1 AgradeçooapoiodadopeloCNPq,sobaformadebolsadeprodutivida-deempesquisa.Agradeço,também,asleiturascuidadosasdasversões iniciaisdesteartigofeitasporCarlaFariaLeitão,DanielaRomão-Dias eRosaneAbreu.
2 Endereço:DepartamentodePsicologia,RuaMarquêsdeSãoVicente, 225,Gávea,RiodeJaneiro,RJ,Brasil22543-900.
E-mail:anicol@psi.puc-rio.br
OCotidianonosMúltiplosEspaçosContemporâneos
1AnaMariaNicolaci-da-Costa2
PontifíciaUniversidadeCatólicadoRiodeJaneiro
RESUMO–Umadascaracterísticasmaismarcantesdoperíodomodernofoiadaconcepçãodeumtempolongo,noqual erampossíveisaconquistadoespaçoeoplanejamentodofuturo.Jánacontemporaneidade,adiacroniamodernadálugaraum eternopresente.Nestepresente,espaçossincrônicossemultiplicam.Asnovastecnologiasdainformaçãoetelecomunicação, principalmenteaInterneteatelefoniacelular,introduzemalteraçõesnosespaçosfísicosegeramespaçosalternativosaestes. Nesteartigoérealizadaumarevisão,forçosamenteincompleta,daextensaliteraturatransdisciplinarsobreessesnovosespaços contemporâneoseseusefeitossobreoshomens,mulheresecriançasquenelesvivem.
Palavras-chave:internet;celulares;alteraçõesnoespaçofísico;espaçosalternativos.
DailyLifeintheMultipleContemporarySpaces
ABSTRACT–Oneofthemostdistinctivecharacteristicsofthemodernerawastheconceptofanenduringlengthoftime, duringwhichitwaspossibletoconquerspaceandmakelong-termplans.Inthepresentera,thelongtimeofmodernity gavewaytoanever-lastingpresent.Insuchapresent,co-existingspacesmultiply.Newinformationandtelecommunication technologies,mainlytheInternetandmobiletelephony,introducealterationsinphysicalspacesandgeneratenewalternative spaces.Thispaperpresentsaninevitablyincompletereviewoftheextensivetransdisciplinaryliteratureonthesecontemporary spacesandtheireffectsonthemen,womenandchildrenwhoinhabitthem.
Keywords:internet;cellphones;alterationsinphysicalspaces;alternativespaces.
possível atingir interlocutores distantes instantaneamente. Assimsendo,tempoeespaçoromperamaíntimaassociação quetradicionalmentehaviamtido.
Bauman (2000/2001) e muitos outros autores (como Harvey, 1989/1999; Sennett, 1998/1999) registram essa mudança,queestánaorigemdoperíodomoderno.Bauman, emparticular,ofazcommuitaacuidade.Diz:“A moder-nidadecomeçaquandooespaçoeotemposãoseparados dapráticadavidaeentresi,eassimpodemserteorizados comocategoriasdistintasemutuamenteindependentesda estratégia e da ação...” (Bauman, 2000/2001, pp. 15-16). Noperíodomoderno,Baumancontinua,talseparaçãoteve comoresultadoopredomíniodotemposobreoespaço,pois “...amodernidadeé,talvezmaisquequalqueroutracoisa,a ‘históriadotempo’”(Bauman,2000/2001,pp.128-129).
EmmeadosdasegundametadedoséculoXX,ascon-cepções de tempo e espaço sofrem uma nova mudança. Estaéunanimementeregistradapelosautoresdachamada correntepós-modernista,poisé,segundoeles,umdosele-mentosquemarcamofimdoperíodomoderno(Bauman, 1997/1998, 2000/2001, 2001/2003; Sennett, 1998/1999; Harvey, 1989/1999, Jameson, 19843, 1991/1997; Virilio, 1984/1999;etc.).Nessaépoca,oavançodastecnologiasde telecomunicação(caracterizadoprimordialmentepelainte-graçãodediferentespontosdomundoviasatélite)permite queocapitalismoatinjaumnovoestágio–odaintegração multinacional.Nestenovoestágio,porsuavez,mesmoan-tesdo“boom”dassofisticadastecnologiasdainformaçãoe
Tempoeespaçosãoduascategoriasbásicasdaexperiên-ciahumana.Asconcepçõesdetempoeespaço,noentanto, nãosãoimutáveis.Estãosempreatreladasadeterminadas sociedades e/ou a determinados períodos da vida social, nos quais não necessariamente têm pesos iguais (Harvey, 1989/1999).
Aolongodosséculos,tempoeespaçoestiveramintima-menteassociados.Espaçoeraaquiloqueoserhumanopodia atravessarcommaioroumenorrapidezutilizandorecursos básicos,comoasprópriaspernasouaspernasdeumanimal, durante um determinado período de tempo. Tempo, por suavez,eraaquilodequesenecessitavaparapercorrerum determinado espaço fazendo uso desses mesmos recursos (Bauman,2000/2001).
NoséculoXIXenoiníciodoséculoXX,oprocessode industrialização inaugurado pela revolução industrial e o desenvolvimentodenovastecnologias(comootelégrafo,o telefoneeoautomóvel)levaramaumaaceleraçãodotempo atéentãoinédita.Aindustrializaçãoacelerouvertiginosa-menteoritmodaproduçãooutroraartesanal.Oautomóvele outrosmeiosdetransportecadavezmaisrápidosreduziramo temponecessárioparaqualquerdeslocamentoespacialantes limitadoàcapacidadefísicadesereshumanosouanimais. Jáumamensagemtelegrafadaouumtelefonematornaram
telecomunicaçãoocorridonadécadade1990,aaceleração limite do tempo, já atingida de forma restrita no período moderno,sealastra.
Àsemelhançadoqueacontecenaesquizofrenia–patolo-giaàqualalgunsrecorremcomomodeloparaaconfiguração subjetivadoshomensemulheresdenossosdias(Jameson, 1991/1997)–,passamosaviverboaspartesdenossasvidas emumeternopresentenoqualtemosexperiênciasmúltiplas efragmentadas4.Nesseeternopresente,asnoçõesdeespaço semultiplicam,coexistem5,eganhamdestaque.
