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A tecnologia de informação e a administração de recursos humanos

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETUUO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBUCA

JANEIRO DE 1998

A TECNOLOGIA DE

INFORMAÇÃO E A ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

ALBfRTO WAJZfNBfRG

CADERNOS EBAP N° 90

1RABAl.HO ELABORAOO PARA A DlSCIPUNA POúTICAS PúBUCAS li, 00 CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PúBUCA DA EBAPIFGV, SOB A ORIENTAÇÃO DA PROFA. VAlÉRIA DE SOUZA

RIO DE JANEIRO - BRASIL

(2)

fUNDAÇÃO GEl ULlG VAhGAS

dfi1ffllOTECA MARiO HENRIQUE SIMONSEN

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Publicação da ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA da

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS para divulgação, em caráter preliminar, de

trabalhos acadêmicos e de consultoria sobre Administração.

DIRETOR DA EBAP

Armando S. Moreira da Cunha

CHEFE DO CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA

E PESQUISA

Fernando Guilherme Tenório

EDITORA

RESPONSAve.

Deborah Moraes Zouain

coMlli

EDITORIAL

Corpo docente da EBAP

EDITORAÇÃO

Grupo Editorial da EBAP

o

texto ora divulgado é de responsabilidade exclusiva do( s) autor( es), sendo permitida a sua reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

CORRESPONDÊNCIA:

CADERNOSEBAP

Praia de Botafogo, 190, sala 426J Botafogo - Rio de Janeiro - RJ CEP 22.253-900

Telefones: (021) 536-9145 551-8051 536-9183

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X--Corte

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CADASTRO: CADERNOS EBAP

CADERNOS EBAP

Escola Brasileira de Administração Pública Nome: ... .

da Fundação Getulio Vargas Instituição: ... .

Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa Endereço: ... .

Praia de Botafogo, 190, Sala 426J Cidade: ... .

Botafogo - Rio de Janeiro -RJ País: ... .

22253 - 900 Código Postal: ... .

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GETULIO VARGAS

REVISTA DE ADMINISTRA

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS - ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

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PRAIA DE BOTAFOGO, 190 - 4- ANDAR

TEL: 536-9145

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Vamos todos tnlbalhar para uma máquina

inteligente ou vamos ter pessoas inteligentes em

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I - INTRODUÇÃO

A tecnologia utilizada em uma organizaçao assume um papel fundamental. Enquanto modos de organizaçao (tecnologias sociais) relacionados processos de conversa0 e modos de concepçao e produçoo (tecnologias materiaisp, a tecnologia permeia os processos organizacionais em larga escala, afetando o individuo, os grupos de individuos e a própria organizaçao como um todo. Tecnologia é conhecimento.

A tecnologia representa também uma vantagem competitiva, podendo significar a sobrevivência ou a derrocada de uma organizaçoo, e até, num sentido mais amplo, de um país. Segundo Rosenthal, ·poucos temas têm merecido tanta atenção da parte de todos os segmentos esclarecidos da sociedade quanto a discussão sobre a importância da tecnologia

como fator determinante da posição relativa dos diferentes países, em termos de produtividade, padrão de vida

e

participação na repartição do produto em nível mundia/"2.

Dentre as diversas tecnologias, a tecnologia de informaçoo (TI) aparece com grande destaque. Sua utilizaçao tem sido considerada um dos principais fatores de sucesso das organizações nos países ditos de Primeiro Mundo. Abrangendo a informática, as telecomunicações e a automaçao de escritórios, esta tecnologia tem apresentado um avanço extraordinário nos últimos anos.

Seu espectro de utilizaçao é largo. De fato, desde nossas casas até as grandes organizações, públicas ou privadas, esta tecnologia aparece cada vez em maiores proporções, ocupando mais espaços. Reduçao de custos, melhoria da qualidade, novos produtos e aumento da competitividade sao algumas das motivações para o seu emprego. Eficiência e eficácia organizacional sao as palavras-chave.

Seu objeto principal é a informaçoo, cuja importancia já era apontada mesmo antes da disseminaçao desta tecnologia. Para Katz, ·0 uso sistemático da informação para orientar o

funcionamento organizacional é o sine qua non de uma organização"3. A informaçao é a base

do conhecimento e da açao.

Esta tecnologia guarda, entretanto, inúmeras diferenças com outras formas. Sua característica principal e diferenciadora é justamente a capacidade de armazenar, processar e transmitir informaçao, tomando-se o computador um repositório do conhecimento e porque nao dizer da inteligência da organizaçoo.

É fato constatado empiricamente que a TI exerce grande efeito sobre pessoas e organizações. Vários estudos foram produzidos tratando do impacto da introduçao de tecnologias em geral e da TI em particular, na realizaçao do trabalho.

1 GONÇALVES , José Ernesto Uma. Os i!ll)8Clos das novas tecnologias nas EIJ1l'"8S8S prestaOOras de serviço.

Revista de Administração de Empresas. São Paulo. FGV, 34 (1):63-81, jan.nev. 1994. p.SS.

2 A alirmaçao apresentada consta 00 trabalho de ROSENTHAL., David & MOREIRA, lnaloo . Algumas considerações

sobre a natureza 00 processo de capacitação tecnológica: 'ontes de' inovação". Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, FGV, 26 (4): 145-160, out/dez. 1992. p. 145.

