www.rpped.com.br
REVISTA
PAULISTA
DE
PEDIATRIA
ARTIGO
ORIGINAL
Aplicac
¸ão
de
teste
molecular
para
detecc
¸ão
de
adenovírus
em
pacientes
pediátricos
distintos
Diane
Puerari,
Clarice
Camargo,
Sandra
Gratura,
Aripuanã
Sakurada
Aranha
Watanabe,
Celso
Granato
e
Nancy
Cristina
Junqueira
Bellei
∗UniversidadeFederaldeSãoPaulo(Unifesp),SãoPaulo,SP,Brasil
Recebidoem17deabrilde2014;aceitoem22desetembrode2014 DisponívelnaInternetem28demarçode2015
PALAVRAS-CHAVE
Infecc¸ãorespiratória viral;
Adenovírusereac¸ão emcadeiada polimerase
Resumo
Objetivo: Osadenovírusdesempenhamumpapel importantenaetiologiadainfecc¸ãoaguda grave dotrato respiratórioinferior, especialmenteentrecrianc¸as. Oobjetivodoestudo foi avaliaradetecc¸ãodoadenovírushumano(HAdV)pordiferentesmétodos(imunofluorescência direta---DFAereac¸ãoemcadeiadapolimerasenested---nestedPCR)emamostrascoletadas dediferentespopulac¸õesdepacientespediátricos.
Métodos: Omaterialfoicoletadodecrianc¸asportadorasdedoenc¸acardíacacongênita(DCC ---123aspiradosnasaiscoletadosem2005,2007e2008)edecrianc¸asdacomunidade(CC ---165aspiradosnasaiscoletadosem2008).Ascrianc¸aseramconsideradaselegíveisse apresen-tasseminfecc¸ãorespiratóriaaguda(IRA)deprováveletiologiaviral,comatésetediasdeinício dossintomas.TodasasamostrascoletadasnoestudoforamavaliadaspormeiodeDFAenested PCR.
Resultados: De209amostrasincluídas,43(14,8%)forampositivasempelomenosumdostestes feitos:17/165(10,3%)dascrianc¸asdacomunidadee26/125(20,8%)dascrianc¸ascardiopatas. Astaxasdedetecc¸ãopornestedPCRforam15/165(9,1%)emcrianc¸asdacomunidadee24/125 (19,2%) em crianc¸as cardiopatas.O método molecular mostrou maiores taxas de detecc¸ão quandocomparadocomaDFA(p<0,001). Aanáliseunivariada mostrouque ascrianc¸as por-tadoras decardiopatia congênitaapresentaramchance significativamentemaiordeadquirir HAdV(oddsratio2,3;IC95%:1,18-4,43).
Conclusões: Baseadonosresultadosobtidosnapresenteavaliac¸ão,recomenda-seavigilância derotinaempacientesderisco(DCC)pormétodosmoleculares,quemelhoraofluxodiagnóstico eaeficiênciadadetecc¸ão.
©2015Associac¸˜ao dePediatriade S˜ao Paulo.Publicado porElsevier EditoraLtda.Todosos direitosreservados.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:nbellei@uol.com.br(N.C.J.Bellei).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpped.2014.09.004
KEYWORDS
Respiratoryviral infection; Adenovirusand polymerasechain reaction
Applicationofmolecularassayforadenovirusdetectionamongdifferentpediatric patients
Abstract
Objective: Adenovirusesplayanimportantroleintheetiologyofsevereacutelowerrespiratory infection,especiallyinyoungchildren.TheaimofthepresentstudywastoevaluatetheHuman Adenovirus(HAdV)detectionbydifferentmethods(DirectFluorescenceAssay---DFAandNested PolymeraseChainReaction---nestedPCR),amongsamplescollectedfromdifferentgroupsof pediatricpatients.
Methods: Collectionofsampleswas madeinchildren withcongenital heartdisease (CHD ---123nasalaspiratescollectedintheyearsof2005,2007and2008)andincommunitychildren (CC---165nasalaspiratescollectedin2008).Childrenwereeligibleifthey presentedacute respiratoryinfection(ARI)ofprobableviraletiology,withinupto7daysofsymptoms’onset. AllstudiedsampleswereevaluatedbyDFAandnestedPCRassay.
