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Espasmo hemifacial e impressão basilar associados a malformação de arnold-chiari relato de caso.

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Academic year: 2017

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ESPASMO HEMIFACIAL E IMPRESSÃO BASILAR

ASSOCIADOS A MALFORMAÇÃO DE ARNOLD-CHIARI

RELATO DE CASO

MANOEL BALDOINO LEAL FILHO * — ELZA DIAS-TOSTA **

NASSER ALLAN *** — PAULO SAID **** — JOSÉ LUIS F. MENDONÇA ***** FERNANDO GUILHON HENRIQUES ******

RESUMO — Os autores relatam o caso de uma paciente com espasmo hemifacial e impressão basilar associados a malformação de Arnold-Chiari. Com a descompressão cirúrgica da fossa posterior, empregada no tratamento da impressão basilar, houve melhora do quadro clínico e o espasmo hemifacial se reduziu quanto à frequência, duração e intensidade. ís enfatizada a necessidade do tratamento etiológico do espasmo hemifacial, antes de se recorrer à toxina botulínica.

PALAVRAS-CHAVE: nervo facial, espasmo, malformação de Arnold-Chiari, impressão basilar, tratamento etiológico.

Hemifacial spasm in basilar impression and Arnold-€ h iari malformation: Case report.

SUMMARY — The authors report a case of symptomatic basilar impression and Arnold-Chiari malformation being presented as the first symptom of hemifacial spasm. The surgical treatment of the malformation resulted in inprovement of the clinical manifestation with reduction of the hemifacial spasm. The need for the aetiological therapy for the hemifacial spasm is emphasized, before symptomatic treatment with botulinum toxin is tried.

KEY WORDS: facial nerve, spasm, Arnold-Chiari malformation, basilar impression, aetiological treatment.

O espasmo da musculatura inervada pelo facial acomete um lado da face e caracteriza-se por contrações paroxísticas, irregulares e de graus variados. Inicia-se geralmente pelo músculo orbicular da pálpebra e acomete em Inicia-seguida a mus-culatura da comissura labial 5>1 2. É mais comum na mulher, entre a quinta e sexta

décadas, afeta principalmente o lado esquerdo, sendo os espasmos desencadeados pelo estresse psicológico, cansaço físico e movimentos da face, podendo ser evi-denciados mesmo durante o sono e a anestesia 12. o espasmo hemifaeial (EHF) não é achado incomum na literatura médica, mas em nosso meio constitui rari-dade 5, principalmente quando comparado à incidência de paralisia facial perifé-rica, outra condição patológica do mesmo nervo. O EHF costumava ser consi-derado idiopático em sua grande maioria, mas estudos utilizando angiografia ver-tebral e tomografia computadorizada de crânio, evidenciaram etiologia bem defi-nida em 83% dos casos 3. Dentre as etiologias mais citadas encontram-se a vascular, a neoplásica, as alterações degenerativas da transição, crânio-vertebral, a infla-matória, a infecciosa e a traumática2. Existem controvérsias quanto à frequência

da associação do EHF com impressão basilar (IB) e/ou malformação de

Arnold-Trabalho das Unidades de Neurologia e de Neurocirurgia do Hospital de Base do Dis-trito Federal: *Médico-Residente; **Neurologista, PhD; ***Neurologista; *** «Neurocirurgião; *****Neurorradiologista; ******Professor Adjunto, Chefe da unidade de Neurologia.

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Chiari (AC). Segundo ciados referidos por Brito e Silva2

, a associação foi encon-trada em 12 de 118 casos (10,1%), tendo em 10 destes o espasmo iniciado o qua-dro clínico. A associação tem sido descrita raramente na literatura nacional: três em 164 casos2

. Na Unidade de Neurologia do Hospital de Base do Distrito Fe-deral encontraram-se apenas 1,8%, em estudo retrospectivo de 10 anos, entre 53 casos de IB e/ou AC atendidos até 1990 (M. Moura e col.: comunicação pessoal, 1990).

O objetivo do presente relato é chamar a atenção para a necessidade de investigação cuidadosa de casos de EHF, que possibilite o tratamento etiológico.

