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A Relação formação profissional / Mercado de Trabalho: percepção dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN

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Academic year: 2017

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ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO

A RELAÇÃO FORMAÇÃO PROFISSIONAL / MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NÃO-INSERIDOS NO MERCADO DE

TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL EM NATAL/RN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social Orientadora: Profa. Dra. Odília Sousa de Araújo

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ANA PAULA DE MOURA CORDEIRO

A RELAÇÃO FORMAÇÃO PROFISSIONAL / MERCADO DE TRABALHO: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS NÃO-INSERIDOS NO MERCADO DE

TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL EM NATAL/RN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Serviço Social do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN para obtenção do grau de Mestre em Serviço Social

Aprovado em:

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Odília Sousa de Araújo – Orientadora Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Profa. Dra. Rosa Lúcia Prédes Trindade Universidade Federal de Alagoas – UFAL

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DEDICATÓRIA

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me deu todas as condições objetivas e subjetivas para a realização desse trabalho; a Jesus Cristo, pois sem Ele nada poderia fazer; e ao Espírito Santo, que esteve presente em todo instante consolando e fortalecendo.

Aos meus pais, irmãos, irmãs e sobrinhas, pelo apoio e compreensão.

Aos meus irmãos da Igreja O Brasil para Cristo, pela convivência e apoio espiritual dispensados à mim durante toda a minha trajetória de vida e, especialmente, durante a realização desse trabalho.

À professora Odília Sousa de Araújo, orientadora, pelas contribuições sensatas e indispensáveis.

À Coordenação e Secretaria do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. À Biblioteca Setorial, na pessoa de Albanita, pela presteza nas indicações sobre as Normas Técnicas.

À CAPES, pelo apoio financeiro.

A todos os professores que ministraram aulas durante o curso, pelos conhecimentos transmitidos.

(5)

RESUMO

Este estudo trata da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN enfatizando a percepção dos profissionais que vivem essa problemática. Analisa-se a relação que os mesmos fazem entre a não-inserção no mercado de trabalho e a sua formação em Serviço Social. A problemática é relacionada ao contexto do desemprego na sociedade atual visto como resultante das transformações do mundo do trabalho oriundas da reestruturação produtiva e da reforma do Estado e respaldadas na ideologia neoliberal. Entende-se que esses fatores têm provocado várias mudanças na configuração dos mercados de trabalho em geral e de cada profissão trazendo múltiplos desafios para a inserção e a permanência dos trabalhadores nesse mercado. Vê-se que a diminuição da quantidade de mão-de-obra absorvida e o aumento dos critérios de seletividade para a inserção do trabalhador no mercado geram a existência do desemprego em todas as esferas independentemente de localização geográfica, profissão ou nível de escolaridade do trabalhador. As mudanças nas formas de gestão e organização do trabalho geraram a necessidade de um novo perfil de trabalhador e conseqüentemente trouxeram novas exigências e desafios para a formação profissional. A lógica produtivista e mercadológica do neoliberalismo está presente nesse contexto impondo à formação profissional uma adequação ao mercado como forma de facilitar o acesso do trabalhador à uma vaga no mercado de trabalho. Com as inúmeras dificuldades enfrentadas para a inserção no mercado de trabalho os profissionais formados na universidade passam a questionar a profissão e o tipo de formação recebida, muitas vezes atribuindo às mesmas a causa do seu desemprego. Esse fato ficou demonstrado na pesquisa realizada com os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN quando esses fazem uma estreita relação da sua não-inserção no mercado de trabalho com a profissão e afirmam que o principal desafio do Serviço Social hoje é o reconhecimento, por parte da sociedade e dos empregadores, do seu significado e da sua importância na sociedade.

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ABSTRACT

The study is about the non-insertion of the Social Assistant in the work market of Natal/RN, emphasizing the perception those Social Assistants have about this problem. We try to analyze the relation that those workers figure out about their non-insertion in the work market and their professional formation. The problem is related to the present unemployment rates in our society, which results of the changes that have affected the world of work as a whole in the wake of the Productive Restructuring and State Reformation supported by the neo-liberalism ideological system. We realize that these factors have deeply affected the configurations of the work market in general; especially those related to professions whose challenges multiply obstacles not only to the insertion of new workers, but to their staying in their job. We note that the reality of the work market has been built up on the decrease of the work force opportunities and the increase of the selectivity criteria to insertion of new workers. In consequence, unemployment rates increase everywhere, regardless of place, profession or education level of the workers. Work and management changes have brought about new challenges to professional formation. The presence of neo-liberalism productive and market logic demands a more adequate professional formation to work market from their candidates to a job. Due to the numberless difficulties workers face nowadays to enter the world of work, society itself and workers in general begin to question the profession of their choice, the kind of formation they have got, and frequently they lay the blame of their professional difficulties on it. This result has come out from the research we did with some social assistants not inserted in the professional work market in Natal/RN. The research reveals too that those unemployed professionals see their difficulties connected to their professional formation and they happen to say that the main challenge they face today is to get acknowledgment to the significance and importance of their profession.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES ( GRÁFICOS)

01 – Perspectiva dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço

Social quanto à opção de fazer Serviço Social hoje ... 134

02 – Relação dos assistentes sociais com a UFRN (quadro geral) ... 145

03 - Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos que trabalham em outras atividades profissionais) ... 145

04 - Relação dos assistentes sociais com a UFRN (dos desempregados) ... 146

05 – Experiência profissional dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ... 146

06 - Relação dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social com o CRESS/RN ... 151

07 – Motivos pelos quais não estão exercendo a profissão ... 153

08 – Formas de acesso ao trabalho de assistente social ( dos que já exerceram) ... 169

09 – Formas de acesso ao trabalho na atividade atual ...169

10 – Tentativas para se inserir no mercado de trabalho do Serviço Social ... 174

11 – Vontade de exercer a profissão de assistente social (quadro geral) ... 176

(8)

13 - Vontade de exercer a profissão de assistente social (dos desempregados) ... 177

14 – Motivos da escolha pelo curso de Serviço Social ... 180

15 – Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje (dos que trabalham em outras atividades profissionais) ... . 183

16 - Perspectiva quanto à opção de fazer Serviço Social hoje (dos desempregados) ...184

17 – Função da UFRN na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de

trabalho ... . 189

18 – Sugestões para a UFRN contribuir para a inserção dos profissionais formados no

mercado de trabalho ... 189

19 – Sugestões para o CRESS/RN contribuir para a inserção dos assistentes sociais no

mercado de trabalho ... 192

20 – Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho ... 195

21 - Os principais desafios do Serviço Social na opinião dos assistentes sociais que já

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LISTA DE TABELAS

01 – Motivos para a escolha dos cursos que os assistentes sociais fariam hoje ... 133

02- Situação dos assistentes sociais formados nos períodos de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho ... 139

03 – Situação dos assistentes sociais formados nos períodos de 2000.1 a 2002.2 no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ... 140

04 – Faixa etária dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ... 141

05 – Sexo dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ... 141

06 – Estado civil dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ... 142

07 – Número de filhos dos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN ... 142

08 – Cursos realizados pelos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social para além da graduação em Serviço Social ...143

09 – Tempo de exercício profissional dos assistente sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN que já exerceram a profissão ... 147

10 – Vínculo empregatício dos assistentes sociais que já exerceram a profissão ... 147

(10)

12 – Atividade exercida atualmente... 148

13 – Atividades profissionais exercidas pelos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ... 149

14 – Vínculo empregatício dos assistentes sociais que trabalham em outras atividades

profissionais ... 149

15 – Faixa salarial dos assistentes sociais no exercício de outras atividades

profissionais ... 150

16 – Elementos exigidos pelo mercado de trabalho para a inserção dos trabalhadores ... 165

17 – Elementos exigidos pelo mercado de trabalho para a inserção dos assistentes

sociais... 166

18 – Cursos que os assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social fariam hoje ... 184

19 – Motivos para a escolha pelo curso de Serviço Social hoje ... 188

20 – Função do CRESS/RN na opinião dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho do Serviço Social ... 191