Results: Ofthe290samplesincludedduringthestudyperiod,43(14.8%)werepositiveonat leastonetest:17/165(10.3%)oftheCCand26/125(20.8%)oftheCHDchildren.Thenested PCRdetectionratesinthecommunitychildrenwere15/165(9.1%),andforchildrenwithCHD, 24/125(19.2%).MolecularmethodshowedhigherdetectionrateswhencomparedtotheDFA test(p<0.001).Univariateanalysisshowedthatchildrenwithcongenitalheartdiseasepresented asignificantlyhigherchanceforacquiringtheHAdV(OddsRatio2.3;95%CI:1.18-4.43). Conclusions: Based on data obtained inthe present evaluation, we suggest thata routine surveillanceshouldbeperformedinhighriskpatientsbymolecularmethods,thusimproving diagnosticflowandefficiency.
© 2015Associac¸˜ao dePediatria deS˜ao Paulo. Publishedby Elsevier EditoraLtda. Allrights reserved.
Introduc
¸ão
Os adenovírus desempenham um papel importante na etiologiadainfecc¸ãoagudagravedotratorespiratório infe-rior, especialmente em crianc¸as menores.1 Os adenovírus
humanos(HAdV)disseminam-serapidamenteemambientes
fechados, o que muitas vezes resulta em doenc¸a
epidê-mica em comunidades populosas. Além disso, a infecc¸ão
por adenovírus é clinicamente difícil de distinguir de
outras infecc¸ões respiratóriasvirais ou bacterianas.2 Essa
combinac¸ãodefatoresindicaquemétodosmicrobiológicos
clínicos maiseficazes sãonecessários paraa detecc¸ão da
doenc¸arespiratóriaagudacausadaporadenovírus.
Antes do advento da reac¸ão em cadeia de polimerase
(PCR),aimunofluorescênciadireta(DFA)eoisolamentoviral
eramosmétodosmaissensíveisdisponíveisparaadetecc¸ão
dosvírusrespiratórios.3,4Entretanto,umnúmero
significa-tivo de amostras de pacientes com infecc¸ão respiratória
viralclinicamente compatível eraincorretamente
classifi-cado como negativo pela DFA e pela cultura viral, o que
implica falha na identificac¸ão do vírus causador em uma
percentagemsignificativadecasos.5-7 Osmétodos
molecu-laresdemonstrammaiorsensibilidadequando comparados
comensaiosconvencionaisparadetecc¸ãodeadenovírusem
amostrasrespiratórias.8,9
Napopulac¸ãopediátrica,oHAdVéosegundopatógeno
maisfrequentemente detectado10 e o vírus é responsável
por5%a15%dasdoenc¸asrespiratórias.10,11 Amostras
clíni-casdecrianc¸asgeralmenteapresentamcargasviraismaiores
quandocomparadascomasdospacientesadultos.12Os
estu-dosbrasileirosdescrevemumafrequênciaquevariade3%
a 7,1%, de acordo com a técnica usada.13-16 Outro grupo
deriscoparainfecc¸ãorespiratóriaadquiridaporHAdVsão
ascrianc¸ascomcardiopatiascongênitas, emboranãohaja
publicac¸ãoquecomproveessefato.
Nessecontexto,o objetivodopresenteestudofoi
ava-liaraocorrênciadeHAdVpormeiodediferentesmétodos
(imunofluorescência direta --- DFA e reac¸ão em cadeia da
polimerasenested---nestedPCR)emamostrascoletadasde
crianc¸asdediferentespopulac¸ões.
Método
Este estudo transversal incluiu duas populac¸ões distintas avaliadasde2005a2008.
1) Crianc¸as com doenc¸a cardíaca congênita (DCC): durante 2005, 2007 e 2008, 123 pacientes ambulatoriais comdoenc¸acardíacacongênitaatendidosnoServic¸o Pediá-trico de Doenc¸as Cardíacas Congênitas foram incluídos. Durante 2006, a ala de cardiopatia congênita passou por umareforma estruturale administrativa,oque impossibi-litouacoletadasamostras.Dospacientesincluídos,49,7% eram do sexo masculino, com idade média de 3,9 anos (medianade2,9anos),variac¸ãodeumanoeseismesesa 11anos.
