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Política ambiental e desenvolvimento urbano na serra do periperi em Vitória da conquista - BA

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Academic year: 2017

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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO

URBANO NA SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA

CONQUISTA - BA

NERÊIDA MARIA SANTOS MAFRA BENEDICTIS

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POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO NA

SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para a obtenção do grau acadêmico de mestre em Ciências Sociais, com a orientação da Profª.Drª. Maria do Livramento Miranda Clementino

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POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO NA SERRA DO PERIPERI EM VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de mestre, tendo como componentes da Banca Examinadora os seguintes membros:

___________________________________________________________________________ Profª. Drª Maria do Livramento Miranda Clementino – UFRN

Presidente

________________________________________________________________

Profª. Drª Maria Cristina Rocha Barreto - UERN

Membro Titular

________________________________________________________________

Profº. Márcio Moraes Valença - UFRN

Membro Titular

________________________________________________________________

Profª. Dr. Rita de Cássia da Conceição Gomes - UFRN

Membro Suplente

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Agradecer sempre a Deus por tudo! E graças a Ele que nos cerca de pessoas especiais que sempre estão ao nosso lado não importando o momento, aqueles a quem a palavra de Deus nomeia de amigos, amigos mais chegados que um irmão, pessoas amorosas que nos fazem olhar para as lutas e nos alegrar, agradeço de todo meu coração a você Dan minha bênção de Deus, a Jú e Lai minhas filhas lindas, quantos momentos vividos, quantas esperanças geradas, diversas vezes choramos juntos, sorrimos diante de um futuro que nos apontava um sonho de Deus e inseriu em nossos corações a verdadeira motivação para não parar...Amo vocês!

A Sila, minha irmã, e ao cunhado que mais amo na vida Erivan, como foi prazeroso poder contar com vocês em cada momento, como o Senhor através desse mestrado nos uniu mais, como era gostoso chegar a Cruzeta e olhar para vocês e não nos sentirmos sós, vocês foram e são pessoas especiais para nós, amamos muito vocês...Obrigada por tudo.

A Myller meu sobrinho pelo carinho e compreensão muitas vezes dispensado a nós, como o Senhor produziu! Escrever aqui é muito pouco diante de cada momento vivido com você, te amo.

A Dek(irmão), Nana(cunhada) e Alice (sobrinha) obrigada por colaborarem com esse sonho. Vocês passaram por muitas mudanças de vida para nos ajudar nessa caminhada. Amo vocês!

A uma família que chamo de buscapé, que sempre viajamos juntos, sorrimos, choramos, lutamos como é bom conviver com vocês, como a presença de vocês me alegra, amo muito Geb (meu irmão), Keka (cunhada) e as minhas sobrinhas Kaká, Karen e Kellem (tia Neneda).

A Jede (irmão querido),Reja (cunhadinha), meus sobrinhos João e Bruninho como é maravilhoso estar com cada um de vocês, de conversar, sorrir, agradeço por cada momento que estivemos ai, obrigada pelas caronas no aeroporto. Jamais me esquecerei de você, Jede, nos levando pela madrugada, obrigada maninho amo muito vocês. As suas vidas são muito importantes para mim.

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Aos irmãos da Igreja que oraram por nós e nos deram muito carinho e serviço. A Gilberto por estar sempre pronto para me servir para a pesquisa em campo, você é muito especial. A Tânia vizinha amiga que também me auxiliou em campo, obrigada Senhor pela vida de cada um.

Agradeço ao Laboratório de Cartografia, mais precisamente ao meu colega Edvaldo Oliveira que sempre se colocou a disposição para me ajudar com a elaboração dos mapas. A Íris pela sua presteza e ajuda.

Aos meus colegas do Departamento de Geografia da UESB, em especial a Área de Ensino, obrigada por tudo!

A minha orientadora, Profª. Dr. Maria do Livramento, que não mediu esforços para atender as minhas solicitações de ajuda, esclarecendo dúvidas e ajudando-me a vencer as dificuldades surgidas, obrigada pela confiança em mim depositada.

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Esta dissertação tem como objeto de estudo a análise da política ambiental e o desenvolvimento urbano na Serra do Periperi. Tal análise partiu de preocupações concernentes a ocupação desordenada na Serra e aos problemas ambientais advindos dessa ocupação. Ao construir loteamentos e estradas, e realizar atividades mineradoras o homem alterou consideravelmente o equilíbrio natural da paisagem na Serra e ocasionou entre outras coisas, graves problemas ambientais, como a erosão das encostas da serra, desmatamentos, assoreamento e poluição do Rio Verruga. Assim em 1998 a Serra do Periperi foi decretada por parte do Poder Público Municipal como Área de Preservação Ambiental com uma Unidade de Conservação denominada Parque Municipal da Serra do Periperi essa política ambiental implementada na Serra visa coibir essa ocupação e proteger áreas que são de extrema importância ambiental para a cidade. Diante do exposto, visando refletir sobre a política ambiental na Serra do Periperi e as relações do processo de ocupação que o presente trabalho tem o objetivo de compreender como a expansão da malha urbana da cidade de Vitória da Conquista – BA e as atividades mineradoras influenciaram nos processos de degradação ambiental na Serra do Periperi.

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This present dissertation has as its aim of study an analysis of the environmental policy and the urban development at the Periperi Hill. Such analysis arose due to concerns related to the disordered occupation in that Hill and also due to the environmental problems caused by this occupation. By opening roads and developing areas for housing and mineral extraction activities, man has altered considerably the landscape natural balance in that hill and caused among other difficulties, grave environmental problems, such as the erosin at the hill coast, deforestation, obstruction and pollution of the Verruga River. Therefore, in 1998 it was decreed by the Municipal Public Power that Periperi Hill became an Environmental Preservation Area with a Unit of Conservation known as Periperi Hill Municipal Park, an environmental policy implemented at the Hill that aims to hinder this occupation and to protect areas that are of great environmental importance to the city. It looking at what is now exposed and aiming to consider the Periperi Hill’s environmental policy and the relationship of the occupation process, that this present work has the objective of understanding how the expansion of the city’s urban network in Vitória da Conquista – BA and the mineral activities cause an influence in the process of environmental degradation at the Periperi Hill.

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FIGURA 1 - Área da Serra do Periperi ...21

FIGURA 2 - Área de Domínio das Unid. Geomorfológicas do Mun. de Vit. da Conquista....22

FIGURA 3 - Mapa de localização de Vitória da Conquista na região...27

FIGURA 4 - Mapa de Circulação do município de Vitória da Conquista...28

FIGURA 5 – Mapa da EvoluçãoUrbana deVitória da Conquista...34

FIGURA 6 – Imagem de satélite da cidade de Vitória da Conquista com contorno do anel viário da BR-116 (Rio-Bahia)...36

FIGURA 7 - Localização do Parque Municipal da Serra do Periperi...68

FIGURA 8 – Mapa de Legislação Ambiental de Vitória da Conquista...76

FIGURA 9 - Área de Domínio das unidades geoambientais no setor urbano...81

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FOTO 01 - Rio Verruga no perímetro urbano, cruzamento com a Av. Bartolomeu de

Gusmão...24

FOTO 02 – Rio Verruga no canal que cruza com o anel viário...24

FOTO 03 e 04 – Área degradada na parte Oeste da Serra do Periperi...26

FOTO 05 – Avenida da Integração (BR-116)...35

FOTOS 06 e 07 – Vista do bairro Nova Cidade e margens do anel viário...37

FOTO 08 - Vista parcial do bairro Cruzeiro próximo à Área do Parque Municipal da Serra do Periperi...45

FOTO 09 – Rua em expansão do bairro Nossa Senhora Aparecida...45

FOTO 10 – Expansão do bairro Bruno Bacelar no PMSP...46

FOTOS 11 e 12 – Área em expansão do bairro Bruno Bacelar no PMSP...46

FOTO 13– Aspectos das ruas sem calçamento no bairro Bruno Bacelar...47

FOTOS 14, 15 e 16 – Mosaico: Delimitação do Parque Municipal da Serra do Periperi, Estrada com lixo e entulho no PMSP, Casa construída dentro da área do PMSP...47

FOTOS 17, 18, 19 e 20 – Mosaico das ruas da cidade após período de chuva no bairro Recreio, inundação de Rua no Alto Maron, Centro e enxurradas com resíduos sólidos nas ruas do bairro Santa Cecília...50

FOTOS 21 e 22 – Exploração de areia na área do PMSP...52

FOTO 23 – Cratera de área degradada da Serra do Periperi do lado oeste...53

FOTO 24 – Área da Indústria de asfalto da Prefeitura Municipal de V. da Conquista... 54

FOTO 25 – Área degradada pela retirada de material para construção da BR-116 e exploração pela Indústria de Asfalto...55

