de
recuperação de território, tornou-se um prejuízo econômico para Pernambuco, uma vez que
eles haviam acumulado conhecimento sobre o manejo da cana-de-açúcar e transferiram seus
interesses na atividade açucareira para as Antilhas.
________________________
11
VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides. A Economia de Pernambuco no Século XXI: Desafios e Oportunidades para a Retomada do Desenvolvimento. Recife e Brasília: Edições Bagaço, 2000, p. 29.
“É provável entretanto que as transformações da economia antilhana
tivessem ocorrido muito mais lentamente, não fora a ação de um
poderoso fator exógeno a fins da primeira metade do século XVII. Esse
fator foi a expulsão dos holandeses do Nordeste brasileiro. Senhores da
técnica de produção e muito provavelmente aparelhados para a
fabricação de equipamentos para a indústria açucareira, os holandeses
se empenharam firmemente em criar fora do Brasil um importante
núcleo produtor de açúcar. É tão favorável a situação que encontram
nas Antilhas francesas e inglesas que preferem colaborar com os
colonos dessas regiões a ocupar novas terras e instalar por conta
própria a indústria” 13.
A economia açucareira foi responsável por uma importante etapa de expansão
econômica em Pernambuco. No entanto, como a produção de açúcar era a base da economia
nordestina e como os investimentos eram, em geral, direcionados para essa atividade, isso
dificultou a abertura de outros caminhos para dinamizar a economia pernambucana.
Além disso, é preciso ressaltar que a atividade açucareira demorou muito para
se modernizar. Os engenhos utilizavam obsoletas formas de produção e o transporte do açúcar
era feito por meio de animais e barcaças, o que só começou a ser modificado a partir da
segunda metade do século XIX, com a implantação das estradas de ferro. Por outro lado, o
método ultrapassado de produção dos engenhos garantia uma grande absorção de
mão-de-obra, que viria a ser largamente diminuída com o progresso industrial do século XX 14.
Um único produto básico foi responsável pelo bom desempenho da economia
pernambucana por séculos. O açúcar e seus derivados sustentavam a economia do Estado e
graças à exportação do produto outros setores, mesmo que lentamente, foram
desenvolvendo-se, gerando empregos e melhorias na região. Se tomarmos como exemplo os anos de 1886-90,
verificamos que as exportações foram de aproximadamente 120 mil toneladas, o que
______________________
13 Ibidem, p. 25.
14 GUIMARÃES NETO, Leonardo. Introdução à Formação Econômica do Nordeste. Recife: FUNDAJ, Editora Massangana,
demonstra a força da economia açucareira na época 15.
TABELA III
PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO DE AÇÚCAR EM PERNAMBUCO (1856-1910) (Quantidades médias anuais)
ANOS PRODUÇÃO (ton) EXPORTAÇÃO (ton)
1856-1860 67.339 48.523
1861-1865 57.357 46.741
1866-1870 54.372 63.229
1871-1875 98.231 78.699
1876-1880 116.379 91.882
1881-1885 133.847 103.889
1886-1890 156.321 119.227
1891-1895 173.442
-1896-1900 134.326 40.840
1901-1905 142.015 11.701
1906-1910 141.624 32.993
Fonte: EISEMBERG, Peter L. Modernização sem Mudanças. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1977, pp. 42-44.
Depreende-se, da tabela acima, que a partir de 1896 as exportações começam a
declinar gradativamente e isso se deve à venda do açúcar no mercado interno, pois enquanto a
produção do açúcar crescia, as exportações caiam. O aspecto positivo é que a atividade
açucareira passou a depender menos das variações do mercado internacional, mas,
negativamente, ao longo do tempo, a produção pernambucana de açúcar passou a concorrer
com outras regiões do país 16.
O gradual declínio da economia açucareira provocou uma grande queda na
industrialização de Pernambuco, pois o cluster do açúcar, que era muito bem organizado e envolvia boa parte das atividades do Estado, respondia por uma grande parcela do PIB
pernambucano e por isso tão forte foi o impacto econômico devido à diminuição da
comercialização do produto e seus derivados.