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SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS ... 13

CAPÍTULO 1 - AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E O

DESEMPREGO ESTRUTURAL ... 30

1.1- A Categoria Trabalho ... 30 1.2 – Reestruturação Produtiva, Neoliberalismo, Globalização e as novas configurações do mundo do trabalho ... 38 1.3 – Alguns Elementos Sobre o Emprego e o Desemprego no Mundo do Trabalho

Atual ... . 50 1.3.1 - Justificativas Ideológicas Para o Desemprego... 60 1.3.2 – Ações de Enfrentamento ao Desemprego na Perspectiva das Políticas Públicas e da Ideologia Individualista do Neoliberalismo ... 73

CAPÍTULO 2 - O MERCADO DE TRABALHO NO CONTEXTO DA REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E DA REFORMA DO ESTADO E O SERVIÇO SOCIAL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS IMPOSTOS À PROFISSÃO ... 93

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CAPÍTULO 3 – O ASSISTENTE SOCIAL E A NÃO-INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO DO SERVIÇO SOCIAL: PERCEPÇÃO DOS ASSISTENTES SOCIAIS

NÃO-INSERIDOS NO MERCADO DE TRABALHO EM NATAL/RN ... 138

3.1 – Perfil dos Assistentes Sociais Não-Inseridos no Mercado de Trabalho em Natal/RN ... 139

3.2 - Percepção dos Assistentes Sociais sobre a Relação Profissão/Mercado de Trabalho e sobre a Relação Formação Profissional/ Não-inserção no Mercado de Trabalho ... 152

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 208

REFERÊNCIAS ... 214

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Uma das principais características da contemporaneidade é a insegurança do trabalho. A realidade atual do mundo do trabalho apresenta aspectos negativos tanto no que se refere aos trabalhadores que estão inseridos no mercado de trabalho, pois estão submetidos às condições de trabalho totalmente precarizadas num mercado cada vez mais exigente, instável e estressante; como também quanto à exclusão de um grande número de trabalhadores desse mercado.

No que diz respeito ao desemprego, vê-se que esse tem se tornado um dos principais problemas da sociedade atual, sendo reconhecido até mesmo por todos os segmentos das classes dirigentes, governos nacionais e internacionais. Hoje apresenta uma dimensão mais grave porque não representa mais uma condição temporária, que anteriormente resultava da emergência de ciclos econômicos recessivos, recuperando-se à medida que a atividade econômica voltasse a crescer. Tem-se o denominado “desemprego em massa e de longa duração,” o que caracteriza o desemprego em seu caráter estrutural, que não atinge apenas países periféricos, mas a cada dia se torna mais presente nos países centrais.

Além de não estar restrito a localizações geográficas, o desemprego também não se restringe a algumas profissões ou a determinados segmentos de pessoas com graus de escolaridade e qualificação profissional baixos; pelo contrário, atinge a todas as profissões, em maiores ou menores proporções, e às pessoas com altos níveis de escolaridade e de qualificação profissional.

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social: as mudanças no Estado ( Estado mínimo); as transformações no mundo do trabalho e a globalização. As conseqüências das mudanças provocadas na sociedade por esses três elementos não repercutem apenas nas classes populares, como também repercutem no emprego e desemprego do assistente social.

Sarmento (2000, p.101) afirma que:

As mudanças históricas que estão hoje alterando a divisão social e técnica do trabalho materializados em mudanças nas relações Estado/sociedade e nas formas de organização e gestão do trabalho, afetam diferentes especialização do trabalho coletivo, inclusive o Serviço Social.

A reestruturação produtiva juntamente com as redefinições das relações entre Estado e sociedade, oriundas da reforma do Estado, têm provocado mudanças no mundo do trabalho, ocasionando a desregulamentação, precarização e terceirização das relações de trabalho, levando à existência o que alguns autores denominaram de desordem no mundo do trabalho (MATOSO,1995) e a configuração de um novo (e precário) mundo do trabalho(ALVES, 2000).

A afirmação da existência de um novo mundo do trabalho ou da desordem no mundo do trabalho refere-se às mudanças nas modalidades de emprego, na estrutura industrial e na organização do trabalho, as quais emergem como faces complementares do paradigma da flexibilidade. Também podemos dizer que se refere ao conjunto de tendências extremamente insatisfatórias em termos sociais, como o aumento do desemprego, a precarização do trabalho, o crescimento do trabalho informal, o rebaixamento salarial, a expansão das chamadas formas atípicas da contratação, como o trabalho temporário e em tempo parcial.

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neoliberal, o que tem levado ao surgimento do desemprego estrutural e à precariedade do emprego e do salário.

A profissão do Serviço Social é atingida pelo problema do desemprego existente na sociedade de uma forma mais grave do que outras profissões, pois este a atinge direta e indiretamente. O desemprego provoca um acirramento das demandas postas ao trabalho do assistente social, como também uma diminuição dos seus postos de trabalho. Como afirma Ortiz(2002), o desemprego, como resultante da reestruturação produtiva e da minimalização do Estado, repercute no universo do serviço social de duas maneiras: no equacionamento das demandas atuais postas ao assistente social e na diminuição dos postos de trabalho.

A reestruturação produtiva e a reforma do Estado provocam várias repercussões no mercado de trabalho do assistente social enquanto trabalhador assalariado, e principalmente enquanto profissional que tem o setor público governamental como o seu principal empregador. Dentre essas repercussões estão a flexibilização dos contratos de trabalho, os baixos salários, o aumento dos critérios de seleção para o acesso a uma vaga no mercado de trabalho e, conseqüentemente, o desemprego.

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Todas essas mudanças têm criado novas demandas para o trabalho do assistente social, que passa a realizar-se em equipes interdisciplinares e é articulado a outros setores institucionais. Sobre o conteúdo do trabalho do assistente social, Iamamoto (2000, p.71) esclarece que:

... abrange funções de coordenação e gerenciamento, planejamento, mobilização, elaboração, implementação e avaliação de programas e projetos sociais. Esse profissional tem sido chamado, cada vez mais, a exercer a função de “selecionador”, acoplado à seletividade das políticas sociais governamentais, dispondo de uma relativa autonomia na condução do seu trabalho...

Alguns autores alertam para o fato de que a existência de uma perda de espaço profissional do assistente social, como pensam equivocadamente alguns profissionais, se expressa como tendência desde que a categoria profissional não se posicione frente a ela. Segundo Netto (1996b, p.115), diversos fatores se congregam para “ constituir um quadro societário que, objetivamente, garanta espaços aos assistentes sociais.”

No entanto, mesmo com a constituição de espaços profissionais garantidos na sociedade, onde as demandas existentes para a profissão cada dia crescem mais, a problemática do desemprego afeta os seus profissionais, o que não poderia ser diferente na conjuntura econômica e social onde o desemprego se alastra.

Conforme dados da pesquisa realizada para esta dissertação, com assistentes sociais formados pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no período de 2000 a 2002, de 156 assistentes sociais apenas 60 exercem a profissão e 96 não se inseriram no mercado de trabalho - 54 trabalham em outras atividades profissionais e 42 estão desempregados. ( Vide Tabela 02 no capítulo 02 deste trabalho)

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dia mais. Antes, os trabalhadores desempregados eram os sem nenhuma ou com pouca escolaridade; hoje, têm-se um número expressivo de trabalhadores com nível de escolaridade superior desempregados ou trabalhando em atividades que exigem qualificação bem menor do que a que possuem. Esta questão tem provocado discussões na sociedade, tais como: O diploma universitário garante um emprego?; Ele facilita ou dificulta a inserção num posto de trabalho inferior à formação universitária?; O problema está no mercado de trabalho, na qualidade da formação que os cursos oferecem ou nos próprios profissionais formados?

O que pode se perceber hoje é um grande número de profissionais com formação superior que não conseguem uma vaga no mercado de trabalho para exercer a profissão para a qual se formou, o que tem levado muitos a ocuparem outros tipos de atividades. Isso tem provocado discussões sobre a necessidade das universidades preocuparem-se com a articulação formação/mercado de trabalho.