Para ambos os grupos, as crianc¸as eram elegíveis se apresentassem infecc¸ão respiratória aguda (IRA) de pro-váveletiologiaviral,de preferênciacom intervalode até sete dias do início dos sintomas até a coleta das amos-tras. No grupo de crianc¸as da comunidade, os pacientes foramincluídosquandoospaisouresponsáveisprocuraram atendimentomédicoemconsequênciadeumainfecc¸ão res-piratóriaaguda.NogrupoDCC,ainclusãodepacientesfoi definidaporummédicoduranteumaconsultaderotina pre-viamenteagendada.A populac¸ão DCC foi considerada em riscoparacomplicac¸õesdeinfecc¸ãorespiratóriaviral; por-tanto,foramcoletadasamostrasde crianc¸as com maisde setediasdoiníciodos sintomas(variac¸ão deum-60dias). Os sintomas respiratórios avaliados foram: coriza, tosse, dordegargantaoucongestãonasal;ossintomassistêmicos foram:febre,dordecabec¸a,mal-estar,calafriosoufadiga. Foiobtidotermo de consentimentolivre e esclarecidode todososadultos responsáveis porcada paciente antes da inclusão.
Todas asamostrasnasais forammantidasa 4◦Ce ime-diatamentetransportadasparaolaboratório.Umaalíquota (1mL) foi separada para análise molecular e armazenada a ---70◦C. O volume da amostra restante foi avaliado no mesmodia por DFA,de acordocom estudoanterior.17 Em
seguida, umaalíquota de cada amostraarmazenada teve
o DNA extraído com o kit de extrac¸ão QIamp DNA Blood
extractionkit(Qiagen,EUA),deacordocomasinstruc¸õesdo
fabricante,seguidopornestedPCRparaadetecc¸ãodetodos
osserótiposdoadenovírus,comoanteriormentedescrito.18
Todasasamostrasestudadasforamavaliadaspelatécnica
deDFA.OstestesforamfeitoscomokitSimulfluor
Respira-toryScreenandPanel(ChemiconInt.,EUA),deacordocom
asinstruc¸õesdofabricante.
Osprimersusadosparaadetecc¸ãotiveramcomoalvoa
regiãodogeneHexondoHAdV.Opardeprimersexteriores,
hex1deg(5’-GCC SCA RTG GKC WTACAT GCA CAT C-3’) e
hex2deg(5’-CAGCACSCCICGRATGTCAAA-3’)resultaram
emumprodutode301bp.Osegundopardeprimers(nested
primers),nehex3deg(5’-GCCCGYGCMACIGAIACSTAC
TTC-3’)enehex4deg(5’-CCYACRGCCAGIGTRWAICGMRCYTTG
TA-3’),produziuumampliconde171bp.
Para a primeira reac¸ão de amplificac¸ão, 5L de DNA
extraídoforamcolocadosemumtubocomumamisturade
reac¸ãocom2,5Lde10×buffer(200mMTris-HCl,pH8,4,
500mMdeKCl),3,5MdeMgCl2,0,5MdeprimersHex1deg
eHex2deg, 1L demistura dedNTPs com20mM decada
nucleotídeo,2,5UdePlatinum®TaqDNApolimerase
(Invitro-gen,Brasil)eáguaMilliQautoclavada,emumvolumefinal
de25L.
Para a segundareac¸ão de amplificac¸ão,2L do
ampli-condaprimeira reac¸ão foramcolocadosem umtubocom
umamisturadereac¸ãoconstituídapor2,5Lde10×
buf-fer(200mMTris-HCl,pH8,4,500mMKCl),3,5MdeMgCl2,
0,5M de primers Nehex3deg e Nehex4deg, 1L de
mis-tura de dNTPs,com 20mMde cada nucleotídeo, 2,5U de
Platinum® TaqDNA polimerase (Invitrogen, Brasil) e água
MilliQ autoclavada,em um volumefinal de25L.
Contro-lespositivos(AdenovírusSorotipo3)econtroleredundante
negativo (água MilliQ autoclavada) e foram incluídos em
cadasérie.Foramconsideradosresultadospositivosquando
oampliconfoivisualizadoapóseletroforeseemgelde
aga-rose a 2%. A sensibilidade da reac¸ão foi padronizada e
apresentouumlimitededetecc¸ãode10-4TCID
50/mL.
