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: 1111111111111111111111111111111111111111
,,..•.,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
PLANEJAMENTO URBANOJ
DO POPULISMO AO ESTADO AUTORITARIO:
O CASO DE SAO PAULO
Banca Examinadora:
Prof. Orientador: Luis Carlos Bresser Pereira
Prof.
Prof.
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ESCOLA DE ADMINISTRAÇAO DE EMPRESAS DE SAo PAULO DA
FUNDAÇAO GETOLIO VARGASzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
"'.;.0.'
EVELYN LEVY
PLANEJAMENTO
URBANOJ DO POPULISMO
AO ESTADO AUTORITÃRIO:
O
CASO DE SÃO PAULO
'Disser-tação Apresentada ao
Curso de Põs-Graduação da EAESP/FGV
1\rea de Concentração: Pl anesrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAjamen to
Urbano, como requi si to para obtenção
do titulo de mestre em Administração
AGRADECIMENTOS
A
CAPES e ao CNPq agradeço pelas bolsas obtidas, sem as quaisa realização do Mestrado teria sido imposslvel.
Aos ~estres da FGV pelo incentivo, carinho e exemplo, em
espe-cial a Henrique Rattner, meu mestre de muitos anos.
Aos colegas do Mestrado que colaboraram para que ele fosse uma
experi~ncia ainda mais rica, em especial a Bruno e Celso Da-srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ni e1 •
Aos bons amigos da turma de "Espaço & Debates" comquem hã anos
aprendo, por seu imprescindlvel apoio.
Aos amigos do Planejamento, pelas venturas e desventuras,em es
pecial a Maria 'Adelia A. de Souza.
Aos meus alunos da FAU de Santos pelo tanto que me ensinam.
A todos aqueles que procuraram iluminar o túnel, quando este e~
cureceu, em especial a Heddy e David Ferreira, a Flavio e Bia
Bitelman, a Marion e Horacio Cymes, a Antonio Carlos e Marilia
Garcia, a Margarida Cintra Gordinho, a Nelito e Marizita Pinto
. . ." .
da Silva, a Gerry e Regina Reis s , }'/HÕ'berto Lamoglia de
Carva-lho, a Vo 1 f e I n e s S te i n b a ~m , a ~!au
lAI
M ~ 1 a n ie S i n g e r , uma 9 r ~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A meus cunhados - meusirmios - e ao mano Dudu.
Tamb~m aos tios, primos e sobrinhos pelo carinho.
A
minha ~ogra, Cotta Levy, com amor.A
minha mae, Lena Strumpf, pelo seu calor e muito mais.A
mem5ria de Paul Strumpf, meu pai, Jayme Levy, meu sogro .eHenrique Moll, meu tio, ainda assim meus esteios.
A
mem5ria do bom amigo Moacir Tadeu Lima que me ajudou aco-nhecer teoria e realidade, saudades.
Aos queridos amigos Marilia Garcia, Edison Nunes, Jacqueline
Low-Beer e Silvia Kempenich que certamente contribuiram para
que as falhas deste trabalho fossem menores.srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
-A voces duas, Ruth e Pieca Levy, que tornam meu
macio.
cotidiano
E, finalmente~ para meu pequeno mestre Andr~ por tudo que vi
vemos juntos at~ aqui ,e por seus olhos voltados para o futu
rNDICE
PLANEJAMENTO URBANO, DO POPULISMO AO ESTADO AUTORIT~RIO:
O tASO DE SAO PAULO
I - INTRODUÇAO
1. Apresentação
2. A Estrutura da Investigação
G)
Urbanismo e Planejamento Urbano4. Quadro Te6rico Geral'
5. O Urbano, o Capital e o Estado
11 - A EMERGrNCIA DAS QUESTOES URBANAS EM SAO PAULO
1. Referências Gerais: Industrialização e
Urbanização a partir de 1940
2. A Emergincia das QuestEes Urbanas em são Paulo
3. O Quadro Polltico Geral: Lutas de Classe no Populismo
4. A Politização do Espaço Urbano
a. Cidade e Classes Populares
b. A Cidade e a Oposição das Elites
b.l - A Sociedade Amigos da Cidade
b.2 Lebret
b.3 - A SAGMACS
b.4 - O Instituto dos Arquitetos - IAB
b.5 - O Movimento Universitãrio de
Desfavelamento - MUD
5. O Estado e a Cidade no Período Populista
6. A Cidade e o Populismo: Um Balanço CrlticosrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
111 - A INSTITUCIONALIZAÇ~O DO PLANEJAMENTO URBANO
1. Novas Formas de Produção: Capitalismo Monopolista de
Estado
2. O Novo Pacto 'de Poder e o Estado Autoritirio
3. Planejamento Urbano e Regional a Nlvel Federal
4. São Paulo dos Fins dos Anos 60 aos Fins dos Anos 70:
Transformações e Conflitos
a. Transformações
b. Conflitos
5. O Estado Autoritirio, e a Cidade
a. Os Prefeitos: Administração e Polltica (1965-79)
b. A Hora e a Vez do Planejamento Urbano
b.l - O Plano Urbanlstico Bisico
b.2 - O Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado
b.3 A Coordenadoria Geral de Planejamento -COGEP
b.4 - O Planejamento Metropolitano
- 1 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I - INTRODUCÃO
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA1.·
APRESENTAÇÃO
Ao longo da decada de 50 as cidades brasileiras pa~
saram a ser objeto de multip1as preocupaçoes.
Efetivamente o pals passava por um processo de
rãpi-da e intensa urbanização, acompanhada por uma nio menos
inten-sa efervesc~ncia polltica. A combinação desses dois processos
levou
a
"p o li t iz ação do u rb a no " (1).A relação intrincada entre os processos econ5micos e
polfticos em curso levaram a que, na decada seguinte, se desse
uma substancial transformação do Estado brasileiro. Nesse qu~
dro pode-se destacar a institucionalização do Planejamento
Ur-bano: Quero com isso assinalar a criação de um sem~numero de
5rgãos p~blicos, municipais, estaduais e federais, aos quaise~
tã afeta a tarefa de "r e s o l ve r os problemas urbanos".
Parale-lamente criaram-se cursos de piis graduação para formar os
"r-e-cursos humanos para o Planejamento Urbano e Regional".
Em outros termos, a expansio do Planejamento Urbano
significou:
l)a absorção, por parte do Estado, de "no va s que stjie s :';
2) a constituição de uma técnoburocracia especializada;
3) a divulgação {e constituição} de um conhecimento novo.
Esta descrição sumãria e linear esconde, na verdade,
uma serie de contradições. Muitos dos que viveram a experi~~
cia do Planejamento Urbano (e Regional) tanto no Brasil, como
na America Latina, encontraram-se diante de dilemas intransP2
nlveis. Da parte dos planejadores havia um sincero empenho na
correção dos desequillbrios regionais e das cidades ca5ticas e,
no entanto, o produto de seu trabalho raramente atingiu ao
me-nos um dos alvos a que se dirigiam, fazendo todo·o processo p~
(1 ) A expressão é de Benlcio V. Schmidt que assim chamou seu artigo
- 2 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
recer totalmente absurdo. Bolaffi assim. o caracterizou:
"Com pouquissimas e honrosas exceções, prefeitos, gQ
vernadores e executivos de grandes empresas 'publicas que
enco-mendaram planos e projetos não tinham nem queriam ter nenhum
conhecimento-doque-era.··!aquilo· que aquela gente·de fora
vi-nha fazer. Realizar um plano fazia parte do discurso da epoca,
e tudo o que sintonizava com o discurso era bom e deveria ser
feito". (Bolaffi, 1982, 53).
Foi a partir do desenvolvimento de um conhecimento
teórico critico que algumas dessas questões puderam ser enfre~
tadas (2). O trabalho de alguns estudiosos permitiu, em sinte
se:
1) o despojamento do termo "urbano" de seu carãter ideológico,
a medida que esse tratamento critico conseguiu estabelecer
as relações entre a luta··de-cla~ses e-as contradições
urba-nas;
2) por outro lado, p~rmitiu uma nova visão do processo de urba
".srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA .
nização, a partir de uma anãlise que assoc~a as formas
(ge-rais e especificas) do desenvolvimento das forças
produti-vas, no caso, desenvolvimento das formas capitalisticas de
produção.