FOTO 26 - Jazida aberta para construção do anel viário da BR-116...55

FOTOS 27 ,28 e 29 – Entulhos e lixos no PMSP no lado oeste da cidade...56

FOTOS 30 e 31 – lixos e entulhos na área do Poço Escuro...56

FOTO 32 – Sede do Núcleo de Educação Ambiental na área do PMSP...71

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AGRADECIMENTOS RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS LISTA DE FOTOS LISTA DE TABELAS LISTA DE GRÁFICOS

INTRODUÇÃO...13

1ª PARTE: A SERRA E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE ...21

1 – Serra do Periperi: caracterização e descrição geo-ambiental...21

2 – Aspectos da Expansão Urbana de Vitória da Conquista...26

2.1 - A Importância das Rodovias na Expansão Urbana da Cidade...29

2.2 – A Cidade e os Loteamentos...37

3 - Ocupação Humana na Serra do Periperi...43

3.1 - Processos de Degradação Ambiental decorrentes da ocupação da Serra...48

2ª PARTE : POLÍTICA AMBIENTAL E DESENVOLVIMENTO URBANO...60

4 – Políticas Ambientais no Brasil: notas introdutórias ………...…60

5 – Política Ambiental de Vitória da Conquista e Criação do Parque Municipal da Serra do Periperi...65

6 - Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista e o Planejamento Ambiental...77

7-CONSIDERAÇÕES FINAIS...84

8-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...87

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INTRODUÇÃO

Realizar este trabalho foi extremamente gratificante. As diversidades ambientais desse ecossistema rico em fauna e flora é algo que ainda chama muito a atenção de qualquer pesquisador e ambientalista, atenuando o desejo de preservação desse ambiente.

A minha preocupação em estudar o Parque Municipal da Serra do Periperi remonta desde os tempos da graduação em Geografia, ano de 1996, quando pude vivenciar uma expe-riência única numa noite chuvosa em que minha rua, a Jonas Hortélio no bairro Recreio, foi totalmente coberta por uma enxurrada que parecia não mais ter fim. Mesmo cessando a chuva, a água continuava a correr e inundar até mesmo garagens de prédios e casas. Nessa mesma noite, um carro foi arrastado pela forte correnteza matando 05 (cinco) das 06 (seis) pessoas que transportava. A partir daí, comecei a refletir sobre o que ocorria com a cidade e em espe-cial na rua onde moro durante o período de chuvas, e, desde então, a Serra tem sido meu obje-to de estudo.

Sabemos que, nas últimas décadas, a dinâmica da ordem mundial foi marcada pela intensificação dos problemas sócio-ambientais globais, como a destruição da camada de ozô-nio, o aquecimento global, a perda da biodiversidade, a desertificação, as pressões migratórias e a degradação dos recursos naturais.

De acordo com Guimarães (2003: 83), o modelo de desenvolvimento vigente tem sido massivamente questionado em virtude do agravamento dos problemas ambientais. É sa-bido que esse modelo tem superado a todas as estruturas tradicionais, criando novas facetas que envolvem “novas formas de produção em que a urbanização e a industrialização e o de-senvolvimento tecnológico, dos sistemas de comunicação de massa e transportes são alguns dos fenômenos característicos desse processo”. Ainda segundo o autor, esse modelo tem in-tensificado através de uma sociedade consumista, “características inerentes de degradação ambiental” e que tem primado pelos interesses econômicos (privados) frente aos bens coleti-vos, entre eles o meio ambiente, consolidando-se numa visão antropocêntrica de mundo cau-sadora de intenso impacto sócio-ambiental.

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como um Direito fundamental para a sociedade. Por isso repensar as políticas públicas sobre o espaço é fundamental, porque elas fazem parte de um projeto político maior que a sustenta e orienta.

O referido trabalho tem como objeto de estudo a Política Ambiental e o Desenvolvi-mento Urbano na Serra do Periperi em Vitória da Conquista - BA e se enquadra na linha de pesquisa Políticas Públicas e Desenvolvimento Regional. Os estudos das características e di-nâmica do espaço urbano são de extrema relevância no âmbito das diversas ciências, inclusive das Ciências Sociais. Esse campo de estudo tem sido amplamente debatido em diversos con-gressos e fóruns pelo mundo todo e, por isso, vem apresentando avanços teóricos e conceitu-ais, nas diferentes áreas do saber proporcionando um maior aprofundamento dos conhecimen-tos e oportunidades de análises das questões ambientais sob diferentes abordagens.

Estudar sobre a política ambiental e o desenvolvimento urbano de um determinado espaço, é pensar na sua configuração, é um aprendizado do olhar a cidade onde se vive e per-ceber a paisagem materializada, uma paisagem onde o verde cede lugar aos edifícios, ruas, casas. De um lado, há bairros nobres ocupados por uma pequena parcela da população de alta renda e, de outro, bairros populares onde a população de baixa renda vive e reside. Essas ci-dades crescem e se estruturam conforme o poder do capital. Sobre isso, Carlos (2005:23) ex-plica que: “O uso diferenciado da cidade demonstra que esse espaço se constrói e se reproduz de forma desigual e contraditória. A desigualdade espacial é reflexo da desigualdade social”, logo essa produção espacial revela uma sociedade dividida em classes.

Ao longo da história, o urbano tem tido uma avaliação diferenciada, ora como espaço de desenvolvimento, ora como espaço do conflito. Por muito tempo se refletiu a cidade como o lugar do moderno e do progresso, uma dicotomia com o mundo rural. As cidades constituí-ram-se em principais pólos de poder, de tomada de decisões, de desenvolvimento e de organi-zação dos espaços. Ainda que concentrassem também a maior gama de problemas locais, tais como criminalidade, poluição, doenças e falta de moradias, elas passaram a ser locais de pla-nejamento e, concomitantemente, fonte de fragmentação.

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Ambiental.

Para Carlos (2005: 45-47) a cidade compreendida como construção humana apresen-ta-se sob a forma de ocupações e essas se dão a partir da necessidade de produzir, consumir, habitar ou viver. A autora ainda diz que:

“O urbano produzido através das aspirações e necessidades de uma socie-dade de classes fez dele um campo de luta onde os interesses e as batalhas se resolvem pelo jogo político das forças sociais. O urbano aparece como obra histórica que se produz continuamente a partir das contradições ineren-tes à sociedade.” (p.71).

Esse processo é produzido através das relações sociais que se materializam no espaço e que, de certa forma, têm transformado esse espaço em mercadoria, parcelado, e que é resul-tado do desenvolvimento do capital. Nesse contexto, as contradições que se avolumam no es-paço urbano são também em decorrência de uma política na qual o Estado é o seu maior pro-vedor, pois tem se colocado, em certa medida, a favor dos interesses do capital e, com isso, ele se produz e reproduz de forma segregada privilegiando uma pequena parcela da sociedade.

No Brasil, as transformações econômicas, principalmente nas últimas décadas, agra-varam ainda mais os problemas urbanos, como a falta de saneamento básico, a proliferação de habitações precárias, a ocupação de áreas inadequadas (morros e encostas), a poluição indus-trial, as enchentes e a destruição de recursos naturais. Isso porque, segundo dados do IBGE, o país chegou ao final do século XX como um país urbano e, já em 2000, a população urbana ultrapassou 2/3 da população total, atingindo 138 milhões de pessoas, ou seja, mais de 80% da população brasileira.

Nesse sentido, o desejo de analisar e apontar alternativas ao planejamento urbano nasce da concordância com SOUZA ao avaliar que,

“A crescente magnitude dos problemas urbanos no Brasil, país semiperifé-rico onde cerca de 80% da população vivem em entidades geográficas con-sideradas urbanas (cidades e vilas), reclama uma presença cada vez mais a-tiva dos pesquisadores (pesquisa aplicada socialmente útil); por outro lado, o fracasso do planejamento convencional em proporcionar melhores condi-ções de vida, sob o ângulo da justiça social, não significa que o planejamen-to deva ser negligenciado, mas sim que alternativas estratégicas precisam ser apontadas. (SOUZA, 2002, p.15)”.

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grande contingente de pessoas que migrou das áreas rurais, a pobreza transferiu-se do campo para as áreas urbanas.

Além do aumento da população, a maioria das cidades brasileiras vem passando por um crescimento no seu perímetro urbano que tem se expandido sem planejamento. Com isso os bairros se espalham e novos bairros surgem de modo desordenado. Como conseqüência dessa situação, aumentam ainda mais, os problemas sociais, econômicos e agravam-se as questões ambientais, pois com as invasões de terrenos surgem os loteamentos clandestinos, os desmatamentos, a ocupação de áreas de preservação ou até mesmo de mananciais e de encos-tas.

Essa situação, guardando as devidas proporções não é diferente do que ocorre na ci-dade de Vitória da Conquista, localizada na região sudoeste do Estado da Bahia, com uma po-pulação (IBGE/2000), de 262.494, dos quais 225.545 vivem na zona urbana e 36.949 na zona rural, descreve, através da sua configuração, um espaço segregado e modificado em decorrên-cia das próprias relações sodecorrên-ciais que se materializam nesse espaço e que deu origem a diver-sos problemas sociais e ambientais.

