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Achados eletrencefalográficos em 30 pacientes com ilusões de memória.

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Academic year: 2017

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ACHADOS ELETRENCEFALOGRÁFICOS EM 30 PACIENTES COM

ILUSÕES DE MEMÓRIA

R U B E N S MOURA RIBEIRO *

As primeiras descrições de alterações da memória na epilepsia

tempo-ral datam de 1898-1899, quando Hughlings Jackson descreveu o "dreamy

state"

8 , 9

. Êsses casos não são obrigatóriamente seguidos por convulsão

focai ou generalizada; em geral, não há perda mas alteração da consciência.

Em 1954, Penfield e Jasper

1 6

reuniram, sob o título de "ilusões da

memó-ria", as sensações de familiaridade ou fenômeno do já visto e as sensações

de estranheza ou fenômeno do nunca visto. Êsses autores obtiveram

expe-rimentalmente a reprodução da sensação de familiaridade ou de estranheza

pela estimulação elétrica das faces lateral e superior do lobo temporal.

Não há mais dúvida quanto à importância do lobo temporal e

estru-turas a êle ligadas através do fórnix e formação hipocampal no mecanismo

da memória, e, portanto, na evocação de experiências anteriormente

vivi-das

1 9

. O córtex temporal é respon3ável não sòmente pela gravação de

ex-periências atuais, mas também pela interpretação de cada experiência vivida

anteriormente, através da comparação dos fenômenos que dela participam

e pela integração e armazenamento das impressões obtidas. Neste sistema

diferenciado está integrada a formação descrita por Moruzzi e M a g o u n

1 2

com o nome de sistema reticular e que tem a finalidade de manter as

relações aferentes e eferentes do córtex cerebral. A importância que o

núcleo ventral anterior do tálamo tem neste circuito é evidenciada pelas

suas correlações com a insula, demonstradas pelas experiências em animais

1 0

ou mediante observações anátomo-clínicas no homem

2

. Apesar dos testes

de Rorscharsch e Tat não revelarem alterações significativas no psiquismo

dos pacientes portadores de epilepsia temporal, quando comparados com

ou-tras formas de epilepsia

1 1

, Small e col.

1 7

e Feindel e Penfield

5

chamam a

atenção para as perturbações mentais observadas nos pacientes com

epilep-sia temporal. Gibbs e Gibbs

6

assinalam que mais da metade de seus

pa-cientes com epilepsia temporal apresentam perturbações mentais.

M A T E R I A L , M É T O D O E R E S U L T A D O S

N o s s o m a t e r i a l c o n s t a de 30 p a c i e n t e s c o m e p i l e p s i a t e m p o r a l q u e a p r e s e n t a -r a m i l u s õ e s d e m e m ó -r i a : 20 e -r a m d o s e x o f e m i n i n o e 10 d o s e x o m a s c u l i n o ; as i d a d e s v a r i a r a m e n t r e 10 e 40 a n o s . Os e l e t r e n c e f a l o g r a m a s f o r a m r e g i s t r a d o s e m

(2)

a p a r e l h o G r a s s d e 8 c a n a i s ; a c o l o c a ç ã o dos e l e t r o d o s o b e d e c e u ã t é c n i c a do M o n -t r e a l N e u r o l o g i c a l I n s -t i -t u -t e .

E m t o d o s os casos o e x a m e e l e t r e n c e f a l o g r á f i c o m o s t r o u f o c o s e p i l é p t i c o s a t i v o s p r o j e t a d o s n o l o b o t e m p o r a l : 29 p a c i e n t e s a p r e s e n t a v a m f o c o u n i l a t e r a l e, um, f o c o d e p r o j e ç ã o b i l a t e r a l . D o s 29 casos c o m f o c o u n i l a t e r a l 18 a p r e s e n t a v a m p r o j e ç ã o n o l o b o t e m p o r a l e s q u e r d o e, 11, n o l o b o t e m p o r a l d i r e i t o ( q u a d r o 1 ) .

A s e n s a ç ã o d e " e s t r a n h e z a " e s t ê v e p r e s e n t e 20 v e z e s , sendo, e m dois casos, m a -n i f e s t a ç ã o i s o l a d a . A s e -n s a ç ã o d e " j á v i s t o " f o i v e r i f i c a d a 6 v ê z e s , e a s e -n s a ç ã o d e " e s t r a n h e z a " e " j á v i s t o " c o m o m a n i f e s t a ç ã o c o n j u n t a e m 4 v ê z e s .