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A TECNOlOGIA DE INFORMAÇÃO E A ADMlNSlRAÇÃO DE RECURSOS HUMb.NOS Cadernos EBAP 90

I

Alberto Wa;zenberg

Houve, entretanto, uma mudança do enfoque das análises. Até 1986, preocupavam-se com os impactos sociais (efeitos macroscópicos). Após essa época, a preocupação deslocou-se para os impactos da introdução da tecnologia no interior das organizaçOes.4

Vale ressaltar aqui que a discussão acerca dos impactos da tecnologia sobre o trabalho e sobre o trabalhador não é nova. Desde a Revolução Industrial discute-se a eliminação do emprego, a definição de novos perfis de empregados, a mudança na forma de realização do trabalho e de estruturação de organizações. A substituição do homem pela máquina é antiga. Entretanto, em tempos de primazia da tecnologia de informação, um novo elemento é introduzido na relação homem-máquina: a informação.

Afirmam alguns que a TI estende as capacidades humanas, tanto fisicas quanto mentais. Afeta as estruturas, reduzindo níveis hierárquicos, e altera as características intrínsecas, a natureza do trabalho, entre outros efeitos. Segundo Walton,

-a

tecnologia de informação toma

as interações tecnologia x organização cada vez mais complexas"5.

A tecnologia define o horizonte do nosso mundo material, pois define os limites do poSSível e do imaginável: ela altera suposições sobre a natureza da nossa realidade, o padrão em que vivemos e cria novas altemativasS.

Neste trabalho, trataremos a tecnologia da informação sob um enfoque mais específico: sua interação com os seres (ou recursos) humanos da organização. Abordando tal aspecto, procurar-se-á definir o papel da Administração de Recursos Humanos em um contexto organizacional de utilização, intensiva ou não, desta tecnologia e de mudança organizacional por ela provocada.

Nossa premissa básica é a de que somente conhecendo em profundidade os efeitos ou impactos potenciais desta tecnologia sobre a realização do trabalho, poder -se-á utilizá-Ia em uma organização de uma forma que não privilegie apenas os aspectos econômico-financeiros (lucro, produtividade, etc.), mas sim onde o trabalhador apareça como um ser e não um mero

recurso humano, exercendo sua vontade, seu poder de escolha.

Vale aqui citar Wahrlich: -organizar significa construir a dupla estrutura material e humana do

empreedimento"1. Baseado em pesquisas realizadas no Brasil e no exterior, serão

apresentados os principais efeitos da tecnologia em geral e da tecnologia de informação em particular sobre as pessoas e a organização.

4 GONÇALVES, José Ernesto Uma. A tecnologia e a realização do trabalho. Revista de Administração de Empresas .

São Paulo, FGV,33(1):107, jan.lfev. 1993. O autor apresenta vasta bibliografia sobre os estudos realizados a esse respeito. Ainda segundo esse autor (op. cit, p. 109), ·a nova tecnologia não é necessariamente a tecnol~a que se baseia em c:orJ1)IJtadore, nem é aquela COI'1'1lIetamente inédta, mas ser11X"9 é a tecnol~a nova para a erl1lf'9S8 em

questão, mesmo que ela não seja nova para o mercado·.

5 WAL TON, Richard. Tecnologia de Informação. São Paulo, Atlas, 1993. p. 25.

6 ZUBOF'F, Shoshana. Autcmatizar / informatizar: as clJas faces da tecnaogia inteligente. Revista de Administração de

Empresas. São Patjo, FGV, 34(6) : 80-9 1. nov./dez. 1994. p. 81. A autora realizou pescJ.isa com aproximadamente 500 trabalhadores e acmnistradores em organizações nos EUA. T raci,Jção do ori~nal, realizada por Angelo Soares.

7 WAHRLICH, Beatriz. Uma análise das teorias de organizações. 5.a ecição. Rio de Janeiro, FGJ, 1986. P 147.

Transcrição de pensamentos de FayoI.

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A lKNOl.OGIA DE INFORIMÇÃO E A ADNIINSTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

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Alberto Waizenberg

2 -

TECNOLOGIA E ORGANIZAÇÃO

A importância do ser humano na organizaçao, seu papel, é retratada por todas as escolas ou teorias de administração. De uma abordagem mais mecanicista, característica da Administraçao Científica, passando pela Escola de Relações Humanas, pela Teoria de Sistemas, etc, o homem (indivíduo ou grupo), aparece como um componente fundamental desta ordenação complexa que é a organização .

Com

a Revolução Industrial (principalmente), introduz-se na organização um novo componente, que vem a transformar radicalmente o ambiente de trabalho. Substituindo o homem, expandindo suas capacidades, a máquina passa a ser usada em larga escala. O trabalho passa a ser dividido com elas.

Para Prestes Motta, -o desenvolvimento das máquinas muda a relação do homem com a

natureza e leva à paulatina desintegração da sociedade esfamental que então caracterizava a

Europa.1IfI

A relação homem versus máquina é uma relação de criador versus criatura, na medida em que o homem a concebe e faz dela o que desejar. No entanto, observa-se que, em um certo sentido, a criatura se volta contra o criador, suplantando-o em muitos casos, e mesmo eliminando o homem do local de trabalho.

Para Pizza, -a máquina é uma criação moderna. Representa uma abdicação do ser humano

em compreender

e

integrar-se à natureza

e

uma opção por dominá-la"9 .

Com o extraordinário avanço da tecnologia de informação, notadamente a partir da década de 80, máquina na organização passa a ser sinônimo de computador. Seja no chão da fábrica (na dita automaçao industrial), seja nos escritórios (automação de escritórios), observa-se uma verdadeira invasão.

