• Nenhum resultado encontrado

AIDS, ativismo e regulação de ensaios clínicos no Brasil: o Protocolo 028.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "AIDS, ativismo e regulação de ensaios clínicos no Brasil: o Protocolo 028."

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

8 6 3

Cad . Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 17(4):863- 875, jul-ag o , 2001 A RTIGO A RT I C L E

AID S, ativismo e regulação de ensaios

clínicos no Brasil: o Protocolo 028

AIDS, ac tivism, and the re g ulatio n

o f clinical trials in Brazil: Pro to co l 028

1 N ú cleo de As s i s t ê n c i a Fa r m a c ê u t i c a , Es c o l a N a cio n al d e Sa ú d e Pú blica , Fu n d a ção Osw a ld o Cru z. Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, sa la 617 , Rio d e Ja n e i ro, R J 2 1 0 4 1 - 2 1 0 , Bra s i l . d o ra @ e n s p. f i o c r u z . b r 2 De p a rtam en to de En d e m i a s Sa m u el Pe s s o a , Es c o l a Na cion a l d e Saú de Pú blica, Fu n d ação Osw ald o Cru z. Ru a Leop old o Bu lh ões 1480, t é r re o, Rio d e Ja n e i ro, R J 2 1 0 4 1 - 2 1 0 , Bra s i l . b m o re i ra @ e n s p. f i o c r u z . b r 3 In stitu t o Al b e rto Lu i z C o i m b ra d e Pós Grad u a çã o e Pesqu i sa d e En g e n h a r i a , Un i v ersi da d e Fe d e ral d o Rio d e Ja n e i ro. Ce n t ro d e Te c n o l o g i a , Bloco F, sala 109, Cid a d e Un i ve r s i t á r i a , Rio d e Ja n e i ro, RJ 2 1 9 4 5 - 9 7 0 , Bra s i l . j m e l l o @ p e p. u f r j. b r

Ma ria Au x i l i a d o ra Ol i ve i ra 1 Eliz a beth Mo re i ra d os Sa n tos 2 José Ma n oel Ca rvalh o Mello 3

Abst ract Th is p a p er ex am in es th e p olitics an d p ra ctices of d ru g ev alu ation in Bra z i l . It tra c e s t h e h istory of AIDS act ivists’ in flu en ce on t h e o rga n iz a tion of m od ern clin ica l t ria ls an d th eir scien tific ra t i o n a l e . Usin g th e Me rck in din avir trial as a case stu d y, t h e au th ors discu ss h ow or-g a n i zed civil society h as dev elop ed strateor-gies t o in terven e in th e cou rse of d ru or-g evalu ation trials, sh ap in g th em a ccord in g to it s ow n in tere s t s . Ad op tin g t ran sla tion sociology a s th e th eore t i c a l f ra m ew o rk , t h e p a p er d escribes a n d an alyz es t h e st rat egies u sed b y a ctiv ist s from “ Gr u p o Pe l a Vi d d a / S P ”(an AIDS N GO) t o bu ild a con sen su s con cern in g in din a vir m on oth era p y’s lack of e f f i c a c y. Th e stu d y con sid ers th e seve ral re g u l a t o ry foru m s in vo l ved in d ealin g w ith t h e con tro-versy d u rin g th e trial p eriod .

Key words Ac q u i red Im m u n od eficien cy Sy n d ro m e ; Et h i c s ; Clin ical Tr i a l s

Resumo Este a rt igo exam in a a p olítica e a p rá tica d a a va liaçã o d e m ed ica m en to s n o Bra s i l , bu scan d o id en tificar a in flu ên cia qu e a socieda de civil organ iza da, n o ca so, os ativistas d a AIDS, exe rce n a con stru çã o d a racion a lid ad e cien t ífica d e en saios clín icos m odern os. Basean d o-se n a exp eriên cia d o en sa io clín ico d o In d i n a v i r / Me rck (Protocolo 028), com o estu do d e caso, d i s c u t e se d e q u e m a n eira gru p os sociais organ iza dos desen v o l vem estra tégias p ara in terferir n a con d u -ção d e estu d os d e ava lia-ção d e m ed icam en tos, ad equ an do-os a os seu s p róp rios in t ere s s e s . Te n d o com o referên cia teórica a sociologia da tra d u ç ã o, este artigo d escre ve e an a lisa as estra tégia s u tiliz ada s p elos ativistas d o gru p o Pe l a Vid da/SP (ON G/AIDS) n o p rocesso d e con stru çã o do con sen so sob re in eficácia d a m on ot era p ia com o In d in av ir ju n t o aos d iversos fóru n s regu la tórios en -volvidos n a solu ção d a con trovérsia gerad a d u ran te o período d e execu ção d o referid o estu d o.

(2)

O LIVEIRA, M . A.; SANTO S, E. M. & MELLO , J. M. C . 8 6 4

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001 I n t ro d u ç ã o

Evidên cias re c e n t e s, part i c u l a rm en te no cam p o dos Estud os Sociais da Ciência e Tecn ologia, têm en fatizado a in fluên cia dos m ovim en tos sociais n a validação d os con h ecim en tos cien tíficos. Os fatos se torn am cien tíficos não apen as p or sere m e m p i ricam en te ve ri f i c á ve i s, m as tam bém porq u e são o resultado de n egociação social d e cre d i b il i d a d e, risco e ilegitim idade, q ue con strói o con -sen so sob re os m esm os (Brown , 1995; Ep s t e i n , 1995, 1996, 1997; Fu n t owicz & Ra vetz, 1993).

Na aren a p olítica, p art i c u l a rm en te n o cam -p o d a re g u l a ç ã o, esses fato s -p assam -p or u m p rocesso h íb rid o d e fab ricaç ão d isc u rsiva q u e i n t e g ra elem en tos h etero g ê n e o s, os q ua is ga-ran tem a su a con sistên cia (Ab rah am , 1995; Ja-san off, 1998; Mello & Fre i t a s, 1998; Rip & Gro e-n e wegee-n , 1989). Híb rido e heterogêe-n eo p orq u e e n vo l ve n ec essa riam en t e relaçõe s e n tre um a e n o r m e va r ied a d e d e ato res e a ct an t es com o p e s q u i s a d o re s, técn icos, adm in istra d o re s, gru-p o s sociais o rg a n i z a d o s, equ igru-p am en tos, gru-p are-c e res téare-cn iare-cos, agên are-cias de fom en to e de re g u-l a ç ã o, p ou-líticas gove rn a m e n t a i s.

Nessa p ersp ectiva, Callon (1989) afirm a qu e p a ra com p reen d er o p rocesso de fabricação de u m fato cien tífico, é p re ciso a n a lisar as re d e s sociotécn icas que lh es dão origem e estabilid a-d e. Estas rea-des são assim a-design aa-d as p or en fei-x a rem u m a h eterogen eid ad e d e fa tores e en ti-d ati-d e s ( Te i x e i r a , 1994). Assim , n u m p r o c e s s o d in âm ico den om in ad o p or Law (1992) d e “e n

-g en h aria h etero -g ê n e a”, p edaços e p eças d o so-cia l e d o téc n ic o se ar t icu la m e, p o r m eio d e p r oce ssos d e con ve r s ã o / t ra d u ç ã o, geram o u -t ros p rod u -tos igu alm en -te h e-tero g ê n e o s.

Sob esta ótica, este artigo bu sca d escre ver e an alisar as estratégias u tilizad as p elos ativistas d o Gr u p o Pe l a Vid d a/ São Pa u lo (Org a n i z a ç ã o N ã o - Gove rn am en tal em defesa d os p ort a d o re s d o HIV – ONG/ AIDS) n o p rocesso d e con stru -ção do con sen so sobre in eficácia da m on otera-p ia com o In d i n a v i r. Discu te a atu ação d os d iversos fóru n s re g u l a t ó rios en volvid os n a solu -ç ão d a co n tr ovérsia ger ad a d u r an te o p eríod o d e execu ção do en saio clín ico do In d i n a v i r, de-n o m ide-n ad o d e Prot oc olo 028– “Estu d o m u lt ic ê n t ri ic o, du ploicego, ran d om izad o em p aicien -t es so ro p o s i -t i vos ao HIV-1, p ara co m p arar a eficácia e a seguran ça do MK-0639 (L-735, 524), 800m g d e 8/ 8h , e a Zi d ovu d in a (AZT ), 200m g 8/ 8h , ad m in istra d o s co n co m ita n tem en t e e c o m p a rad o com o MK-0639 e com a Zi d ov u d i-n a adm ii-n istrad os isoladam ei-n te”.

Pa ra o p resen te estudo utilizo u - s e :

• revisão b ib lio grá fica d a p rod u ção re c e n t e, p eríod o de 1992 a 1997, sob re a con strução d o

con h ecim en to cien tífico sobre m edic am en tos a n t i re t rov i ra i s, iden tifican do os p rin cip ais m a r-cos cien tífir-cos q u e b alizaram a arg u m e n t a ç ã o técn ica d os d iversos atores en vo l v i d o s ; • an álise de docum en tos oficiais, com o o p ro-toco lo d a p esq u isa e co n sen sos d e esp ec ialistas b ra s i l e i ros sob re terap ia an tire t rov i ral, p u -blicados p elo Mi n i s t é rio da Saúd e (MS) n o an o d e 1996;

• an álise d e artigos sobre o en saio-clín ico do In d i n a v i r / Me rck p u b licad os n a revista Ca d e r-n os Pe l a Vidda r-n o p eríod o de setem bro de 1995 a jan eiro de 1998. Esta p ub licação foi escolhida p or se con stitu ir n o p r in cip a l veicu lo d e d ifu são d as id éias, p osições e reivin d ic açõ es re l a -cion a d a s à p esqu isa d o p o n to d e vist a d a s O N G / A I D S .

O contexto

O surgiment o da AID S e do at ivismo no Brasil

A h istória da epid em ia d a AIDS n o Brasil com e-ça em 1982, n u m m o m en to p o lít ic o m arc a d o p elo in icio do p rocesso nacion al de re d e m o c ra-t i z a ç ã o, ap ós q u ase vin ra-te an os d e dira-tad u ra m i-l i t a r. Ao i-lon go da d écad a d e 80, ocorre n o p aís u m a d as m ais im p ortan tes tran sições n o cam -p o das -p olíticas sociais, cujo á-pice se dá, n a As-sem b léia Nacion al Con stituin te de 1988, com a a f i rm ação d o d ireito à saú d e com o d ireito fun -dam en tal da p essoa hum an a, cab en do ao Esta-d o p r over a s con Esta-d içõ es in Esta-d isp en sáveis a o seu plen o exercício (MS, 1999). Con soan te com es-ta d ire t r iz, a Lei 8.080/ 90 (Brasil, 1990) c ria o Sistem a Ún ico de Saúd e (SUS), organ izad o sob os p r in cíp ios do aten dim en to in tegral, u n ive r-sa l e p ar t i c i p a t i vo, p ossib ilitan d o a or g a n i z a-ção d a so cied ad e civil e a p rob lem atizaa-ção d e tem áticas relacion ad as à saúd e. Assim , a d in â-m ica das ONG/ AIDS, gu ard ad a a esp ecificid a-d e tem át ica a-d e in cluir q u estõe s re f e ren t es à doen ça e à sexu alid ad e, se in sere n a d in â m ica de p oten cialização d os m ovim en tos sociais, os q u a i s, n aq uela o c a s i ã o, atu avam de form a, p re-d o m i n a n t em e n t e, co n trap osta a o Estare-d o (Si l-va, 1998).