Mesmo sendo uma cidade de porte médio, tem uma periferização similar aos grandes centros urbanos e, por isso, constata-se uma especulação imobiliária intensa, principalmente nas áreas mais planas. Em decorrência disso a população mais carente tem avançado para á-reas que são em sua maioria consideradas de preservação ambiental e de risco sem nenhuma infra-estrutura. É o caso da Serra do Periperi, que é área de preservação permanente, de acor-do com a Lei nº. 4.771 / 65, com uma Unidade de Conservação criada desde a década de 1999 com a criação do Parque Municipal da Serra do Periperi (PMSP), e que sofre com o avanço de invasões de residenciais em sua direção e explorações de materiais como cascalho, areia e le-nha.

As preocupações básicas que orientaram na elaboração desta dissertação, encaminha-ram -se para dois pontos fundamentais: um, de ordem científica, na perspectiva de alargar as bases d informações e fontes para a cidade de Vitória da Conquista no que diz respeito às questões ambientais. Outro, de ordem social, procurando encaminhar-se para determinadas posturas frente às questões de conhecimento e concepção da ocupação da Serra do Periperi, entendidas como processo social nas múltiplas manifestações de experiência e conflitos da realidade humana.

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Ur-bana tem orientado e garantido a articulação entre o planejamento urbano e a gestão ambiental na Serra.

A pesquisa sobre a política ambiental e sua relação com o desenvolvimento urbano e, aqui, analisando o caso específico da Serra do Periperi em Vitória da Conquista – BA, dada a sua complexidade, exigiu pensar o ambiente natural da Serra num espaço urbano socialmente construído levando em conta os aspectos mais importantes que levaram a apropriação desse espaço sócio-ambiental levando-se em consideração as ações que intensificaram a degradação ao meio ambiente.

Três questões-problema orientaram o presente estudo:

x A política ambiental implementada na Serra do Periperi parece não estar sendo eficaz no sentido de controlar o desenvolvimento urbano na Serra;

x O planejamento urbano da cidade não tem tido uma articulação com a política de gestão ambiental;

x A criação do parque ambiental não coibiu as atividades predatórias em sua área de abrangência.

A partir das premissas acima, a nossa preocupação central foi a de analisar a política ambiental da Serra do Periperi, a partir de 1999, ano em que foi criado o Parque Municipal da Serra do Periperi, até 2007, por parte do poder público municipal, e verificar em que medida essa política tem restringido a expansão territorial da cidade em direção à Serra, mais especi-ficamente a área do Parque Municipal da Serra do Periperi.

Do ponto de vista metodológico, selecionamos como fontes operacionais da pesqui-sa:

a) A legislação ambiental nos âmbitos federal, estadual e municipal, sendo esta últi-ma exclusivamente a de Vitória da Conquista-BA;

b) O Plano Diretor de Vitória da Conquista, atualmente em vigor; c) O Código Municipal do Meio Ambiente de Vitória da Conquista;

d) Outras normatizações do governo local relacionadas com o objeto em estudo. E com a finalidade de sistematização da pesquisa, foram utilizadas as técnicas de pesquisa abaixo relacionadas:

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9 Trabalho Empírico:

a) Levantamento de dados secundários: foram levantados dados no Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística (IBGE); foram realizadas pesquisas na Secretaria de Obras e Ur-banismo do Município com o intuito de identificar os loteamentos que foram deferidos pela Prefeitura a partir do ano de 1996 até 2006 e, por último, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, para conhecimento da política ambiental da cidade.

b) Levantamento de dados primários: foram realizadas entrevistas com o Secretário Municipal de Meio Ambiente, com Fiscais da Unidade de Conservação, com a gerente de análise de projetos e com o Engenheiro Civil da Secretaria de Obras e Urbanismo.

c) Foram realizadas diversas pesquisas em campo na Serra do Periperi, principalmen-te nas áreas mais degradadas e na Reserva do Poço Escuro com o objetivo de observar “in lo-co” as áreas que foram ocupadas para construção de residências ou para a retirada de material para a construção civil (areia, cascalho), para uma futura elaboração de um mapa temático sobre a ocupação e o uso do solo na Serra.

9 Cartografia digital

O Mapa de Legislação Ambiental foi elaborado para caracterizar as áreas que estão sendo monitoradas pela política ambiental no entorno da Serra do Periperi e na área do Parque Municipal da Serra do Periperi.

Na elaboração do mapa de Legislação Ambiental de Vitória da Conquista, foi utili-zada a planta urbana da cidade, na escala 1: 5000 do ano de 2007 georeferenciada. Foram di-gitadas as coordenadas (em anexo) para delimitação da poligonal da área do Parque Municipal da Serra do Periperi através do software Auto Cad Map. Logo após a delimitação, a área foi exportada para o software Map Viewer 7.0 e foi inserida na planta urbana de Conquista. Tam-bém a partir do Auto Cad Map, foram digitadas as coordenadas do Plano de Manejo do Par-que Municipal da Serra do Periperi das áreas Par-que estão sendo monitoradas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e das áreas que foram oficializadas como áreas de Preservação Ambiental pelo Código Municipal do Meio Ambiente que estão abaixo descriminadas:

x Área do Bosque de Eucalipto - Coordenadas geográficas: 0300721, UTM 8359000.

x Cascalheira da Rio - Bahia – Coordenadas Geográficas: 0301915, UTM 8359445.

x Cascalheira da Conquistinha – Coordenadas Geográficas: 0303475, UTM 8359049.

x Borda do Poço Escuro Lado Oeste – Coordenadas Geográficas: 0302347, UTM 8359125.

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x Zona de Uso Intensivo – O Poço Escuro nas coordenadas 0302480 e UTM 8358650 é uma zona utilizada para uso de recreação e educação ambiental, recebendo alunos da rede particular, municipal e estadual de ensino, além de estudos científicos em parceria com Universidades.

x Zona de Recuperação – São áreas dentro do Parque, onde a vegetação encontra-se em recuperação apesar de conflitos entre a gestão do Parque e as pessoas que retiram a vegetação para utilizarem em fogões a lenha. Essas áreas estão tanto no lado leste como no lado oeste do Parque, cujas coordenadas geográficas são: 0299500, 0298073, 0302368, 0298686, 0302565, 0306586 e 0300721 e UTM 8359704, 8359999, 8359280, 8359504, 8359714, 8357989, 8359000 respectivamente. Encontramos também, área de preservação do Melocactus conoideus, espécie endêmica da Serra do Periperi, bem como de ocorrência natural. Outra área é um bosque de eucalipto com várias espécies, cujo manejo vem sendo executado no sentido da retirada de postes e mourões para utilização no Parque. Por fim, temos algumas áreas denominadas de cascalheiras, onde ocorreram à retirada de pedras, areia e cascalho, as quais estão sendo recuperadas com o plantio de espécies nativas da mata estacional. Todas essas áreas reunidas têm 800 ha.

x Zona de Uso Especial – Centro de Triagem de Animais Silvestres na coordenada 0302070 e UTM 8359160 e um Herbário na coordenada 0302128 e UTM 8358271.

Código Municipal do Meio Ambiente: Parque Municipal da Serra do Periperi, Reserva Florestal do Poço Escuro, Parque Municipal Urbano da Lagoa das Bateias e Parque Municipal Urbana da Lagoa do Jurema.

Com todas as informações digitadas foi criado um banco de dados sobre os aspectos ambientais da cidade de Vitória da Conquista no software Map Viewer 7.0.

9 Documentação Fotográfica

Serviram para a descrição das áreas ocupadas na Serra do Periperi.

Por último, foi elaborada esta dissertação onde as análises foram apresentadas em Capítulos que estão assim estruturados:

– Introdução, contendo a construção da hipótese, objetivos e procedimentos metodo-lógicos que nortearam o desenvolvimento da pesquisa;

9 1ª parte: A Serra e a sua relação com a cidade:

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4 – Políticas Ambientais no Brasil: notas introdutórias;

5 – Política Ambiental de Vitória da Conquista e criação do Parque Municipal da Serra do Periperi;

6 – Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista e o planejamento ambiental. 7- Considerações Finais

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1ª PARTE: A SERRA E SUA RELAÇÃO COM A CIDADE

1 – Serra do Periperi: Caracterização e Descrição Geoambiental.

