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Gênero e sexualidade: fragmentos de identidade masculina nos tempos da Aids.

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Academic year: 2017

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Gênero e sexualidade:

fragment os de ident idade masculina

nos t empos da Aids

Ge nd e r and se xuality:

frag me nts o f male id e ntity in the Aid s e ra

1 N ú cleo de Estu dos e Projetos em Com u n icação, Escola d e Com u n icação, Un iversid ad e Fed eral d o Rio d e Jan eiro.

Av. Pasteu r, Cam p u s d a Praia Verm elh a, sala 120, Botafogo, Rio d e Jan eiro, RJ.

m p m ota@agen tel.com .br Mu rilo Peix oto d a Mota 1

Abst ract Th is p ap er focu ses on sp ecific asp ects of m ale sexu ality an d h ow th is sexu al id en tity is bu ilt in th e Aid s era, based on con versation s w ith low -in com e you th , ages 14-21 years, livin g in Greater Metrop olitan Rio d e Jan eiro. We exam in e h ow Aid s is p erceived an d in vestigate sexu ality in th is ep id em ic con text. Th e goal is to p rovid e con crete d ata to su p p ort a p reven tion cam p aign a n d con t ribu t e t o p reven t ive p olicies in Bra z ilia n societ y. Th e p rop osa l is ba sed on t h e sex u a l id en tity of th is gen d er/age grou p, com p arin g th eir rep orts on sexu al p ractice. We u sed a p artially op en -en d ed in t erv iew p rot ocol. We focu s on t h e w a y you n g m a les ch oose t h eir sex u a l id en t it y u n d er th e p rem ise th at th is is h ow m en can becom e th e ch an n el for Aid s tran sm ission . Ou r re-search w as th u s based on gen d er an d sexu al id en tity as categories. Ou r resu lts in d icate th at for a you n g m an , “bein g a m an”m ean s h avin g an active sexu al life, th u s creatin g a stereotyp e p lacin g th em at risk for HIV tran sm ission .

Key words Aid s; Ad olescen ts; Gen d er; Gen d er Id en tity

Resumo Este trabalh o bu sca en ten d er algu n s asp ectos d a sexu alid ad e m ascu lin a, bem com o as form as com o se organ iz a a con stru ção d a id en tid ad e sexu al n o con texto d a ep id em ia d e Aid s, a p artir d a fala d e joven s d e baixa ren d a en tre 14 e 21 an os, m orad ores d a área m etrop olitan a d o Rio d e Jan eiro. Nossa p rop osta con siste em articu lar algu n s asp ectos d o gên ero m ascu lin o, su bsi-d iabsi-d os p ela ibsi-d en tibsi-d absi-d e sexu al revelabsi-d a p elos su jeitos, estabelecen bsi-d o u m con fron to com os rela-tos sobre a p rática sexu al, p roced im en to qu e se torn ou p ossível a p artir d e en trevista qu alitativa com u so d e u m roteiro sem i-estru tu rad o. Ju lgam os d e fu n d am en tal im p ortân cia a an álise d as m an eiras com o se d á a escolh a d o objeto sex u al em relação à con stru ção d a id en tid ad e, ten d o com o referên cia aqu ele qu e foi con sid erad o o p ivô n o qu e d iz resp eito à tran sm issão d a Aid s: o h om em . N este sen tid o, n ossa in vestigação se p au tou n as categorias gên ero e id en tid ad e sex u al. Com o resu ltad o, observam os qu e, n a con cep ção d estes joven s, ser h om em é d esem p en h ar a p rá-tica sexu al, cu m p rin d o, assim , os p ap éis d estin ad os ao gên ero m ascu lin o, rep rod u zin d o u m este-reótip o qu e os coloca em situ ação d e risco.

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Introdução

Este estu d o b u sca en ten d er algu n s asp ectos d a sexu a lid a d e m a scu lin a , b em co m o a s fo r m a s co m o se o rga n iza a co n stru çã o d a id en tid a d e sexu a l n o co n texto d a ep id em ia d e Aid s, co m b ase n a fala d e joven s d e b aixa ren d a en tre 14 e 21 a n o s, m o ra d o res d a á rea m etro p o lita n a d o Rio d e Ja n eiro. Tem p o r o b jetivo fo rn ecer d a dos em p íricos qu e sirvam de base p ara o acom -p a n h a m en to e cr ia çã o d e ca m -p a n h a s d e -p rven ção, além d e ten tar con trib u ir p ara o p lan e-jam en to d e p olíticas d e in terven ção à Aid s em n ossa socied ad e.

Nossa p rop osta con siste em levan tar a d iscu ssão d os p ap éis d e gên ero m asiscu lin o valen d on os d a id en tid ad e sexu al revelad a p elos su jeitos p esqu isad os, estab elecen d o u m con fron -to com os rela-tos sob re a p rática sexu al. Bu sca-m os tasca-m b ésca-m cap tar a d iversid ad e d e d esejos e fan tasias sexu ais, relacion an d o-os com a au to-id en tto-id a d e, n íveis d e in fo rm a çã o e co n h ecim en to so b re o H IV/ Aid s, a ssiecim co ecim o a s ecim u -d an ças -d e atitu -d es em relação à ep i-d em ia.

A d iscu ssã o to m o u p o r b a se ta n to p esq u i-sa s a n tro p o ló gica s, q u a n to so cio ló gica s, q u e p erm itiram p erceber qu e as categorias de id en tid a d e (h o m o ssexu a l, h etero ssexu a l e b isse -xu a l) têm sign ifica çõ es cu ltu ra is rela tiva s n o con texto d a p rá tica sexu a l, p rin cip a lm en te se an alisarm os as p ercep ções d e tais p ráticas em n o ssa cu ltu ra . Se a id en tid a d e sexu a l en vo lve q u estões sim b ólicas e rep resen tações com p le-xa s, co m o gen era liza r e u n ifica r co n d u ta s e id en tid ad es com o p rop ósito d e sep arar os gru -p o s q u e sã o m a is su scetíveis a o risco d o s q u e têm m en o r su scetib ilid a d e, co m o ten to u a ciên cia m éd ica?

O trab alh o ju stifica-se em fu n ção d a n ecessid ad e d e se rep en sar n ão só as visões q u e en volvem a Aid s, com o ta m b ém a s q u estões im p licad as n o con texto d a h istória sexu al d os su -jeitos en volvid os n o estu d o. Neste sen tid o, ju l-ga m o s d e fu n d a m en ta l im p o r tâ n cia a a n á lise d a s m a n eira s co m o se d á a esco lh a d o o b jeto sexu al em relação à con stru ção d a id en tid ad e, ten d o com o referên cia aqu ele qu e foi con sid e-rad o o p ivô n a qu estão d a tran sm issão d a Aid s: o h om em . Nossa in vestigação se p au ta n as ca-tegorias gên ero e id en tid ad e sexu al.

Pen sa r o gên ero m a scu lin o e a id en tid a d e sexu al rem ete-n os a q u estões in tim am en te li-gad as ao p ad rão d e com p ortam en to sexu al d o b rasileiro e su as rep resen tações sob re a sexu a-lid ad e, qu e é d iferen te d e região p ara região d o p aís, d e classe social p ara classe social e, sob re-tu d o, d e u m m o m en to h istó rico em rela çã o a o u tro. Ad em a is, q u a n d o n o s vo lta m o s p a ra a

ten tativa d e com p reen são d o con texto d a Aid s n o com p ortam en to sexu al m ascu lin o, p erceb em os várias con trad ições e con flitos q u e ap on -ta m p a ra u m a co m p lexid a d e h istó r ica e q u e, evid en tem en te, u ltra p a ssa m a q u ele co n ju n to d e cla ssifica çõ es exp ressa d a s p a ra id en tifica r o s gru p o s m a is su scetíveis a o co n tá gio d o HIV/ Aid s, com o o ch am ad o h om ossexu al m as-cu lin o.

Op tam os p or en focar a con stru ção cu ltu ral d o gên ero e d a sexu alid ad e n o con texto d e jo -ven s m ascu lin os d e b aixa ren d a m orad ores n a área m etrop olitan a d o Rio d e Jan eiro, com o in -tu ito d e fo rn ecer su b síd io s p a ra a p reven çã o d o HIV/ Aid s n estes su jeitos.

