1 Este estudo é parte da dissertação de mestrado da primeira autora, realizadasobsupervisãodasegunda.
2 Endereço:Rua1138nº212,SetorMarista,Goiânia,GO,Brasil74180-170.E-mail:fgauy@terra.com.br
TriagememSaúdeMentalInfantil
1FabianaVieiraGauy2 SuelySalesGuimarães
UniversidadedeBrasília
RESUMO–Esteestudofoiconduzidoparacompararosresultadosdeumprocedimentogrupalabertoeumprocedimento individualestruturadoparaavaliaçãodocomportamentodacriançaconformeorelatomaterno.Participaramdesteestudo29 mãesquebuscavamatendimentoparaseusfilhosemumaunidadedesaúdementalinfanto-juvenil.Asprimeiras15mãesque procuraramoserviçoforamentrevistadasindividualmenteconformeumroteiroestruturadodesenvolvidoapartirdoCBCL edepoisforamentrevistadasemgrupo,emformatoaberto.Asoutras14mãesparticiparamdaentrevistagrupalabertaeem seguidaparticiparamdaentrevistaindividualestruturada.Osresultadosdasentrevistasforamcomparadostomandocomo referênciaas67categoriascomportamentaisidentificadasapartirdoroteiroindividualequatrovariáveiscontextuaisrelatadas nosdoisprocedimentos.Osresultadosmostramqueumnúmerosubstancialmentemaiordecomportamentos-problemafoi identificadoatravésdeentrevistaindividualestruturadadoqueatravésdeentrevistagrupalabertarealizadacomosmesmos informantes.Épossívelqueousodeumroteiroestruturadoementrevistasgrupaispossaoferecermaisinformaçõescom otimizaçãodotempodeavaliação.
Palavras-chave:triagem;entrevistagrupal;entrevistaindividual;saúdementalinfantil.
Child’sMentalHealthTriage
ABSTRACT–Thisstudywasaimedatcomparingtheresultsofagroupopenprocedureandastructuredindividualprocedure toevaluatechildbehavioraccordingtothemother’sreport.Participantswere29motherswhosearchedattendancefortheir childrenatamentalhealthunitforchildrenandyoungsters.Thefirst15motherstoenrollinthestudyunderwentanindividual, structuredinterview,developedfromtheCBCLitems,andthentheyunderwentagroupopeninterview.Thenext14motherto enrollunderwenttheopengroupinterviewandthentheindividualstructuredinterview.Theresultsobtainedwerecompared takingintoconsiderationthe67behavioralcategoriesidentifiedfromtheindividualreportandfourcontextualvariablesfrom thetwoprocedures.Theresultsshowthatasubstantiallyhighernumberofproblematicbehaviorswasidentifiedthroughthe structuredindividualinterviewthanthroughtheopengroupinterviewheldwiththesameinformants.Itispossiblethattheuse ofastructuredreportingroupinterviewsmayoffermoreinformationwiththeoptimizationoftheevaluationtime.
Keywords:triage;groupinterview;individualinterview;childmentalhealth.
Aintensidadedeumacondiçãoclínicaédefinidapela magnitudeexcessivadaresposta,emgeralidentificadapelas suasconseqüências,comoaocorrênciadeumataquedepâ-nicoemrespostaaníveisaltosdeansiedade.Afreqüênciaé definidapelaaltataxadeocorrênciaoupelanãoocorrência daresposta,comoquandoacriançaserecusaairàescola,por medodoafastamentoparental;oucomonaemissãodecom-portamentodelinqüentedevidoànãoocorrênciadaresposta decuidadocomooutro.Aduraçãoédefinidapelotempode permanênciadarespostanorepertóriodoindivíduo,como aocorrênciadebirracomchoroaltoeabaixatolerânciaà frustraçãoentrecriançasmaioresde8anos.Acombinação derespostasdesadaptativasédefinidapelaocorrênciasimul-tâneadecomportamentosquepotencializamediferenciam a gravidade da queixa, como quando a agressividade e a delinqüência estão presentes no repertório de um mesmo indivíduo(Garber,1984).
Aincidênciaderespostasdesviantesouexcessivasentre criançaseadolescentesemdadomomentoéestimadaentre 15%a22%dapopulaçãogeral.Emborasejareconhecido quecriançascomesserepertórionecessitamdetratamento especializado,75%a80%delasdeixamdereceberassistên-
cia(Marsh&Graham,2001;McConaughy&Wadsworth, 2000).
Dentreosmotivospelosquaistantascriançasficamsem tratamento,estãoaavaliaçãoinadequadaouanãoavalia-ção dos comportamentos problemáticos. Por outro lado, mesmoqueaavaliaçãodessescomportamentossejafeita, aclassificaçãoeprevençãopodemficarprejudicadaspela variabilidadenamanifestaçãoclínicadostranstornosepela altaprevalênciadesobreposiçãoecombinaçãoderespostas comportamentais e emocionais desadaptativas (Angold, Costello & Erkanli, 1999; Cantwell, 1996; Garber, 1984; McConaughy&Wadsworth,2000).
A classificação do desenvolvimento psicopatológico é utilizadaparasistematizarosproblemascomportamentais eemocionais,possibilitandoapadronizaçãonalinguagem enoscritériosdiagnósticosentreespecialistasdediferentes áreas. Entretanto, vários autores entendem que as formas atuais de classificação, principalmente para crianças e adolescentes,representammaisabstraçõesteóricasdoque instrumentos auxiliares para a compreensão do problema (Seed,1999;Silverman&Serafini,1998).