________________________
15
VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides. Op. Cit., p. 32.
16
Para o bom desempenho do produto havia toda uma estrutura, ou melhor, toda
uma cadeia de produção organizada: plantação de algodão no Semi-Árido; o algodão
abastecia as fábricas de tecido que produziam, entre outras coisas, a sacaria necessária para
embalar o açúcar; fábricas metalmecânicas e técnicos especializados nesse tipo de serviço;
crescimento do comércio no varejo e outras atividades paralelas. Pernambuco era
reconhecidamente uma força econômica nacional.
A industrialização do açúcar, por conseguinte, teve também um importante
papel no desenvolvimento de centros urbanos próximos às áreas produtoras, inclusive,
conforme Singer, o aparecimento da indústria em Recife está totalmente ligado à atividade
açucareira ao:
a) criar mercado para certos bens de produção, como cal, sacaria,
veículos, entre outros;
b) ampliar o mercado de bens de consumo, ao provocar mudanças nas
relações na zona rural, com a conseqüente expansão da economia
de mercado em detrimento do setor de subsistência;
c) expulsar do campo levas de trabalhadores que iriam constituir, em
Recife, um verdadeiro Exército Industrial de Reserva 17.
O maior erro, portanto, se é que assim se pode colocar, já que o declínio do
açúcar em Pernambuco se deve a uma soma de fatores, foi mudar o destino da produção
açucareira, que a partir de 1890 “(...) passou a ser vendida mais e mais no mercado interno e
menos para o resto do mundo” 18.
Celso Furtado, ao elaborar a pedido do então Presidente Juscelino Kubitschek
um estudo sobre o Nordeste, em 1959, que posteriormente originou a SUDENE, defendia que
as exportações poderiam alavancar a economia nordestina:
________________________________
17 SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. São Paulo: Editora Nacional, 1974, pp. 307-308. 18 VERGOLINO, José; MONTEIRO NETO, Aristides.
“No Nordeste, como em toda economia de baixo nível de
desenvolvimento, o setor externo – isto é, as exportações e as
importações – ocupa posição fundamental. Com efeito, quanto menos
desenvolvida é uma economia, menos diversificada é sua estrutura
produtiva, e, portanto, maior é a dependência do exterior para o
suprimento de todos aqueles bens (de consumo ou de inversão) cuja
produção apresenta maior complexidade tecnológica. Não é por outra
razão que, para aumentar a oferta desses bens, mister se torna aumentar
as exportações, ou diversificar a estrutura produtiva pela
industrialização” 19.
TABELA IV
VENDAS DE AÇÚCAR DE PERNAMBUCO NO COMÉRCIO INTERNO (1856-1928) (Quantidades médias anuais)
ANOS TONELADAS
1856-1860 12.177
1861-1865 10.628
1866-1870 10.484
1871-1875 13.392
1876-1880 17.241
1881-1885 21.581
1886-1889 21.581
1897-1901 24.767
1902-1917 78.016
1918-1920
-1921-1925 87.275
1926-1928 114.810
1926-1928 185.070
Fonte: GUIMARÃES NETO, Leonardo. Op. Cit., p. 59.
A industrialização em Pernambuco, como o caso do Nordeste, apresentou um
aspecto marcante, como se percebe na tabela acima, voltou-se praticamente para o mercado
interno e “orientando seu desenvolvimento quase exclusivamente para os mercados internos
________________________
19 in: GTDN (Estudo elaborado pelo Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste). Uma Política de
do país, o Nordeste desperdiçou, em larga medida, as oportunidades oferecidas pelo comércio
internacional” 20.
A economia açucareira pernambucana ficou condicionada ao mercado interno,
especialmente aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro e, embora Pernambuco tenha um
aumento em sua produção açucareira no período de 1902-1928, como demonstrado na tabela
IV, não acompanha o avanço industrial do Sudeste, apoiado pelos excelentes resultados da
economia cafeeira desde o final do século XIX.