Nota-se hoje várias medidas nas políticas de educação do país, em todos os níveis, mais especificamente da educação superior, no sentido de atender às exigências do mercado de trabalho, como os cursos seqüenciais, cursos de graduação à distância, redução de carga horária dos cursos etc.

Wanderley(1998, p.8) afirma que um dos desafios da universidade pública hoje é “como interagir , como produzir parcerias com o setor produtivo sem subalternidade? Como garantir a liberdade de pensamento, valor intrínseco à universidade, de forma a não desvirtuar o compromisso ético e social e a identidade da universidade?”

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entanto perder de vista uma formação ampla que não se limite ao aprendizado técnico, ou seja, a mera formação profissional.

Não esquecendo que a mera formação profissional, defendida pela lógica do mercado, obscurece a existência de uma formação ideológica voltada para os interesses mercadológicos, pois uma das exigências que o mercado coloca para a formação, além da qualificação técnica, é a produção de uma subjetividade adequada à nova forma de organização social do capitalismo. Como afirma Koike( 1999, p.105):

Para moldar o perfil profissional à nova sociabilidade requerida pelo capital é preciso algo mais do que competências intelectuais, cognitivas e técnicas. Requer o desenvolvimento de competências comportamentais no âmbito das capacidades organizativas ou metódicas, comunicativas e sociais, acionando a subjetividade do indivíduo como parte do processo de trabalho.

Com a realidade de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e com o alto índice de profissionais com formação superior desempregados, nota-se que um novo aspecto da formação tem surgido na tentativa de enfrentar ou de justificar a realidade do difícil acesso ao emprego, a “formação emprendedorista voltada mais para a capacidade de gerar emprego do que de tentar obtê-lo no mercado laboral”(KOIKE, op cit p.105). Essa mesma autora cita Ciavata quando o mesmo afirma que um dos aspectos dos processos educativos atuais é formar para o não-emprego ou mesmo para um trabalho incerto.

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A dimensão da problemática do desemprego hoje tem se tornado uma das principais causas do agravamento da questão social, o que tem levado autores como Castel (1998) a afirmar que o desemprego e a precarização do trabalho provocam metamorfoses da questão social fazendo nascer uma nova questão social. Essa afirmação tem suscitado discussões teóricas entre estudiosos do tema, alguns afirmando e outros negando a existência de uma nova questão social.

A profissão do Serviço Social lida diretamente com as relações sociais buscando dar respostas às várias expressões da questão social, que no momento assume novas configurações, sendo agravada pelo modelo econômico social implementado e pelos tipos de " respostas " dadas pelo Estado à mesma: privatização e solidariedade voluntária.

A questão social está sendo enfrentada sob a ótica da privatização, onde há uma subordinação do atendimento das necessidades à lógica do mercado. O discurso do direito e da cidadania hoje é substituído pelo dever moral do enfrentamento à pobreza, pela valorização da filantropia .

O mercado de trabalho do Serviço Social, enquanto profissão inscrita na divisão sócio-técnica do trabalho e como uma das especializações do trabalho coletivo, sofre repercussões diretas desses aspectos colocados. Percebe-se a necessidade atual de análises que busquem desvendar as formas de repercussões das transformações no mundo do trabalho e da reforma do Estado nas práticas sociais dentre elas o serviço social.

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Serviço Social – CFESS e realizada pela Universidade Federal de Alagoas – UFAL em parceria com os CRESS’s, a qual encontrava-se em andamento no período em que delimitamos o nosso objeto de estudo.

No caso do Estado do Rio Grande do Norte as informações existentes sobre o mercado de trabalho se restringem aos dados da pesquisa “O perfil dos (as) Assistentes Sociais frente às redefinições no mercado de trabalho na contemporaneidade: uma análise da realidade norte-rio-grandense”, realizada pelo CRESS 14ª Região, no ano de 1999.

Outro aspecto a ser destacado quanto às análises sobre o mercado de trabalho profissional do Serviço Social é que as pesquisas existentes até então estão mais voltadas para o conhecimento dos profissionais que exercem a profissão, ou seja, sobre os espaços profissionais existentes, sobre as demandas e desafios enfrentados no exercício profissional, havendo assim a necessidade de buscarmos informações sobre o segmento de profissionais que não está no exercício profissional.

Sobre a realidade da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho temos conhecimento apenas de um estudo que está sendo desenvolvido por Fátima Grave Ortiz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a qual está escrevendo sua tese de doutorado sobre o desemprego no Serviço Social.

Neste estudo, utiliza-se o termo “não-inserção no mercado de trabalho da profissão”ao invés de desemprego1, esclarecendo que ao se falar em não-inseridos no mercado de trabalho da profissão está se referindo aos assistentes sociais que por algum motivo não estão

1 Não nos limitamos ao conceito de desemprego por vários motivos. Para ser considerado desempregado, alguns

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exercendo a profissão. É importante destacar o significado do termo não-inseridos no mercado de trabalho porque levando-se em consideração o conceito dos órgãos oficiais que

realizam as pesquisas de mercado de trabalho, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE, estão inseridos no mercado de trabalho os ocupados e os que estão à procura de um trabalho. Nessa perspectiva, os sujeitos da pesquisa não poderiam ser chamados de não-inseridos no mercado de trabalho da profissão, uma vez que muitos deles estão à procura de uma vaga no mercado de trabalho, portanto, estão inseridos no mercado de trabalho da profissão do Serviço Social na condição de desempregados.

Dentre os assistentes sociais que denominamos de não-inseridos no mercado de trabalho da profissão estão os que denominamos de desempregados – os assistentes sociais

que não estão trabalhando em nenhuma ocupação ou atividade profissional, e os inseridos em outras atividades profissionais - os assistentes sociais que não exercem a profissão, mas estão

trabalhando em alguma outra atividade profissional.

A busca pelo conhecimento sobre a problemática da não-inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho poderá contribuir para o enfrentamento de possíveis equívocos entre os profissionais. Referimo-nos ao fato de que essa não-inserção pode estar sendo atribuída à profissão sem se fazer uma relação da não-inserção com o contexto da realidade mais ampla das transformações no mundo do trabalho e suas repercussões sobre o mercado de trabalho das profissões.

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mercado: escassez de recursos, aumento das demandas e o conseqüente aumento dos critérios de seletividade no atendimento; baixos salários; submissão às condições de trabalho precárias para a manutenção do emprego e os constantes desafios para a realização de uma prática profissional que fortaleça a implementação e consolidação dos direitos sociais e da justiça.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A não-inserção dos assistentes sociais no mercado de trabalho do Serviço Social é percebida como uma das conseqüências da reestruturação produtiva e da reforma do Estado. O desemprego é aqui analisado como um dos reflexos da crise do capital/trabalho constituindo-se uma nova expressão da questão social.

A pesquisa visa a contribuir com o debate sobre a formação profissional do assistente social, bem como com o papel da universidade na capacitação contínua dos profissionais já formados, e busca responder à seguinte indagação: até que ponto a não-inserção no mercado de trabalho está relacionada à formação em Serviço Social, na percepção dos assistentes sociais não-inseridos no mercado de trabalho?

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também não é único: ele vai ser construído pelas escolhas daquele que o está percorrendo. No nosso caso, as ações empreendidas para percorrer o caminho escolhido foram:

1) Realização de Pesquisa Bibliográfica e Revisão da bibliografia sobre Trabalho, Emprego, Desemprego, Qualificação Profissional, Serviço Social e Formação Profissional, buscando a fundamentação teórico-conceitual para a elucidação do problema.

