FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EM GESTÃO EMPRESARIAL
FANTOCHES DE SI MESMOS: A DINÂMICA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA EMPRESA PAB À LUZ DA TEORIA DE PIERRE BOURDIEU
por
Luciana Campos Lima
Dissertação apresentada à Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas para a obtenção do grau de Mestre em Gestão Empresarial.
Orientador: Prof Hermano Roberto Thiry-Cherques, Dr.
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA
CURSO DE MESTRADO EM GESTÃO EMPRESARIAL
FANTOCHES DE SI MESMOS: A DINÂMICA DE REPRODUÇÃO SOCIAL DA EMPRESA PAB À LUZ DA TEORIA DE PIERRE BOURDIEU
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR LUCIANA CAMPOS LIMA
APROVADA EM / /
PELA COMISSÃO EXAMINADORA
_________________________________________________________________ HERMANO ROBERTO THIRY-CHERQUES
DOUTOR EM CIÊNCIA DA ENGENHARIA
_________________________________________________________________ ROBERTO DA COSTA PIMENTA
DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO
“O homem como o grande construtor de todo o social, é também por ele construído, o que significa que a linguagem que fala é a mesma que esconde, que a sociedade que protege é a mesma que mata, que os critérios que incluem são os mesmos que excluem.”
Agradecimentos
De fato, realizar em poucas linhas todos os merecidos agradecimentos é uma tarefa tão ou mais árdua do que discorrer sobre o referencial teórico escolhido.
Aos meus pais, razão de todo o meu empenho e dedicação, para que continuem sempre se orgulhando da filha que têm.
À irmã, pelo apoio incondicional nas horas mais difíceis, mesmo a distância, utilizando-se de uma sabedoria que não obteve nos livros farmacêuticos.
Ao meu mentor, Daryush Khoshneviss, que nunca duvidou de minha capacidade de realização e como tal me permite sempre que possível, explorá-la.
À minha colega especialíssima Profa. Msc Anaclan Silva, por todas as suas
recomendações e ensinamentos, além da serenidade tantas vezes gentilmente compartilhada diante de barreiras momentaneamente intransponíveis.
Ao meu colega Prof. Dr Miltom Farias, pelos sábios esclarecimentos fornecidos e pelo tão generoso apoio.
Aos meus amigos do mestrado que com tanta paciência me ajudaram nos momentos mais difíceis: Elaine, Sabrina, Leonardo e Jevane.
Ao amigo e coaching Joaquim Santini, que tanto contribuiu através de sua visão arrojada e alguns “puxões de orelha”.
Aos apaixonantes professores que me proporcionaram bons motivos para que eu não desistisse no meio do percurso: Alexandra Faria, Cristina Amélia Carvalho, Fernando Guilherme Tenório e Alexandre Linhares.
Ao meu orientador que me proporcionou novos horizontes e me permitiu ter acesso ao que subjaz às aparências a partir do contato com o referencial teórico sugerido, Hermano Roberto Thiry-Cherques.
RESUMO
O mercado de mineração mundial nos últimos quatro anos apresentou crescimento constante, porém diante das atuais oscilações econômicas questiona-se por quanto tempo essa tendência permanecerá voltada aos resultados positivos. Esse contexto engloba a realidade brasileira que possui sua concentração de projetos mínero-industriais localizada no Pará, mais especificamente na região da Amazônia Oriental, e é nesta que está instalado o empreendimento que é o objeto de estudo da presente dissertação, a empresa PAB (nome fictício). Por estar fixada nessa região recebe pressões tanto de questões internas e particulares da condução do seu negócio, quanto de demandas advindas de debates internacionais relacionados às questões sócio-ambientais do aquecimento global e do futuro dos ecossistemas. Diante dessa realidade, tem como desafio persistir a essas ondas de turbulência, através da manutenção do seu status quo, ou seja, de reproduzir a ordem social vigente ao longo dos anos, ordem esta que provavelmente a conduziu até a posição de líder mundial em produção no seu ramo de negócio. O presente estudo tem o objetivo de identificar a dinâmica de reprodução da ordem social operante na PAB (nome fictício), à luz da teoria de Pierre Bourdieu, utilizando para tal a metodologia estruturalista de investigação da práxis, alicerçado, principalmente, no arcabouço literário do autor citado em complementação ao de Lévi-Strauss. Tal vertente metodologia possibilitou as análises sobre o tipo de relação existente entre as estruturas objetivas formais e declaradas por parte da organização estudada e prática vivenciada pelos empregados. Os resultados obtidos na pesquisa de campo foram organizados a partir da gênese e estrutura dos conceitos de campo, habitus e seus constituintes. Esses aspectos permitiram concluir que a dinâmica identificada está sustentada fortemente pela incongruência entre o discurso organizacional e a prática operante, sendo essa mantida através de disputas por posições de poder que significam possuir cargos e/ou desempenhar atividades que estejam diretamente relacionadas à produção fabril; tais disputas possuem como principais jogadores os empregados antigos contra os novos, e os que possuem cargos ligados diretamente com a operação fabril contra os que não os possuem. A violência simbólica emerge no formato de favorecimento daqueles que possuem uma rede diferenciada de relações internas, predominantemente de caráter familiar. Os rituais de reconhecimento restritos a apenas uma parte dos empregados, os incentivam a cada vez mais participar do jogo, que estrutura o agente que é também o estruturante, os tornando fantoches de si mesmos. A compreensão da dinâmica citada, por um lado sugere a reflexão sobre a forma como o sucesso vem persistindo na PAB ao longo dos anos, e por outro abre espaço para a possibilidade de mudança e inovação social a partir do descolamento existente entre o habitus e o campo do espaço social discutido, representando um meio frutífero para a transformação das relações, e é neste ponto que reside a principal importância do referido trabalho.
Palavras-chaves: estruturalismo, reprodução social, transformação social, Bourdieu, Lévi-Strauss.
ABSTRACT
The market of world mining during the last four years showed a steady growth. However, due to the current economical oscillations it is questioned for how long this trend will remain turned to positive results. This context includes the fact that Brazil has its mining concentration and industrial projects located in Para State, more specifically in the eastern Amazon Region, and is in this region that is installed the enterprise object of study of this paper, the PAB company (its a fictitious name). For being instaled in this region, it receives pressure from both domestic and individuals sectors about how business is manager as well as the demands arising from international discussions related to socio-environmental issues, as global warming and the future of ecosystems. Due to the reality of the local scenario, the challenge is to resist to the turbulence waves through the maintenance of its status quo, ie, keeping the social order over the years as it used to be , what probably led it to be the world production leader in its segment business. This study aims to identify the dynamics reproduction of social order at PAB under the light of Pierre Bourdieu theory, using the praxis structuralist research methodology, found mainly in the author's literary mentioned in complementation to Lévi-Strauss. Such methodology made possible the analysis about the type of existent relationship between the formal objective structures declared by the studied organization and the practice experienced by employees. The results obtained in field research were organized from the genesis and concepts structure of the, habitus and its constituents. These aspects led to the conclusion that the dynamic identified is strongly sustained by the incongruity between the organizational speech and daily effective practices in use. This is maintained by internal disputes over power positions what means to hold or perform activities directly related to industrial production. Such disputes have as the main players, former employees against the new ones, and those who have jobs linked directly to the manufacturing operation against those who have not. The symbolic violence emerges in the form of favoring those who have a special network of internal relations, mainly related to family relationship. The rituals of recognition restricted to only some of the employees, encourage them to increasingly participate in the game, structuring the agent who is also the structuring, making them puppets of themselves. The understanding of the mentioned dynamics, on one side first suggested on how successful the PAB has persisted over the years, and by the other side it open space for the possibility to social changes and innovation from the detachment between the habitus and social field discussed, representing a fruitful environment for relationships transformation what makes the main importance of such work.