A associac¸ão entre diferentes variáveis categóricas
(variável resposta: presenc¸a ou ausência de HAdV;
variá-velindependente:crianc¸asdacomunidadee crianc¸as com
doenc¸acardíacacongênita)foiavaliadapelotestedo
qui--quadrado e a razão de probabilidade univariada (SPSS,
versão 11.5). Valor de p<0,05 foi considerado
estatisti-camente significativo. Para comparar os métodos usados,
o teste Kappa foi feito (R software versão 2.11.1) e a
interpretac¸ão dos coeficientes foi feita com o uso da
classificac¸ãodeAltman.19
OpresenteestudofoiaprovadopeloComitêdeÉticaem
PesquisadoHospitalSãoPauloedaUniversidadeFederalde
SãoPaulo(1654/09).
Resultados
As amostras de290 pacientessintomáticos foram analisa-das [48,6% (141/290)do sexofeminino e 51,4% (149/290) dosexomasculino],56,9%(165/290)decrianc¸asda comu-nidadee43,1%(125/290)decrianc¸ascomDCC.Otempode iníciodossintomasatéomomentodacoletavarioudeuma 60dias.
Entreas290amostrasdepacientessintomáticosincluídas duranteoperíododoestudo,41(14,1%)forampositivasem pelomenosumteste:17/165(10,3%)crianc¸as da comuni-dade,26/125(20,8%)crianc¸ascomDCC.Atabela1mostra
a detecc¸ãodiferencial entreosensaiosdeacordo comas
diferentespopulac¸õesestudadas.Nogeral,4/290(0,7%)das
amostrasforamDFApositivase39/290(13,40%)das
amos-trasforamnested PCRpositivas.OmétododanestedPCR
apresentouumamaiortaxadedetecc¸ão,estatisticamente
significativa, entretodasaspopulac¸õesestudadas quando
comparada com o DFA (p<0,001). Comparando-se os
gru-posdecrianc¸aspormétodosmoleculares,asdogrupoDCC
apresentarammaiortaxadedetecc¸ão(p=0,02).
Aanálisedotempodecorridodesdeoiníciodossintomas
atéodiadacoletamostrouumadiferenc¸aestatísticaentre
osmétodosDFAenestedPCR(tabela2).Entreascrianc¸as
Tabela1 Detecc¸ãodeHAdVporDFAenestedPCRentreasdiferentespopulac¸õesestudadas
N◦ DFA NestedPCR p Positividadeglobal
Positivo Negativo Positivo Negativo
Comunidade 165 2(1,2%) 163(98,8%) 15(9,1%) 150(90,9%) <0,001 17(10,3%) DCC 125 2(1,6%) 123(98,4%) 24(19,2%) 101(80,8%) <0,001 26(20,8%)
Total 290 4(1,4%) 286(98,6%) 39(13,4%) 251(86,5%) 43(14,8%)
Tabela2 Tempodoiníciodossintomasdeacordocomotesteusado
≤5dias >5dias
Positivo %
Negativo %
Positivo %
Negativo %
DFA 3(1,4%) 211(98,6%) 1(1,3%) 75(98,7%)
NestedPCR 24(11,2%) 190(88,8%) 15(19,7%) 61(80,3%)
p <0,001 <0,001
Total 214 76
DFA,imunofluorescênciadireta;PCR,reac¸ãoemcadeiadepolimerase.
da comunidade, a média±desvio padrão, a mediana e o intervalodesdeoiníciodossintomasforamrespectivamente 3,2±2,72; 3; 1-20 dias;e entreascrianc¸as do grupoDCC 6,5±7,1;5;1-60dias.OmétodonestedPCR,emcomparac¸ão com a DFA, detectou maior número de casos,tanto para amostrascoletadascom≤5diasdesdeoiníciodossintomas como para amostras com >5 dias desde o início dos sintomas.
Atabela3mostraaconcordânciaentreostestes
avalia-dos. Aconcordânciageral foi baixa,principalmente entre
as crianc¸as da comunidade. A concordância relativa aos
resultadosnegativosfoielevadaparaambasaspopulac¸ões
estudadas.
