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Associações e diferenças entre homens e mulheres na aceitação de cirurgia plástica estética no Brasil.

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Academic year: 2017

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Associações e diferenças entre homens e mulheres

na aceitação de cirurgia plástica estética no Brasil

Associations and differences between men and women on the acceptance

of cosmetic plastic surgery in Brazil

RESUMO

Introdução: O Brasil é o terceiro país no mundo em número de cirurgias plásticas estéticas.

O objetivo deste estudo é veriicar as correlações entre a aceitação de cirurgia plástica, a

satisfação com o corpo e a internalização de mensagens midiáticas e outras variáveis

psicos-sociais em uma amostra de adultos brasileiros, de ambos os sexos. Método: A amostragem

foi não-probabilística, voluntária, composta por 198 pessoas, sendo 50% mulheres, que responderam os 5 instrumentos desta pesquisa. Na análise dos dados, foram usados testes de correlação e variância, com signiicância de 95%. Resultados: Há correlações signiicantes entre aceitação de cirurgia plástica estética, internalização da mídia e apreciação corporal, em ambos os sexos. A aceitação de cirurgia plástica estética correlaciona-se com a satisfação com a vida apenas entre as mulheres. Não há diferenças entre os sexos quanto à aceitação de cirurgia plástica estética de uma forma geral, apenas especiicamente quanto à decisão de

se submeter a cirurgia após análise dos riscos. Conclusões: Os dados da amostra apontam

convergência com observações internacionais e, apesar da amostra restrita, espera-se con -tribuir para a compreensão ampliada da procura de cirurgia plástica estética em nosso País.

Descritores: Cirurgia plástica. Propaganda. Satisfação pessoal.

ABSTRACT

Background: Brazil ranks third among all countries in the number of cosmetic plastic

sur gery procedures performed per year. The objective of this study was to examine the re lationship between acceptance of plastic surgery and bodily satisfaction, internalization of media messages, and other psychosocial variables in a convenience sample of male and

female Brazilian adults. Methods: Non-probabilistic sampling was used to select a sample

(n = 198) of an equal number of men and women for voluntary participation. All participants completed 5 study instruments that collected data used to perform correlation and variance analyses at a 95% level of signiicance. Results: A signiicant association between accep -tance of cosmetic plastic surgery and the variables of internalization of media messages and

bodily appreciation was found in both sexes. A signiicant association between acceptance of cosmetic plastic surgery and life satisfaction was found only in women. Except for dif-ferences regarding the decision to undergo surgery after having considered the risks, no

other differences regarding the acceptance of cosmetic plastic surgery in general were found between men and women. Conclusions: Despite the small sample examined in this study, the indings largely accord with international observations and are expected to contribute

to further understanding of the demand for cosmetic plastic surgery in Brazil.

Keywords: Surgery, plastic. Propaganda. Personal satisfaction. Trabalho realizado na

Universidade Estadual de

Campinas (Unicamp), Campinas, SP, Brasil.

Artigo submetido pelo SGP (Sistema de Gestão de

Publicações) da RBCP. Artigo recebido: 13/1/2012 Artigo aceito: 18/3/2012

1. Doutora em Educação Física, pesquisadora no Laboratório de Imagem Corporal da Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (FEF/Unicamp), Campinas, SP, Brasil.

2. Mestre em Educação Física, coordenadora do curso de Educação Física da Fundação Educacional de Barra Bonita, doutoranda na FEF/Unicamp, pesqui-sadora no Laboratório de Imagem Corporal da FEF/Unicamp, Campinas, SP, Brasil.

3. Livre-docente em Imagem Corporal, doutora em Medicina Interna, professora titular da FEF/Unicamp, coordenadora do Laboratório de Imagem Corporal da FEF/Unicamp, Campinas, SP, Brasil.

AngelA nogueirA neves

BetAnho CAmpAnA1

luCilene FerreirA2

mAriAdA ConsolAção

gomes CunhA FernAndes

(2)

INTRODUÇÃO

A cirurgia plástica estética é um procedimento cirúrgico

eletivo, por meio do qual se busca a melhora da aparência, modiicando os traços originais da face ou as formas do corpo que desagradam seus portadores1. Segundo levantamento realizado, em 2009, pela International Society of Aesthetic

Plastic Surgery, o Brasil ocupa o terceiro lugar em número

de cirurgias plásticas estéticas, atrás apenas dos Estados

Uni dos e da China.