I l u s õ e s de m e m ó r i a f o r a m r e f e r i d a s p o r 9 p a c i e n t e s ( 3 0 % ) c o m f o c o s de s i t u a ç ã o c o r t i c a l e 20 p a c i e n t e s ( 6 6 , 6 % ) c o m f o c o s d e s i t u a ç ã o p r o f u n d a ; e m 17 p a c i e n -t e s ( 5 6 , 6 % ) o f o c o e s -t a v a s i -t u a d o n o l o b o -t e m p o r a l e s q u e r d o , e m 11 ( 3 6 , 6 % ) n o l o b o t e m p o r a l d i r e i t o ; e m u m ( 3 , 3 % ) t i n h a r e p e r c u s s ã o b i l a t e r a l . P o r t a n t o , e m nosso m a t e r i a l a s i l u s õ e s d e m e m ó r i a f o r a m m a i s f r e q ü e n t e s nos p a c i e n t e s c o m f o c o s d e s i t u a ç ã o s u b c o r t i c a l n o l o b o t e m p o r a l e s q u e r d o .

R e g i s t r a m o s t a m b é m a p r e s e n ç a d e o u t r a s m a n i f e s t a ç õ e s c l í n i c a s da e p i l e p s i a t e m p o r a l q u e a c o m p a n h a v a m as i l u s õ e s d e m e m ó r i a : crises p s i c o m o t o r a s e m 24 casos; crises a l u c i n a t ó r i a s e m 21 casos.

C O M E N T Á R I O S

Nossos 30 pacientes foram selecionados dentre 398 portadores de

alte-rações focais temporais no EEG. Assim, 7,5% dos pacientes portadores de

epilepsia temporal apresentavam ilusões de memória; esta percentagem é

semelhante àquela encontrada por Armbrust-Figueiredo

1

(3)

Analisando a incidência das manifestações clínicas referidas pelos nossos

pacientes, verificamos que a sensação de estranheza predominou, pois

ocor-reu em 20 pacientes (66,6% dos casos); a sensação de familiaridade esteve

presente em 6 pacientes (20%) e a de estranheza e familiaridade como

ma-nifestações conjuntas em 4 pacientes (13,3%). Como mama-nifestações

conco-mitantes encontramos crises do tipo automatismo psicomotor em 24

pacien-tes, e crises de alucinações em 21 pacientes. Esta alta incidência de

auto-matismo psicomotor e ilusões de memória vem corroborar os trabalhos de

Mulden e Daly em 1952

1 3

, que verificaram que as queixas mais usuais nos

pacientes com epilepsia temporal eram do âmbito psiquiátrico; Weil em

1959

2 0

mostrou lesões no lobo temporal de pacientes queixando-se de medo

e de sensações irreais. Embora Gibbs e col.

7

em 1948 encontrassem maior

incidência de crises do tipo psicomotor em pacientes com foco temporal, as

crises psicomotoras também podem depender de focos situados nos lobos

frontal e parietal

4

, pela repercussão que estas estruturas têm sobre a

re-gião centrencefálica e lobo temporal

3

.

1 5

.

Discutindo as ilusões, P a p e z

1 4

em 1937 elaborou as bases anatômicas

para o substrato das emoções, e colocou sua sede no lobo temporal; em 1957

Stevens

1 8

aventou a possibilidade de ser elaborado um homúnculo psíquico,

de maneira semelhante ao homúnculo descrito na epilepsia de

Bravais-Jackson.

R E S U M O

Foram analisados do ponto de vista eletrencefalográfico 30 pacientes

com "ilusões de memória": 29 pacientes apresentavam foco de projeção

uni-lateral em um dos lobos temporais; um apresentava foco de projeção

bi-lateral nos lobos temporais. Dos 29 casos com projeção unibi-lateral, 18

apre-sentavam foco de projeção no lobo temporal esquerdo e 11 no lobo temporal

direito. Em relação à situação do foco, 21 pacientes apresentavam foco

profundo e 9 foco superficial.

S U M M A R Y

Electroencephalographic findings on 30 patients with illusions of memory.

Electroencephalographic studies were carried out on 30 patients with

"illusions of memory": 29 had unilateral discharges in the temporal lobe

and one had bilateral discharges in the temporal lobes. Eighteen patients

showed focal discharges in the left temporal lobe and 11 in the right

tem-poral lobe. In 21 patients the electroencephalogram showed subcortical

dis-charges and in 9 cases focal cortical disdis-charges.

R E F E R Ê N C I A S

(4)