Cont ext o do est udo

Ob servan d o as classificações ep id em iológicas d ad as e an alisan d o esp ecificam en te as p ráticas sexu ais cotid ian as n om ead as com o h om osse-xu alid ad e, b isseosse-xu alid ad e e h eterosseosse-xu alid a-d e m ascu lin a, esb arram os n u m a realia-d aa-d e em q u e, co m o d efin e Co sta (1992), a h o m o gen ei-d aei-d e teorizaei-d a n estas categorias ei-d ifere ei-d a h eterogen eid ad e vivid a. Se relativizarm os o con -texto eró tico m a scu lin o, n o q u a l o s p a p éis d e gên ero p o ssu em regra s m o ra is rela tiva m en te flexíveis em n ível d as ativid ad es sexu ais, e ‘ser h om em’ está tam b ém con stru íd o p ela id éia d e a tivid a d e sexu a l in ten sa , p erceb erem o s, sem m u ita d ificu ld ad e, qu e ser h om ossexu al, b isse-xu a l ou h eterosseisse-xu a l d ep en d e d o sign ifica d o eró tico q u e o su jeito a trib u i à su a p rá tica se -xu a l e à fo rm a co m o p erceb e o s p a p éis d e gê-n ero em seu cogê-n texto.

Ao n os referirm os à categoria gên ero, ap on tam os p ara u m d eb ate q u e d iz resp eito à con -cep ção d o qu e é ser m ascu lin o e fem in in o, h om eom e om u lh er n a so cied a d e, a sp ecto q u e in -terp ela a exp eriên cia sexu a l d o s su jeito s, m o-d ela o m u n o-d o o-d o s sign ifica o-d o s eró tico s, a s tran sações sexu ais, a realização d o d esejo e, em algu m as circu n stân cias, a p róp ria ob ten ção d o gozo. Nesse sen tido, o gên ero é u m asp ecto m a-leável d o eu qu e torn a p ossível qu e se recon h e-ça m n ã o a p en a s a s sem elh a n e-ça s e igu a ld a d es existen tes en tre os su jeitos sociais – h om em e m u lh er –, m as os p ad rões d e coerên cia cu ltu ral qu e existem em razão m esm o d a d iferen ça qu e os sep ara, as con trad ições lógicas e em ocion ais q u e flu em d esta co existên cia b in á ria (Sco tt, 1989; Heilb orn , 1994).

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-cialm en te o qu e é ser m ascu lin o e fem in in o em d eterm in a d a cu ltu ra . Assim , o co rp o receb e u m a sign ifica çã o sexu a l q u e é d efin id a co m o referên cia sob re o q u e é ser m ascu lin o e fem i-n ii-n o. Tal sigi-n ificação ap arece com o i-n orm a, vlores, p ercep ções, rep resen tações qu e acom p a-n h am a vid a d os su jeitos (Giffia-n , 1994).

Neste sen tid o, gên ero a cio n a in fo rm a çõ es so b re o s h o m en s, a p esa r d e o s estu d o s so b re essa categoria d arem aten ção esp ecial ao lu gar d a m u lh er n a socied a d e, a firm a n d o a p osiçã o d e q u e a s rela ções en tre os sexos sã o socia is e cu ltu ralm en te con stru íd as, e qu e h á d iferen ças n as articu lações d e p od er. Ou seja, os estu d os d e gên ero in clu em tem a s q u e sã o, em gera l, co n sid era d o s ca ra cteristica m en te liga d o s à s m u lh eres, m a s n ã o se lim ita m a eles. Assim , o gên ero, en foca d o com o ca tegoria sociológica, tra z n ova s p o ssib ilid a d e s p a ra se p e n sa r a qu estão d o h om em e d a m u lh er, articu lan d o as rela çõ es su jeito e so cied a d e (Sco tt, 1989). Ao ten ta rm o s in clu ir o h o m em n este d eb a te, vem os a ivem p ortâ n cia d e se q u estion a revem os p a -p éis sociais qu e con figu ram o m od elo m ascu li-n o em li-n ossa cu ltu ra, p erceb eli-n d o com o os h o-m en s se vêeo-m n esses p a p éis, co o-m o o s rep re-sen tam e con stroem a p róp ria id en tid ad e.

Leva n d o se em co n ta o s p a p éis so cia is le ga d o s a o h o m em em n o ssa cu ltu ra , o b ser va -m o s q u e ser h o -m e-m n ã o rep resen ta a -m era op osição ao ser m u lh er, m as ao ser u m ‘vead o’, h om ossexu al, ‘m aricas’, ‘corn o’, ‘b ich a’ –, figu -ra s q u e a rticu la m rep resen ta ções d e fem in ili-d a ili-d e, fra q u eza , im p o tên cia , su b o rili-d in a çã o, p a ssivid a d e (Pa rker, 1991). Esse fa to d eixa ver as form as com o o h om em é en gen d rad o n esta socied ad e d e trad ição p atriarcal, ou seja, a p ar-tir d e valores h egem ôn icos e estru tu ras d e p o-d er qu e o o-d iferen ciam o-d a m u lh er e qu e ao m es-m o tees-m p o es-m old aes-m seu coes-m p ortaes-m en to.

Os h om en s ap ren d em a valorizar a ativid ad e sexu al com o algo qu e legitim a su a iad en tiad a d e m ascu lin a; ser h om em é d esem p en h ar o p a -p el d e q u em d om in a e ‘-p en etra’ ou tros. É m u i-to co m u m , p o r exem p lo, joven s em in icia çã o sexu a l rea liza rem a s ‘m ein h a s’, situ a çã o em q u e u m p en etra o o u tro tro ca n d o d e p o siçã o. En tre ca sa is (h o m en s e m u lh eres) a d o lescen -tes, ta m b ém é co m u m o co ito a n a l co m o p re-servação d a virgin d ad e e m étod o con tracep ti-vo (Dan iel & Parker, 1991).

Dia n te d este q u a d ro, h á a lgo q u e ch a m a n o ssa a ten çã o q u a n d o co lo ca m o s em p a u ta Aid s e erotism o, qu er seja, o sign ificad o qu e al-gu n s h o m en s d ã o à s p rá tica s sexu a is q u e, a o con trário d e p au tarem se n as ch am ad as id en -tid a d es sexu a is (h o m o, h etero o u b issexu a l), são m ovidas p elo tesão. Cabe lem brar, além

dis-so, q u e a ca sa d e p ro stitu içã o (term a s, ‘in fer-n ifer-n h o s’, ca sa s d e m a ssa gefer-n s etc.) rep resefer-n ta , n a vid a sexu a l d o b ra sileiro – seja ele so lteiro ou ca sa d o, a d u lto ou a d olescen te –, a lgo visto com o m otivo d e orgu lh o. É “lá on de se apren de a ser h om em”, d iz o sen so co m u m p a ra o s jo ven s em in iciação sexu al. Procu rar as p rostitu -ta s é n ã o só u m a co n d u -ta a cei-ta co m o sen d o ‘co isa d e h o m em’, co m o ta m b ém ju stifica d a com o se con stitu in d o n u m a ten tativa d e reali-za çã o d e fa n ta sia s sexu a is, cu ja s esp o sa s o u m ães n ão p od eriam realizar.

Qu erem o s d em o n stra r, p o r m eio d este estu d o e com b ase em referên cias teóricas d e ou -tros, q u e o com p ortam en to sexu al p rivad o d o h om em n ão se con fu n d e com a su a id en tid ad e sexu al p ú b lica, h eterossexu al, an u n ciad a e re-p resen ta d a , o q u e to rn a a re-p reven çã o d o H IV/ Aid s ain d a m ais p rob lem ática. De fato, tod o esse co n texto sim b ó lico p a rece en co b rir verd a -d es p ou co -d itas, cu jas racion alizações eq u ivo-ca d a s, a s q u a is o scila m en tre o id eo ló gico e o b io ló gico, a in d a estã o p a ra ser a va lia d a s p ela h istória d a Aid s n o Brasil. A qu estão qu e en vol-ve o ser h om ossexu al, h eterossexu al ou b issexu a l em n o ssa so cied a d e p o d e p a ssa r p o r o u -tras qu e n em sem p re são racion alizad as em n í-vel d o sen so co m u m , n em m esm o p erceb id a s co m o cla ssifica çõ es id en tifica d o ra s. Ou seja , h o m en s p o d em ter rela çõ es co m o u tro s h o -m en s e co -m -m u lh eres a o -m es-m o te-m p o, se-m q u e isso seja associad o à id en tid ad e sexu al n a form a com o é colocad a p ela ciên cia m éd ica.