2) Demarcação do universo da pesquisa. Para isso foram adotados os seguintes critérios: o período de formação acadêmica: assistentes socais formados nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2 da UFRN, levando em consideração os seguintes fatores:

ƒ O fato de ser um período marcante no avanço da implementação das políticas neoliberais no Brasil, ocasionando o agravamento das desigualdades sociais e do desemprego;

ƒ Acreditamos que o período de duração de três anos ( que compõe-se de seis turmas de concluintes: 2000.1, 2000.2, 2001.1, 2001.2, 2002.1 e 2002.2) seja substancial para as informações buscadas na pesquisa e;

ƒ Por serem as últimas turmas concluintes, excluindo-se as mais recentes, pois é necessário um espaço de tempo para que estas se insiram no mercado de trabalho, ou seja, de 2002 para cá. Tomamos como referência o tempo médio de duração da procura de trabalho, apontado pelas Pesquisas Emprego e Desemprego (PED) do DIEESE que é entre dez a quinze meses. (DIEESE, 1999).

Outro critério adotado para a delimitação do universo da pesquisa foi a localização domiciliar: assistentes sociais que estão localizados em Natal/RN.

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exercendo? Onde estão esses assistentes sociais? Quantos estão desempregados e quantos estão em outras atividades profissionais? Os que estão exercendo a profissão, qual o tipo de vínculo de trabalho? E sobre os profissionais que estão exercendo outras atividades, que tipos de atividades estão desenvolvendo?

Para a construção desse mapeamento foram realizadas as seguintes ações:

ƒ Levantamento dos nomes e endereços dos concluintes do Curso de Serviço Social nos períodos letivos de 2000.1 a 2002.2, junto à Coordenação do Curso de Serviço Social da UFRN;

ƒ Pesquisa junto ao Conselho Regional de Serviço Social -14a Região (CRESS/RN) para verificar quais dos nomes da relação estavam inscritos e exercendo a profissão.

ƒ Contato telefônico com todos os que não estavam inscritos no CRESS; os que estavam inscritos, mas estavam inadimplentes e aqueles dos quais não existiam informações sobre o local de trabalho, para ser identificada a sua situação no mercado de trabalho.

4) Delimitação de uma amostra para a aplicação dos instrumentos de coleta de dados composta por 50% dos profissionais que estão no exercício de outras atividades profissionais e 50% dos profissionais desempregados, chegando-se assim ao número de 45 assistentes sociais: 28 que trabalham em outras atividades e 17 que não trabalham.

Procuramos abranger 50% do número de profissionais em cada período letivo e quando existiram números ímpares arredondamos a quantidade de entrevistas para mais.

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6) Escolha e construção dos instrumentos para a coleta de dados que foram: entrevista estruturada com a aplicação de um formulário composto de perguntas abertas e fechadas e a utilização de gravador.

7) Pesquisa de campo através da realização de 45 entrevistas estruturadas, realizadas nos meses de fevereiro a maio de 2004, aplicando-se um formulário e gravando-se as respostas dos entrevistados

Um formulário é definido por Nogueira como:

Uma lista formal, catálogo ou inventário destinado à coleta de dados resultantes quer da observação, quer de interrogatório, cujo preenchimento é feito pelo próprio investigador, à medida que faz as observações ou recebe as respostas, ou pelo pesquisado, sob sua orientação. ( NOGUEIRA, apud, MARCONI e LAKATOS, 1988 p. 86)

Nesta pesquisa, o formulário voltou-se para a coleta de dados resultantes de um interrogatório, onde o preenchimento foi feito pelo próprio investigador. O registro das informações foi feito através da gravação, mas também através de algumas anotações feitas durante e após as entrevistas.

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Outro aspecto que pode contribuir para o esclarecimento daqueles que criticam a utilização de entrevista estruturada, acrescentamos que, além desses esclarecimentos citados por Ludke e André, utilizamos também a gravação das respostas dos entrevistados o que nos permitiu , tanto durante as entrevistas como após, observarmos aspectos mais amplos das respostas obtidas. Como orientam esses mesmos autores:

O entrevistador precisa estar atento não apenas ao roteiro preestabelecido e às respostas verbais que vai obtendo ao longo da interação. Há toda uma gama de gestos, expressões, entonações, sinais não-verbais, hesitações... enfim, toda uma comunicação não-verbal cuja captação é muito importante para a compreensão e a validação do que foi efetivamente dito. (LUDKE E ANDRÉ, 1986, p. 36)

Portanto, nota-se que a observação é um dos instrumentos indispensáveis na pesquisa e está presente na própria entrevista. Como afirma Marconi e Lakatos( 1988,p.65), “uma das técnicas de pesquisa é a observação direta intensiva a qual pode ser realizada através de duas técnicas: observação e entrevista.”

Foi através da utilização da técnica da observação assistemática, que segundo Marconi e Lakatos (op cit, p.67) “consiste em recolher e registrar os fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise fazer perguntas diretas” que podemos chegar ao seguinte dado: O local da realização das entrevistas2 nos chamou a atenção para o fato de que muitas das profissionais apesar de não estarem mais mantendo nenhum contato com a UFRN, preferiram marcar a entrevista lá. De acordo com algumas declarações das entrevistadas, a pesquisa abriu uma oportunidade para retornarem à universidade, pois

2 Das 45 entrevistas realizadas, 23 aconteceram na UFRN (no Departamento de Serviço Social, biblioteca,

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estavam muito distanciadas do curso, e até da profissão, pelo fato de não estarem exercendo, e aproveitaram a ida até à Universidade para obter algumas informações sobre oportunidades de cursos de pós-graduação ou qualquer atividade que o Departamento de Serviço Social estivesse oferecendo.

O instrumento utilizado para a coleta de dados, o formulário e a entrevista, foram construídos na perspectiva de responder às seguintes questões: a que atribuem o fato de não estarem exercendo a profissão? Realizaram cursos de pós-graduação? Qual a relação atual dos mesmos com a academia? Quanto aos que estão exercendo outras atividades: que tipos de atividades estão desenvolvendo? Por que não estão inseridos no mercado de trabalho profissional? Permanece na atividade que realizava antes de concluir o curso de Serviço Social? Se tivesse oportunidade, exerceria a profissão ou preferiria permanecer na atividade atual?

8) Transcrição das entrevistas e tabulação dos dados;

9) Análise dos dados utilizando-se o método quantitativo e qualitativo, recorrendo às falas dos sujeitos da pesquisa, identificando as similaridades presentes nas diferentes respostas, agrupando os conteúdos em categorias gerais e subcategorias de acordo com os objetivos propostos.

Conforme indicações de Ludke e André (1986, p.48):

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Os métodos quantitativo e qualitativo articulados combinam abordagens estatísticas simples com a análise qualitativa, através das quais foram interpretados os fenômenos dessa realidade que associam variáveis econômicas, políticas e sociais. As entrevistas estruturadas com algumas questões abertas permitiram relacionar as variáveis mais significativas para o estudo.

As análises referentes ao objeto desse estudo estão expostas neste trabalho com a seguinte estruturação:

No primeiro capítulo abordamos os elementos mais gerais que configuram a problemática específica, trazendo análises sobre as categorias trabalho, reestruturação produtiva, desemprego e questão social. Apresentamos uma análise do desemprego como resultante das transformações no mundo do trabalho e da reforma do Estado, trazendo alguns dados sobre o desemprego. Abordamos as explicações que têm surgido para o desemprego e as formas que têm sido implementadas para o enfrentamento do mesmo.

No segundo capítulo tratamos sobre o mercado de trabalho, sua constituição e características, reportando-nos à profissão do Serviço Social nesse mercado. Enfatizamos as configurações do mercado de trabalho atual resultantes das transformações do mundo do trabalho e os desafios que essas transformações impuseram às profissões, especificamente ao Serviço Social. Nessa perspectiva, apontamos algumas reflexões sobre os desafios que a realidade do mercado de trabalho tem imposto à formação profissional, em geral, e especificamente, à formação do assistente social.

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profissional são alguns dos elementos analisados a partir das colocações dos próprios assistentes sociais entrevistados.