Apesar da controvérsia, as formas de classificação de problemascomportamentaismaiscitadasnaliteraturasão: a)osistemacategóricoutilizadopeloManualDiagnóstico eEstatísticodeTranstornosMentais–DSM,(DSM-IVR-TR,2002)epelaClassificaçãodeTranstornosMentaisede ComportamentodaClassificaçãoInternacionaldeDoenças edeProblemasRelacionadosàSaúde(CID-10,1993);eb) osistemaderivadodemedidasempíricasdimensionais,com-patíveiscomoDSM,propostoporAchenbacheEdelbrock em1983,queclassificaasdificuldadesinfanto-juvenisem síndromes(Cantwell,1996;Garber,1984;Gerhardt,Compas, Connor&Achenbach,1999).
Comosistemacategórico,odiagnósticoéfeitopelore-conhecimentodesintomassimultâneos.Estesistema,muito difundidonosserviçosdesaúdemental,temavantagemde usarcritériosetermosfamiliaresadiferentesespecialistas, favorecendo a comunicação homogênea. No entanto, seu uso para identificar transtornos que afetam a infância e a adolescência é criticado pela imprecisão diagnóstica. O argumentoparaascríticaséofatodequealgunsdostrans-tornosprevistossãoextensõesdecategoriasutilizadaspara adultosenãocontemplamaperspectivadesenvolvimentaldas disfuncionalidades(Cantwell,1996;Gerhardt&cols.,1999; Nathan&Langenbucher,1999;Volkmar,2002).
Comosistemadecritériosdimensionais,odiagnóstico éfeitopormeiodeescalasempíricas,compatíveiscomo DSM,quediferenciamasdificuldadesinfanto-juvenisem síndromesExternalizanteeInternalizante.Estassíndromes forampropostasporAchenbacheEdelbrocknadécadade 1980e,desdeentão,sãoutilizadasporprofissionaisdesaú-dementalemdiversospaíses.AsíndromeExternalizanteé descritaemtermosdepadrõescomportamentaismanifestos desajustados, denominados também problemas de com-portamento, como agressividade, agitação psicomotora e comportamento delinqüente. A síndromeInternalizante é descrita em termos de padrões comportamentais privados desajustados,denominadostambémproblemasemocionais, comotristezaeisolamento(Achenbach&Edelbrock,1983, 1984; Cantwell, 1996; Gerhardt & cols., 1999; Hudziak,
Copeland,Stanger&Wadsworth,2004;Kovacs&Devlin, 1998;Silverman&Serafini,1998).
AchenbacheEdelbrock(1983)diferenciaramosproble-masinfanto-juvenisemnovegrupos:Isolamento,Queixas Somáticas, Ansiedade e Depressão, Problemas Sociais,
ProblemasdoPensamento,ProblemasdeAtenção,Compor-tamentoDelinqüente,ComportamentoAgressivoeOutros
Problemas.Estesgruposdeproblemasforamconfigurados
apartirdasnoçõesdeclassederespostaouco-variaçãode respostas comportamentais que, estatisticamente, tendem a ocorrer juntas ou estão relacionadas. Assim, respostas quefreqüentementeocorremjuntassãoagrupadasemuma mesma síndrome, independente de suas topografias. Por exemplo, ansiedade e depressão são respostas agrupadas emInternalizante;comportamentodelinqüenteeagressivo sãoagrupadosemExternalizante(Hudziak&cols.,2004; Silverman&Serafini,1998;Tiffin&Kaplan,2004).
Aliteraturaatualsugerequeaintegraçãodasduaspro-postasdeclassificaçãoépossíveledesejávelparamelhor compreensãodeproblemascomportamentaiseemocionais. Ousodasduasclassificaçõesémuitasvezescomplemen-tardevidoàespecificidadedeumaeàamplitudedaoutra, quetornamacompreensãoeaintervençãoemproblemas desenvolvimentaismaisacuradaseprodutivas(Achenbach &Dumenci,2001;Cantwell,1996;Gerhardt,&cols.,1999; Hudziak&cols.,2004).
Avaliaçãoclínica
Aavaliaçãoclínicainfanto-juvenilcomeçoucomênfase naobtençãodemedidasdefreqüência,taxaeduraçãodos comportamentos-alvoobservadosemumcontextoespecífico. Depois,aavaliaçãofocalizouanaturezaeacausadosproble-masidentificados,requerendomedidascomportamentaismais amplas,diferentesinstrumentosediferentesinformantes.
Aavaliaçãodostranstornosdainfânciaéumtrabalho complexo devido, principalmente, às dificuldades de ex-pressãoverbaledereconhecimentodasprópriasemoçõese açõespelacriançaavaliada.Essadificuldadeé,pelomenos emparte,solucionadapelainclusãodospaisnaequipede avaliação,porqueelestêmmaiorchancedeobservarcom-portamentosdebaixaincidênciaoudeocorrênciarestritaa momentoseambientesespecíficos.
Aavaliaçãoclínicaapropriadadeveconsiderarocom-portamento-queixa tanto em situações específicas quanto emsituaçõesamplas,oquerequeradefiniçãodealvose procedimentos específicos para a coleta de informações (Barrios,1988).Osserviçosdesaúdementalinfanto-juvenil utilizamprioritariamenteprocedimentosdemedidaindireta, comoentrevistas,porquesãodefácilaplicação,aoinvésde usar procedimentos de medida direta, como a observação docomportamento(Duarte&Bordin,2000;Rosenblatt& Rosenblatt,2002;Underwood&Falwell,2002).
Entrevistasdiagnósticas
Aentrevistaéoprocedimentodeavaliaçãomaisutili-zadopelaótimarelaçãocusto-benefícionaidentificaçãode problemas emocionais e comportamentais. Além disso, a entrevistacomoinformantepermiteaexploraçãodocon-textoemdiferentesperíodosdodesenvolvimentodacriança edasdiferentesmanifestaçõesdocomportamento-problema (Gross & Wixted, 1988; Morganstern, 1988; Perry, 1990; Sarwer&Sayers,1998).