(3)

Cad . Saúde Pública, Rio d e Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

n ú m e ros re v elam ain d a sofrim en to: d or física, p e rd a d e cap a cid ades, an sied ad e p eran te a es-cassez de tra t a m e n t o s , su a in acessibilidade, c are s t i a ; os estigm as associados à d oen ça, o aban -d on o p or p arte -d e a n tigos a m igos e fam iliare s , p recon ceitos d e algu n s p rofission ais de saú d e, n os loca is de tra b a l h o, n as escolas; i s o l a m e n t o, s o l i d ã o, n ã o - c o m u n i c a ç ã o ; an sied ad e peran te o f u t u ro, e n f ren tam en to d o ve red icto d e fatalid ad e in evitáve l , sen sação ad e bom barelógio n o in -t erior do corp o; esforços d e u l-trap assagem d es-sas cert e z a s ,e n t rega a tera pias esotérica s e ‘a l-t e r n a l-t i va s’, cam in h os espiril-tu ais; e l-tam bém , p a-ra m u itos a descoberta da politização do estado d e p essoa viven do com HIV e AIDS, d e s c o b e rt a da solid aried ade e d a ação polít ica, p ressão d i-reta n as tom adas de decisão, con qu istas n o a c e s-so a m ed icam en tos, n a am p liação d a p esq u isa, n a ap ost a d os resu ltad os in ova d o res d esta, n o afasta m en to do p re c o n c e i t o, n a lei, n a atitu de e n a in corporação da AIDS ao cotid ian o”.

No cam p o cien tífico, o HIV foi re c o n h e c i d o com o o agen te etiológico da AIDS em 1983. Em segu ida, foi estabelecido, m ed ian te testes labo-ra t o ri a i s, o e st ad o d e so ro p o s i t i v i d a d e. Estes fatos m ud aram a dim en são social da ep idem ia, i n t rod uzin d o desafios m éd icos, éticos e ju rídi-cos de gran de com p lexid ade (Grm ek, 1995). Em 1987, su rge a p ossib ilid ad e d o t rat am en to es-p ecífico es-p ara o HIV, com a iden tificação do es-p ri-m e i ro an tire t rov i ral: AZT (Fi sch l et al., 1987). Este fá rm a co fora d esen volvid o n a d éc ad a d e 60 p ara o tratam en to de n eop lasias san güín eas. Do pon to vista dos m ovim en tos sociais, ca-be ressaltar o p ion eirism o d e algu m as in iciati-vas b ra s i l e i ra s n a lu ta co n tr a a e p id em ia . A c riação do p ri m e i ro GAPA-São Paulo (Gr up o d e Ap oio à Pre ven çã o a AID S), em ab r il d e 1985, p or e xem p lo, an te ced e em c erc a d e u m an o a c riaç ão d o Pro g ram a Nac io n a l d e D ST e AID S do MS. Em 1986, cien tistas b ra s i l e i ros se u n em a dois con h ecidos m ilitan tes p olíticos soro p os i t i vo os, p ro m oven d o a c riaç ão d a ABIA (Aososo -ciação Bra s i l e i ra In t e rdiscip lin ar de AIDS), qu e se p rop u n ha a t em atiza r, d o p o n to d e vista m u l t i d i s c i p l i n a r, a AIDS n o con texto das p olíti-cas p úb liolíti-cas (Dias & Pe d rosa, 1997).

Em 1989, é fu n d ad o n o Rio d e Ja n e i ro o Gru p o Pe l a Vid d a (Va l o r iza ção e Dign id ad e do Doen te d e AIDS), qu e d en u n cia a “m o rte civil” – p rocesso de d esapro p riação da cidadan ia qu e o c o r re com as p essoas viven do com HIV e AIDS ( Dan iel, 1989) – e exige d o Estad o u m a p ri o r i-dade p ara a q u estão. Além d o coletivo, o gru p o, ao defin ir com o seu p rin cíp io a defesa das p es-soas viven d o com HIV e AIDS, resgata a im p li-cação d a p essoa sin gu lar n a din âm ica p o lítica d a lu ta con tra a AIDS. Em su a carta d e p ri n c

í-AIDS, ATIVISMO E REGULAÇÃO D E ENSAIO S CLÍNICO S 8 6 5

p i o s, exp lic it a os d ireito s d a p esso a vive n d o com HIV e AIDS, den tre eles: a lib erdade d e fa-lar ou n ão sobre su a soropositividade; o d ire i t o à vid a com q ualid ad e, a o trab alho e ao acesso aos cu id ad o s n e ce ssár ios à saú d e, ta is c om o i n f o rm a ç ã o, tratam en to e m ed icam en tos (Si l-va, 1998).

Em seu p r oce sso d e ru p t u ra co m as estru -t u ras an -ter i o re s, o Gru p o Pe l a Vid d a p ro p u n h a qu e as p essoas com HIV e AIDS ab an d on assem a p osição d e vítim as e tivessem u m a p art i c i p a-ção ativa n a defin ia-ção d as p olíticas p úblicas n o Bra sil. Nessa em p reit ad a já co n ta va co m o ap oio de m éd icos e pesq uisadores do Rio de Ja-n e i r o. No fiJa-n a l d e 1991, ocor re u u m a gra Ja-n d e a p roxim a ção e n tre ON G/ AID S, Gru p os Pe l a -Vid d a/ Rio d e Ja n e i ro, Pe l a -Vid d a/ São Pa u lo e ABIA com p esq u isad ores e m éd icos in tere s s a-d os n o a-desen volvim en to a-de p rotocolos a-de va c i-n a s. Assim , segui-n d o Dia s & Pe d rosa (1997:9): “On g u i st a s ,p e s q u i s a d o res e m éd icos esta bele-cem en tão u m a agen da de tra balh o com objeti-vos com u n s”.

Ad i c i o n a l m e n t e, ten d o co m o u m d e seu s o b j e t i vos difu n dir am plam en te in form ações de b a se cien tífic a, o Gru p o Pe l a Vid d a/ São Pa u l o la n ço u , em sete m b ro d e 1990, o p ri m e i ro n ú -m e ro d a revista Cad ern os Pe l a Vi d d a, c om u m e d i t o rial assin ado por He r b e rt Dan iel, in titu la-d o: In f o r m a r- s e , u m a Qu estão de Vi d a( Da n i e l , 1990). Esta revista foi escolhid a p ara se p ro c e-d e r à an álise e-d o e-d iscu r so e-d esta ON G e m re l a-ção ao en saio do In d i n a v i r.

O ensaio clínico, as inst it uições e as normas de regulação brasileira

Co n s i d e rad o o m aior exp erim en to com an tire-t rov i rais q u e já ocor reu em tire-terri tire-t ó r io n acion al (A. L. L. M. Lim a, Com u n icação Pessoal), o Pro-tocolo 028 foi desen volvido em São Paulo en tre a b ril d e 1995 e m arço de 1997. En vo l veu a p ar-ticip ação de cin co im p ortan tes cen tros de p es-q u isa e assistên cia d e referên cia p ú b lica a p a-cien tes com HIV e AIDS: Hosp ital d as Clín ic as d a Un i versid ad e Esta d u al d e São Pau lo (H C/ USP), Escola Pau lista d e Me d icin a (EPM) d a Un i ver sid ad e Fe d e ral d e São Pa u l o / Ho s p i t a l São Paulo (UNIFESP); Hosp ital das Clín icas d a Un i ve rsid ad e Est ad u al d e Ca m p in as (U N I-CAM P), In stituto d e In fecto lo gia Em ílio Rib a s e, p oster i o rm e n t e, o Ce n t ro d e Refe rên c ia e Tratam en to d e AIDS (CRT), sen do estes dois ú l-t im os vin cu lad os à Se c re l-t a r ia d e Esl-t a d o d a Saú de d e São Pa u l o.

(4)

O LIVEIRA, M. A.; SANTO S, E. M. & MELLO , J. M . C. 8 6 6

Cad . Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 17(4):863- 875, jul-ag o , 2001

b raços com os d iferen tes regim es tera p ê u t i c o s d e s c r ito s n o títu lo d o p ro j e t o. Segu n d o a d es-c r ição d o Protoes-colo 028, os su jeitos d a p esq uisa foram selecion ados de acordo com os seg u i n -tes cri t é rios de in clusão: ad u ltos m aiores de 18 a n os; soro p o s i t i vos p a ra o HIV-1; co n ta ge m m éd ia d e lin fóc itos T CD4 en t re 50-250ce l/ m m3; se m evid ên c ia s c lín ica s e / o u lab ora t o-riais d e ou tras d oe n ça s in fec c iosa s ou m alig-n a s. Os p rialig-n cip ais cri t é rios d e exclusão fora m : g ra v i d ez, aleitam en to, u tilização p révia de an -t i re -t rov i ra i s, b em com o o u so corren -te de - tera-p ia tera-p ara com b a te a in fecções otera-p or tun ista s ou m a l i g n a s. O e n d p oin t e ra c lín ico,o u seja, o e ven to d efin id or d e m u d an ça d e regim e ter a-p êu tico era a m an ifestação clín ica d a AIDS, de-fin ida p ela p resen ça n o vo l u n t á rio de tu m or ou d oen ç a o p o rtu n ista lab ora t o r ialm en t e co m -p rovada . Vale ressaltar qu e a técn ica d o d u -p lo cego era ap lic ad a ta n to p ar a a aloca ção d o gim e tera p ê u t i c o, q u an to p ara o acesso aos re-su lt ad os d os exam es m a rc a d o re s d e in fecç ã o co m o con tagem d e CD4 e m ed id a d a ca rga vi-ral, o q u e sign ificava q u e n em os clín icos n em seu s p acien tes disp u n ham d estas in form a ç õ e s. O m on itoram en to exter n o do exp erim en to era feito p or u m com itê in dep en den te d e esp ecia-list as d en om in a d o Data Sa fety Com m it tee Bo a rd(DSCB), o q u al fora con tratad o p elo p a-t roc in ad or com o o b je a-tivo d e p roced er à re v são d as co n d u ta s m éd ica s e d o s asp e ct os ét i-c os d a p e sq u isa. So m e n te este i-c om itê t in h a acesso a tod as as in form ações coletad as.