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CAPÍTULO 1. AS TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO E O

DESEMPREGO ESTRUTURAL

Diante do objeto deste estudo constituído da não-inserção do assistente social no mercado de trabalho do Serviço Social em Natal/RN e diante da percepção de que a profissão é uma especialização do trabalho coletivo estando inserida na divisão sócio-técnica do trabalho, percebemos que para a compreensão do problema delimitado existe a necessidade de se fazer uma análise dos aspectos gerais que constituem o mundo do trabalho e as transformações pelas quais passa. Para isso iniciamos buscando a compreensão sobre o trabalho e seus significados adquiridos nos diferentes momentos históricos da sociedade.

1.1- A CATEGORIA TRABALHO

Segundo o dicionário Houaiss, a palavra trabalho é um antepositivo do latim

tripalium: instrumento de tortura, o qual deriva do adjetivo tripãlis: sustentado por três

estacas ou mourões ( HOURAISS e VILLAR: 2001).

Com isso atribui-se a origem do trabalho a uma situação de tortura e sofrimento do homem, aspecto esse confirmado na Bíblia a qual menciona o trabalho enquanto conseqüência do pecado do homem “ com o suor do teu rosto comerás.”

Nosella(1989) faz uma análise sobre os significados que o trabalho vai adquirindo nas diferentes formas de organização da sociedade. Ele atribui esse significado do trabalho como

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sociedade passa a ser baseada no trabalho livre assalariado, nas manufaturas e posteriormente na indústria, esse passa a ter o significado de labor. A partir do momento em que os

trabalhadores passam a reconhecer a exploração que o trabalho assalariado estava lhe impondo e que a liberdade prometida não era realmente uma liberdade e sim uma outra maneira de exploração através das máquinas, o trabalho enquanto labor passa a ser questionado e constrói-se uma outra perspectiva de significado para o trabalho que seria relacionado à ação social, complexa e criativa. O trabalho agora adquire o significado de

poiésis.

Portanto, percebe-se que a concepção de trabalho foi evoluindo ao longo da história, passando desde mera condição de sobrevivência até à condição de realização.

Na concepção marxista de trabalho, este é pensado no seu aspecto geral e particular, ou histórico. No aspecto geral, trabalho é a unidade constitutiva de todos os momentos da vida humana, é a necessidade natural de o homem transformar a natureza para satisfazer suas necessidades. No aspecto particular, ou histórico, é a troca universal do homem com a natureza sendo mediatizada por relações criadas historicamente. Com isso, Marx revela a existência da relação entre o trabalho como atividade universal; e o trabalho como atividade particular.

Ao analisar esse duplo caráter do trabalho, Marx (1985, p.5) enfatiza que:

... como criador de valores de uso, como trabalho útil, o trabalho é, por isso, uma condição da existência do homem independente de todas as formas de sociedade, eterna necessidade natural de mediação do metabolismo entre o homem e a natureza, e portanto, da vida humana. Como criador de valor de troca, trata-se de uma determinação histórica, de um modo específico de organização do trabalho.

Na sociedade capitalista o trabalho é simultaneamente trabalho concreto (útil, que

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valor de troca), ou seja, é trabalho geral na sua condição de atividade produtiva universal e trabalho particular, historicamente determinado.

Para Lessa, o trabalho na sociedade capitalista está relacionado à condição de exploração de uma classe sobre outra, pois enquanto nas sociedades primitivas o trabalho voltava-se para a conversão da natureza em bens necessários à reprodução social, conversão essa realizada por todos e de forma direta; nas sociedades capitalistas "o trabalho apenas pode se realizar através de um poder que obrigue os indivíduos a produzirem e entregarem o fruto do seu trabalho à outra classe" (LESSA 2000, p.25)

Segundo esse autor, o que vai facilitar o aparecimento do trabalho nos moldes capitalistas, cuja razão de ser é não mais a necessidade do trabalhador, mas sim o desenvolvimento da riqueza do dominador, é o aumento do conhecimento, das técnicas através das quais o homem passou a produzir mais que o necessário para a sua sobrevivência juntamente com a reprodução de relações sociais de exploração.

Percebe-se isso no momento em que o sistema capitalista para poder se implantar foi necessário realizar um violento processo de expropriação dos trabalhadores dos seus meios de produção conforme descreve Marx na “ A chamada acumulação primitiva”.

Portanto, diante da análise marxista, o trabalho é compreendido de forma abrangente, como necessidade natural e eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza (trabalho geral), observando que esse processo assume aspectos específicos de acordo com as relações sociais que o mediatizem (trabalho particular).

O que acontece com o trabalho na sociedade capitalista é que ele assume uma forma histórica, onde passa a ser apenas um meio para o processo de valorização do capital, deixando de ser objeto de realização humana e se transformando numa atividade de exploração e sofrimento, ou seja, ele é apenas labor, ou até mesmo tripaliumm, e não poiésis.

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... o trabalho, como ato concreto, individual ou coletivo, é, por definição, uma experiência social. Opressão e emancipação, tortura e prazer, alienação e criação são suas dimensões ambivalentes, que não se limitam à jornada laboral, mas que repercutem sobre a totalidade da vida em sociedade. Facetas essenciais do processo de socialização, da construção identitária, das formas de dominação e de resistência, enfim, da dinâmica contraditória da economia de mercado, têm origem nas situações laborais e nas relações sociais estruturadas na atividade produtiva. (CATTANI 2000, p. 71)

As transformações pelas quais passa o mundo do trabalho, principalmente no que se refere ao avanço tecnológico acompanhado da diminuição da necessidade de absorção de mão-de-obra no processo produtivo, têm levado alguns estudiosos do tema a propugnarem o fim da sociedade do trabalho, passando a não percebê-lo mais como categoria central das relações sociais na sociedade atual. Habermas (1991), Rifkin (1995), Gorz (1987), Offe (1985), entre outros, defendem a existência de uma transição da sociedade baseada no trabalho e nas relações de mercado para uma sociedade pós-mercado, onde o progresso científico e técnico libera o homem do trabalho. Daí alguns desses autores passam a se preocupar com questões como tempo livre e lazer. Esses autores apontam para a questão da diminuição da integração via trabalho acontecendo assim as chamadas novas formas de sociabilidade.

A discussão sobre a centralidade ou não-centralidade do trabalho na sociedade atual tem suas bases em Lucàks ( Ontologia do Ser Social) e em Habermas ( Mundo da Vida e Ação Comunicativa).

Em sua análise sobre a sociedade contemporânea, Habermas (1991) propugna que a centralidade do trabalho foi substituída pela centralidade da esfera comunicacional ou da intersubjetividade. Para ele, a análise encaminha-se no sentido de conhecer o "mundo da vida" do qual os elementos constitutivos básicos são a linguagem e a cultura.

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alcançar o entendimento. Ele propõe um conceito de sociedade entendida simultaneamente como mundo da vida e sistema (...) ele visualiza um processo de evolução social no qual a racionalização do mundo da vida se dá através da sucessiva libertação do potencial de racionalidade contido na ação comunicativa (PINTO, op cit, p.81).

Segundo Rifkin (1995, p.260), “a economia deixa de ser baseada em material, energia e mão-de-obra para outra baseada na informação e na comunicação...”

Para o intelectual francês André Gorz, um futuro promissor está reservado à humanidade. Segundo ele, a revolução tecnológica e a conseqüente diminuição do trabalho criaram, de um lado, uma elite de trabalhadores protegidos e estáveis; e de outro, uma massa de desempregados e de trabalhadores sem qualificação. Daí propõe que esses dois pólos se unam para aumentar a eficiência produtiva, sem cair, porém, no produtivismo, a fim de que cada um tenha bastante tempo para fazer o que quiser, ou seja, defende a redução drástica da jornada de trabalho(GORZ apud CARMO, 1992).

Para Claus Offe, a categoria trabalho não deve ser vista de forma tão abrangente a ponto de dar conta de todos os aspectos da sociedade. Afirma que é o “... poder determinante abrangente do fato social trabalho(assalariado) e de suas contradições que, hoje em dia, se tornou sociologicamente questionável” (OFFE,1985, p.171).