Entrevistaspodemsernãoestruturada,semi-estruturada e estruturada. A entrevista não estruturada permite o sur-gimento gradual do problema-queixa, e requer habilidade especialetreinamentodoentrevistadorparafazerperguntas a partir de inferências sobre o material apresentado pelo informante(Sarwer&Sayers,1998;Silverman&Serafini, 1998).Osdadosobtidosnessetipodeentrevistapodemser mais influenciados do que os outros pelas crenças, julga-mentos,experiênciaseorientaçãoteóricadoentrevistador (Morganstern,1988).
Asentrevistassemi-estruturadaseestruturadasinves-tigamvariáveisespecíficasdeformapontual.Noformato semi-estruturado,aentrevistasegueumroteirodepergun-tasouafirmaçõesaseremrespondidaspeloinformantede modomaisdirecionadoecontroladodoquenasentrevistas não estruturadas. No formato estruturado, o roteiro de perguntastemformatoeseqüênciapré-estabelecidos,que exigemrepostasdeescolhaforçadadotipo“verdadeiro” ou“falso”;oude“poucofreqüente”a“muitofreqüente”. Para Franz e Gross (1998), entrevistas estruturadas pa-dronizam os critérios relevantes para a identificação de comportamentos-problema e auxiliam os profissionais na quantificação dos sintomas. Essas características da técnicapermitemmaiorconsistênciaesistematizaçãono diagnóstico.
Inventárioscomportamentais
Inventários são instrumentos estruturados ou semi-estruturadosquecolheminformaçõessobreaocorrênciade comportamentosencobertos,inacessíveispormétodosdiretos. Essesinstrumentosconsistemdeassertivasquedescrevemper-cepçõesecomportamentosdacriançaemdiversassituações, comosquaiselaprópriaouoinformanteconcordaoudiscorda (Achenbach&Dumenci,2001).Inventáriospermitemtantoa avaliaçãodecomportamentosamploscomo“problemascom-portamentais”,quantodecomportamentosespecíficoscomo “agressividadefísica”.Alémdisso,ocustoébaixoeaaplica-ção,porserfácil,podeacontecernainstituiçãoounolar.
Trêsdosinventáriosparaavaliaçãodecriançaseadoles-centesmaisreferidospelaliteraturaforamtraduzidosparao português:ChildrenDepressionInventory(CDI-Inventário deDepressãoInfantil)(Gouveia;Barbosa;Almeida&Gaião, 1995);YouthSelf-ReportForm(YSR)(Silverman&Serafini, 1998;Duarte&Bordin,2000);eChildBehaviorChecklist (CBCL).Dessestrêsinstrumentos,oCBCLéomaiscitado internacionalmenteejáestáparcialmentevalidadonoBrasil (Bordin,Mari&Caeiro,1995).
OCBCLdescreveoperfildecompetênciasocialede problemasInternalizanteseExternalizantesdacriançaem
doisformatos.Oprimeiroinvestigaapercepçãoparental, comversõesparacriançasde18mesesa5anos(CBCL/2-3)eparacriançasde4a18anos(CBCL/4-18);eosegundo formatoinvestigaapercepçãodeprofessores(TeacherRating Form-TRF)(Achenbach,1991;Silverman,&Serafini,1998). OCBCLapresentaboaconsistênciainterna,oquepermite umaavaliaçãoglobalefavoreceodiagnósticoclínicoacu-rado.Aaplicaçãoeacorreçãosãofáceis,oquefavorecea inserçãodoinstrumentonarotinaclínica(Hudziak&cols., 2004;Rosenblatt&Rosenblatt,2002).
Embora a utilidade clínica das medidas indiretas es-truturadas e semi-eses-truturadas seja reconhecida, elas são pouco utilizadas na prática brasileira. Isso talvez se deva à indiscutível limitação dessas medidas que, como todo instrumentodeavaliação,estãosujeitasaerroseviesesdo examinadoredoinformante.Alémdisso,estesinstrumentos dificultamaobtençãodepossíveisrespostasnãoprevistas pelo instrumento, mas relevantes para a compreensão do contextonoqualocomportamento-problemaocorre(Gross &Wixted,1988).
Procedimentos e instrumentos de avaliação diagnós-tica inicial são problemáticos em geral e constituem um amplocampoparapesquisa,imprescindívelaosucessoda intervençãoclínica,cujademandacrescecomapopulação. Programasdetratamentoparaqueixasinfanto-juvenisque incluem a criança e a família têm obtido grande sucesso namelhoriadosproblemasidentificados(McConaughy& Wadsworth,2000).
Ademandapeloserviçopúblico
Estudos estatísticos em ambulatórios públicos e de clínicas-escola brasileiras apontam uma alta demanda de criançasparaoatendimentopsicológico(Gauy&Guimarães 2001a,b;Romaro&Capitão,2001;Silvares,1998).Alémde caracterizarademanda,estesestudosmostramumaltoíndi-cededesistênciaeevasãodosusuários,interpretadocomo conseqüênciadolongoperíododeesperapeloatendimento, antesmesmodaavaliaçãoinicial.
Épossívelaindaqueosserviçosoferecidospelasins-tituiçõesestudadastenhamsidoinadequadosparaatender àscaracterísticasenecessidadesdesuaclientela.Aincon-sistênciaencontradaentredemandaedesistênciapoderia decorrer,pelomenosemparte,dostiposdeprocedimentos adotadosparaavaliaçãoedefiniçãodotratamentodeesco-lha.Napráticainstitucional,aidentificaçãodoproblema,a escolhadotratamentoeacompatibilidadeentreoserviço prestadoeasnecessidadesecaracterísticasdaclientelasão definidospelaavaliaçãoinicial,chamadatriagem(Parkin &cols.,2003).