Seguindo a tendência mundial, os 5 procedimentos esté

-ticos mais realizados no Brasil são, em ordem crescente: lipoaspiração, mamoplastia de aumento, blefaroplastia, rinoplastia e abdominoplastia. Estima-se que, em 2009, tenham sido realizados 8.536.379 procedimentos estéticos cirúrgicos no mundo, sendo 1.054.430 deles no Brasil, um considerável aumento comparativamente aos 363.609 procedimentos cirúrgicos de 2004, computados pela Socie -dade Brasileira de Cirurgia Plástica2,3.Finger4 estebelece o

perfil do brasileiro que procura cirurgia pástica: priorita

-riamente mulheres, jo vens, que buscam mamas cada vez

mais volumosas e uma retirada cada vez maior de gordura nas lipoaspirações.

Os motivos e os preditores para a realização de cirurgia plástica estética passaram a ser foco de estudos acadêmicos

nos últimos anos. Sabe-se que a aceitação de cirurgia plás

-tica está positivamente associada à exposição de mensagens

midiáticas5 e que pessoas próximas submetidas previamente

a esse tipo de cirurgia podem inluenciar outras a fazerem

o mesmo6. Sarwer et al.7 identiicaram correlações positivas entre aceitação de cirurgia plástica estética com orientação

à aparência e inluência da mídia nas atitudes diante da ci -rurgia plástica. Por outro lado, Henderson-King e Brooks8 concluíram que a internalização dos padrões de beleza, o

materialismo (tendência a tomar o corpo como objeto, nesse

caso) e os comentários paternos sobre a beleza são preditores da aceitação de cirurgia plástica estética, enquanto o índice

de massa corporal correlaciona-se positivamente com a

acei-tação da cirurgia. No Brasil, há registro de que insatisfação com o corpo, experiências prévias bem-sucedidas da mãe

com cirurgia plástica e seus comentários sobre a beleza da

ilha, aceitação do parceiro, medo de ser “trocada” por seu

parceiro por outra mulher de melhor aparência e perspectiva

de sucesso na carreira foram motivos relatados na pesquisa etnográica realizada por Edmonds9 para a realização de uma

cirurgia plástica estética.

O belo tem sido, via de regra, associado a algo bom10. Essa associação oferece explicação simples, porém plausível, para a busca do corpo perfeito que se observa entre homens e mais notadamente entre mulheres. No Brasil, corpo de mu lher belo é magro, de pele clara, cabelos loiros e lisos, com poucas curvas. O corpo feminino ideal, na visão dos homens, constitui-se de curvas, seios grandes, empinados

e irmes, e nádegas bem torneadas. Já o corpo do ideal do sexo masculino constitui-se de traços da face bem marcados e equilibrados, altura em torno de 1,80 m, baixo porcentual de gordura, abdome deinido, tórax e ombros largos. Alcançar o ideal seria obter a perfeição, a harmonia e a beleza; seria a realização da essência do homem divino no corpo, o que aproximaria o sujeito da participação do eterno11.

O corpo belo é um padrão construído socialmente, pau -tado em atributos e comportamentos distintos, qualificados como adequados ou ideais12. As mensagens veiculadas pe la mídia convencional e pela mídia alternativa (Internet) pene -tram no dia a dia das pessoas e configuram-se como instru-mento poderoso na determinação dos padrões de apa rência física ideal13. Contudo, não é uma influência homogênea:

individualmente, há diferenças na internalização dessas mensagens midiáticas e, por conseguinte, no impacto que elas causam nos comportamentos, cognições e afetos rela

-tivos à própria aparência14. Os estudos sobre as mensagens midiáticas relacionadas à aparência física e a sua interna -lização abrangem as duas fa cetas propostas por Cash15 nas

reflexões sobre a aparência: uma de ordem social, pautada na visão da pessoa quanto a seu corpo em relação aos outros corpos, e uma de ordem pessoal e subjetiva, sobre as expe -riências individuais acerca da própria aparência. As

influên-cias dessas facetas são bidirecionais e, em última instância,

delineiam o investimento e a avaliação sobre a aparência do corpo. A preocupação e o investimento em relação à aparência estabelecem-se num continuum, que varia desde os cuidados necessários e saudáveis em relação ao corpo até

o excesso, no qual a saúde é colocada em risco e o sujeito

experiencia perdas sociais e afetivas, podendo evoluir para um quadro de dismorfia corporal16,17. Os defeitos reais ou imaginários do corpo, na dismorfia corporal, tornam-se o foco da vida do sujeito, e sua vida social, suas relações

afe tivas e sua vida financeira podem ruir em decorrência

da busca pelo corpo ideal, por meio de dietas, exercícios e

cirurgias plásticas17.