Lista de Ilustrações
Figura 1 Localização de empreendimentos minero-metalúrgicos instalados na Amazônia Oriental ...
25
Figura 2 Legenda da figura 1 ... 26
Figura 3 Organograma funcional da PAB ... 29
Figura 4 Modelo de Gestão da PAB ... 33
Figura 5 Mapa estratégico da PAB ... 36
Figura 6 Sistema de monitoramento da estratégia ... 37
Figura 7 Sistema de padronização ... 37
Figura 8 Níveis de documentação ... 38
Figura 9 DED – Deliberação da Diretoria no SISPAD ... 39
Figura 10 PGS – Padrão Gerencial de Sistema ... 39
Figura 11 PRA – Procedimento Administrativo ... 40
Figura 12 PRO – Procedimento Operacional ... 40
Quadro 13 Modelo heurístico do estruturalismo ... 77
Quadro 14 Primeiro nível de tabulação de dados da pesquisa ... 84
Quadro 15 Último nível de tabulação de dados da pesquisa ... 90
Quadro 16 Discursos-síntese do sujeito coletivo ... 90
Figura 17 Esquema de interpretação dos dados ... 97
Figura 18 Perspectiva Processo do Mapa Estratégico ... 123
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 12
CAPÍTULO I: AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA E A MINERAÇÃO INDUSTRIAL: Uma breve contextualização ... 20 1.1 O universo da empresa PAB: A vertente formal do campo organizacional estruturado objetivamente ... 27 1.1.1 Localização ... 27
1.1.2 O produto ... 28
1.1.3 Perfil operacional e governança corporativa ... 28
1.1.4 Produção e crescimento ... 30
1.1.5 Código de ética e responsabilidade social corporativa ... 31
1.1.6 Política e modelo de gestão ... 32
1.1.7 Sistema de normatização e certificação – SISPAD (Sistema de Padronização) ... 37 CAPÍTULO II: UMA BREVE APROXIMAÇÃO ÀS BASES EPISTEMOLÓGICAS DO ESTRUTURALISMO: o filosofar sem sujeito 42 2.1 O estruturalismo e seus principais conceitos ... 42
2.2 O estruturalismo de Claude Lévi Strauss ... 47
2.3 O estruturalismo de Pierre Bourdieu ... 53
2.3.1 O espaço social, a estrutura social, o agente e a dinâmica de reprodução social ... 58 2.3.2 O campo e seus constituintes ... 62
2.3.3 O habitus e seus constituintes ... 67 2.3.3.1 A dinâmica subjetiva dos valores: o perceber, julgar e valorizar do habitus ...
70
práxis de investigação
3.1 Sobre a teoria do método estruturalista de pesquisa ... 75
3.2 Sobre a práxis da investigação: tipo de pesquisa, universo e amostra, coleta e tratamento dos dados ... 79 3.3 Sobre as limitações do método ... 93
CAPÍTULO IV: RESULTADOS OBTIDOS NO CAMPO: retornando ao agente ... 95 4.1 O esquema de interpretação dos dados ... 96
4.2 Matriz estrutural de valores praticados pelos empregados da PAB ... 98
4.3 Gênese e estrutura do campo da PAB ... 100
4.4 Gênese e estrutura do habitus da PAB ... 124
4.4.1 O perceber-pensar-julgar: sobre o Eidos ... 125
4.4.2 O sentir: sobre a Ethos ... 128
4.4.3 O agir: sobre a Hexis ... 130
CAPÍTULO V: CONCLUSÕES ... 135
CAPÍTULO VI: CONSIDERAÇÕES DO AUTOR ... 142
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 146
APÊNDICE ... 152
Apêndice A: Roteiro de entrevista ... 152
ANEXOS ... 153
Anexo 1: DED 002 – Delegação de Poderes ... 153
Anexo 2: PRA A-406 – Promoções, progressões e méritos ... 158
Anexo 3: PRA-A-405(01) – Recrutamento e seleção ... 161
Anexo 6: PRA-D-001(10) – Recepção e atendimento de demandas da comunicação ...
176
Anexo 7: PRA-D-002(06) – Edição de veículos periódicos de comunicação ... 179
Anexo 8: RES-008(02) – Administração de pessoal ... 182
Anexo 9: PGS-10(09) – Ação corretiva e ação preventiva ... 190
Anexo 10: PGS-05(04) – Recursos humanos ... 192
Anexo 11: PRA-A-400(05) – Plano de educação corporativa ... 193
Anexo 12: PRA-A-401(05) – Treinamento de empregados recém admitidos ... 196
Anexo 13: PRA-A-402(05) – Realização e avaliação de treinamentos ... 197
Anexo 14: PRA-A-407(03) – Treinamento no Trabalho – OJT ... 201
Anexo 15: RES-031(00) – Treinamento ... 203
Anexo 16: PRO-B.00.00.006(00) – Abertura manual de válvula angular ... 208
INTRODUÇÃO
O universo dos negócios está permeado por incertezas, a discussão sobre os mercados emergentes divide espaço nos meios de comunicação em massa com as questões sobre a recuperação econômica mundial após a crise, e também com os impasses sobre o aquecimento global relacionado com o futuro da humanidade.
O mercado de mineração não está alheio a esse contexto, pelo contrário, tem demonstrado nos últimos quatro anos um crescimento até então sustentado, porém de acordo com Vale (2007) o atual debate refere-se à dúvida com relação à manutenção desse o ciclo de alta de preços.
Se por um lado trata-se de um ciclo permeado por mudanças estruturais, como a industrialização e urbanização na Ásia que deverão favorecer um período de grande expansão e lucratividade para o setor mineral; por outro questiona-se o desempenho da economia mundial globalizada, tendo em vista a instabilidade gerada pelo desequilíbrio da economia norte-americana e os desdobramentos ocorridos em escala global. Além disso, discutisse uma possível desaceleração da industrialização chinesa advinda de uma possível intervenção governamental com o objetivo de moderar o seu crescimento doméstico. Todos esses aspectos sugeririam uma forte queda nos preços dos metais (VALE, 2007).
Outros aspectos também impactam na questão da estabilidade do mercado de mineração, como o aumento do preço da energia; a desvalorização do dólar frente às moedas de alguns países que poderiam reduzir a rentabilidade de operações e investimentos; a escassez física de insumos e bens de capital ao longo da cadeia de suprimentos que acarretariam o aumento dos custos operacionais; e por fim a escassez de mão-de-obra especializada.
Os estudos1 sobre o assunto afirmam que a carteira brasileira de projetos mínero-industriais é auspiciosa, ressaltando que a maioria deles está focada no mercado internacional e não depende do crescimento do mercado interno. Além disso, a maior concentração de campanhas exploratórias no Brasil está localizada no Pará, principalmente na região da Amazônia Oriental.
longo dos anos esses empreendimentos foram se adaptando às novas conjunturas econômicas, políticas e sociais.
