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Observações sobre calazar em Jacobina, Bahia. VI - Investigações sobre reservatórios silvestres e comensais.

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Academic year: 2017

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R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 1 ( 1 ) : 2 3 - 2 7 , J a n -M a r , 1 9 8 8

O B S E R V A Ç Õ E S S O B R E C A L A Z A R E M J A C O B I N A , B A H I A .

V I - I N V E S T I G A Ç Õ E S S O B R E R E S E R V A T Ó R I O S S I L V E S T R E S E C O M E N S A I S .

I. A. S herlock1, J.C. M iran d a1, M. Sadigursky

1

e G. Grim aldi J r

.2

D u r a n t e o s a n o s d e 1 9 8 2 a 1 9 8 6 , a i n v e s t i g a ç ã o s o b r e m a m í f e r o s c o m e n s a i s e

s il v e s tr e s , d a p e r i f e r i a d a c i d a d e d e J a c o b i n a , B a h i a , m o s t r o u , a o l a d o d o e s c a s s o n ú m e r o

d e e x e m p l a r e s , u m a r e d u z i d a v a r i e d a d e e s p e c í f i c a d e s s a f a u n a . C a p t u r o u - s e a p e n a s 1 1 e s p é c ie s , e n t r e a s q u a i s , p r e d o m i n o u o D idelphis albiventris, q u e a b r a n g e u 4 4 % d o s 2 1 3 e s p é c i m e n s c a p t u r a d o s . E n t r e o s 1 9 3 c o m e x a m e s j á c o n c l u í d o s , 8 4 e r a m e x e m p l a r e s d e D . albiventris e 2 e s t a v a m i n f e c t a d o s p e l a L eishm ania donovani s e n s o l a t o , 1 p o r L. m exicana am azonensis, 1 p o r L. braziliensis, s u b e s p é c i e e 3 p o r T ry p an o so m a cru zi T a m b é m f o r a m o b s e r v a d a s f o r m a s s u s p e i t a s d e s e r e m a m a s t i g o t a s d e l e i s h m a n i c .s , n o s

e s f r e g a ç o s d e ó r g ã o s d e 3 e x e m p l a r e s d e D asy p ro cta aguti, 1 C ercom ys cunicularius - e 1 O ryzom ys eliurus. 0 r e s t a n t e d o s e x e m p l a r e s , i n c l u s i v e 1 4 d e L ycalopex vetulus, e s t a v a n e g a t i v o p a r a f l a g e l a d o s .

A p e s a r d e r e f o r ç a d o p o r o u t r o s i n d i c a d o r e s e p i d e m i o l ó g i c o s , c o m o a p r e d o m i ­

n â n c i a e s p e c í f i c a , a f r e q ü ê n c i a d o m i c i l i a r , a a t r a t i v i d a d e p a r a a v e t o r a L utzom yia longipalpis, e a c o n c o m i t â n c i a c o m c a s o s h u m a n o s n o s m e s m o s l o c a i s , o í n d i c e d e 2 , 3 % d e i n f e c ç ã o n a t u r a l d o D idelphis albiventris, n ã o a u t o r i z a a c o n c l u s ã o d e f i n i t i v a d e s e r o m a r s u p i a l o m a i s i m p o r t a n t e r e s e r v a t ó r i o n a t u r a l d a l e i s h m a n i o s e v i s c e r a l e m

J a c o b i n a .

P alav ras C haves: L eishm aniose visceral am ericana. R eservatórios silvestres. D i d e l p h i s a l b i v e n t r i s . L e i s h m a n i a d o n o v a n i . L e i s h m a n i a m e x i c a n a a m a z o n e n s i s . L e i s h m a n i a

b r a s i l i e n s i s subespécie.

C om exceção de um trabalho dos próprios auto­ res do p resen te9, n ad a m ais existe publicado sobre re­ servatórios extradom ésticos d a leishm aniose visceral am ericana em Jaco b in a, ap esar de ser esse um dos m ais antigos focos de calazar do Brasil.