Sua utilização vem preencher diversos objetivos independentes, conforme classifica Zuboff:

-aumentar

a

continuidade (integração funcional, automação intensificada, resposta rápida ),

o

controle (precisão, acuidade, previsibilidade, consistência, certeza)

e

compreensibilidade (visibilidade, análise, síntese) das funções produtivas. -10

Destes aspectos, o da compreensibilidade merece destaque especial. Para que possa ser automatizado, um processo deve ser conhecido em seus menores detalhes e da forma mais precisa possível, de maneira a que possa ser traduzido para a linguagem do computador,

a PRESTES MOTIA, Fernando C. Teoria das Organizações Evolução e Critica. São Pa~o, Pioneira Edtora. 1986.

p.3.

9 PIZZA Jr. Wilson. MácJ.inas e Mecanismos. Revista de Adninistração Pública. Rio de Janeiro, FGV, 19 (2):98-117,

éD.fjun. 1985.p.115. .

10 ZUBOF , Soshana. Automatizarllnfonnatizar: as ciIas faces da tecndogia inteligente. Revista de Administração de

Empresas. São Paulo, FGV, 34(6):80-91, nov.dez. 1994. p.82.

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Cadernos EBAP 90

A TECNOlOGIA DE INFORMAÇÃO E A ADJWNSlRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS

Alberlo Wa;zenberg

rígida e inflexível, que não permite erros. Este trabalho, por si s6, aumenta a compreensão sobre as tarefas envolvidas, cujo conhecimento específico, não raro, está em poder apenas daqueles que as desempenham.

A velocidade com que progride esta tecnologia é tal que vem mesmo a superar a capacidade que tem o homem de entender seus efeitos, não em um sentido meramente operacional, técnico/mecanicista, mas em um contexto mais amplo.

Esta compreensão é necessária tanto por parte daqueles com poder de decisão, que definem os objetivos e metas a alcançar com sua utilização (tipicamente a alta direção), como aqueles responsáveis pela sua operacionalização, nos níveis hierarquicamente inferiores.

Contudo, tal questão é muitas vezes relegada a segundo plano. Segundo Walton, ·os

planejadores reconhecem mais a interdependência entre a tecnologia de informação e a

organização do que agem

a

respeito. Eles entendem que

a

tecnologia tem efeitos secundários na organização, mas fazem pouco ou nenhum esforço para prever ou administrá-los"11. O

mesmo autor afirma ainda que ·0 sucesso é função da integração dos aspectos técnicos dos

sistemas de tecnologia de informação, com os aspectos sociais das organizações. Isso requer

uma adaptação mútua

e

contínua·12.

Kraemer segue a mesma linha afirmando que:

-a tecnologia de infonnação é adaptada pelas organizações para se adequar à

cultura, às práticas e às metas de seus membros, assim como a computação afeta as organizações ao provocar mudanças fundamentais nas suas metas, suas estruturas e

seu comportamento. A tecnologia é introduzida nas organizações e adaptada aos

seus objetivos. Sua introdução e seu uso mudam as organizaçoes, afetando o esforço futuro para adaptar e usar a tecnologia, num ciclo sem fim de inovação e

mudança, que é marcado pelos efeitos de mútua interação"13.

Conhecer ao máximo os impactos desta tecnologia no trabalho é certamente condição fundamental para o seu uso bem sucedido. Vale aqui destacar que este sucesso nem sempre

é alcançado. De fato, encontramos, com surpreendente freqüência, relatos de insatisfação das organizações, que aparentemente não conseguem aproveitar o enorme potencial desta tecnologia .

A questão merece uma abordagem mais ampla e profunda. Sobre isto afirma Dina:

-a

infonnática é

a

técnica propulsora do

processo

de transfonnação tecnológica

e

cultural que hoje muda, e continuará mudando a realidade subjetiva e social, mas ela

é apenas a parte emersa do iceberg. Isso se deve ao fato de que, enquanto o uso de

palavras como basic, software e hardware, é apresentado como meta a ser alcançada

na corrida à alfabetizacão, as características e os efeitos da introdução das novas 11 WALTON, op. cit, p. 10.

12 id., ibid, p. 13. .

13 KRAEMER, K. L. Managing Information Svstems. Hancl::look ct NJlic Mninistration, , USA, 1989, p. 6, APUD

Albertin, Ws Alberto. Actniristração de informática e a organização. Revista de Administração de Empresas. São

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CademosEBAP90

A TECNOLOGIA DE INFORN\AÇÃO E A ADMlf\lSlRAÇÃO DE RECURSOS HUtMNOS

Alberto Wa;zenberg

tecnologias parecem estar cada vez mais reservadas

ao

conhecimento de poucos. O

processo em ato requer uma visão global, unitária, uma observação que,

ao

contrário

do que vem ocorrendo, seja fruto de diversas abordagens disciplinares e científicas"14.

Neste ponto, cabe a seguinte questão: onde está o elo da Administraçoo de Recursos Humanos (ARH) com a Tecnologia de Informação (TI)? Ou, de outra forma, como a ARH pode contribuir para uma melhor utilização da TI pela organização?

Para que possamos responder estas e outras questões, apresentaremos resultados de pesquisas relativas aos impactos da tecnologia nas organizações. Em uma destas pesquisas, José Ernesto Lima Gonçalves identificou preocupações comuns nos diversos textos produzidos sobre o assunto. Dentre estas podemos assinalar15:

• Compreensão das mudanças sociais, econõmicas e políticas e sua influência na divisão internacional do trabalho.

• Discussão sobre os efeitos dessa introdução de tecnologia para os trabalhadores, ora vista ·como geradora de oportunidades de realização de funções que requerem maior

capacidade intelectual, ora como geradora de desemprego.

• Análise das novas qualificações e habilidades requeridas pela introdução de tecnologia; • Discussão acerca da atuação dos sindicatos frente à nova realidade.

Ora, já vimos que todos estes pontos são tratados pela ARH. Mais do que isso, o profissional de ARH é considerado um Wagente de mudanças· na organização.