Esse mesmo autor utiliza como argumento para a defesa da perda da centralidade do trabalho o declínio do modelo de pesquisa social “centrado no trabalho”. Diz que: “A partir deste ponto de observação, é possível encontrar amplas evidências para a conclusão de que o trabalho e a posição dos trabalhadores no processo de produção não são tratados como o princípio básico da organização das estruturas sociais.” (op cit, p. 172)

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categoria central das relações sociais mesmo com todas as transformações ocorridas no mundo do trabalho: Lessa (1999), Antunes (1999 e 2002) e Mota (1998).

Analisando a centralidade do trabalho, Lessa respaldado em Marx, afirma que:

... considerar o trabalho como categoria fundante significa apenas e tão somente isto: o trabalho funda o mundo dos homens. Entretanto, não significa que se deva desconsiderar elementos das relações sociais que vão para além do trabalho enquanto tal, uma vez que, a reprodução deste mundo e a sua história só é possível pela gênese e desenvolvimento desses outros elementos. (LESSA, 1999, p.32)

Portanto, esse autor chama a atenção para o fato de que o trabalho não se resume à relação do homem com a natureza, mas também é a relação dos homens entre si no contexto da reprodução social e ressalta que:

Afirmar a centralidade do trabalho, para Marx, não significa desconsiderar a ação na história dos outros complexos sociais. Pelo contrário, apenas sendo, em última análise, fundados pelo trabalho, é que os complexos sociais distintos do trabalho podem interagir com ele, consubstanciando o complexo processo de desenvolvimento dos homens que é a reprodução social (op cit, p. 33).

Autores respaldados em Lucáks não concordam com a perda da centralidade do trabalho no universo de uma sociedade produtora de mercadorias. Antunes (1999) analisa que há uma redução quantitativa no mundo produtivo, no entanto, o trabalho abstrato cumpre papel decisivo na criação de valores de troca. Afirma ainda que o avanço tecnológico não elimina o trabalho; mas sim há uma intelectualização de uma parcela da classe trabalhadora.

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intercâmbio social entre os homens e a natureza. Chama a atenção para o fato de que a desconsideração da dupla dimensão presente no trabalho (concreto e abstrato) possibilita que a crise da sociedade do trabalho abstrato seja entendida como a crise da sociedade do trabalho concreto.

Antunes(2002) defende que o saber intelectual que foi relativamente desprezado pelo taylorismo-fordismo tornou-se, para o capital em nossos dias, uma mercadoria muito valiosa. Afirma que a incompreensão desse fato levou Habermas a visualizar um processo de cientifização da tecnologia, quando em verdade ocorre um movimento de tecnificação da ciência a qual não levou à eliminação do trabalho vivo, mas a novas formas de interação no trabalho, visando a sua diminuição.

Um ponto essencial nessa discussão sobre a centralidade ou não-centralidade da categoria trabalho na sociedade atual é que, segundo Antunes (1995, p. 86) aqueles que defendem a centralidade do trabalho acreditam no:

papel central da classe-que-vive-do-trabalho3 como sujeito potencialmente capaz, objetiva e subjetivamente de caminhar para além do capital, já os que não defendem a centralidade do trabalho não, acreditam na superação do capital através da classe trabalhadora.

Portanto, ele considera que a questão essencial na discussão sobre o trabalho hoje não é a afirmação do fim do trabalho ou da classe trabalhadora, mas sim, a busca da identificação de quem possui maior potencialidade e/ou centralidade nas lutas sociais atuais; se os estratos mais qualificados da classe trabalhadora ou os segmentos mais subproletarizados.

Granemann (1999, p.162) refuta a perda da centralidade do trabalho que alguns

3 ANTUNES reformula esse termo classe-que-vive-do-trabalho para classe-que-vive-do-seu-trabalho, por

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apontam como conseqüência da diminuição dos postos de trabalho afirmando que:

... saber que os postos de trabalho diminuem não resulta em corroborar com os argumentos de que o trabalho perdeu sua centralidade... o trabalho continua a ser o centro da estruturação capitalista, especialmente, porque o capitalismo ainda não conseguiu gerar riqueza senão pela apropriação do trabalho não-pago.

Carmo (1992) faz uma análise sobre a exaltação e o desprezo que se faz ao trabalho em determinados momentos históricos do capitalismo. Diz que com freqüência aparece alguém prevendo o fim da sociedade do trabalho, apontando como causa o avanço da revolução microeletrônica, que inauguraria uma nova era. Considera que esse sonho utópico, tão antigo quanto a própria humanidade, que é livrar o homem do trabalho, é realizado por alguns que vivem à custa do trabalho de outros.

Portanto, conforme os elementos aqui colocados sobre a categoria trabalho pode-se afirmar que este possui duas dimensões, as quais não devem ser deixadas de lado antes de fazer alguma análise sobre os mesmos. Quando falamos do trabalho no sentido geral, ou seja, no sentido do intercâmbio do homem com a natureza, de transformação de algo para a satisfação de suas necessidades ou no sentido da realização enquanto ser que ao transformar ou produzir algo está também se transformando e produzindo a si mesmo, aí somos levados a percebê-lo de uma forma positiva e necessária ao ser humano.

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É nesse sentido que o trabalho vai assumindo, a cada momento histórico do capitalismo, novas formas de apropriação e de gestão da mão-de-obra para que tenha condições de continuidade dessa mesma lógica, como veremos no próximo tópico que apresenta alguns elementos do desenvolvimento dos processos de trabalho em alguns momentos históricos do capitalismo.

1.2 - Reestruturação Produtiva, Neoliberalismo, Globalização e as novas configurações do Mundo do Trabalho

O trabalho na sociedade humana foi se intensificando na proporção da criação das ferramentas, primeiramente de pedra até às máquinas complexas. Com o advento das máquinas, desde os meados do século XIX, o trabalho acelera suas transformações dando-se início às grandes indústrias, e com isso às grandes cidades.

Os processos de trabalho foram evoluindo. No início, o trabalhador produzia individualmente todo o produto e era dono dos meios de produção - artesão. Em seguida, esses trabalhadores foram reunidos em um local - manufatura - onde produziam para um proprietário dos meios de produção em troca de um salário. Ainda aqui o trabalhador detinha todo o processo de produção.

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Num terceiro momento, com o avanço da administração científica do trabalho -Taylorismo - e os reflexos na produção, o trabalhador passa a executar o que foi pensado por outro. É neste momento que, segundo alguns autores, fere-se a principal característica do trabalho humano, ou seja, a capacidade de pensar, imaginar antes de concretizar a idéia; quebra-se a unidade concepção - execução.

No início do século XIX, Henry Ford, baseando-se nas idéias de Fayol e Taylor, introduz em suas fábricas novos métodos de trabalho, suplantando a produção de tipo artesanal da indústria automobilística pela produção em massa.

Os elementos constitutivos básicos do Taylorismo/Fordismo foram: o controle dos tempos e movimentos pelo cronômetro fordista e produção em série taylorista; a existência do trabalho parcelar e fragmentação das funções; a separação da elaboração e execução no processo de trabalho; a existência de unidades fabris concentradas e verticalizadas; a produção em massa, através da linha de montagem e de produtos mais homogêneos; e a constituição/consolidação do operário-massa, do trabalhador coletivo fabril, entre outras dimensões.

As idéias e objetivos desse modelo pretendiam a disciplina do trabalho, uma vez que os trabalhadores concentrando-se nas tarefas manuais e com rígida norma dos movimentos não teriam tempo para pensar e sim produzir o máximo possível no mínimo de tempo. Vê-se com isso que “além da disciplina do trabalho propunha-se uma ética, um padrão de conduta aos trabalhadores.” (GORENDER, 1997, p. 312).