A qui apresentam os alguns resultados de inves­ tigações recentes (de 1982 a 1986) que fizem os em J a ­ cobina, B ahia, sobre reservatórios com ensais e silves­ tres de leishm aniose visceral, dando continuidade à pu­ b licação d a série d e observações sobre ecologia e epi- dem iologia d a leishm aniose visceral nesse foco endê­ m ico, que vinham sendo feitas desde 1959 pelo pri­ m eiro autor4 5 6 7 8 9

M A T E R IA L E M É T O D O S

A s zonas periféricas d a cidade de Ja co b in a fo­ ram hipoteticam ente divididas em sete subáreas, se­ guindo o critério de T eix eira10 e B a d aró 1 que tam bém faziam sim ultaneam ente observações sobre os aspec­ tos clínicos e epidem iológicos do calazar n a m esm a área. A subárea 3, G rotinha, onde m ais recentem ente

1 C en tro de P esquisas G o n ç a lo M o n iz - F I O R U Z /U F B a - Salvador, Bahia.

2 Instituto O sw aldo C ruz F IO C R U Z - R io de Janeiro. F inanciado pelo International D evelopm ent R esearch C entre, C anadá.

R ecebido p ara publicação em 9 /3 /8 7 .

vinha ocorrendo m aior núm ero de casos hum anos d a doença, foi a escolhida para servir de área de amostragem p ara o nosso trabalho. G rotinha corresponde a um peque­ no vale, onde existem três ruas de casas desordenada­ m ente localizadas. F ica contínua à área que possui os últim os resquícios de vegetação, d a periferia da cida­ de, representados p o r m atas de form ação secundária. N o período em que realizam os as observações aqui re­ latadas, a leishm aniose visceral apresentou-se com transm issão ativa, ap esar de que nos anos iniciais, apenas poucos casos tenham sido diagnosticados. N o final do período de observações, ocorreu um surto epidêm ico, quando foram registrados m ais de 50 casos hum anos. D e 1980 a 1984, segundo B a d aró 1, a inci­ dência m édia global de casos foi de 1 3 ,7 /1 .0 0 0 crianças n essa su b área de G rotinha.

(2)

adqui-S h e r lo c k I A , M ir a n d a J C , adqui-S a d ig u r s k y M , G r im a l d i J r G . O b se r v a ç õ e s s o b r e c a l a z a r e m J a c o b in a , B a h ia . V I - I n v e s t ig a ç õ e s s o b r e r e s e r v a tó r io s s ilv e s tr e s e c o m e n s a is. R e v i s ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic i n a T r o p ic a l 2 1 : 2 3 - 2 7 , J a n -M a r , 1 9 8 8

rim os, dos caçadores locais, os exem plares de raposas, cutias e tatu s referidos neste trabalho. E m uito difícil a cap tu ra de rap o sas e p o r isso jam ais coletam os um só exem plar em nossas arm adilhas.

T odos os anim ais foram subm etidos a xenodiag- nósticos com triatom ídeos e flebotom íneos. A p ó s sa­ crificados sob an estesia geral com éter, clorofórm io, tionem butal ou pentobarbital, era feita a necrópsia e retirava-se de ca d a anim al um fragm ento de fígado, baço, pele e um a am ostra de sangue do coração. E sta Última era im ediatam ente exam inada p a ra a pesquisa de tripanossom as. A s am ostras de todo o outro m aterial eram utilizadas p a r a esfregaços em lâm inas que eram corados pelo G iem sa, p a ra o sem eio em m eios de cul­ t u r a p a r a flagelados (N N N , L IT , etc.), inclusive o sangue, e p ara o estudo histopatológico. O s esfregaços em lâm inas foram exam inados ao m icroscópio ótico, p ara a pesquisa de am astigotas. A lém desses exam es as am ostras de fígado e b aço eram m aceradas e inocu­ ladas intraperitonealm ente em ham steres. E stes ani­ m ais. a não ser que se ap resentassem doentes antes do tem po, eram exam inados no período de 6 a 12 m eses a contar da d ata d a inoculação.

A s espécies dos anim ais que foram coletadas eram com uns e já conhecidas, n ão tendo sido necessá­ ria u m a classificação especial. N ó s m esm os as identi­ ficam os, com parando-as com exem plares taxiderm i- zados que tinham sido classificados p o r especialistas do M useu N acional. A identificação das espécies de leishm ânias foi feita nos laboratórios do Instituto O s- w aldo C ruz, através de análise d a densidade específi­

c a do D N A , anticorpos m onoclonais e com posição isoenzim ática, assim com o tam bém em nossos labora­ tórios, pelo com portam ento de infecção no ham ster e no tubo digestivo de L . l o n g i p a l p i s , crescim ento em culturas e aspecto m orfológico em esfregaços cora­ dos pelo G iem sa.