A PAB2, objeto de estudo da presente dissertação, faz parte deste mercado de mineração e como tal sofre pressões que vão além das tradicionais e esperadas pelas oscilações econômicas mundiais, ela se faz presente em discussões nacionais e internacionais em decorrência, principalmente, do contexto composto pela confluência da natureza de seu negócio (mineração) com sua localização, tendo em vista a importância que hoje a preservação dos ecossistemas possui no âmbito global.
Como se as pressões externas não fossem suficientes, também há o contexto interno da própria empresa, ou seja, sua principal característica é seu crescimento vertiginoso em um período curto de tempo. Esse tipo de crescimento implica em uma absorção rápida de mão-de-obra que tem que se adaptar ao ambiente industrial e às políticas e procedimentos da empresa, impactando o menos possível no desempenho operacional e alcançando as metas acordadas com os acionistas.
Assim, a PAB tem como principal desafio persistir no tempo e por que não superar as turbulências conquistando novas posições no mercado. Porém, persistir pressupõe não apenas sobreviver, mas permanecer firme ou constante ao longo tempo, assim para uma organização isso significaria manter o seu modus operandi, ou seja, aquilo que faz com que a sua “essência” continue preservada.
Essa manutenção do status quo, não acontece ao acaso, o que lhe dá sustentabilidade é a chamada dinâmica de reprodução social, que pode variar dependendo da organização e da abordagem do referencial teórico sobre o assunto.
De maneira geral, a dinâmica citada é constituída de mecanismos3 de relações de poder e dominação social associadas a estratégias de manutenção da ordem de uma determinada sociedade, sendo esses mecanismos responsáveis pela transmissão e aquisição de normas e valores de geração em geração. A orientação desta dissertação parte do pressuposto que é isso o que faz com que a sociedade persista no tempo.
O ponto de partida para a compreensão do que significa “persistir” para a PAB é o mergulho na realidade desse espaço social, a fim de conhecer e entender as estruturas
2 PAB é o nome fictício dado à empresa pesquisada para preservar sua identidade. A partir deste momento denominarei a referida organização somente pelo nome “PAB”.
subjacentes ao que poderia se considerar óbvio, e ir além do que o olhar pode visivelmente enxergar.
É necessário identificar quem compõe esse campo estruturado de forças diversas, que contém as vivências trazidas por cada empregado, os interesses dos dirigentes, as diretrizes formais e racionais claramente declaradas, quais as fontes de poder, e por fim como as relações se dão, se constroem e se articulam, ou seja, é fundamental “ler” a prática, o real à luz de uma teoria que possa dar suporte à compreensão desse universo.
O presente trabalho se propõe à busca de possíveis respostas ao seguinte questionamento: Como é a dinâmica de reprodução da ordem social operante na empresa PAB, à luz da teoria de Pierre Bourdieu? Responder a essa questão é, então, o objetivo final dessa pesquisa.
A abordagem teórica escolhida para suportar e promover uma discussão profunda e substancial foi o estruturalismo, que teve a contribuição dos conceitos do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, sendo esses utilizados principalmente como metodologia da pesquisa, complementada pelo arcabouço teórico de Pierre Bourdieu.
Pierre Bourdieu e seu estruturalismo-construtivista, embora sendo de grande complexidade, foram escolhidos de maneira ousada, para dar vazão à leitura da práxis, mesmo porque sua teoria permite ao agente, ir além do seu papel como reprodutor dos mecanismos sociais vigentes. A perspectiva adotada é capaz, até determinado ponto, de fazer com que o agente possa participar e promover a transformação social, o que possibilitaria o equilíbrio entre o presente e futuro de maneira evolutiva.
Este trabalho é constituído da seguinte maneira:
O capítulo I diz respeito ao contexto no qual a empresa pesquisada está inserida, ou seja, é uma breve caracterização dos Grandes Projetos de mineração industrial localizados na Amazônia Oriental Brasileira. Logo a seguir, tratarei da caracterização da PAB – a empresa pesquisada – assim, descreve seu ambiente interno, já sendo esta parafraseada com a teoria de Bourdieu, como um vertente formal do campo estruturado objetivamente.
referido capítulo é dedicado ao aprofundamento no estruturalismo-construtivista de Pierre-Bourdieu.
O capítulo III aborda o construto teórico do método estruturalista de pesquisa e sua aplicação na prática, discorrendo sobre o percurso investigatório de coleta de dados, fazendo uso do modelo heurístico do estruturalismo de base lévi-strausseano para realizar o tratamento dos dados coletados. Esse capítulo se conclui com a discussão sobre as limitações do método de investigação adotado.
O capítulo IV realiza a interpretação dos dados obtidos na pesquisa de campo à luz da teoria de Pierre Bourdieu, e assim retornando ao agente no contexto da pesquisa em contraposição da filosofia sem sujeito de Lévi-Strauss.
Finalizando, estão as considerações finais, retomando o objetivo do trabalho e teço também as considerações da pesquisadora, momento referente ao percurso realizado na construção da dissertação.
Tendo esclarecido como a pesquisa está organizada, vale ressaltar os objetivos intermediários.
Objetivos Intermediários
O composto de objetivos intermediários funcionou como elementos norteadores no alcance do objetivo final da pesquisa científica, sendo eles:
• Caracterizar o ambiente externo da empresa PAB a partir dos Grandes Projetos de mineração localizados na Amazônia Oriental Brasileira;
• Caracterizar o ambiente interno da empresa PAB, a partir do seu produto, do perfil operacional e governança corporativa, da sua produção e crescimento, do código de ética e responsabilidade social corporativa, das suas políticas e modelo de gestão; e também abordando o seu sistema de normatização e certificação;
• Delinear os principais pressupostos teóricos sobre as bases epistemológicas do estruturalismo;
• Discorrer brevemente sobre os construtos teóricos do estruturalismo de Lévi-Strauss e buscar uma aproximação mais profunda nos de Pierre Bourdieu;
• Descrever a dinâmica interna dos mecanismos de reprodução social da PAB à luz da teoria de Pierre Bourdieu.
Delimitação do estudo
Ainda que a empresa PAB esteja inserida em um contexto ambiental muito específico e importante dentro da região amazônica e esta pesquisa ter tocado, superficialmente neste aspecto, quando trata dos Grandes Projetos de Mineração da Amazônia no referencial teórico, é necessário esclarecer de antemão que isso não significa que a pesquisa entrará em detalhes ou utilizará tais informações como fonte de discussão de resultados da investigação.
Isso não significa que se desconsidere a relevância desta espécie de discussão, porém ela não faz parte do escopo específico das análises deste trabalho. Tal parte da caracterização da PAB teve o objetivo de contribuir teoricamente para a compreensão do contexto histórico e cultural das origens da organização e, principalmente, pelo fato dela estar localizada em uma região geográfica amplamente discutida atualmente em âmbitos nacionais e internacionais.
Assim, a pesquisa está focalizada no ambiente interno da empresa, ou seja, nas estruturas formais (vertente formal do campo) descritas na caracterização da PAB, que nortearam a investigação de campo, limitado aos conteúdos tratados nas entrevistas.