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chamado Keynesianismo o qual sustentava a intervenção do Estado nas economias via gastos públicos (custeio e investimento) de sorte a assegurar a demanda efetiva e, assim, o nível de emprego. Novos papéis e poderes institucionais foram assumidos pelo Estado, expressos no keynesianismo, o qual, aliando-se firmemente ao fordismo, possibilitou a etapa de expansão do capitalismo monopolista, caracterizada pela expansão dos mercados em nível mundial. Portanto, juntamente com o fordismo, o keynesianismo é visto por muitos como de grande mérito pela prosperidade capitalista do pós-guerra. Segundo HARVEY (1989:119) o fordismo-keynesianismo teve como base "(...)um conjunto de práticas de controle do trabalho, tecnologias, hábitos de consumo e configurações de poder político-econômico(...)"baseado na "rigidez total": nos investimentos, nos mercados, na alocação, nos contratos de trabalho e nos compromissos do Estado.

No início da década de 70, o regime fordista-keynesiano começa a declinar devido a vários fatores, tais como: problemas que começam a se agravar por parte da mão-de-obra (desmotivação dos trabalhadores: abandono do trabalho, alcoolismo, fraco desempenho nas tarefas); a inflexibilidade da produção estava se tornando algo muito caro e não acompanhava as necessidades do mercado; e as dificuldades fiscais do intervencionismo estatal keynesiano e do Estado de Bem-estar Social.4

Surge então a necessidade de outros mecanismos, inéditos, de ganhos de produtividade. Todo o saber-fazer acumulado em torno das economias de escala e da grande série não seria mais imediata e diretamente utilizável. Com isso, o regime de regulação fordista-keynesiano foi substituído pelo chamado "modelo japonês" o qual teve origem na fábrica automobilística Toyota nos anos 1950.

Ohno (apud Coriat 1994) coloca dois pontos principais, ou seja, dois pilares do método Toyota: a produção just in time (produzir as unidades necessárias, nas quantidades

4 O Estado do Bem-Estar Social conferia as condições institucionais para a garantia de sobrevivência dos

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necessárias, no tempo necessário) a partir da qual têm-se a criação do denominado kanban (conjunto de princípios ou de recomendações antitayloristas, de desespecialização não somente do trabalho operário, mas do trabalho geral da empresa, reassociando no interior da oficina tarefas antes sistematicamente separadas pelo taylorismo) e a auto-ativação da produção, cujo princípio significa desespecialização e polivalência operária. Desespecialização dos profissionais para transformá-los em plurioperadores (profissionais polivalentes); intensificação do trabalho; modificação do sistema de emprego (flexibilização, terceirização, subcontratação) e do sindicalismo (agora o sindicalismo de empresa).

Segundo Ohno, o método Toyota não é uma técnica de produção "de estoque zero"; o "estoque zero" é apenas um dos resultados aos quais ele conduz, perseguindo um objetivo mais geral. Para ele, o sistema Toyota teve sua origem na necessidade particular em que se encontrava o Japão de produzir pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos e em seguida, evolui para tornar-se um verdadeiro sistema de produção.

Os defensores da tese da "especialização flexível" a tomam como uma nova forma produtiva a qual expressaria um modelo produtivo que recusando a produção em massa e recuperando uma concepção de trabalho - mais flexível - estaria isenta da alienação do trabalho (ANTUNES, 1999).

É notório que hoje não permanece tão rígida aquela separação concepção/execução existente no modelo de produção anterior (fordismo/taylorismo), onde os operários apenas executavam atividades repetitivas e rotineiras elaboradas por outros; ao contrário, tem-se agora a necessidade de trabalhadores qualificados, eficientes e participativos.

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por um sistema em que o trabalhador torna-se vigia de si próprio. Ele é déspota de si próprio; ele não se avilta com o chicote, ele se avilta no plano do ideário, empresa é a sua empresa, a produtividade é a produtividade de sua empresa

Percebe-se que a "aproximação" dos elementos concepção/execução no trabalho não tem contribuído para a autonomia do trabalhador sobre o processo produtivo. O poder de decisão do trabalhador por mais "democrático" e "cooperativo" que seja, o seu trabalho sempre está limitado aos interesses daquele que lhe contratou.

Como afirma MOTA ( 1998, p.10):

O canto dos cisnes da "emancipação" do trabalhador na ordem vigente, a externalização da produção não passa de uma nova forma de estruturação do trabalho abstrato e que se revela como um verdadeiro reino de liberdade, propriedade e igualdade

Analisando a participação dos trabalhadores na esfera da produção, Lojkine ( apud YACOUB, 1998, p.56) afirma que:

tais estratégias de participação não produzem efeitos na divisão entre trabalho manual e intelectual, concepção e execução. O que se verifica é uma cooperação horizontal no que se refere ao processo produtivo, mas não vertical alcançando a organização e a gestão do trabalho

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era neoliberal, o novo complexo de reestruturação produtiva, cujo momento predominante é o toyotismo, pode ser considerado uma nova ofensiva do capitalismo na produção.”

Reestruturação produtiva, segundo Leite(2003), se refere às mudanças nas modalidades de emprego, na estrutura industrial e na organização do trabalho, as quais emergem como faces complementares do paradigma da flexibilidade. É o conjunto de tendências extremamente insatisfatórias em termos sociais, como o aumento do desemprego, a precarização5 do trabalho, o crescimento do trabalho informal, o rebaixamento salarial, a

expansão das chamadas formas atípicas da contratação, como o trabalho temporário e em tempo parcial.

ALVES (2000) analisando o processo de reestruturação produtiva, enquanto estratégia de adequação do capitalismo, aponta a ocorrência de três surtos de reestruturação produtiva no Brasil pós-1945. Num primeiro momento, com a instauração da grande indústria de perfil taylorista-fordista em meados dos anos 50; num segundo momento, na época do “milagre brasileiro”, na passagem para os anos 70; e num terceiro momento, que ocorre atualmente, com o predomínio de um novo padrão de acumulação capitalista, a acumulação flexível, a partir dos anos 80 e impulsionado na década de 90 sob a era neoliberal.

As tendências principais da reestruturação produtiva, tanto internacional como nacionalmente, têm apontado para a desestruturação do mercado de trabalho.6 Estudos

5 O termo precarização do trabalho tem sido utilizado em referência a uma diversidade de situações laboriais

atípicas que se tornaram expressivas nos anos 90 como reflexo da crise do sistema econômico(..) as formas de inserção ocupacional apresentam características de não serem regidas por contrato de trabalho assalariado típico e as condições de trabalho tendem a um padrão inferior frente á condição assalariada. A definição de trabalho precário contempla pelo menos duas dimensões: a ausência ou redução de direitos e garantias do trabalho; e a qualidade no exercício da atividade. (GALEAZZI,2002)

6 Para Pochmann (1999)

estruturação do mercado de trabalho significa o aumento do emprego formal ( 1940 a

1980), período em que acontece a consolidação do projeto de industrialização nacional, a institucionalização das relações de trabalho através da normatização realizada pelo Estado ( conjunto de normas legais difundidas pela CLT), e desestruturação do mercado de trabalho significa a diminuição dos empregos formais; inchamento do

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existentes sobre o assunto demonstram que essas tendências não fazem parte de um caráter parcial da reestruturação, ao contrário, emergem como tendências estruturais desse processo.

MOTA(1998) diz que a marca da reestruturação produtiva no Brasil é a redução dos postos de trabalho, o desemprego dos trabalhadores do núcleo organizado da economia e sua transformação em trabalhadores por conta própria. A conseqüência disso é o enfraquecimento dos processos de organização dos trabalhadores, como também as mudanças dos objetos das reivindicações, as quais passam a ter outros significados, que sendo originárias do projeto do capital, são assumidas como se fossem do trabalhador. Daí a necessidade do modelo de produção atual demandar o envolvimento do trabalhador com as necessidades da produção.

As transformações tecnológicas, a descoberta de novos materiais e as novas formas de organização e gestão do trabalho têm provocado mudanças não só no mundo do trabalho, mas também refletem em toda a organização societária; ou seja, as relações econômicas, políticas e sociais não são as mesmas.

Como afirma Kuenzer(1998), a partir das novas bases materiais de produção estabelecem-se novas formas de relações sociais, que, embora não superem a divisão social e técnica do trabalho, apresentam novas características: a partir da intensificação de práticas transnacionais na economia com seus padrões de produção e consumo, nas formas de comunicação com suas redes interplanetárias, no acesso às informações, na uniformização e integração de hábitos comuns e assim por diante, ou seja, a globalização.