A Serra do Periperi localizada na parte norte da cidade de Vitória da Conquista, na zona urbana, no sentido Leste/Oeste, há aproximadamente 15 km (fig.01), é Área de Proteção Ambiental (APA) criada pelo Decreto Municipal nº. 8.696/96 (Anexo), e ainda se enquadran-do como área de preservação permanente, de acorenquadran-do com a Lei Federal nº. 4.771 / 65 enquadran-do Có-digo Florestal Brasileiro, acima da cota 1.000 e, posteriormente, com o intuito de garantir uma maior preservação do local, ampliou-se a área de 500ha para 1.000ha, através do Decreto Mu-nicipal nº. 9.328/98, e, em 1999, com o Decreto nº. 9.480/99, foi criado o Parque MuMu-nicipal da Serra do Periperi (PMSP) em convênio com o IBAMA, expandindo a área de preservação para 1.300ha (Anexo).

Figura 01: Área da Serra do Periperi

Fonte: Tagged Image File Format (TIFF)

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tele-visão e rádio, o Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), o Núcleo de Educação Ambiental do Parque, a Sede do Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Natu-rais Renováveis (IBAMA), áreas residenciais e Minas a céu aberto.

A altimetria da Serra é pouco superior a 1000 m., considerada, assim, com uma ele-vação residual que emerge da superfície dos Planaltos dos Geraizinhos, estando submetida principalmente a clima semi-úmido. Faz parte do Planalto de Vitória da Conquista e este, por sua vez, integra, junto com o Planalto de Maracás, os Planaltos dos Geraizinhos, caracterizado por uma extensa área de topografia tabular constituída, por depósitos detríticos do Terciário e do Quaternário. (RADAMBRASIL, 1981)

A unidade do Planalto dos Geraizinhos são superfícies elevadas constituindo planal-tos em processo de pediplanação por coberturas detríticas tércio-quaternárias. Os vales são colmatados de fundo chato, formando veredas (figura 02). Por isso, com o desmatamento, es-ses solos, principalmente os de natureza arenosa, não se sustentam nas encostas e rampas com maior declividade, ocorrendo processos erosivos como a formação de sulcos, voçorocas etc.

Figura 02: Área de Domínio das Unidades Geomorfológicas do Município de V.da Conquista.

Fonte: PDU-VC/2004

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Os solos que se desenvolvem na área são do tipo Latossolo Vermelho-Amarelo, sen-do solos minerais, não hidromórficos, profunsen-dos, com baixa fertilidade natural, com avançasen-do grau de intemperismo e boa porosidade, com seqüência de horizontes A, B e C e com pouca diferenciação entre eles, variando do vermelho ao amarelo com tons intermediários.

A vegetação, embora muito alterada, é típica de áreas de transição classificada pelo RADAMBRASIL (1981: 432) como área de ecotono, revestidas de Floresta Estacional. Com o desmatamento, estabeleceu-se nessa região uma fisionomia secundária da floresta misturada com espécies de Cerrado. E esse contato é mais visível na Serra do Periperi que possui uma composição florísitica bastante heterogênea. O porte da vegetação atual é muito pequeno em função dos desmatamentos sucessivos e da pequena capacidade de regeneração. As vegeta-ções que compõem naturalmente essas áreas possuem alturas em torno de 4 metros e são chamadas de Mata de Cipó ou Mata Seca. É uma vegetação alta, fechada, com muitas lianas (cipós), epífitas (orquídeas) e musgos (barba de mono).

Vale ressaltar a importância da Mata de Cipó, já que esse tipo de vegetação é rema-nescente da Mata Atlântica e, por isso, há uma proposta de ampliação do Corredor Central da Mata Atlântica (entre a Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais), implementada pelo Projeto

Corredores Ecológicos do Ministério do Meio Ambiente, para abarcar a área do PMSP para

que áreas como essas que possuem remanescentes não fiquem isoladas e possa assim haver uma maior conexão dos ambientes naturais, consentindo a circulação das espécies de flora e

fauna entre os remanescentes.É importante ressaltar que a Mata de Cipó é de formação

parti-cular e só existe no estado da Bahia.

Uma área com as características da Serra do Periperi, ou seja, residual quartizítica com afloramentos rochosos e solos litólicos rasos, localizados entre rampas coluvionares e áreas rebaixadas de cabeceiras de drenagem, como é o caso de Vitória da Conquista, auxilia no surgimento de nascentes, como é o caso do Bebedouro da Onça, do Poço Escuro, do Pano-rama, das lagoas das Bateias, Jurema e dos Campinhos. Tal condição favoreceu o surgimento da cidade nessa área, pois esses mananciais é que abasteciam a população naquela época.

(25)

Foto 01: Rio Verruga no perímetro urbano, cruzamento com a Avenida Bartolomeu de Gusmão

Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2007.

Foto 02: Rio Verruga no canal que cruza com o anel viário

Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2007.

O Rio Verruga, na área urbana, está assoreado, poluído com esgotos domésticos e e-fluentes, com lixos domésticos, entulhos e de odor desagradável. O leito do Verruga na área urbana está protegido pela legislação, porém, a realidade é outra.

Tanajura (1992:25), numa entrevista realizada com um geólogo da cidade mostra que na serra há uma grande quantidade de água potável que se acumulou a milhões de anos em toda a sua extensão de 15 km. O autor chama atenção pelo fato de que ainda há pessoas que utilizam dessa água e que essas nascentes são tributárias de fontes que formam vários rios que têm origem no Município de Barra do Choça e adjacências.

(26)

Gráfico 01: Gráfico Ombrotérmico de Vitória da Conquista - Ba

Pode-se observar pelo gráfico que as chuvas são mal distribuídas e como têm caráter torrencial, ao encontrar solos sem cobertura vegetal, podem produzir grandes volumes de es-coamento superficial, principalmente em áreas de declividades acentuadas, a exemplo das á-reas das vertentes e encostas da Serra do Periperi.

A Serra do Periperi é uma área de extrema importância para a cidade de Vitória da Conquista, pois, nela, encontram-se áreas de grande relevância ambiental, não somente para a cidade, como também para a região sudoeste.

Uma outra área importante na serra é o Poço Escuro, com 16ha, localizado na vertente sul da serra. É um espaço em que se encontram remanescentes da Mata Atlântica, com grande diversidade biológica, e uma das principais nascentes do Rio Verruga. O Poço Escuro é hoje o local que recebe o maior número de pesquisadores e visitantes na cidade. O risco que essa á-rea corre hoje é provocado pela urbanização circunvizinha desordenada, que tem cercado essa área. O poço hoje é um divisor de dois bairros opostos, o Cruzeiro (que antes era Petrópolis) e o Guarani. O primeiro é habitado, em parte, por uma classe média alta e, o outro, por uma po-pulação carente e marginalizada.

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Fotos 03 e 04: Área degradada na parte Oeste da Serra do Periperi

Fonte: trabalho de campo, 2006. Foto: Nereida Mª S.Mafra Benedictis

É certo que a Serra do Periperi é hoje um espaço em conflito da cidade de Vitória da Conquista: conflitos de moradores, de ambientalistas, do poder público, da população das á-reas mais baixas da cidade que têm sofrido com a ocupação desordenada devido à quantidade de água e sedimentos que descem pelas ruas da cidade de forma violenta durante o período de chuvas e que acabam na maioria das vezes destruindo ruas, casas e, algumas vezes, provocan-do até mortes. E para compreendermos a degradação que há na Serra é necessário primeira-mente entendermos como se deu a sua ocupação, considerando a expansão urbana da cidade.

2 – Aspectos da Expansão Urbana de Vitória da Conquista

(28)

Até a década de 1950, o município teve como base econômica a pecuária extensiva voltada para a produção de carne. Com a construção da BR-116 (Rio - Bahia) nos anos 60, houve uma maior articulação com os principais centros do país e com outras regiões do esta-do, expandindo consideravelmente o comércio e o transporte de cargas e de passageiros.

Na década de 1970, implantou-se a cafeicultura no município e, com ela, acontece-ram muitas transformações aconteceacontece-ram, sobretudo no que diz respeito à sua estrutura físico-social. O café tornou-se um dos principais produtos do município, porém, com a queda do produto no mercado internacional entre as décadas de 1980 a 1990 muitos produtores abando-naram suas terras. Nesse período, mesmo com a queda do café, a cidade desenvolveu-se como importante centro de serviços e comércio varejista, para toda a região sudoeste e norte de Mi-nas Gerais.

Atualmente, o café ainda é um dos principais produtos agrícolas do município, em produção e exportação segundo dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI, 2004). Mesmo com a queda dos preços que obrigou a muitos produtores a a-bandonarem suas plantações na década de 1980, têm 74% da produção, seguido da banana 9% e do urucum com 8%.

Possui uma posição de entroncamento (fig.04), originada pela presença de importan-tes rodovias, como a BR-116 (Rio/Bahia) que faz a interligação norte/sul do país, a BR-415

Figura 3: Mapa de localização de Vitória da Conquista na região

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(Ilhéus/Conquista) que permite o acesso ao litoral sul do estado e da BR-101 e a BA-262 (Conquista/Brumado) que faz a ligação Leste-Oeste do estado, situada a apenas 134 km da Ferrovia Centro Atlântica (Brumado), permitindo uma integração com o transporte hidroviá-rio do São Francisco/Rio Corrente e o ferroviáhidroviá-rio e rodoviáhidroviá-rio em direção ao porto de Ilhéus.