O est u d o foi p at ro cin ad o p elo lab or a t ó ri o Me rc k, Sh arp & D oh m e (MSD ), q u e u tiliza ri a seu s re su ltad os p a ra o re g i s t ro d o In d i n a v i r, e n tão em a n d am e n to, n a agên c ia re g u l a t ó ri a

Food an d Dru g Ad m i n i s t ra t i o n(FDA), re s p o n -s á vel p elo re g i -s t ro e vigilân cia -san itária d e m e-d icam en to s n os Esta e-d o s Un i e-d o s. De n t re o s p r in cip a is m otivos ale ga d o s p elo lab ora t ó ri o p a ra a escolha do Brasil, estavam a cap acid ade in stalad a em term os de cen tros d e p esqu isa de e l e vad o p adr ão técn ico e a gran d e q u an tidad e d e p acien tes virgen s de tra t a m e n t o, que é con -s i d e rad a a p o p u laç ão id eal p a ra te-st e-s d e n o-vos an tire t rov i rais (A. L. L. M. Lim a, Co m u n i c a-ção Pessoal).

A MSD é u m a su b sid iá ria d a em p resa n or-t e - a m e r ic an a Me rck & Co. In c., q u e op er a n o Brasil d esd e 1940 e teve um fa tu ra m en to esti-m ad o eesti-m 230 esti-m ilh ões d e d ólares n o a n o d e 1996. No in ício d e 1988 fez u m a join t ve n t u re

c om o lab ora t ó r io n a cion a l Ac hé fo r m a n d o a Prodom e Qu ím ica & Fa r m acêutica Ltda. (PRO-DOME), qu e com ercializa a m aioria dos p ro d u-t os d a MSD e u-teve u m fau-tu ram en u-to esu-tim a d o p a ra o an o d e 1996 d e 130 m ilh ões d e d ó lare s

( Ga ze ta Me rc an t il, 1997). Esse valo r d eve te r c rescid o n os a n os segu in te s, p ois, d e a co rd o co m a p ro g r am a ção d e m e d ic am en t os p ar a AIDS d o MS, fora m gastos R$88.163.064,00 n a aqu isição d e In din avir p ara aten der à m eta es-tabelecid a de garan tir assistên cia farm a c ê u t i c a a 85.000 ad u lt os, 3.200 cr ia n ças e 10.200 ges-ta n tes c om HIV/ AIDS d u ra n te o a n o d e 1998 (MS, 1998b).

In t e rn a c i o n a l m e n t e, o p rocesso d e d esen -volvim en to de um m edicam en to obedece a u m con ju n to de p rocedim en tos p adron izad os p ela FDA (Kwed er et al., 1995). Ap ós a sín tese e p u -r ificação d e u m a n ova su b stân cia c an d id ata a m e d i c a m e n t o, são realizad os os testes p ré-clí-n i c o s, que eré-clí-n vo l vem técré-clí-n icas labora t o riais e de e x p e rim en taçã o em an im ais. A etap a segu in te c o m p reen de os testes clín icos, ou seja, exp er i-m en tos ei-m seres h u i-m an os, os q uais só p odei-m ser re alizad os m ed ia n te auto r izaç ão d a agên -cia re g u l a t ó r ia n a cion a l. Os en sa io s clín ic os são realizados em qu atro fases. A fase I, objeti-va aobjeti-va l i a r, em u m p e q u en o gru p o in d ivíd u os sad ios (50 a 100), aspectos re l a t i vos à farm a c ocin ética, to lerâ n cia e segu ran ç a d o m e d ica -m e n t o. A fa se II é rea lizad a e-m d o is o u -m ais g ru p o s d e 100 a 200 p esso as p o r t a d o ra s d a do en ça q u e se p reten d e com b ater. Seu ob jeti-vo é ob ter evid ên cia com p ara t i va d a eficá cia e s e g u ran ça d o m edicam en to em grup os con tro-l a d o s. A fase III con siste em u m en saio ctro-lín ico c o n t ro l a d o, cu jo o b jetivo é forn ec er in for m a-çõ es sob r e a eficá cia e o s efe it os c ola te ra is e a d ve rso s d o m ed ic am en to em u m n ú m ero m aior de p acien tes (de 1.000 a 3.000). Ap ós a li-cen ç a p ara com ercialização do m ed icam en to, ain d a é n ecessário a realização d os estudos de fase IV ou farm a c ovigilân cia, n os q uais são co-letadas e avaliad as in form ações sobre o u so do m ed icam en to n a p op ulação em gera l .

Até 1996, a regu lação d e en saios clín icos n o Brasil se lim itava a u m p rocesso b u ro c r á t i c o efetuado p ela Se c re t a ria Nacion al de Vi g i l â n c i a Sa n i t á ria – órgão d o MS re s p o n s á vel p elas atvidades d e regulação d a p ro d u ç ã o, com erc i a l i-zação e con sum o de m ed icam en tos n o Brasil –, q u e, a p ó s o b servâ n c ia d as n or m as d efin id a s pela Resolução no01/ 88 do Con selho Na c i o n a l de Saú d e (CNS, 1995), con cedia a licen ça p ara rea lizaç ão d os m esm os. Nessa re s o l u ç ã o, p es-quisas em seres h um an os estavam con dicion a-d as à avaliação a-d e u m com itê a-d e ética a-d a in sti-tu ição sed e d o essti-tudo.

(5)

-AIDS, ATIVISMO E REGULAÇÃO D E ENSAIO S C LÍNICO S 8 6 7

Cad . Saúde Púb lic a, Rio d e Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

c essid ad es d o p aís. Deste t rab a lh o r esu lto u a Resolução no196/ 96 do CNS, ap rovad a e p u bli-cad a em ou tub ro d e 1996, q u e criou a Co m i s-sã o Nac io n a l d e Ética e m Pesq u isa (CO N E P ) , com a fu n ção d e im p lem en tar as n or m as e d i-re t ri zes i-re g u l a m e n t a d o ras d e p esq u isas en vo l-ven do seres h u m an os (CNS/ CO N E P, 1998b ).

Esta resolu ção estab eleceu exigên cias ad i-cion a is p ara an álise d e eticida de dos p ro j e t o s, d e n t re ela s, a ob r i g a t o r ied ad e d a c ria ç ão d os com itês de ética em p esq u isa. Os n ovos c om i-t ê s, d iferen i-te s d os an i-te r i o re s, co m p o si-t os e x-c l u s i vam en te p or m éd ix-cos, d eve riam ser x-con stituíd os p or re p re sen ta n tes d e o u tras ca tego -rias p rofissio n a is tan to d a saúd e co m o d e o u-t ras áre a s, além de um re p resen u-tan u-te dos u suá-ri o s. Em resolu ção p ostesuá-ri o r, no240, o CNS de-fin e usu ário com o: “p e ssoas cap azes d e ex p re s-sar p on tos d e vist a e in teresses d e in d ivíd u os e/ou gru pos d e su jeitos de p esqu isa d e u m a de-term in ad a in stitu ição, e qu e sejam re p re s e n t a t i-vos d e in t eresses colet ii-vos e p ú b licos d ive r s o s”

( C N S / CO N E P, 1998a:11). Em agosto d e 1997 a resolu ção no251 é ap rova da, re g u l a m e n t a n d o a an álise ética d e p esq u isas com n ovos fár m a-c o s, m edia-cam en tos, vaa-cin as e testes d iagn ósti-cos (CNS/ CO N E P, 1998c).

O re f e rencial teórico: a sociologia da t radução

Ca llo n & La tou r (1991) d en om in am d e op era ções d e tr aduç ão o p rocesso qu e p erm ite a in -terligação d os elem en tos h eterogên eos m ob ili-zad os n o p ro c esso d e p r od uç ã o d o co n h e cim en to cien tífico, os quais podecim ser n ão cim en -s u r á ve i-s o u n ã o e q u iva len t e-s e m te r m o -s d e un idades d e m ed ida. Pelas op erações d e tra d u-ção é q u e sã o esta b ele cid as as e q uiva l ê n c i a s, com o p or exem p lo, p ara as relações en tre o so-cial e técn ico, o técn ico e o ju rídico e o jurídico e o ético.

Segun do Callon (1986), o processo de trad u-ção en globa quatro op erações p rin cip ais: a p ro-b l e m a t i z a ç ã o, a p ersuasão ou l ’ i n t e re s s e m e n t, o e n redam en to e a m ob ilização de aliad os.

Pa ra esse autor, a p rob lem atização p ar te d e um a form ulação sim p les, qu e in clu i elem en tos do m un do n atural e social, defin in d o d esta for-m a ufor-m siste for-m a de alian ças e associações en tre e n t i d a d e s, c u jos in t ere sses e id en t id a d es são c o n s t ru íd os n o p róp rio p ro c e s s o. In d ic a, p or -t a n -t o, m ovim en -to s e d esvio s, q u e d e ve m ser p ro d uz id os e ac eitos, a lém d as a lian ç as q u e d e vem ser estabelecid as.

A p ersu asão se re f e re ao con ju n to de ações p o r in te rm éd io d as q ua is u m a en tid ad e ten ta

im por e estab ilizar a id en tidade d os ou tros ato-re s, d efin ida n a op eração d e p ro b l e m a t i z a ç ã o. Per su ad ir o u t ro s at ore s sign ific a co n st ru ir as e s t ratégias e os m ecan ism os qu e p ossam in ter-m ed iar as relações en tre eles e tod as as deter-m ais en t id a d es q u e q u e ira m d efin ir su as id en tid ad es ad e outra m an eira. Arvech (1987), an alisan -d o o s p ro cesso s -d e alo ca ção -d e recu r sos p ar a Ciên cia & Tecn ologia n os Estad os Un i d o s, d efi-n iu estratégias co m o com b iefi-n ações d e a firm a-ç õe s fa ctu ais, p re d i a-ç õ e s, p r e s c ria-çõ es e p re f erên cias destin ad as a p ersuad ir os re p re s e n t a n -te s d o p od e r d ecisó rio a agir d e u m a ou o utr a f o r m a. Os m ecan ism os d e persuasão criam u m b a la n ço d e p od er favo r á vel ao p ro p on en te d a o p e r açã o d e m od o a in terro m p e r tod a s as a s-sociações p oten cialm en te com p etitiva s.

A op eração de en red am en to d esign a os m ecan ism os p elos qu a is são defin id os p ap éis in -t e r- re l a c i o n a d o s, q u e são a-t rib u íd os a a-t ore s qu e os aceitam . Im p lica u m con jun to d e n ego-c ia ç ões m u ltilat era i s, jo gos d e p o d er e art i f í-c i o s, que aí-com p an h am os m eí-can ism os de p er-su asão viab ilizan d o seu er-su cesso.

A m ob ilizaç ão d e aliad o s, d escre ve Ca l l o n (1986), se re f e re à re p resen tatividad e d e q u em fala em n om e de q u em . Esta op eração iden tifca p ort a - vozes e, com o a p rópr ia p alavra m ob i-liza ção in d ica, torn a m óveis id en tid ad es, p os-sib ilita n d o o alin h am en to d e e n tid ad es c o m i n t e resses dive r s o s.

Nessa p ersp ectiva, o exam e d e p esq uisas de a valiação d e m edicam en tos em p aíses p eri f é ri-cos deve con siderar as esp ecificidad es d as op e-rações de tradução en tre en tidad es d ifere n c i a-d a s. Nestes p rocessos estão em jogo in tere s s e s d os ativistas, qu e in clu em seus direitos esp ecí-fic os e d ir eit os h u m an os, alé m d aq u ele s q u e d i zem resp eito aos in teresses d os p esq u isado-res e d o m ercado (Lu ri e, 1997).