Método
Contexto
O estudo foi realizado em uma unidade municipal de saúdemental,prestadoradeassistênciaacriançaseadoles-centescomqueixascomportamentaiseemocionaisnacidade de Goiânia-GO. Nesta instituição, novos pacientes eram recebidosacadabimestre,quandoasfamíliascompareciam à unidade para se inscrever no programa. Uma assistente socialacolhiaasfamílias,apresentavaoserviço,avaliavaa situaçãosócio-econômicafamiliareperguntavaosmotivos daprocurapelosserviçosdaquelaunidade.Oscasosidenti-ficadoscomopassíveisdeatendimentopelainstituiçãoeram agendadosparaatriagem.
Triagempadrão
O procedimento de triagem, denominado triagem pa-drão,erarealizadopormeiodeumaentrevistacoletivanão estruturadacomospaisdacriança,sobacoordenaçãode uma equipe institucional multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo,psicólogo,assistentesocial,psicopedagogo emédico.Osgruposdeentrevistapodiamternúmerovari-áveldeparticipantes,conformeademanda,eváriosgrupos podiamacontecersimultaneamente.
Aochegar,ospaiseramacomodadosemumasalaonde sentavamemcírculocomaequipemultidisciplinar.Aava- liaçãocomeçavacomaapresentaçãodaequipeporespecia-lidade,seguidadeinformaçõessobreasnormasecondições deatendimentos.Aseguirerainiciadaaentrevistaaberta, quandooscoordenadoresperguntavamaospaisquedificul-dadesdofilhoospreocupavam.Osparticipantesrespondiam espontaneamente,seguindoounãoaordememqueestavam sentados,conformeainiciativaindividual.Umdosmembros daequiperegistravanosprontuáriosdascriançasasinforma-çõesprestadaspelospais.Quandoorelatodealgumfamiliar deixavadúvidasoscoordenadorespediamesclarecimentos oudetalhamentoseosinformanteseramlivresparafalaruma oumaisvezes,conformeoprópriointeresse.Quandonão haviamaisdúvidasaequipeencerravaasessãoorientandoos participantessobreaseqüênciadoprocesso.Aofinaldesse procedimentoatriagemeraencerradaeoencaminhamento dacriançaerafeitoparaaespecialidadecompetente.
Participantes
Duranteumperíododeinscriçõesparanovospacientes, aassistentesocialqueacolheuasfamíliasconvidoutodas aquelasindicadasparaatendimentonoserviçoaparticipar deste estudo. As famílias que aceitaram o convite foram encaminhadasparaconversarcomapesquisadora,quando receberaminformaçõesdetalhadassobreosobjetivoseproce-dimentosdotrabalhoeassinaramotermodeconsentimento livreeesclarecido.
Foram recrutadas 30 mães, mas uma delas deixou de compareceraumadasavaliaçõesefoiexcluídadaanálise dedados.Assim,aamostrafoiconstituídapor29mãesbio-lógicas(86%)ouadotivas(14%),cuidadorasprimáriasde seusfilhos,comidadeentre25e56anosecomescolaridade
mínimadeensinofundamental(41,4%).Amaioriaeracasada (68,9%),tinhamaisdeumfilho(75,9%)etrabalhavafora (73%)comoautônoma(30%),técnicaemsaúde(23%)ou doméstica(20%).Ascrianças(72,4%M;27,6%F)tinham de4a16anosdeidadeecursavamdesdeaeducaçãoinfantil (24%)atéoensinomédio(6,9%).
Materialeinstrumentos
1. Roteiro de Entrevista Individual – Os itens do Child BehaviorChecklist(CBCL)foramtransformadosemum roteirodeentrevistaestruturada,com120itensadaptados paraavaliarapercepçãodospaissobreproblemascom-portamentaisdeseusfilhos(Cruz,Ferro&Gauy,2002). Ositenseadaptaçõesforamtestadosquantoàcompre-ensãoeadequaçãoparaaquelaclientelaereformulados comonecessário.
2. Protocolopararegistrodeobservação–Foielaborado umprotocolopararegistrodeobservaçãocontínuado relato parental durante as sessões de avaliação grupal conduzidaspelaequipemultidisciplinar.
3. Uma câmera de vídeo instalada na sala de avaliação grupal.
4. Umgravadordeáudio,pararegistrodasavaliaçõesindi-viduais.
5. Termos de consentimento livre e esclarecido para os participanteseparaadireçãodaunidade.
6. SoftwareparacorreçãodoCBCL(Achenbach,1991).
7. Crachásparaidentificaçãodosparticipantesnassessões grupais.
8. Doces, brinquedos e vales-transporte oferecidos como cortesiaàsmãeseseusfilhos.
Procedimento
Paragerardadossobreosdoisformatosdeentrevista, todasasparticipantesforamentrevistadasindividualmente eemgrupo.Oformatoindividualeraestruturadoefoiin-troduzidoexclusivamenteparafinsdesteestudo,enquanto o formato grupal foi o procedimento padrão da Unidade, descrito acima. As duas entrevistas aconteceram em dias diferentese,paracontrolarpossíveisinfluênciasdaavaliação individualsobreosrelatosdainformantenaavaliaçãogrupal evice-versa,umgrupodemãesfoidesignadoprimeiropara aentrevistaindividualeoutrogrupofoidesignadoprimeiro paraaentrevistagrupal.Essadesignaçãoaconteceuquandoa mãeformalizouoaceiteparaparticipardoestudo.Aprimeira aingressarfoiindicadaparafazerprimeiroaavaliaçãoindivi-dual,asegundafoiparaagrupal,aterceiraparaaindividual eassimsucessivamenteatécompletaraamostra.Aofinal,15 mães(52%)iniciarampelaentrevistaindividuale14mães (48%)iniciarampelagrupal.
Avaliaçãoindividual
A duração das entrevistas individuais variou de 30 a 75 minutos.