Walton reforça este enfoque quando afirma que:

-virtualmente, cada pessoa da organização é ou parte integral de um sistema de

tecnologia de informação, ou afetada por ele ou influencia os aspectos técnicos do

sistema. O desenho dos cargos,

a

necessidade de treinamento, estrutura

organizacional e padrões de tomada de decisão estão entre os mais óbvios elementos

que interagem com a tecnologia de informação. Porém, é igualmente importante

compreender o relacionamento entre os aspectos de tecnologia de informação ( tais

como

o

tipo de trabalho que é automatizado

e

as informações geradas)

e

os sistemas

de incentivo da organização, os sistemas de avaliação e os estilos de liderança"16 .

Para alguns autores, o gerente de Recursos Humanos é o responsável pelo gerenciamento da mudança, ·sendo a chave para combater reações negativas, devendo ter uma atuação forte na

implantação de novas tecnologias na realização do trabalho, de forma

a

tomá-la mais

14 DlNA. Angelo. A fábrica automática e a organização do trabalho. Petrópolis, VOlBS, 1987. p. 7 .PescJ.ãsa arrpa

realizada na Itália por sindcatos e gl\4lOS de professores universitários.

15 LIMA GONÇALVES, José Ernesto. A tecnologia e a realização do mmailho. Revista de Administração de Empresas.

São Paulo, FGV, 33(1):106-121,jan.fev. 1993. pp 107-108.

16 WAL TON, op.cit, p.24.

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A lECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E A ADNIINSlRAÇÃO DE RECURSOS cadernos EBAP 90 HlJMI\NOS

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confortável para os trabalhadores, envolvendo sua participação e a do sindicato, e definindo e

divulgando

as

qualificações necessárias para

as

novas tarefas..,7.

No decorrer deste trabalho, procuraremos esclarecer esta questão.

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A 1KNOl0GlA DE INFORMAÇÃO E A ADMI ... S1RAÇÃO DE RECURSOS HUtMNOS Cadernos EBAP 90

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Alberto Wa;zenberg

3 -

PRINCIPAIS IMPACTOS DA TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO

A tecnologia afeta a organizaçAo em diversos aspectos. Tarefas sao alteradas, simplificadas, aglutinadas, ou mesmo desaparecem, grupos de trabalho podem ser constituídos; o próprio local de trabalho pode ser alterado; estruturas podem mudar, provocando medo e resistência. A tecnologia influencia a estratégia da organizaçao, sua competitividade e seu desempenho. Segundo Lima Gonçalves, os impactos das novas tecnologias sobre o trabalho envolvem mudanças nas seguintes variáveis18:

• conteúdo e natureza das tarefas; • ·skill requirements·;

• pressões e ritmo do trabalho; • interaçao entre operários; • quantidade de operários;

• localizaçAo e distribuição dos operários; • . horário e duração das jornadas.

o

mesmo autor classifica os impactos da introduçao de novas tecnologias em três grupos : ·os

que interferem no trabalho

e

na forma de realizá-lo,

os

que interferem

nos processos fisicos

das

organizações

e

aqueles que interferem

nos aspectos

psicológicos

das pessoas

envolvidas·19•

Apresentamos ,a seguir, quadro demonstrativo elaborado pelo autor demonstrando o impacto da tecnologia sobre as organizações, considerando diversos focos de análise. Os estudos nao se restringiram às pessoas e a como elas individualmente reagem à introduçAo da tecnologia, abrangendo também os grupos, a organização, o ambiente, o mercado e aspectos macroeconômicos20.

18 LIMA GONÇALVES, José Ernesto. A tecnologia e a realização do tJ3lalho. op. cit, p. 109.

19 LIMA GONÇALVES, José Ernesto. O irf1lacto das novas tecnologias nas erJ1X8S8S prestadoras de serviços. op. cit , p.

81.

20 LIMA GONÇALVES, José Ernesto. A tecrdogia e a organização do tntlaIho. op. cit, p. 107.

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Cadernos EBAP 90

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A TICNOlOGlA DE INFORMAÇÃO E A ADMlt-.lSTRAÇÃO DE REO.JRSOS HUMANOS

Alberto Wa;zenberg

PRINCIPAIS IMIPACTOS DA TECNOLOGIASOBRE

AS ORGANIZAÇÕES

FOCO IMPACTO

Indivíduo temores Formaçao/enquadramento resistências desempenho

alustamento Saúde ocupacional Grupo Processos grupais Organizaçao

Liderança Resistências nível de relaçao Desempenho Empresa Organizaçao e estrutura Desempenho

Imagem qualidade e adequaçao Competitividade produto

Administração investimentos

Macroeconomia Produtividade produçao de bens e serviços Merc. Consumo produtos disponíveis

Merc. Trabalho nível de emprego nível de remuneraçao Ambiente Contaminação ruído

Exj)loração de recursos

do

No que diz respeito, especificamente aos efeitos da tecnologia de informaçao, encontramos diversas pesquisas que abordam o impacto da automaçao, ou seja, do uso de máquinas e equipamentos, substituindo ou complementando o trabalho humano.

Entender estes impactos nao é, entretanto, uma tarefa simples. De fato, este entendimento é intimamente ligado à compreensão, à visão clara e precisa da(s) tarefa(s) automatizada(s). O processo de inserçao da TI no ambiente de trabalho é, basicamente, um processo de substituição do trabalho realizado pelo corpo humano pelo trabalho realizado pela máquina. Em um primeiro momento, esta substituiçao se deu no plano físico, como na Revoluçao Industrial. Com a evoluçao da tecnologia, e com o maior destaque para a importância da informação, aparece a TI e com ela a substituiçao também da atividade mental do trabalhador. Sobre isto, afirma Lima Gonçalves que ·0 aparecimento do computador foi um elemento

disparador de um processo de exacerbação entre as formas tradicionais de realizar o trabalho

e as novas formas"21.