ÉexatamenteissooqueJamesonexplicitanaseguinte citação:“(...)pensoqueépossívelargumentar(...)quea nossavidacotidiana,nossasexperiênciaspsíquicas,nossas linguagensculturaissãohojedominadaspelascategoriasde espaçoenãopelasdetempo,comooeramnoperíodoante-riordoaltomodernismo”(Jameson,1991/1997,p.43).
Como conseqüência, grande importância passa a ser atribuída às concepções de espaço nos debates sobre as características da organização social de nossos dias. E as concepções contemporâneas de espaço não poderiam ser maisvariadasedivergentes.Dadoquetambémsãofreqüen-temente inéditas, a dificuldade de estudá-las é tão grande que alguns autores chegam a se preocupar com a nossa –humana–incapacidadedepensarosnovosespaçospelos quaistransitamosenosquaisvivemos.Esteé,porexemplo, ocasodeJamesoneAugé.
Falandoarespeitodoquechamade“hiperespaço”pós- moderno,Jamesonrefere-seà“(...)incapacidadedenossas mentes(...) demapearaenormeredeglobalemultinacio-naldecomunicaçãodescentradaemquenosencontramos presoscomosujeitosindividuais”(Jameson,1991/1997,pp. 70-71).JáAugé(1992/2001)afirmaque“(...)omundoda supermodernidadenãotemasdimensõesexatasdaqueleno qualpensamosviver,poisvivemosnummundoqueainda nãoaprendemosaolhar.‘Temosquereaprenderapensaro espaço’”(Augé,1992/2001,p.37,minhaênfase).
Oquesesegueéumexercíciodesseprocessodereapren-dizagem.Paratanto,seráfeitaumarevisão,forçosamente incompleta,daamplíssimaetransdisciplinarliteraturasobre osespaçoscontemporâneos.
Estarevisãoserádivididaemcincopartescronologica-menteorganizadas(embora,emalgunscasoshajaalgumas superposições de datas). A primeira discutirá, a partir do trabalhodeDeleuzeeGuattari(1980/1997),ousodedife-rentestipos:espaçocomometáforaparadiferentestiposde organizaçãoedinâmicasociais.Asegundaabordarátraba-lhos“pós-modernistas”anterioresao“boom”dadifusãodas redesdigitaisdeinformaçãoetelecomunicação–comoos deJameson(1984,1991/1997),Virilio(1984/1999),Harvey (1989/1999)eAugé(1992/2001)–queanalisamasmudanças ocorridasnoespaçofísicoaolongodasúltimasdécadasdo séculoXX.Jáaterceirapartesededicaráexclusivamenteaos trabalhosdeBauman(1997/1998,2000/2001,2001/2003),
outro autor da corrente pós-modernista que, por escrever após a vertiginosa difusão das tecnologias de informação etelecomunicaçãonadécadade1990,passaaregistrara existênciadeespaçosvirtuais(emboraaindadêmaisênfase àsalteraçõesnoespaçofísico).Naquartaparteserãodis-cutidasasconcepçõesdeespaçosalternativosgeradaspelo usodaInternet,tomandoporbaseostrabalhosdeCastells (1996/2000), Lévy (1990/1993), Wertheim (1999/2001) e váriosoutrosautores.Porfim,aquintaparteabordarátanto asalteraçõesnoespaçofísicoquantoosespaçosalternativos geradospelousodatelefoniacelularapartirdeinúmeros trabalhosrecentes.
Oespaçocomometáforaparadiferentestiposde organizaçãoedinâmicasociais
OtrabalhoprecursordeDeleuzeeGuattari(1980/1997) ocupa uma posição de destaque nas discussões sobre as mudançassociaisquederamorigemàcontemporaneidade. Porissomesmo,aalgumasdaspercepçõeseanálisesnele contidasserádedicadatodaestaprimeirapartedopresente artigo.Passemosàsuaexposição.Aindaem1980–e,por-tanto,muitoantesdo“boom”dastecnologiasdainformação etelecomunicação–,DeleuzeeGuattarijádetectammuitas característicasdacontemporaneidadequesomentemaistarde (principalmentenadécadade1990)setornamvisíveispara outrosautores.NoquintovolumedeMilplatôs:capitalimoe esquizofrenia (1980/1997),porexemplo,aoanalisarasmúl-tiplasfacetasdonovocapitalismomultinacionalintegrado edoprocessodetransformaçãodassociedadesmodernas (então em curso), esses autores identificam a importância dosarranjosespaciaiscomoexpressãodastensõesentreos diferentestiposdeorganizaçãosocialenvolvidosnessatrans-formação.Emconseqüência,usamduasmetáforasespaciais parapermitirsuavisualização.Afirmamqueasprincipais característicasdaorganizaçãosocialcontemporâneapodem serencapsuladasnametáforade“espaçoliso”enquantoque asdamodernidadepodemsermaisadequadamentecobertas pelametáforade“espaçoestriado”.
ParaDeleuzeeGuattari,oespaço“estriado”seassemelha aumtecidocomsuastramasdefiosverticaisehorizontais – alguns fixos e outros móveis – que se entrecruzam. É, portanto,emblemáticodaorganizaçãoedofuncionamento sociaisdosistemacapitalistadaeramoderna,marcadosque estes eram por certezas, barreiras, fronteiras e divisórias nítidas(entreespaços,áreas,saberes,etc.),bemcomopor processosseqüenciaisehierárquicosrelativamenteclarose firmementeestabelecidos.Jáoespaço“liso”,aindadeacordo comessesdoisautores,seassemelhaaofeltro,noqualnão hádistinçãoentrefiosnemtampoucoentrecruzamentos;há apenasumemaranhadodefibras.Esteespaçonãoconhece certezas,demarcações,limites,fronteiras,centros,direções. “ Éinfinitodedireito,abertoouilimitadoemtodasasdire-ções,nãotemdireitonemavesso,nemcentro;nãoestabelece fixosemóveis,masantesdistribuiumavariaçãocontínua” (Deleuze&Guattari,1980/1997,p.181).É,portanto,nômade eperfeitocomometáforaparaoperíodopós-modernoou contemporâneo.