Avaliaçãogrupal
Aavaliaçãogrupalfoirealizadaconformeoprocedimento detriagempadrãoinstitucional,emgeralcom10membros em cada grupo avaliativo. As participantes deste estudo, identificadas por crachás, estavam distribuídas em cinco grupos,dosquaistrêstinhamseismãesemcada,umtinha noveeoutrotinhaoito.Duasobservadorastreinadasparti-ciparamdoscincogrupos,deformanãointrusiva,efizeram registrocursivodasfalasmaternassobreoscomportamentos deseusfilhos.Umaauxiliartreinadaoperouumacâmarade vídeopararegistrodetodasassessõesemVHS.Cadasessão durou90min.
Foram realizados testes de fidedignidade nas duas si-tuações.Paraasavaliaçõesindividuais,doisobservadores independentesouviramoregistroemáudiodeseisentrevistas selecionadasaleatoriamente(20%)epreencheramoroteiro deentrevistacomasrespostasdamãe.Acomparaçãodesses registroscomosregistrosfeitospelaentrevistadoraobtive-ramumíndicedefidedignidadede95%.Paraasavaliações grupais,doisobservadoresindependentestranscreveramduas entrevistas selecionadas aleatoriamente para cada um dos cinco grupos (35%) registrados em VHS. As transcrições foramcomparadascomosregistrosfeitospelasobservadoras duranteassessõeseobtiveramumíndicedefidedignidade de83%.
Osíndicesdefidedignidadeforamobtidospelocálculo do total de acordos dividido pelo total de acordos mais desacordos. Todos os observadores que participaram do testedefidedignidadeeramingênuosquantoaosobjetivos doestudo.
Resultados
Foramcomparadososresultadosobtidosnasduasava-liações,tendocomoparâmetroaclassificaçãodimensional utilizadapeloCBCL.Asmãesinformantesrelataramaotodo 125comportamentos-problema,dosquais120constavamdo roteirodeentrevistaindividualecincooutrosforaminfor-madosespontaneamente.
Os comportamentos relatados foram agrupados por similaridadetopográficaem67categorias,distribuídasnas áreasdeProblemasInternalizantes(33), ProblemasExterna-lizantes(29),“OutrasVariáveisRelevantes”(5)emaisquatro informaçõesobtidasemrespostaàsduasperguntasabertas. As33categoriasdeProblemasInternalizantes foramdistri-buídasemtrêsclassesderespostas:Isolamento(5),Queixas Somáticas(9)eAnsiedadeeDepressão(19)(Tabela1).As29 categoriasdeProblemasExternalizantesforamdistribuídas emoutrastrêsclassesderespostas:ProblemasdeAtenção
(7), Comportamento Delinqüente (9)e Comportamento Agressivo(13) (Tabela 2). As classes de respostas foram definidasconformeoscritériosdeagrupamentopropostos por Achenbach e Edelbrock (1983) e constituídas com o auxiliodosoftwaredecorreçãodoCBCL.
Acomparaçãoentreosresultadosdasavaliaçõesgrupale
individualfoirealizadaporcategorias,classeseáreascom-portamentais.Naavaliaçãoindividual(AI)foramrealatadas as67categorias,cadaumareferidadequatroa26vezes.As categoriasmaisfreqüentesforam:“irritado”(26),“desobe-diente”(25),“nervoso”(25)e“impulsivo”(24).
Na avaliação grupal (AG) foram relatadas 33 das 67 categoriaspossíveis.Quinzedelaseramde ProblemasIn-ternalizantes,distribuídasnastrêsclasses:Isolamento(5), QueixasSomáticas(2),AnsiedadeeDepressão(8)(Tabela1). Asoutras18categoriaseramdeProblemasExternalizantes, distribuídasnasoutrastrêsclasses:ProblemasdeAtenção(5),
ComportamentoDelinqüente(7)e
ComportamentoAgres-sivo(6)(Tabela2).Predominaramascategorias“inquietoe agitado”(14),e“trabalhosescolaresfracos”(10).
Acomparaçãoderesultadosporáreamostrouqueentre os comportamentosInternalizantesrelatados na AI, cada categoriadaclasseIsolamentofoicitada11a20vezes,com predomínio de “tímido ou envergonhado” (25%), “calado” (22,5%) e “aborrece-se com facilidade” (22,5%). Na AG, houveomáximodeduasreferênciasparaamesmacategoria, queforam“tímidoouenvergonhado”(29%)e“ficadeolhar paradoouperdido”(29%).NaclasseQueixasSomáticascada categoriafoireferidaduasa12vezesnaAI,compredomíniode “dordecabeça”(18,5%)e“problemasrespiratórios”(16,9%). NaAG,ocorreramaotododuasreferênciaspara“problemas respiratórios”(50%)eduaspara“obesidade”(50%).Naclasse
AnsiedadeeDepressãocadacategoriafoireferidadequatroa 25vezesnaAI,compredomíniode“nervoso,muitoexcitado outenso”(11%)e“senteouqueixa-sequeninguémgostadele” (8,5%).NaAG,omáximodereferênciasparaumacategoria foideseisvezes,compredomíniode“nervoso,muitoexcitado outenso”(40%)(Tabela1).
AsmaioresdiscrepânciasentreosrelatosdeProblemas Internalizantesnasduasavaliaçõesocorreramnascategorias “tímidoouenvergonhado”(20AI;2AG);“dordecabeça” (12AI;zeroAG);“queixa-sequeninguémgostadele”(20 AI;zeroAG);e“nervoso,muitoexcitadooutenso”(25AI; 6AG)(Figura1).
EntreosproblemasExternalizantes,aclasseProblemas deAtençãoobtevecincoa24referênciasàmesmacategoria naAI,compredomíniode“impulsivo”(20%)e“dificulda-desparaconcentrar-se”(19%).NaAGocorreuummáximo de14referênciasàmesmacategoria,compredomíniode “inquieto”(37%)e“trabalhosescolaresfracos”(26%).Na
0 50 100 150 200 250
Isolamento QueixasSomáticas Ansiedade/Depressão
Individual Grupal Discrepância
Tabela1.Classesecategoriasinternalizantesreferidasnasavaliaçõesindividualegrupal.