A dinâmica da conformação de re d e s sócio-t écnicas no processo de

nascimento e morte do Protocolo 028

Primeiras traduções:

q u e remos mais ensaios e re m é d i o s

(6)

a-O LIVEIRA, M. A.; SANTa-O S, E. M. & MELLa-O , J. M. C . 8 6 8

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

cien tes ao lon go de três an os (A. L. L. M. Lim a, Com u n icação Pe s s o a l ) .

O p rotocolo já estava p ro n t o, m as as con d i-ções exigidas p ara a pesq uisa em term os legais e d e in fra - e s t ru t u ra física, m aterial e d e pessoal t re i n a d o, d e m an d ava m m u ito tra b a l h o, q u e con su m iu cerca de seis m eses. Assim , além d o en cam in ham en to do p rotocolo p ara an álise nas in st ân c ia s r e g u l a d o ra s, n o ca so as co m issõe s d e ética m édica de todos os cen tros p art i c i p a n t e s, e a licen ça para realização da p esqu isa jun -to a o M S, foram realizad os trein am en -tos com todos os p rofission ais en volvid os n a p esq u isa. E s t ru t u rou se um esquem a de re c ru t a m e n -to dos volun tários, com a fixação de cartazes e m s e rviços de aten dim en to a p ort a d o res d e HIV e AIDS, – esp ecialm en te n os serviços p úblicos de referên cia –, b em com o a p u b licação de m até-rias p agas em jorn ais d e gran d e circu lação n a-cion al (A. L. L. M. Lim a, Com u n icação Pe s s o a l ) . Foi n essa etap a d o en saio qu e os ativistas tive-ram seu p ri m e i ro con tato com a p esq u isa.

O estud o teve in icio em ab ril de 1995, con -t ud o o p ri m e i r o n ú m e ro d a revis-t a Ca d e rn o s Pe l a Vid d a, q u e a b ord a q u e stões a ele re l a c i o-n a d a s, só fo i ed itad o em sete m b ro d aq u ele a n o. O títu lo d a m atéria MK639 n o Bra s i l, d ava um to m de n eu tra lid a d e p o lítica e cien tífic a à q u e s t ã o. Sem assu m ir c la ram en te sua p a rt i c i-p ação n o re c rutam en to d os vo l u n t á r ios i-p ara a p esq uisa, o ar t igo d ivu lga va in form a çõ es téc-n icas so b re a m esm a, fortéc-n ec etéc-n d o o s téc-n om es e e n d e re ço s d os m é d ic o s- p esq uisa d or es e d o s c e n t ros d e p esq uisa en volvidos e, ao fin al, re i-v i n d i c a i-va a am p lia ção d o p roto c olo p ara u m n ú m e ro m a io r d e p a rticip a n te s: “O Pe l a Vi d -d a/SP en viou ca rta à M e rck solicit an -d o acesso exp an d ido d a d ro g a , ou pelo m en os a ex t e n s ã o d o p rot ocolo p ara o u t ras cid ad es” (Ca d e rn o s Pe l a Vidd a, 1995a:20).

Naq u ele m om en to, n ão ap areciam c rítica s n em à existên cia n em à m etod ologia d o exp eri m e n t o. No q u e se re f e re ao desen h o d o estu -d o, n ão se q uestion a va, p or exem p lo, a m on o-t e rap ia ou o e n d poin t c l ín ic o. Do p on to de vis-ta do ativism o, n ão se q uestion ava a n ão- part icip ação dos soro p o s i t i vos ou de seus re p re s e n -tan tes org a n i z a d o s, n a d ecisão d a realização de u m a in t er ven çã o sob re e les, n em a p a rt i c i p a-ção n os com itês locais d e ética ou n o DSCB.

Com relação à form a de re c ru t a m e n t o, a d i-vu lgação do exp erim en to p or m eio d e cart a ze s em serviços de saú de já assin alava aos p ar t i c i-p an tes a i-p ossibilid ad e d e acesso i-p rivilegiado a m ed icam en to s e a ser viç os d ifere n cia d os n o cuidado à saúde. Nesse asp ecto, n ão é surp re e n -d en te q u e, n aq u ele m o m e n t o, n ã o ap are c e s-sem críticas ao en saio, aos pesq uisad ores ou ao

l a b o ra t ó rio p ro d u t o r. Ao co n trá ri o, a p o siç ão e ra d e ap rova ç ã o, já q u e, n a au sên cia d e u m a p o lítica gove r n a m en ta l d e a ssistên c ia far m a -cêu tica aos p ort a d o res d e HIV e AIDS e fre n t e às d ificu ld ad es d o acesso aos an tire t rov i ra i s, a p esq u isa re p re s e n t a va n ão som en te a p ossib i-lid ad e d e ob ten ç ão d os m ed ic am en t os, co m o tam bém a garan tia d e aten ção m éd ica p ara os vo l u n t á rios n os m elh ores serviç os p ú b licos d e saú d e d o Estad o d e São Pa u l o. Por estes m o ti-vo s, o ar tigo dos Ca d e rn os Pe l a Vid da p ro p u n h a a flexib ilização d os cri t é rios de in clusão n o es-t u d o, p er m ies-tin d o a in corp oraçã o d e p acien es-tes co m CD4 in ferio r a 50cel/ m m3. Re i v i n d i c a va , ain d a, a e xten são d o e n sa io p ara ou tra s cid a -des b ra s i l e i ra s.

Pa ra os sor o p o s i t i vo s, a p esq uisa re p re s e n -t a va a p ossib ilid ad e d e u m a so lu çã o con cre -t a p a ra o c om b ate à d o en ç a. O d ep oim en to d e um vo l u n t á rio d a p esq u isa re f e r in d o-se a este p e ríod o d em on stra o c lim a d e esp er an ça vi-ven ciad o p or eles: “Fu i para Cam p in as para e n -t rar n o pro-tocolo d a Me rc k , n a UN ICAM P. C h e-gu ei lá, fiz os exam es e os m édicos con sid era ra m m in h as con tagen s (CD4) boas dem a is p ara en -t rar n o es-tu d o. C h o rei d ias, p o rqu e ach a va q u e a solu ção p ara a AIDS tin h a ch egad o, e eu n ão p odia u sar. Eu p ergu n tava : – vocês vão esperar o qu ê? Es p e rar eu m orrer? Eu ficar m al?” (Ca d e r -n os Pe l a Vidd a, 1998:27).

Naqu ela ocasião, a m íd ia alard e a va o uso d e a n t i re t rov i rais c om o estratégia tera p êu tica d e c u ra, con tra p o n d o - s e, in clusive, à p osição p ru-den te dos p esq uisadore s, q ue aceitavam a p ossib ilid a d e d o co n t ro le e n ão d a cu ra d a in fec -ção (Folh a d e São Pa u l o, 1995a, 1995b, 1995c). Este asp ecto foi ab ord a d o p elo artigo in ti-tu lad o Pel aVi dd a se reú n e com a Me rc k, p u b li-cado em ou tub ro de 95, n o q ual foram exp lici-tad as p ara o labora t ó rio patrocin ad or algum as reivin d icações d os ativistas (Ca d e rn os Pe l a Vi d -da, 1995b ). Defen d en do um a p osição d e diálo-go com a Me rck, até p orq u e aos ativistas in te-re s s a va lu tar p or um p ro g ram a d e a ce sso exp a n d i d o, a m íd ia foi con den ada exp elo tra t a m e n -to sen sac ion alista q ue vin h a d an d o à q u estão d os in ib id ores d e p ro t e a s e. Ap esa r d a in exis-tên cia d e p rovas d e eficácia terap êu tica desses re m é d i o s, a im p ren sa acen ava com a p ossibili-dade d e cura, geran do um clim a de in stabilida-d e e stabilida-d e falsa s exp ec tativas p ara os p ort a stabilida-d o re s de HIV/ AIDS e seu s fam iliare s.

(7)

-AIDS, ATIVISMO E REGULAÇÃO D E ENSAIO S CLÍNICO S 8 6 9

Cad . Saúde Pública, Rio d e Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

ça. No m esm o n ú m ero ou t ras q u estõ es étic as f o ram citadas.

Ou t ras q u estõ es qu e o Pe l a Vid d a leva n t o u s o b re o con sen tim en to in form ad o e os dire i t o s d os p acien tes qu e p articip a m d o e stu d o estão sen d o t ratad os d ireta m en te c om os p esq uisa-d o res re s p o n s á veis em cauisa-d a un iuisa-d auisa-de (Ho s p i t a l Em ílio Rib as, HC/ USP, EPM, UNICAMP e CRT) . Desta form a, o en saio aten d ia ao s in te re s-ses d os cien tistas, dos vo l u n t á r ios e d e seu s rep resen tan tes org a n i z a d o s, tan to qu an to d a in -d ú s t ria. Pa ra os pr i m e i ro s, ele sign ificava p re s-tigio e a c h an ce d e en tra r n o circu ito in tern acion a l d e p esq u isas clín icas. Pa ra os vo l u n t á rios e a tivist as, re p re s e n t a va ace sso ao t ra t a -m en to; p ara a in d ú str ia, a p rod u ção d e d ad os n e c e s s á rios ao re g i s t ro n o FDA. Po rt a n t o, p elas o p e rações d e tra d u ç ã o, foram en redados e m o-b iliza d o s a liad o s con figu ra n d o- se um a re d e soc io técn ic a re l a t i va m e n te está vel. Isso n ão i m p l i c a va t ot al co n ve rgê n cia d e in t ere s s e s, um a vez q ue, se p ara os ativistas a am ostra de-ve r ia ser am p lia d a, p ela exten são d a p esq u isa p a ra o utr as cid ad es e flexib ilizaçã o d os c ri t é -r ios de in c lu são, p a -ra o s p esq u isado-re s, a m a-n u t ea-n ç ão d o p laa-n o d e a m o st ra or igia-n a l era o fu n d am en to p ara atin gir os ob jetivos p ro p o s-tos n o p ro t o c o l o.

Desta form a , a red e se con solid a em torn o do alin ham en to de in teresses estab elecid o en -t re a in dú s-tria e o seu m ed icam en -to, os p esq ui-s a d o reui-s e ui-su aui-s in ui-stitu iç õeui-s (o exp e r i m e n t o, o c o n t role da in fecção e o p restígio acad êm ico) e os re p resen tan tes organ izados d os vo l u n t á ri o s (ac esso a m ed icam en to e à cu ra), sen do a m í-dia o pr i m e i ro ator- rede a ser q u estion ad o.

A monot erapia com o Indinavir gera polêmica

No ú ltim o tr i m e s t re d e 1995 com eçam os qu es-tion am e n to s a ce rc a d o d e se n ho d o est u d o. A m ud an ça d e p ostu ra dos ativistas ocorre a p artir d a d ivu lga ção d o s resu lta d os d e d ois e stu -d o s, o AC TG175 (Ham m er et al., 1996) e o De lt a C o o rd in atin g Com m ittee(1996). Am bos ap on -tan do p ara a sup eri o r id ade das associações d e a n t i re t rov i rais sob re o uso d e AZT isolad am en -t e. Ad i c i o n a l m e n -t e, n a Con ferên cia In -t e rn a c i o-n al sob re ao-n tire t rov i ra i s, realizad a em jao-n eiro d e 1996, em Washin gton , DC, Estad os Un i d o s, a m o n ot erap ia c om AZT fo i d e fin itiva m e n t e c o n d e n a d a .