Neste sen tid o, ob servan d o as classificações ep id em io ló gica s d a d a s e a n a lisa n d o esp ecifi-cam en te as p ráticas d a h om ossexu alid ad e, b is-sexu a lid a d e e h etero sis-sexu a lid a d e m a scu lin a n o co tid ia n o, esb a rra m o s n u m a rea lid a d e se-gu n d o a qu al, com o já vim os com Costa (1992), a h om ogen eid a d e teoriza d a n esta s ca tegoria s d ifere d a h eterogen eid ad e vivid a. Isto sign ifica d izer qu e, se colocarm os em qu estão o con tex-to eró tico co tid ia n o m a scu lin o, cu jo s p a p éis so cia is p o ssu em regra s m o ra is rela tiva m en te flexíveis em n ível d as ativid ad es sexu ais, p erceb erem o s, sem m u ita d ificu ld a d e, q u e ser h o m ossexu al, b issexu al ou h eterossexu al d ep en -d e -d o sign ifica-d o erótico qu e o su jeito atrib u i à su a p rá tica sexu a l e à fo rm a co m o p erceb e o s p ap éis d e gên ero em seu con texto.

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-tim a m en te liga d a a p rá tica s sexu a is q u e se a p resen ta m co m o u m a exp a n sã o d e estilo d e vid a , em virtu d e d e d esejo s sexu a is ca d a vez m ais esp ecíficos, qu e assegu ra p ara os su jeitos u m co n texto d e id en tid a d e co letiva , n o q u a l en con tram os p ares com q u em vão m an ter re-lações. Isto é, ob serva-se qu e a id en tid ad e está liga d a à s m a n e ira s co m o o su je it o se vê e a o lu ga r em q u e a so cied a d e o co lo ca . Po rta n to, além d estas id en tid ad es sexu ais já con h ecid as, h á ou tras.

Dian te d a Aid s, a qu estão d a id en tid ad e se-xu al gan h ou con torn os esp ecíficos d e d iscrim i-n a çã o e p reco i-n ceito, p rii-n cip a lm ei-n te p a ra o q u e foi d en om in ad o p rática h om ossexu al. Re-to m o Co sta (1992:22), q u a n d o o p sica n a lista qu estion a as categorias d e id en tid ad e, d izen d o qu e são in ad equ ad as en qu an to d em arcação d e com p ortam en tos sociais d istin tos. Neste sen ti-d o, ele p rop õe u m a n ova ti-d en om in ação, o ‘h o-m oerotiso-m o’, coo-m o u o-m a referên cia às p ráticas sexu a is d e h o m en s q u e d eseja m o u tro s h o m en s. O term o, la n ça d o em 1992, a lém d e su -gerir u m a p ro p o sta ético -teó rica à n o çã o d e h o m o sse xu a lism o e h o m o sse xu a lid a d e, a b re ou tras p ossib ilid ad es an alíticas. O p róp rio au to r a crescen ta q u e in terp reta r a id éia d e h o -m ossexu a lid a d e co-m o u -m a essên cia , u -m a es-tru tu ra ou d en om in ad or sexu al com u m a tod os os h om en s h om oeróticos é in correr n u m gran -d e erro etn ocên trico. Pen so qu e a n oção -d e h o-m oerotiso-m o teo-m a van tageo-m d e ten tar afastar-se tan to qu an to p ossível d esafastar-se en gan o. Prim ei-ro, p o rq u e exclu i to d a e q u a lq u er a lu sã o a d oen ça, d esvio, an orm alid ad e, p erversão etc., qu e acabaram p or in tegrar o sen tido da p alavra h om ossexu al. Segu n d o, p orqu e n ega a id éia d e q u e existe algo com o ‘u m a su b stân cia h om os-sexu al’ orgân ica ou p síqu ica com u m a tod os os h om en s com ten d ên cias h om oeróticas. Tercei-ro, en fim , p o rq u e o term o n ã o p o ssu i a fo rm a su b sta n tiva q u e in d ica id en tid a d e, co m o n o ca so d o h o m o ssexu a lism o, d o q u a l d erivo u o su b sta n tivo h o m o ssexu a l. Pa ra o a u to r, a s vi-vên cias sexu ais n ão cab em em rígid os m od elos classificatórios d e id en tid ad e p reviam en te es-tab elecid os. Há, segu n d o ele, u m p ressu p osto, u m a n a tu ra liza çã o e u n iversa liza çã o d e u m a p rática d ifu n d id a com o sen d o a exp ressão ú n i-ca e n orm al d as relações sexu ais: a h eterosse-xu alid ad e. Nesta p ersp ectiva, o h om oerotism o corresp on d e a u m a su b jetivid ad e e a u m a rea-lid ad e lin gü ística e n ão a u m a con d ição n atu-ral e b iológica.

Ob ser va -se, en tã o, q u e o co m p o rta m en to n o co n texto d o co tid ia n o va i m u ita s vezes d e en con tro àq u ilo q u e se con ven cion ou ch am ar d e h etero ssexu a l m a scu lin o co m o u m a refe

-rên cia à id en tid a d e sexu a l. Além d o m a is, a id en tid ad e n ão p arece ser u m a q u estão p ara o ch am ad o h eterossexu al, cu ja id en tid ad e sexu al já está, d e certa m an eira, d ad a socialm en te p e-los p ap éis d e gên ero. Está colocad a, sim , p ara o su jeito cu jo com p ortam en to d ifere d a n orm a esta b elecid a p a ra o q u e se co n sid era ser h o m em . Portan to, a id en tid ad e, n este caso, ap on -ta p a ra q u em é a d iferen ça , d o p o n to d e vis-ta d a visib ilid ad e; d aí h om en s com trejeitos fem i-n ii-n os serem facilm ei-n te classificad os. De q u alq u er m o d o, a Aid s tem p o ssib ilita d o a d esco b erta d o q u a n to a sexu a lid a d e fa vo rece o d e -sen volvim en to d e estilos d e vid a variad os.

Se estam os trab alh an d o com joven s d e 14 a 21 an os – ju stam en te o p eríod o em q u e se in i-cia a p rá tica sexu a l n u m tem p o d e ep id em ia sexu a lm en te tra n sm issível –, ju lga m o s q u e o ap rofu n d am en to d e n osso trab alh o d eve resi-d ir n os resi-d om ín ios resi-d o erótico n a viresi-d a sexu al resi-d iá-ria , já q u e se tra ta d e u m a fa se em q u e n em sem p re o p roib id o é d esvalorizad o e o p erm iti-d o aceito com o iti-d efin ição n a con stru ção iti-d a su a id en tid ad e. Se em d eterm in ad as ocasiões – n ão m u ito p articu lares ou p rivad as –, tran sgred ir a n orm a sexu al p od e ser a regra aceita com o d e-m on stração d e eficiên cia sexu al, con d u ta p ró-p ria d o ró-p aró-p el m ascu lin o em n ossa cu ltu ra, qu e d irá p ara os joven s em in iciação sexu al?

Aid s e ero tism o a p o n ta m , p o rta n to, p a ra u m a reflexã o esp ecífica : o m o d elo d e p reven -ção d eve levar em con ta as su tilezas d o u n iverso sexu al, n o qu al às classificações p ú b licas iverso -b re o sexo p od em corresp on d er, n o m u n d o d a exp eriên cia erótica, con d u tas con trad itórias; o com p ortam en to ‘d esvian te’, p or exem p lo, p od e ser en ca ra d o co m o u m estilo, a sp ecto d a s rgras d o jogo (d a d iferen ça) ou o p róp rio m od e-lo qu e exp ressa u m ‘rito d e p assagem’.

Mais u m a vez, o m u n d o p rivad o d a sexu ali-d a ali-d e p a rece revisita ali-d o, m o stra n ali-d o q u e h á ocu lta m en to, sim u la ções e rep resen ta ções d e p rá tica s sexu a is en tre os su jeitos fem in in o ou m a scu lin o, em rela çõ es ca u sa is o u regu la res, d en tro ou fora d o casam en to. En fim , as p esqu i-sa s so cia is a cerca d o co m p o rta m en to sexu a l em tem p o s d e Aid s estã o d esvela n d o o jo go erótico d o cotid ian o sexu al, qu e p arece estab e-lecer, d e u m lad o, m aior flexib ilid ad e d e p rática s n o co n texto d o esp a ço p riva d o d a s rela -ções, e, p or ou tro, rigid ez n o âm b ito p ú b lico – p a ra o s o lh a res sem p re a ten to s d a Igreja e d e ou tros ap arelh os id eológicos.