n e c t i o n s o f l i m b i c c o r t e x . A r c h . N e u r o l . , 7:518-528, 1962. 3. D E L L , M . B . — L ' e p i ¬ l e p s i e t e m p o r a l e . P r e s s e M é d . , 61:505-508, 1953. 4. F E G E R S T E N , L . ; R O G E R , A . — F r o n t a l e p i l e p t o g e n i c f o c i a n d t h e i r c l i n i c a l c o r r e l a t i o n s . E l e c t r o e n c e p h . & C l i n . N e u r o p h y s i o l . , 13:905-913, 1961. 5. F E I N D E L , W . ; P E N F I E L D , W . — L o c a l i z a t i o n o f d i s c h a r g e i n t e m p o r a l l o b e a u t o m a t i s m . A r c h . N e u r o l . & P s y c h i a t . , 77:605-630, 1954. 6. G I B B S , F . A . ; G I B B S , E. L . — A t l a s o f E l e c t r o e n c e p h a l o g r a p h y , v o l . I I . A d d i s o n - W e s l e y , C a m b r i d g e ( M a s s . ) , 1952, p á g s . 169-170. 7. G I B B S , E . L . ; G I B B S , F . A . ; F U S T E R , B . — P s y c h o m o t o r e p i l e p s y . A r c h . N e u r o l . & P s y c h i a t . , 6 0 : 3 3 1 -339, 1948. 8. J A C K S O N , J. H . ; C O L M A N , W . S. — C a s e o f e p i l e p s y w i t h t a s t i n g m o v e m e n t s a n d d r e a m y s t a t e . V e r y s m a l l p a t c h o f s o f t e n i n g i n t h e l e f t u n c i n a t i g y r u s . B r a i n , 21:580590, 1898. In T a y l o r , J. — S e l e c t e d W r i t i n g s o f J o h n H u g h l i n g s J a c k s o n , v o l . 1: O n E p i l e p s y a n d E p i l e p t i f o r m C o n v u l s i o n s . H o d d e r & S t o u g h -ton, L o n d r e s , 1931, p á g s . 458-463. 9. J A C K S O N , J. H . ; S T E W A R T , J. P . — E p i l e p t i c a t t a c k s w i t h a w a r n i n g o f a c r u d e s e n s a t i o n o f s m e l l a n d w i t h t h e i n t e l l e c t u a l a u r a ( d r e a m y s t a t e ) in a p a t i e n t w h o h a d s y m p t o m s p o i n t i n g t o g r o s s o r g a n i c d i s e a s e o f t h e r i g h t t e m p o r o - s p h e n o i d a l l o b e . B r a i n , 22:534-549, 1899. In T a y l o r , J. — S e l e c t e d W r i t i n g s o f J o h n H u g h l i n g s J a c k s o n , v o l . 1: On E p i l e p s y a n d E p i l e p t i f o r m C o n v u l s i o n s . H o d d e r & S t o u g h t o n , L o n d r e s , 1931, p á g s . 464-473. 10. L A S H L E Y , K . S. — T h a l a m o - c o r t i c a l c o n n e c t i o n s o f t h e r a t ' s b r a i n . J. C o m p . N e u r o l . , 75:67-122, 1941. 11. M I R S K Y , A . F . ; P R I M A C , D . W . ; A J M O N E - M A R S A N , C ; R O S V O L D , H . E.; S T E V E N S , J. R . — A c o m p a r i s o n o f t h e p s y c h o l o g i c a l t e s t p e r f o r m a n c e o f p a t i e n t s w i t h f o c a l and n o n f o c a l e p i l e p s y . E x p e r . N e u r o l . , 2:75-89, 1960. 12. MO¬ R U Z Z I , G . ; M A G O U N , H . W . — B r a i n s t e m r e t i c u l a r f o r m a t i o n and a c t i v a t i o n o f t h e E E G . E l e c t r o e n c e p h . & C l i n . N e u r o p h y s i o l . , 1:455-473, 1949. 13. M U L D E R , D . M . ; D A L Y , D . — P s y c h i a t r i c s y m p t o m s a s s o c i a t e d w i t h lesions o f t e m p o r a l l o b e . J . A . M . A . , 150:173-176, 1952. 14. P A P E Z , J. W . — A p r o p o s e d m e c h a n i s m o f e m o t i o n . A r c h . N e u r o l . & P s y c h i a t . , 38:725743, 1947. 15. P E N F I E L D , W . — E p i l e p t i c a u t o -m a t i s -m a n d t h e c e n t r o e n c e p h a l i c i n t e g r a t i n g s y s t e -m . P r o c . A s s . R e s . N e r v . &a-mp; M e n t . Dis., 30:513528, 1952. 16. P E N F I E L D , W . ; J A S P E R , H . — E p i l e p s y a n d t h e F u n c -t i o n a l A n a -t o m y o f -t h e H u m a n B r a i n . L i -t -t l e B r o w n , B o s -t o n , 1954. 17. S M A L L , J. G . ; M I L S T E I N , V . ; S T E V E N S , J. R . — A r e p s y c h o m o t o r e p i l e p t i c s d i f f e r e n t ? A r c h . N e u r o l . , 7:187-194, 1962. 18. S T E V E N S , J. R . — T h e " m a r c h " o f t e m p o r a l l o b e e p i l e p s y . A r c h . N e u r o l . & P s y c h i a t . , 77:227-236, 1957. 19. V I C T O R , M . ; A N G E V I N E , V . ; M A N C A L L , E . L . ; F I S H E R , C. M . — M e m o r y l o s s w i t h l e s i o n s o f h i p p o c a m p a l f o r m a t i o n . A r c h . N e u r o l . , 5:244263, 1961. 20. W E I L , A . A . — I c t a l e m o t i o n s o c -c u r r i n g in t e m p o r a l l o b e d y s f u n -c t i o n . A r -c h . N e u r o l . , 1:87-97, 1959.

Referências

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