Classe CategoriasComportamentais Ocorrência
Individual Grupal Discrepância
Isolamento
Prefereficarsozinho(a) 13 1 12
Calado(a) 18 1 17
Tímido(a)ouenvergonhado(a) 20 2 18
Ficadeolharparadoouperdido 11 2 9
Aborrece-secomfacilidade 18 1 17
Total 80 7 73
QueixasSomáticas
Tonturas 6 0 6
Ficafacilmentecansado(a) 8 0 8
Prisãodeventre 7 0 7
Dordecabeça 12 0 12
Enjôoouvômitos 5 0 5
Doresdeestômagooucólicas 5 0 5
Dornopeito 2 0 2
Problemasrespiratórios 11 2 9
Pesoexcessivo 9 2 7
Total 65 4 61
Ansiedade/ Depressão
Infeliz,tristeoudeprimido(a) 17 0 17
Poucoativo(a),move-secomlentidão,temfaltadeenergia 8 2 6
Reclamadeestarmuitosozinho(a) 11 0 11
Falaemsematar 4 1 3
Chorão(ona) 19 2 17
De“lua”,oraficaalegreoraficatriste 16 0 16
Temmedodepensaroufazeralgumacoisamá 4 0 4
Achaquedeveserperfeito(a) 9 0 9
Senteouqueixa-sedequeninguémgostadele(a) 20 0 20
Achaqueosoutroso(a)perseguem 13 0 13
Sente-seinferior 15 1 14
Nervoso(a),muitoexcitado(a)outenso(a) 25 6 19
Medogeneralizadoouespecífico 6 1 5
Sente-semuitoculpado(a) 9 1 8
Desconfiado(a) 12 0 12
Dificuldadesparatirarcertospensamentosdacabeça 14 0 14
Repeteváriasvezesasmesmasações 6 1 5
Guardacoisasquenãoprecisa 16 0 16
Preocupado(a) 12 0 12
Total 236 15 221
TotalGeral 381 26 355
Média 13 0,9 12,2
classeComportamentoDelinqüente,amesmacategoriafoi referidacincoa21vezesnaAI,compredomíniode“mente” (21%),enquantonaAGhouveummáximodetrêsreferências coincidentes,para“mente”(25%)e“rouba”(25%).Naclasse
ComportamentoAgressivo,amesmacategoriafoireferida
Asmaioresdiscrepânciasentreonúmerodeinformações obtidasnasduasavaliaçõesparaProblemasExternalizantes ocorreramem“impulsivo”(24AI;zeroAG);“dificuldade paraconcentrar”(23AI;quatroAG);“mente”,(21AI;três AG);“nãosenteculpa”(16AI;zeroAG);“irritado”(26AI; zeroAG);e“ciumento”(23AI;umAG)(Figura2).
Nas duas avaliações foram relatados maisProblemas Externalizantes(445AI;73AG)doquedeProblemas Inter-nalizantes(381AI;26AG).Acomparaçãoentreasclasses comportamentaismostrouqueamaioriadasqueixasobtidas
naAIeradeAnsiedade/Depressão(236)eComportamento Agressivo (226), enquanto na AG predominaram queixas deProblemasdeAtenção(38)eComportamentoAgressivo (23).
AlémdascategoriasclassificadascomoInternalizantese
Externalizantes,outrascincocategoriascomportamentaise quatrocategoriascontextuaisforamrelatadasnasduasava-liações.Ascategoriascomportamentaisforam“róiasunhas”, “dificuldadesderelacionamentocomoutrascrianças”,“pro-blemasparadormir”,“enuresenoturna”e“dificuldadespara Tabela2.Classesecategoriasexternalizantesinformadasnasavaliaçõesindividualegrupal.
Classe CategoriasComportamentais Ocorrência
Individual Grupal Discrepância
Problemasde Atenção
Trabalhosescolaresfracos 17 10 7
Dificuldadeparaconcentrar-se 23 4 19
Inquieto(a)ouagitado(a) 19 14 5
Ficaconfuso(a)ouperdido(a) 5 0 5
Muitodistraído(a) 17 6 11
Impulsivo(a) 24 0 24
Desastrado,descoordenado(a) 15 4 11
Total 120 38 82
Comportamento Delinqüente
Nãosenteculpa 16 0 16
Maltrataanimais 7 1 6
Andacomcriançasquesemetemembrigas 10 1 9
Mente 21 3 18
Fogedecasa 8 1 7
Colocafogonascoisas 5 0 5
Rouba 10 3 7
Falapalavrões 11 2 9
Mataaula 11 1 10
Total 99 12 87
Comportamento Agressivo
Discutemuito 21 0 21
Estragaasprópriascoisas 19 0 19
Estragapatrimônioalheio 14 0 14
Desobediente 25 4 21
Ciumento(a) 23 1 22
Mete-seembrigas 16 2 14
Atacafisicamenteoutraspessoas 10 4 6
Gritamuito 15 0 15
Irritado(a) 26 0 26
Perturbaosoutros 15 0 15
Crisederaivaoudenervosismo 20 3 17
Problemasdecomportamentonaescola 15 9 6
Ameaçaaspessoas 7 0 7
Total 226 23 203
TotalGeral 445 73 372
falar”.Cadaumadessascategoriasfoimencionadaoitoa20 vezesnaAI,compredomíniode“problemasparadormir” (32,3%)e“dificuldadesderelacionamentocomoutrascrian-ças”(22,5%).NaAGocorreuumaacincocoincidências, com predomínio de “dificuldades de relacionamento com outrascrianças”(42%).