Na tabela que segue, observa-se que entre 1870 e 1930 houve uma grande
realização de investimentos em Pernambuco, principalmente na malha ferroviária, no porto e
no setor industrial. As ferrovias desempenharam o papel de conexão das regiões interioranas
ao porto do Recife, interligando especialmente as regiões da Zona da Mata (produção de
açúcar) e do Agreste (produção de algodão) com a zona portuária, que era a via de
escoamento dos produtos para exportação.
TABELA V
DISTRIBUIÇÃO DOS INVESTIMENTOS PERNAMBUCANOS (1873-1930)
CAMPO DE COLOCAÇÃO (%)
Ferrovias 11,18
Dívida Pública 7,42
Obras do Porto 19,47
Bancos 13,48
Serviço Público 3,04
Indústrias 19,45
Outros 25,94
Fonte: NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Formação e Desenvolvimento do Capital Industrial em Pernambuco (1890/1920): Mercado Interno e Industrialização. Recife: Dissertação de Mestrado, Depto. de História/UFPE, 1988, p. 96.
_______________________
20 GOMES, Gustavo; VERGOLINO, José Raimundo. A Macroeconomia do Desenvolvimento Nordestino: 1960/1994.
Os investimentos nas linhas férreas foram fundamentais não só para o maior
intercâmbio entre as regiões interioranas, como para o transporte das mercadorias produzidas
no interior do Estado e o recebimento dos insumos importados, sobretudo daqueles que
chegavam por via marítima.
Esses investimentos, apesar de alguns serem feitos com o capital externo e de
empresas privadas, como a Great Western, eram um programa de governo, no sentido de interiorizar o desenvolvimento nacional, conforme se depreende da transcrição abaixo:
“Tendo o Governo decidido prolongar a linha do Recife ao S.
Francisco, que attingia então a Palmares (Una) para Garanhuns, foi
começada a construcção em 2 de Dezembro de 1876. Em 28 de
Setembro de 1887 chegava o trafego a Garanhuns, com a extensão total
de 146,420 kilometros. Em 1891 começou a construcção do ramal de
Glycerio a União, cujo trafego foi inaugurado em 13 de Maio de 1894,
com a extensão de 47,488 kilometros. Este prolongamento e ramal
constituem a linha denominada “Sul de Pernambuco”, arrendada à
Companhia Great Western of Brasil Railway. O seu custo foi de 23.521:175$ e suas condições technicas são as seguintes: bitola 1
metro, raio mínimo 100 metros e declividade máxima de 0”032” 21.
Os investimentos na indústria também se destacaram e embora grande parte
desses investimentos fosse aplicada nas usinas e nas indústrias têxteis, outros ramos
industriais também foram beneficiados, diversificando a indústria pernambucana. Como
exemplo tem-se o caso da indústria pesqueirense, que criou uma atividade fabril alimentícia
inovadora no interior do Estado.
Vale ressaltar, ainda, a importância da movimentação portuária no Recife, dada
a sua privilegiada situação geográfica: “Pela sua situação na parte mais oriental do Brasil, é
escala obrigada de quase todos os paquetes transatlanticos que se dirigem para o sul; e nelle
tocam os vapores de todas as companhias nacionaes que navegam na costa brasileira” 22.
________________________
21 IBGE.
Op. Cit., p. 26.
22
TABELA VI
ESTABELECIMENTOS INDUSTRIAIS DE PERNAMBUCO (1907)
INDÚSTRIAS Nº DE
ESTABELECIMENTOS Nº DE OPERÁRIOS
Assucar (usinas) 46 4.887
Bebidas alcoolicas e gazozas 9 81
Biscoitos 2 42
Cal e cimento 1 120
Calçado 2 277
Chapéos, de feltro, lã, lebre, etc. 2 54
Carvão animal 1 9
Chocolate 1 6
Cordoalha 1 180
Cerveja 1 8
Doce 5 220
Fiação e tecelagem 8 3.700
Fumos preparados 3 757
Fundição e obras sobre metal 5 320
Grampos, colchetes, etc. 1 42
Massas alimentares 1 10
Massa de tomate 2 60
Moveis e decorações 1
-Óleos e rezinas 4 96
Perfumarias 1 42
Pregos 1 15
Preparo de couros 2 200
Phosphoros 1 120
Productos ceramicos 2 44
Productos chimicos 1 400
Refinarias de assucar 3 143
Roupas brancas 1 10
Sabão e velas 5 162
Serrarias e carpintarias 3 26
Tintas para escrever e outras 2 11
TOTAL 118 12.042
Fonte: IBGE. Op. Cit., p. 83.