Co n ven cid os d e q u e o b raço d e m on otera-p ia co m AZT era otera-p reju d icial otera-p a ra u m a otera-p a rt e d os vo l u n t á r ios da p esqu isa, os ativistas p re s-s i o n a ram até con s-seguir que o lab ora t ó rio e s-s e u s-s p e s q u i s a d o res re f o rm u lassem o p ro t o c o l o, in

t rod uzin d o u m ou tro an tire t rov i ral, a Lam ivu -d in a (3TC), em -d ois -dos b raços -d a p esquisa. Is-to é, o d esen h o d o estud o p assou a in cluir três g r up o s com p ara t i vo s: (1) AZT e 3TC (p re v i a-m en te só AZT); (2) AZT, In d in avir e 3TC (p re-viam ente AZT e Ind in avir); e (3) o In din avir q u e p e rm an eceu com o b raço m on oteráp ico. En t ã o, sob a ale ga ç ão d e q u e n ã o se d isp u n h a a in d a d e provas cien tíficas da in eficácia do u so do In -d in avir isola-d a m en te, foi m an ti-d o o b raç o -d e m o n o t e rap ia co m o m esm o p or cerca de m a is u m an o.

Dian t e d a in sist ên cia d o lab o ra t ó rio e d e seu s p esq uisad ores em m an ter a m on otera p i a com o In d i n a v i r, os ativistas b uscaram alian ça c om outr os atores qu e fo ram sen d o m ob iliza-d o s. Segu n iliza-d o Lato u r (1987), sem p re q ue ecld e um a con trovérsia cien tífica, o p ri m e i ro m o-vim en t o n a d ire ção d o fo rtalecim en to d os a r-gu m en tos é a bu sca d e aliad os, n o caso ou tro s c i e n t i s t a s, c u ja au t orid a d e é c on ferid a p e lo g rau d e titu lação acadêm ica e pelos artigos q u e p u b licam em revistas cien tíficas. Nestes casos, t an t o a lin gu agem q u a n to a lite ra t u ra se t or-n a m téc or-n ic as. Foi essa ló gica q u e or-n or te ou o c o m p o r t am en to d os a tivistas d ian te d a p o lê-m ica sob re a lê-m a n u ten ção d o b raço d e lê-m on o-t e rapia com o In d i n a v i r.

Na seçã o d e op in ião d o Ca d e r n os Pe l a Vi d -d a , os a tivistas reivin -d ica m o -d ireito -d e q u e o assu n to fosse tratad o e divulgado com tra n s p a-rên cia, ética e re s p o n s a b i l i d a d e, con clam an d o v á rios esp ecia listas a re s p o n d e rem à seguin te p e r gu n ta : “O p rotocolo d e p esqu isa d a Me rc k , Sh arp & Doh m e d eve con tin u ar su b m eten d o pacien tes à m on oterap ia com o in ibid or da pro-t e a s e ?” Ca d e r n os Pe l a Vid da (1996a:22).

Essa q uestão foi d ir igida a m éd icos pesq ui-s a d o reui-s p ar ticip an teui-s d o p ro t o c o l o, a m éd icoui-s p e s q u i s a d o res exter n os à p esq u isa, a m édicos clín icos e às com issões d e ética m édica das in s-titu ições en volvid as n o estu do.

As op in iõe s foram d ive rgen t es: m é d ico s p e s q u i s a d o res vin cu lados à p esqu isa su sten ta-ra m a ar gum en taç ão d e qu e a m an u ten ção d o b raço de m on oterap ia com o In din avir era cor-re ta. Na visã o d estes, n ã o h avia ain d a cert ez a c ie n tífic a so b re a in efic ácia d a m on o tera p i a com o In din avir e n e m recom en d ação d e órg ã o n ac ion al o u in tern acion al p ara a terap ia an ti-re t rov i ral- HIV com bin ad a. Quan to ao im p acto s o b re os vo l u n t á r io s d iziam e les: “as p essoa s qu e p articip am d e qu alq u er en sa io p od em ter ben efícios ou p re j u í zo s”.

(8)

O LIVEIRA, M. A.; SANTO S, E. M. & MELLO , J. M. C . 8 7 0

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

víru s re s i s t e n t e” ou “d e sde a d ivu lgação d os es-tu d os Delta e AC TG175 n in gu ém está au t orizad o a faz er m on oterap ia an tire t rov i ra l ,s o b re t u -d o com AZT”.

Nesse m om en to, o d iscu rso d os ativistas se d eslocou da p roblem atização d a d em an da p or m ed icam en to p ara um con teúd o de q uestion m en to étic o d o d e sen ho d o est u d o. Na ve rd a-d e, a esp e ra n ça a-d e c ur a se a-d ir ige a u m a n ova e s t ratégia terap êu tica d efen did a p or David Ho et al. (1995), cen t rad a n a tese d o “b ater forte e c e d o” n a in fecção. Do p on to d e vista d o con h e-c im en t o e-c ert i f i e-c a d o, já h avia, n essa o e-ca sião, f o rtes evidên cias cien tíficas de q ue o HIV tin h a cap acid a de d e d esen vo l ver resistên cia às d roga s d evido a suas altas taxas d e m u tação, sen -d o, p or isso, coloca-d a em p auta a -d iscu ssão -d a t e rap ia com bin ad a de dois ou m ais an tire t rov irais (Bu r n s & Tem in , 1994; Coffin , 1995; Co n -c o rde Co o rd in atin g Co m m i t t e e, 1994; Ho et al., 1995; Man sky & Tem in , 1995).

Assim , d e u m a p osiçã o favo r á vel à re a l i z a-ção do en saio, os ativistas evo l u í ram p ara um a sit u a çã o d e c on d e n aç ão ra d ica l d a p e sq u isa com o an tiética. Nesse pro c e s s o, vários elem en -t os h e-t erogên eo s o u red es sócio --téc n ic as fo-r am sen d o m ob iliza d os, co m o con sen so s, co-m issõ es d e é tica , p are c e res té cn ico s, ar t i g o s c i e n t í f i c o s, en tid ad es qu e regu lam o exerc í c i o p rofission al, en tre outro s.

O encerrament o da cont rovérsia: a polêmica é ét ica e pública

Em m ar ço d e 1996 o b ser va- se a p r i m e i ra in ic i a t i va ofiicial de icriar n orm as para o uso de an -t i re -t r ov i ra is n o Br asil. O M S, em oficin a q u e reu n iu sessen ta m édicos esp ecialistas, d efin iu o p r i m e i ro co n sen so n acio n al p ara ut ilizaçã o d esses m ed ica m e n tos. Re c o m e n d a va - s e, com b a se n a litera t u ra cien tífica, a terap ia c om b i-n ad a para todos os p aciei-n tes sii-n tom áticos des-d e o in ício des-d o tr at am en to (MS, 1996). Ades-d i c i o-n a l m e o-n t e, io-n iciou-se a d istr ibu ição d os ao-n tire-t rov i ra i s, in clu in d o os in ib id ores d a p ro tire-t e a s e, n a red e d e ser viços p ú b licos de saú d e n o p aís. A in clusão desses m edicam en tos n o elen co d a-qu eles distrib uídos gratu itam en te a p essoas vi-ven do com H IV/ AIDS lhes viabilizou o acesso a regim es terap êu ticos an tes in acessíve i s.

Con solidou -se assim , um a p olítica n acion a l p a ra o tratam en to d a AIDS, cuja b ase cien tífica f o rt ale cia o argu m en to d os at ivist as d e q u e o d ese n h o d a p esq uisa , e n tão em a n d am en t o, e ra in ad e qu ad o. A c on trové rsia er a ess e n c i a lm en te ética, ou seja, a lm on oter ap ia colm o In -d in avir n ão oferecia aos particip an tes a m elh or a l t e rn a t i va d isp on ível, con form e re c o m e n d a d o

p elas n orm as das boas práticas d a p esquisa clí-n ica (W H O, 1995). Co r ro b o ra va- se assim o ju l-gam en to de q u e o en saio era an tiético.

Do p on to de vista d a m obilização d e n ovo s a l i a d o s, o m ovim en to con tra a m an uten ção do b ra ç o d e m on o te ra p ia se for ta lecia , ab ri n d o n ovas fren tes e form as d e atu ação. No n ível d a regulação do exercício p rofission al, foi feita de-n ú de-n cia for m al a o Code-n selh o Regiode-n al de Me d i-cin a d e São Pau lo (CRM- SP), em 26 de abr il de 1996, solicitan do um p osicion am en to deste ór-gão em relação ao “f er im e n to d e preceitos éticos qu e d evem n ortear os exp erim en tos clín icos em s e res hu m an os” (Ca d e rn os Pe l a Vidd a, 1996b:9). De acord o com artigo in titulado Den u n c i am o s a M e rck n o CRM, os a tivist as d e n u n c ia m os m édicos p esq uisadores ten do com o base o Có-d igo Có-d e Étic a MéCó-d ica (CFM, 2000:230), Ca p. V, a rt .57: “É ved a d o ao m éd ico d eixa r d e u tiliz ar tod os os m eios dispon íveis d e diagn óstico e tra -tam en to a seu alcan ce em favor d o pacien te”.

Si m u l t a n e a m e n t e, fo i so lic it ad a a re v i s ã o d os p are c e res d as com issões d e étic a em p es-q u isa d e c a d a u m d os ce n tros en volvid o s n a p esqu isa. Segu n do o artigo an a lisado, três d e-las re s p o n d e ram , d a s q u ais d u a s, d a ta d a s d e 07/ 03 e 26/ 04/ 96, apre s e n t a vam p are c e re s, cu jos textos eram “absolutam en te idên ticos”. Am -b os -b aseavam su a ar gu m e n ta ção n o fa to d e q u e n ão e xistia “rec om en d a ç ão ofic ia l p a ra o uso de terapia com b in ada: n en h um órgão c i e n -tífic o n acion a l ou in tern ac io n al e st ab e lec eu oficia lm en te u m p ad rã o d e tra tam en to c om m ed ica m en tos com b in ad os. . .” (Mo ti, 1996:2). As d uas com issões corro b o ra ram a op in ião dos p e s q u i s a d o res da Me rc k .