Adicionando um elemento de complexidade, encontramos o que Walton denomina a dupla potencialidade da tecnologia de informaça022, ou seja, a habilidade da tecnologia em produzir um conjunto de efeitos organizacionais ou seus opostos: padronizar atividades ou ampliar o

21 LIMA GONÇALVES, José Ernesto. A tecnoIoga e a realização do trabalho. 01'. cit, p. 115.

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A TECNOlOGIA DE INFORfMÇÃO E A ADMlt'-ISlRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS Cadernos E8AP 90

I

Alberto Wa;zenberg

poder de decisão, reforçar o controle hierárquico ou facilitar a autogestão, qualificar ou desqualificar o trabalho, isolar ou integrar pessoas. Esta potencialidade é, provavelmente, a causa principal das controvérsias encontradas no estudo dos efeitos desta tecnologia no trabalho .

Zuboff aponta ainda outra característica, quando atribui a esta tecnologia o papel de -informatizar" rinformate- no originaQ, ou seja, de produzir, criar informação sobre atividades e processos, modificando-os. Além disso, encontra-se, ainda segundo a autora, a função de -automatizar- rautomate-), substituindo o trabalho fisico humano, seu esforço e qualificação, por máquinas, com objetivos de reduzir custos, aumentar o controle e a continuidade23.

Dina24 apresenta uma interessante definição para automação:

-podemos tentar definir a automação como a elaboração, em tempo real da maior parte das infonnaçOes relativas ao processo produtivo. Elaboração automática significa que, se antes a infonnação passava pelo cérebro e pelas operações manuais do operador da máquina, agora tenta-se fazer tudo isso automaticamente, evitando a intervenção do homem. E fazê-lo em tempo real, ou seja, trocando sinais com a

máquina da maneira mais adequada a ela durante o processo prociJtivo-.

A prática tem demonstrado a complexidade da tecnologia e exibido os efeitos que apresentamos anteriormente. De fato, Zuboff em sua pesquisa obteve de um trabalhador o seguinte depoimento: -before computer,

we

didnY have to think, just react-zs.

Em sua pesquisa Dina concluiu que o robô representa, em muitos casos, mais riscos para o trabalho humano em termos de acidentes, visto que se move mais rápido e de maneira imprevisível. Embora os antigos trabalhos cansativos e perigosos venham diminuindo, rapidamente novas formas de stress e risco têm surgid026.

No que diz respeito especificamente à automação industrial, uma pesquisa realizada por Durand em uma fábrica de caixas de câmbio da indústria automobilística francesa chegou a conclusões semelhantes27.

A citada fábrica introduziu uma nova linha de produção de caixas, o modelo

avx.

Tal linha incorporou o conceito de Linha de Produção Integrada (LPI), cujo princípio básico é o trabalho contínuo, com um mínimo de interrupções. O objetivo principal de sua adoção foi o maior uso produtivo das instalações, de forma a maximizar os lucros.

23 Em seu trabalho, Zlt>off ressalta que as ilTlllicações da face ·informate· são sigrificativas, .errix>ra ainda não bem

~das·. E afirma ainda que: ·a extensão da ênfase dada a cada lJ118 das capacidades da TI deser11>enhará lJTI

~ central na determinação das consecjjências organizacionais da mudança tecnológica·. In: Automatizarlinformatizar : as duas faces da tecnologia inteligente. op. cito , p. 83.

24 DINA, op.cIt,p.13.

25 ZUBOFF , Shoshana. In the age of the smart machlne. USA, Basic Books Inc.. 1988. pp.73-4. Por se tratar de

depoimento optanos por não efetuar a trackJção.

26 DINA, op. cit. , p. 24. .

xr DURAND, Jean Pierre. A tecnoI~a de informações e o lega<b 00 taylorismo na França. Revista de Adninlstraçio de Empresas. São Paulo, FGV, 34(1):B2-99,janJfev. 1994. PP:B2-99.

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Cadernos EBAP 90

A TKNOl.OGIA DE INFORIMÇÃO E A ADMlNSTRAÇÃO DE REOJRSOS HUMANOS

Albetto Wa;zenberg

A intervenção humana, neste contexto, se dá na programação da utilização e no enfrentamento das eventuais panes. O tempo de trabalho humano não é mais utilizado como parametro gerencial. A máquina passa a governar ( ou mediar) o trabalho.

Como resultado da pesquisa, foi encontrada uma maior abrangência das tarefas dos operários (manutenção modesta e supervisão ampliada), com um exercício maior de iniciativa e de escolha. Por outro lado, foi detectada uma apatia e uma resistência dos trabalhadores na medida em que houve falta de reconhecimento de suas individualidades, de sua dignidade e de sua identidade como produtor.

a

governo do trabalho pela máquina retira dos trabalhadores o seu tempo e, mais do que isso, objetifica antigas habilidades, impedindo o acesso dos operadores às informações que dominavam anteriormente. A LPI baseada na TI nega a necessidade de envolvimento humano, imprescindível à sua própria adoção.

A introdução da TI na fábrica estudada foi feita sem a observancia de padrões mínimos de planejamento e avaliação. Não houve o treinamento técnico necessário, ficando patente que, tal como o taylorismo, a TI também objetifica o trabalhador. Uma das características básicas das organizações tayloristas, a separação entre o trabalho manual e o intelectual é mantida. Com a TI são também objetificados o conhecimento, as habilidades e as informações em beneficio da administração.