Restam algumas questões em aberto que se referem an
cúnteudo po1itico do Planejamento Urbano. Para o caso
brasi-leiro essas questões giram aproximadamente em torno de um
mes-mo eixo, a saber, por que o Estado Auto~itãrio absorveu e
ex-pandiu. o Planejamento Urbano? Como pôde o Estado Autoritãrio
(conservador) absorver essa proposta que provinha de grupos prQ
gressistas, em geral de esquerda? Que poder alcançou aburocr~
da do Planejamento Urbano, entendendo-se ai a aceitação (e rea
lização) de suas propostas? Quais interesses de classe foram
defendidos por essa burocracia?
2. A ESTRUTURA DA INVESTIGAÇ~O
Este trabalho se destina a montar uma estrutura de r~
(2) Entre os vâr-í os autores que permi tiram esse avanço podemos destacar M~
nuel Castells (1975, '1977, 79), e no Brasil , Paul Singer (1973) e Fran
- 3 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
lações hist5ricas ete6ricas que possibilite uma aproximação ao
entendimento dos problemas enunciados acima.
Assim, o segundo: capitulo deve permitir aoleitor en
tendersrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAü que são as chamadas "questões urbanas" e por que
fo-ram politizadas naquele momento. Ao mesmo tempo serão relaciQ
nados os grupos que levantaram essas questões com a dinâmica PQ
litica prevalecente. Finalmente serã possivel apreciar os
re-sultados da ação do Estado, sua estrutura e sua ideologia com
respeito ã cidade. O ~egundo capitulo encerra, portanto, uma
anãlise da relação politica/Urbano no periodo populista.
No terceir.o·capitulo e descrito o processo de institu
..~-. .
-cional izaçào do Planejamento Urbano compreendendo as novas es-,.
truturas, a burocracia, a ideologia e os resultados de suaatua
çao. Essa anãlise se faz ã luz das transformações ocorridasno
âmbito politico e econ~mico.
O Gltimo capitulo se destina ãdiscussão das
tões aqui colocadas.
ques-Resta assinalar que se irã estudar o caso da cidade
de São Paulo, o que restringe a validade das conclusões mas via
biliza uma pesquisa acadimica desta natureza, sem que se
per-cam elementos essenciais ..
3.
URBANISMO
E PLANEJAMENTO
VRBANO
Antes de proceder ã anãlise e preciso definir o
Pla-nejamento Urbano.
Ate a decada de 60 predominou no Brasil, tanto no ã~
bito acad~mico, como no governamental uma certa concepção dei~
tervenção do Estado na Cidade que se denominou Urbanismo. Essa
concepçao foi sendo introduzida, enquanto teoria e prãtica, a
partir do final do seculo XIX.
Construido nos paises industrializados, o Urbanismo
partia do p rin cIp t o de que lia industrialização gerou uma desor
dem social e urbana, ã qual deveria ser imposta, ou aposta,uma
,"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
4
-uma l6gica racional-arquitetEnica em contraposição as
estrutu-ras urbanas ~spontineas ou 'naturais'. Ao indivlduo-tipo,
a-temporal e a-hist6rico, corresponde uma ordem-tipo, para o prQ
gresso. A cidade ~ vista como um instrumento de trabalho,
ge-rando-se assim a especialização de porçõesdoespaço urbano, vi
sando maior eficãcia e riqueza formal. Segundo Le Corb~sier,
a geometria é o encontro entre o belo e o verdadeiro". (Monte-srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Mo r, 1981 ,6) .
No Brasil, o Urbanismo foi sendo paulatinamente
in-corporado sobretudo pelos profissionais egressos das escolas de
Engenharia, sendo aplicado na edificação de cidades novas.Exe~
plo ,disso são Belo Horizonte, Goiinia e Teresina. Monte-Mor
também cita cidades que foram construi das a partir da 'implant~
. .
ção de projetos industriais, como ~ o caso de Volta Redonda, ~
cesita, Ipatinga (Monte-Mor, 1981, pago 3). O processo de prQ
jeção de cidades novas marcadas pelo Urbanismo culminou comBra
sI l ia.
Mas as cidades jã existentes, tal como.São Paulo, fQ
ram igualmente objeto de um tratamento de cunho "urba.nisti co".
Em 1930 o Eng9 Prestes Maia publicava seu famoso "Plano de Ave
nidas". Le Corbusier, durante sua perman~ncia no Brasil deixa
um plano para são Paulo e outro para o Rio de Janeiro. Para o
Rio também foi realizado, em 1930, o "Plano Agache". Em que p~
sem as diferenças, ~ posslvel verificar no trabalho destes
au-. .
tores as premissas bãsicas caracterizadas po~ Monte-Mor, ou se
. .
ja, o ordenamento flsico tendo em vista o embelezamento, e mui
tas vezes a salubridade (3).
r
na d~cada de 50 que a i~~ia de Planejamento Urbanopassa a ter c ircu laç ão cada vez mais ampla. Desenvolvido naEu
-c, ropa e nos Estados Unidos, no p6s-guerra, o Planejamento
Urba-no se ancora na teoria dos "polos de crescimento" de François
Pe rroux.
(3)
No B.rasi 1 passa a ser di fundi do, entre outros, por P~
A dissertação de Mestrado de Marcos Antonio Ose110, apresentada na
5
-dre Joseph Lebret que na SAGMACS (4), constitui uma equipe de
tecnicos para a elabo~ação de alguns planos di~etores. A exp~
riência do "Plano Diretor" urbano era praticamentesrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAinê d t ta no
Brasi 1, excetuando-se aque 1es rea 1 i zados pe 1 a Prefei tura de Por
to Alegre ainda em 1947/48.
Na SAGMACS, Lebret irã desenvolver uma nova metodolo
gia de rastreamento da cidade, atraves da qual se obtem um qu~
dro das condições gerais de vida da população, e seu acesso d~
sigualzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAã habitação, e aos equipamentos comunitãrios.
A especulação imobiliãria passa aser foco de atenção
e se desenvolvem, então, estudos de uso-do-solo, como os de
A-nhaia Melo.
o Planejamento Urbano vai tornando a ci dade objeto de
estudo de arquitetos, e, posteriormente, de economistas, sociõ
logos e geõgrafos.
Al~m de alargar osignificadodo,urbano por
interme-dio da absorção de concepções das Ci~ncias Sociais, introduzir
a ideia de Plano Diretor para a gestão'da cidade, o Planejame~
to Urbano tem por pressuposto um novo tipo de ação dos poderes
p~hlicQs, e
e
isso afinal que aqui importa sublinb~I. __Jorge Wilheim, em seu "são Paulo, Metrõpole 1965"
(W i 1he im , 19 6 5 , 121)"" i1u s t ra e s s a no va c o n.ce p ç a o :
"(A esclerose das administrações municipais) ... A ad
ministração municipal montou assim uma estrutura que
frequentemente não coritrolava serviços essenciais.E~
ta estrutura, alem de incompleta não tinha flexibili
dade funcional a fim de adaptar-se ã dinãmica do
de-senvolvimento urbano. Finalmente a estas duas
defi-ci~ncias somou-se o fracasso dos serviços p~blicos,
como de c o rr-encia do loteamento".
"(Medidas Possiveis) Um plano diretor e uma arma de
ação que se desenvolve e aperfeiçoa paralelamente ao
(4) Sociedade para Anãlise Grãfica e Mecanogrãfica Aplicada aos Complexos
6
-próprio desenvolvimento do organismo vivo chamado ci
da de. O p 1a n o oã o e, p o r i s som e smo, um d o c u me n t o r!
gido. Ele se compõe de um órgão elaborador, de um do
cumento base (o plano diretor propriamente dito), o
qual se apresenta sob forma grifica (plantas e
rela-tórios), e sob forma jurldica (leis eregulamentos)".zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
110 órgão elaborador deVesér um o rq e nl smo tecnico,i~
cluindo um setor de representação publica. Deve ter
autoridade superior ã das secretarias municipais,re~
trita, porem, ao seu campo e s p e csrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAff ic o ; somente come~
ta autoridade poderã ao·mesmo tempo programar obras,
indicar recursos e firmar convênios com entidades es
ta dua í s ;" (Grifos do autor) (Wilheim, 1965, 121).