Esses limites de escopo se fazem necessários em decorrência da complexidade de conteúdos advindos de um vertente formal do campo constituído tanto por uma estrutura técnica e formal quanto por profissionais que atuam em áreas diversificadas.
Durante o desenvolvimento do percurso teórico utilizado, o estruturalismo, será aplicado tanto como fonte de referência, quanto como metodologia da pesquisa. Assim será realizada uma breve aproximação à origem e conceitos básicos do estruturalismo, como forma basilar de desenvolvimento dos demais capítulos.
É importante salientar que ao questionar sobre os mecanismos de reprodução social da PAB, não se excluem os outros elementos que compõem a constituição do campo e do
habitus, uma vez que ambos fazem parte da teoria de Bourdieu, que foi adotada neste
trabalho.
Sendo a PAB constituída por diversos públicos, optou-se por concentrar a pesquisa no grupo de empregados que estivessem acessíveis, até que a amostra fosse saturada em termos de respostas, independentemente do nível de escolaridade, natureza da área e tempo de empresa. Estão excluídos os prestadores de serviços que apesar de atuarem dentro das instalações físicas da empresa, não são empregados registrados e efetivos.
Relevância do estudo
Tratar sobre relações humanas no trabalho não é em absoluto original, pelo contrário, é um assunto que há tempos é discutido com profundidades e abordagens variadas. Esse não é o enfoque que se pretende diretamente esta investigação, mesmo estando de alguma maneira relacionada ao questionamento principal, uma vez que discorrer sobre a dinâmica de reprodução social baseada na teoria estruturalista-construtivista, inclui os aspectos dos agentes e seus modos de vida dentro da organização, conforme será mais amplamente discutido no capítulo II.
Dessa forma, é possível perceber através de diversas manifestações que vão desde premiações e certificações específicas a crescente valorização dos aspectos comportamentais e suas influências nos negócios, por parte das empresas. E esse é o primeiro ponto relevante dessa produção científica, a partir do momento em que se pretende, com a realização da pesquisa, identificar o real funcionamento em termos comportamentais da empresa PAB, proporcionar uma reflexão sobre o que é declarado e o que se é praticado pelos sujeitos da investigação.
posicionar diante da condução do negócio e também como os empregados devem ser tratados dentro do ambiente de trabalho. Porém são poucas as produções que possibilitam um olhar que aproxime o universo relacional dos dirigentes representados pelas estruturas formais (vertente formal do campo) da PAB com o dos empregados.
Essa visão relacional que se diferencia da lógica da soma de elementos que constituem os sistemas, proposta pela teoria de Bourdieu no qual a dinâmica do campo e do
habitus proporciona o entendimento dos mecanismos das relações de poder e dominação
social demonstrada através da identificação das estratégias de manutenção da ordem social, permite visualizar a cultura organizacional e também o que efetivamente mantém a empresa no estado atual de desempenho, representado no posicionamento de liderança no mercado.
Essa compreensão, esse “vir à tona” do funcionamento da PAB por um lado pode favorecer a própria empresa no que diz respeito a melhorias no seu processo de gestão, e por outro lado, para adoção de medidas que possibilitem algum tipo de mudança ou inovação nos padrões praticados no ambiente de trabalho.
Isso porque, atualmente tão comum quanto à declaração formal da missão, visão e valores organizacionais são os códigos de ética e de conduta moral dentro das empresas. Todos esses elementos compõem a forma de reproduzir padrões de comportamentos esperados dentro da organização. Padrões estes que são entendidos como maneiras ideais para se alcançarem metas, obterem o sucesso e auxiliarem no monitoramento e na contribuição da perpetuidade das empresas no mercado.
O alcance do sucesso organizacional possivelmente será viável em sua plenitude no momento em que as posturas adotadas no dia a dia e nas diversas tomadas de decisões por parte dos empregados representarem o conteúdo declarado nas estruturas formais (vertente formal do campo) da empresa, que normalmente são desenvolvidas com tal finalidade, o que parece difícil de ocorrer, já que há sempre um descompasso inerente à relação entre o ideal e o real.
O viés empresarial faz parte de uma determinada instância de interesses, o presente trabalho pode contribuir para esses interesses, buscando para tal a construção de um ambiente de trabalho pautado nos valores organizacionais e na valorização da diversidade, da criatividade e na realização pessoal dos empregados através da sua efetiva participação nas decisões.
Porém, para que isso possa ocorrer, faz se necessário o conhecimento dessa dinâmica por parte dos que fazem parte desta, ou seja, dar a oportunidade aos agentes de através da consciência, promoverem uma possível transformação social.
Atualmente, a empresa está desenvolvendo o planejamento estratégico e consolidando a visão, missão e valores organizacionais. Logo, entende-se que o estudo em questão pode contribuir para a análise do nível de incorporação e significância dos mesmos para o grupo de empregados, além de nortear ações futuras com relação a melhorias nos sistemas de comunicação ou promover sugestões no próprio modelo atual de gestão da empresa.
Além disso, a análise desenvolvida através da vivência de um grupo heterogêneo de empregados poderá contribuir para um entendimento profundo com relação ao próprio sistema de valores que a organização gostaria de ter, levando-se em conta sua localização geográfica e a cultura na qual está inserida, o que poderia auxiliar na melhoria das relações com a sociedade e com o Estado o qual pertence.
Um outro ponto relevante desse trabalho é a análise efetiva sobre a maneira como o funcionamento se perpetua, por meio de uma proposta de reflexão que envolve a lógica do “influenciado que influencia”, ou seja, do empregado que é fruto dos processos de socialização, mas que por outro lado contribui para o fortalecimento da mesma, seja de maneira consciente ou inconsciente, por força do hábito ou por participar de algum jogo de interesse.
Assim sendo, talvez essa produção científica possa contribuir para a construção de novos universos investigativos, e dessa forma vale citar Bourdieu (1989, p.64):
comentário des-realizante do leitor, metadiscurso ineficaz e esterilizante”.
Neste sentido, a proposta que faço ao leitor é mergulhar neste universo institucional repleto de congruências e incongruências, rico pelas pessoas que o compõem e que fazem da empresa, em seu dia a dia um espaço de construção e de reconstrução de si próprios.
CAPÍTULO I - AMAZÔNIA ORIENTAL BRASILEIRA E A MINERAÇÃO INDUSTRIAL: Uma breve contextualização
Estado para construir uma nova área de exploração econômica privilegiada, utilizando-se dos abundantes recursos naturais do local (SILVA et al, 1997).
O presente trabalho trata de um empreendimento da área de mineração estabelecido na região da Amazônia Oriental Brasileira, e a consideração exclusiva de seu ambiente interno como escopo de caracterização, poderia representar uma lacuna do trabalho às vistas de muitos pesquisadores e estudiosos das práticas de desenvolvimento regional e das teorias organizacionais.
Isso porque a região mencionada insere-se em um contexto de polêmica e vigorosa discussão de âmbitos internacionais com relação aos empreendimentos constituídos, especialmente a partir dos anos 70 do século XX que teve como objetivo inicial o estabelecimento do desenvolvimento local como estratégia militar e que atualmente alcançou debates diferenciados que envolvem inclusive a subsistência do planeta.