Muito embora o açúcar tenha sido o principal produto industrial da economia
pernambucana, vê-se, na tabela VI, que mesmo em número menor de estabelecimentos, o
empregabilidade. Também não se pode olvidar da contribuição que outros pequenos setores
industriais acresciam à economia estadual, pois Pernambuco, se comparado a outros estados
do Nordeste, possuía uma grande diversificação industrial, com cerca de trinta tipos de
empreendimentos fabris, o que na época em questão demonstrava a importância econômica do
parque industrial pernambucano.
A primeira etapa da industrialização de Pernambuco, em fins do século XIX e
nas primeiras décadas do século XX, assim como ocorreu na industrialização do Brasil de
modo geral, caracterizou-se pela formação e acumulação de capital através do mercado
intra-regional e da exportação de produtos primários. Como principal particularidade desse início
de industrialização verificamos a prevalência das indústrias de bens de consumo não-duráveis.
A indústria têxtil, junto com as usinas, apresentou um grau elevado de
concentração e de centralização de capital, isso ocorreu a partir das condições e da natureza
do processo de constituição do mercado intra-regional em Pernambuco. Enquanto as usinas
açucareiras ocupavam a área rural, as indústrias de tecidos localizavam-se no perímetro
urbano e são essas indústrias que vão fortalecer consideravelmente o processo de
industrialização local 23.
Pernambuco, que desde o início da colonização brasileira foi um dos estados
expoentes da economia nacional, sempre acompanhando o desenvolvimento do país, viu-se a
partir da terceira década do século XX distanciado dos estados das regiões Sul e Sudeste, que
passaram a se desenvolver mais aceleradamente e centralizaram o potencial industrial da
nação.
Pernambuco passou a importar mais produtos de outras regiões do país que
exportar e o déficit na troca comercial do Estado começou a aumentar 24. A economia
pernambucana, então, apresenta sinais de enfraquecimento, principalmente em relação a
alguns estados do Centro-Sul, que principiaram o desenvolvimento do setor industrial do país.
________________________
23 ANDRADE, Manoel Correia de.
Estado, Capital e Industrialização no Nordeste. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981, pp. 24-35.
Isso é possível verificar, na tabela VII, ao se comparar o número de
estabelecimentos, em alguns estados brasileiros, das indústrias manufatureiras nos anos de
1907 e 1920. Contata-se que o setor industrial pernambucano foi largamente superado por
estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e até a Bahia começa a ultrapassar
Pernambuco a partir da década de 1920.
TABELA VII
INDÚSTRIAS MANUFATUREIRAS NO BRASIL (1907 e 1920) (Alguns Estados brasileiros)
ESTADOS
Nº DE
ESTABELECIMENTOS (1907)
Nº DE
ESTABELECIMENTOS (1920)
Distrito Federal 662 1.541
São Paulo 326 4.145
R. G. do Sul 314 1.773
Rio de Janeiro 207 454
Pernambuco 118 442
Minas Gerais 529 1.243
Bahia 78 491
Fonte: LLOYD, Reginald. Op. Cit., p. 332. NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Op. Cit., pp. 18-19.
Entretanto, é importante salientar que algumas ilhas de produção no Estado
mantiveram-se ativas, por condições propícias, como foi o caso da indústria alimentícia de
Pesqueira, que soube aproveitar a potencialidade local dos frutos abundantemente produzidos
naquela região e por isso não foi afetada economicamente durante várias décadas, já que seus
produtos, quase originais e com poucos concorrentes, eram aceitos com facilidade no mercado
2.3. O Agreste Pernambucano e sua Base Econômica
A colonização da Capitania de Duarte Coelho teve início na extremidade norte
do litoral pernambucano, especificamente em Igarassú, e depois se estendeu para Olinda, que
foi fundada para servir de residência oficial do donatário. Durante mais de um século,
portanto, a colonização se deu apenas nas zonas litorâneas e da Mata, até que houve a
necessidade de descobrir mais espaços em direção ao interior da Capitania.