O Planejamento Urbano subentende, pois, ocontrole so
bre o espaço, entendendo-se este ultimo quase como um fator de
produção.
Com efeito, e a localização que e definida como
fa-tor de produção implicando em custos, ora "sociais", ora de prp
dução. A continuidade dos processos de ocupação espontânea do
espaço e apontada como causa de "de s e c o nom ia s urbanas",
lIirra-c io na l ida dev na aplicação dos recursos piiblico s , e perda da "q u a
1i dade de vi da ". A ordenação adequada do espaço, segundo essa
lógica, permite um maior retorno do capital privado e publico
e satisfação das demandas dirigidas ao Estado pela população.
Desnecessãrio dizer que essa concepção sobre o
Urba-no emerge no momento em que o Capitalismo Monopolista do
Esta-do se impõe como forma de organização das forças produtivas e
relações sociais. Nesse sentido e forçoso reconhecer um
movi-mento geral no interior dessas formações que permite, em maior
ou menor grau, que essas concepções encontrem legitimidade ou
"validade cientlfica" de forma bastante generalizada. Esse mo
vimento geral se traduz, no âmbito econ5mico, em uma nova art!
culação entre o Estado, a reprodução do capital e a reprodução
da força-de-trabalho. - No âmbito po lf t í co se. traduz em novas
formas de dominação, novas relações entre as classes Sbciais e
o Estado, novo perfil (estrut~ra) desse mesmo Estado, e uma no
- 7 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Em suma, uma a~ilise da institucionalização do Plane
jamento Urbano no Brasil passa, no meu entender, pela
conside-resrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAcao dessa s mudanças estrutura i s.
Cabe ressalvar que uma análise beneficiada por umqu~
dro teórico geral a respeito do Estado Capitalista, em seu
es-tágio Monopolista, não pode prescindir de uma concepção especi
fica do Estado Brasileiro.
4.
QUADROTEORICO
GERAL
Toda a problemática da dominação politica ganhou um
novo estágio de amadurecimento teórico a partir da'obra de
Ni-cos Poulantzas.
Dentro da vertente marxista (ou neo-marxista) talvez
seja a contribuição de Poulantzas, marcadamente estruturalista,
aquela que permitiu um estudo aprofundado do Estado nas socie
dades contemporâneas.
A escolha do quadro teórico proposto por esse autor
foge assim das formas usuais de análise das "politicas
Publi-cas", ainda bastante influenciadas pelo pensamento funcionali~
ta. Por esse motivo será preciso recuperar algumas de suas fo!,
mulações que serao aqui empregadas como instrumental analitico.
r
sabido que para o marxismo o Estado integra asu-perestrutura juridico politica de um modo-de-produção, a qual
por sua vez integra, com a base econ5mica e a instância ideol§
. .-
-gica, a totalidade social. Uma vez que cada Dma das
instân-cias - a econõmica, a politica e'a ideológica - tem ao nivel
-concreto das formações sociais "temporal idades diversas",
de-terminadas pelos diferentes planos em que se desenvolve a luta
de classes, Poulantzas designa como a função geral do Estado a
"de constitu;-r o fator de coesão dos niveis de uma formação s2
c i a 1" (P o u la n t zas, 1 968, . 42)' e e nesse
-
sentido que o apr~ende como "pr;-ncipio deorganizaçãoll
•
Asstm, o Estado
e
visto como IIlugar de condensação- B -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
próprias" (Pou lzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAansrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAtz a s , 168, 43) e a estrutura do politico como
, . "
"n1vel especlfico de uma formação e lugar das suas
transforma-ções" (o que torna) a luta po lftic a o "motor da história" (Po~
lantzas, 1968, 43). Alem de manter a coesão entre as .
instân-cias - defasadas - relativamente aut6nomas, o Estado se
cons-titui em fator de coesão da superposição complexa de virios mo
dos-de-produção.
Essas diversas funções - tecnico-econ6mica, pOlitica
. "
e ideológica - são sobredeterminadas, segundo Poulantzas, pela
. "
função propriamente politica, ou seja, lia que diz respeito ãl~
ta po lItí ca de classes" (Poulantzas, 1968, 48). Contudo e pre
ciso ver que essas funções não se referem à função politica em
sentido estrito mas "na medida em que visam, em primeiro lugar,
a manutenção da unidade de uma formação social, baseada em
~l-tima anilise na dominação politica de classe"
1968,52).
(Pou1antzas,
Em primeiro lugar, diz Poulantzas, a função do
Esta-do diz respeito ao nivel econ6rnico, e em particular ao
proces-so de trabalho, ã p~odutividade do trabalho, enquanto a função
politica do Estado e a manutenção da ordem politica.
Poulantzas v~ o Estado corno instituição, centro de
exercicio do poder politico,ao lado de outras instituições/cen
. .
tros de poder - detida~ pelas classes sociais. Essas institui
ções/centros de poder não possuem um poder au tênomo ana s "sf p~
'. . .
dem ser relacionadas às classes sociais que det~m o pode~lI(po~
lantzas, 1968, 111).
Entretanto a proposição de Poulantzas
e
reflexa nam~dida em que admite uma autonomia relativa das instituições (em
relação às classes sociais) decorrente de sua relação com ases
truturas, lidai o deslocamento do poder de um centro para
ou-tro".
O conceito de classe para Poulantzas parte da dinâmi
ca social (priticas de classe) que e mediatizada pela presença
das estruturas. (liAs classes sociais só são concebiveis emter
9
-o resul ta d-o da f-orma que as contradições' entre as estruturas sesrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
,
revertem nas .relações sociais"). Al~m do cariter dinâmico do
conceito, Poulantzas prefere uma definição mais global de cla~
se social que transcende o nivel puramente econômico: "... a
constituição das classes não diz respeito somente ao nivel ec~
nômico, antes consiste em um efeito do conjunto dos niveis de
um modo-de-produção ou de uma formação social". (Poulantzas,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
1968, ~7).
o
crit~rio que permite decifrar lia existência de umaclasse ou fração enquanto força social" e sua manifestação
a-traves de "efeitos pertinentes", ou seja, a criação de
elemen-tos novos que transformam os',,)imites dos niveis (estruturaisou
da luta de classes) . Assim a' I!ex i s tê nc i a de uma classe em uma
formação supõe sua presença a nivel politico por efeitos perti
nentes que, no entanto, não têm necessidade de se desenvolver a
t~ a organização politica ou ideolõgicaprõprias". (Poulantzas,
1968, 76).
o
conceito de interessesBA d e classe pertence ao campo. .
das priticas (pritica
=
"transformação de um objeto que criealgo de novo") de classes. Os interesses indicam"os limitesco
locados pelas estruturas às priticas", e e na relação entre as
classes que os interesses de cada uma se definem. Finalmente,
~ atraves desse conceito que Poulantzas define tambem o poder
(poder
=
capacidade de realizar interesses).I~ ~oder situa-se aonivel das diversas priticas de
classe, na medida em que existem interesses de classe
relati-vos ao econômico, ao politico eao ide o lêqt co ... dai a distin
-ção entre poder econômico, poder politico e poder ideolõgico
consoante a capacidade de uma classe de realizar seus interes
ses relatí vame n te autônomos em cada nivel"-. liAs relações
en-tre estes poderes referem-se à articulação das diversas
priti-. .
cas - interesses - de classe, que tefletem, de um modo
defasa-ôCf;-a-art"i cul ação das di versas estruturas de uma formação
so-cia1, de um d es eu s e s tã9ioso u fa se s11 (Po u1a n tzas, 196 8, 109 ) .
--srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA•••. 'zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
'''''''''''--/
./'
- 10
-modo-de-produção Capitalista ~ de tal ~orte - coloca o autor
-que parte dos interesses econ6micos ~estas ~ltimas, e eventual
mente contririos aos das classes dominantes, tem certa
garan-. .
tia de re a 1 i z a ç ã o . 11E s s a 9 a ra n t i a v is a ã de so r 9 a n i z aç ã o da 1 u
. .
ta politica das classes dominada~_~_~_~_~~i~ ~~~vezes indispe~
sâve l para a hegemonia das classes dominantes". (Poulantzas,
1968, :186).;
Na relação entre o Estado Capitalista e asclasses d2
minantes intervêm os conceitos de hegemonia e bloco no poder
que Poulantzas reti rou de Gramsci, sendo que o fen6meno do "b12
co no poder" ~ particular das formàções sociais capitalistas.
Para o autor, lia classe ou fração hegem6nica
polari-za os interesses contradit5rios especificos das diversas
clas-ses ou frações do bloco no poder, constituindo os seus intere~
ses econ~micos em interesses politicos, representando ointere~
se ~eral comum das classes ou frações do bloco no poder:
in-teresse geral que consiste na exploração econ6mica e na
domi-nação politica".·IQ interesse geral, que a fração hegemônica
representa em relação às classes dominantes, repousa em Gltima
. .
anilise, no lugar da exploração que elas detêm no processo de
-produção ... e em relação ao conjunto da sociedade, em relação,
portanto, às classes dominadas, depende da (sua) função ideo15
gica ... " (Poulantzas, 1968,
235).·~--A especificidade do Estado Capitalista, tal como o
concebe Poulantzas parece- estar c o ntida na segui nte passagem:
"Deste modo, este Estado apresenta-se constantemente
como a unidade propriamente polltica de urna luta econõmica, a
qual manifesta, na sua natureza, esse isolamento (5). Aprese~
ta-se corno r-epr-esen tatt vo do 'interesse geral' de interesses ~
conõmicos concorrenciais e divergentes que ocultam aos agentes,
-tal como por ele sio vividos, o seu cariter de classe. Por via
de consequência direta, e por t nte rmé dio de todo um tunc io name p
- . .
to complexo do ideolôgico, o Estado capitalista oculta sistem~
(5) Efeito de isolamento: causado pela concorrência que se estabelece
11
-ticamente, ao nivel de suas instituiçõe~ politicas, o seu car~
tersrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBApo lItico de classe: trata-se nosentido mais autêntico, de
um Estado popular-nacional-de-classe. Este Estado apresenta-se
como a encarnação da vontade popula~ do povo-nação, sendo o
PQ
vo-nação institucionalmente fixado como conjunto de 'cidadãos',
'individuas'" cuja unidade o Estado capitalista representa, e
que tem precisamente como substrato real esse efeito de
isola-mento que as relações sociais econômicas do M.P.C.manifestam"
(grifo do autor) (Poulantzas, 1968, 1,29).
Conhecer a relação entre o Estado e a(s) ideologia(s)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e
de fundamental importância para o exame de um problemaespe-cificamente politico, qual seja, o da legitimidade, o que, por
~ua vez,
e
peça fundamental para a anãlise das formas de governo e da burocracia enquanto força social.
Desde logo é preciso assinalar que as formações
so-ciais concretas apresentam para o autor diversidades notãveis,
sendo díf icil a,constituição de um "modelo" em que os
fenôme-nos: Ideologia/Legitimidade/Formas ~e Governo/Burocracia -
es-tejam vinculados de uma s5 maneira, mesmo em se considerando o
quadro do Modo-de-Produção Capitalista.
Aqui serão recuperados somente os aspectos mais
ge-rais de cada um dos problemas, e alguns que particularmente in
teressam ao exame das questões que esta monografia tenta
tra-tar.
Com respeito i ideologia, Poulantzas proc~rou re-exa
mína r a concepção marxista, tentando ap ro+undã-Te : liA
ideolo-gia consiste, de fato, em um nivel objetivo especifico em um
conjunto com coerência relativa de representações, va lo re s ,
',o
crenças: da mesma manei ra que os 'homens', os agentes em uma
formação participam em uma atividade econômica e politica, par
ticipamtambém em atividades religiosas, morais, estéticas, fi
losfi+t ca s ;" ... "A ideologia encontra-se a tal ponto presente em
todas as atividades dos agentes, que não é discernivel de sua
experi~ncia vivida. Nesta medida, as ideologias fixam em um
universo relativamente coerente, não simplesmente uma relação
12
-homens com as suas condições de exist~ncia investida em uma resrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I-lação imaginãria". (Grifos' do autor) (Poulantzas, 1968,201).
"A ideologia, introduzindo-se em todos os anda~es do ediffcio
social, possui a função particular de coesão estab~lecendo ao
nfvel do vivido dos agentes relações evidentes falsas que
per-mitem o funcionamento das suas atividades prãticas -divisão do
trabalho, etc. - na unidade de uma formação".
A
pr5pria ideologia estã relativamente dividida em'diversas regiões (grifO do autor) que podemos, por exemplo, ca
,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
-racterizar como ideologia moral, jurfdica e polftica, religiQ
sa, econBmica" filos5fica, est~tica, etc. (o que permite) ass!
nalar na ideologia dominante de uma formação social, a dominâ!!
cia de uma região de ideologia sobre as outras regiões" (grifo
- -. .
do autor) (Poul antzas, 168, 205) ... liA regi ão domi nante da
i-deologia ~ aquela que precisamente melhor preenche, por numerQ
sas razoes, essa função particular de mãscara". ,(Poulantzas,
1968, 205).
"No modo-de-produção capitalista, e em uma formação
capitalista, em que o econBmico det~m, regra geral, o papel dQ
m~nante, constata-se a dominincia no ideo15gico da região ju r !
dico-politica: em particular, no entanto no estãgio do
capita-lismo monopolista do Estado, em que o papel ,dominante ~ assumi
do pelo polTtico, ~ a ideologia econBmica - de que o Itecnocra
,
-,tismo' ~ s5 um dos aspectos - que tende a t~rnar-se aregião do
m ina n te da ideologia dom i nan te ". (Po u 1a nt zas, 196 8,' 2O5 ).
"As ideologias jurfdico-polfticas burguesas ocultam
po~t~nto o seu conteijdo polTtico de classe de uma maneira
par-ticular ... : essa ocultação ~ operada pelo fato ~essas
ideolo-, ,
logias se apresentarem explicitamente corno ciincia" ... '~Isto
torna-se claro na constituição das categorias politicas da op!
, ,
nião pijblica e do conEenSO! estas referem-se i maneira partic~
lar de como as classes dominadas aceitam estas ideologias" ...
(as quais} "são recebidas ... como t~cni,cas cientificas ". (Po~
lantzas, 1968,211).
A legitimidade das estruturas e instituições
po1fti-cas e pois considerada decorrente do "impacto especificamente
- 13 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
E, em relação is classes dominadas, a i~eologia dominante
de-termina que elas vivam "f~equentemente,'a sua prõpria ~eYolta
contra o sistema de dominação no quadro referencial da
legiti-midade domih-â"hteH.(GrTfo do autor)(Poúlantzas, 1968,'?lB}.'·
No exame de situações concretas verifica-se.' que a l~
gttimidade se estabelece em diversas formas de Estado: Estado
intervencionista, estado liberal, bonapartismo, ditadura
mili-tar ou fascismo. A diferenciação das formas de Estado estã,por
sua vez, associada a "variações da articulação do econômico e
do político" e "diz respeito a toda uma série de
transforma-ções das funções do Estado, deslocamento de dominâncias entre
essas funções, a diferenciação das formas de intervenção do
P2
lítico no econômico e do econômico no político". (Poulantzas,
1968, 306).
-Por conseguinte, Poulantzas pensa a questão da
legi-'timidade a partir da rel~ção entre opolitico e o econômico,que
se associasrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAi relação do Estado com luta econômica de classes
(n .•. quer seja no legislativo ou no executivo que se reflita
a classe ou fra~ão hegemônica, esse luga~, enquanto instância
dominante do Estado, tem, em-~tifttr~ió, que concentrar
igual-mente essa relação do Estado com a luta econômica de classes".)