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M aterial e método

Bu scam os u m a d iversid ad e d e su jeitos, ten tan -d o a b ra n ger o reco rte p revia m en te -d efin i-d o : fa ixa etá ria (14 a 21 a n o s) e co n d içã o só cio -econ ôm ica. A faixa etária foi d efin id a ten d o co-m o b ase n osso in teresse eco-m in vestigar aq u eles q u e se torn aram sexu alm en te ativos d u ran te o p eríod o em qu e o HIV/ Aid s já h avia se torn ad o m o tivo d e p reo cu p a çã o n o Bra sil. Ma s o q u e ju stifica o u so d e ta is p a râ m etro s p a ra a sele-ção d a am ostra é p rin cip alm en te a vu ln erab ili-d a ili-d e a o s risco s ili-d e co n tá gio ili-d e H IV/ Aiili-d s em qu e se en con tram m u itos d estes joven s, vu ln e-rab ilid ad e esta relacion ad a ao com p ortam en to sexu a l, a con d ições ob jetiva s d o m eio socia l e a o gra u d e con sciên cia q u e p ossu em em rela -ção ao p róp rio corp o. E é n este sen tid o qu e Ay-res (1996) ch am a a aten ção p ara algu n s asp ec-tos m ais p articu lares qu e exp õem esta p op u la-ção jovem à Aid s, fazen d o d ela p riorid ad e n os estu d o s só cio -a n tro p o ló gico s. Den tre ta is a s-p ectos, d estacam -se: lim ites cu ltu rais s-p rós-p rios p ara a fixação sim b ólica d as in for m ações; n e-cessid ad e d e tran sgred ir e exp erim en tar riscos; sistem a ed u cacion al d esestim u lan te; d esagre-gação fam iliar; au to-estim a b aixa e exp osição à violên cia.

Utiliza m os a m etod ologia q u a lita tiva , m ed ian te u m roteiro sem iestru tu raed o p ara as en -trevistas qu e, p or su a vez, con tem p laram os se-gu in tes p o n to s: a ) id en tifica çã o : id a d e, ren d a fam iliar, trab alh o rem u n erad o, lazer; b ) sexu a-lid a d e: exp eriên cia s sexu a is (h istó ria d e vid a sexu a l), a u to -id en tid a d e sexu a l, fid elid a d e, p rática ou sofrim en to d e violên cia sexu al, p rá-ticas erórá-ticas (d esejos e fan tasias), tip o d e rela-cio n a m en to a fetivo (n a m o ro, p a ixõ es, a m o r); c) con teú d os sob re p ap éis d e gên ero: atitu d es e p ráticas con sid erad as m ascu lin as ou fem in i-n as, relação com o corp o, am b ições, asp irações d e vid a fam iliar; d ) p ercep ção sob re HIV/ Aid s: con h ecim en tos sob re Aid s (tran sm issão e p re-ven çã o ), u so d o p reser va tivo, m u d a n ça s d e com p ortam en to e p ráticas sexu ais em relação à p reven çã o, en ten d im en to d o q u e seja sexo segu ro, n egociação sexu al.

O u so d a m etod ologia q u alitativa ju stifica-se p or p reten d erm os in vestigar q u estões rela-cio n a d a s à sexu a lid a d e e visã o d e m u n d o n o con texto d a ep id em ia d e HIV/ Aid s. Con sid era-m os q u e a u tilização d esta era-m etod ologia p ossi-b ilita u m a com p reen são m ais p rofu n d a d e cer-to s fen ô m en o s so cia is, leva n d o -se em co n ta a sp ecto s su b jetivo s d a a çã o so cia l em fa ce d a co n figu ra çã o d a s estru tu ra s só cio -cu ltu ra is e o s fen ô m en o s co m p lexo s e sin gu la rid a d es d a vid a sexu a l. Neste sen tid o, a o o p ta rm o s p elo

q u a lita tivo, a ssu m im o s, co m tra n q ü ilid a d e, o fa to d e ta l esco lh a n ã o ter sid o a rb itrá r ia . Ao co n trá rio, tra ta -se d e u m a o p çã o n a ten ta tiva d e esta b elecerm o s u m a in tera çã o co m n o sso m aterial em p írico.

Aid s rem ete n ecessariam en te ao com p lexo cam p o d a sexu alid ad e h u m an a. Algu n s au tores (Min ayo, 1993; Parker et al., 1995) têm d iscu tid o a qu estão m etotid ológica n esta área, p rop on -d o algu m as reflexões p ara o cam p o -d e in vesti-gação. A p artir d aí, p erceb em os q u e n ão b asta estu d ar m u d an ças n a exp ressão d o com p orta-m en to sexu al e d e atitu d es, orta-m as exaorta-m in ar a re-la çã o d essa s m u d a n ça s co m q u estõ es m a is p ro fu n d a s. Ou seja , é p reciso in vestiga r a fo r-m a co r-m o gên ero e sexu a lid a d e r-m a scu lin a fo-ra m o rga n iza d o s e in ter-rela cio n a d o s d en tro d as relações sociais (Parker, 1991).

En ten d em os qu e u m a ab ord agem qu e trata d a sexu alid ad e e b u sca o en ten d im en to d a su a co n stru çã o d eve a p o ia r-se n o p ressu p o sto d e qu e a m aior relevân cia se con cen tra n os asp ec-to s su b jetivo s d a a çã o so cia l, o q u e ju stifica trab alh arm os com o m étod o q u alitativo n este estu d o. Con sid era n d o-se esta p ersp ectiva , a l-gu n s p o n to s m erecem escla recim en to s: n ã o crem os qu e a ciên cia ten h a sid o h istoricam en -te n eu tra e n ão n os con ven ce o fato d e qu e, p a-ra q u e h aja ciên cia, a realid ad e d eva ta-rad u zir-se em d a d o s o b jetivo s, co n fo rm e a p rego a o id ea l p ositivista . Acred ita m os q u e o rea l p od e ser cap tad o, n ão com o u m esp elh o q u e reflete a con cretu d e virtu al d o fen ôm en o estu d ad o, e sim p ela con cep ção d e qu e ele é relativo e qu e, se a ssim é, fa zem o s d eterm in a d a s leitu ra s d o q u e ch am am os d e real. Ad em ais, esta p ostu ra a ssu m e to d o s o s lim ites m eto d o ló gico s q u e a q u estão en volve, p ois, ao d ep ararm o-n os com estes lim ites, en ten d em o s esta r en ca ra n d o fren te a fren te a p ossib ilid ad e d e m elh or p od er lid ar com os d ad os qu e colh em os.

As falas d e n ossos en trevistad os são p lu rais, refletem b em o q u a n to a q u estã o sexo é ta b u , segred o, p roib ição, rep ressão, p ecad o, orgu lh o, p od er, vergon h a, m ed o, d esejo, erotism o, satis-fa çã o, m o ra l, p erigo, risco. A satis-fa la so b re o sexo está en cob erta p or som b ras q u e en volvem fa-tos n u n ca ou p ou co d ifa-tos, ou d ifa-tos d e m an eira a en gan ar os ou vid os d o ob servad or, d o en tre-vista d or, d o ou vin te. Exp licita m n ã o a p en a s o q u e o s su jeito s id ea liza m q u e sã o e co m o se p erceb em , co m o ta m b ém esta b elecem u m a d em arcação en tre o lícito e o ilícito, o p ú b lico e o p rivad o, o ap rovad o e o rep rovad o, o cu m p ri-m en to d a lei ou su a tran sgressão.

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q u e assu m iam o d esejo d e ter relações sexu ais a p en a s co m o u tro s h o m en s. Estes fo ra m b u s-cad os através d e in d icações d e am igos qu e fq ü en tavam as ativid ad es d o p rogram a d e p re-ven çã o d e Aid s, d esen vo lvid o n a o rga n iza çã o n ã o govern a m en ta l d en o m in a d a Asso cia çã o Bra sileira In terd iscip lin a r d e Aid s (Ab ia ), cu ja freq ü ên cia se ca ra cteriza va , em su a m a io ria , p or joven s m orad ores d a Baixad a Flu m in en se e Zon a Norte d o Rio d e Jan eiro, com n ível sócio-econ ôm ico b aixo.