Diante do aumento considerável de cirurgias plásticas

es téticas realizadas no Brasil, em 2009, e do papel das mensa -gens midiáticas direcionadas ao público na constituição do

padrão de corpo ideal, enfatizando o corpo magro de bustos

fartos para as mulheres e forte e viril para os homens18,19, seria relevante observar de forma mais sistemática como a internalização das mensagens midiáticas e outras variáveis

psicossociais já destacadas na literatura inluenciam a predis -posição de homens e mulheres a se submeterem a cirurgia plástica no Brasil.

Considerando o exposto, o objetivo deste estudo é deter -minar se há diferenças entre homens e mulheres na aceitação de cirurgia plástica e as correlações entre esta e outras

variá-veis psicossociais, como satisfação com o corpo, percepção

(3)

MÉTODO

A amostra para esta pesquisa foi não-probabilística, por conveniência e voluntária, sendo os dados coletados numa cidade do interior de São Paulo, em uma universidade pública, sendo composta por docentes, proissionais técnicos-admi

-nistrativos, discentes e pessoas da comunidade.

A amostra foi composta por 198 pessoas, com idades entre 18 anos e 73 anos, com média de 27,98 ± 10,56 anos, sendo 50% mulheres.

O índice de massa corporal médio variou, entre as mu -lheres, de 16,11 kg/m² a 40,9 kg/m², com média de 23,23 ± 4,11 kg/m²; já entre os homens, variou de 17,54 kg/m² a 33,95 kg/m², com média de 24,21 ± 2,96 kg/m². Quanto à opção sexual, 94,9% declararam-se heterossexuais. Com relação à religião, 72,7% dos entrevistados eram católicos, 12,1%, protestantes, 8,1%, espíritas, 5,1%, ateus ou agnós

-ticos, e os demais tinham outra religião. Quanto ao estado civil, 37,4% dos indivíduos declararam-se solteiros, enquanto 53% eram casados ou estavam em um relacionamento, 7,6% eram divorciados e os demais, viúvos. Do total da amostra, 65,7% declararam que praticavam exercício regularmente.

Após aceitarem o convite para participar da pesquisa e assi narem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, os voluntários responderam a 5 instrumentos:

• Acceptance of Cosmetic Surgery Scale (ACSS)20: escala de 15 itens que avalia três componentes ati -tudinais distintos relacionados à cirurgia plástica estética, a saber: 1) social (5 itens que avaliam

mo tivações sociais para fazer a cirurgia plástica

estética); 2) intrapessoal (5 itens representando

atitudes relacionadas a benefícios percebidos com

a cirurgia plástica estética); e 3) relexão (5 itens que reletem a probabilidade de o sujeito fazer uma cirurgia plástica estética, incluindo condições tais como dor ou efeitos colaterais). Todos os

itens estão dispostos numa escala tipo Likert de 7

pontos (numa escala que variou de 1 a 7, sendo 1 =

discordo plenamente e 7 = concordo plenamente). O estudo de validação para o Brasil21 comprovou a

estrutura fatorial original da escala, obtendo índices adequados de confiabilidade (α > 0,70) para cada

um dos fatores e para a escala geral. Para a amostra

deste estudo, a coniabilidade interna dos fatores

foram α = 0,80 para fator 1, α = 0,82 para fator 2, α = 0,87 para fator 3 e α = 0,91 para a escala como um todo. O resultado inal é dado pela soma dos escores dos itens, e quanto maior o escore maior é

a inclinação a se submeter a uma cirurgia plástica. Sociocultural Attitudes Towards Appearance