Em Pernambuco, a penetração no interior, segundo Hilton Sette, deve-se à
adaptação aos diferentes quadros naturais e desbravamentos por melhores roteiros em direção
às localidades cada vez mais distantes do litoral. Quando já estava prestes a se esgotar em
extensão as terras devolutas da Zona da Mata, as fazendas de criação de gado foram-se
multiplicando nas caatingas do Agreste, pois já havia sido aprendida a técnica de ocupação
em áreas de solo raso e de clima semi-árido, além de ser a passagem mais curta e fácil em
direção aos currais sertanejos, que já eram também utilizados para pecuária em regime
extensivo 25.
É nesse contexto que começa a colonização do Agreste, que se deu mais
tardiamente do que as colonizações do Litoral e Zona da Mata, principalmente quando passou
a servir de celeiro de criação de gado para abastecer as necessidades daquelas regiões, que se
dedicavam mais exclusivamente à monocultura da cana, não sendo, portanto, prioritária a
atividade pecuária, já que era considerada uma ocupação subsidiária e até conflitava com a
cultura da cana, pois necessitava de maior expansão dos campos para pastoreio e outras
características que o Agreste poderia melhor oferecer.
O Agreste, destarte, por muito tempo passou a ser o criadouro de gado que
abastecia as zonas mais desenvolvidas e habitadas do Estado, transferindo-lhe as boiadas para
o abate (consumo de carne), bois para fazer moer os engenhos e carrear a cana e o couro para
________________________
25 SETTE, Hilton.
as pequenas manufaturas artesanais de calçados, arreios e toda espécie de artefatos que dele se
utilizavam.
Nas fazendas dessa região, por força da necessidade de suprimento dos vaqueiros
e seus familiares, foi prosperando a implantação de roçados para a produção de alimentos,
basicamente voltados para o cultivo de milho, feijão e mandioca.
O desenvolvimento da pecuária dá lugar ao adensamento e surgimento de
outras atividades e como resultado dessa evolução há o aparecimento de vilas e povoados e
até mesmo de atividades agroindustriais, nas áreas mais propícias, subsidiárias do criatório e
voltadas, geralmente, para a produção de rapadura e aguardente.
A diversificação das atividades produzidas no Agreste é o que mais diferencia
essa região das demais, o que vai gerar um quadro de relações de produção que vai conduzir,
naturalmente, à divisão social do trabalho na região, como bem explicita Manoel Correia:
“Nos meados do século XVII, quando a população agrestina já
crescera bastante e a pecuária extensiva não era capaz de absorver a
mão-de-obra aí existente, os índios refugiados nos brejos de altitude
foram sendo aldeados e as secas foram fazendo com que os habitantes
da caatinga se abrigassem nos brejos úmidos, ambientando os mesmos
à coleta dos produtos florestais e à agricultura; foi aí que os brejos de
altitude passaram a ser mais densamente povoados. Aí iriam
concentrar-se grupos humanos que se dedicavam à agricultura de
mantimentos e à cultura de cana-de-açúcar, que era transformada por
engenhocas em rapaduras e aguardente, dando origem a sítios e até
pequenas vilas. Agregados dos fazendeiros da caatinga tornaram-se
muitas vezes foreiros, agricultores e rendeiros, que abasteciam o
Agreste de gêneros alimentícios e, quando a cultura e o comércio de
algodão abriram condições, passaram a fornecê-los também à Mata e
ao Sertão” 26.
________________________
Mas, de fato, a verdadeira alteração econômica em larga escala ocorrida
especialmente na região agrestina foi a introdução da cultura do algodão. Essa ocorrência não
é um fato peculiar, mas a conseqüência da importância que esse produto passou a ter no
cenário mundial naquela época, caracterizado como o “renascimento da agricultura” 27,
porque a ela estão associados enormes contingentes da população européia, ligados às
atividades econômicas e ao comércio internacional, cujos dinamismos foram provocados pela
Revolução Industrial.