Quando se pensa em uma atividade que visa à exploração de recursos naturais, apenas esta condição já seria suficiente para despertar o interesse em dimensionar o impacto de tal atividade sob a região que a receberá, uma vez que o cenário mundial discute, atualmente, as intervenções ambientais e ecológicas que as implantações dos projetos não apenas industriais, mas também agrícolas ocasionam; imagina-se então, com relação aos projetos localizados na região amazônica.
No entanto, essa preocupação faz parte de uma realidade recente, tendo em vista que na época da implantação dos grandes projetos na Amazônia, o governo brasileiro foi bastante complacente com os impactos ambientais e sociais que esses empreendimentos provocaram na região (PINTO, 1985), uma vez que os lucros se sobrepunham às conseqüências de qualquer ordem.
Assim, tratar do contexto no qual a empresa PAB está inserida, possibilita ampliar a visão sobre a realidade tratada na pesquisa desenvolvida nesta dissertação, por meio da compreensão da origem desta realidade dos grandes projetos na região amazônica, uma vez que é fruto de uma construção histórica, econômica e política.
O desenvolvimento da região da Amazônia Oriental Brasileira retrata este ponto de vista e a sua expansão por meio das atividades de extração e transformação industrial de minerais acabou se transformando em um de seus maiores ícones.
Dessa forma, fez-se a opção de se discorrer brevemente sobre a história do processo de industrialização mineral na região da Amazônia Oriental, como forma de contextualizar o ambiente no qual a empresa está inserida e, posteriormente, seguir com a caracterização mais detalhada do campo de pesquisa.
De acordo com Monteiro (2006) foi com o fim da ditadura de Getúlio Vargas e a nova Constituição promulgada em 1946 que foram reorientadas as relações entre o Estado e a economia, inspirada em princípios do liberalismo econômico que acabou por favorecer o início da exploração das reservas de minério de manganês da Serra do Navio (Amapá) pela Indústria e Comércio de Minérios S.A.(ICOMI).
A ICOMI em 1950 associou-se à Bethlehem Steel , que na época era a segunda maior corporação norte-americana produtora de aço (CHANDLER, 1998), e juntas realizaram o primeiro embarque de minério.
A hegemonia da Icomi permaneceu por cerca de duas décadas, até que em decorrência das novas políticas impostas pelo golpe militar de 1964, com o foco na questão da segurança nacional, entendeu que estrategicamente a região da Amazônia deveria ser “ocupada”, promovendo, então, o estabelecimento de uma série de incentivos fiscais e de créditos que favoreceram a implantação de novas empresas mínero-metalúrgicas.
Em 1974, o Governo Federal criou o Polamazônia, constituído entre outros, por Carajás, Trombetas e Amapá (MONTEIRO, 2006).
No pólo Amapá, o enfoque foi a implantação de uma usina de pelotização4 e também a primeira empresa de extração industrial de caulim na Amazônia, a Cadam (Caulim da Amazônia), que teve parte de seus investimentos advindos do milionário norte-americano Daniel Ludwig na área da Jari Florestal.
O pólo de Trombetas viabilizou o cenário de extração e comercialização da bauxita metalúrgica no município de Oriximiná, pela canadense Aluminium Limited of Canada (ALCAN), e que recebeu o nome de Mineração Rio do Norte (MRN). Sua história contém
a passagem do controle acionário da ALCAN para a antiga CVRD (Companhia Vale do Rio Doce), hoje chamada de VALE, nesse momento representando o governo e consolidando a continuidade do empreendimento em questão.
Em 1978, com a franca expansão das atividades da MRN, o Governo Federal incentivou as negociações entre a CVRD e empresas japonesas na criação de uma joint
venture5 com a finalidade de dar continuidade à cadeia produtiva do alumínio. Em 1985,
surge a ALBRAS (Alumínio Brasileiro S.A.) para a produção do alumínio e a PAB (PAB S.A.), em 1995, destinada à produção da alumina.
Essas iniciativas fizeram parte do PGC – Programa Grande Carajás, que de acordo com Monteiro (2006), foi um programa criado em 1980 pelo Governo Federal com o objetivo de facilitar a instalação e o início da operação dos projetos mínero-metalúrgicos. Esses compreendiam, além dos projetos citados acima, também o de Ferro Carajás, a ALUMAR (Alumínio do Maranhão S.A.) e a Usina de Tucuruí, como forma de concentrar os recursos estatais e os oriundos de incentivos fiscais e de créditos.
Sobre o pólo de Carajás, que foi instalado no município de Parauapebas, é importante citar que foi montada uma gigantesca estrutura na Serra dos Carajás. Nesse período, outro investimento na mesma região que ganhou viabilidade econômica foi a exploração de jazidas de manganês em Igarapé do Azul.
No final da década de 1980, o cenário político no Brasil novamente é alterado com a promulgação da Constituição de 1988 e, com isso, transformam-se também as relações entre Estados e União. O maior impacto foi com relação ao fim da interferência direta na orientação, centralização e determinação por parte do Governo nos investimentos privados da região Amazônica, retratada principalmente pelo fim do Programa Grande Carajás.
Vale destacar que a desvalorização das políticas públicas de mineração não implicou na extinção das políticas de renúncia fiscal ou de financiamentos advindos de fundos públicos que foram em outro momento destinados a elas.
Além do contexto citado, as empresas mineradoras também foram afetadas pela grande elevação do preço do ouro, surgindo daí um conflito com os garimpeiros.
Esse novo segmento de mineração, o do ouro, fortificou-se tendo como seus principais representantes a Mineração Novo Astro (MNA), a Mineração Yukio Yoshidome S.A. , a Mineração Água Boa, e na década de 1990, a produção industrial de ouro passou a ser regionalmente incrementada pela exploração das minas do Igarapé Bahia pela CVRD (MONTEIRO, 2006).
Instala-se um novo contexto político e, novamente, o ramo da mineração é influenciado por ele. Com as eleições de Fernando Collor e, mais tarde, com o governo de Fernando Henrique Cardoso, alterações consideráveis são promovidas, como a diminuição das barreiras alfandegárias, a simplificação da tributação incidente sobre exportações, as privatizações de empresas estatais e, principalmente, a implementação de melhorias para a população com maior rigor na legislação ambiental.
O entendimento por parte do Governo Federal com respeito à questão do desenvolvimento regional deixa de se basear na modernização da região via pólos de desenvolvimento, e passa a fundamentá-lo no estabelecimento de eixos estruturadores de integração nacional e internacional, ou seja, o enfoque das mínero-metalurgias deveria ser na geração de cadeias de integração produtiva, através do estabelecimento de vias de transporte de longas distâncias, o que não ocorria e tão pouco ocorre de modo adequado ainda hoje (Brasil, 1997b, p.17).
Outra mudança relevante foi a liberação do domínio acionário das empresas de mineração por acionistas estrangeiros, até então proibida. Isso fez com que de imediato algumas empresas fossem adquiridas e outras instaladas na região, como a Rio Capim Caulim SA, comprada pela francesa Imerys e a Pará Pigmentos S.A.
Atualmente, a política vigente com relação ao desenvolvimento regional indica que um dos principais objetivos é justamente “explorar, com afinco, os potenciais endógenos da magnificamente diversa base regional de desenvolvimento, em conformidade com os fundamentos sociais atuais de uma produção mais diversificada e sofisticada, mais portadora de valores sociais regionalmente constituídos” (Brasil, 2003ª, p.12).
políticas públicas em modelos de modernização que privilegiam setores particulares e reforçam a concentração das condições favoráveis à expansão econômica em pontos ou eixos do território, em termos presentes unicamente com o uso dos recursos naturais da região e não com o estabelecimento de políticas mais abrangentes e consistentes.