Segundo Ferraz (2001, p.21), essa posição

“Influencia favoravelmente o desenvolvimento econômico da cidade, que assume importante papel de eixo de circulação do Estado da Bahia e tam-bém de ponto de articulação entre a região nordestina e o centro-sul brasi-leiro. Essa característica de entroncamento é fundamental no processo de construção dessa unidade urbana”.

Tal posição constitui Vitória da Conquista como a terceira maior cidade do estado, referência regional na educação, na saúde e no comércio, que vem se consolidando como im-portante pólo de serviços rodoviários e como centro de educação superior. Por isso, segundo a reportagem de um jornal local “A Semana” (p. 03 de 12 a 17 de março de 2007), a cidade a-tende a cerca de dois milhões de habitantes da região Sudoeste, do Norte de Minas Gerais e parte do Sul da Bahia. Por isso, é depois de Salvador a cidade que mais se desenvolve na construção civil no Estado da Bahia.

Fig. 04 – Mapa de Circulação do Município de V. da Conquista

(30)

2.1 - A Importância das Rodovias na Expansão Urbana da Cidade

A importância das rodovias para cidade é histórica, pois, quem as observa verifica que o crescimento urbano se deu por meio delas. Elas foram durante anos e continuam sendo um fator de grande relevância no crescimento urbano e comercial da cidade. Por exemplo a construção na década de 1940 da BR-116, principal rodovia, que corta a cidade, dividindo-a em duas zonas: a Oeste e a Leste.

O Jornal Conquista (ed.158 anos-1998:3) elucida o valor da construção da BR-116 para a cidade de Vitória da Conquista:

“A grande concentração urbana que Vitória da Conquista experimentou, na zona oeste da Cidade onde hoje se concentra a maioria da população urbana do Município de Conquista, distribuída em mais de vinte bairros, com o surgimento das primeiras moradias na década de 40, na margem esquerda da estrada Rio-Bahia, cuja construção alterou de forma decisiva o mapa do Município, sendo fator de desenvolvimento socioeconômico por ter trans-formado a cidade num entroncamento rodoviário.”

A BR-116, nos anos compreendidos entre 1944 a 1953, foi um grande vetor de cres-cimento da expansão urbana, apesar de ter sido inaugurada apenas em 1963. Nesse período, a malha urbana se estendeu ao longo das suas margens, absorvendo inclusive a BA – 262 (Vitó-ria da Conquista - Brumado) e, depois, se prolongando a sudoeste BA -265 (Vitó(Vitó-ria da Con-quista- Barra do Choça) já que são estradas que se interligam.

A BR-116 direcionou o crescimento urbano pelas suas margens, abrangendo também a parte norte, na Serra do Periperi, suscitando uma expansão urbana desordenada para as en-costas da Serra onde se situa uma área de reserva florestal (Poço Escuro) com nascentes, fau-na e flora que são muito importantes para o meio ambiente da cidade.

A partir dessa linha de crescimento, a cidade passou então a ocupar os espaços vazi-os, entre os anos de 1960 e 1965, que se formaram entre os eixos. O crescimento se deu em direção ao Sul, principalmente pela população de baixa renda. Sobre isso, Tanajura (1992:101) relata que,

(31)

A ocupação desses espaços vazios ocorreu, sobretudo, pela alta concentração popu-lacional ao longo das rodovias e, também, porque havia uma penetração muito tímida pelas transversais aos eixos de crescimento da malha urbana.

Um relato de um jornalista que visitou Vitória da Conquista em 1956, Leôncio Bas-baum (BASBAUM apud TANAJURA,1992:74), descreve a condição social da população que, talvez atraída pelo emprego gerado pela construção da estrada, assentou-se em Vitória da Conquista:

“(...) Mendigos por toda a parte, nas esquinas, na Igreja, no mercado ou na feira, pelas estradas, à beira das calçadas (...). Não tem a picardia dos men-digos das cidades grandes, nem a sua agressividade. São mansos, humildes, como se pedissem desculpas por serem tão pobres.”

Segundo dados do censo demográfico do IBG de 1950, o município de Conquista ti-nha uma população de 46.456 habitantes, dos quais 19.463 residiam na cidade: em 1960, de 80.113 habitantes a população urbana chegara a 48.712 habitantes. O gráfico 02 demonstra um crescimento populacional significativo, sobretudo nessas décadas, ocasionado por um im-pacto da transferência da população rural para a zona urbana.

GRÁFICO 02 – População Urbana e Rural de Vitória da Conquista de 1940 a 2000

Percebe-se pelo gráfico que a década de 1940 pode ser apresentada como referência para o crescimento urbano nos anos posteriores. Medeiros (1977:9) diz que, com a abertura da BR-116, Conquista integrou-se com outras regiões do estado e ao Sul do País; “a estrada I-lhéus-Lapa cortando a seu meio caminho entre o litoral e o Sertão do São Francisco”, permi-tindo um maior escoamento da produção. O autor também aponta a Segunda Guerra Mundial,

0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000

1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

População Rural População Urbana

(32)

que gerou uma necessidade de produzir suprimentos, influenciando também o desenvolvimen-to da região e do município. O comércio se desenvolve e, com isso, aumenta a quantidade de migrantes que eram atraídos pelo desenvolvimento econômico da cidade e também aqueles que eram expulsos de sua terra pela seca ou por proprietários rurais.

Na década seguinte aos anos 40, com um centro já bem adensado (exceção da grande gleba hoje ocupada pela feira coberta, no lugar tradicionalmente conhecido como "Mamonei-ra"), a cidade contaria com atração exercida pela rodovia Rio – Bahia (BR -116), fazendo ex-pandir o arruamento em direção Oeste (BA- 262). A explicação da atração da referida rodovia combina com o fato de ter surgido, em Vitória da Conquista, um mercado imobiliário de di-mensões relativamente amplas, se for considerada a dimensão da cidade.

Tornou-se impossível a fixação de populações no centro, já ocupado, havendo possi-bilidade da expansão em áreas relativamente baratas e planas. O fato é que o negócio imobili-ário, para potencializar os lucros e tendo em vista o poder aquisitivo do mercado consumidor, abriu loteamentos articulados com a cidade pela via de acesso às rodovias, ou mesmo nas margens destas. O acesso solucionado ao centro pesa mais que a simples atração das rodovias e, no caso, a ocupação se dá de forma massiva, através de loteamentos.

O crescimento para Oeste (predominante) não significa que a Leste não houvesse crescimento urbano. A leste, a atração da rodovia de Conquista a Barra do Choça (BA-265) e a crescente ocupação na proximidade do centro faz com que Bairros como o Alto Maron e o Bonfim, por exemplo, se alonguem. Aos poucos, ocorre ocupação de transversais às mencio-nadas rodovias.

Esse processo de urbanização se ampliou até as décadas de 1950 e 1960 e, com ela, vieram outros loteamentos. Nessa mesma época, o urbanista Moacir Vieira (VIEIRA, 1957) queixava-se dos loteamentos, que, segundo ele, tomavam uma estrada como base, não se le-vando em consideração o escoamento da água, declividades, dentre outros processos. Num outro artigo, o urbanista clama por um planejamento urbano dizendo que “Conquista progre-diria 10 anos planejando o que talvez em 20 anos não consiga sem planejamento”.

(33)

Em 1971 com a implantação do café houve transformações fundamentais para o de-senvolvimento urbano. A região passou a figurar como uma das maiores na plantação de café do Estado. O café, conforme observa Tanajura (1992:99), “trouxe grande progresso à região, principalmente para Vitória da Conquista”. Em decorrência disso, entre as décadas de 1970 a 1980, houve mudanças nas habitações com a melhoria do padrão de muitas residências e o modo de vida de sua população.

Com o progresso econômico, a cidade tornou-se atrativa, aumentando ainda mais a população urbana sem, contudo estar preparada, principalmente no que diz respeito às ques-tões socioeconômicas, sobre isso Tanajura (1992:99) observa que,

“O desenvolvimento urbano de Vitória da Conquista, analisando em termos de mudanças na sua estrutura físico-social, se caracteriza por uma forte ex-tensão na superfície e na população, também pelo reforçamento de sua base econômica terciária e dos grupos sociais que a dominam, graças a introdu-ção da cultura cafeeira.”

Esse quadro demonstra o que ocorreu nesse auge da economia cafeeira. Os loteamen-tos que eram em sua maioria populares passaram a ser também de classe média e alta. Medei-ros (1978) diz que os loteamentos eram “seletivos” e de preços altos. Assim, muitos proble-mas se desencadearam a partir dessa seleção, pois, com os lotes caros, a população mais ca-rente passou a ocupar as áreas mais ao norte da cidade, como a Serra do Periperi, muitas vezes através de invasões, por ser de custo mais baixo.