Para se ter idéia do interesse do “velho mundo” pelo produto, Pernambuco
exportou para a Europa, em 1811, 1812 e 1813, respectivamente, 28.245, 58.824 e 65.327
sacas de algodão, tornando-se a província que mais lucrou com a exportação do produto
naquele período 28.
Com a criação da máquina a vapor e dos teares mecânicos o aproveitamento do
algodão passou a ser integral, a ponto de tornar-se uma das matérias-primas de maior procura
pelas indústrias 29, já que dele não era só utilizado a fibra para confecção de tecidos, como o
próprio caroço, rico em óleo vegetal, e até mesmo o seu bagaço, usado até hoje para
alimentação animal.
“Na verdade, a lavoura algodoeira não só abriu, à época, perspectiva
econômica para o hinterland nordestino, que somente havia conhecido
a pecuária e a sua atividade subsidiária da produção de alimentos,
como, através do estabelecimento de novas relações sociais, foi
portadora de transformações significativas na economia da região” 30.
________________________
27 GUIMARÃES NETO, Leonardo. Op. Cit., p. 30. 28 BARBALHO, Nelson.
Cronologia Pernambucana – Subsídios para a História do Agreste e do Sertão – de 1811 a 1817. V. 11. Recife: CEHM-FIAM, 1983, p. 203.
29 “O algodão foi cultivado no Brazil desde os tempos coloniaes, sendo o seu primeiro centro de cultura o Estado do
Maranhão. Em breve, porém, a cultura se estendia a outros pontos e a producção se tornava tão remuneradora, que as atividades portuguezas resolveram animar essa promettedora fonte de renda: e em 1750, tomaram medidas para auxiliar o estabelecimento de fabricas no interior do paiz. Foi o mesmo que chegar um phosphoro a um rastilho de pólvora. A industria começou a progredir a passos largos, a tal ponto que os próprios portuguezes, então completamente senhores do mercado brazileiro de tecidos de algodão, se alarmaram”. LLOYD, Reginald. Op. Cit., p. 382.
30 GUIMARÃES NETO, Leonardo.
Mesmo quando arrefeceu a exportação do algodão em decorrência,
principalmente, do aumento da produção norte-americana, com o fim da Guerra da Secessão e
do incremento do algodão egípcio e asiático, não houve grande repercussão econômica no
Agreste, já que tinham sido instaladas várias indústrias têxteis e de extração de óleo em
Pernambuco, absorvendo, assim, a produção local, cujas áreas produtivas passaram a ser
consorciadas com outros tipos de lavouras, aumentando a sua rentabilidade econômica.
TABELA VIII
PRODUÇÃO ALGODOEIRA EM PERNAMBUCO (1865-1915)
PERÍODOS PRODUÇÃO EM KILOS
1865-1870 57.604.577
1871-1875 52.066.101
1876-1880 32.635.441
1881-1885 56.523.050
1886-1890 92.203.625
1891-1895 86.883.825
1896-1900 74.607.675
1901-1905 95.219.500
1906-1910 85.531.675
1911-1915 98.291.025
Fonte: NASCIMENTO, Luís Manuel Domingues do. Op. Cit., p. 106.
A tabela acima reproduzida reflete essa argumentação da continuidade da
produção do algodão no Estado. Vendo-se que a partir de 1886 os números são quase sempre
crescentes e correspondem a uma produção algodoeira eficiente, em função do aparecimento
de novas indústrias têxteis 31.
________________________
31 O Estado de Pernambuco, no início do século XX, contava com um número considerável de indústrias de tecelagem e de
O algodão, sem dúvida, foi um produto primordial para a região agrestina,
contudo, além da predominante característica econômica do Agreste de fixar-se na dualidade
algodoeira-pecuária, outras atividades foram surgindo nesse novo espaço, a exemplo da
agroindústria pesqueirense. Assim, por meio de diferentes atividades que foram despontando,
o Agreste integrou-se definitivamente às zonas situadas à leste do Estado de Pernambuco,
uma vez que crescia a sua densidade demográfica e maior era o intercâmbio entre as regiões.