Asvariáveiscontextuaisforaminformadasespontanea- mentenasduasformasdeavaliaçãoeincluíam“paiagressi-vo”,“paialcoolistaoudependentequímico”,“antecedentes familiaresdedoençamentalnafamília”e“filhoadotivo”. Cadaumadessasvariáveisforamreferidasduasatrêsvezes naAI,compredomíniode“paiagressivo”(27,2%)“paial-coolistaoudependentequímico”(27,2%),e“filhoadotivo” (27,2%).NaAG,estascategoriasforamcitadasumaaquatro vezes,comdiscretopredomíniode“filhoadotivo”(36,3%). Asmaioresdiscrepânciasentreasduasavaliaçõesocorreram em“problemasparadormir”(20AI;doisAG);e“enurese noturna”(12AI;umAG)(Figura3).
A comparação por categorias mostrou 898 queixas na AI,distribuídasem67categoriascomportamentaisemais quatrovariáveiscontextuais.Cadamãeapresentou10a45 queixas,comamédiade31queixasporparticipante.NaAG, foramouvidas121queixas,distribuídasem33categorias comportamentaisemaisquatrovariáveiscontextuais.Cada mãeapresentouzeroa10queixas,comamédiadequatro porparticipante.Onúmerodequeixasfoisemelhantepara
mãesquefizeramaentrevistagrupalseguidadaindividual evice-versa(Figura4).
Osresultadosforamtambémcomparadosemtermosda médiadeproblemasrelatadosemcadaprocedimentoeas característicasdemográficasdascrianças,aestruturafamiliar, eaidadeeescolaridadedasinformantes.Aanáliseporidade mostroumaiorincidênciaderelatossobrecomportamentos decriançasde4a6anosnaAIemenosrelatosparamaio-resde15anosnasduasavaliações(Figura5).Nãoforam encontradasdiferençasnosresultadosporsexodacriança, númerodefilhosesituaçãoconjugaldamãe.
0 50 100 150 200 250
ProblemasdeAtenção Comportamento Delinquente
ComportamentoAgressivo
Individual Grupal Discrepância
Figura 2.Incidência e discrepância no número de comportamentos externalizantesrelatadosnasavaliaçõesindividualegrupal.
0 10 20 30 40 50 60 70
Individual Grupal Discrepância Categorias VariáveisContextuais
Figura 3.Total de outras variáveis relevantesrelatadas nas avaliações individualegrupal.
0 10 20 30 40 50 60
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 Individual Grupal
Figura4.Númerodecategoriasrelatadasporinformantenasavaliações individualegrupal.
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Individual Grupal
4a6 7a9 10a12 13a15 �15
Figura5.Médiadeproblemasidentificadosporfaixaetáriadacriança.
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Individual Grupal
25a30 31a36 37a42 43a48 �48
Considerandoaidadeeoníveldeescolaridadedainfor-mante,foramobtidosmaisrelatosdeproblemasnaAIentre mãesmaisjovensdoqueentreasmaisidosas(Figura6)e entremãescommaiorescolaridade(34)doqueentremães commenorescolaridade(27).NaAGnãoforamobservadas diferençasparaessasduasvariáveis.
DiscussãoeConclusão
Acomparaçãoentreosresultadosobtidospelosformatos deentrevistaindividualegrupalmostrouumnúmerosete vezesmaiordedescritoresdocomportamentoproblemático naavaliaçãoindividualeestruturada,doquenaavaliação grupaleaberta.Essadiferençapodeserexplicada,pelome-nosemparte,porcaracterísticasdeinibiçãoouextroversão dasinformantesesuapercepçãosobrearelevânciadoscom-portamentosobservados,pelascaracterísticasdecadagrupo, pelaevoluçãodaentrevistaepordiferençasteóricasede perspectivaentreosmembrosdaequipemultiprofissional.
Foram encontradas também diferenças importantes quanto ao número de queixas apresentadas por classe de respostas,independentedoformatodaentrevista.Asmaiores discrepânciasforamencontradasentreascategoriasdaclasse
AnsiedadeeDepressãoeasmenoresentreascategoriasda classeProblemasdeAtenção.
Umapossívelinterpretaçãoparaessasdiferençaséque o informante leigo deixa de relatar espontaneamente o comportamentoquenãolheparecerelevante(ex.:“prefere ficarsozinho”),oucujaocorrêncianãoédefácilobservação. ComportamentosdeAnsiedadeeDepressão,porexemplo, podemserconsideradosmenosproblemáticospelamãe,por seremmanifestaçõesdeeventosprivados,difíceisdeobservar edebaixoimpactoambiental,queincomodammaisapró-priacriançadoqueoambienteexterno(Frank,VanEgeren, Fortier&Chase,2000).Respostascomessascaracterísticas sãorelatadasquandoinvestigadasdiretamente,comoocorreu naAI,massãoomitidassedependerdaverbalizaçãoespon-tâneadoinformante.Poroutrolado,categoriasdeProblemas
deAtençãoemgeralsãoevidentesetêmumimpactomaior
nosambientesfamiliar,socialeacadêmico,incomodamos pais,familiareseprofessores–sãomaisobservadasemais relatadas(Marsh,&Graham,2001;Volkmar,2002).
Issopodeexplicarapequenadiferençaencontradaentre osrelatosobtidosnasduasformasdeavaliaçãoparaalguns comportamentosrelevantesaosolhosparentais,como
Pro-blemasdeAtenção.Entretanto,paraavaliarcomorbidades
importantes entre os diversos problemas relatados, as en- trevistasgrupaisabertaspodemserinsuficientes,principal-mente,quandoProblemasExternalizantesestãoassociados aProblemasInternalizantes.Otratamentoparaumacriança comfaltadeatençãoassociadaaproblemasdesonoeagres-sividade,porexemplo,requerumaavaliaçãoacuradadecada umdessescomportamentos,quepodeserinviávelapenas pelaavaliaçãogrupal.