(Poulantzas, 1968, 307).
E ainda: "cada forma particular do Estado Capitali~
ta deve ser referida, .na sua unidade, a modificações
importan-tes na luta de classes: capitalismo concorrencial, imperiali~
mo, capitalismo de Estado. s5 depois de se ter estabelecido ~
ma relação entre forma de Estado tida como unidade, ou seja, a
forma especifica do sistema do aparelho de Estado globalmente
considerado, e o lexteriorl i que o respectivo papel e a
ção interna m~tua dos Jramosl do aparelho de Estado se
estabelecer".'(Poulantzas·, 1975,24) .. .:
re 1
a-podem
No inicio desta introdução foram enunciadas as
ques-tões a que esta monografia pretende responder. Duas delas se
referem de modo expliCito i burocracia: que poder alcançou a
buro~racia do Planejamento Urbano? Quais interesses de classe
,
- 14 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nhava a esquerda? Poulantzas tamb~m se remete a esta questão.
Dando sequência
ã
síntese de algumas id~ias dePou-lantzas,srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAi preciso salientar que o autor não identifica a buro
cracia no M.P.C. como classe, mas sim como categoria social e
esta vem a s:er o "efeito especifico da estrutura regional do Es
tado sobre os agentes em uma formação soci a 1". (Poul antzas,
168, 328). Tanto a burocracia (categoria social) como o
fen~-meno do burocratismo ou burocratização ("sistema especifico de
organização e funcionamento do apa~e1ho do Estado"(Poulantza's,
1968, 328) "dizem sempre respeito aoapare1ho de Estado enão ao
. ~
--poder de Estado". (Pou1antzas, 1968, 329)."Se o_qu~ '!.especi
fica (a burocra~ia) i precisamente a sua relação particular com
.. .
o poder institucionalizado e o fato de pertencer aoaparelho de
Estado, ela não pode ser mais que o efeito da relação do
Esta-d~ com as estruturas econ~micas por um lado, e com as .classes
s·o c ia is e f ra ç õe s de c 1a ss e, p o r o u t ro ". (P o u 1a n t zas, 19 6 8 ,329 )
"Seu funcionam~nto não pode deixar .de ser e~tritamente determi
. .
nado ao nivel politico, pelo funcionamento de classe desse
Es-tado" (Poulantzas, 1968,330).
Insistindo na idê í a de que a burocracia nao euma c las
se e sim uma categoria, Poulantzas começa a analisar sua
reJa-çao com as classes e frações de classe, e, de imediato, alerta
para um caso excepcional, a saber, o da buiguesiado Estado:
" .... as: funções do Estado (inclusive as econ~micas) são
preci-samente circunscritas pelo poderpolltico de classe desse Esta
. .
do. O caso particular ~ue pode, po~ vezes, ~presentar~sequa~
to a este ponto i aquele cujo exemplo nos i oferecido pela bur
guesia de Estado de certos países em vias de desenvolvimento:
a burocracia pode, por meto do Estado, constituir para si uml~
gar pr5prio nas relações de produção existentes, ou mesmo emr~
. .' .
lações de produção ainda não determinadas. Contudo, nao
cons-titui então uma classe enquanto burocracia, mas sim ~enquanto
classe social efetiva".
Por outro lado, o autor salienta o fato da
burocra-cia provir de camadas e classes distintas. As cijpulas da buro
- 15 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
de uma classe ou fração politicamente dominante que faz· parte
do bloco no poder, mas nao e a classe ou fração hegemônica des
se bloco" (Pou1aritzas, 1968, 331).
Em seus estudos mais a~ançados, Poulantzas ma n teve
essa perspectiva, de fracionamento, do que depois chamava de
"pessoal do Estado": liAs contradições de classe se inscrevem
no seio do Estado por meio tamb~m das divisões internas noseio
do pessoal de Estado em amplo sentido (diversas burocracias e~srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. . . '
tatais, administrativa, judiciiria, militar, policial, etc.).
Mesmo'se es~e p~isoal constitui ·umacatego~ia social detentora
de uma unidade pr5pria, efeito da organização do Estado e de
sua au to nomia relativa, ele não deixa de deter um lugar de c la s
se (não se trata de um grupo social i parte ou acima das
clas-ses) e ~, então, dividido. Lugar de classe diferente de
ori-gem de classe (ou seja das classes de onde esse pessoal se ori·
gina) e que estâ ~e1acionado i sit.uaçâo desse pessoal na,
divi-são social do trabalho tal como ela se cristaliza no arcabouço
do Estado ... " (Poulantzas, 1978, 1771._-: , _
As anilis~s de Cardoso feitas no inicio dos anos 70
sobre o Estado e Sociedade no Brasil tamb~m caminham nesta
di-reção:
"Assim, i hip5tese de existincia, do fortalecimento.
,
-e da -expansão de um ~oder áurocritico e Tecnocritico em
oposi-. '
ção i Sociedade Civil e a seus mecanismos clissi~os de luta p~
le-poder-{es partidos), eu apresentaria a alternativa de
pen-o •••
sar ~s virios setores do estado como facções ~m luia politica;
, . .
cada um· deles ligados a .interesses sociafs distinto~. A
buro-cracia e a tecnocracia poderiamser'pensadas como aparatos (di
. ..'
versos, naturalmente) a serviço de interesses politicos, sem
deixar de incluir entre eles o poder econêm t co " (Cardoso, 1975,
182) .
Tendo visto a origem da burocracia como efeito dase~
. . .
truturas do modo-de-produção capitalista, sua definição enqua~
to categoria (e não classe ou função), que sob certas circun~
- 16 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
grau de autonomia, e s.eu fracionamento interno - determinado pesrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. .
..-la divis.ão social do trabalho dentro do'Estado - resta abordar
dois aspectos: a relação da burocracia com asclasses sociais,
.e sua relação com a ideologia dominante, o que serã feito de mo
do· sucinto.
A Burocracia eas Classes Dominantes: Para Poulantzas,
a presença - defesa de interesses - das classes dominantes no
aparelho de Estado se dã na medida em que exerce o poder de E~
ta do , e o "f un cioname nto da burocracia corresponde, em ultima
anãlise, ao interesse dessa classe ou fração (hegem6nica);
is-so,porem, por intermedio da relação complexa entre o Estado e
o poder politico dessa classe ou fração, e não atraves da atri
buiçâo ou do recrutamento de' classe da bur o c r ací a " (Poulantzas,
1968, 332)...
A autonomia relativa que a burocracia pode
excepcio-nalmente adquirir se deve, para o autor, a circunstâncias
his-t6ricas especiais relacionadas a:
a) lIao papel dominante, ou não, do Estado no conjunto das
ins-tânci a s11; (P o u 1 an tz as, 196 8 , 35 4) .
-b ) "em sit uaçôe s de e qui lIb rio geral das forças sociai s
presen-tes, sobretudo as de um equillbrio c ata strjif ic o ";
(Pau-l antzas, idem)
c) lIem casos de desorganização polltica particular das classes
dominantesll; (Poulantzas, idem)
d) IInos casos de constituição como forças sociai~das classes
da pequena produção, do campesinato, particularmente do par
celar, e da pequena bur-que sía "; (Poulantzas, idem)
e} "rio s casos de crise geral de legitimidade de Uma formação"
(Poulantzas, idem}.
A Burocracia e a Pequena Burguesia: Como se observa
no í:tem IId)", a burocracia pode se constituir em representante
polltico da pequena burguesia lIem virtude das condições de
vi-da econõmica - isolamento, etc. - e da incapacidade de
organi-zaçao polltica das classes da pequena produção ... (Poulantzas,
- 17
-A Burocracia e a Luta das Mas~as Popul ares: liAs
1u-tas das massas populares: regulam dema nesrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAtr a permanente a unidade
. .zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA-.
do pessoal de Estado a se rviço do poder e da fração hegemôni ca .E~
sas lutas se re~estemde formas especificas: moldam-se no
ar-cabouço material do Estado, segundo a trama de sua autonomia r~
lativa enio correspondem, ponto por ponto, nem de maneira ~ni
voca, as divisões na luta de c las s e s? • (Poulantzas,1978,179).