Em 1975, foi realizado um estudo com o intuito de avaliar a evolução urbana da ci-dade até 1974 para posterior elaboração do Plano Diretor, aprovado pela Lei nº. 118/76, tendo como principal objetivo o ordenamento do crescimento urbano. Sobre isso, o Relatório do se-gundo Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista relata que:

“O primeiro Plano Diretor de Vitória da Conquista foi a meta principal do governo municipal na época. A idéia do Plano era fundada em quantidades (número de habitantes, de escolas, hospitais etc.), como também em algu-mas leituras diretas, tais como: condições das edificações públicas e priva-das, expansão urbana e seu impacto nas atividades econômicas. Trouxe en-tre suas diretrizes: a descentralização das atividades comerciais e de equi-pamentos, o direcionamento para a implantação de loteamentos em terrenos mais planos (facilitadores do escoamento das águas)”. (PDU, 2004: 69).

(34)

118/76:

-Até 1944 existia uma malha central de tecido contínuo coincidentemente melhor servida pela infra-estrutura de serviços básicos, com expansão no sentido Sudeste.

-Até 1955 a expansão se dá em direção à rodovia que já naquela época constituía um dos mais importantes fatores de atração urbana. A malha ur-bana se estende ao longo dessa rodovia envolvendo inclusive a ligação ro-doviária BA-262-Conquista- Brumado. Outro prolongamento se dirigiu para Sudeste graças à topografia e a rodovia BA-265-Conquista-Barra do Choça. A cidade passou a se expandir seguindo a direção das rodovias, identifica-das como vetores do crescimento urbano.

-De 1955 até 1974 - observa-se um processo de expansão similar verificado no período anterior, manifestando-se inicialmente tímidas penetrações transversais dos eixos de crescimento da cidade. Em seguida foram preen-chidos os espaços vazios que se formavam entre os eixos de crescimento. Os fatores de atração foram a construção do aeroporto, a implantação de novos loteamentos a sudeste e o saneamento dos terrenos alagadiços a su-deste. Nesta direção surgiram loteamentos entre os quais o núcleo habita-cional da URBIS.

Mesmo possuindo um Plano Diretor Urbano/1976, a cidade continuava a crescer de-sordenadamente. O crescimento dessa época não se dava mais como nos anos 40, mas pela ilegalidade dos parcelamentos do solo urbano. Do ponto de vista de alguns estudiosos da his-tória da cidade, isso ocorreu pela falta de vontade política dos prefeitos posteriores que não executaram o Plano como deveria, apesar deste restringir apenas a questões físicas. Porém, a cidade passou a ter um instrumento normativo, no sentido de constituir princípios de uso e ocupação do solo na cidade, como também de implantar o conceito do planejamento urbano no município.

Com a organização da economia cafeeira e seus reflexos no crescimento do comércio e no setor de serviços da cidade geraram um aumento da malha urbana de 1972 a 1985. Como era prática desde épocas anteriores esse período caracterizou-se pela proliferação de lotea-mentos, já que, existia uma tendência de ocupação da Serra, principalmente pelos mais pobres que não tinham condições de adquirir lotes para construir. A maioria desses loteamentos pos-suia uma articulação muito estreita com as estradas, pois muitos loteamentos foram criados perpendicularmente a elas, como meio de acesso a outros bairros já estabelecidos.

(35)

em áreas mais baratas na periferia da cidade, abriu novas frentes de urbanização favorecendo os vazios urbanos, já que a maioria desses lotes são privados.

Como se observa através do mapa, a expansão da cidade, a partir da década de 1940, ocorre nas encostas da serra; em 1955, pelas margens da BR -116, da BA-262 e da BA-265; em 1974, há um crescimento circundando a serra e as margens das rodovias, com uma exten-são maior pela BR-116; em 1984, ocorre uma maior expanexten-são em áreas periféricas, seguindo a direção das vias; em 2003, a ocupação se dá no sentido de preencher os espaços vazios que foram gerados na década de 80 e 90.

O Mapa (fig. 05) da evolução urbana da cidade, desde a época de 1940 até 2003, de-monstra essa situação e a continuidade da ocupação das áreas do PMSP e, em muitos bairros, o avanço desordenado em direção a essa área.

Como a urbanização de Vitória da Conquista se deu de forma radial, ou seja, ruas que são abertas do centro em direção à periferia urbana seguindo os principais eixos viários como a BR-116 (trecho urbano atual Avenida da Integração), a BA-262 (Avenida Brumado), a BA – 265 (Barra do Choça), o comércio e a prestação de serviços geralmente estão ligados ao tráfego de passagem. Tal situação tem criado dificuldades no acesso ao fluxo de tráfego,

Km

Fonte:Maplan- EMBASA Base cartográfica- Desencop Ltda.

Elaboração: Nereida Benedictis / Edvaldo Oliveira/ Iris Carvalho

0 2 4

Área do Parque Municipal da Serra do Periperi ATÉ 1944

ATÉ 1955 ATÉ 1974 ATÉ 1984 ATÉ 2003

(36)

impondo inclusive riscos à circulação de veículos e pedestres

Tal condição suscitou em Vitória da Conquista um caos no trânsito, em decorrência da mistura do tráfego urbano e rodoviário. O exemplo é a BR-116 (atual Avenida da Integra-ção) que corta a cidade (foto 05), e provoca entre outras coisas acidentes e congestionamentos de trânsito das principais avenidas de acesso às zonas oeste e leste da cidade e destas ao cen-tro.

Foto 05:BR-116 (Avenida da Integração) no ano de 2007

Fonte: Laboratório de Cartografia.

Sobre isso, Medeiros (2004: 01) discorre que:

“O estabelecimento de conjuntos habitacionais, só articulados com a malha urbana inicialmente por estradas, agravou o problema. (...) A mistura de dois trânsitos aumentou vetores de crescimento e ficaram mais potentes e novas demandas incidiram sobre a administração pública, ampliando, inclu-sive, custos de serviços”.

(37)

estra-das municipais de acesso a Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) e Distrito de Batalha.

Assim como ocorreu com as demais estradas, o anel viário tem atraído novos lotea-mentos e bairros clandestinos para as suas margens, pois a maior parte da área está dentro da malha urbana da cidade. Por isso, Medeiros (1998:02) diz que o que foi construído não passa de “mera travessia”. O autor prossegue dizendo que:

“É certo que o anel viário apresenta um avanço, pois reloca a estrada para uma área menos crítica. Mas já nasce com a marca da improvisação, anun-ciando futuros problemas. (...) não observou que o uso do solo urbano já é intenso nas imediações do entroncamento BR-116/ Estrada de Brumado.”

Em adição às colocações do autor, podemos observar em estudo de campo que, pró-ximo às margens do anel viário, têm surgido moradias que vem avançando na direção do Par-que Municipal da Serra do Periperi, já Par-que o anel corta grande parte do PMSP. É o caso do bairro Nova Cidade, que está a apenas 50 metros do anel (fotos 06 e 07). No bairro Bruno Ba-celar, também foi observado a presença de estradas de chão, perpendiculares ao anel, como a avenida principal que corta o bairro e que fica a menos de 1000 metros do bairro. Tal situação facilita a construção de casas e o surgimento de novos bairros clandestinos rumo à Serra.

Figura 06: Imagem de satélite da cidade de Vitória da Conquista

(38)

Fotos 06 e 07: Vista do bairro Nova Cidade e margens do anel viário

Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nerêida Mª S. Mafra Benedictis

O Anel Rodoviário deveria ser, conforme o PDU (2004), uma fronteira da urbanização na cidade. Porém, muitos bairros, como o São Pedro, Zabelê, Espírito Santo, e loteamentos no caminho da Universidade, já se encontram do outro lado das margens do anel. Sendo assim, no futuro bem próximo, poderá ser novamente um grande problema para a cidade. Esse anel corta o PMSP e, como é de praxe na história da cidade, torna-se uma área atrativa para lotea-mentos já que uma das justificativas do projeto (agosto de 1998) no seu Licenciamento atra-vés do Plano de Recuperação de Área Degradada (PRAD) é que melhoraria o desenvolvimen-to da cidade, pois teria uma integração intra e inter regional, e também uma melhor distribui-ção de renda, além de valorizar as terras mais próximas e benfeitorias.

2.2 – A Cidade e os Loteamentos

Com o crescente aumento da população urbana, Vitória da Conquista iguala a pou-cas cidades brasileiras, (MEDEIROS, 1978). A população urbana, em 1940, era de 8.644 ha-bitantes e em 1970, de 85.959 haha-bitantes. Esses números demonstram um aumento populacio-nal, segundo o autor, proveniente de migrações de outras áreas e do campo para a cidade que, em certa medida, favoreceu a ocupação do solo basicamente por loteamentos.