R E S U L T A D O S

F o ra m m ontadas 3.353 arm adilhas p a ra a cap­ tu ra dos anim ais silvestres e com ensais em Jacobina, durante os anos-de 1982 a 1986, das quais, apenas 166 (5 % ) conseguiram ca p tu rar 178 anim ais. Isso de­ m onstrou, n ão a falta de eficácia das arm adilhas, m as sim , o escasso núm ero de anim ais silvestres existentes n a periferia d a cidade.

A lém desses anim ais que capturam os e que fo­ ra m representados, n a quase totalidade, por marsu-_ piais e roedores, foram adquiridos p o r com pra dos caçadores locais, 8 cutias, 6 tatus, 7 p reá s e 14 ía - posas.

A o lado do reduzido núm ero de espécim ens, a variedade específica d a fauna era tam bém m uito pe­ quena, tendo-se conseguido, incluindo-se os roedores dom éstico, apenas 11 espécies de m am íferos, con­ form e apresentam os n a T abela 1. O anim al predom i­ nan te foi o m arsupial D i d e l p h i s a l b i v e n t r i s , localm en­ te cham ado de “ sariguê” , que abrangeu 4 4 % dos ani­ m ais exam inados d a área. E m seguida, predom inavam os roedores, com cerca de 39 % de freqüência. A rapo­

T abela 1 - A n i m a i s s i lv e s tr e s e c o m e n s a i s o b t i d o s d e 1 9 8 2 a 1 9 8 6 , e m J a c o b i n a , B a h i a , p a r a a p e s q u i s a d e le i s h m â n i a s .

C a p t u r a d o s A d q u i r i d o s

E s p é c i e d e a n i m a l e m d o s T o t a l

A r m a d i l h a s H a b i t a n t e s

D i d e l p h i s a l b i v e n t r i s (Sariguê, gam bá) 94 _ 94

D a s y p r o c t a a g u t i (C utia) - 8 8

C a v i a p o r c e l l u s (P reá) - 7 7

C e r c o m y s c u n i c u l a r i u s (R ato-punurà) 12 - 12

O r y z o m y s e l i u r u s 8 - 8

O r y s o m y s s u b f l a v u s (Rato-do-algodão) 1 - 1

R a t t u s r a t t u s (R ato preto, guabiru) 20 - 20

M u s m u s c u l u s (C am undongo dom éstico) 42 - 42

C h i r o p t e r a (espécie?) (m orcego) 1 - 1

C a b a s s o u s u n i c i n c t u s - 6 6

L y c a l o p e x v e t u l u s (R aposa)* - 14 14

* Identificam os com o L y c a l o p e x v e t u l u s p o r nos parecerem idênticos aos estudados por L .M . D e a n e 2 no C e a rá e assim determ inados pelo D r. Jo ã o M oojen, do M useu N acionai. O s exem plares de C e r d o c y o n t h o u s , capturados no P a rá p o r R. L ain so n 3, parecem -nos m aiores e m ais escuros.

(3)

S h e r l o c k l A , M ir a n d a J C , S a d ig u r s k y M , G r im a ld i J r G . O b se r va ç õ e s s o b r e c a l a z a r e m J a c o b in a , B a h i a . V I - I n v e s t i g a ç õ e s

s o b r e r e s e r v a tó rio s s ilv e s tr e s e c o m e n s a is . R e v is ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 1 : 2 3 2 7, J a n - M a r , 1 9 8 8

sa L y c a l o p e x v e t u l u s apresentou-se com apenas 14 exemplares. Os roedores silvestres foram menos fre­ qüentes que os domésticos.