Ques-tionnaire – 3(SATAQ-3)22: consta de 30 itens des -tinados a avaliar a internalização de mensagens

midiáticas. Os itens estão divididos em 4 fatores: 1) internalização geral, que versa sobre as informa -ções relacionadas a beleza e atratividade veiculadas

pelos diversos canais midiáticos; 2) internalização atlética, que representa a inluência do corpo atlé

-tico na avaliação e no investimento da aparência; 3) pressão, que relete os parâmetros do corpo per feito e o quanto a mídia inluencia o sujeito a persegui-lo; e 4) informação, que versa sobre o grau em que os canais de mídia são considerados

importantes como fonte de informação sobre ser atraente. Na validação para a língua portuguesa no Brasil21, a escala apresentou mesma estrutura fatorial e mesma distribuição de itens nos fatores

que a escala original, com índices de coniabilidade interna adequados. Para a amostra deste estudo, a coniabilidade interna variou entre α = 0,90 e 0,92

entre os fatores. O resultado dos escores é dado pela

soma das respostas em cada fator. Quanto maior o

escore maior é a internalização das mensagens da

mídia especíicas do fator.

• Body Appreciation Scale (BAS)23: é uma escala que men sura a apreciação do corpo, um aspecto da

imagem corporal positiva. Os itens da escala foram elaborados de forma a atender características da imagem corporal positiva: opinião favorável sobre

o corpo; aceitação do corpo, a despeito do peso; respeito ao corpo, atendendo a suas necessidades; e adoção de “comportamentos saudáveis” e proteção

contra imagens estereotipadas. O instrumento ori

-ginal é unidimensional, com 15 itens, dispostos nu ma escala tipo Likert de 5 pontos (numa escala que variou de 1 a 5, sendo 1 = nunca e 5 = sempre).

Em sua validação para o Brasil21, o instrumento

mostrou-se inicialmente bidimensional, sendo um dos fatores identiicado como Apreciação Geral do Corpo, com 10 itens que versam sobre atitudes positivas sobre o corpo. O outro fator foi identii

-cado como Investimento sobre o Corpo, que reúne comportamentos de proteção ao corpo. Entretanto, esse fator não obteve índice adequado de coniabi -lidade interna no estudo, havendo a recomendação

do uso apenas dos 10 itens do primeiro fator. Os

dados do segundo fator devem ser descartados das

análises, sendo usados apenas pelo pesquisador a título de informação. Nesse estudo, a coniabilidade interna do fator 1 foi de α = 0,90. Para se ter o resul

-tado da escala, deve-se somar todos os itens. Quanto

maior a pontua ção maior é a apreciação corporal. Indicadores de variáveis psicossociais: foram in

(4)

pouco atraente e 7 = muito atraente, em resposta à pergunta “Quão isicamente atraente você diria que é?”); da satisfação com a vida (numa escala que variou de 1 a 7, sendo 1 = nem um pouco satisfeito e 7 = muito satisfeito, em resposta à pergunta “O quão satisfeito com a sua vida você diria que está?”); e da percepção da segurança inanceira (numa escala que variou de 1 a 4, sendo 1 = inseguro e 4 = seguro, em resposta à pergunta “Hoje, o quão seguro inancei

-ramente você se sente?”).

Questionário demográico: destinado a coletar in -for mações características da amostra, como idade, peso, altura, opção sexual e estado civil.

Os dados foram tabulados e o softwareStatistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 15, foi usado para determinar a correlação entre os dados coletados, por sexo. O teste de normalidade de Kolmogorov-Smirnov foi empre

-gado para veriicar a distribuição dos dados e determinar o uso de testes adequados para cada análise. Foram realizadas

análises unidimensionais de correlação entre as variáveis

estudadas, para inferir as associações entre as variáveis, e análise de variância dos escores, para avaliar as diferenças entre os sexos quanto aos construtos em estudo.

Realizaram-se análises bivariadas de correlação entre os escores de cada um dos fatores da ACSS, entre os escores de cada um dos fatores da SATAQ-3, entre o escore do fator Apreciação Geral do Corpo da BAS, entre as perguntas a respeito da satisfação com a vida, atratividade física e segu

-rança inanceira, e idade dos voluntários, separado por sexo. O estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Unicamp (parecer 657/2010).