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Percebe-se com isso a existência de transformações no âmbito do trabalho, juntamente com uma série de transformações econômicas, sociais e políticas que correspondem ao esgotamento de um momento de acumulação capitalista e à emergência de um novo modo de acumulação, o que tem tido profundas implicações para as relações de trabalho.

O surgimento e o avanço do neoliberalismo, segundo análises de Rodrigues(2004), acontece da seguinte maneira: na década de trinta acontece uma crise de superprodução na economia mundial, o que leva economistas a perceberem uma anarquia desregrada do mercado tornando-se uma preocupação com os riscos para a manutenção do capitalismo. Com isso surge a obra do economista John Maynard Keynes que, em 1926, postulou a ruptura das bases do capitalismo laissez-faire, e propôs aos economistas pensarem melhor sobre a intervenção governamental e como esta poderia contribuir com o capitalismo, ao invés de considerá-la desnecessária ou prejudicial ao sistema.

A partir da generalizada aceitação das idéias de Keynes nos países capitalistas centrais, no segundo pós-guerra, deu-se origem ao Welfare State Keynesiano.

Com a crise mundial do capitalismo, na década de setenta, surgem as críticas a esse padrão de acumulação baseado no fordismo/keynesiano, propondo-se agora um novo modelo político ideológico e de gestão econômica chamado de neoliberalismo.

As raízes mais remotas do neoliberalismo encontram-se na chamada escola austríaca, que centralizou-se em torno do catedrático da Faculdade de Economia de Viena, Leopold Von Wiese, na segunda metade do século XIX, o qual ficou conhecido por seus trabalhos teóricos sobre a estabilidade da moeda, especialmente o publicado com o título de “ O Valor Natural” – 1889.

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Em 1947 acontece o célebre encontro de um grupo de intelectuais conservadores em Mont Pélier, na Suíça, onde formaram uma sociedade de ativistas para combater as políticas do Estado de Bem-Estar Social – as políticas do Estado de Bem-Estar tiveram início em 1942 com a publicação do Relatório de Beveridge, na Inglaterra, e tinham como princípios uma programação de aberta distribuição de renda, baseada no tripé da Lei da Educação, do Seguro Nacional e do Serviço Nacional de Saúde.

Outra vertente do neoliberalismo surgiu nos Estados Unidos, na Escola de Chicago do Professor Milton Friedman, o qual combatia a política do New Deal do Presidente Roosevelt por ser intervencionista e pró-sindicatos.

Até a década de 1970, o neoliberalismo ficou restrito às discussões localizadas, impedido de se expandir devido à longa era de prosperidade que impulsionou o mundo ocidental depois da Segunda Guerra com a adoção das políticas keynesianas e sociais democratas. Com a grande crise do capitalismo nos anos 70, provocada pela crise do petróleo e pela onda inflacionária, o neoliberalismo passa a expandir-se gradativamente quando começa a colocar a crise como resultado das políticas do Estado de Bem-Estar e a sua aliança com os sindicatos.

O primeiro governo ocidental democrático a adotar os princípios do neoliberalismo foi a Inglaterra, com Margareth Tatcher, a partir de 1980. Esse passou a ser modelo para as políticas de diversos países e, hoje, a hegemonia do neoliberalismo é tamanha que consegue manter o seu receituário político, econômico e ideológico nos mais diversos países do mundo.

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a ser chamadas de Consenso de Washington, e teve como principal objetivo passar um receituário neoliberal a ser adotado pelos países latino americanos como condição para que eles pudessem receber “ajuda financeira”.

Com isso, o Brasil inicia o processo de implementação das propostas neoliberais. A partir de 1989, com a eleição de Fernando Collor de Mello, as políticas econômicas brasileiras passam a se ajustarem a esse modelo. Dando prosseguimento a esse ajuste, Fernando Henrique Cardoso, Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, adota as proposições do Consenso de Washington e organiza um plano econômico que estabilizou a moeda com base na adoção da âncora cambial, elevação das taxas de juros, contenção dos salários e corte dos gastos do governo com políticas públicas.

A crise vivenciada pelo sistema capitalista, a partir da qual iniciou de forma mais evidente, todo esse processo de substituição de um padrão de acumulação por outro modo baseado na globalização e no neoliberalismo, acontece em finais dos anos 60 e início dos anos 70. Essa crise foi provocada pela redução dos níveis de produtividade do capital com o esgotamento do padrão de acumulação taylorista – fordista de produção e atribuída aos limites estruturais da estratégia keynesiana, que permitira a expansão da acumulação no pós-Segunda Guerra Mundial.

Para Harvey (1989), a crise dos anos 70 caracteriza-se pelo esgotamento do modelo fordista-keynesiano de produção e regulação, o que levou à passagem para o regime de acumulação flexível, caracterizado pela flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo.

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Entende-se que as transformações estruturais do capitalismo e a profunda alteração na dinâmica da sociedade salarial não chegam a conformar uma sociedade inteiramente nova, como também ocorre em relação às novas feições do mundo do trabalho e da questão social; ou seja, elas não chegam a representar uma ruptura radical em relação às suas expressões anteriores. A ofensiva revolução tecnológica na produção, a mundialização da economia e o ajuste neoliberal, surgem como resposta à queda das taxas de lucro nos anos 70.

Antunes (2002) analisando esse processo de substituição do modelo de acumulação do capital, e enfatizando o papel da organização dos trabalhadores nesse processo, diz que os anos 73 e 74 marcam a conjugação de muitos elementos dos quais ele acentua dois: uma tendência decrescente das taxas de lucros e uma intensificação das lutas sociais no final dos anos 60 e começo de 70. Segundo ele, naquele momento esboçou-se uma contra-hegemonia do trabalho que, nas lutas sociais de 68 a 72, tocou num dos pontos fundamentais da lógica do capitalismo, qual seja a necessidade de luta pelo controle social da produção.

Para Mota (1998), todo o processo de transformações no mundo do trabalho e, principalmente, na esfera sócio-política e institucional, trata-se da construção de outra cultura do trabalho e de outra racionalidade política e ética compatível com a sociabilidade requerida pelo atual projeto capitalista.

Todas as mudanças ocorridas relacionam-se com o atual estágio de desenvolvimento do modo de produção e processo civilizatório, com base no avanço tecnológico e na nova divisão internacional do trabalho e mundialização dos mercados.

Segundo Faleiros (1999, p.211):

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O termo globalização está sempre na ordem do dia, e há algum tempo era visto como novidade. Contudo, analisando-se a história do capitalismo vê-se que a expansão sempre se constituiu como objetivo desse sistema. O que muda no decorrer dos tempos do capitalismo é a forma e o grau de intensidade da expansão ou universalização.

Marx já falava sobre o processo de globalização quando apontou para a mundialização da esfera da circulação de mercadorias e do capital e para a extensão dos interesses produtivos (extrativos e, posteriormente, industriais) a todo o globo. No Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels já falavam do processo de criação do “mercado mundial". (MARX e ENGELS, 2002, p.46)

Não pode-se, no entanto, deixar de reconhecer que no atual momento a globalização assume alguns aspectos específicos em relação às formas anteriores. Como afirma Ianni (2001, p.22): “... tem-se hoje o trabalho coletivo desterritorializado onde há uma cadeia mundial de cidades globais, que passam a exercer papéis cruciais na generalização das forças produtivas e relações de produção em moldes capitalistas.”

Para Carvalho (1998, p.8-9), a globalização é um conceito em moda que foi criado pela ideologia neoliberal para nomear o atual momento do sistema capitalista, termo que se transformou num mito. Segundo essa autora, o termo globalização "camufla as desigualdades, polarização e exclusão que marcam o capital mundializado nesta virada do milênio". Por isso, prefere utilizar o termo "mundialização do capital" criado pelo economista francês François Chesnais "um dos primeiros a denunciar o caráter ideológico, apologético do termo globalização".

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