De acordo com Medeiros (1978: 08):

“Em Vitória da Conquista, no sentido técnico da palavra, o loteamento surge na primeira metade da década de 1950. A prática atendia à crescente deman-da motivademan-da pelo crescimento populacional urbano. Como se sabe, a partir dessa década, a população urbana começa a dar verdadeiros saltos, (...) a

po-PMSP

Anel Viário

(39)

pulação começa, portanto, a pressionar a terra e esta, atendendo ainda a ne-cessidade de o proprietário expandir seus negócios, fragmenta-se”.

Para o autor, a maioria dessa população era de baixo poder aquisitivo. Isso explica o fato de surgir em Vitória da Conquista nessa década os “loteamentos populares”. Porém, tal situação contribuiu também para o surgimento dos loteamentos destinados às classes média e alta, e, com isso, a prática de parcelamento do solo urbano.

Fotografias antigas da cidade no Museu Regional de Vitória da Conquista mostram um espaço, no qual surgiram bairros nobres, populares e operários, o que reflete a característi-ca da sociedade.

A partir dessas observações, Medeiros (apud FERRAZ, 2001:38) descreve:

“A cidade modificou-se também para, dentro de seu espaço físico, separar suas classes sociais. Assim, o aglomerado urbano como que desenha fisica-mente sua realidade social. Está se fixando definitivafisica-mente a separação entre ruas e bairros ricos e ruas e bairros pobres e a cidade mostra sua verdadeira face de, encoberta pelo movimento do comércio e de seu setor de serviços, sua euforia econômica, suas corridas de jegue no Primeiro de Maio, centro urbano onde a justiça social é muito desejada porque é carente.”

Nessa fase, a lavoura cafeeira, no seu auge, gerou excedentes capazes de permitir a edificação de mansões modernas em maior quantidade e favorecer a concentração da terra. Os investimentos, a partir das modificações introduzidas na agricultura, refletiram-se sobre o co-mércio e o mercado imobiliário. A população urbana cresceu de 48.712 habitantes, da década anterior, para 85.959 habitantes, tendo um percentual de 67,5%, exercendo assim uma pressão sobre o valor da terra, originando, ao mesmo tempo, terrenos nobres e terrenos menos valori-zados.

Segundo Ferraz (2001:36), em meados da década de 70, o setor agrícola foi dinami-zado e motivou ainda mais o processo de urbanização da região. Com isso, ocorreram “trans-formações nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais, e a cidade continua crescen-do e modificancrescen-do a sua configuração territorial”. Essa evolução é seguida “por um intenso crescimento populacional, advindo da migração rural e da atração exercida por Vitória da Conquista, principalmente, em relação às cidades da região”.

(40)

Ferraz (2001) realizando um estudo sobre os loteamentos criados na cidade de Vitó-ria da Conquista nos períodos de 1977 a 1996, diz que o papel dos agentes imobiliários foi de grande importância na configuração espacial da cidade e que juntamente com o poder público municipal definiu as áreas que deveriam ser ocupadas pela população. Na realidade, eram os interesses dos loteadores, que, segundo a autora, iam determinando os “bairros ricos” e os “bairros pobres”, a partir da definição dos valores, tamanhos e infra-estrutura dos lotes.

A quantidade de loteamentos, ainda segundo Ferraz, foi em média, de 8,6 por ano. Entre 1977 a 1996 foram 3.723,1 lotes abertos/ ano, como pode ser visto na tabela 01:

Tabela 01 – Loteamentos deferidos ou legalizados em Vitória da Conquista de 1977 a 1996

Ano Quantidade

de loteamentos

Número de lotes

1977 11 2.429

1978 05 357

1979 07 11.715

1980 11 1.354

1981 17 8.877

1982 09 8.699

1983 12 8.661

1984 04 1.912

1985 11 4.745

1986 12 2.292

1987 06 2.627

1988 11 2.959

1989 09 2.376

1990 05 258

1991 03 369

1992 10 2.355

1993 02 78

1994 01 463

1995 13 5.965

1996 13 5.971

TOTAL 172 74.462

Fonte: FERRAZ (2001:44)

(41)

loteamentos. Ferraz (2001: 45) diz que esses loteamentos foram realizados por particulares e aprovados pelo poder público municipal, mas que a maioria deles foram demarcados sem in-fra-estrutura.

Como havia o interesse por parte do poder público municipal no crescimento da ci-dade, os próprios loteadores nortearam esse crescimento. Os lotes com preço acessível e me-nores e que não tinham infra-estrutura foram destinados à população com baixo poder aquisi-tivo. Muitos desses terrenos estão localizados em áreas acidentadas, como é o caso da Serra do Periperi. Já nos loteamentos destinados a uma população de classe média e alta, ainda que em alguns deles também não houvesse infra-estrutura, os lotes eram maiores, de preços mais altos e em, sua maioria, em áreas planas.

Desse modo, observa-se que no processo de luta pela ocupação do solo urbano, os grupos abastados da cidade foram e continuam a ser os maiores beneficiados, apropriando-se das áreas mais privilegiadas. Por outro lado, os grupos pobres tenderam a ocupar as áreas que não apresentavam condições mínimas de infra-estrutura adequada. Para Medeiros (1978:09) (...), “Afinal, beneficia-se o loteador em detrimento de toda a comunidade. Desrespeita-se a lei em favor da especulação imobiliária. Espezinha-se o adquirente que, com difíceis economias familiares, conseguiu comprar um lote”.

Convém observar que mesmo com a criação em âmbito municipal do Plano Diretor Urbano de Vitória da Conquista de 1976, que visava redefinir a divisão das terras urbanas, e, no âmbito federal, a Lei 6.766/79, que estabelecia a competência do poder público e munici-pal no que diz respeito ao ato de aprovação de qualquer parcelamento do solo urbano, vários loteamentos na cidade continuaram a ser deferidos sem a observância dos quesitos legais. Isso significa que uma grande parte dos loteamentos irregulares foram abertos à revelia das autori-dades competentes e, muitos deles, foram localizados na área da Serra do Periperi. Sobre essa questão, Medeiros (1985:12) destaca:

“A década de 1975 a 1985 foi contraditória quanto à ação do poder público no disciplinamento urbano: ao lado da preocupação inicial por parte do po-der público em disciplinar o crescimento (Plano Diretor Urbano), houve a omissão no planejamento efetivo do crescimento. Ao lado da aprovação de loteamentos sem a observância de requisitos legais, omitiu-se quanto ao parcelamento clandestino do solo urbano. Não viabilizou o poder público destinação urbana para a Serra circundante, que está sendo ocupada desor-denadamente. (...) Afinal, o incremento demográfico encontrou espaço de sobra para assentar-se: o grande número de lotes urbanos disponíveis (em-bora a maioria sem infra-estrutura) e os novos conjuntos (sem falar no as-sentamento de grupo de baixo nível de renda na serra)”.

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cida-de, que existia mesmo após a elaboração do Plano Diretor de 1976 uma dificuldade muito grande por parte dessas autoridades em cumprirem com a legislação em vigor, porque os lote-adores eram vistos como “incentivlote-adores” do crescimento da cidade. Com isso, tudo era faci-litado pelo poder público municipal, que legalizava o loteamento e quando possível executava as obras necessárias. Foi tão grave o que foi feito que um dos prefeitos chegou a dizer que se cumprisse a legislação poderia inibir o crescimento da cidade.

Um outro aspecto importante para a proliferação de loteamentos em Vitória da Con-quista foi a preocupação com as invasões baseadas na atuação dos movimentos populares. A aprovação de tais loteamentos era para o poder público de fundamental importância já que atendia às reivindicações dessa demanda e também como forma de garantir a conquista de eleições, apesar de ser de certa forma onerosa para a prefeitura, pois a aprovação não exigia obras de infra-estrutura. Isso, de acordo com Ferraz (2001:159), facilitou

“A prática dos agentes imobiliários de não incorporar ao empreendimento obras de infra-estrutura, na maior parte das vezes porque não se vêem obri-gados pelo poder público a realizá-las, remete a cidade a uma situação de precariedade”.

A segregação no espaço urbano de Vitória da Conquista foi produzida pelos interes-ses do capital e por uma cultura de que o crescimento sempre fora mais importante do que a condição de vida da população, especificamente a de baixa renda.

Observa-se que a configuração espacial de Vitória da Conquista se deu a partir de disputas que se constituíram na cidade abrangendo indivíduos diferentes com interesses e ne-cessidades divergentes.

Assim como a maioria das cidades brasileiras, Vitória da Conquista vem ao longo dos anos experimentando problemas no direito à moradia. As políticas públicas não têm sido suficientes para atender a demanda e, nem sempre, se preocupam com o meio ambiente urba-no. Observa-se que muitas destas políticas concebem o direito à moradia apenas como o direi-to a uma porção de terreno, ou seja, ao lote que, segundo Ferraz (2001:38), foi um dos princi-pais aspectos que originou a modificação da configuração territorial da cidade, da prática de parcelamento do solo urbano.