Vale destacar aqui um paralelo com outra pesquisa, realizada no Brasil, onde se constatou insatisfação dos trabalhadores com o nível, duração e qualificação do treinamento a que se submeteram2B .

Pontos importantes foram levantados por Durand na análise da organização em questão após o uso da TI. Dentre eles se destacam : apropriação do ·savoir faire·, aumento da fragilidade do processo de produção, aumento da tensão psicológica do trabalhador, aumentando o isolamento; desqualificação, já que as tarefas passaram a ser feitas automaticamente. O que fica claro é uma imensa fragilidade da política de planejamento de Recursos Humanos na organização.

A resistência do trabalhador, segundo a pesquisa, está ligada, essencialmente, à persistência da divisão do trabalho e à aplicação dos princípios tayloristas de organização do trabalho, como por exemplo a separação entre concepção e execução do trabalho, a procura por apreender, acumular e controlar a competência dos trabalhadores e a apropriação do ·savoir-faire· e sua objetificação em máquinas computadorizadas.

De fato, o foco principal da implantação é o negócio. O homem, nestes casos, não é visto como um parceiro, mas sim como mais um recurso a ser otimizado .

Dina em sua pesquisa afirma que: -sem dúvida, na maioria das vezes, a instalação de robôs

representa uma melhoria sensível do ponto de vista da segurança

e

do ambiente.

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28 LIMA GONÇALVES. José Ernesto. o il1ll8do das novas tecnologias nas erll>f9S8S prestadoras de serviços. Revistas

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porém não se verifica comumente é a melhoria da qualificação dos empregos

remanescentes "29.

Esta questao da qualificação está entre os aspectos mais polêmicos. De fato, numa abordagem mais superficial a introdução da máquina só viria a facilitar o trabalho humano, tanto pela liberação das tarefas mais penosas como pelo enriquecimento do trabalho intelectual.

No entanto, este enriquecimento não se verifica totalmente na realidade. No ambiente computadorizado, altera-se a lógica do trabalho. Passa a existir a necessidade de inferir, de interpretar dados. Do concreto passa-se ao abstrato, como bem resume Zuboff: -trata-se de

um meio simbólico onde o significado não é dado, mas deve ser construido-3D, exigindo do

operador o que a autora denomina qualificação intelectiva, e uma maior motivação do mesmo. Corroborando esta afirmação, a autora, em sua pesquisa, colheu o depoimento transcrito a seguir, de parte de um trabalhador:

-with the evolution of computer technology, you centralize control and move away from

the actual physical processo /f you donY have an understanding of what is happening

and how ali the pieces interact, it is more difflcult. Vou need

a

new leaming, capability,

because when you operate with the computer, you canY see what is happening. There

is

a

difference in the mental and conceptual capability you need-you have to do things

in your mind!"31.

29 DlNA, op. cit, p. 35.

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4 - Os

SINDICATOS

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TECNOLOGIA No BRASIL

Um aspecto, que merece destaque na relaçao ARH e tecnologia, diz respeito às negociações trabalhistas em face das novas tecnologias. Sobre isto foram desenvolvidas pesquisas no Brasil, uma de caráter amplo (realizada por Pelian0J2) e outra mais especificamente no Estado de sao Paulo (realizada por Neder33), junto a empresas do setor automobilístico. Neste setor, nota-se aqui, como no resto do mundo, uma utilização intensiva da automaçao industrial, com o emprego de máquinas de controle numérico e robôs no chão de fábrica e de tecnologias avançadas de concepçao e desenho (CAD I CAM). Na pesquisa foram constatados diversos aspectos que destacaremos a seguir.

Pelo lado do patronato, verificou-se uma resistência ao debate e à negociaçao de cláusulas relacionadas à inovaçao tecnológica. Segundo Peliano, -a grande maioria dos empresários argumenta que as inovaçOes tecnológicas sao decisões que competem exclusivamente às empresas, nao cabendo de forma alguma ser compartilhadas, muito menos com os

trabalhadoresJ4.

-Predomina entao a vlsao puramente econômica, do lucro, da produtividade, da competitividade, relegando a segundo plano a questao humana, social. Neste ponto, vale destacar que pesquisas já citadas neste trabalho ( realizadas na Itália e na França) chegaram a conclusões semelhantes.

Do lado dos trabalhadores pode-se constatar alguma mobilização e conscientizaçao, a partir do acompanhamento e observaçoo das mudanças e transformações ocorridas, da busca de maior esclarecimento sobre estas questões e da mobilizaçao sindical, além de uma disposiçao para a negociaçoo. A vivência direta com o problema facilita sua abordagem pelo trabalhador. Existem, entretanto, dificuldades para os trabalhadores e os sindicatos agirem, ou reagirem, conforme afirma Peliano:

• as condições da atuação sindical tendem a se complicar um pouco mais, face às

formas de manifestaçSo das inovações tecnológicas. Estas nSo se prendem apenas à

materializaçSo externa da maquinaria, ou à concretude objetiva dos equipamentos,

mas igualmente dizem respeito à modificação da organização de produção, às

alterações dos postos de trabalho e à adaptaçSo no objeto de trabalho ( o design do

produto ). Manifestações estas dificeis de serem percebidas de imediato e avaliadas,

as quais exigem, em suas identificações, uma familiaridade grande com a concepção

técnica de produção, ou seja, a compreensSo da estratégia empresariar 35.

32 PELlANO, José Carlos. Envesários, trabalhadores e governo : as negociações sobre as novas tecnoIO$jas no Brasil.

Revista de Administração de Empresas. São Paulo, FGV, 29(1):5-22, janlmar. 1989.