Nasduasavaliaçõesdesteestudopredominaramrelatos de comportamentosExternalizantes, classificados e dife-renciadospeloDSMcomotranstornosdecomportamento disruptivo,caracterizadosprincipalmentepelaimpulsividade e agressividade. Também nas duas avaliações ocorreram relatosdefatoresderiscoamplamentereconhecidos,como
“paiagressivo”e“paialcoolistaoudependentequímico”. A informação sobre variáveis contextuais é bastante útil paraoclínico,cujoobjetivoéaintervenção,porquepermite a análise funcional do comportamento. Filhos agressivos compaisalcoolistasedependentesquímicos,porexemplo, podemestarrespondendodeacordocomomodeloparental (Bandura,1989),vistosercomumaagressividadeporparte depaisdependentesquímicos.Ouainda,arespostaagressiva dacriançapodeestarmantidaporcontingênciasambientais reforçadoras,seessarespostaforsuficienteparainibirou limitarahostilidadeparental(Benzies,Harrison&Magill-Evans,2004).
A obtenção de informações relevantes sobre variáveis similaresnasduasformasdeavaliação,emrespostaaper-guntas abertas, remete à questão da natureza e relevância dasinformaçõesobtidasenãoobtidasnaAG.Aliteratura mostraqueopontofortedaavaliaçãonãoestruturadaéa identificaçãodevariáveiscontextuaisimportantes,quesão geralmentenegligenciadaspelosprocedimentosestruturados (Morganstern, 1988). Entretanto, neste estudo, não houve superioridadedaavaliaçãogrupalsobreaindividualquanto àsvariáveiscontextuaisrelatadasespontaneamente.
O ambiente emocional acolhedor e protegido da AI, associadoàsduasperguntasabertas,podeterfavorecidoa comunicaçãodessasvariáveisque,apesardenãosereferir ao comportamento da criança, eram percebidas como po-tencialmenteameaçadorasouinadequadasparaoprocesso desenvolvimental.Issoimplicapelomenosduashipóteses parafuturainvestigação:a)mãesrelataminformaçõesque consideramrelevantesparaodesenvolvimentodesuacriança, independentedatécnicadeavaliaçãoutilizada;eb)atécnica de estruturação ou semi-estruturação da entrevista é mais relevanteparadefiniranaturezadasinformaçõesprestadas doqueoformatogrupalouindividualdaavaliação.
Umagrandevantagemdaavaliaçãogrupaléaeconomia detempo,especialmentepreciosanoserviçopúblico.Por outrolado,aavaliaçãoestruturadaedirigidapodesermais adequadapordescreverdeformapontualorepertóriocom-portamentaldacriança,comoaconteceunesteestudo.Essas consideraçõessugeremqueajunçãodosrecursosdoformato grupaledaavaliaçãoestruturadapodeotimizaraavaliação docomportamentonocontextoinstitucional.Ousodeum roteirodeentrevistaestruturadaparaaplicaçãogrupal,por exemplo,tomariamaistempodoqueaentrevistaaberta,mas trariainformaçõesmaisacuradaserelevantestantoparao diagnósticoquantoparaatomadadedecisõesterapêuticas. Nãoestáaquisendopropostoqueaqualidadedosdados obtidosduranteumaavaliaçãodependeráapenasdotipode técnicaouprocedimentoutilizado.Qualquerumdelesestará sujeitoafalhastécnicas,pelanaturezadoobjetomensurado, eafalhashumanasrelativasàobtençãoeregistrodasin-formações(Sarwer&Sayers,1998;Silverman,&Serafini, 1998).Entretanto,nousodaentrevista,oreconhecimentodo problemaeaacuracidadedoregistroestãomaisexpostosao viésdoexaminadorquandoeleusaoformatoabertodoque quandousaumformatofechadoousemi-aberto(Sarwer& Sayers,1998).
Emboraaentrevistasejaaferramentamaisutilizadacomo primeiro passo na identificação de problemas relevantes à prática clínica, os profissionais em geral não seguem uma rotinapadrãoparaentrevistar.Ascaracterísticaspessoaisdo profissionaleanecessidadedeumtreinamentopadrãosão aindamaisrelevantesnoprocessodeavaliaçãoquandoelaé realizadaporequipesmultidisciplinares.Osresultadosdasava-liaçõessofremoimpactodasmúltiplasformaçõesprofissionais eorientaçõesteóricas,dousodediferentesjargõesetermos técnicosedaexperiênciaprofissionaldecadamembro.
Otreinamentodeprofissionaiseousodemúltiplosins-trumentosouinformantespodemcontribuirparaatenuaras inevitáveisfalhasdoprocessodeavaliaçãocomportamental. Mas,nassituaçõesemqueasentrevistasforemutilizadas, comumoucommúltiplosinformantes,énecessárioqueo entrevistadorsaibaconduziracoletaadequadadasinforma-çõesrelevantes.Alémdetreinamentoemusodetécnicase instrumentos de avaliação, os examinadores que avaliam problemas da infância e adolescência deveriam receber treinamentoemdesenvolvimentoinfantil,desenvolvimento patológicoefatorescontextuaisfacilitadoresdodesenvol-vimentodeproblemas.
Otreinamentopodeinstrumentarmelhorosprofissionais daáreaparasabercomo,oque,porque,paraqueperguntar eoqueregistrarduranteumaavaliação.Osresultadosdeste estudoapontamosganhosnautilizaçãodoformatoindividual estruturadosobreoformatogrupalabertodeentrevistas,e sugeremanecessidadederevisãoeavaliaçãodeinstrumentos eprocedimentosutilizadosementrevistasavaliativas.
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Recebidoem12.05.2005 Primeiradecisãoeditorialem15.06.2005 Versãofinalem21.03.2006
Aceitoem12.04.2006
IICONGRESSOBRASILEIRODEPSICOLOGIA ORGANIZACIONALEDOTRABALHO
Data:26a29deJulhode2006
Local:CentrodeConvençõesUlyssesGuimarães– Brasília/DF
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