Figura 1: Localização de empreendimentos minero-metalúrgicos instalados na Amazônia Oriental.
Fonte: MONTEIRO, Maurílio de Abreu. “Meio século de mineração industrial na Amazônia e suas implicações para o desenvolvimento regional”. Estudos Avançados, v.8, n.53, p. 187-207, 2005.
Fonte: MONTEIRO, Maurílio de Abreu. “Meio século de mineração industrial na Amazônia e suas implicações para o desenvolvimento regional”. Estudos Avançados, v.8, n.53, p. 187-207, 2005.
Após essa breve explanação sobre a evolução histórica, política e econômica dos projetos de mineração no território da Amazônia, haverá um aprofundamento e um detalhamento do campo de pesquisa, ou seja, um dos projetos acima mencionados que por não poder ser identificado foi nomeado como PAB, mas que foi amplamente caracterizado com a finalidade de fornecer subsídios para o desenvolvimento e compreensão da pesquisa por parte dos leitores.
1.1 - O universo da Empresa PAB: a vertente formal do vertente formal do campo estruturado objetivamente
Esse capítulo tem como objetivo descrever os aspectos formais da organização que para Schein (1990) são denominados como artefatos visíveis da cultura, ou seja, tudo o que está exposto e que é cobrado, aquilo que deve ser seguido e que de alguma maneira tenta eliminar qualquer tipo de subjetividade e individualidade. É o estabelecimento de padrões e a socialização dos empregados em prol das metas e desafios do negócio. É o que forma e dá a forma, é o que tenta eliminar o diferente e valorizar o que é igual. É o que tenta controlar, moldar, determinar.
O vertente formal do campo, à luz da teoria de Bourdieu6 (1984) é representado por uma estrutura objetiva, tendo esse um interesse que é fundamental, comum a todos os agentes. Esse interesse estaria ligado à própria existência do campo (sobrevivência), as diversas formas de capital, ou seja, aos recursos úteis na determinação e na reprodução das posições sociais.
Assim, cabe nesse momento conhecer melhor o vertente formal do campo da PAB.
1.1.1- Localização
A região amazônica abriga a maior refinaria de minério em segmento do planeta: a PAB. Idealizada para integrar o ciclo da produção de alumínio no Estado do Pará, região Norte do Brasil, a refinaria tem capacidade produtiva de 6,3 milhões de toneladas/ano.
Segundo a política de gestão da PAB, ao aliar tecnologia, segurança e qualidade a iniciativas de proteção ambiental e desenvolvimento social, a empresa conseguiu alcançar, em apenas dez anos de operações, a condição de líder mundial na sua produção.
A PAB nasceu em 1978, através de um acordo entre os governos do Brasil e Japão. A operação iniciou após um período de paralisação das obras em função de uma crise no mercado que retardou a implantação do projeto.
A refinaria está instalada em um município, distante 40 km de Belém, capital do Estado do Pará. Trata-se de um local de logística estratégica para o escoamento da produção e o fornecimento de energia elétrica, procedente da hidrelétrica de Tucuruí. Uma completa infra-estrutura está associada ao empreendimento, incluindo uma cidade construída para abrigar os trabalhadores envolvidos no projeto e seus familiares. O município ganhou a construção do Porto, localizado próximo à fábrica, por onde é escoada a sua produção.
1.1.2 - O produto
O produto da PAB advém do refinamento do minério bauxita que é a matéria-prima para a produção do alumínio primário. Na sua forma hidratada é usada para inúmeros produtos, como detergentes de limpeza, produtos para o tratamento da água, carpetes e cortinas, além de materiais ópticos.
A atuação da empresa em direção a uma gestão sustentável7 da produção é realizada de maneira efetiva, tanto no desenvolvimento quanto no fortalecimento das ações empreendidas em cada uma delas.
1.1.3 - Perfil Operacional e Governança Corporativa
A PAB é uma sociedade anônima de capital fechado, cuja propriedade está dividida entre a sua controladora que é brasileira; a norueguesa, e outros sócios minoritários.
Sua estrutura atual é composta por aproximadamente 3,2 mil empregados (entre próprios e contratados), distribuídos em diferentes funções. Somente o projeto de expansão 3 da PAB contou com mais de 7 mil contratados no “pico” das obras. A estrutura organizacional da empresa está ilustrada no organograma abaixo:
Assessoria de Desenvol. de Gestão
DIR. INDUSTRIAL
Ger. Implantação de Projetos GEIMP
Ger. Área Adm. / RH GEADM
Ger. Área Porto GEPOR DEDK
DIVISÃO DIGESTÃO COMPRAS
DIVISÃO SEG. TRAB. MEIO
AMBIENTE
Ger. Área Vermelha GEVER
Ger. Área Branca GEBAN
Ger. Área Utilidades GETIL
Ger. Área Técnica GETEC
Ger. Área Manutenção GEMAN DIVISÃO PROCESSO COORDENAÇÃO SERV. INDUST. DIVISÃO DES. PESSOAS DIVISÃO LABOR. /
QUALIDADE DIVISÃO PRECIPITAÇÃO DIVISÃO DESAGUAMENTO DIVISÃO AUTOMAÇÃO E OFIC.
ELETRICA COORDENAÇÃO
SERV. INDUST. DIVISÃO
MANUTENÇÃO
DIVISÃO PLANEJ. / MANUTENÇÃO DIVISÃO FILTRAÇÃO COORDENAÇÃO RESP. SOCIAL COORDENAÇÃO MANUTENÇÃO DIVISÃO RELAÇÕES TRABALHISTAS DIVISÃO AGUAS E
EFLUENTES COORDENAÇÃO ALMOXARIFADO DIVISÃO MANUT. OFICINAS COORDENAÇÃO OPERAÇÃO DIVISÃO COMUNICAÇÃO DIVISÃO INFRA-ESTRUT. ADM DIVISÃO CALCINAÇÃO COORDENAÇÃO SERV. INDUST. DIVISÃO MANUTENÇÃO COORDENAÇÃO PROC. / PCP DIVISÃO
MANUTENÇÃO
Figura 3: Organograma funcional da PAB.
O quadro de empregados da empresa é composto por diretores, gerentes de área, gerentes de divisão, coordenadores, gerentes operacionais, cargos de apoio (engenheiros, analistas, assistentes, secretárias, especialistas e técnicos) e cargos de base (operadores e mantenedores).
A comercialização do produto é uma atividade realizada pelos acionistas da empresa na proporção correspondente à participação de cada um na sociedade, cada qual com seus próprios critérios de comercialização.
1.1.4 - Produção e crescimento
• 1995 - A PAB entra em operação com 450 profissionais e recebe o primeiro carregamento de bauxita.
• 1997 - Produção de 1.186.301 toneladas, marca que superou a capacidade produtiva nominal das instalações de 1,1 milhão de toneladas.
• 1998 - Certificação da ISO 9001 (Gestão da Qualidade).
• 1999 - Em novembro, o Conselho de Acionistas aprova o projeto de Expansão 1, com a construção da terceira linha de produção.