Foram obtidos e examinados para leishmânias 213 animais (Tabela 1). Entre os 193 com exames já concluídos (Tabela 2), foram encontrados com formas

suspeitas de serem amastigotas de leishmânias, esfre- gaços de baço e fígado de 4 exemplares de D a s y p r o c t a a g u t i e esfregaços de baços de 1 C e r c o m y s c u n i c u l a - r iu s e 1 O r y z o m y s e liu r u s . Infelizmente, não foi pos­ sível o isolamento, nem a identificação específica des­ sas suspeitas leishmânias.

Tabela 2 - A n i m a i s s ilv e s tr e s e c o m e n s a i s o b t id o s d e 1 9 8 2 a 1 9 8 6 e m J a c o b in a , B a h i a , e n c o n tr a d o s n a t u r a l m e n t e in fe c ta d o s p o r tr y p a n o s o m a tíd e o s

Entre os 94 exemplares de D . a l b i v e n t r i s cole­ tados, já têm resultados definitivos 84 e destes 4 esta­ vam iijfectados com 3 espécies de leishmânias e 3 com T r y p a n o s o m a c r u z i , conforme mostramos na Tabela 2. Os exemplares infectados de D . a l b i v e n t r i s, de acordo com as espécies de leishmânias, e pelo T. c r u z i , foram: com L e i s h m a n i a d o n a v a n i lato sensu 2 exem­ plares nas inoculações de baços em hamsteres; L e i s h ­ m a n i a m e x i c a n a a m a z o n e n s i s 1 exemplar infectado na hemocultura; L e i s h m a n i a b r a z i l i e n s i s subespécie 1 exemplar infectado em inoculações distintas de fí­ gado e baço, em hamsteres; T r y p a n o s o m a c r u z i em 3 exemplares infectados, sendo 2 através de hemocultu- ras e 1 através de xenodiagnóstico com triatomíneos.

N a Tabela 3, observa-se que os exemplares de D . a l b i v e n t r i s foram coletados durante todos os meses do ano, havendo, contudo, um maior número de animais nos meses de junho, julho e agosto. E ssa va­ riação estava diretamente correlacionada com a

den-Tabela 3 - V a r i a ç ã o m e n s a l d e Didelphis albiventris e m J a c o b in a , B a h i a (1 9 8 2 - 1 9 8 6 ) .

M ê s Np a r m a d i l h a s N ? D . a l b i v e n -í n d i c e a r m a d i l h a s c o lo c a d a s tr is c a p tu r a d o s p o s i ti v a s

J a n e ir o 2 1 4 4 1,9

F e v e r e ir o 1 5 4 2 1 ,3

M a r ç o 2 3 3 2 0 ,9

A b r il 2 9 9 7 2 ,3

M a io 3 3 4

6

1,8

J u n h o 3 4 2 4 1,2

J u lh o 3 5 3 17 4 ,8

A g o s t o 4 0 8 1 4 3 ,4 S e te m b r o 2 6 5 2

0,8

O u tu b r o 2 8 0

8

2 ,9 N o v e m b r o 2 5 2

6

2 ,4 D e z e m b r o 2 1 8 7

2,8

T o ta l 3 .3 5 3 7 9 2 ,4

* Não incluídos 15 filhotes capturados com as mães.

(4)

S h e r lo c k I A , M ir a n d a J C , S a d ig u r s k y M , G r im a l d i J r G . O b s e r v a ç õ e s s o b r e c a l a z a r e m J a c o b in a , B a h ia . V I - I n v e s t ig a ç õ e s s o b r e r e se rv a tó r io s s ilv e s tr e s e c o m e n s a is. R e v i s t a d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 1 : 2 3 - 2 7, J a n -M a r , 1 9 8 8

sidade de L u t z o m y i a l o n g i p a l p i s e com os casos hum a­ nos de leishm aniose visceral, conform e pode ser ob­ servado em trabalhos já publicados7 8 10.

D IS C U S S Ã O

D evido, provavelm ente, à exterm inação indis­ crim inada feita pelo hom em , a fauna de m am íferos sil­ vestres e com ensais, que ainda existe na periferia de J a ­ cobina, restringe-se a poucas espécies. E n tre as re­ m anescentes, destaca-se o m arsupial D i d e l p h i s a l b i ­ v e n t r i s , ali encontrado, p ela prim eira vez, infectado pela L e i s h m a n i a d o n o v a n i lato sensu, com o índice de 2 ,3 % de infecção natural. E sse m am ífero, foi tam bém encontrado em Jaco b in a, naturalm ente infectado pelas seguintes outras espécies de leishm ânias: L. m e x i c a n a a m a z o n e n s i s (1 ,1 % ), L . b r a z i l i e n s i s subespécie (1 ,1 % ), e pelo T r y p a n o s o m a c r u z i (3,5% ).