O segu n d o u n iverso se con stitu i d e joven s q u e tra n sita va m a ssu m id a m en te p o r p rá tica s sexu a is co m h o m en s e m u lh eres, e q u e se a u -to-id en tificavam com o b issexu ais, aos qu ais ti-vem os acesso tam b ém p or in term éd io d o p ro-gram a realizad o p ela Ab ia. Por fim , recru tam os joven s d en tro d e favelas, com u n id ad es d e b ai-xa ren d a p rop riam en te d itas, a fim d e ab ord ar h om en s qu e afirm avam relacion arse com m u lh eres, a u to id en tifica d o s co m o h etero sse -xu ais, os qu ais foram selecion ad os ap ós con ta-to s p révio s co m o Nú cleo d e Estu d o d e Sa ú d e d o Ad olescen te/ Uerj e Associação d e Morad o-res – Rocin h a.

No qu e d iz resp eito às características sócio-econ ôm icas, tod os os joven s têm em com u m o fa t o d e t ra b a lh a re m fo ra o u d isp o re m d e a l-gu m d in h eiro co m q u e p o ssa m a ju d a r em ca-sa, além d e se m an terem . Neste sen tid o, foram a b o rd a d o s estu d a n tes q u e receb em a lgu m a aju d a d e cu sto, ven d ed ores am b u lan tes, con tí-n u os, au xiliares d e escritório, m ecâtí-n icos, vitri-n istas e b iscateiros d e p eq u evitri-n os serviços e re-p aros. O n ível d e escolarid ad e tam b ém é b aixo, o scila n d o en tre o p rim eiro gra u co m p leto e o segu n d o grau in com p leto.

A escolarid ad e n ão foi d efin id a com o crité-rio d e n o sso estu d o, p o r n ã o ca ra cteriza r a sp ectos d e u m d eterm in ad o extrato social, fu n -d am en tal p ara a -d efin ição -d o u n iverso -d a p qu isa. Levam os em con ta qu e a vid a escolar es-tá m a rca d a m en te fra gm en ta d a em to d o s o s segm en to s so cia is e q u e, p o rta n to, n ã o seria u m b o m in d ica d o r p a ra ca ra cteriza r a d efin i-ção d o ob jeto estu d ad o.

Recru ta m o s joven s p o r m eio d e red es d e am izad es, ou seja, o p rim eiro con tato com u m in fo rm a n te a b riria a p o ssib ilid a d e d e o u tro s co n ta to s, fo rm a n d o u m a red e. Bu sca m o s jo -ven s com u n s, q u e n ão se d estacassem p or se-rem lideran ças ou m ilitan tes de qu alqu er cau sa id eológica. Além d isso, tivem os tam b ém o cu i-dado de n ão recru tar aqu eles com in serção p ro-fissio n a l em tra b a lh o s p reven tivo s d a Aid s o u qu e tivessem p assado p or algu m tip o de trein a-m en to a-m eto d o ló gico esp ecífico ea-m ed u ca çã o sexu al n as in stitu ições p or n ós con tactad as.

A estra tégia d e recru ta m en to p o r red es d e am izad es ou red es d e recru tam en to d irecion a-d o a-d e a m o stra gem fo i a p o n ta a-d a p o r Pa rker (1994) com o ten d o o ob jetivo d e su p erar as d i-ficu ld ad es in eren tes à con stru ção d e am ostras d e p rob a b ilid a d e a lea tória , q u e sã o rep resen -tativas em estu d os sob re p ráticas sexu ais m as-cu lin as n o con texto d o HIV/ Aid s. Segu n d o Par-ker (1994:60), “a m aior parte do qu e se pode sa-ber sobre risco sex u al n essas p op u lações d eve basear-se em estratégias direcion adas de am os-tragem , in evitavelm en te lim itadas pelas opções dispon íveis para o recru tam en to de participan -tes”.

O leva n ta m en to feito p o r red es d e a m iza -d es ju stifica-se p or se tratar -d e u m a in vestiga-ção q u e ab ord a asp ectos q u e d izem resp eito à p rá tica e à h istória sexu a l, à p ercep çã o d a a u -to-id en tid ad e sexu al m ascu lin a. O estu d o, p or si m esm o, ap resen ta lim itações, p or en volver a sexu alid ad e d e su jeitos m u ito joven s, ain d a em fase d e form ação in telectu al e m oral. Além d is-so, in teressa-n os n ão som en te ab ord ar aqu eles qu e se id en tificam ab ertam en te com o gays, co-m o ta co-m b éco-m in clu ir o s q u e p o ssu eco-m rela çõ es o ca sio n a is co m o u tro s h o m en s e ta m b ém o s qu e têm fan tasias a esse resp eito, sem a isso as-sociarem u m a id en tid ad e; con sid eram os ain d a a so cia b ilid a d e sexu a l d e joven s m a scu lin o s q u e u sa m ser viço s d e p ro fissio n a is d o sexo, q u e têm rela çã o co m a esp o sa em ca sa e co m o u tra m u lh er n a ru a , en tre o u tra s q u estõ es p articu lares, p ou co d itas n o cotid ian o.

Com relação a este asp ecto, n ão se con h ece a d eq u a d a m en te a s ca ra cterística s d a p rá tica sexu a l m a scu lin a ; a lém d isso, n ã o existe u m p erfil qu e p ossa tran sm itir u m a visib ilid ad e d e d eterm in ad os com p ortam en tos sexu ais, cap az de se tradu zir em am ostra. Portan to, é im p ossí-vel trab alh ar com am ostras aleatórias qu e p er-m itaer-m gen eralizar con clu sões. O caer-m in h o er-m ais viável é ab ord ar su jeitos p erten cen tes a gru p os o u co m u n id a d es, co n h ecid o s p u b lica m en te p or su as m an ifestações sexu ais e, a p artir d aí, recru tar in form an tes, qu e, com o já foi dito, têm u m vín cu lo in d ireto com tais gru p os. A ab ord a-gem , feita p o r in term éd io d a s red es, ga ra n te resu ltad os sólid os cap azes d e refletir a d iversi-d aiversi-d e iversi-d os su jeitos estu iversi-d aiversi-d os (Giam i, 1994).

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estab elece, qu an titativam en te, n ú m eros d e in -form an tes. Tal p ersp ectiva é p erceb id a p ela fa-la d o s su jeito s, cu ja s rep resen ta çõ es sim b ó li-ca s exp rim em cu ltu ra lm en te a s id éia s d e u m gru p o ou extrato social (Min ayo, 1993).

Os con ta tos p relim in a res p a ra en tra d a em ca m p o se d era m a p a rtir d e in stitu içõ es q u e d esen volvia m tra b a lh os com joven s, m ora d o-res em p eriferia s e fa vela s d o Gra n d e Rio, em localid ad es q u e se caracterizavam p or p ossu í-rem con d ições p recárias d e qu alid ad e d e vid a. Bu scam os con tatos com a Ab ia, q u e trab a-lh a com p reven ção ju n to a h om en s q u e fazem sexo com h om en s; com a Associação d e Mora-d ores Mora-d a Rocin h a, qu e Mora-d esen volve u m trab alh o d e p rofission alização d e joven s; com o Nú cleo d e Estu d o s d e Sa ú d e d o Ad o lescen te – NESA/ Uerj, q u e faz aten d im en to clín ico, p rom oção e p re ve n çã o e m sa ú d e e se xu a lid a d e, e n tre o u tras áreas. Estas in stitu ições, con tu d o, con figu -ram -se, n este estu d o, ap en as com o cen ário n o q u a l loca liza m os n ossa s red es d e a m iza d es (o ‘am igo d o am igo d o am igo’ vin cu lad o, d e algu m a form a , a esta s in stitu ições, foi o n osso en -trevistad o).

Com o ten tam os d em on strar, a p rim eira or-d em or-d e q u estões or-d iz resp eito à n ossa in serção n o cam p o. Nossa ten tativa foi a d e n ão b u scar a s via s b u ro crá tica s p a ra ter a cesso a o s in fo rm a n tes, o u seja , evita rm o s o fício s, rm erm o ra n -d os, cartas e to-d a or-d em -d e p ap éis qu e viessem estab elecer algu m en trave n a execu ção d o tra-b alh o. Ap esar d e n os p osicion arm os acad em i-cam en te com as coord en ad orias in stitu cion ais, ten tam os op eracion alizar o trab alh o a qu e n os p rop om os com au ton om ia e tran sp arên cia.