Essesdoistiposdeespaçonãoseexcluemmutuamente, apenasháopredomíniodeumsobreooutroemdeterminados 4 Oquenãoestásujeitoaoregimedatemporalidadeinstantânea,passa
aserregidopelocurtoprazo.Sennett(1998/1999)analisaainfluência destenotrabalho,navidaemfamília,nosprojetosdevida,etc. 5 Jáem1969,podíamosestarnanossasaladeestare,aomesmotempo,
períodos.DopontodevistadeDeleuzeeGuattari,aorgani-zaçãosocialcontemporâneaéoresultadodeumprocessode alisamentopeloqualpassouasociedademodernaemfunção docapitalismomultinacionalintegrado,queeliminouboa parte(masnãotodas)assuasestrias.DeleuzeeGuattaritêm aindaoméritodeidentificaralgunsaspectosdistintivosdesse processodealisamento,queaindaeramembriônicosquando escreviam:adiluiçãodefronteirasebarreiras,aausênciade demarcaçõessociais,acrescentemobilidadedetudoede todos, a desterritorialização, o nomadismo, a fluidez, etc. Emboraessesaspectossejamapenasapontadosnasanálises abstratasporelesefetuadas,exercemmuitainfluênciasobre ostrabalhosdeoutrosanalistasdasociedadecontemporânea que os sucedem, como é o caso dos pós-modernistas que serãodiscutidosaseguir.
Alteraçõesdoespaçofísiconaliteraturapós-modernaqueantecedearevoluçãodastecnologiasda informaçãoetelecomunicação
Poucos anos depois de Deleuze e Guattari tornarem públicasuametáforado“espaçoliso”comocaracterística do período contemporâneo, Jameson e Virilio também revelam,emborademodosdiferentes,oprofundoimpacto queaemergênciadocapitalismomultinacionalintegradoe oencolhimentodomundoneleshaviagerado.
Jameson(1984,1991/1997)discorresobreum“hiperes- paço”geradopela“redeglobalemultinacionaldecomu-nicação descentrada” característica da pós-modernidade. Segundoele,estehiperespaçoétãonovoemultifacetado que“ consegu[e]ultrapassaracapacidadedocorpohuma-nodeselocalizar,deorganizarperceptivamenteoespaço circundanteemapearcognitivamentesuaposiçãoemum mundo exterior mapeável” (Jameson, 1991/1997, p. 70). Nesseespaço,passamosaviverexperiênciasmúltiplasefrag-mentadasque,quandoassociadasaojámencionadoeterno presentecaracterísticodoperíodo,levam-noaafirmarquea esquizofrenia(desprovidadesuaconotaçãopatológica)éo modelodefuncionamentosubjetivodapós-modernidade6 .Ja-meson,noentanto,seesquivadedescreverascaracterísticas específicasdessehiperespaçoemmaiordetalhe.
Nomesmoanode1984emqueJamesonpublicaessas idéiaspelaprimeiravez,Viriliotambémsededicaàdiscussão dasnovasmutaçõesespaço-temporaisdoperíodopós-moder-noeofazdemodopoucosistemáticoemuitoalarmista,pois vênessasmutaçõesaaniquilaçãonãosomentedotempo,mas tambémdoespaço.Segundoele,diversostiposde“poluição” espaciaissãogeradaspelainstantaneidade.Aprincipaldelas éaquelarelativaaoencolhimentodomundo,queViriliotrata comoa“poluiçãodotamanhonaturalquereduzanadaa escala,asdimensõesterrestres”(Virilio,1984/1999,p.115). Suavisãoapocalípticaarespeitodaaniquilaçãodoespaçoé bastanteclaranaseguintecitação:“(...)seestarpresenteé estarpróximofisicamentefalando,apostemosqueaproximi-dade‘microfísica’dastelecomunicaçõesinterativasfarácom queamanhãnosausentemos,nãoestejamospresentespara ninguém,encarceradosemumambiente‘geofísico’reduzido amenosquenada”(Virilio,1984/1999,p.118).
AlgunsanosapósaspublicaçõesdeJamesoneVirilio, Harvey(1989/1999)tecedurascríticasàconfusaeimprecisa “hiper-retórica” desses dois autores. Ao longo da análise que empreende da “condição pós-moderna”, ele aprofun-da a compreensão das concepções espaço-temporais que predominamnoperíodopós-modernoeretomaalgunsdos temas abordados por Deleuze e Guattari: a mobilidade, a desterritorialização,onomadismo,etc.Seutrabalho,contudo, tambémémarcantementediferentedodessesdoisúltimos autores.Issoporquesevoltaparaaspectosmaisconcretos da nova ordem social. Harvey dá especial ênfase ao que chama de “compressão do tempo-espaço”, cujas origens históricas traça detalhadamente. Argumenta que esse tipo decompressãosempreestevepresentenaordemcapitalista namedidaemqueestasempresecaracterizoupelaacele-raçãodoritmodavida,aomesmotempoemquesempre venceubarreirasespaciaisdemodoanosdarasensaçãode progressivoencolhimentodomundo.Considerandoapenas astecnologiasdetelecomunicaçãodisponíveisnaépocaem queescreve(sistemasdecomunicaçãoporsatélite,televisão, etc.),Harveyafirmaque,napós-modernidade,ainstantanei-dadetemcomoresultadoaquasecompletaaniquilaçãodos obstáculosespaciais.
Interessadoqueestánosistemadeproduçãoenasrela-çõesdetrabalho,Harveychamatambémaatençãoparaos diferentesgrausdemobilidade“geográfica”decapitalistas etrabalhadores(Harvey,1989/1999,p.265).Enquantoos primeirossãoaltamentemóveis(poisocapitaldesconhece fronteiras),osúltimossempretêmfortesraízesterritoriais. MaisoumenosnamesmaépocaemqueHarveypublicaessas análises,amobilidade,tambémgeográfica(ouseja,física), das pessoas em um mundo já integrado pelo capitalismo multinacionalsetornaocentrodeatençõesdeAugé.