A tabela 4 mostra o resultado da análise da razão de
probabilidade univariada de ocorrência doHAdV entreas
diferentespopulac¸õesestudadas.Avariávelrespostafoi a
presenc¸aouausênciadeHAdVeavariávelindependentefoi
ogrupoestudado:ascrianc¸asdacomunidadeeascrianc¸as
comDCC.Ascrianc¸ascomDCCapresentaram
aproximada-mente duas vezes maischance de infecc¸ão adquirida por
HAdVquandocomparadascomascrianc¸asdacomunidade.
Discussão
Entre as crianc¸as da comunidade, a taxa de detecc¸ão de adenovírus foi semelhante à descrita na literatura nacio-nal,variac¸ãode6%a7,1%.13-16Umestudobrasileirorecente
avaliou 1.121 amostras coletadas de crianc¸as
hospitaliza-daseencontrouocorrênciadeadenovírusem15,8%,oque
corroboraosresultadosdopresenteestudo.10Estudos
inter-nacionaisrelatama ocorrênciadoHAdV variandode 2%a
3,8%empopulac¸õespediátricas,oqueéligeiramentemenor
quando comparadocom os nossos resultados.20-22 Estudos
com crianc¸as com cardiopatia congênita demonstram a
circulac¸ãodosvírusrespiratórios,comtaxasrelativamente
altasdeocorrência,emostramqueessesagentesdevemser
consideradosnapráticaclínicaediagnóstica.22 Opresente
estudoéoprimeiroadescreverainfecc¸ãorespiratóriapor
HAdVemcrianc¸asbrasileirascomDCC.Ataxadedetecc¸ão
de HAdV nos cardiopatas foi maior (20,8%) quando
com-parada com a de crianc¸as da comunidade (10,3%). Vale
ressaltarque,entreascrianc¸ascomcardiopatiacongênita,
acoletadeamostrasfoifeitaduranteaconsultaderotina.
Seopaciente apresentavainfecc¸ãorespiratória durantea
consultaagendada,aamostraeracolhida.Portanto,ataxa
encontradapodeestarsubestimada,porqueprováveiscasos
podemtersidoperdidosporcontadafaltadedemandados
pacientes.Umahipóteseparaamaiordetecc¸ãopodeestar
relacionada coma presenc¸a de comorbidadesentreessas
crianc¸as.23
Ao avaliarosdois testes usadosneste estudo,algumas
questõesimportantesparaclínicoseadministradores
hospi-talaressãolevantadas:Qualéomelhorteste?Atéqualdia
éo períodoideal paracoletara amostra? Hánecessidade
Tabela3 Avaliac¸ãodeconcordânciaentreostestesusados
Amostras coletadas
DFApositiva NestedPCR positiva
Concordânciaa Concordânciade
positividade
Concordânciade negatividadeb
Crianc¸as
Comunidade 165 2(1,2%) 15(9,1%) 64,9% 0% 98,7%
DCC 125 2(1,6%) 24(19,2%) 79,2% 0% 98,0%
Total 290 4(1,4%) 39(13,5%)
DCC,crianc¸ascomdoenc¸acardíacacongênita;DFA,imunofluorescênciadireta;PCR,reac¸ãoemcadeiadepolimerase.
a Concordânciacalculadaporummétodoparacomparardoistestesquandoométodopadrãodeouronãoeraconhecido.
b Osvaloresmaiselevadosdeconcordânciadenegatividademostramqueosmétodosapresentaramdesempenhosimilaraoscasos
negativosdetectados.
Tabela4 Análiseunivariadadarazãodechances(oddsratio---OR)daocorrênciadeHAdVentreaspopulac¸õesestudadas
Populac¸ões Positividadegeral 2(p) OR(95%CI)
Comunidade 17(10,3%) 0,01 1
DCC 26(20,8%) 2,3(1,18-4,43)
derepetiroteste?Qualéonúmeroidealdeamostraspara ofluxoderotinadolaboratório?Qual éoimpactode tes-tesnegativosepositivosempacientesdealtorisco?Alguns dessesaspectospuderamseravaliadosnopresenteestudo. A análise daassociac¸ão entre o iníciodos sintomas no paciente e osresultados dos testes laboratoriais mostrou que o método molecular foi mais sensível do que o DFA e essa diferenc¸a foi mais evidente após o quinto dia do iníciodos sintomas (p<0,001).A menor detecc¸ão porDFA estava relacionada com a baixa carga viral nas amostras respiratórias.24 As taxas dedetecc¸ão mais elevadas entre
ospacientescommaisdecincodiasdoiníciodossintomas
eramesperadasporcontadamaiorsensibilidade doteste
nestedPCR.25,26ParaosucessodotesteDFAsãonecessários
algunsfatores-chave,comoaboacoletadeamostrase
pes-soalde laboratórioexperiente,10 enquanto o nested PCR,
baseadonaamplificac¸ãodeácidosnucleicos,podedetectar
umnúmeromuitobaixodepartículasvirais.26,10
Aanáliseunivariadamostrouquecrianc¸ascom
cardiopa-tiacongênitatêmmaiorriscodeadquiriroHAdV(OR:2,29)
quandocomparadascomascrianc¸as dacomunidade.