A ter c e i ra c om issã o d e ética, assu m in d o um a p ostu ra d e n ão dialogar diretam en te com os ativistas, respon d eu que o tem a vin h a sen d o d iscu tid o e “n o ssa s resp ost as serão forn ecid a s ao CRM” (Ca d e rn os Pe l a Vidda, 1996b :10). A l é m d i s s o, a im p ren sa r e g i s t rou a p o siçã o d e p es-q u i s a d o res d a UNIFESP e d a USP. Os p ri m e i ro s d i s s e ra m : “n ão d efen d em os ou com bat em os m o n o t e rapia ou terap ia com bin ad a com este ou o u t ro com p ost o. Ap en as d efen d em os estu d os qu e sejam d esen volvid os den tro d e est ritos p a-r â m e t a-ros éticos em in stitu ições a-recon h ecid as de en sin o/pesqu isa sem p re j u í zo d e q u alqu er tipo, aos pacien tes p art i c i p a n t e s” (Folh a d e São Pa u -l o, 1997:2). Ain d a d e aco rd o co m o ar t i g o, u m p e sq u isad or en volvid o n o estu d o co n t esto u , e x p l i c i t a m e n t e, p e la im p ren sa , d izen d o n ão adm itir “p a t ru lham en to cien tífico”.

(9)

AIDS, ATIVISMO E REGULAÇÃO DE ENSAIO S C LÍNICO S 8 7 1

Cad . Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

p o r isso, d eve r ia se r in ter rom p id a . No a rt i g o

Pe sq u isa An t i é t i c a( C AC, 1996d :22) os ativistas a f i r m a m : “Com gran d e re p e rcu ssão n a m íd ia, as ON G/AIDS d e São Pau lo den u n ciaram pu bli-cam en te o protocolo d e pesqu isa d o in ibidor d a p rotease In d i n a v i r, d o laborat ório Me rc k , Sh a r p & Dh o m e”. Vale re ssalt ar ta m b ém q u e, n essa o c a s i ã o, foi cr iad o em São Paulo o CAC (Co m i-tê d e Ac om p an h am en to Co m u n i t á r io d e Pe squ isas em HIV/ AIDS), squ e c on tava com a p ar -ticip ação dos Gru p os Pe l a Vidd a, GIV (Gru p o d e In c e n t i vo à Vid a) e GAPA / S P. Est e co m itê elab o ro u u m a car ta (CAC, 1996) d irigid a à p op u laç ão em ge ral e a d iferen tes fóru n s d e re p re -sen tação da sociedade.

O texto da carta com eça re a f i rm an do a cre-dibilid ad e da ciên cia, en quan to in stituição qu e d et ém au to rid a d e p ara “a valia r a eficácia d e u m m edicam en to e seu valor p rático para o p a-c i e n t e”. Em seguid a, revê a p osição sobre os vo-l u n t á ri o s, qu e são agora: “Pe ssoas sed u z idas pe-la p rop a ga n d a d e rem éd io in ova d or e p epe-las con d ições d e trata m en to difere n c i a d o. . .”. Ap ó s b re ve h istó ric o sob re o d esen volvim e n to d o en saio d o In d in avir n o Bra sil, elab o ram su as críticas ao estu do, con sideran do quatro aspec-t o s, em in en aspec-t em e n aspec-te é aspec-tico s: “f o rn ecem tra t a-m en to pior qu e o d a red e pú blica”; “i n s i stem n a m o n o t e rapia com o In d i n a v i r”; “n egam aos vo-lu n tários in form ações sobre su a saú de”; “a ss i s

tem a p iora d o p acien te sem t om ar p rov i d ê n -c i a s”. O texto term in a com um a clara con vo c a-ção ao c on t role soc ial: “c o n c l am am os as Co-m issões de Ética dos ren oCo-m a dos cen tros de pes-qu isa en vo l v i d o s ,C R M - S P, C N S ,C O N E P, Pro g ra-m a s Na cion al e Est a du al d e DST/AIDS e tod os os in t eressad os n a p rá t ica d a ética em ex p e r i-m en tos coi-m seres h u i-m an os q u e a p u rei-m esta s g ra ves d en ú n cias e torn em pú blicas su as p osi-ç õ e s . São cen ten a s d e vid a em jogo!!!” (CAC , 1 9 9 6 : 2 2 - 2 3 ) .

A r ed e se exp an d e in c lu in d o n u m ero s o s a t o res e a q u estão d a ética, q u e ao u ltra p a s s a r os lim ites da ética p rofission al e p ro b l e m a t i z a r a ética em p esqu isa com seres hu m an os, m obi-liza n ovos aliad os. O p arecer solicitado à re c é m c riad a CO N E P, teve resp osta em 7/ 12/ 96 re c o-m e n d a n d o a su sp en sã o d o en sa io p or violar p r in cíp io s ético s. A CONEP n ão só a ca to u as d en ú n cia s con tr a o Protocolo 028, c om o c on -clu iu p arecer qu estion an d o a m on oterap ia e o n ão for n ecim e n to d e exam es q u e er am feitos n os p acien tes.

Com u m artigo in titu lad o Pe sq u isa Po l ê m i-ca d a M e rck Ch ega ao Fi m ( Ca d e r n os Pe l a Vi d -d a , 1997a:23) os a tivista s fa zem u m a re f l e x ã o s o b re a fragilid ade d o sistem a de regu lação da ética em p esq u isa n o Brasil. Du ran te o p ro c e

s-so d e q u estio n am en to d o d ese n h o d o en saio, q u an d o re c o r re ram à s d iversas in stân cias ofi-c iais d e d eofi-c isão ofi-co m o as ofi-co m issõe s d e étiofi-c a d o s ce n tro s, o Pro g ram a Na c io n al d e D ST e AIDS, o CRM-SP, esb a rra ram n o c or p ora t i v i s-m o ou n a “len tidão d e u s-m a legislação arc a i c a”. Assim , a ú n ica alt er n a t i va foi a p ressão in for m al exercida sobre os m édicos d os cen tros en -vo lvid os n a p esqu isa, m ed ian te d os d eb ate s p ú b l i c o s, e n trevist as e art igos p u b lic ad os n a m ídia n acion al e in tern a c i o n a l .

O f i c i a l m e n t e, qu em d ecretou o fim do pro-tocolo foi o Data Safety Mon otorin g Bo a rd ( Ca-d e rn os Pe l a ViCa-dCa-d a, 1997a). En t re t a n t o, essa Ca-d e-cisão só foi tom ad a d uas sem an as ap ós o p are-cer da CO N E P.

D i s c u s s ã o

Os en saios clín ic os co n trola d os e ra n d o m i z a-d os são con sia-d era a-d o s, tan to p ela com u n ia-d aa-d e c ien t ífica q u a n t o p e las agên c ia s re g u l a d o ra s, c om o o p ad rã o ou r o p a ra testar a e fic á cia e a s e g u r an ça d o u so d e m e d ic a m e n tos, p o rq u e “p rod u z evid ên cia s m a is diret as e in eq u ívo c a s n o sen tid o d e esclarecer u m a relaçã o d e ca u sa-efeit o en tre dois eve n t o s” (Pe re i ra, 1995:290). Neste tip o d e exp eri m e n t o, os su jeitos da p es-q u isa são alocad os, d e m an e ir a a lea tó ria , e m g ru p os d en om in ados de braços experim en tal e d e con tro l e, p ara em segu id a, serem exp ostos a u m a d a d a-in ter ve n ç ã o. Co m o os p a râm etro s p a ra o con trole do exp erim en to são d efin idos a p r i o r i, a qu alidad e dos d ados p rodu zid os sob re a in terven ção e seu s efeitos costum a ser de ex-celen te n ível, do qu e resulta su a “a lta cre d i b i l i-d ai-de com o proi-d u tor i-d e evii-d ên cias cien tíficas” ( Pe re i ra, 1995:291).

(10)

O LIVEIRA, M . A.; SANTO S, E. M. & MELLO , J. M. C. 8 7 2

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

Nesse asp ecto, diferen te dos an im ais de ex-p e ri m e n t a ç ã o, q u e ex-p odem ser com ex-p letam en te su b ju gad os à s n o rm as d o e st u d o, o s su jeito s d a s p esq u isa s clín icas têm d esejos, exp ectati-vas e in teresses em relaç ão ao en saio, qu e p o-d em ser exp ressos coletiva m e n t e, p or seu s rep resen tan tes org a n i z a d o s, ou , in d ivid ualm en -t e, p ela n ão ad e rên cia a o esq u em a p ro p o s -t o. Isto im p lic a q u e a ga ra n tia d a q u a lid ad e d o s d ad o s p ro d u zid o s esteja co n d ic ion ad a a u m p rocesso d e n egociação en tre os pesqu isad ore s, n ã o som en te co m o s p at ro c i n a d o re s d a p e s-q u isa, co m o é o m ais u su al, m as, so b re t u d o, c om o s su jeit os d a p e sq u isa e/ o u seu s re p re-sen tan tes organ izados (Epstein , 1995).

Ep stein (1997:692) d iscu tin d o a q u estão d a ad erên cia ao p ro t o c o l o, afirm ou : “s u bjects p ar-ticipate or don’t parar-ticipate,an d com ply w ith th e stu d y protocols or n ot, dep en d in g on th eir p er-cep tion s of w h at w ork s an d w h at d oesn’t , h ow desperate th eir ow n h ealth situ ation m ay be,an d w h at op tion s m ay be op en to th em or closed”.

No q u e se re f e re à q u e st ão d o s in te re s s e s c o m e r ciais d a in d ú str ia fa rm acêu tica , Ab ra-h am (1995) cita a d eclara ção d e u m p esqu isa-d or isa-d a Gl a xo, q u e, em e n co n tr o cien tífico isa-d e m é d i c o s, disse n ão ter n en h um a dú vid a d e qu e a p rin c ip a l ta refa d a p esq u isa e d e sen vo l v im en to d e uim a organ ização era bu scar, en con -t ra r e d ese n vo l ver n ovos m e d ic am en -t os q u e fossem cap a zes d e p ro p o rcion a r lu cros su b s-tan ciais às su as em p re s a s. Vale ressaltar ain d a, q u e fre q ü e n t e m e n t e, o s co n tr atos e fet u ad os e n t re in stitu iç ões d e p esq uisa e a s re f e ri d a s e m p resas c on têm c láu su las d e c on fid en cia lid a lid e, as q uais p olid em ser usalidas com o in stru -m en to de p ressão con tra os p esq u isad ore s, e-m caso de divu lgação d e resultad os qu e c om p ro-m etaro-m a ro-m ercad ização do ro-m edicaro-m en to testa-d o (Sp u rgeon , 1998).

Po d e - s e, p ort a n t o, con statar q u e n estes es-t u d o s, es-tan es-to os p aes-tro c i n a d o re s, qu e são os p ró-p rios lab ora t ó rios ró-p ro d u t o res do m edicam en to sob teste, q uan to os vo l u n t á ri o s, cu ja vida está em jogo, ap ost am alto p od en d o ob ter ao fin al g ra n d es lu cr os ou a c um u la r p e rd a s. Ne s t a p e r s p e c t i va, con cordam os com Ep stein (1997: 691) q u a n d o afirm a q u e os testes p a ra ava l i a-ção d e eficácia terap êu tica “a re cru cial sites for th e n egotiation of cre d i b i l i t y, risk an d tru st”.

Por esse m otivo, torn a-se fun dam en tal d is-c u t ir q u e re g i s t ros d isis-cu rsivos assin a la m a c o n s t r ução d essa cred ibilidad e e con fian ça n o caso em estud o. No Protocolo 028 id en tificam -se três n úcleos discu rsivos p or m eio d os q uais as op eraç õe s d e tr ad uç ã o se re aliza m : a exis-tên cia d o en saio; a p olêm ica en tre m on o e te-rap ia associada e a ética.

