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Métodos que apontam caminhos

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MÉTODOS QUE

APONTAM CAMINHOS

Trazer o estudante para a condição de construtor do próprio conhecimento, responsável

por seu aperfeiçoamento pessoal e profissional, exige a quebra de velhos padrões de

comportamento que não mais se sustentam na Sociedade do Conhecimento

Por Daisy Grisolia

O

s processos de ensino-aprendizagem preci-sam ser pensados em termos dos desafios e do conhecimento contemporâneo. Aprender e ensinar a lidar com a incerteza e a volati-lidade do conhecimento, a interatividade, a diversidade, a produção coletiva do saber e as tecnologias da informação fazem parte desses desafios.

Isso implica em ter sistemas que tratem a questão do conhecimento de forma dinâmica e a partir de pelo menos três perspectivas: 1) mapear as questões, necessi-dades e tendências do nosso tempo, ou seja, a análise do cenário; 2) conhecer os atores sociais envolvidos e deli-near as relações entre eles na produção e disseminação do conhecimento; e 3) promover o desenvolvimento de soluções e difundir os novos conhecimentos.

Sob esse prisma, a questão da metodologia de ensino-aprendizagem, para o programa GVlaw, vai além da mera consideração sobre abordagens e técnicas para “dar aulas”. Trata-se muito mais de pensar sobre as condições necessárias para a construção de um ambiente capaz de promover e facilitar a aprendizagem para estudantes em diferentes situações e localizações. Este deve incluir, além de cursos, bibliotecas, laboratórios, eventos, seminários, pesquisas, produção de material de apoio (bibliográfico e na web) e o desenvolvimento de redes de relacionamen-tos na forma de comunidades de prática e aprendizagem. Docentes e discentes certamente são protagonistas que, nesse ambiente, contam com o apoio indispensável de equipes multidisciplinares responsáveis pelos trabalhos de administração, gestão e infra-estrutura.

As questões aqui apresentadas são fruto de um processo sistemático de questionamento, sensibilização e

capacita-ção docente que se desenvolveu ao longo de 2007. O que foi possível por causa da interação entre os profissionais que de algum modo fazem parte do programa GVlaw.

A tecnologia não é boa nem ruim, e também não é neutra. (Melvin Kranzberg) O que se quer com os processos de ensino-aprendi-zagem nos cursos de especialização em Direito? Quem são os estudantes e como eles aprendem? Ao final do processo os estudantes precisam ou devem adquirir quais saberes e competências? E para quê? Quem são os do-centes e como eles ensinam?

As respostas a essas perguntas são os parâmetros orien-tadores das escolhas em termos de concepções teóricas que darão suporte aos programas de ensino. Definem os objetivos da aprendizagem e conseqüentemente a abordagem metodológica mais adequada para que esses mesmos objetivos possam ser atingidos, na medida em que toda metodologia traz em si uma intencionalidade e uma forma de entender o mundo.

Os cursos de especialização do Programa GVlaw são oferecidos para profissionais do Direito em busca de atu-alização, de aperfeiçoamento e de conhecimentos especí-ficos que contribuam para o desenvolvimento na carreira, em suas diferentes configurações, respondendo a pressões, desafios e exigências do mercado de trabalho.

Há um forte componente pragmático nessa busca pelo conhecimento, representado por: 1) ênfase em ensinar e aprender fundamentalmente “como se faz”, adquirir competências e, 2) necessidade de obter resul-tados concretos em termos de aprendizagem e impacto no desempenho profissional.

Os atores sociais: o estudante do GVlaw

Considerando o processo de ensino-aprendizagem como algo que se dá no espaço de interação entre pro-fessor e aluno, explorar e conhecer de forma sistemática as características dos professores e estudantes é indispen-sável para o planejamento de atividades que promovam e facilitem a aprendizagem efetiva.

Os estudantes do GVlaw são adultos que trabalham na área e dividem o seu tempo entre os estudos de especiali-zação e as atividades profissionais. Queixam-se com fre-qüência da falta de tempo para estudar e preparar traba-lhos acadêmicos e, em parte, são pontuações pertinentes. Os cursos de especialização em geral reúnem estudantes com objetivos e interesses diversos, com graus diferentes de experiência. Ao lado de um profissional experiente, em busca de atualização e reciclagem, há o jovem recém-for-mado atraído pela possibilidade de aprimoramento para iniciar carreira. Separados por poucos anos, esses dois grupos têm diferentes formas de estudar e aprender. Em comum têm a formação em Direito, sem dúvida uma das áreas do conhecimento mais tradicionais em sua práxis e

nos seus modos de transmitir o conhecimento.