Uto-kaparch(2011)27 descreveuquepacientespediátricoscom
infecc¸ãorespiratóriadotratoinferiorapresentavamcarga
viralmaiselevadaquandocomparadoscompacientescom
infecc¸ãodotrato respiratório superior.Echavarria etal.28
descreveramque crianc¸astêm2a3,5vezesmaischances
deserinfectadasporHAdVdoqueosadultos.Essesdados
corroboramosresultadosdopresenteestudo.
Umadaslimitac¸õesdoestudofoiaausênciadepesquisa
deoutros vírus respiratórios. Entre as amostras negativas
para HAdV, outros vírus poderiam estar presentes. Como
resultado da alta sensibilidade dos métodos moleculares,
asinfecc¸ões viraispoderiamser detectadassemanasapós
o término dos sintomas,29,30 mas, nopresente estudo, as
amostrasincluídasforamcoletadasdecrianc¸ascominfecc¸ão
respiratóriaaguda,oquediminuiachancededetecc¸ãode
umainfecc¸ãoanterior.Outralimitac¸ãodoestudofoiafalta
decoleta de amostras durante 2006; no entanto, a ideia
principaldoestudo foi pesquisaraocorrência dovírus na
comunidade(crianc¸asdacomunidade)eemumapopulac¸ão
comumrisco elevadodecomplicac¸õesapós umainfecc¸ão
respiratóriaviral(crianc¸ascomDCC).Algunsestudos
descre-vemumaocorrênciadeadenovírusdurantediferentesanose
aolongodoano,31,32compadrõesdeocorrência
semelhan-tes;portanto,a coletadeamostrasduranteanos diversos
aparentementenãocomprometeuoobjetivodoestudo.
Trêsparâmetrospodemindicaravalidadedaescolhado
testediagnóstico:ocustoporamostra,otempoderesposta
(temponecessárioparafornecer oresultado)ea
confiabi-lidadedoteste.Emumestudopublicadoem2009,Mahony
etal.33compararamocustodoDFAcomodatécnica
mole-cularparaodiagnósticodeinfecc¸ãopelovírusrespiratório
edescreveramqueotestemoleculartinhaumcusto
ligei-ramente maior, mas, ao mesmo tempo, apresentava um
custo-benefícioexcelentepor contadareduc¸ão dotempo
dehospitalizac¸ão.Diferentesestudosdescreveramotempo
derespostadoDFAedoPCR.Ambosostestesapresentaram
acapacidadedefornecerresultadosemumdia.34,35
Ghara-baghietal.34 compararam asensibilidadeeespecificidade
doDFAedoensaio molecularcomercial.Esseestudo
mos-trouumabaixasensibilidadedotesteDFAemcomparac¸ão
com oteste molecularparatodos osvírus pesquisados.O
adenovírusapresentouamenorsensibilidade(38,1%).34
Sugerimosqueavigilânciaderotinasejafeitaem
paci-entesdealtoriscopormétodosmoleculares,oquemelhora
ofluxodediagnósticoeaeficiência.Nossosresultados
tam-bém demonstraram que, em amostras com maisde cinco
diasdoiníciodossintomas,ométodonestedPCRpodeser
amelhoropc¸ão.
Financiamento
ConselhoNacionaldeDesenvolvimentoCientíficoe Tecnoló-gico(CNPq),BrasilpormeiodebolsadeestudoparaDP.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
1.LuMP,MaLY,ZhengQ,DongLL,ChenZM.Clinical characteris-ticsofadenovirusassociatedlowerrespiratorytractinfection inchildren.WorldJPediatr.2013;9:346---9.