Augé(1992/2001)identificaumparadoxo.Afirmaque, porumlado,talcomopreviamMcLuhanePowers(1986), omundoencolheunamedidaemqueoespaçoestásendo aniquilado pela velocidade e instantaneidade das diversas formas de transporte e telecomunicação atuais. Por outro lado,contudo,asseveraqueestáhavendoumasuperabun-dânciaespacial.Esta,aseuver,resultaprincipalmentedas mudançasdeescalaapartirdasquaistempoeespaçosão medidos.Osmeiosdetransportesãocadavezmaisrápidos eaproximamlugaresdistantesemcadavezmenostempo; os satélites e espaçonaves conquistam o espaço ao redor daterra;asreferências“energéticaseimaginárias”(Augé, 1992/2001,p.36)–como,porexemplo,asimagenstransmiti-dasporsatélitesquedãovisãoinstantâneadeacontecimentos distantes–semultiplicam.Essasuperabundânciaespacial, porsuavez,geraconsideráveismodificaçõesfísicas,como astransferênciasdepopulação(migraçõesounovasformas denomadismo)eaproliferaçãodelugaresquesãotãodife-rentesdoslugaresconvencionaisapontodeporeleserem batizadosde“não-lugares”.
(todosaquelesqueestãoemtrânsito).Sãoanônimoseim-pessoais,mastêmreferênciasglobalmentesignificativase globalmente compreensíveis (mesmas marcas de bebida, decomida,deredesdehotel,etc.).Augétem,portanto,em comumcomosdemaisautoresdiscutidosnestaseçãoaper-cepçãodequefronteirasebarreirasestãosendoaniquiladas,o queestátornandoomundocadavezmenor.Suacontribuição originalresidenaanáliseexplícitadamobilidadegeográfica edaemergênciados“não-lugares”.Aprefixaçãonegativa indicaqueestespodemserconsideradosumprenúnciodos lugares“extraterritoriais”semdefiniçãopositivaqueestavam emviasdeemergirnocenáriodasdiscussõesdosespaços contemporâneoscomoresultadodadifusãodasredesdigitais detransmissãodeinformaçãoetelecomunicaçãoemmeados dadécadade1990.Apartirdeentão,intelectuaisdasmais diversas origens – sociólogos, filósofos, físicos, cientistas dacomputaçãoedatelecomunicação,psicólogos,etc.–se vêemconfrontadoscomodesafiodeconcebereanalisara existênciadeespaçosalternativosaofísico,espaçosesses quenãopodemsertratadosapenascomoboasmetáforasou descartadoscomosimplesobrasdaimaginação.Otrabalhode Bauman(1997/1998,2000/2001,2001/2003),desenvolvido emumafaseposterioràdifusãodessasnovastecnologias, deixaclarooquantoédifícilaceitaressedesafio.
Baumaneoespaçogeradopelasredesdigitais deinformaçãoetelecomunicação:a“bolha”
extraterritorialdesprovidadecaracterísticaspróprias
Apesar de escreverapós o “boom” das redes digitais de informação e telecomunicação, Bauman (1997/1998, 2000/2001,2001/2003)temmuitaafinidadecomosautores abordadosnaseçãoanterior,principalmentecomHarveye Augé,tantoporquesuaargumentaçãoretomaedáseqüência àlinhaderaciocíniodestesquantoporque,talcomoeles, privilegia as alterações que ocorrem no espaço físico. A emergênciadeumespaçoextraterritorialemfunçãodastec-nologiasdainformaçãoecomunicaçãoéporeleregistrada, masascaracterísticasprópriasdesteespaçonãosãoporele analisadas(oumesmodescritascombasenotrabalhodeau-torescomoaquelesqueserãodiscutidosnapróximaparte). TalcomoAugéeHarvey,etambéminfluenciadopelas idéiasdeDeleuzeeGuattari,Baumanvênadiluiçãodefron-teirasebarreirasenoencolhimentodomundoalgumasdas principaiscaracterísticasdeumnovoperíodohistórico.Este éporelechamadode“pós-modernidade”emumprimeiro momento(Bauman,1997/1998),ede“modernidadelíquida” (oufluida)emumsegundo(Bauman,2000/2001).Dando concretudeaonomadismodetectadoanosantesporDeleuze eGuattari,Baumanvoltasuaatençãoparaamobilidadedas pessoasnestenovomundo.Procuracompreenderalógica espacialdessenovotipodenomadismo.Paratanto,inspira-se nasconcepçõesdeAugé–principalmentenadenão-luga-res–elevaacabodiversasanálisesdastransformaçõesdo espaçofísiconacontemporaneidade.Suaprincipallinhade raciocínioéaseguinte.
Aconstantecirculaçãodepessoasnomundoencolhido em que hoje vivemos vem fazendo com que estranhos se encontremfrente-a-frente.Estranhos,porém,sãoosdepositá-riosdomedoemummundocaracterizadopelaincertezadas
mudanças.Poressemotivo,passamaproliferarnovostipos deespaçofísiconosquaisestranhospodemevitarinteragir. Essesespaçossãooopostodosespaçosfísicosconvencionais (éinteressanteobservarqueBauman,aexemplodeAugé, lhesdánomesfreqüentementeprefixadospor“não”ou“ex-tra”).Entreeles,osprincipaissãoosespaçospúblicosque Baumanchamade“nãocivis”:osespaços“êmicos”,comoos guetos,queexpulsamaspessoas;osespaços“fágicos”,como osshoppings,quedevoramaspessoas,lhesdãoasensação desegurançaefacultamasensaçãodepertenceraumnovo tipodecomunidadesemanecessidadedeinteragir;os“não-lugares”,comoossaguõesdeaeroportos,quedesencorajama interaçãoeapermanênciaprolongada;eosespaços“vazios”, comobairrospobresedecadentes,cujaexistênciaéignorada ecujoatravessamentoéevitado.