Pelo fato do Estado apresentar características diversas como fatores
edafo-climáticos, culturais e socioeconômicos, o território pernambucano foi dividido, para melhor
detalhamento de cada região, em mesorregiões. A Zona Agreste do Estado, por sua vez,
corresponde hoje a, aproximadamente, 20% da área total de Pernambuco e é uma área
fisiográfica intermediária, situada entre a Zona da Mata e o Sertão.
“O Agreste é uma zona de transição entre a Mata úmida e o Sertão
semi-árido. (...) Apresenta um clima variado entre subúmido dos
“brejos de altitude” e semi-árida nas partes mais baixas do Planalto da
Borborema, cuja pluviosidade varia entre 500 a 900 mm anuais. Seu
relevo é o mais acidentado do Estado, representado pelo Planalto da
Borborema, cuja altitude varia entre os 450 a mais de 1.000 m de
altitude, como ocorre nas serras de Ororubá, em Pesqueira. (...) Os
solos existentes são do tipo arenoso e franco arenoso, em sua maioria
rasos e com baixa capacidade de água, devido a predominância na área
de rochas cristalinas. A vegetação predominante é a caatinga
hipoxerófila, devido a umidade recebida dos ventos do sudeste” 32.
O município de Pesqueira, foco do presente estudo, faz parte da Microrregião
Homogênea 183, Vale do Ipojuca, localizado na parte centro-norte-ocidental do Agreste. O
município está a 214 Km da Capital do Estado e tem um território bastante acidentado,
contendo várias serras. Pesqueira, situada ao sopé da Serra de Ororubá, deu início a uma
atividade industrial inovadora e se destacou, por um longo período, no Agreste
pernambucano.
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FIGURA I
REPRESENTAÇÃO DO AGRESTE DE PERNAMBUCO MUNICÍPIOS DA MESORREGIÃO DO AGRESTE
TABELA IX
MUNICÍPIOS POR MICRORREGIÕES DO AGRESTE DE PERNAMBUCO
Microrregião Vale do Ipanema
68- Águas Belas 69- Buíque 71- Itaíba
66- Pedra 70- Tupanatinga 56- Venturosa
Microrregião Vale do Ipojuca
55- Alagoinha 39- Belo Jardim 18- Bezerros
30- Brejo da Madre de Deus 37- Cachoeirinha 54- Capoeiras
26- Caruaru 19- Gravatá 40- Jataúba
42- Pesqueira 41- Poção 16- Riacho das Almas
44- São Bento do Una 31- São Caetano 43- Sanharó
38- Tacaimbó
Microrregião Alto do Capibaribe
11- Casinhas 15- Frei Miguelinho 29- Santa Cruz do Capibaribe
13- Santa Maria do Cambucá 10- Surubim 28- Taquaritinga do Norte
27- Toritama 12- Vertente do Lério 14- Vertentes
Microrregião Médio Capibaribe
04- Bom Jardim 17- Cumaru 06- Feira Nova
08- João Alfredo 05- Limoeiro 02- Machados
03- Orobó 07- Passira 09- Salgadinho
01- São Vicente Ferrer
Microrregião Garanhuns
50- Angelim 63- Bom Conselho 61- Brejão
57- Caetés 49- Calçado 48- Canhotinho
59- Correntes 58- Garanhuns 67- Iati
53- Jucati 45- Jupi 47- Jurema
60- Lagoa do Ouro 46- Lajedo 51- Palmeirina
65- Paranatama 64- Saloá 52- São João
62- Terezinha
Microrregião Brejo Pernambucano
25- Agrestina 32- Altinho 21- Barra de Guabiraba
22- Bonito 23- Camocim do São Félix 33- Cupira
36- Ibirajuba 34- Lagoa dos Gatos 35- Panelas
20- Sairé 24- São Joaquim do Monte