Grande parte da responsabilidade sobre os resultados escolares é atribuída ao desempenho do professor. É dele que se espera a criação das estratégias que facilitem o aprendizado, que tornem as aulas lúdicas e agradáveis e, se possível, os estudos um sucesso total com o menor esforço possível! No processo de ensino-aprendizagem qual o papel de quem aprende? Seguramente não é o de um personagem passivo que recebe, inerte, ações que vão tirá-lo da escuridão e inseri-lo no mundo do saber.

Tais fantasias sobre o ensino-aprendizagem encon-tram-se muito mais arraigadas do que gostaríamos de imaginar. Se acompanharmos, com um olhar crítico, as notícias e a publicidade das Instituições de Ensino Superior (IES), sejam elas públicas ou privadas, teremos a impressão de que basta entrar e sair magicamente. Não existe docência sem discência e se o aprendiz assim se comporta é porque assim aprendeu.

Trazer o estudante para a condição de construtor do próprio conhecimento, responsável por seu aperfeiçoa-mento pessoal e profissional, exige a quebra de velhos padrões de comportamento que não mais se sustentam na Sociedade do Conhecimento. Passa por romper com as expectativas de que existe um conhecimento pronto e acabado, de transmissão simples, bastando incorporá-lo

de algum modo para conquistar o diploma, o sucesso pro-fissional e a vitória na competição entre os melhores.

Estudar exige dedicação e esforço. Passa pelo território da vontade. É preciso que a aprendizagem adquira senti-do e significasenti-do na existência de quem aprende, ancoran-do os novos conhecimentos naquilo que já é sabiancoran-do.

Assim, aprendizagem envolve mudança de compor-tamento e isso só é possível na pessoa e pela pessoa do estudante. “Ninguém aprende pelo outro”, ensina o professor Marcos Masetto num livro já clássico, O pro-fessor universitário em aula. Não se trata de um processo quantitativo de aquisição de conhecimentos, mas sim de um processo qualitativo de transformação estrutural da inteligência do estudante, tornando-o mais bem pre-parado para novas aprendizagens.

O aluno percebido

Nos resultados preliminares de um estudo explorató-rio ainda em andamento encontramos indicações signi-ficativas de quão importante é entender as relações e as percepções que se estabelecem entre os estudantes e seus

professores, e as conseqüências dessas mesmas relações em termos de expectativas e efetividade dos processos de ensino-aprendizagem. Perguntamos aos professores e aos alunos qual o grau de importância atribuída a cada uma das competências listadas (como instrumentação para a prática, capacidade de tomar decisões, habilida-de para lidar com um ambiente habilida-de incertezas e rápidas transformações). Perguntamos ainda como os professo-res percebiam a importância atribuída por seus alunos a essas mesmas competências (aluno percebido).

Na visão dos professores, o aluno percebido tem uma preocupação com a instrumentação para prática muito maior (94%) do que as respostas dadas pelos alunos (55%). Ainda nessa mesma visão, o aluno percebido tem um interesse muito menor do que o aluno real pelas as competências relacionadas a princípios fun-damentais do Direito (19% contra 72%), pensamentos crítico (9% contra 69%), raciocínio lógico (6% contra 71%). Ou seja, os professores pensam que os alunos não se preocupam por essas habilidades, quando na realidade é o que eles mais buscam. Compreender de que forma essa situação e as expectativas geradas a partir dela influenciam os professores em suas decisões sobre as estratégias e formas de ensinar é a seqüência natural de investigação deste trabalho.

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As novas tecnologias, vistas com certa desconfiança, trazem possibilidades consideráveis. Permitem que as interações entre professor e aluno ultrapassem os limites de tempo e espaço da sala de aula e que os conteúdos sejam disponibilizados a grandes grupos, em diferentes formatos, de acordo com as diferentes demandas e ca-racterísticas dos estudantes. Talvez a mais importante de suas contribuições seja a instalação de uma nova lógica na aprendizagem, baseada na iniciativa, na colaboração e na criação coletiva de conhecimento.