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Fonte: Séc. Municipal de Obras e Urbanismo de Vitória da Conquista – BA, 2006.

Nota-se que, em 1997, o número de loteamentos deferidos foi superior às décadas an-teriores. De acordo com o Coordenador de Urbanismo da Secretaria de Transporte, Trânsito e Infra-estrutura Urbana (SIMTRANS), Sr. Cláudio Nascimento, nesse período, por questões eleitorais, o poder público autorizou diversos loteamentos, sem, contudo, observar as exigên-cias da Lei Federal no 6.766, de 19 de dezembro de 1979 que dispõe sobre Parcelamento do Solo Urbano.

O gráfico traz também uma nova informação no que diz respeito aos licenciamentos aprovados pelo poder público municipal após o ano de 1997: a quantidade de loteamentos di-minuiu consideravelmente em relação às épocas anteriores. Isso se deve ainda, segundo o co-ordenador, pelas mudanças ocorridas na política em 1998, quando assumiu o poder local outro grupo político, que passou a exigir o cumprimento da Lei Federal, uma vez que o Município ainda não tinha a aprovação da nova lei municipal de parcelamento e uso do solo urbano. A gerente de análise de projetos, a Sra. Nelma Moraes, da mesma secretaria, informou que a concessão de licença para loteamentos urbanos foi suspensa temporariamente, desde 03 de novembro de 2003, através do Decreto nº. 11.374/2003 que instituiu que:

“Art. 1º - Ficam suspensas as concessões de licenças para loteamentos urba-nos em geral, até a aprovação do novo Plano Diretor do Município, e suas leis específicas, exceto para aqueles que integrarem programas de interesse social, a critério do Município.”

Assim, como o novo código para licenciamento encontra-se em aprovação pela Câ-mara Municipal, somente terá algum loteamento deferido, quando estes forem de interesse

Gráfico 03: Quantidade de loteamentos e número de lotes aprovados pela Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista-Ba entre 1997 a 2006

25 1 4 5 1 2 3 5 0 2 0 5 10 15 20 25 30

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social, por isso é que aparecem, no gráfico 02, alguns loteamentos aprovados a partir do ano de 2003. Entretanto, de acordo com a fala da gerente, não significa dizer que não houve aber-tura de loteamentos na cidade, principalmente os clandestinos que são de particulares e que resolvem lotear seu terreno sem nenhuma infra-estrutura.

Essa situação gerou em Vitória da Conquista uma praxe, e, diante disso, a cidade se desenvolveu desordenadamente inclusive para áreas de preservação ambiental, como foi ob-servado no mapa sobre a evolução urbana, como é o caso da Serra do Periperi que vem ao longo dos anos sendo ocupada.

Assim, com uma periferização semelhante aos grandes centros urbanos, constata-se uma especulação imobiliária intensa nas áreas mais planas, havendo em contrapartida um a-vanço da ocupação das áreas periféricas pelas populações mais carentes, principalmente em direção à Serra do Periperi que, não possuindo estrutura adequada, sofre graves conseqüências ambientais, particularmente a erosão das suas encostas.

3 - Ocupação Humana na Serra do Periperi

A cidade de Vitória da Conquista começou a se desenvolver nas encostas da Serra do Periperi, na vertente sul, no início do vale do Rio Verruga, afluente do Rio Pardo. A Serra vem sendo ocupada há mais de 60 anos, desde a construção da BR-116, para moradia, através de invasões, loteamentos clandestinos e pela exploração de seus recursos naturais utilizados na construção civil, como areia, cascalho, saibro (tipo de areia grossa de rio), pedra e também madeira.

Com a urbanização desordenada, as áreas não loteadas regularmente foram ocupadas na Serra do Periperi, a norte e a noroeste do centro histórico da cidade. Como foi visto no ca-pítulo anterior, a construção da BR-116 e, mais recentemente, em 2004, a do Anel Viário, também colaboraram para a ocupação das suas margens por habitações em direção à serra como também para a exploração de jazidas.

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Tanajura (1992:25) relata que desde a fundação do Arraial da Conquista a serra já era local de atração não somente pelos conquistadores brancos, mas também pelos índios, que buscavam os mananciais.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Obras, as ocupações na Serra do Periperi ocorreram de forma mais intensa a partir da década de 1980, com a aprovação pelo poder pú-blico municipal de loteamentos, como o Bruno Bacelar, que atualmente é o bairro que mais avança na área do Parque Municipal da Serra do Periperi. Os dados demonstram o número de lotes no contorno da serra na década de 80 que aumentou expressivamente, inclusive com al-vará de licença concedido pelo poder público municipal, conforme tabela 02.

Loteamentos Nº de

Lo-tes

Data de Deferimento

Menerval Custódio 366 04 / 84

Pombal 247 06 / 84

Miro Cairo I 673 08 / 85

Miro Cairo II 156 11 / 86

Bruno Bacelar I 605 05 / 88

Idalina Veloso 932 05 / 88

Nenzinha Santos I 1.173 08 / 88

Nenzinha Santos II 477 04 / 89

São Pedro 1.057 09 / 89

Padre Palmeira 42 12 / 89

Bruno Bacelar II 840 12 / 89

Janser 29 10 / 89

Panorama 266 não consta

Total de lotes existentes na área 6.866 FONTE: Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, 1989

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Vale ressaltar que vários bairros se formaram na serra, cortando de um lado a outro, áreas que teriam de ser preservadas (fotos 08 e 09). A maioria desses bairros foram formados através de invasões, que depois foram oficializados. Alguns desses bairros são: Bruno Bace-lar, Nossa Senhora Aparecida, Vilas Serranas, Panorama, entre outros. Nestes locais encon-tramos predominando residências pertencentes à população de baixa renda onde os problemas provenientes da agressão à serra são mais sentidos.

Foto 08: Vista parcial do bairro Cruzeiro próximo a área do PMSP

Fonte: Trabalho de campo 2007 – Foto: Nereida Mª S. Mafra Benedictis

Foto 09: Rua em expansão do bairro Nossa Senhora Aparecida

Fonte: Trabalho de campo 2007 – Foto: Nereida Mª S. Mafra Benedictis

A expansão urbana em direção à serra é uma prática que ainda observamos em Con-quista. Mesmo com a criação de uma APA, percebe-se que a população mais carente continua

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invadindo e construindo suas casas. Porém, a cerca que delimita o PMSP no bairro Pedrinhas não aparece em outros bairros do lado Leste da cidade e nem do lado oeste, a exemplo do Bairro Nossa Senhora Aparecida, na foto 08. Nesse bairro, os moradores parecem não tomar conhecimento dos problemas ambientais, e que estão construindo suas casas em uma área de preservação e que quanto mais se avança com as casas mais ruas perpendiculares são abertas na serra e aumenta ainda mais a degradação.

Um outro bairro que apresenta uma grave preocupação é o Bruno Bacelar. Em traba-lho de campo, verificamos que o bairro vem se expandindo sem nenhum ordenamento na área do PMSP (fotos 10,11 e 12). Lá não há uma delimitação da área do parque. O bairro tem se desenvolvido sem infra-estrutura, com muita pobreza, esgoto a céu aberto, ruas sem calça-mento e muitas delas com erosões em forma de ravinas (foto 13), a única rua pavimentada é a rua por onde transita o transporte público.

Foto 10: Expansão do Bairro Bruno Bacelar no PMSP.

Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida MªS.M.Benedictis

Fotos 11 e 12: Área de expansão do Bruno Bacelar no PMSP .

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Foto 13: Aspecto das ruas sem calçamento no Bruno Bacelar

Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida Mª S.M.Benedictis

Verificamos também que, em alguns lugares, nos bairros Cruzeiro e Pedrinhas, em todo o percurso realizado na área cercada (foto14), há estacas sem arames, estradas que dão acesso ao PMSP (foto 15), espaços próximos à cerca dentro do parque com retiradas de mate-rial (areia) que provavelmente pode ter sido usado na construção de casas, áreas com lixos domésticos e entulhos, e uma casa construída dentro do parque (foto 16).

Fotos 14, 15 e 16: Delimitação do PMSP, estrada com lixo e entulho dentro do PMSP e casa construída dentro da área do PMSP.

Fonte: Trabalho de campo, 2007. Foto: Nereida MªS. M.Benedictis

Imagem

Figura 01: Área da Serra do Periperi Fonte: Tagged Image File Format (TIFF)
Figura 02: Área de Domínio das Unidades Geomorfológicas do Município de V.da Conquista
Foto 02: Rio Verruga no canal que cruza com o anel viário Fonte: Secretaria Municipal de Meio Ambiente, 2007.
Gráfico 01: Gráfico Ombrotérmico de Vitória da Conquista - Ba
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