33 NEDER, Ricardo T oIado. Novas T ecnoIO$jas e Iv;ão Sindcal em São Pauo. Revista de Administração de

Empresas. São Paulo, FGV,29 (1): 23-33, janlmar. 1989 .

34 PELlANO, op.cit, p. 13. O grifo é nosso

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A pesquisa realizada por Dina na Itália chegou, novamente, a conclusões semelhantes: ·é

impossível separar facilmente os efeitos devidos diretamente ao desenvolvimento tecnológico daqueles, às vezes de cunho oposto e de intensidade até maior, ligados a uma série de

causas adicionais (fenômenos de reestruturação e reorganização, mudanças no produto elou no mercado)"36.

Em sua pesquisa, Neder37 constatou a existência de grupos que distinguem plenamente e

parcialmente os efeitos e fatores que influenciam as decisões das empresas. Entre os efeitos, são destacados: redução do emprego, mudanças na qualificação, mudanças na organização do trabalho, aumento da produtividade e do lucro na empresa, aumento do ritmo de trabalho, redução do coletivo de trabalho, geração de alguma melhoria no ambiente ou processo de trabalho.

o

autor constatou também os seguintes fatores que influenciam na decisão das empresas pela adoção das novas tecnologias: busca de mercados externos, aumento da produtividade e lucratividade, redução do custo de mão-de-obra, redução da massa salarial da empresa, controle do movimento sindical e operário e geração de alguma melhoria no ambiente de trabalho.

Foram determinadas ainda as fontes de informações dos sindicatos com relação às novas tecnologias: convivência com organização da produção na fábrica, militancia sindical (sindicato e empresas), convivência com representantes de base nas fábricas e apoio técnico de órgãos como o DIEESE.

Na mesma pesquisa, verificou-se uma tendência por parte dos sindicalistas e dirigentes de base para o tratamento, ou enfrentamento da questão tecnológica de uma forma defensiva, a partir de ações exclusivamente voltadas para a defesa do emprego, encarando-se apenas o lado negativo da questão.

Uma outra postura, mais ofensiva, foi encontrada, notando-se formas mais avançadas de tratamento, baseadas na organização dos trabalhadores na fábrica e no envolvimento com as mudanças técnicas e organizacionais do processo de trabalho e da gestão de mão-de-obra nas empresas. Um importante fato a destacar é que, mesmo nestas empresas, a organização do trabalhador não logrou obter da alta direção mecanismos de comunicação antecipada sobre a introdução de mudanças tecnológicas.

Neder em seu trabalho.afirma que:

·à medida que uma correta avaliação das novas tecnologias se toma possível e

acessível para os sindicatos, é provável que as posições de resistência e não

incorporação das inovaçOes por parte dos trabalhadores dê lugar

a

formas de

interaçao mais avançadas, onde

a

participação no processo de mudança

36 DINA, cp. dt , p. 6 1.

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organizacional e tecnológica seja uma via de mão dupla ( não negadora do conflito

social) entre empresários

e

trabalhadores"38 .

Neste ponto, é importante tecer alguns comentários sobre a questão do desemprego gerado, certamente de grande importância social, transcendendo mesmo o limite das organizações. Enquanto alguns autores acreditam que a tecnologia precisa ser complementada por operadores mais habilitados e autônomos, liberando o trabalhador para tarefas de maior grau de esforço intelectual, outros acreditam que ocorra o chamado ·de-skilling·, a apropriação do ·savoir-faire· pela máquina e finalmente o desemprego.

Com relação ao número de empregos e, mais especificamente, ao desemprego como resultado da introdução de novas tecnologias nas organizações, diversas posições são assumidas. Parte-se de premissas bastante diferentes, que dão pesos diversos á participação da tecnologia no desemprego. Para exemplificar, citemos algumas concepções:

A crise mundial gerou desemprego conjuntural, sendo a tecnologia um fator de menor peso. A tecnologia pode ser positiva em alguns países, melhorando a qualidade de vida da sociedade. No caso dos países em desenvolvimento, dada a necessidade de manter um grande número de trabalhadores empregados, a introdução da tecnologia pode significar uma redistribuição limitada do trabalho.

O aumento da demanda por novos produtos, gerada pela tecnologia, minimiza os efeitos do desemprego.

O desemprego inicial pode ser compensado por novas ocupações geradas pela introdução da nova tecnologia, que exige uma reorganização do trabalho e das estruturas organizacionais. O tempo liberado pela introdução de tecnologia é apropriado pela empresa, que passa a utilizar menos mão-de-obra para a realização do trabalho, gerando o desemprego. Esse desemprego pode se tomar estrutural na medida em que não haja a reabsorção dessa mão-de-obra liberada, ou que a reabsorção se dê em escala menor que a liberação. Em um certo sentido ocorre uma troca : de empregos por computadores, de substituição do trabalho pelo capital.39

Cada vez mais fortes têm sido os estudos sobre o fim do emprego, fruto da introdução de novas tecnologias que, como vimos, propiciam novas estruturas organizacionais. O conceito de tele-trabalho (as pessoas, principalmente no setor terciário, trabalhando em casa, em seus computadores) está cada vez mais difundido. Isto gera uma mudança radical nas relações de trabalho, nas linhas de subordinação, nas organizações enfim, mas traz, também, uma preocupação no que diz respeito ao isolamento do ser humano, que cada vez mais perde sua identidade de grupo .

38 NEDER, op.cit, p.24

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5 -

CONCLUSÃO

Do exposto até aqui, fica claro que a inserção da tecnologia de informaçao no ambiente de trabalho nao é um processo simples, resumido à instalação de máquinas e implantaçao de sistemas de informaçao associada ao treinamento de operadores na sua utilizaçao. Velhos problemas persistem, novos e inesperados problemas aparecem.