Nos cursos de capacitação docente do GVlaw utiliza-mos uma plataforma Moodle, sistema desenvolvido por Martin Dougiamas a partir de princípios socioconstruti-vistas. Segundo o autor, o sistema “não só trata a aprendi-zagem como uma atividade social, mas focaliza a atenção na aprendizagem que acontece enquanto construímos ativamente artefatos (como textos, por exemplo), para que outros vejam ou utilizem”. Num curso apoiado por esse sistema, os participantes são estimulados a pesquisar, ava-liar de modo crítico e produzir novas sínteses. Por ser um

projeto “Open Source”, ou seja, aberto, livre e gratuito, pode ser carregado, utilizado, modificado e até distribu-ído. Isso faz com que os usuários também sejam seus “construtores”, pois, enquanto o utilizamos, contribuímos para sua constante melhoria. Trata-se de uma proposta análoga à de Maturana e Varela quando dizem que “Todo fazer é um conhecer e todo conhecer é um fazer”.

Para a utilização plena do potencial das novas tecno-logias é necessário mais do que desenvolver a fluência digital dos educadores. Discutir e, sobretudo, experi-mentar as implicações e mudanças de atitudes neces-sárias para trabalhar com abordagens que privilegiam a interação e a construção coletiva de conhecimentos é condição necessária para a mudança de atitudes frente às novas metodologias de ensino-aprendizagem. Tra-balhar a partir do princípio de que o conhecimento significativo se constrói por meio da ação, que ele é histórico, datado e mutante, traz tensão nas áreas de conhecimento em que aspectos normativos e doutriná-rios são importantes. Por outro lado, essa mesma situa-ção, bem explorada, pode ser enriquecedora, sobretudo quando consideramos os fundamentos que definem um campo do saber específico.

Comunicação e linguagem

A sala de aula, espaço tradicional dos processos de ensino-aprendizagem, da mesma forma que uma série de outras ações do mundo do trabalho, vai aos poucos se libertando dos limites da geografia e do tempo. O professor pode estar em qualquer lugar e simultaneamente em mui-tos espaços. Novos formamui-tos, via web ou de outros recursos de áudio e vídeo, vêm sendo utilizados, trazendo para um público maior a possibilidade de contato com bons pro-fessores. Cada mídia tem seus requisitos, potencialidades e limitações. É preciso dominá-las para extrair todo o seu potencial de comunicação. Cada uma delas é uma arte em si. A apresentação de um mesmo conteúdo em diferentes formatos (áudio, vídeo, exercícios) garante que estudantes com diferentes estilos de aprendizagem possam encontrar a via que lhes é mais favorável e exercitar-se nas outras.

A formação jurídica favorece a utilização de textos dissertativos. Os docentes são treinados a se comunicar por meio da linguagem escrita extensiva, sem muita con-cisão e, com isso, corre-se o risco de que a objetividade

seja perdida. Identificar o conceito básico e traduzi-lo de forma simples, sem banalizar ou perder a precisão do conteúdo, costuma ser um grande desafio nessa área.

Organizadores gráficos como mapas conceituais, diagramas, árvores de decisão, apresentações em power point são linguagens que merecem ser mais exploradas, a partir da perspectiva de princípios de comunicação e cognição. Imagens e símbolos facilitam a aprendiza-gem na medida em que funcionam como âncoras da memória para conceitos e conhecimentos complexos. Não substituem os textos, mas bem utilizados são auxi-liares valiosos como sínteses visuais da essência de um conceito ou procedimento. Aqui também há um espaço para exploração e pesquisa de novos formatos, a serem desenvolvidas na troca entre os profissionais do direito e os especialistas em comunicação e linguagem. Em ensi-no-aprendizagem não há um método único, exclusivo e capaz de conduzir à verdade definitiva. O que existe são trilhas de experimentação, pesquisa e uma permanente interlocução entre teoria e prática. Ciência e arte. Fazer e aprender. Aprender e fazer. Sempre!

Daisy Grisolia é coordenadora de metodologia de en-sino do GVlaw

O perfil dos professores

Por outro lado, quem são os professores hoje? E quais os desafios que eles enfrentam?