·Hã que se ver que a relação entre o pessoal do
Esta-. .
do (mesmo aquela fração que pende a favor das lutas populares)
~ mediatizada, segundo Poulantzas, pela ideologia dominante que
~ "p re cis ame nt e a do Estado neutro, representante da vontade e
de interesses gerais, ãrbitro entre as classes em luta.: .II(PO~
lantzas, 1978, 179). Exemplificando: "E'le s interpretam o
as-pecto de uma democratização do Estado não ~omo uma intervenção
popular nos neg5cios p~blicos mas
comb
uma restauração de seupr5prio papel de ãrbitros acima das classes sociais. Eles
rei-vindicam uma IIdesco1onização" do Estado em relação aos grandes
interesses econômicos, o que, a seu ver, significa o retorno a
uma virgindade, supostamente possivel, do Estado que lhe permi
t a a s s u m i r seu p r5 p ri o p a p e 1 na d i re ç ã o po 1i t i cali.(P o u 1a n t z as,
1978,180) .
Se por um lado sintetizei demais as indicações dos
autores acerca da burocracia, creio que se conte com alguns
e-..
-elementos para a discussão das ques~ões propostas.
Resta, para finalizar esta Introdução, discutir
teo-- teo-- teo-- teo--- -- -
--r ic ame nte a questão do espaço urbano. _
5.
O URBANO,
O CAPITAL
E O ESTADO
IIEsse territ6rio torna-se nacional e constitui assim
. . . .
um ~lemento da nação moderna sob o ingulo do
Estadoll.(Poulant-zas, 1978, 129, acerca de IIMatriz Espacial: o Territ6rioll).
, .
As relações entre espaço, (estrutura espacial) e
so-ciedade jã haviam sido explicitadas por Marx em liA Ideologia ~
lemã" a partir do exame do surgimento do binômio campo/cidade.
No imbito deste trabalho não conv~m alargar
ver-- 1 8 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tentes teóricas que trataram da questão. urbana, e tampouco
so-bre as relações espaço e mOdo-de-produçio ca~italista.
Creio que aqui cabe somente recuperar algumas
ana-lises queexplicitam arelação entre o urbano, o capital e o
Es-tado no Capitalismo Monopolista, e investiga~ a adequação
des-sas p~emissas mais gerais ao estudo de formações sociais "per!
féricasllcomo a brasileira.
No pós-guerra a questão da organização espacial
in-tra-nacional, de modo genérico, e das cidades, em particular,
ganha um novo impulso.
Nos palses do capitalismo'central colocam-se
ques-tões tais como a reconst~ução das cida~es destruldas pela guer
ra, bem como a formulação de um novo padrão de relações entre
classes dominantes e dominadas, o_queJ~var~ e ssas ultimas 'azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
s
ma série de reivindicações na esfera do consumo (6), ao mesmo
tempo em que iri se colocar a questão dos desequillbrios regio
nais dentro desses palses.
Mas acima desses fatores é preciso se levar em conta
o novo padrão de acumulação determinado pela expansao do
capi-tal monopolista. E,a retomada do crescimento econ5mico sobre
essas novas bases que determinari o aparecimento de novas
exi-g~ncias com respeito a organização do território (7). E ,é o a
. . - . .
parecimento dessas novas extg~ncias que colocari o Estado corno
- - ,
agente indutor de uma ,nova organização espacial ~través desuas
'. '.
politicas urbanas. A ele caberi diminuir as, contradições' que
. .. - .
o capital monopolista ~nf~enta face a uma ap~opriação do terri
tõri9Jinda determinada por fases anteriores do
desenvolvimen-to capitali:sta.
E essas novas exi:gincias são, de um lado, o
aprofun-damento do processo de socialização de produção (nova divisão
social do trahalho), que vai exigir urna continuidade espacial
para certos tipos de ramos produtivos. Aumentam igualmente as
. ,
(6 ) Ver CASTELLS ,Manuel, 1977. "Crise do Estado, Consumo Coletivo e
Contra-dições Urbanas". In Poulentzas, Nícos , O Estado em Crise (Rio de Jane]
ro, Graal, 3a. parte, I). . ,
Ver também HARVEY, David, 1973."Socia1 Justice and the C tty" (Baltimore,
The Johns Hopld
hs
Uni versity Press , 1975).- 19 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
necessidades de rapidez e ef~ci~ncia nq processo de circulação
(de mercadorias e fo~ça de trabalh?l q~e_a um s5 tempo
concen-tram população e atividade econ~mica em pontos sobre o espaço
(gerando os benefícios das "e co nomt as de aqsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAlome r aç à ov j ap r op rt a
das pelas empresas), e criam pontos descentralizados, fazendo
aparecer tanto novos nGcleos de expansão industrial (descentra
- - - -
-lização industrial) como o fenõmeno de suburbanização nas gra~
des metrõpoles (ou tamb~m metropolização).
liA complexidade de transações dentro do espaço
urba-no aumentou â medida em que se aprofundou a divisão social do
trabalho. A concentração geogrãfica de pessoas e atividades
produtivas em grandes centros metropolitanos em países
capita-listas avançados não seria possível sem enormes concentrações
de mais-valia em instituições super-ordenadas tais como
gran-, .
des corporações e governos nacionais. Essa concentração
tam-b~m não .seria possível sem a exist~ncia de um aparato elabora
,
-do para proteger a estrutura hierãrquica da economia espacial
. .' .
gl~b~l que tem a finalidade de assegurar a perman~ncia dos fl~
xos do interi6r para os centros urbanos, de centros menores p~
, ,
ra centros'maiores, e de todos os centros regionais para
cen-t ro s de a ti vi da de c a p i ta1is ta ". (H ar vey, 1 9 7 3, "26 8) •
Ao tentar definir a especificidade da urbanização no
.Cap i ta l í smo Monopolista, o autor Jean Lojkine (8) re s s a l ta tré s
características que o distinguem; são elas:
a) um novO tipo de socialização da produção;
b) um novo tipo de autonomiz~ção das funções ~o capital;
c) um novo tipo de mobilidade espacial da fração dominante do
.cap tt a l .
Em consequ~ncia do novo tipo de socialização da
pro-dução (que impl ic a em um grau crescente de automação de funções
e de cooperação entre unidades), ele nos faz observar as se quin
, ,
tes transformações na organização espacial:
IINesse sentido
e
o conjunto dos meios de formação de(8) Ver LOJKINE, Jean,.1977. "O Papel do Estado na Urbanização Capitalista:
daPol ft+cá Estatal ã Politica Urbana". In: For-t.i, Reginaldo, 1979.
MarxiS!l1oe Urbanismo Capitalista '(São Paulo, Li"vraria Editora Ci~ncias
- 20 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
uma força de trabalho complexa, adaptada is novas condições desrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I
trabalho como a nova divisão espacial das atividades, que ~
a-daptado a esta socialização do territ5rio nécional e
multina-cio na l : para localizar suas' unidades de produção, gestão, de
pesquisa ou de direção, os capitalistas não exigem mais
somen-te rodovias ou instrumentos de telecomunicação, mas tamb~m co~
juntos habitacionais, escolas, universidades, centros de
pes-quisa ...
A
socialização da cooperação territorial atinge,pois,o conjunto das condições gerais da produção e longe de ser'e~
terna, em relação a este processo, pode-se dizer que as novas
fo rm as deu rb a n iz a ç ão mo no p01 ; 5tas ã o, de q u a1que r ma ne i ra , Io ~
troaspectol da cooperação capitalista; trata-se da criação de
centros urbanos concentrando atividades de direção e meios de
formação de fo~ça de trabalho intelectual oU.da Idescentraliz~
çãol (dicentrations) de atividades e de locais de reprodução da
força de trabalho não vinculadas diretamente aos centros nervo
sos da economia e do poder polltico". (Pags.
43-44).
o
novo tipo de autonomização do capital (efeito do novo tipo de socialização da produção) significa que os
proces-sos de gestão do capital se tornam mais complexos,
determinan-do a ampliação do nGmero e dos canais de circulação da informa
çao. Essa caracterlstica reforça o tipo de divisão
territo-ria l do trabalho criando a "armadura urbana" a que o autor faz
referincia no trecho citado.