Acirculaçãodaspessoasnomundolíquidocontempo-râneo assume tanta importância para Bauman que este, a exemplodoqueacontececomHarvey,avêcomoumadas principaislinhasdivisóriasdaestratificaçãosocialcontem-porânea,emboraadescrevademododistintoemdiferentes momentosdesuaobra.EmOmal-estardapós-modernidade (1998),faladamobilidadediferencialde“turistas”(aqueles que se movem porque assim o desejam) e “vagabundos” (aquelesquesãoimpelidosasemover).JáemModernidade líquida(2000/2001),issomudanamedidaemqueBauman registraaexistênciadeumespaçoextraterritorial.Apartirde então,Baumanpassaadividirapopulaçãomundialemdois grandesgruposemfunçãodeseuacessoaonovoespaço:oda eliteglobal“dosnegóciosedaindústriacultural”(Bauman, 2000/2001,p.55)eodamaioriaassentada.Aeliteglobal detémocapitaleopoder,agoratornadosextraterritoriais. Paraisso,contacomumainfra-estruturatecnológicaqueé acondiçãodepossibilidadedesua“extraterritorialidade”. Narealidade,nesteeemoutrospontosdesuaobra,Bauman afirmaqueessaelitepassaamaiorpartedotempoemuma “bolha”,demodoaevitarcompromissoseresponsabilidades sociaisgeralmenteassociadosavínculosterritoriais.
É interessante observar que Bauman (2000/2001, 2001/2003)atribuiunicamenteàelitecosmopolitaglobala propriedadedeserextraterritorial.Todososdemaisparecem, portanto,fazerpartedaquiloquechamademaioriaassentada. Afirmatextualmentequea“airrelevânciadolugar”–ou seja,aextraterritorialidade–é“umacondiçãointeiramente foradoalcancedaspessoascomuns,dos‘nativos’estreita-mentepresosaochão”(Bauman,2000/2001,p.54).
EspaçosalternativosaofísicogeradospelaInternet
Paraexplorarascaracterísticasprópriasdosnovostipos deespaçoextraterritorialgeradospelainstantaneidadedas tecnologiasdainformaçãoedatelecomunicação(ouseja, paraconheceroquesãoenãooquenãosão),éútilrecorrer aoartifíciodesepará-losdeacordocomosequipamentos maisfreqüentementeusadosparaaelesfacultaracesso:os computadores e congêneres (laptops, palmtops, etc.) e os celulares.Nestaquartaparteserãodiscutidososespaçosque têmnoscomputadoresinternacionalmenteligadosemrede suaplataformadeacesso,naquintaparteserãodiscutidos aquelescujaplataformasãooscelulares.
Espaçodosfluxos
Dentreosdiversosautoresqueexaminamasalternativas espaciaisgeradaspelasnovastecnologiasdainformaçãoe telecomunicaçãosãopoucosaquelesquesededicamàaná-lisedasociedadecontemporâneacomoumtodo.Umdeles éCastells(1996/2000).
Sendosociólogo,Castellstem,talcomoHarveyeBau-man,particularinteressenasnovasformasdeorganização socialenasuadinâmica.Diferentementedestesdoisautores, porém,vêessasnovasformasnãocomoumdesenvolvimento tardiodocapitalismocujainfra-estruturaédadapelasnovas tecnologias da informação (microeletrônica, computação, telecomunicações/radiodifusão, optoeletrônica, etc.), mas comoumprodutodaconvergênciadessastecnologias.
Estaconcepçãodequediversastecnologiasconvergem parageraraformamaterialdesuportedosprocessosefun-çõesdominantesnasociedadeinformacionaléexatamente oquelevaCastellsaproporadefiniçãomaisabrangentede espaçoalternativoencontradanaliteratura,adeespaçodos fluxos.Eleafirma:
“‘Oespaçodosfluxoséaorganizaçãomaterialdaspráticas sociaisdetempocompartilhadoquefuncionampormeiode fluxos’.Porfluxos,entendoasseqüênciasintencionais,repeti-tivaseprogramáveisdeintercâmbioeinteraçãoentreposições fisicamente desarticuladas, mantidas por atores sociais nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade.” (Castells,1996/2000,pp.436-437,ênfasedoautor)
Trocandoemmiúdos,noentenderdeCastells,oespaço dosfluxosdominaemoldaanovaorganizaçãosocialcon-temporânea,ada“sociedadeemrede”.
Emboraossuportesmateriaisdesseespaçosejamcons-tituídos pela convergência de tecnologias que servem de infra-estruturatantoàredeinternacionaldecomputadores quantoàtelefoniacelular,Castellsconcentrasuaanáliseno espaçogeradopelaInternet.
Enfatizaaautonomiadequeoespaçodosfluxosdesfruta emrelaçãoàsleisdafísicae,talcomoHarveyeBauman, assinalaqueaelenemtodostêmacesso.Falaarespeitode uma“divisóriadigital”,masdiscordadaquelesqueacreditam queaInternetestácriandoummundodivididoentreosque têmeosquenãotêmacessoaela.Emboraconcordecoma observaçãodequeaquelesqueaelanãotêmacessoperdem competitividadenomercadodetrabalho(indivíduos)ouno
mercadointernacional(empresas,nações),acreditaqueessa desigualdadeéanterioràInternet,sendofrutodasdiferenças hámuitoexistentesnaorigemsocial,nonívelculturaleno níveldeeducaçãodaspopulações(Castells,2000/2003).Não seaprofunda,contudo,nasdiscussõesdasformasdevidapos-síveisnoespaçodosfluxosenãoabordaatelefoniacelular.
Ciberespaço
EmboraadefiniçãoqueCastellsdáaoespaçoalternativo geradopelaconvergênciadastecnologiasdainformaçãoetele- comunicaçãosejaamaisabrangente,anomenclaturamaisdifun-didaparafazerreferênciaaoespaçovirtualcriadopelaconexão emrededoscomputadoresmundiaiséadeciberespaço.
Usado pela primeira vez emNeuromancer, uma obra de ficção científica escrita por William Gibson (1984), ciberespaço tem uma de suas definições básicas dada por Crumlish(1995).Paraeste,ciberespaçoéoespaçonoqual écompartilhadaarealidadeimagináriacriadapelasredesde computadores.É,portanto,umespaçoautônomo,pois“o ciberdomínionãoéfeitodeforçasepartículasfísicas,mas debitsebytes”(Wertheim,1999/2001,p.167)e,porisso mesmo,nãoestásujeitoàsleisdafísica.
ParaLévy(1990/1993),umdeseusmaisconhecidosana-listas,Interneteciberespaçosãoamesmacoisa.Talequação olevaaafirmarqueaInternet“nãoestánoespaço,‘elaé oespaço’”(Lévy,1990/1993,p.26,minhaênfase).Emais, diferentementedeBauman,paraquem,comojáfoidiscutido, somenteaeliteglobaltemacessoàextraterritorialidade,Lévy enfatizaofatodequeociberespaçoéumterrenonoqual estávivendoahumanidadehoje.