A rápida expansão do ensino superior e notadamente dos cursos de especialização e pós-graduação trouxe para o espaço das instituições de ensino um contingente de profissionais de excelente titulação e desempenho profis-sional. Eles constituem um elo importante entre as IES e a sociedade como um todo, trazendo para dentro do mundo acadêmico as questões do mundo real. Contudo, freqüentemente em sua formação eles não contaram com a ênfase necessária nas disciplinas e competências docentes. Seus modelos de atuação docente tendem a reproduzir as práticas de ensino em que estudaram. No contexto atual, no qual o papel do educador, sua relação com os estudantes e com o próprio conhecimento sofrem modificações profundas, essas práticas mostram-se insu-ficientes para responder às demandas sociais decorrentes das rápidas transformações sócio-culturais, produzidas pelas novas tecnologias da informação e comunicação, e

da globalização. Os modos de estudar e aprender, como os objetivos de aprendizagem que pautaram a formação dos atuais educadores, não são os mesmos dos aprendizes que agora os procuram.

Se em determinada época o domínio e a reprodução do saber estabelecido foram tidos como valor primordial, na atualidade essa capacidade vem sendo gradualmente subs-tituída pela habilidade de pesquisar, identificar e acessar a informação mais atualizada, exigindo dos profissionais a capacidade de se reprogramar permanentemente. Não é preciso saber tudo, mas é fundamental saber onde e como encontrar a informação que possa ser aplicada à resolução de um problema. A aquisição desta competência passa a ser o foco principal dos processos de ensino-aprendizagem, principalmente nos cursos de especialização.

Nesta perspectiva, o papel do professor é o de ajudar o aluno a aprender – e não ensinar. É possibilitar a busca de informações, e não transmiti-las. É criar condições para que o aluno conheça e produza cultura. É o próprio papel do professor que se reestrutura em seus limites e potenciali-dades, ganhando maior expressão enquanto mediador en-tre os que querem aprender e as fontes do conhecimento. Ele é um administrador da progressão da aprendizagem.

Para dar conta dessa tarefa os educadores precisam desenvolver algumas competências, como: a) organizar e dirigir situações de aprendizagem – identificando as ati-vidades mais adequadas às características de seus alunos, ao tema abordado e às condições de tempo e recursos disponíveis; b) relacionar, com os alunos, o senso de liga-ção entre a aprendizagem e as situações de trabalho. Em certo sentido trata-se de prepará-los para o mercado pro-fissional, que exige atualização permanente, ou seja, um competente profissional autoprogramável, como ensina Manuel Castells em seu A sociedade em rede; c) conceber atividades e fazer evoluir uma turma em que a heteroge-neidade de formações é a característica predominante. Como extrair da diversidade o potencial de riqueza que ela traz à formação de qualquer profissional?; d) trabalhar em equipe: o modelo de relação aluno-professor-instituição de ensino, no Brasil, cada vez mais converge para altos graus de interatividade entre profissionais, seja na construção de interdisciplinaridades, seja atendendo às necessidades de administração e desenvolvimento institucional.

A atividade docente, na atualidade, exige espaço e tempo para planejamento, avaliação e reflexão sobre a práxis e as teorias que a suportam. Acompanhar e adaptar-se às mudanças exige empenho, dedicação e suporte das instituições, sobretudo na busca de espaços de interlo-cução e aperfeiçoamento para a função docente. A cada dia são ampliados os conhecimentos técnicos nas áreas de comunicação, educação, gestão do conhecimento, fluência digital, psicologia da cognição, que passam a integrar os saberes necessários para a docência. Nesse contexto, o trabalho do professor deixa de ser um fazer individual e se constitui numa articulação de saberes.

As IES e as tecnologias de informação e comunicação As instituições de ensino superior são hoje sistemas complexos que, em todo o mundo, procuram soluções para as tensões que se estabelecem entre a busca de excelência, a produção e disseminação abrangente de novos conhecimentos e a necessidade de garantir sua sustentabilidade econômica. Qualidade de ensino e ampliação do acesso ao conhecimento são forças que delimitam o campo no qual a criatividade docente é testada a cada instante.

Não há um método único, exclusivo e capaz de conduzir à verdade

definitiva. O que existe são trilhas de experimentação, pesquisa e

uma permanente interlocução entre teoria e prática

Talvez a contribuição mais importante das novas tecnologias seja

a instalação de uma nova lógica na aprendizagem, baseada na

iniciativa, na colaboração e na criação coletiva de conhecimento

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