OBSERVAÇÃO

LCR, paciente com 50 anos de idade, do sexo feminino, branca, n a t u r a l da Bahia e procedente do D i s t r i t o F e d e r a l , r e g i s t r o 183800 do Hospital de Base de Brasília, i n t e r n a d a em 16-abril-91. A evolução do E H F havia se dado em q u a t r o anos. Na admissão queixava-se nos últimos) q u a t r o meses de t o n t u r a , oscilopsia, disfagia, n á u s e a e hipoacusia à e s q u e r d a ( E ) . Ao exame, a p r e s e n t a v a espasmo hemifacial à E, nistagmo horizontal bilateral r o t a t ó r i o e nistagmo vertical p a r a baixo, desvio da úvula p a r a a d i r e i t a (D) e assimetria de véu, hiperestesia tátil-dolorosa na hemiface E, atrofia m u s c u l a r temporal e malar E, e desvio da marcha p a r a a D. T i n h a h i s t ó r i a p r e g r e s s a de lúpus eritematoso sem sinais de atividade a tu a lme n te e doença de Chagas compensada. A investigação mostrou sinais de lesão de tronco cerebral (potencial evocado), impressão basiliar (radiografia de transição crânio-cervieal) e invaginação de a m i g d a l a s cerebelares a t é a s e g u n d a v é r t e b r a cervical (mielografia-tomogra-fia cervical, F i g . l ) .

D u r a n t e a b o r d a g e m cirúrgica foi feita lamineetomia C1-C2, craniectomia occipital infe-rior, a b e r t u r a e plástica da d u r a - m á t e r com faseia lata. Após um m ê s já a p r e s e n t a v a redução na frequência, duração e i n t e n s i d a d e dos espasmos, avaliados segundo os critérios preco-nizados por Marti e cols. 7, diminuição da tontuna e desaparecimento da oscilopsia, disfagia e da náusea. Ao exame, permanecia o desvio da úvula p a r a a D, o reflexo nauseoso estava abolido, e n q u a n t o a sensibilidade tátil-dolorosa da face e a marcha haviam se normalizado.

COMENTÁRIOS

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focal com formação de falsas sinapses neste local1 4

. Outros autores admitem que possa existir estado de hiperexcitabilidade do núcleo do facial em resposta a estímulos periféricos, ainda que continuem aceitando a desmielinização focal do nervo como ponto de transmissão transaxônica 8,17 e que os dois mecanismos fisiopatológicos não sejam excludentes s,n. Além da compressão do facial por vasos ectasiados e tortuosos, podem também dar origem ao EHF a distensão do nervo e a diminuição do fluxo sanguíneo no tronco cerebral2

, o que se supõe que ocorra na IB. Esta, que é uma malformação óssea do crânio, se associa com frequência a outras malformações ósseas e do sistema nervoso e à presença de vasos anômalos com trajetos aberrantes 2

>3

que podem participar da gênese do EHF. As manifestações clínicas mais comuns da malformação de Arnold-Chiari decorrem de desordens bulbo-medulares, cerebelares, obstrução do IV ventrículo e siringomielia associada 15 e apresentam-se, em ordem de frequência, com dor, fraqueza, dormência e desequilíbrio 13.

Os sinais preditivos de evolução desfavorável, apesar do tratamento cirúr-gico, são atrofia muscular, duração dos sintomas superior a 24 meses, ataxia, nistagmo, hiperestesia trigeminal e escoliose4

.

A mielografia costuma ser o exame mais útil^ e a tomografia

computado-rizada com contraste pode evidenciar alterações no sistema vértebro-basilar 3. Ultimamente a ressonância magnética vem trazendo importante subsídio ao diag-nóstico dc lesões de fossa posterior mas, no presente relato, o exame definitivo foi a mielografia com tomografia computadorizada. O estudo neurofisiológico, indicando sinais de comprometimento do tronco cerebral, motivou a investigação da fossa posterior com mais empenho.

A descompressão cirúrgica da região do forame magno leva a bons resul-tados Lio, principalmente quando não existe associação com siringomielia i. Mui-tas vezes ocorrem aderências da aracnóide e siringomielia 13, requerendo nestes casos um complemento à técnica cirúrgica adotada previamente.

Ê necessário que o tratamento da causa básica reverta, pelo menos par-cialmente, o quadro clínico e que a proposta terapêutica não seja feita tardia-mente relacionados à evolução desfavorável (atrofia muscular, ataxia, nistagmo cirúrgico da impressão basilar e/ou Arnold-Chiari nem sempre resulta em desa-parecimento do EHF 2. No presente relato foram notados alguns sinais suposta-mente relacionados à evolução desfavorável (atrofia muscular, ataxia, nistagmo e hiperestesia trigeminal). No entanto, a descompressão cirúrgica trouxe inegável benefício à paciente. Para o EHF que ainda restar, planeja-se a aplicação de toxina butulínica&.H após um seguimento de 12 meses, prazo necessário para se dar remielirüzação do nervo, segundo medidas dè latência realizadas vários meses após a descompressão io.

REFERENCIAS

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