Em terceiro plano aparece a mobilidade espacial do
. .
capitalmonopoli.sta estabelecendo "conexões efimeras" entre
a-.
-tividade econ~mica e espaço, dado que a Ilbaixa tendencial
taxa m~dia de lucro gera uma instabilidade generalizada de
ta-xas de lucros setoriais" (Lojkine, 1977, 50) levando
constantes mudanças de posição na estrutura produtiva e
espa-da
a
ci a 1 .
Se Harvey e Lojkine apontam para as novas exigincias
da acumulação do capital, Caste11s procurou mostrar que as
po-. .
liticas urbanas no Capitalismo Monopolista estão ligadas aque~
tão da reprodução da força de trabalho, processo este que se
crescen-- 21 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
te importincta do consumo coletivo).
liA ünport~ncia crescente da p revsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAt sibt ltdade do comp o r
tamento da força de trabalho num processo de produção complexo
e interdependente exige uma atenção crescente no tratamento cQ
letivo dos processos de sua reprodução" (Castell s,', ',,1981,
34) •
Por ultimo cabe assinalar, como c ar e c ter-Istt ca
dode-senvolvimento do Capitalismo Monopolista, a maciça
participa-ção do Estado que, no Urbano, intervem, segundo Castells,
"pa-ra atenuar a rentabilidade diferencial dos setores de produção
dos meios de consumo e assegurar o funcionamento de um
proces-so cada vez mais complexo e interdependente" (Castells, 1981,
2 ~,--: J •'
A presença crescente do Estado na vida econ6mica em
, ,
geral, e no Urbano em particular (sob o Capitalismo
Monopolis-ta) e o que gera a politização do Urbano, cujas evidências sao
(ainda segundo Caste11s):
a} o aparecimento de movimentos soci~is urbanos, resultantes
tanto das reivindicações ,das massas trabalhadoras em termos
de sua reprodução, quanto das eXigências - mencionadas - da
,
-previsibi1idade de seu comportamento por parte do capital;
, "
,b} o aparecimento do planejamento urbano;
c) a expansão "vertiginosa'" da ideologia do urbano, "que atr]
.' . . - .
bui ao 'quadro de vida I a .ce p ec.ídade de produzi r ou trans fo r
mar as re 1ações s o ciai s11 (C a s te 11 s ,1 9 81 " .:35 ) . . '
Ainda diz Castells, a esse respeito, que a ideologia
do urbano trata dos problemas advindos com o Capital monopoli~
ta "des10cando-os, naturalizando-os, e~pacializando-os: desen
volvimento da ideologia do urbano que se universaliza sob afor
. , '
'ma de i'deologia do meio" (Castells, 1981, pago 23).
Eu diria que esses dois ultimas aspectos - a
politi-2açao do urbano e a expansão da ide6logia do urbano -
- 22
--
-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBADe fato o Urbano enquanto 'i~eo1ogia escamoteou umasrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
, .
parcela considerive1 dos conflitos soc1ais existentes no
Bra-s:i1 na década de 60.
Parigrafos atris apontei para o fato de que o
pos-guerra tinha condições especificas - nos paises centrais -
pa-ra que se desenvolvesse entre outras a Ideologia do Urbano.
o
processo de substituição de importações, a penetr~çao do Capitalismo no campo, e a aceleração do processo de
In-dustrialização via Capital Monopolista criaram igualmente
no-vas contradições que se expressaram numa intensa urbanização
em quase todos os paises da América Latina. O planejamento ur
bano foi associado is politicas de desenvolvimento.
r
interessante se observar de que modo eramaborda-dos os problemas urbanos latino-americanos. No re1atErio
pu-, ,
-blicado pela UNESCO, e organizado por Philip Hauser se l~ o se
guin te:
"Nas cidades da América Latina uma proporçao
varii-vel dos trabalhadores adultos não possuem qualificação
profis-- .
siona1 necessiria aos empregos urbanos modernos, não t~m
aspi-. ,
rações profissionais bem definidas, permanecem funcionalmente
analfabetos e t~m rendas fracas e precirias. 'tsse grupo é as
vezes apitico e-fi~i1 de e~p10rar, is vezes se inclina a
'espe-ranças qu ímâr t ca s e a bruscas e violentas revoltas.... Isto
. , .
cria obsticu10s intransponiveis a qualquer polftica social
'mo-, .
derna" .. (Hause r , 1962, 311).
, ,
O Urbano, enquanto ideologia, vai atribuir
(
i~~~~da~~ es_p_acial de uma extensa popUlação, os
que nela se dao.
i cidade,
problemas
ConstrEi-se ao mesmo tempo uma critica i urbanização
, .
"que se compraz muitas vezes com o temor suscitado pelos
gran-des niimer-os" (Si.'nger, 1973,. ",119} erguida tanto pela direi
ta - a qual atri.'bui os prOblemas na cidade aós fenEmenos
,demo-'.
-grificos, ou seja, padr&es de reprodução e migrações das
clas-ses dominadas - quanto pela esquerda, que relaciona o c~escime!!
23
-.De fato
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAe
o de se nvo lv ime n
srqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAto de novas
contradições
nos
" .
planos
econEmico
e politico
que permitfrã
a emerg~ncia
da ide2
logia
do Urbano,
a qual
cria
uma
linguagem
"un ive rsa l " para
os
" "
distintos
grupos
sociais,
sob a qual
se ocultam
significados
e
interesses
antagEnicos,
mas
legitimam
uma atuação
por
parte
do Estado.
- 24
-OBRAS CITADAS POR ORDEM DE APARECIMENTO NO TEXTO
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&
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11 - A
EMERi~NCiA ~Ai QUESTÕES URBANAS EM SÃO PAULO
1. REFERrNCIAS"GERAIS: INDUSTRIALIlAÇAO E
• '. t.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA4.
'URBANIlAÇ~O A PARTIR DE 1940
Para qualificar em termos num~ricos quao ripida e i~
. . . .
tensa foi a urbanização no Brasil, conv~m recuperar alguns
da-. . '.
dos ilustrativos. Em 1872 o pais possuia aproximadamente 10ci
dades com mais de 20.000 habitantes, e a população nelas
resi-dente perfazia 7,4% da população total naquela data. Em 1920
a população residente em cidades desse tamanho reduzia-se
ain-da a 12,5% da população total (1). Em 1940esse percentual pa~
s a a 16%, em 19 5 O a 21
s ,
em 19 6 O a 2 9%, e em 19 7O 'a,4 O% •O ritmo de crescimento demogrifico no' Brasil no
pe-riodo.de 1940-7Q tamb~m se expressa nos seguintes dados:
TABELA I
TAXA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇAO URBANA, RURAL E 'TOTAL DO BRASIL
. .E TAXAS DE URBAN IlAÇA0, 1940-70'
---- - - - -_. .
TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DA POPULAÇAO
URBANA RURAL TOTAL TAXA DE
PERfoDO URBANIZAÇAO
1940-50 5,26 1,69 2,32 2,87
1950-60 6,44 2,11 3,17 .- 3,17
1960-70 6,06 1 ,31 2,88 3,09
FONTE: MARTINE, George e PELAEZ, Cesar (mimeo)
Do ponto de vista de distribuição da população
urba-na por tamanho de cidades no perlodo de 1940 a 1970,
observam-se duas tendincias marcantes: a primeira diz respeito ao pro
cesso de Umetropolizaçio". "A proporção de todas as
localida-des urbanas metropolitanas se manteve praticamente .inalterada
no perlodo de 1940 a 70; entretanto a proporção de todos os r~
sidentes urbanos aglomerados em ireas metropolitanas aumentou
constantemente durante o mesmo intervalo de tempo a ponto de,
27
-em 1970, 61% da população urbana brasil~iraresidir em cidades
com mais de 500.000 habitantes". (Martihee Pelaez, p.7).
-A segunda, tendincia verificada relaciona~se ao
cres-cimento do nijmero de cidades: esse nijmero quintuplicou no
pe-rlodo 40-70.