No p ri m e i ro m om en to, ativistas, p esq u isa-d o res e in isa-dú str ia con sen sualm en te p ro m ove m e d efen dem a realização d o p ro t o c o l o. A operaçã o d e t rad u ç ão tr a n s f o rm a ac esso a m ed ica -m e n t o s, p restígio cien tífico e d ad os p ara re g i s-t ro d o In d in avir em eq u ivalen s-te s e viab iliza o e n s a i o. Nu m segu n d o m om en to, com a en tra da d e n ovos atore s, n ovos discu rsos são p ro d u -zid os alteran do o eq uilíb rio p rov i s ó rio d a re d e sociotécn ica. Em e rge a con trovérsia cien tífica, qu e se d á, p ri n c i p a l m e n t e, em torn o d a m on ot e rap ia com an otire ot rov i ra i s. O oterc e i ro m om en -to é m arcad o p ela con trovérsia em qu e a q ues-tão ética, in ic ialm en te ap reen d id a n os lim ites d o cód igo p rofission al, é exp an d id a p ara a re-gu laç ão d a s p e sq u isas em su je ito s h um an o s, co n st it u in d o-se n o p rin cip al ar gu m e n t o d os a t i v i s t a s, q u e, n esse m om en t o, p assa m a re i-vin dicar a susp en são do en saio.

As p ráticas discursivas re f e ren tes à AIDS n o ca m p o d a b io m ed ic in a se in scre ve m em p elo m en os qu atro d iscip lin as: a virologia, a im un o-logia, a clín ica e a ep idem iologia. De cada um a d estas d iscip lin a s em e rgem d escr iç ões técn i-c a s, a valiaçõ es d e a fastam en t o em rela ção a p adrões de n orm alidad e e qualidad e. Um com -p o n en te c om um a e sses d isc u rsos se re f e re à n oção d e tem p o e con tro l e. Tem p o d e in cu ba ção e rep licação viral, de estagiam en to da d o e n ça, de evolu ção dos n íveis de com p ro m e t i m e n -to co rp o ra l e d e so b revid a. Tem p o n e cessá r i o ao desen volvim en to d e n ovas d ro g a s, a p ro d u -ção do con hecim en to, aos p rocessos d e p eer re-v i ew.Tem p os n ecessários à tra n s f o rm ação d etes con h ecim en tos em tecn ologias, d as re s p o s-tas gove rn am en tais e d a m íd ia.

É, exatam en te, em relação à con strução d e ssa s tem p o ralid a d es q u e se esta b ele ce m c on -f ron tos e n egociações en tre as -form a ções d is-c u r s i vas d a b iom ediis-cin a e dos gru p os ativistas. Co m b a se n essa s tem p o ra lid a d es p r i m a ri a -m e n te c on flit an t es – a c ie n t ífic a é p re d o -m i-n ai-n tem ei-n te diacrôi-n ica, ei-n qu ai-n to a d os ativis-tas é sin crôn ica em ter m os de in te n sidade e vi-vên cia d os sujeitos con cretos – é q ue se estr ut u ram in uter p en e utra ções d e d isc ur sos e d e p o -d e res (Ern i, 1994).

(11)

-AIDS, ATIVISMO E REGULAÇÃO DE ENSAIO S C LÍNICO S 8 7 3

Cad . Saúd e Públic a, Rio d e Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

t í f i c o, o q u e p ara ele s é u m tem p o o b jet ivo e real. De ou tro, os ativistas e os su jeitos d a p esq u isa p a ra esq u em o te m p o u r g e, p oresq u e é em -b e-b id o n a exp ec ta tiva d e vive r e d e m orre r, tem p o este, su bjetivo p ara os cien tistas. Na m ed ied a ed e st e con flito, a n ec essied aed e ed o ju lga -m en to ético p assa a ser cr u c i a l .

Jasan off (1998), an alisan d o p rocessos de tom ada d e d ecisão etom qu estões re l a t i vas à re g u la ção de b ase c ien tífica, id en tifica três in stân -c i a s, q u e ela d en om in a de Foru m De s i g n, Pro

-cess De s i g n e Ju d icial Re v i ew, c u ja d in âm ica p o d e fac ilit ar a n e gocia çã o e o alin h am en to d os in ter esses d o s d iversos a tores en vo l v i d o s n esses em b ates. A p r i m e i ra re f e re- se à escolh a in stitu cion al d e um fóru m m ultip art i t e, qu e se-ja c ap a z d e n egoc ia r, a o m e sm o te m p o, d ife-ren ças sobre “f a t o s” e va l o re s. A segun da in cor-p o ra u m com itê co n su ltivo (a dv is o ry com ittee p ro c e e d i n g s) for m ad o p or e sp ecia listas, c uja fu n ção é cr iar a op ortu n id ad e p ara qu e, tan to a agên cia re g u l a d o ra qu an to os outros atores in -t e re s s a d o s, -ten h am u m m elhor con hecim e n -to d as d ife ren t es op çõ es m e tod oló gica s e in t er-p re t a t i vas er-p ara cad a qu estão em jogo. O terc e i-ro, o fóru m ju dicial, é a in stân cia de ve ri f i c a ç ã o

e certificação d e q u e as in ferên cias assu m id as p ela agên cia re g u l a d o ra têm o resp ald o dos es-p ecia listas e se situ am d en tro d e u m eses-p ectr o d e escolh as cien tificam en te aceitável. Vale re s-saltar q u e a au tora focaliza su a an álise n as es-t raes-tégias d e resolu ção d e con es-trovérsias cien es- tífic a s, u su alm en te ori g i n á rias en tre grup os tíficien -tífic os h iera rq u ica m en te se m elh an tes n o q u e se re f e re às relações de p oder.

No d esen volvim en t o d a p esq u isa d e São Pau lo ob servase q ue, n o con fron to en tre os in -t e resses d os a-tivis-tas e d os d em ais a-tore s, p ar-t i c u l a rm e n ar-t e, dos m édicos p esqu isad ore s e d a Me rck, a n atureza d a con trovérsia n ão se lim ita a d ive rgên cias técn ico-cien tíficas, m as se in se-re n a esfera d o con trole de in tese-resses e n ecessi-d aecessi-d e s exp lic it aecessi-d as p elo s gr u p o s en vo l v i ecessi-d o s, g ru p os que ocu p am lugares desiguais n a estru-t u ra de p oder n a sociedad e.

Assim , en ten d e-se qu e além d os três esp a-ç os d e resolu a-ção já d e sc ritos p ela au to ra , n o e n sa io d e São Pa u l o, o en c erram en to d a c on t rovérsia ocorreu n o esp aço d e u m a aren a p ú -b lica m ultip art i t e, con stitu in do-se n u m a q uar-ta in stân cia de n egociação, o fóru m da ética.

R e f e r ê n c i a s

ABRAHAM, J., 1995. S c i e n c e , Politics an d th e Ph a r m a-ceutical In d u s t ry.New Yo rk: St. Ma rt i n’s Pre s s. A RVECH, H., 1987. Prin cip les o f re s e a rch allo cation .

In : A St rat egic An alysis of Scien ce & Te c h n o l o gy Policy (H . Arvech , ed .), p p. 841, Ba l t i m o re / L o n -d on : Joh n s Hop kins Un i versity Pre s s.

B A S TOS, C.; GALV Ã O, J.; PE D ROSA, J. S. & PA R K E R , R., 1994. A AIDS n o Bra s i l. Hi s t ó r ia So cia l d a AIDS, no2. Rio d e Ja n e i ro: Relu m e & Du m a r á / A

sso ciaç ão Br a s i l e i ra In t e rd iscip lin a r d e AIDS/ In -stitu to d e Med icin a Socia l, Un i versid ade d o Esta-do d o Rio d e Ja n e i ro.

BRASIL, 1990. Lei 8.080, d e 19 de Se t e m b ro de 1990. Dispõe sobre as Cond ições para a Pro m o ç ã o, Pro-teçã o e Re c u p e ra çã o d a Sa ú de, a Orga n iz açã o e Fu ncion am en to d os Se rviços Corresp ondentes e dá Ou t ras Prov i d ê n c i a s. 29 Março 2001 <h ttp :/ / www. s a u d e. g ov. b r / d o c / l e i 8 0 8 0 . h t m > .

B ROWN, P., 1995. Pop u lar ep id e m iology, toxic wa ste an d so cial m ove m e n t s. In : Med ical Hea lt h an d R i s k.Sociologica l Ap p ro a c h e s( J. Ga b e, ed .), p p. 92-112, Ca m b rid ge: Bl a c k well Pu b l i s h e r s.

BU RNS, D. P. W. & TEMIN, H. M., 1994. High rat es of f ram e sh ift m u t at io n s with in h o m o -o ligo m e ri c r un s du rin g a sin gle cycle of re t rov i ra l re p l i c a t i o n .

Journ al of Vi ro l o gy,6 8 : 4 1 9 6 - 4 2 0 3 .

C AC (Co m itê d e Aco m p an h a m en to Co m u n i t á rio d e Pe sq u isas em H IV/ AIDS), 19 96d . Pe squ isa a n t i-ética. Cadern os Pe l a Vi d d a, 21:22-23.

CADERNOS PE LAVIDDA, 1995a . In ib id or d a p ro t e a-s e. Cadern os Pe l a Vi d d a, 6:19-20.

CADERNOS PE LAVIDDA, 1995b . Pe l a Vid d a se re ú n e com a Me rck. Cad ernos Pe l a Vi d d a, 17:19-20. CADERN OS PE LAVID DA, 1996a . Mo n o t e ra p ia co m

in ib idor d a protease gera p olêm ica. Cadern os Pe-l a Vi d d a, 18:22-23.

CADERNOS PE LAVIDD A, 1996 b. Den u n cia m o s a Me rck no CRM. Cadern os Pe l a Vi d d a, 19:9-10. CADERNO S PE LAVIDDA, 1996c. A h o ra d a ve rd a d e.

Cad ern os Pe l a Vi d d a, 20:16.

CADERNOS PE LAVIDDA, 1997a. Pesqu isa p olêm ica d a Me rck ch ega ao fim . Cadernos Pe l a Vi d d a, 22:22-23. CADERNOS PE LAVIDDA, 1997b. Se fa lt a ét ica . Fa l t a

(12)

O LIVEIRA, M. A.; SANTO S, E. M. & MELLO , J. M . C . 8 7 4

Cad . Saúd e Púb lic a, Rio de Jane iro , 17(4):863-875, jul-ag o , 2001

CADERNOS PE LAVIDDA, 1998. Ad esã o a tra t a m e n t o : O con vívio d iário com d oses e h orári o s. Ca d e r n o s Pe l a Vi d d a, 26:27.