A s leishm anioses cutâneas são raras em Jaco b i­ n a e a doença de C hagas n ão existe de m odo autócto­ ne n essa localidade. A falta de ocorrência d essa tripa- nosom ose h um ana é explicada pela inexistência de triatom íneos dom iciliados e, p o r isso, som ente poucos casos hum anos, não autóctones, têm sido registrados n a cid ad e1 10.

L u t z o m y i a f l a v i s c u t e l l a t a , que é a principal vetora de L . m . a m a z o n e n s i s , não foi assinalada p ara Jacobina. E n tretan to , o u tra espécie do subgênero N y s s o m y i a , a L u t z o m y i a ( N . ) w h i t m a n i , já foi en­ con trad a n a área, podendo ser um a das responsáveis p ela transm issão desses tipos de leishm ânias. A L u t ­ z o m y i a l o n g i p a l p i s , a vetora principal d a i,, d o n o v a n i no Brasil, é bem atraíd a p a ra sugar o D . a l b i v e n t r i s , tanto no cam po com o no laboratório9, sendo tam bém um a vetora potencial das outras espécies de leishm â­ nias m encionadas.

O s dados foram obtidos durante os m eses m ais chuvosos do ano, e quando o m arsupial com m ais fre­ qüência procura o dom icílio hum ano, em b u sca de alim ento, o qual torna-se, provavelm ente, m ais escas­ so, nos ecótopos silvestres. N o am biente dom iciliar, além de restos de com ida, o m arsupial se alim enta de ovos, galinhas, pintos, que rouba nos abrigos desses anim ais dom ésticos.

A lém de sua infecção natural, os seguintes fato­ res co rroboraram p a ra incrim inar, epidem ilogica- m ente, o D . a l b i v e n t r i s , com o um reservatório pri­ m ário de L . d o n o v a n i em Jacobina: a variação esta­ cionai d a atividade dom iciliar do m am ífero que é cor­ relacionada com a variação estacionai da população do vetor e com a prevalência d a doença hum ana e da canina; encontra-se, concom itantem ente, em grutas de pedras, tan to L . l o n g i p a l p i s com o o m arsupial; esse m am ífero freqüenta o peridom icílio, vindo do am bien­ te silvestre. O s dois exem plares, que foram encontra­ dos naturalm ente infectados, foram capturados num a

casa vizinha a u m a ou tra onde, sim ultaneam ente, en­ contram os um cão doente. E ssa casa, por sua vez, era m uito próxim a a u m a terceira casa onde se diagnosti­ cou, ao m esm o tem po, um caso hum ano de calazar; in­ fecta-se facilmente com L . d o n o v a n i e não sofre danos aparentes provocados pelo parasito. O estudo dos exem plares, naturalm ente infectados, e tam bém o de um exem plar infectado, experim entalm ente, com a m esm a cepa de leishm ânia, m ostrou discretas altera­ ções histopatológicas, apesar de ter sido u sad a eleva­ d a dose de parasitos no inóculo d a observação experi­ m ental.

O D . a l b i v e n t r i s é um anim al am ericano e sua infecção p o r um a leishm ânia que n ão lhe provoca danos acentuados, parece indicar u m a antiga associa­ ção parasito-hospedeiro no continente am ericano. A s­ sim , poder-se-ia explicar a origem am ericana de um a espécie de leishm ânia viscerotrópica que já foi deno­ m in ad a de L e i s h m a n i a c h a g a s i C u n h a & C hagas, 1937. O m arsupial rep resen taria um dos elos de co­ nexão das cadeias d e transm issão dom éstica e sil­ vestre.

A p esar dessas fortes evidências, ainda n ão se pode afastar a possibilidade de ter sido o m arsupial infectado a p artir do hom em , de cães ou de roedores, infectados pela L . d o n o v a n i , que tenham sido intro­ duzidos n a área.