Result ados

Para n ossos en trevistad os, a con stru ção d o gê-n ero está ligad a a atos d e resp ogê-n sab ilid ad e e a valores q u e estab elecem lim ites d e esp aço en tre a se xu a lid a d e d e se m p e n h a d a co m a m u -lh er, em ca sa , e a exercid a em o u tra s circu n s-tân cias. Há a rep resen tação d e qu e h om em qu e é h o m em d eve ser b o m p a i, b o m m a rid o, tra -b alh ad or, e d eve d esem p en h ar -b em o p ap el se-xu al. Ob servam os q u e p ossu em a con sciên cia d os p ap éis m ascu lin os exercid os cu ltu ralm en -te, o s q u a is se co n figu ra m p o r in term éd io d o trab alh o e d o sexo. Ap aren tem en te p arece ser-lh es in côm od o rep resen tar os p ap éis d e corre-ção e firm eza d en tro d e con textos d e con trad i-çõ es so cia is e cu ltu ra is, n o s q u a is, a o m esm o tem p o em q u e se exige a exp ressão d o gên ero, req u er-se flexib ilid a d e n a m a n u ten çã o d este id eal d e h om em .

As fa la s exp ressa m va lo res q u e o ra d en o tam críticas ao estereótip o d o gên ero, ora assu -m e-m asp ectos d esse estereótip o. Esta a-m b igü i-d ai-d e i-d en ota o q u an to h á u m m oi-d elo en raiza-d o raiza-d e h om em , segu n raiza-d o o q u al a relação com a p a rceria a m o ro sa (co m q u em co m p a rtilh a a ca sa ) rea liza -se em u m co n texto d e co n tra d i-çã o cria d a p elo id ea l d a sexu a lid a d e a tiva d os h om en s e a d a p assivid ad e/ p u reza d as m u lh e-res (Giffin , 1991, 1994). Fica claro p ara estes jo-ven s o fa to d e q u e estã o sen d o cr itica d o s em d ecorrên cia d a ad esão a valores qu e ap regoam p u b licam en te virilid ad e e p otên cia d e u m ‘ga-ran h ão’. Tais críticas são p roven ien tes d as circu n stân cias afetivas em qu e as m en in as reivin -d icam u m a n ova rep resen tação m ascu lin a, fra d os p ad rões d e estereótip o. In teressan te n o-tar n as falas q u e, ap esar d e afirm arem tais es-tereó tip o s co m o d efin içã o p a ra ser h o m em , p referem a firm a r q u e n ã o rep ro d u zem esses m od elos.

Perceb e-se, en tão, qu e o caráter d o h om em é a va lia d o d e a co rd o co m a m a n eira co m o se ap resen ta n o m u n d o extern o, p ú b lico, d a ru a, e d a form a com o m ostra o seu d esem p en h o se-xu a l n a esfera p riva d a , n o m u n d o in d ivid u a l, en tre q u atro p ared es. Em ad ição, ob servam os q u e a rep resen tação d o ser h om em con tin u a a ser aqu ela qu e m ostra qu e o h om em ap ren d e o sexo n a ru a – seu d o m ín io –, a o p a sso q u e a m u lh er o fa z em ca sa , co m ele. Este co n texto n ão é aceito sem críticas; ap resen ta-se ch eio d e co n tra d içõ es, u m ir e vir d o s m o d elo s e este -reó tip o s p ré-co n ceb id o s, q u e d em o n stra m u m a in sa tisfa çã o d e u m jovem h o m em co m a im agem q u e p recisa tran sm itir d ele m esm o: o im p u lso a gressivo e a tivo sexu a lm en te co m o referên cia d e m ascu lin id ad e.

Ter u m a esp osa tam b ém é visto com o u m a n orm a cu ltu ra l q u e d eterm in a o q u e é ser h o-m eo-m ; ca sa r, n este sen tid o, está rep resen ta d o com o u m rito d e p assagem p ara a fase ad u lta, m u ito a lm eja d a p or estes joven s. Pa ra a lgu n s, ter u m a m u lh er qu e será m ãe d e seu s filh os es-tá co lo ca d o co m o u m a p o siçã o q u e co n stitu i statu s, su cesso, a ceita çã o e d o m in a çã o, ta n to em rela çã o a o u tro s h o m en s, q u a n to em rela-çã o à s m u lh eres, co m o se ressa lta sse u m a s-p ecto d a essên cia d a m ascu lin id ad e.

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tid atid e com o algo qu e é n egatid o m oralm en te, cu jo sim b ó lico está rep ro d u zid o co m o u m em -b lem a q u e reflete asp ectos d e p assivid ad e, fe-m in ilid a d e, u fe-m h o fe-m efe-m q u e n ã o d eu cer to. O qu e p rop orcion a con flitos e au to-estim a m u ito b a ixa , en tre a q u eles q u e fa zem sexo co m h o -m en s e se au to-d en o-m in a-m h o-m ossexu ais.

Para n ossos in form an tes qu e se relacion am sexu alm en te com h om en s, a trajetória p ara se ch egar à p osição d e h om ossexu al é aq u ela p or m eio d a q u al se vai ap ren d en d o a ad ap tar-se e in corp orar os sign ificad os d a d iferen ça sexu al n a vid a cotid ian a. Tal con stru ção se ap resen ta ch eia d e p ercalços e d ú vid as em razão d a h ete-rossexu alid ad e im p osta socialm en te p elo este-reótip o d o gên ero m ascu lin o. Nesse sen tid o, é co m p lexo o p ro cesso d e co n stru çã o d e u m a id en tid ad e livre d a socialização à qu al os su jei-tos são su b m etid os.

No sso s en trevista d o s exp licita m em su a s falas o q u an to a con stru ção d a h om ossexu ali-d aali-d e tem a con otação n egativa ali-d e u m estilo ali-d e vid a q u e con traria as exp ectativas d o q u e é ser h om em , p erceb id o p or u m su jeito q u e se rela-cion a sexu alm en te com ou tros h om en s e, p or-ta n to, vê-se d ivid id o, fra gm en or-ta d o en tre su a id en tid ad e sexu al e su a id en tid ad e d e gên ero. Ob serva m os q u e a b issexu a lid a d e é vivid a n u m a situ ação d e b aixa estim a e q u e tam b ém está con stru íd a segu n d o o con ceito d e d esvio, a n o rm a lid a d e, p o is tem co m o p a râ m etro a m esm a p ercep ção d o ser h om em b asead a cu l-tu ralm en te em p rin cíp ios d itos h eterossexu ais.

En fim , q u a n d o u tiliza m a p a la vra h o m em p a recem esta r se referin d o a o tip o d e esco lh a sexu al em q u e o exercício viril con tin u a d itan d o a s regra s n a s rela çõ es m a scu lin a s. A h ete -ro ssexu a lid a d e é co n sid era d a h egem ô n ica e d ad a p ela n atu reza, con form e p erceb em os n as fa la s. Nã o se esco lh e ser h etero ssexu a l: sim p lesm en te se é, com o u m a referên cia ao com -p orta m en to -p a ra o h om em . A h eterossexu a lid alid e, en tão, p assa a ser a exp ressão in lid issolú -vel d e seu m od o característico d e ser ativo.

Perceb em o s, sem m u ita d ificu ld a d e, q u e, ap esar d os an os d e con vivên cia com a p an d e -m ia , a p roxi-m id a d e co -m a Aid s n ã o resu lto u em efetiva au top roteção, m as n u m a vu ln erab i-lid a d e a in d a co n sid erá vel em rela çã o a ela . O risco p ara as d oen ças sexu alm en te tran sm issí-veis n ão sofreu alteração sign ificativa en tre es-ses joven s m a scu lin o s q u e in icia ra m su a vid a sexu al n o con texto d a ep id em ia, ap esar d e afir-m areafir-m tereafir-m afir-m u d ad o o coafir-m p ortaafir-m en to.

Ob ser va m o s n a s fa la s q u e a q u estã o d a Aid s evid en cia p reocu p a çã o e m ed o, m a s n ã o leva a u m a efetiva p ro teçã o. A in fo rm a çã o n o qu e d iz resp eito à p reven ção e a asp ectos b

ási-cos sob re a tran sm issão é relativa. Ap esar d is-so, o su jeito recon h ece os equ ívocos d e relacio-n ar a ep id em ia aos h om ossexu ais. Para algu relacio-n s, a s p reo cu p a çõ es sexu a is gira m em to rn o d a gravid ez e d a fid elid ad e, p ois qu an d o se con si-d era a p a rceira ou o p a rceiro fiel, n ã o se u sa a cam isin h a.