• 2000 - Projeto Firm Up: aumento da capacidade instalada de 1, 1 para 1,6 milhões de toneladas. O projeto teve um investimento de US$ 10 milhões e permitiu uma melhor utilização dos ativos, um aumento da produtividade e uma melhoria dos equipamentos e processos.
• 2001 - Planejamento e início da implantação da Expansão 1, com um investimento de US$ 264 milhões.
• 2002 - Em dezembro, o Conselho de Acionistas aprova o projeto da Expansão 2, para a construção da quarta e quinta linhas de produção.
• 2003 - Com a conclusão da Expansão 1 a PAB passa a produzir 2,5 milhões de toneladas por ano.
• 2005 - Sete mil empregados de 30 empresas contratadas impulsionam a Expansão 2 dentro da PAB. Em dezembro, o Conselho de Acionistas aprova o projeto da Expansão 3, que elevaria a produção para 6,3 milhões de toneladas por ano.
• 2006 - A PAB torna-se líder na produção mundial. Após a finalização da expansão 2, que consumiu US$ 768 milhões, a capacidade de produção passa para 4,4 milhões de toneladas por ano. Começam as obras da Expansão 3.
• 2007 - Partida da Estação de Desaguamento de Bauxita, que transporta a matéria-prima da mineração Bauxita de Paragominas, através de mineroduto.
• 2008 - Conclusão da Expansão 3, um investimento de US$ 846 milhões voltados para ampliar a capacidade produtiva para 6,3 milhões de toneladas beneficiadas anualmente.
1.1.5 - Código de Ética e Responsabilidade Social Corporativa
Segundo os registros institucionais da empresa, a PAB tem os seus negócios orientados por um conjunto de valores declarados, que observam os padrões éticos e morais. A utilização destes e a observação das normas legais em vigor, no exercício das atividades devem garantir a credibilidade da empresa junto ao mercado de capitais e aos mercados em que atua regularmente. A imagem positiva da empresa é um patrimônio de seus acionistas, empregados e administradores. Os princípios fundamentais que regem a atuação da PAB são:
• Agir com responsabilidade social e com respeito ao meio ambiente;
• Atuar com responsabilidade corporativa entre seus acionistas e demais investidores;
• Respeitar e valorizar seus empregados, administradores e a sociedade em geral;
• Conduzir seus negócios atendendo às determinações legais que dizem respeito às atividades da empresa;
O Código de Ética trata do conjunto das atividades e ações da empresa, estabelecendo diretrizes e normas para relações no trabalho, com clientes e fornecedores; relacionamento com órgãos governamentais e comunidades; relacionamento com os acionistas e o mercado de capitais; conflitos de interesses; informações confidenciais; conduta pessoal; patrimônio da empresa; responsabilidade social; meio ambiente; concorrência e divulgação de procedimentos.
Compete à Comissão de Ética o esclarecimento de dúvidas, a averiguação de denúncias de violações, a estipulação de penalidades disciplinares em caso de confirmação de violação e o aperfeiçoamento do referido código.
A PAB também possui a Norma de Conduta que complementa o Código de Ética, detalhando as bases éticas a serem consideradas na prática nos relacionamentos diretos ou indiretos para aquisição de bens e serviços para a PAB em todas as fases do processo. Seu objetivo é orientar os empregados e fornecedores sobre como proceder de modo transparente, isonômico e justo nos processos de contratação, tentando tornar claro ao público o que a empresa entende por conduta ética e auxiliando na definição de parâmetros de atuação.
1.1.6 - Política e Modelo de Gestão
A partir das informações mencionadas ao longo do referido capítulo pode-se identificar a existência de um período no qual a viabilidade da existência da PAB foi colocada a prova, ou seja, o acordo entre os acionistas iniciais foi realizado em 1978, enquanto que sua operação somente foi iniciada em 1995. Durante esse momento o mercado de alumínio não estava favorável a sua implantação e após muitas negociações e análises, definitivamente, optou-se pela aposta de que seria um negócio com bom retorno a um prazo maior do que o estimado.
foco na construção do futuro do negócio pautado no desenvolvimento sustentável, sendo este entendido como a revisão do modelo de gestão operante baseado no planejamento estratégico e na disseminação e internalização dos valores organizacionais por todos os níveis hierárquicos.
Para que pudesse atingir tais objetivos buscou no mercado a parceria de uma consultoria com expertise suficiente nas demandas citadas. A partir de então, em 2006 (dois anos após assumir a diretoria industrial), iniciou as atividades que continuam até o momento da realização do presente estudo.
Como parte integrante do modelo de gestão, foi identificada que a instância de cultura organizacional seria um dos aspectos mais importantes a serem trabalhados, pois para que se pudesse efetivamente promover a disseminação e internalização dos valores determinados e declarados formalmente pela Direção seria necessário de alguma maneira promover mudanças que absorvessem a fixação dos valores.
De acordo com Srour (1998) a cultura organizacional exprime a identidade da organização, captá-la significa resgatar os princípios, os valores e crenças que ordenam o universo simbólico da empresa. Porém, simbólico este que se transmuta para comportamentos; são vivências e práticas e como tal a cultura é aprendida, transmitida e partilhada. Também é o elo entre o presente e o passado, contribuindo para a permanência e coesão da organização.
Figura 4: Modelo de Gestão da PAB.
O modelo adotado tem em vista os desafios alcançados para buscar a sustentabilidade de suas atividades, assim a Direção da empresa considerou necessário rever suas diretrizes e firmar seu planejamento estratégico baseado em valores que representam o modus operandis de todos os seus empregados, norteando suas relações com as partes envolvidas no negócio.
Após a definição do modelo, a Diretoria optou pelo desdobramento de duas grandes ações, uma de ordem cultural que foi a definição da política constituída pela Visão, Missão e Valores Organizacionais e uma de escopo técnico que foi a concepção do Mapa Estratégico. Sendo que as duas se inter-relacionam a partir de um plano de ação que envolve em primeira instância os líderes da PAB.
negócio se encaixa na arquitetura corporativa mais ampla. A missão e seus respectivos valores são bastante estáveis no tempo.
Quanto à visão, os autores afirmam que essa pinta um quadro do futuro que ilumina sua trajetória e ajuda os indivíduos a compreender por que e como respaldar os esforços da organização.
Na prática, isso significou o envolvimento direto do grupo da alta direção da PAB na construção do mapa estratégico e o seu desdobramento aos demais níveis de líderes (gerentes de divisão, coordenadores e gerentes operacionais). Isso tudo suportado por vivências reflexivas ao longo de um ano com o mesmo público que permitiu um reposicionamento do papel do líder dentro do novo contexto, já permeado pelos valores.
• Visão: Estar entre as três melhores refinarias em seu segmento do mundo nos direcionadores de sustentabilidade do negócio.
• Missão: Produzir e fornecer seu produto por meio do uso sustentável dos recursos naturais, gerando consistentemente valor às partes interessadas.
Valores Organizacionais:
• Relações Confiáveis, Coerentes e Transparentes com Pessoas: Nossas relações
devem ser cultivadas com base no respeito, na sinceridade e no discurso condizente com a prática.
• Obsessão por Segurança & Meio Ambiente: A integridade das pessoas e a
convivência harmônica com o meio ambiente são prioridades absolutas em nossas atitudes e ações.