T am bém , em vista do pequeno núm ero de exem ­ p lares exam inados de outros m am íferos, incluindo-se raposas e roedores, n ão fica excluída a possibilidade de que esses tenham im portantes papéis com o reserv a­ tórios prim ários d a leishm aniose visceral am ericana. O baixo índice de infecção natural de D . a l b i v e n t r i s pela L . d o n o v a n i (2,3% ), apesar de sugerir, não auto­ riza a fazer-se um a conclusão definitiva sobre o assun­ to. Isto exige a realização de m ais investigações p a ra o esclarecim ento de quais são os m ais im portantes reser­ v atórios naturais de leishm aniose visceral no conti­ nente am ericano.

A G R A D E C IM E N T O S

A gradecem os aos nossos técnicos auxiliares, a seguir relacionados, a colaboração que nos deram ta n ­ to nos trabalhos de cam po com o no laboratório: A n tô ­ nio C arlos S antos, Jorge L essa T olentino, R onaldo P ereira L im a e R aim undo Jo sé F erreira.

S U M M A R Y

F r o m 1 9 8 2 to 1 9 8 6 , i n v e s t i g a t i o n s o n t h e n a t u ­

r a l in f e c t i o n w i th l e i s h m a n i a s o f t h e s y l v a t i c a n d

c o m m e n s a l m a m m a l s w e r e c a r r i e d o u t a r o u n d t h e c i t y

o f J a c o b i n a , B a h i a , o n e o f t h e o l d e s t e n d e m i c f o c i o f

v i s c e r a l l e i s h m a n i a s i s in B r a z i l .

(5)

S h e r lo c k JA , M ir a n d a J C , S a d ig u r s k y M , G r im a l d i J r G . O b se r v a ç õ e s s o b r e c a l a z a r e m J a c o b in a , B a h ia . V I - I n v e s t ig a ç õ e s s o b r e r e s e r v a tó r io s s ilv e s tr e s e c o m e n s a is . R e v i s ta d a S o c ie d a d e B r a s ile ir a d e M e d ic in a T r o p ic a l 2 1 : 2 3 - 2 7 , J a n -M a r , 1 9 8 8

T h e s p e c i e s o f M a r s u p i a l i a D idelphis albiven- tris p r e d o m i n a t e d , w i t h t h e r a t e o f 4 4 % , o v e r t h e t o t a l o f 2 1 3 s p e c i m e n s b e l o n g i n g to o n l y 1 1 d i f f e r e n t

s p e c i e s o f m a m m a l s c o l l e c t e d th e r e . A m o n g t h e 8 4

s p e c i m e n s o f D . albiventris e x a m i n e d , 2 ( 2 . 3 % ) w e r e i n f e c t e d w i t h L eishm ania donovani s e n s u l a t o ; 1 w i t h L. m exicana am azonensis, 1 w i t h L. braziliensis s u b s p e c i e s , a n d 3 w i t h T ry p an o so m a cruzL A l s o , a m a s t i

-g o t e s u s p e c t e d b o d i e s w e r e s e e n in t h e s m e a r s o f

s p l e e n s a n d l i v e r s o f 3 D asy p ro cta aguti, 1 C ercom ys cunnicularius a n d 1 O ryzom ys sp.

A l t h o u g h s t r e n g t h e n e d b y s o m e e p i d e m i o l o g i ­

c a l e v i d e n c e s , s u c h a s s p e c i f i c p r e d o m i n a n c y , p e r i d o ­

m e s t i c a n d d o m e s t i c o c c u r r e n c e , a t t r a c t i v e n e s s f o r t h e v e c t o r L utzom yia longipalpis a n d t h e c o n c o m i t a n c y

w i t h h u m a n c a s e s o f v i s c e r a l l e i s h m a n i a s i s a t t h e

s a m e p l a c e , t h e l o w r a t e o f t h e n a t u r a l i n f e c t i o n o f D . m arsupialis s t i l l d o n o t a l l o w a d e f i n i t i v e c o n c l u s i o n t h a t t h e o p p o s s u m i s a p r i m a r y a n d t h e m o s t i m p o r t a n t

r e s e r v o i r o f v i s c e r a l l e i s h m a n i a s i s i n J a c o b i n a .

R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S

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Referências

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