Eoqueacontecenesseespaço?Porelecirculamainfor-maçãoeosbensimateriais.Comojáfoimencionado,nelesão tambémimplementadasnovasformasdevigilância,controle epoder.Masissonãoétudo.Segundodiversosautores(Lévy, 1990/1993;Castells,1996/2000;Rheingold,1993,etc.),o ciberespaçotambéméoespaçonoqualsãocolocadasem práticadiferentesformasemanifestaçõesdesolidariedade, decoesãosocial,deresistência,demovimentospolíticos, devidacomunitária,etc.É,ainda,segundooutrosautores (Turkle,1995;Nicolaci-da-Costa,1998;Leitão&Nicolaci-da-Costa,2000;Abreu&Nicolaci-da-Costa,2003;etc.),um espaçoquesetornouopalco(imagináriomasvividocomo real)denovasformasdevidaqueabrangempraticamente todasasáreasdonossocotidiano:trabalho,educação,lazer, informação, conversas intelectuais, bate-papos informais, sedução,paquera,namoro,solidariedade,etc.
Essasdiversasformasdevidaforamtornadaspossíveis porumaimportantecaracterísticadesteespaçoalternativo: suaqualidadedeserimersivo.Emoutraspalavras,diferen-tementedocasodeoutrastecnologiasdeponta,comoados celularesqueserádiscutidaabaixo,essasformasalternativas devidaforamtornadaspossíveispelofatodequesepode ficaronlineotempoquesedesejar(respeitadassomenteas restriçõesenecessidadescorporaisdosusuários)7.
Espaçosgeradospelatelefoniacelular
Como podemos depreender da breve discussão desen-volvidaacima,ascaracterísticasdociberespaçobemcomo muitasdesuasconseqüênciassociaisepessoaisjávêmsendo investigadaspormuitosestudiososdeorigensdisciplinares diversas.Omesmo,noentanto,nãoacontececomatelefonia celular.Eháalgumasrazõesparaisso.
Primeiramente,oscelularessãoaindamuitorecenteseas investigaçõesdeseusimpactoscomeçaramasetornaraces-síveisprincipalmenteapartirdoanode2002.Emsegundo lugar,muitasdascaracterísticasdociberespaçosãoincorpo-radaspeloscelulares,incorporaçãoessaqueéparticularmente observávelnocasodoJapãoondeaInternet éacessadaprin-cipalmenteapartirdoscelulares(Rheingold,2003;Gottlieb &McLelland,2003).Umaterceirarazãoparaaescassezde estudossobreasalteraçõesqueoscelularesvêmintroduzindo nosespaçosconvencionaiseasalternativasaestesquecriam éadequeoscelularesnãoparecemgerarnovosespaços.Isso porque,diferentementedoscomputadores(eatémesmodos laptopsepalmtops),suaspequenasdimensõeseoaindaalto custodasligaçõesnãopossibilitamaimersãoprolongadado usuárioemumespaçoalternativo.
Dessemodo,asanálisestendemaseconcentrarnaforma maisfreqüentedeusodoscelulares:adacomunicaçãobreve, porémconstante,queenfatizaseupoderdeconectardiferen-tespontosdoespaçofísico,masofuscaasuapropriedadede gerarnovosespaços.
Aconectividadeeafluidificaçãodoespaçofísico
Aprincipalcaracterísticadatelefoniacelularécertamente asuacapacidadedeconectarem“temporeal”,ouinstanta- neamente,diferentespontosdoespaçofísicoindependen-tementedamobilidadedosinterlocutorese/oudadistância queossepara.
Estacapacidadetemimportantesconseqüênciasparaa vidapessoalesocialdeseususuários.Pesquisasrealizadas naNoruega(Ling&Yttri,2002;Ling,2004),enaFinlândia (Mäenpäa, 2001; Kopomaa, 2000), destacam uma dessas conseqüências:acapacidadedemicro-coordenaçãodeati-vidades,encontrosecompromissos.Seusautoresafirmam que,comousodesistemasdecomunicaçãomóveis,não maisnecessitamosfazerarranjosparanosencontrarmosem determinadoslugaresehoráriospré-fixados.Encontrosse tornaramajustáveisaofluxodosacontecimentoscotidianos. Omesmotipodeflexibilizaçãodeencontrosecompromissos pareceaconteceremmuitosoutroslugaresdomundo,entre osquaisestãopaísestãodiversosquantooJapão,oBrasil, aCoréiaeaItália.
NoJapão,ItoeOkabe(2003)observamqueoshorários doscompromissoseencontrosdosjovenssetornoumais fluidonamedidaemqueestesestãosempreemcontatouns comosoutros,geralmenteviamensagensdetextoquesão consideradas pouco intrusivas pela cultura japonesa. No Brasil,tambémtrabalhandocomjovens,Nicolaci-da-Costa (2004a,2004b)constataque,demodoparecidoaoqueacon-tececomosjovensjaponeses,elestendema“irsefalando” paracombinarencontrosoualterarcombinaçõespreviamente feitas.Adiferençacorreporcontadofatodequeosjovens
brasileirosrealmente“sefalam”,ouseja,usamcontatode voz.NaCoréia,Kim(2002)registraaimportânciaqueos celularespassaramaternamanutençãodavidasocialnuma culturanaqualaexpectativaéadequeasociabilidadedeve acontecer espontaneamente. Fortunati (2002) relata que o mesmoacontecenaItália,ondeoscelularessãogeralmente vistoscomofacilitadoresdasrelaçõessociaisnamedidaem queaprogramaçãopréviadeencontrosinterpessoaistende aserculturalmentemalvistaemváriossetoresdasociedade italiana.
Todasessasformasdemicro-coordenaçãopressupõem aquiloaqueKatzeAakhus(2002)sereferemcomoopo-tencialde“contatoperpétuo”datelefoniacelular,ouseja, essesmodosdemicro-coordenaçãopressupõemquetodos oseventuaisinterlocutorestêmsempreseuscelularesperto desieligados.