RESULTADOS

Na amostra feminina, observou-se que maior aceitação

de cirurgia plástica estética pautada em motivações sociais se associou a maiores benefícios pessoais percebidos com

a realização da cirurgia plástica estética, maior tendência a

se decidir a fazer uma cirurgia plástica estética após

consi-derar seus riscos e efeitos colaterais, maior internalização geral midiática de informações sobre beleza e atratividade,

e também maior internalização do ideal de corpo atlético na avaliação da aparência e menor apreciação do corpo

(Tabela 1). Já a maior aceitação de cirurgia plástica esté

-tica pautada em motivações pessoais, benefícios e ganhos

pessoais percebidos associou-se positivamente com maior

tendência a realizar a cirurgia plástica estética, mesmo após considerar os riscos e efeitos colaterais e a maior inter-nalização geral midiática de propagandas sobre beleza e

atratividade, estando esta também positivamente associada

ao fator “relexão” da ACSS. Essas associações apontam para três pontos importantes: os riscos da cirurgia plástica

estética parecem subestimados, benefícios sociais e pessoais são maximizados, e propagandas sobre beleza e atratividade física mostram-se em consonância com o ideal do corpo, alimentando e sendo alimentado pelos padrões vigentes, enquanto o corpo real parece desvalorizado.

Entre os homens, as maiores motivações sociais para uma

cirurgia plástica estética e as maiores probabilidades de rea

-lizá-la, mesmo após considerar riscos e efeitos colaterais, correlacionaram-se com signiicância estatística entre si e

com maior internalização geral de mensagens midiáticas a

respeito da beleza e atratividade, maior internalização de referenciais atléticos veiculados pela mídia, maior pressão recebida pela mídia para atingir o corpo perfeito, maior

internalização das informações sobre beleza e atratividade

veiculadas pelos diversos canais midiáticos, e menor apre -ciação geral do corpo. Os maiores benefícios pessoais

credi-tados à cirurgia plástica estética correlacionaram-se com signiicância estatística a maio res índices de internalização de mensagens gerais a res peito de beleza e atratividade,

maior internalização do ideal de corpo atlético na avaliação

da aparência e menor apreciação do corpo. Nos homens, os

dados também apontaram para subestimação dos riscos da

cirurgia plástica estética e maximização dos ganhos, porém com a diferença que, além das mensagens midiáticas gerais a respeito do corpo belo, a promoção midiática do padrão atlé -tico estabeleceu-se como fonte importante para a aceitação de cirurgia plástica estética.

O teste de Mann-Whitney demonstrou que não há dife

-renças signiicativas nos escores dos fatores “social” e “intra

-pessoal” da ACSS entre as amostras masculina e feminina (U = 4.673; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,57; U = 4.571; N1 = 99;

N2 = 99; P = 0,43, respectivamente), mas apontou diferença

no fator “relexão” da referida escala, que trata da avaliação

direta da probabilidade de fazer uma cirurgia plástica

esté-tica, após considerar os riscos e a dor do procedimento (U = 3.847,5; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,009). As mulheres da amostra (media na = 110,14) tenderam a avaliar mais positivamente os ganhos da cirurgia plástica estética, minimizando riscos e efeitos colaterais, que os homens (mediana = 88,86).

Quanto à apreciação do corpo, o teste de variância indicou diferenças signiicativas entre os sexos (U = 3.675; N1 = 99;

N2 = 99; P = 0,002), já que as mulheres apresentaram menores

escores de apreciação do corpo (mediana = 87,12) que os homens (mediana = 11,88). Houve também diferença entre os sexos nos escores do fator “internalização geral” (U = 3.892; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,012) e do fator “pressão” da SATAQ-3 (U = 4.017,5; N1 = 99; N2 = 99; P = 0,028), tendo

as mulheres maiores escores de internalização de

mensa-gens gerais sobre beleza e atratividade (mediana = 109,69 e 108,42, respectivamente) e se sentirem mais pressionadas

pela mídia a atender os parâmetros do corpo perfeito que os homens (media na = 89,31 e 90,58, respectivamente). Neste estudo, os homens (mediana = 106,26) declararam-se signii

(5)

N2 = 99; P = 0,048) que as mulheres (mediana = 90,74). Nas

demais variáveis estudadas, não houve qualquer variância signiicativa entre os dois grupos.