Os dados seguintes ilustram os efeitos dessa intensa
urbanização na cidade de São Paulo.
TABELA 2
DESENVOLVIMENTO DA POPULAÇ~O PAULISTANA (2)
,POP TAXA GEOMtTRICA ANUAL
ANO (hab) DE CRESCIMENTO
1872 31 385 rsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~ r,,)
1886 47 697 3,0%
1890 64 934 8,0%
1900 239 820 14,0%
1920 579 033 4,5%
1934 1 060 120 4,5%
1940 1 337 644 4,0%
1950 2198 096 5,0%
1960 3825 351 5,5%
1970 5978 977 4,6%
1980 8 587 665 3,7%
FONTES: Censos de 1890, 1900,1920, 1940,-1950, 1960, 1980 e ARAUJO FILHO, J .R.'de,
Comparando-se a tabela acima com a tabela 1 pode-se
observar que o ritmo de urbanização da cidade de São Paulo foi
superior i midia brasileira.
As raizes do processo de transformação do tamanho e
, ,
da localização da população brasileira - e da paulista em
par-ticular - encontram-se nas mudanças que se verificam ainda no
quadro da Ia. Repijblica, periodo em que se expande a "produção
de mercadorias".
28
-Com efeito, i com aconsolida~ão do modelo agro-expor
tador, assentado no trabalho livre (crt)dor de um mercado in:
terno), estreitamente vinculado ao capitalismo central em suasrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. . .
fase imperialista, cujas consequências se manifestam em
inova-ç5es ticnicas (infra-estrutura de transportes) e econõmicas(e!
pansao de acumulação de capitais), que se delineiam os
contor-nos da situação pós 30.
Coma derrocada final do modelo agro-exportador
ad-vinda com a crise de 1929, criaram-se finalmente condiç5es mais
propicias ã Industrialização. A coa1iz:ãode capitais
indus-triais e agririos ligados ao mercado interno (3), que passou a
dominar o poder do Estado pós-3D, p~de criar um quadro econõmi
co e po1itico para o avanço do desenvolvimento industrial, ati
então bloqueado pelas po1iticas de sustentozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAã renda, originada
pela exportação de bens primãrios.
Entre 1928 e 1932/33 verificou-se uma qu~da na prod~
çao industrial. Somente a partir de 33 i que se assiste a um
cr~scimento significativo, que gira em torno da taxa de 10% ao
ano ati 1939. Sobre uma base bastante preciria (em 1920 o ce~
so indica a existência de 13.336 estabelecimentos,.empregando
275;512 operãrios), a industrialização no period9 que vai de
. . .
1933 a 1955, na realidade, faz ampliar as atividades sobre os
ramos jã existentes, em sua maior parte pertencentes ao
Depar-o • •
-.~amento 11 (alimentos, têxteis (4), mobi1iã~io, etc.). A exis-.
tincia de uma rede ferroviãria relativamente extensagara~tiu
. ..
a integração do mercado interno em um primeiro momento.Após 30,
· . . .
entretanto, o pais ~ principalmente a Região tentro Sul -
pas-. . .
sa a 'ser cortado por uma rede de rodovias cuja extensão i
qua-· ...
se quadr~p1icada entre 1928 (113.570 km) e 1955 (459.714 km).
· .
Esta significativa mudança nas formas de transporte irã depois,
, . .
em parte, determinar o desenvolvimento da industria automobi1i~
tica dos anos 50.
"O resultado das atividades industriais do pais
du-rante todos esses anos pode ser verificado no Censo de 1940,p!
(3) Ver SINGER, 1982
. '
(4) Entre 1932 e 1939 a indiistrie têxtil cresce a uma taxa media de 13% ao
29
-lo qual seconstata que o numero de e st ab e le csrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAime nto s industriais
passava para 49.418~ o capital empreg~do a 18.033.237 contos,
. .
com 781 .185 ope~irios e um valor de produção de 17.479.393 co~
tos, com preponderância considerive1de São Paulo, vindo a
se-guir Guanabara, Rio Grande do Sul e Minas Gerais" (Lima, 1970,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
359) .
A configuração da.indústria brasileira nao pode ser
comp~eendida sem se levar em conta as formas assumidas pelo S~
tor Serviços e pela Agricultura. Tornando-se eixo de acumula
ção capitalista numa economia de baixa capitalização, a
sa industrial necessitari do apoio de serviços que lhe
empr~
propo!:
cionem "economias externas", tipicas d~ um quadro urbano. Dada
a inexistincia desse quadro nas proporções necessirias a seud~
senvo1vimento, a indústria apoiar-se-i numa extensa rededeser
'.
.-viços de baixo coeficiente de capitalização e que portanto se
assenta somente na força de trabalho, transferindo mais valia
desse setor para o industrial. Ao crescimento horizonta1izado
do setor 'serviços, funcional ao processo de acumulação na
in-dústria, pode ser atribuido também o crescimento urbano nesse
. .
periodo, dando ao Terciirio uma falsa aparincia de "inchação",
como mostrou Francisco de Oliveira em seu ensaio "Critica i Ra
zao Dualista" (Oliveira, 1975).
A transferincia de capital do campo para as .cidades
. .
se di por intermédio da expansão das fronteiras agrico1as num
processo de "acumu1 ação primi ti va11 em que .se somam uma oferta
. .
elistica de terras a uma oferta e1istica de mão-de-obra. Assim
. .
as terras são primeiramente desmatadas e usadas para o
culti-. .
.-vo de la.-vouras .temporirias pelo camponis. s5 depoi~ tornam-se
empresas agricolas destinadas ao cultivo de lavouras
permanen-. . .
tes e pastagens, em parte provedoras de matérias-primas paraas
indústrias.
A continuidade desse processo, que marcou o periodo
que se esti analisando (1940-60) permitiu a ampliação da ofer
ta de matérias-primas, e também alimentos' baratos para as
mas-sas urbanas dada a alta taxa de exploração da força de
30
-Finalme.nte cabe assinalar que aAgricultura mantémnessrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
. ...zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
-se pe~rod~-seu ca~ite~ de p~oduçio pa~a~exportaçio, permitindo
o acfimulo de divisas necessirio i importaçio de bens de
capi-tal e insum~s para o setor secundirio.
A "modernizaçio" relativa das relações deproduçio no
. .
campo advindas com a Lndus tr-ía l tz açâo serã também responsãvel
pela expulsio de grandes contingentes rurais que formario um
. .
extenso "exército industrial de reserva" nas cidades.
Esses sio alguns tràços das transformações
estrutu-rais a que se assistiu no perfodo entre 1930-1955 e podem em
pa~te explicar a emergincia das questões urbanas.
2.
A EMERGrNCIA
DAS QUESTOES
URBANAS
EM SAO PAULO
Ao final da déc~da de 40 a cidade começara a manifes
tar algumas contradições que, aos olhos de seus cidadãos,
pas-savam praticamente a inviabilizar seu cotidiano.
Não sio poucos aqueles que passam a se preocupar com
o modo de ocupaçio dos terrenos urbanos que se caracteriza
pe-la elevada concentraçio de ediffcios no centro e, um
espraia-. .
mento, cheio de vazios, em direçioi periferia. Enquanto oce~
tro se torna cada vez mais denso, crescendo verticalmente, oe~
torno vai sendo ocupado de forma rarefeita, concentrando aqui
. ..
eacolã alguns estabelecimentos industriais (ao )ongo de
rDdo-vias e ferrovias) e parte das habitações da populaçio de baixa
renda.
Intensifica-se a especulaçio imobiliãria, correlata
de grande demanda por terrenos e da desvalorizaçio 'monetária
.
-mais' ou menos constante durante op-e-rlo-do,-ãs--q-u-a-i-spode ser
. .
atribuida a forma de ocupaçio do espaço urbano.
. .
Assim se intensificam igualmente os loteamentos nap~
riferia, no mais das vezes bastante distantes dos centros esem
. nenhuma infraestrutura urbana. O adensamento do centro se faz
. . . .
igualmente a um ritmo incompativel com a existincia de redes de