Nos dias de hoje, esta pressuposição é confirmada paraenormespercentuaisdaspopulaçõesmundiais8.Uma inspeçãodosdiversosartigosdediferentesnacionalidades compiladosporKatzeAakhus(2002)mostraque,nasmais diversaspartesdomundo,alguémsemovimentarcarregando consigoumcelularsetornouumcomportamentotrivial.
Ocontatoperpétuogeradopelaconectividadedoscelula-restemaindaduasoutrasconseqüênciasinter-relacionadas, quesãobastanterelevantesparaumadiscussãodasnovas noçõesdeespaçonacontemporaneidade:aemergênciade umnovotipodenomadismoeacriaçãodeumaredesocial móvel.
Asoperadorasdetelefoniacelularenfatizamquepode-mos viver em um mundo sem fronteiras ou barreiras. Ao menos em princípio (porque nem sempre tudo funciona assim), podemos nos comunicar com quem quisermos a partirdequalquerlugareaqualquerhoradodiaedanoite semnospreocuparmoscomondeestáonossointerlocutor. Tantofazqueeleestejanasalaaoladoouemalgumponto geograficamentebastantedistante.Essacaracterística,que, comovimosanteriormente,Bauman(2000/2001)batizoude “irrelevânciadolugar”,fazcomquepotenciaisinterlocutores estejamconstantementeemmovimento,massempredisponí-veisparaumcontato,umaconversa,umainteração,etc.
Tornou-semuitofácilfalarcomosamigos,conhecidos, familiares, colegas, etc. Na maior parte das vezes, basta acionarpoucasteclas.Issoporqueaquelesqueconhecemos geralmentetêmseusnúmerosarmazenadosnaprópriame-móriadonossocelular.Ditodeoutromodoefazendousode umametáforamundana,oscelularesfuncionamcomouma espéciedemochilanaqualcarregamosanossaredesocial, quesetornoumóvel.Todososnúmerosquechamamoscom freqüênciaemuitosdaquelesquecontatamosraramenteno maisdasvezesencontram-searmazenadosnamemóriados nossoscelulares,memóriaessaqueosfabricantestornam progressivamentemaior(Nicolaci-da-Costa,2004a).
Emresumo,nãoprecisamosmaisestaremalgumlugar conhecidoparaquepossamosseralcançadosetambémnão
precisamos saber onde estão nossos parentes, amigos ou conhecidosparaquecomelespossamosentraremcontato. Podemosnosmovimentarsemoreceiodenãosermosal-cançados.Podemosfluirporumespaçohíbrido,umespaço físicoquepodeaqualquermomentoserinterrompidopor comunicaçõesvirtuais .Semquedissomuitosdenóstenha-mosnosdadoconta,tornamo-nosnômadeseoespaçofísico quehabitamosepeloqualtransitamossetornoufluidoem virtudedacomunicaçãovirtual.
EstaéamaterializaçãodoespaçolisodeDeleuzeeGuat-tari(1980/1997)oudafluidezqueBauman(2000/2001)diz caracterizaramodernidadelíquida.
Redefiniçõesdosespaçospúblicoseprivados
Se,paraqueacomunicaçãoaconteça,nósenossospo-tenciaisinterlocutoresnãomaistemosqueestaremlugares fixoseconhecidos(comonaépocadatelefoniafixa),ese tanto eles como nós podemos ligar de qualquer lugar ou sermosalcançadosnãoimportaondeestejamos,aschances sãograndesdequemuitascomunicaçõesocorramenquanto estamosemlugarespúblicos:condução,aulas,supermerca-dos,praias,igrejas,etc.Essapenetraçãodosespaçospúblicos porumespaçoprivadovirtual(espaçoessequeserádiscutido emmaioresdetalhesabaixo)vemgerandomuitadiscussão acalorada.
Rheingold(2003),umdospioneirosnoestudodosim-pactossociaisdatelefoniacelularregistradeformaclaraas transformaçõesqueespaçopúblicovemsofrendo:
“Dado que cada vez mais pessoas nas ruas das cidades e no transporte público passam cada vez mais tempo falando com outras pessoas que não estão fisicamente co-presentes, anaturezadosespaçospúblicos...estámudandodiantedos nossosprópriosolhoseouvidos...”(Rheingold,2003,p.xxii, minhatradução)
Narealidade,praticamentetodososautoresqueinvesti- gamapenetraçãodoscelularesnassociedadescontemporâ-neasdiscutemessastransformações.Alguns,aexemplode Fortunati(2002),ofazemapartirdeumpontodevistanega-tivo–vendocommausolhosoquechamadedisrupçãotanto dosespaçospúblicos(nosquaisoscircundantessãoobriga-dosaouvirasconversasprivadasdedesconhecidos)quanto doscontatosface-a-face(nosquaisaconversapresencialé interrompidaeumoumaisdosinterlocutoresfisicamente presentes são preteridos por interlocutores distantes). Em contraparatida,outrosacolhempositivamenteainterrupção degrandepartedasconversasface-a-face.Umexemploé Gergen(2002),cujoargumentoéodequeoscelularessão importantesnamanutençãodoslaçosendógenos(aqueles existentesentreosmembrosdogrupodeparentesepessoas íntimas)equeasinterrupçõesdoscontatosface-a-face exóge-nos(comestranhosouconhecidossuperficiais)indicamque nossotempodecomunicaçãoéprogressivamentededicado àquelesquerealmentecontamparanós.
Outrosainda,comoPuro(2002)eLing(2004),adotam umaabordagemsemelhanteàqueladeRheingoldcitadaaci-ma,ouseja,menosvalorativaemaisdescritiva.ParaPuro,“o espaçopúblicoéduplamenteprivatizadoporqueosusuários
decelularesseisolamdemodonão-verbaleenchemoar comassuntosprivados”(Puro,2002,p.23).AvisãodeLing (2004)tambémépredominantementedescritiva.Ressaltao aspectodecomunicaçãoparalela datelefoniacelulareafir-maqueoscelularestornampossívelacolonizaçãodaesfera públicaparainteraçõespessoais(Ling,2004)semmaiores julgamentosdevalor.