2.HorwitzMS.Adenovirusimmunoregulatorygenesandtheir cel-lulartargets.Virology.2001;279:1---8.
3.Bellau-PujolS,VabretA,LegrandL,DinaJ,GouarinS, Petitjean-LecherbonnierJ,etal.DevelopmentofthreemultiplexRT-PCR assaysforthedetectionof12respiratoryRNAviruses.JVirol Methods.2005;126:53---63.
4.WeinbergA,BrewsterL,ClarkJ,SimoesE,ARIVACconsortium. EvaluationofR-Mixshellvialsforthediagnosisofviral respira-torytractinfections.JClinVirol.2004;30:100---5.
5.AlsalehAN,GrimwoodK,SlootsTP,WhileyDM.Aretrospective performanceevaluationofanadenovirusreal-timePCRassay. JMedVirol.2013;86:795---801.
6.Gilbert LL, Dakhama A, Bone BM, Thomas EE, Hegele RG. Diagnosis of viral respiratory tract infections in children by using a reverse transcription-PCR panel. J Clin Microbiol. 1996;34:140---3.
7.FreymuthF,EugeneG,VabretA,PetitjeanJ,GennetayE, Brou-ardJ,etal.Detectionofrespiratorysyncytialvirusbyreverse transcription-PCRandhybridizationwithaDNAenzyme immu-noassay.JClinMicrobiol.1995;33:3352---5.
8.KuypersJ,WrightN,MorrowR.Evaluationofquantitativeand type-specific real-timeRT-PCRassays for detection of respi-ratorysyncytialvirus inrespiratoryspecimensfrom children. JClinVirol.2004;31:123---9.
9.TempletonKE,ScheltingaSA,BeersmaMF,KroesAC,ClaasEC. Rapidandsensitivemethodusingmultiplexreal-timePCRfor diagnosisofinfectionsbyinfluenzaaandinfluenzaBviruses, respiratorysyncytialvirus,andparainfluenzaviruses1,2,3, and4.JClinMicrobiol.2004;42:1564---9.
10.FeroneEA,BerezinEN,DurigonGS,FinelliC,FelícioMC,Storni JG,etal.Clinicalandepidemiologicalaspectsrelatedtothe detectionofadenovirusorrespiratorysyncytialvirusininfants hospitalizedforacutelowerrespiratorytractinfection.J Pedi-atr(RioJ).2014;90:42---9.
11.MouraFE,MesquitaJR,PortesSA,RamosEA,SiqueiraMM. Anti-genicandgenomiccharacterizationofadenovirusassociatedto respiratoryinfectionsinchildrenlivinginNortheastBrazil.Mem InstOswaldoCruz.2007;102:937---41.
inUberlândia, MinasGerais Brazil,and detection of an iso-lategeneticallyrelatedtofelineadenovirus.MemInstOswaldo Cruz.2010;105:712---6.
13.Walsh EE, Falsey AR, Swinburne IA, Formica MA. Reverse transcriptionpolymerasechainreaction (RT-PCR)for diagno-sis of respiratory syncytial virus infection in adults: use of a single-tube ‘‘hanging droplet’’ nested PCR. J Med Virol. 2001;63:259---63.
14.StraliottoSM,SiqueiraMM, MullerRL,FischerGB,CunhaML, NestorSM.Viraletiologyofacuterespiratoryinfectionsamong childrenin Porto Alegre,RS Brazil. Rev Soc BrasMed Trop. 2002;35:283---91.
15.ThomazelliLM,VieiraS,LealAL,SousaTS,OliveiraDB,Golono MA,et al.Surveillanceofeightrespiratoryvirusesinclinical samplesofpediatricpatientsinsoutheastBrazil.JPediatr(Rio J).2007;83:422---8.
16.BelleiN,CarraroE,PerosaAH,BenficaD,GranatoCF.Influenza andrhinovirusinfecrtionsamonghealth-careworkers. Respiro-logy.2007;12:100---3.
17.AllardA,AlbinssonB,WadellG.Rapidtypingofhuman adeno-virusbyageneralPCRcombinedwithrestrictionendonuclease analysis.JClinMicrobiol.2001;39:498---505.
18.Abd-JamilJ,TeohBT,HassanEH,RoslanN,AbubakarS. Mole-cular identification of adenovirus causing respiratory tract infectioninpediatricpatientsattheUniversityofMalaya Medi-calCenter.BMCPediatr.2010;10:46.