DISCUSSÃO

O objetivo deste estudo exploratório foi apresentar, de forma objetiva, correlações entre a aceitação de cirurgia plás

-tica esté-tica no Brasil e algumas variáveis psicossociais,

selecionadas de acordo com evidências da literatura

inter-nacional e inter-nacional, esta última prioritariamente qualitativa. Dentre todas as variáveis investigadas, a internalização da mídia, em seus 4 fatores, foi a que apresentou correlações

mais recorrentes com a aceitação de cirurgia plástica estética.

De fato, como destacam Goldenberg e Ramos11, é por meio do “cinema, da televisão, da publicidade e de reportagens de jornais e revistas que a exigência [de boa forma física] acaba atingindo os simples mortais, bombardeados... por imagens de rostos e corpos perfeitos”.

Destaca-se a diferença veriicada no fator especíico “re lexão”, já que as mulheres tenderam mais a se decidir

a fazer cirurgia plástica estética após refletir sobre efeitos

co laterais e dor. Interessante observar que entre as mulheres ocorre associação negativa entre o fator “relexão” e a satis -fação com a vida. Esse dado vai de encontro à colocação de Vigarello19, quando airma que a beleza valoriza o feminino

e reforça o estatuto de mulher na modernidade, mesmo

diante da diversidade de papéis e valores alcançados pelo

sexo feminino nos últimos 60 anos. A responsabilidade de manter-se bela recai mais fortemente sobre a mulher que sobre o homem. Se a beleza hoje é produto que se vende, quem não a busca ou fracassa em atingi-la fracassa também

socialmente. Nas mulheres deste estudo foram encontradas

evidências desse valor que se construiu na elite europeia ao longo dos séculos XVII e XIX.

Quanto aos homens, as correlações negativas entre a

aceitação de cirurgia plástica estética, tanto no escore

geral como em cada um dos fatores da escala, e a apre -ciação do corpo surpreendem. A amostra masculina deste

estudo deu indícios de que o homem não tem suportado seu corpo “inadequado”, e está disposto a sacrifícios para

atingir um corpo belo. Segundo a Sociedade Brasileira de

Tabela 1 – Correlações entre as variáveis para a amostra feminina (diagonal inferior) e para a amostra masculina (diagonal superior).

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

(1) Fator 1

ACSS - 0,59** 0,79** 0,56** 0,39** 0,34** 0,28** -0,26** -0,16 -0,09 -0,02 0,10 0,02 (2) Fator 2

ACSS 0,43** - 0,67** 0,31** 0,27** 0,17 0,12 -0,22** 0,05 -0,01 -0,08 0,09 0,10 (3) Fator 3

ACSS 0,60** 0,59** - 0,44** 0,37** 0,45** 0,22** -0,30** -0,17 -0,06 -0,09 0,16 0,09 (4) Fator 1

SATAQ-3 0,28** 0,21* 0,19 - 0,72** 0,59** 0,47** -0,20* -0,07 0,03 -0,15 -0,23* -0,25* (5) Fator 2

SATAQ-3 0,22* 0,16 0,05 0,66** - 0,46** 0,35** -0,18 -0,15 0,05 -0,13 -0,15 -0,19 (6) Fator 3

SATAQ-3 0,15 0,05 -0,11 0,59** 0,58** - 0,35** -0,19 -0,16 -0,13 -0,09 -0,04 -0,03 (7) Fator 4

SATAQ-3 0,04 0,11 0,12 0,49** 0,40** 0,29** - -0,20** 0,06 -0,16 0,14 0,12 0,02 (8) BAS -0,34** -0,76 -0,27** -0,24** -0,09 -0,25** -0,09 - 0,32** 0,34** 0,08 0,09 -0,08 (9) Satisfação com

a vida -0,13 -0,06 -0,23** -0,21** -0,05 -0,20** -,015 0,39** - -0,11 0,29** 0,06 -0,002 (10) Atração física -0,17 0,002 -0,20 -0,16 -0,06 -0,06 -0,22* 0,42** 0,35** - -0,09 0,04 -0,10 (11) Segurança

inanceira -0,05 0 -0,13 0,06 -0,01 0,001 0,03 0,16 0,40** 0,09 - 0,12 0,03 (12) Idade 0,13 0,14 0,11 -0,08 -0,23** -0,06 0,01 -0,07 -0,11 -0,27** 0,23* - 0,40** (13) IMC 0,17 0,08 0,07 -0,003 -0,05 -0,02 -0,11 -0,26** -0,02 -0,11 0,14 0,14

-* P < 0,05; -*-* P < 0,01.