Alguns outros autores, a exemplo de Shejter e Cohen (2002)eItoeOkabe(2003)forneceminteressantesindica-doresdareaçãonegativageradaemdeterminadaspopulações pelo fenômeno da penetração dos espaços públicos pelas conversastelefônicasprivadas.Relatam,porexemplo,que empaísescomoIsraeleoJapãohácartazesproibindoouso decelularesemdiversoslocaispúblicos.
Aoutrafacedamesmamoedaéapenetraçãodaesfera pública no espaço privado (Fortunati, 2002). A literatura especializadadá,porém,poucaênfaseaessetipodepene-tração como conseqüência da difusão dos celulares. Isso talvezsedevaaofatodequeémenosfreqüentenocasode seususuáriosmaisestudados:osjovens.
Aemergênciadeespaçosprivadosmóveis
Comoacabamosdever,muitosfalamsobreainvasão dosespaçospúblicosporconversasprivadascompessoas distantes.Subentendidafica,portanto,aexistênciadeespaços privadosqueinterferemnoespaçopúblico.Relativamente poucos,noentanto,sededicamaestudaressenovotipode espaçoemmaiorprofundidade.
Ao fazê-lo, alguns deles se referem ao celular como um “lugar”. Puro, por exemplo, afirma que “um telefone móvelé,emmuitosaspectos,umlugaraoqualvocêpode ir para bater papo sobre qualquer assunto” (Puro, 2002, p.27).Issoporque,“quandoalguémfalaaotelefone,esse alguémestáemseupróprioespaçoprivado”(Puro,2002, p.23).JásegundoKopomaa(2000),ocelularpodeservisto um“terceirolugar”,ouseja,comoum“lugar”adjacente, porémforadoespaçodomésticooudotrabalho.Talcomo paraPuro,tambémparaKopomaaocelularé,aseupróprio modo,um“lugar”deencontrosnamedidaemqueoferece umespaçovirtualparaoqualqualquerumpodeseretirar quandodesejar.
vêem nos celulares uma oportunidade de ter um “espaço privado”precoceporpadrõestradicionais.Talespaço,por exemplo,permitequeessesjovensmantenhamseusrelacio-namentos(principalmenteosamorosos)longedosolhose dosouvidosdeseuspaismesmoquandomoramcomestes. Emais,independentementedeondeestejamelespróprios eseusinterlocutores,permitequeelesmantenhamcontato constanteaolongododiae/oudanoitecomseusamigos íntimosenamorados.Muitoschegamaterconsciênciade queaconstanteutilizaçãodesses“espaçosprivadosmóveis” aumentaaintimidadedosrelacionamentos.
AanálisequeGergen(2002)fazdos“mundosflutuantes” da“presençaausente”mediadapeloscelularescomplementa essasobservações.TalcomoKopomaa,ItoeOkabe,Nico-laci-da-Costa e outros, Gergen afirma que esses mundos flutuantespoucotêmavercomoqueestáacontecendoao redordointerlocutornomundofísico.E,talcomoMcVeigh eNicolaci-da-Costa,Gergendeclaraque,muitoaocontrário doquepensamalgunsautoresproeminentes(entreosquais ossociólogosBauman,1997/1998,2000/2001,2001/2003 eSennett,1998/1999),apresençaausenteéumaextensão dosrelacionamentosface-a-facequefortaleceoslaçosso-ciaisendógenos(ouseja,íntimos),quandotodosestãoem constantemovimentoe,portanto,freqüentementedistantes unsdosoutros.Estaposiçãoéreforçadaeradicalizadaporde Gournay(2002),quechegaafalarqueoscelularespermitem umarelação“fusional”compessoasíntimasnamedidaem que“Levamosumapartedaoutrapessoaconosco,certos dasuadisponibilidadeparaapossepermanenteetotal”(de Gournay,2002,p.201,minhatradução).
Conclusão
AolongodoséculoXIX,emdecorrênciadaimplanta-çãodosprimeirosparquesindustriaisemáreasadjacentes àscidadesdaépoca,surgeumnovotipodeespaço:aquele dasgrandesmetrópoles.NoiníciodoséculoXX,nocéle-breartigointituladoAmetrópoleeavidamental,Simmel (1902/1997)dedica-seàanálisedasconseqüênciaspsicoló-gicasdavidanessenovoespaço.Talanáliseolevaalançar asbasesdoquehojeseentendecomoaconstruçãosocial dasubjetividade.Diz:
“(...)decadapontodasuperfíciedaexperiência(...)pode-se deixarcairumfiodeprumoparaointeriordaprofundezado psiquismo,detalmodoquetodasasexterioridadesmaisbanais davidaestão,emúltimaanálise,ligadasàsdecisõesconcernentes aosignificadoeestilodevida.”(Simmel,1902/1997,p.15)
Apartirdesseraciocínio,Simmeldemonstracomclareza quenovosespaçoscolocamemoperaçãonovasnecessidades, novasdemandas,novasregrasdeprodução,sociabilidade, sobrevivência,etc.Comoconseqüênciadetudoisso,emer-gemnovasformasdeagiredeviverquedãovisibilidadeaos processosdetransformaçãodasformasdeser(Nicolaci-da-Costa,2002b).
TranspostoparaoiníciodoséculoXXI,esteraciocínio resultanacolocaçãoimediatadeduasperguntasdoponto devistadapsicologia.Aprimeiraé:Quaisosimpactosque cada um dos vários espaços discutidos neste artigo está
gerando?Paraesta,jáexistemrespostasparciais,muitasdas quais(comoosefeitosdavidanociberespaçoedousodos celularescomoespaçosprivadosmóveis)foramapresentadas nesteartigo.
Jáparaasegundapergunta,queémaisespinhosa,a(s) resposta(s)sópode(m)serdada(s)umavezquesejareco-nhecido,comoaconteceunapresenterevisão,queestamos vivendo em múltiplos espaços. Essa pergunta poderia ser formuladadoseguintemodo:Quaisosimpactosqueavida em diferentes espaços físicos e virtuais está gerando em todosnós?Pararespondê-lasãonecessáriasmaispesquisas emuitareflexão.
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Recebidoem12.05.2005 Primeiradecisãoeditorialem28.06.2005 Versãofinalem28.06.2005