As

inúmeras pesquisas, nos mais diversos países, exibem um vasto e complexo quadro de efeitos e interações da tecnologia com outras variáveis organizacionais e com o indivíduo. A questao merece, portanto, um enfoque adequado, sob pena de nao se atingir sequer os objetivos básicos de utilizaçao da tecnologia. Vale destacar, como já visto, que a tecnologia de informação pode provocar toda a sorte de efeitos, conforme a estratégia (ou porque nao dizer, falta de estratégia) adotada.

Trata-se de conciliar interesses díferentes, ou divergentes, dos participantes do processo (a direçao das empresas, com poder de decisao, e os trabalhadores, responsáveis pela efetiva operaçao).

Para Dina, -a pergunta que se coloca, então, é se e como seria possível uma intervenção e

uma participação dos trabalhadores (desde a fase de projeto) que privilegiasse as exigências

humanas

e

mantivesse

a

autonomia

e a

indispensável capacidade de conflito "40.

Sobre isto, um trabalhador apresenta o seguinte depoimento, transcrito por Zuboff: -se você

não deixa as pessoas desenvolverem-se e tomarem decisões é um desperdício da vida humana - uma perda do potencial humano. Se você não usa seu conhecimento e qualificação

é umdesperdício da vida. Usar as novas tecnologias em todo seu potencial significa usar a

pessoa em seu pleno potencial-41•

Abordando um outro aspecto da questao, Durand (autor da pesquisa na fábrica francesa) afirma que -hoje em dia, o atual nível tecnológico de aplicação da TI, os baixos níveis de

qualificação de pessoal e a organização do trabalho fortemente taylorista conduzem a uma

subutilização das potencialidades dos trabalhadores. E continua: -não será nunca suficiente

repetir que

a

TI é apenas um sistema de tecnologias que não pode produzir uma revolução social. Em outras palavras,

a

TI não pode superar

a

alienação do trabalhadof"42•

A experiência prática, demonstrada nas pesquisas, comprovou alguns dos efeitos da TI apresentados em nosso trabalho. Mais do que isso, tomou evidente a questão da dualidade potencial destes efeitos. Na verdade, seu potencial dual permite que, segundo a vontade da direçao superior da organizaçao, que define objetivos e estratégias, ela seja usada para enfraquecer ou reforçar este ou aquele aspecto. Esta consideração só faz destacar ainda mais o enorme potencial, ou por que não dizer, poder da TI.

40 DINA, op.cit, p.60

41 ZUBOFF. Soshana. Automatizarlinformatizar: as ciJas faces da tecnologia inteligente, O(J. cit,p. 91.

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Em um sistema capitalista, no qual predominam relações ditadas pelo princípio do lucro possível (ou, em outras palavras, máximo), a tecnologia pode ser a alavanca principal na consecução deste objetivo. Assim, o capitalismo não deixará de existir pela introdução da TI. Pelo contrário, somente agregará mais uma característica: será um capitalismo tecnológico. A tecnologia passa a ser, então, mais do que ferramenta, mas um ator (o que não é um exagero, dada a sua característica de -inteligência-, de -acumulação de conhecimento-lo

A informação é elemento de manipulação e instrumento de exercício do poder. Com a introdução da TI, sofistica-se a forma de alienação. O trabalhador deixa de ser sujeito e passa a ser objeto. A relação capital-trabalho passa a ser mediada pela máquina, havendo a apropriação, como já vimos, do -savoir faire- do indivíduo, o -de-skilling- .

Algumas considerações de caráter social surgem então, merecendo especial destaque a questão da apropriação do tempo do trabalhador, ou seja, de a quem pertence o tempo liberado pela automação. Esta questão foge do contexto puro e simples da administração de empresas, pertencendo, na verdade, ao ambiente macrossocial.

Dito isto, qual será o papel da Administração de Recursos Humanos? As respostas mais imediatas a esta questão dizem respeito às áreas de treinamento, de cargos e salários, de recrutamento e seleção, de planejamento de pessoal. No entanto, imaginamos não serem somente estas as áreas de sua participação. Pelo contrário. Faz-se mister que a ARH, pelo papel que lhe é reservado, faça a mediação, em um certo sentido,da relação capital-trabalho, sendo -porta-voz das inspirações dos empregados-43. Para tanto, o conhecimento e a consciência do potencial da TI são essenciais.

Vale a pena citar Durand quando afirma que -o trabalho pode tomar-se mais desafiador e interessante, desde que a organização do trabalho e a forma da empresa o permitam.44

Para Zuboff, ·uma estratégia informatizante requer uma visão abrangente que avalie as

possibilidades únicas da tecnologia inteligente e que reconheça a necessidade de utilizar a

organização para liberar essas oportunidades. Significa forjar uma nova lógica da utilização da

tecnologia baseada nessa visão ( ... ). A organização informatizada se move numa outra

direção. Ela se baseia nas capacidades humanas de ensinar e aprender, em criticas e

idéias·45•

Para finalizar, cremos que a -civilização tecnológica- enfrenta uma contradição . Paradoxalmente, o perigo surge e cresce com o seu avanço. Pensa ter alcançado e dominado o pleno conhecimento, mas o que ocorre é que está cada vez mais perto de ser dominada

por

seus próprios processos. As ações do homem deixam de ser autOnomas, para se transformarem em objeto do sistema.

43 ALMEIDA et aii. Por ~ acmnistrar estrategicanente Recursos Human0s9 Revista de Administração de Empresas.

São Paulo. FGV. 33(2):12-24, mar./abr. 1993. p. 17.

44 DURAND, op.cIt., p.99

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