C A L LON, M. & LATOU R, B., 1991. In t rod uction . In : La Scien ce t elle qu’elle se fait; An t h ologie de la Soci-ologie des Scien ces d e Lan gu e An g l a i s e(M. Ca l l o n & B. Latou r, e d.), p p. 7-37, Pa ris: La Déco u ve rt e. C A L LON, M., 1986. Elém en ts p ou r u n e sociologie d e

la t ra d u ctio n . La d o m e sticat io n d es co qu illes Sa i n t - Jacq u e s e t d es m ar in s-p ê n ch e u r s d a n s la b aie d e Sain t –Bri e u c. L’ An n ée Sociologiqu e, 36 : 1 6 9 - 2 0 8 .

C A L LON, M., 1989. In t r od u ction . In : La Scien ce et ses R é s e a u x ; Gen ese et Ci rcu lat ion d es fait s Scien -tifiqu es (M. Callon, ed.), p p. 733, Pa ris: La D é c o u ve rt e / Con se il d e L’ Eu ro p e / Un it ed Na tion s Ed u -catio nal, Scien tific an d Cu l t u ral Org a n i z a t i o n . CANGUILHEM, G., 1982. O Norm al e o Pa t o l ó g i c o. Rio

d e Ja n e i ro: Fo re n s e.

CFM (Con selh o Fe d e ra l d e Med ic in a ), 2 000. Cód igo d e Ética Méd ica, d e 26 de jan eiro de 1983. In : Ma-n u al d o Médico – IMa-n form ar pa ra Ma-n ã o Pu Ma-n i r( Ce n -t ro d e Pe squ isa e Do cu m en -tação d o Conselh o Re-gio n a l d e Med icin a d o Est ad o d o Rio d e Ja n e i ro, o rg.), p p. 224- 239, Rio d e Ja n e i r o: Co n se lh o Re-giona l d e Med icin a d o Estad o d o Rio d e Ja n e i ro. CNS (Con se lh o Nacion al d e Saú d e), 1995. Re s o l u ç ã o

no 01/ 88. Ap rova as n o r m a s d e p e sq u isa s em

s a ú d e. Bi o é t i c a, 3:137-154.

CNS (Conselho Nacional de Sa ú d e ) / CONEP (Co m i s s ã o Nacio nal d e Ética em Pesq uisa), 1998a. Qu em é o u s u á rio afin al? Cadernos de Ética em Pe s q u i s a ,1 : 1 1 . CNS (Con selh o Na cio n a l d e Sa ú d e ) / CONEP (Co m i s-são Nacion al d e Ética e m Pesqu isa ), 1998b. Re s o-lu çã o no 196. Ca dern os d e Ética em Pe s q u i s a ,

1 : 3 4 - 4 2 .

CNS (Con se lh o Nacion al d e Sa ú d e ) / CONEP (Co m i s -são Nacion a l d e Ética e m Pe squ isa), 1998c. Re s o-lu ção no251. Ca d ern os de Ética em Pe s q u i s a ,1 :

4 3 - 4 6 .

COFFIN, J. M., 1995. Po p u lat io n d yn am ics in vivo : Im p licat ion s for ge n et ic va ria tion p ath oge n esis, an d th era py. S c i e n c e ,2 6 7 : 4 8 3 - 4 8 9 .

CO N CORDE CO O R D I N ATING CO M M I TTEE, 1994. M RC/ ANRS ra n d o m i zed d o u b le-b lin d co ntro l l e d t ria l of im m ed iat e a n d d efer re d zid ovu d in e in s y m p t o m - f ree HIV infection. La n c e t ,3 4 3 : 8 7 1 - 8 8 1 . DANIEL, H ., 1989. Vida Dep ois d a M o rt e/Life Be f o re

De a t h. Rio d e Ja n e i ro: Ja b o t i .

DANIEL, H.,1990. In f o rm a r- s e, u m a qu estão d e vid a .

Cadernos Pe l a Vi d d a, 0:1.

D E LTA CO O R D I N ATING CO M M I TTEE, 1996. De lta A r a n d o m i ze d , d ou b leb lin d co n t ro lle d tr ial com p a ring com b in at io ns o f zid ovu d in e p lu s d id a no -sin e or zalcita b in e with zid ovu d in e alone in HIV-in fected HIV-in d ivid uals. La n c e t, 348:283-291. DETIENNE, M., 199 4. Dion isio a Céu Ab e rt o. Rio d e

Ja n e i ro: Zah a r Ed i t o re s.

DIAS, J. L. M. & PE D ROSA, J. S., 1997. S o b re os Va l o re s e Fatos – A Experiên cia das ON Gs qu e Tra b a l h a m com AIDS n o Bra s i l. Bra sília: Co o rd e n a çã o Na-cion al d e DST e AIDS, Se c re t a ria d e Projeto s Es-p eciais d e Sa ú d e, Mi n i s t é rio d a Sa ú d e.

EPSTEIN, S. 1997. Activism , d ru g re gu la tion , an d t h e p olitics of th erap eu tic e valu ation in th e AIDS era : A case stu d y of d d C an d the “Su r r ogate Ma rk e r s”

De b a t e. Social Studies of Scien ce, 27:691-726. EPSTEIN, S., 1995. Th e co nst ru ction of la y expe rt i s e :

AIDS a ctivism an d th e forging of cred ibility in the re f o rm of clin ical tri a l s. Scien ce Te c h n o l o gy & Hu -m an Va l u e s, 20:408-437.

EPSTEIN, S., 1996. Im p u re Scien ce – AIDS, Ac t i v i s m an d th e Politics of Kn ow l e d g e. Be rk e l e y: Un i ve r s i-ty of Ca l i f o rnia Pre s s.

ERNI, J. N., 1994. Un sta ble Fro n t i e r s : Te c h n o m e d i c i n e a n d th e Cu l t u ra l Polit ics of Cu rin g AIDS.L o n -d o n / Minn eap o lis: Un i ve rsity Pre s s.

FISCH L, M. A.; RICH M AN, D. D.; GRIECO, M. H .; G OTT L I E B, M. S.; VOLBERDING, P. A.; LASKIN, O. L.; LEEDOM, J. M.; GOOPMAN, J. E.; MILDVA N , D.; SCHOOLEY, R. T.; JACKSO N, G. G.; DURAC K , D. T.; KING, D. & AZT CO L LA B O R ATIVE WO R K-IN G GRO U P, 1987 . Th e efficacy o f Az i d o t h y m i-d in e (AZT ) a n i-d t h e tr ea tm en t of p at ie n ts wit h AIDS a n d AID S- re late d com p le x. New En g l a n d Jou rn al of Me d i c i n e, 317:185- 191.

FOLHA DE SÃO PAU LO, 1995a. San tos vai testar novo rem éd io pa ra AIDS. Folh a de São Pa u l o, São Pa u -l o, 13 ju -l., Ca d e rn o Esp ecia-l A, p. 2.

FOLHA DE SÃO PAU LO, 1995b. Nova d ro ga co m b ate AIDS, d iz a em p r esa . Folh a d e Sã o Pa u l o, Sã o Pa u l o, 29 set., Ca d e rn o Co t i d i a n o, p. 3.

FOLH A DE SÃO PAU LO, 19 95c. Fa lta d e vo l u n t á ri o s a t ra sa p esq uisa d e AIDS. Folh a d e São Pa u l o, São Pa u l o, 17 ju l., Ca d e rn o Esp ecial, p. 2.

FOLHA D E SÃO PAU LO, 1997. In fect o lo gista vê “p a -t r u lh a cie n -t ífica” – Ló gica d a p e sq uisa é cru e l .

Folh a de Sã o Pa u l o, Sã o Pa u l o, 22 m ar, Ca d e rn o Co t i d i a n o, p. 2 .

F U N TOWICZ, S. O. & RAVETZ, J. R., 1993 Riesgo glob a l , i n c e rt i d u m b re e ign o râ n cia . In : Ep i s t e m o l o g i a Polit ica – Ciencia con la Ge n t e(S. O. Fu n t owicz & J. R. Ra vetz, org.), p p. 11-42, Bu en os Aires: Ce n t ro Ed itor d e Am érica Latin a.

G A Z E TA MERCANTIL, 1997.A In dú stria Fa r m a c ê u t i-c a. São Pa u lo: Ce n t ro d e In f o rm açõ es d a Ga ze t a Me rc a n t i l .

GRMEK, M. D., 1995. Hi s t o i re du Si d a. Pa ris: Éd ition s Pa yo t & Riva g e s.

H AM MER, S. M.; KATZENSTEIN, D. A.; H U GH ES, M . D.; GUN DACKER, H .; SCH OOLEY, R. T. ; H AU BRICH, R. H.; HENRY, W. K.; LEDERMAN, M. M.; PHAIR, R. T.; NIU, M.; HIRSCH, M. S. & MERI-GAN, T. C., 1996. A t ria l com p a rin g n u cle o sid e m o n o t h e ra p y with co m b in at ion th era py in HIV-in fected a d u lts wit h CD4 cell cou n ts from 200 to 500 p er cu b ic m illim ete r. New Engla nd Journ al of Me d i c i n e ,3 3 5 : 1 0 8 1 - 1 0 9 0 .

H O, D. D.; NEU MANN, A. U.; PERELSON, A. S.; C H E N , W.; LEONARD, J. M. & M ARKOWITZ, M., 1995 Rap id t u rn ove r o f p lasm a vir io n s a n d CD4 lym -p h ocytes in HIV-1 in fection . Na t u re, 373:123-126. J A S A N O F F, S. S., 1998. Pro c e d u ra l ch oice s in re g u l a-t o r y scie n ce . Reso lvin g m e d ica l con a-tr ove r s i e s. Th e scien ce co ur t sym p osia . R i s k : He a l t h ,S a f e t y & En v i ro n m e n t. 20 Oc to b e r 1998 <h tt p :/ / www. f p l c. e d u / s c i c t / c o n t e n t s. h t m > .

KWEDER, S. L.; O’NEILL, R. T. & BENINGER, P., 1995. Th e ne w eva lu ation process: FDA p ersp ective. In :

Referências

Documentos relacionados

Se a vida religiosa da nação é assim dirigida pela lei civil, sem acordos de qualquer espécie com as autoridades eclesiásticas; se a organização religiosa do país, incluindo

The information collected during field surveys includes plinth area, size and detailing of RC elements (beams and columns), inter-storey height, number of bays and span

Os editores do Fraternidade defendem a soberania da razão, mesmo nas leis morais estabelecidas pela Igreja Católica, e sem o conhecimento intelectual necessário

Face a isto, torna-se nítido o motivo pelo qual Virgínia Woolf evocava o Movimento dos Analles: sua proposta estava relacionada diretamente a uma das pretensões do

We therefore compared the frequency between cases and controls of putative fusion transcript forming CNVs involving at least one gene expressed in the human post-synaptic density..

It is in this classical background that the quantum test particles will be studied in order to see if the spacetime remains singular when considered in the quantum theory context.

Figura 1.1 - Três revoluções industriais ocorridas até finais do século 20 [2]. 5 Figura 2.2 - Desenvolvimento do conceito de Sistemas de Produção Ciber-Físicos, CPPS [4]. 6

Na abordagem estar junto virtual, o aprendiz é estimulado a desenvolver uma atuação responsável e autônoma, sendo pedagogicamente apoiado e orientado pelos mediadores