Ap esar d e o u so d a cam isin h a estar p resen -te n as su as vid as sexu ais, isso p arece estar m ais relacion ad o ao p od er d e con trole qu e ela p od e oferecer sob re a rep rod u ção e a fertilid ad e fe-m in in a. Aléfe-m d isso, ob servafe-m os tafe-m b éfe-m q u e a d ificu ld ad e d e acesso à cam isin h a n o con tex-to d a sed u ção sexu al leva-os a ter relações se-xu ais sem se p roteger d evid am en te.

A Aid s é u m a qu estão em su as vid as e ap re-sen ta-se com o ten d o sid o im p actan te p ara esta gera çã o. Ao rela ta rem o s tip o s d e m u d a n ça s o co rrid a s, o b ser va m o s q u e a d im in u içã o d o n ú m ero d e p a rceria s sexu a is se fa z evid en te, asp ecto ressaltado em cam p an h as n acion ais te-levisivas realizad as p elo govern o. O fato é q u e este asp ecto da p reven ção, assim com o o m ode-lo de relação Aids e grup o de risco, é um equ ivo-co qu e p arece calcificad o, p ois a d im in u ição d e p a rceiro s sexu a is o u a su a seleçã o n ã o rep re-sen ta u m a clara d efin ição d o p rob lem a.

Qu a n d o esses joven s d izem sa b er a lgu m a coisa sob re a Aid s, o q u e se ob serva é q u e esse con h ecim en to é relativo. De m an eira geral, n ão são cap azes d e assu m ir n a p rática sexu al as in form ações qu e d izem ter. A sín d rom e ap resen -ta-se com o u m p rob lem a ain d a n ão corriq u eiro, ap esar d e d esp ertar m ed o ou p aran óia, sen -tim en tos qu e p od em rep resen tar u m m om en to d e a lien a çã o em rela çã o à q u estã o ; q u a n d o m u ito, referem -se à d oen ça ao falarem sob re os relacion am en tos sexu ais casu ais, n egligen cian -d o a p reven ção n os relacion am en tos fixos.

Con sid eram os qu e a eficácia d a in form ação sob re a Aid s e os riscos d e con tágio p arece d e-p en d er d e ou tros fatores q u e n ão o teor racio-n alizad or d o coracio-n h ecim eracio-n to sob re as form as d e tran sm issão d o HIV. Assim , p erceb em os q u e a m otivação p ara a p reven ção d a sín d rom e n ão é rem o ta , n em se tra ta d e u m a q u estã o p a ra o s ou tros, m as algo p resen te, q u e p od e ser cap az d e fa zer m u d a r. Prova d isso é a vo n ta d e q u e m an ifestam d e fazer o teste an ti-HIV e o m ed o d a p ossib ilid ad e d e serem in fectad os, asp ectos esses ob serva d os n os vá rios rela tos d e n ossos en trevistad os.

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Conclusões

Nu m âm b ito m ais geral, p od em os con clu ir qu e rep resen tações d e sexu alid ad e(s) estão su rgin -d o e se -d esen volven -d o n o p rocesso -d e ap areci-m en to d a Aid s. Neste sen tid o, a exp eriên cia erótica m ascu lin a p od e forn ecer fu n d am en tos p ara a elab oração d e estratégias q u e irão p ro-m over a p reven çã o. Preserva tivo s ro-m a scu lin o s estã o so b co n tro le d o h o m em , e n ã o d a m u -lh er; n este sen tid o, p reven ção articu la-se com gên ero. Ou seja, o d eb ate p reven tivo d everá li-d a r co m o s a sp ecto s li-d e gên ero, m en o s co m o u m a b arreira à elab oração d e n ovos m étod os e m ais com o u m a lu z q u e ven h a colocar o tem a d a erotização d as p ráticas sexu ais segu ras p ara o H IV/ Aid s, d e m a n eira exp lícita , em ca m p an h as p ú b licas qu e trab alh em a qu estão d os p a p éis sociais legad os a h om en s e m u lh eres, ten -d o com o b ase su as im p licações p olíticas -d en-tro d e u m am p lo con texto ed u cacion al.

Perceb e-se qu e as m u d an ças em tem p os d e Aid s ab ran gem fatos m ais am p los, com o a cu l-tu ra sexu al, e m en os esp ecíficos, com o é o caso d as relações sexu ais em si. Isto é, ao revisitar-m os o con ceito d e h orevisitar-m ossexu alid ad e, h eteros-sexu alid ad e e b iseteros-sexu alid ad e m ascu lin a ob ser-vam os qu e, tan to n o esp aço p ú b lico, qu an to n o esp a ço p riva d o d a s rela çõ es sexu a is, o s su jei-tos assim classificad os n ão ap resen tam resp os-tas p ad ron izad as d ian te d a am eaça d a sín d ro-m e. Assiro-m , h oro-m en s, ‘ro-m a ch os’, h eterossexu a is, ‘vead os’, ‘b ich as’, h om ossexu ais, ‘b oiolas’, en tre o u tra s cla ssifica çõ es q u e ten ta m id en tifica r aq u ele q u e está coletivam en te d en tro d a ‘n or-m a’ e q u e or-m se e sta b e le ce fo ra o u d e n tro d e la d e ou tra m an eira, in form am -n os qu e viver p le-n am ele-n te a sexu alid ad e é p erceb er-se d ele-n tro d e u m co n texto d e sa tisfa çã o eró tico -a fetiva , n o q u a l h á p o d eres d esigu a is e h iera rq u ia s a n ta -gôn icas (Costa, 1992).

Ap esar d a com p lexid ad e e p lu ralid ad e q u e caracterizaram as id en tid ad es d os su jeitos aqu i en volvid os, ten tam os estab elecer, com o exercício d e con clu são, algu m as an álises m ais ge -rais, em n ível d os estereótip os d os gên eros e d a sexu alid ad e:

• a cu ltu ra d o m ach ism o se faz p resen te e or-ga n iza id eo lo gica m en te o s rela cio n a m en to s sob a ótica m ascu lin a;

• to d o s o s en trevista d o s d em o n stra m a titu -d es q u e oscilam en tre o estereótip o m ascu lin o e com p ortam en tos críticos em relação a eles; • vêem a sexu a lid a d e fem in in a e m a scu lin a com o ten d o sid o con figu rad a segu n d o u m a d i-visão n atu ral e b iológica;

• a sexu a lid a d e m a scu lin a é p erceb id a e viven cia d a co m o a lgo q u a se in co n tro lá vel, en

-qu an to a sexu alid ad e fem in in a é p erceb id a co-m o u co-m ob jeto d o con trole co-m ascu lin o;

• a n oção d e h om em é a qu e o vê com o aqu e le qu e d eve com eçar a ativid ad e sexu al b em jo -vem ; é ‘n atu ral’ o h om em ter m ú ltip los p arceiros sexu ais, tan to an tes, q u an to d ep ois d o ca -sam en to;

• a ‘b rin ca d eira d e sa ca n a gem’ está liga d a à tran sgressão às ‘n orm as’; isto tam b ém d á m u i-to p ra zer e está in tim a m en te liga d o à p rá tica sexu al an al e aos ritu ais d e ‘m ein h a’ ou ‘troca-troca’ com ou tros h om en s;

• a p rática sexu al está p erm ead a p or con d u -ta s h iera rq u iza d a s d e rela çõ es d e p o d er: n o âm b ito d os relacion am en tos h om ossexu ais, as d im en sõ es d a p rá tica sexu a l ‘a tiva’ e ‘p a ssiva’ rep ro d u zem a sp ecto s q u e n o r teia m statu s e p od er d o gên ero m ascu lin o; n a esfera d os rela-cion am en tos h eterossexu ais, as m u lh eres exer-cem p o u co o u n en h u m d ireito rela tivo à exp ressã o sexu a l m a scu lin a , en q u a n to o s h o m en s d etêm m aior p od er n o con trole d o com -p ortam en to sexu al d as m u lh eres;

• a cred ita m esses su jeito s q u e a p rá tica se -xu a l d eve ser d esem p en h a d a , n a m ed id a em q u e os p ap éis m ascu lin os q u e legaram d a cu l-tu ra im p ossib ilitam -n os d e d izer n ão.