19.AltmanDG.PracticalStatisticsforMedicalRessearch.London: Chapman&Hall;1991.
20.BerkleyJA,MunywokiP,NgamaM,KazunguS,AbwaoJ,BettA, etal.ViraletiologyofseverepneumoniaamongKenyaninfants andchildren.JAMA.2010;303:2051---7.
21.Herrera-RodríguezDH,DelaHozF,Mari˜noC,RamirezE,López JD, Vélez C.Adenovirus inchildren under five years of age Circulationpatterns andclinicaland epidemiological charac-teristicsinColombia, 1997-2003.RevSaludPublica(Bogota). 2007;9:420---9.
22.Medrano Lópes L, García-Guereta L, CIVIC Study Group. Community-acquiredrespiratoryinfections in young children withcongenitalheartdiseasesinthepalivizumabera:the Spa-nish4-season civicepidemiologicstudy.Pediatr Infect DisJ. 2010;29:1077---82.
23.FujimotoT,OkafujiT,OkafujiT,ItoM,NukuzumaS,Chikahira M,etal.Evaluationofabedsideimmunochromatographictest fordetectionofadenovirusinrespiratorysamples,by compari-sontovirusisolation,PCR,andreal-timePCR.JClinMicrobiol. 2004;42:5489---92.
24.Sanalios RB.Análise comparativa dastécnicas de imunofluo-rescênciaindireta,isolamentoemculturaereac¸ãoemcadeia polimerasenodiagnósticodeinfecc¸õesrespiratóriaspor ade-novirus e vírus respiratório sincicial. São Paulo: ICB-USP; 2004.
25.StroparoE,CruzCR,DeburMC,VidalLR,NogueiraMB,Almeida SM,etal.Adenovirusrespiratoryinfection:significantincrease indiagnosis usingPCRcomparingwithantigendetection and culturemethods.RevInstMedTropSaoPaulo.2010;52:317---21.
26.Doing KM, Jerkofsky MA, Dow EG, Jellison JA. Use of fluorescent-antibodystainingofcytocentrifuge-prepared sme-ars in combination with cell culture for direct detection of respiratoryviruses.JClinMicrobiol.1998;36:2112---4.
27.UtokaparchS,MarchantD,GosselinkJV,McDonoughJE,Thomas EE,HoggJC,etal.Therelationshipbetweenrespiratoryviral loadsanddiagnosisinchildrenpresentingtoapediatrichospital emergencydepartment.PediatrInfectDisJ.2011;30:e18---23.
28.EchavarríaM.Adenovirusesinimmunocompromisedhosts.Clin MicrobiolRev.2008;21:704---15.
29.DeLimaCR,MirandolliTB,CarneiroLC,TussetC,RomerCM, Andreolla HF, et al. Prolonged respiratory viral shedding in transplantpatients.TransplInfectDis.2014;16:165---9.
30.Peltola V, Waris M, Kainulainen L, Kero J, Ruuskanen O. Virus shedding afterhuman rhinovirus infection in children, adultsand patients withhypogammaglobulinaemia. Virology. 2013;19:E322---7.
31.Khor CS, Sam IC, Hooi PS, Quek KF, Chan YF. Epidemiology and seasonality ofrespiratoryviralinfectionsinhospitalized children in Kuala Lumpur Malaysia: a retrospective studyof 27years.BMCPediatr.2012;12:32.
32.MarconeD,EllisA,VidelaC,EkstromJ,RicarteC,CarballalG, etal.Viraletiologyofacuterespiratoryinfectionsin hospitali-zedandoutpatientchildreninBuenosAires,Argentina.Pediatr InfectDisJ.2013;32:e105---10.
33.Mahony JB, Blackhouse G, Babwah J, Smieja M, Buracond S, Chong S, et al. Cost analysis of multiplex PCR testing for diagnosing respiratory virus infections. J Clin Microbiol. 2009;47:2812---7.
34.GharabaghiF,HawanA,Drews SJ,RichardsonSE.Evaluation ofmultiplecommercialmolecularandconventionaldiagnostic assaysforthedetectionofrespiratoryvirusesinchildren.Clin MicrobiolInfect.2011;17:1900---6.