(6)

Cirurgia Plástica, nos últimos 5 anos, cresceu de 5% para 30% o número de homens que buscam cirurgia plástica estética no Brasil, sendo a lipoaspiração, a rinoplastia e

a otoplastia os procedimentos mais procurados por eles.

Nesses últimos 10 anos, observou-se mudança do padrão de satisfação com o corpo entre os homens, que ganhou destaque com a descrição do “Complexo de Adônis”, um quadro que congrega diferentes formas de obsessão com o corpo, desde a preocupação com a calvície e o tamanho do pênis, passando pelas dietas e pelas plásticas aos esteroides anabolizantes. É a busca pelo “super-homem”, a qualquer preço. Esse quadro obsessivo vai além da insatisfação cor poral, causando impacto nas relações pessoais e nas

relações de trabalho. Além das preocupações e estratégias

para a mudança do corpo características do “Complexo de Adônis”, transtornos alimentares, dismorfia corporal, dismorfia muscular e dependência de exercícios são ou tros transtornos que podem ser incluídos nesse quadro1.

As limitações deste estudo recaem sobre a

representa-tividade da amostra diante da população brasileira, apesar

de termos evitado concentrar a amostra entre estudantes

universitários, uma crítica recorrente nesse tipo de estudo.

Uma segunda questão são as variáveis selecionadas, que

foram escolhidas com indicativos de sua importância pela

literatura internacional. Uma pesquisa futura, no cenário nacional, poderia identificar outras variáveis importantes, dando continuidade a essa temática e permitindo que

apro fundemos a compreensão da aceitação de cirurgia

plástica, da influência da mídia e da relação do brasileiro com seu corpo. Uma terceira questão versa sobre uma

possível diferença na aceitação da cirurgia plástica estética

e o nível de exposição do corpo. Já que o corpo menos vestido deve cobrir-se adequadamente por uma pele firme e “sarada”11, seria interessante observar como se dá a acei -tação de cirurgia plástica em cidades litorâneas do Brasil, notadamente o Rio de Janeiro. Apesar dessas limitações, acreditamos que o estudo permite uma compreensão mais

ampla da procura de cirurgia plástica estética em nosso

País, levando milhares de brasileiros aos consultórios para a realização de uma cirurgia eletiva, muitas vezes de não especialistas, para a aquisição do corpo ideal. Ademais, se a amostra deste estudo se mostrou sensível às mensagens midiáticas que apelam ao corpo ideal, esse mesmo canal

poderia ser usado para a promoção de uma aceitação maior

do corpo real, sendo esse um caminho possível para uma intervenção de massa. Já há uma iniciativa na indústria privada, a exemplo da companhia multinacional que enca

-beça a “campanha pela real beleza”, dirigida para mulheres, que foi alvo de estudos científicos24. Entretanto, a campanha não se foca nos homens, e nem especificamente esclarece os riscos da cirurgia plástica estética, de forma que há carência de ampliação dessas ações, por órgãos federais ou mesmo

pela iniciativa privada.

CONCLUSÕES

Neste estudo, a diferença estatisticamente signiicante

entre homens e mulheres acerca da aceitação da cirurgia plástica estética versa apenas sobre os riscos e dores do

procedimento, sendo as mulheres mais predispostas a correr riscos e suportar dores. As correlações signiicativas com a

internalização da mídia apontam para a importância desse

veículo na disseminação dos ideais de beleza, estando mais associados à cirurgia plástica estética que outros fatores psicossociais, como satisfação com a vida e percepção de segurança inanceira.

AGRADECIMENTOS

A autora ANNBC agradece ao Conselho Nacional de De

-senvolvimento Cientíico e Tecnológico – CNPq pela bolsa de doutorado concedida (Processo número 140174/2009-5).

REFERÊNCIAS

1. Pope Jr. HG, Phillips KA, Olivardia R. The Adonis complex: The secret crisis of male body obsession. Nova York: Free Press; 2000.

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Correspondência para: Angela Nogueira Neves Betanho Campana

Referências

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