Ao d estacarm os algu n s asp ectos relacion a-d o s à q u estã o a-d a Aia-d s, p o a-d em o s a firm a r q u e tod os os joven s m ostram u m relativo con h eci-m en to sob re o a ssu n to. Algu eci-m a s q u estões so-b ressa íra m co m o a sp ecto s q u e co n sid era m o s relevan tes, qu e p od em ser in d icad ores a se d is-cu tir n o co n texto p reven tivo d a ep id em ia . Ao en ten d erm o s a o rga n iza çã o so cia l e cu ltu ra l d os relacion am en tos en tre am b os os gên eros e as form as com o as n oções d e gên ero são estru -tu ra d a s, ta m b ém p o d em o s ser leva d o s a vis-lu m b rar as p ossib ilid ad es d e m elh or d ifu são d a p rá tica d o sexo segu ro. Este p o d e ser u m ele -m en to -ch a ve p a ra se p en sa r critica -m en te o s p ap éis sexu ais e as form as com o os su jeitos os viven ciam .

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gen eralização social a p artir d e u m a id en tid a-d e p articu lar e vice-versa. Ia-den tifican a-do-se com os riscos, se sen sib ilizam com a n ecessid ad e d e p reven ção. Mesm o assim , o h om em n u n ca d e-ve d izer n ã o o u co n tro la r su a sexu a lid a d e, o qu e faz com qu e n em sem p re u se cam isin h a.

Com b ase n os relatos d e n ossos in form an -tes, p erceb em o s p o r q u e a Aid s se exp a n d e, a tu a lm en te, p rin cip a lm en te en tre o s su jeito s a u to -id en tifica d o s co m o h etero ssexu a is. Ela rep resen ta, p ara estes n ossos in form an tes q u e in iciaram su a vid a sexu al em con texto d e ep i-d em ia, u m a p reocu p ação evii-d en te, e a p rin ci-p al atitu d e ressaltad a n o qu e d iz resci-p eito à ci-p re-ven çã o é o u so d a ca m isin h a . Mesm o a ssim , esta ap arece n egligen ciad a n o con texto d as relações afetivas e regu lares, d estacan d ose, en -tre os h eterossexu a is, m a is com o p reven çã o à gra vid ez. Alé m d isso, a s re p re se n ta çõ e s q u e têm sob re a m u lh er n este con texto on d e se evid en cia m aior n egligên cia evid o sexo segu ro e on d e as relações são regu lares tam b ém ap resen -tam -se com o u m p rob lem a, exp licitan d o qu e a cu ltu ra d e gên ero d eve ser relativizad a n o d is-cu rso p reven tivo.

Em resu m o, a ten tativa d everá se voltar, p ara in tervir n ão n a m u d an ça d o com p ortam en -to sexu al em si, m as n as form as com o os su jei-tos con ceb em as su as relações sexu ais, n a m n eira com o as viven ciam e p erceb em as situ açõ es d e vu ln era b ilid a d e a q u e a s d o en ça s se -xu a lm en te tra n sm issíveis – en tre ela s o H IV/ Aid s – exp õ em -n o s. A q u estã o a go ra é sa b er: on d e a con stru ção d a sexu alid ad e se in sere, ou seja , em q u e rep resen ta çã o, sím b o lo, a n á lise, o rd e m , n o rm a , visib ilid a d e d o s d iscu rso s e p ráticas sexu ais relatad as; o q u e é o su jeito se-xu al e em q u e m ed id a esta h ip otética red efin i-ção resu ltou em algu m avan ço m oral, p ara qu e, assim , q u em sab e, os su jeitos p erceb am a Aid s com u m a d oen ça q u e p od e ser evitad a d en tro d e u m a am p la con scien tização p olítica sob re o m u n d o, a socied ad e, a cu ltu ra, o corp o, o sexo e o qu e fazem os com ele.

É evid en te q u e, en tre o s a sp ecto s d o s p a -d rões cu ltu rais qu e foram ob serva-d os, o fato -d e o s su jeito s tra n sita rem p ela s p rá tica s sexu a is n os leva a crer q u e a p reven çã o d eve leva r em con ta d iversos gru p os e com u n id ad es, com b a-se em estratos sócio-econ ôm icos, crian d o m e-to d o lo gia s q u e a b o rd em n ã o a p en a s a s q u es-tões esp ecíficas d os com p ortam en tos d e risco relativos ao HIV/ Aid s, m as tam b ém p rob lem as m ais gerais existen tes em n ossa socied ad e, tais com o d esigu ald ad e e in ju stiça social, estigm a-tiza çã o e d iscrim in a çã o sexu a l, m o b iliza çã o com u n itária, a fim d e se red u zir a vu ln erab ili-d aili-d e social, n ão só ao HIV/ Aiili-d s, com o tam b ém

a tod as as qu estões d e cid ad an ia. Isto se ju stifi-ca p elo fa to d e esta ep id em ia tra d u zir-se em u m a co n tecim en to so cia l to ta l, p o is en vo lve qu estões am p las d e n ossa cu ltu ra.

Ao lid a r co m q u estõ es q u e en vo lvem a se-xu a lid a d e d e joven s, o b ser va m o s q u e p a rece h a ver u m certo silên cio q u e sep a ra a s regra s ro m p id a s p ela p ró p ria sexu a lid a d e p ra tica d a n o cotid ian o. Assim , a p rática sexu al é algo p a-ra ser feito d en tro d e u m co n texto vela d o e clan d estin o, está sem p re n o lu gar d o p roib id o e, p ortan to, das qu atro p aredes, u m a coisa con -fid en cial, p ois está ch eia d e m isteriosas q u es-tões ain d a d escon h ecid as, m as m u itas vezes já viven cia d a s (Pa iva , 1994). Sexo a n tes d o ca sa-m en to, in cesto, h o sa-m o ssexu a lissa-m o, estu p ro, p rostitu ição, ab orto, gravid ez, orgasm o, virgin -d a-d e, -d oen ças sexu alm en te tran sm issíveis fa-zem p arte d o scrip td a exp eriên cia sexu al e d o silên cio d e m u itos joven s, p rin cip alm en te d os qu e m oram em com u n id ad es d e b aixa ren d a.

É o bvio q u e o tra b a lh o p reven tivo co m jo -ven s d e b aixa ren d a n os im p õe d esafios. En tre eles o fato d e os joven s estarem em m ovim en to, isto é, su a s vid a s estã o m a rca d a s p o r in ú -m eras p riorid ad es e a qu estão d a p reven ção d a Aid s está lon ge d e ser aferid a com o u m a refle-xã o em si, a sp ecto m u ito co m p reen sível. Os p rob lem as relacion ad os à sob revivên cia colo-ca-os fren te a fren te com a n ecessid ad e d e ga-n h ar d iga-n h eiro m u ito ced o. Os coga-n staga-n tes p ro-b lem a s fa m ilia res a sso cia d o s a o u so in d iscr i-m in ad o d a b eb id a e d e ou tras d rogas ilícitas, a b a ixa esco la rid a d e, o d esem p rego e o su b em -p rego oferecem a algu n s joven s -p ou ca ex-p ecta-tiva n a su a p róp ria vid a, p ou co estím u lo e b ai-xa au to-estim a. Tod as estas qu estões con d icio-n a d a s a u m a m b ieicio-n te d e vio lêicio-n cia icio-n o s co lo ca d ian te d e u m a realid ad e qu e tem exigid o m u ita cria tivid a d e e p e rsp icá cia p a ra o d e se n vo lvi-m en to d e ativid ad es sistelvi-m áticas q u e ven h alvi-m fa zer co m q u e o s joven s p erm a n eça m n u m a p rop osta d e solid aried ad e esp ecífica focaliza -d a n a p reven ção -d a Ai-d s.

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En ten d em os q u e é fu n d am en tal, ao trab a-lh a r com p reven çã o, b u sca r (d es)cob rir o q u e é rea l n o co tid ia n o d a sexu a lid a d e e o q u e é id e a l, co lo ca d o p e la s id e o lo gia s d o m in a n t e s e p elos d iscu rsos con servad ores. Pod ese con -sid era r q u e tra b a lh a r co m o rea l é leva r em co n ta q u e a im a gin a çã o sexu a l n ã o é u tó p ica , p o r t a n t o n a d a m a is re st a n a p r á t ica se xu a l p a ra se r in ve n t a d o, a n ã o se r o e xe rcício d o

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