• Foco em Resultado: As ações de todos nós devem assegurar que os objetivos e
metas da empresa sejam atingidos.
• Fascinação por Conquistas: Ir além dos resultados alcançados, buscando
incessantemente a superação de desafios.
• Relacionamento Sustentável com Acionistas, Clientes, Fornecedores, Sindicatos,
Órgãos Públicos e Comunidades: Primamos pela construção de relações duradouras
• Respeito, Bem Estar e Desenvolvimento das Pessoas: As pessoas são o nosso maior
patrimônio. São elas que geram resultados, sustentam o negócio e transformam a realidade da empresa.
• Trabalho em Equipe e Decisões Compartilhadas: A união, coesão e as opiniões das
pessoas são imprescindíveis para a obtenção de melhores resultados e qualidade nas decisões.
No que tange aos valores organizacionais, Tamayo (1996) os define como princípios ou crenças, organizados hierarquicamente, relativos a estados de existência ou a modelos de comportamento desejáveis que orientassem a vida da empresa e estão a serviço de interesses individuais, coletivos ou mistos.
O autor ainda descreve a função dos valores, indicando que estes orientam a vida da empresa, guiam o comportamento dos seus membros, são determinantes da rotina diária, já que orientam a vida da pessoa e determinam a sua forma de pensar, de agir e de sentir, têm também a função de vincular as pessoas, de modo que elas permaneçam dento do sistema e executem as funções atribuídas.
Já para Macedo et al (2005), os valores organizacionais têm origem na interação social entre os membros das organizações, são decorrências das necessidades do trabalho a ser realizado para orientar suas relações internas e externas. Eles expressam a singularidade e a especificidade de cada organização, de acordo com a preferência dada a cada valor na composição de sua estrutura axiológica.
Segundo Hofstede (1980), os valores constituem o núcleo da cultura organizacional, o sistema de valores é responsável pela “programação mental”, pois constituem a centralidade da cultura, assim poderiam ser definidos como uma grande tendência nas organizações para preferir alcançar certos estados e objetivos em detrimento a outros. Concorda com Schwartz e Bilsky (1990) que a estrutura de valores dentro de uma relação bipolar com características de compatibilidade e conflito, que não ocorre harmoniosamente, mas mantém conflitos axiológicos, de forma a manter o status quo organizacional.
indivíduos e as normas e os valores são elementos integradores, no sentido de que são compartilhados por todos ou por boa parte dos membros de uma organização.
Para Srour (2000) a variedade dos valores existentes num dado ambiente é tal que a hierarquização e a articulação deles se tornam imperativas para a própria perpetuidade da organização.
Tal perpetuidade também esperava que fosse garantida através da estratégia que é representada por meio do mapa estratégico da empresa, que consolida todos os objetivos estratégicos e, a partir de então, cada um deles é desdobrado em iniciativas dando origem aos respectivos planos de ação. Dessa forma, assegurando o alinhamento e a integração dos processos e das pessoas a fim de se atingir a Visão.
Figura 5: Mapa estratégico da PAB.
De acordo com Kaplan e Norton (2000), o mapa estratégico explicita a hipótese da estratégia, constrói os alicerces do sistema gerencial, supera as limitações dos sistemas de mensuração exclusivamente financeiros e ajudam as organizações a ver suas estratégias de maneira coesiva, integrada e sistemática. O mapa descreve o processo de transformação de ativos intangíveis em resultados tangíveis para os cientes e, consequentemente, em resultados financeiros.
do planejamento estratégico como das mudanças na identidade organizacional por meio da introjeção dos valores declarados e do estilo dos líderes.
Para sistematizar o fluxo de informações entre a base e a liderança, foi criado o chamado Sistema de Reuniões, que se propõe a facilitar a comunicação, o alinhamento e a conectividade técnica e pessoal dos gestores com suas equipes, conforme descrito abaixo:
Figura 6: Sistema de monitoramento da estratégia.
Essas reuniões são formais, contém atas e estas ficam sob a tutela da assessoria de gestão como modo de acompanhamento de realização do calendário anual.
1.1.7 - Sistema de Normatização e Certificação – SISPAD (Sistema de Padronização)
Como forma de atingir um desempenho diferenciado no mercado em que atua, a empresa buscou o fortalecimento via sistema de certificações internacionais, conforme figura abaixo:
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• Diálogo Aberto
Figura 7: Sistema de padronização.
Assim, é possível compreender que todas as atividades que são desenvolvidas dentro do ambiente fabril devem ser descritas em forma de norma e ou procedimento para que seja reproduzida de maneira idêntica por todos os executantes, diminuindo a exposição a riscos e também sendo passível de auditoria.
Esse caminho favorece a padronização das atividades e de certa forma garantiria a qualidade e entrega do produto. Além do suposto ganho em reduções em índices de acidentes e aumento de produtividade, a partir da premissa da repetição das mesmas atividades e o aprendizado constante.
Esse sistema possui um desdobramento de documentação em níveis, conforme se segue:
IV
IV
III
III
II
II
I
I
Nível 1
Nível 2
Nível 3
Nível 4
• RES, DED, MSGI
• Padrão Gerencial de Sistema (PGS)
• Especificação de Produtos e Serviços (EPS), • Padrão Técnicos de Processo (PTP), • Procedimentos Operacionais (PRO), • Procedimento Administrativo (PRA), • Ordem de Serviço (OS),
• Procedimentos Ambientais (PRAM).
Além disso, é composto por DED’s (Deliberações da Diretoria), conforme figura abaixo:
Figura 9: DED – Deliberação da Diretoria no SISPAD.
Este instrumento compreende o manual de sistema da qualidade, os PGS’s (padrão gerencial de sistema) por gerência de área e processos:
Figura 10: PGS – Padrão Gerencial de Sistema.
Figura 11: PRA – Procedimento Administrativo.
Figura 12: PRO – Procedimento Operacional.
Faz parte dessa metodologia de planejamento, execução e avaliação das rotinas, atender às seguintes certificações:
• NBR ISO 9001 – Revisão 2000 para a qualidade de produto;
• NBR ISO 14001 - Revisão 2004, para gestão ambiental;
• SA 8000 – Revisão 2001, para responsabilidade social.
Esse sistema é informatizado e como tal seu acesso é via computador e rede. Todas as áreas possuem salas equipadas com computadores, nas quais os empregados podem acessar a documentação necessária para a execução das tarefas. Além disso, há a prática do Treinamento no Local de Trabalho (OJT) que é realizado constantemente, seguindo exatamente os procedimentos. Essa prática também está descrita no SISPAD.
Com o detalhamento do sistema de normatização e padronização encerro a etapa de caracterização do universo racional e formal representativo do vertente formal do campo da PAB.
Essa descrição formal é constituída por estruturas objetivas (vertente formal do campo) que demonstram os limites e influenciam nas relações internas e externas à PAB. Essas estruturas já foram exploradas em termos teóricos por autores8 que pesquisaram o universo das relações e que contribuem como um elemento diferenciador nas discussões com relação à sua aplicabilidade em pesquisas na área organizacional.
A exposição de todos os tópicos citados acima com relação à empresa PAB cumpre sua função de entendimento dos limites e expectativas da empresa no que se refere à padronização, estruturação e organização interna do funcionamento, no qual todos os empregados devem se ajustar e foi possível graças a meu pertencimento ao universo institucional.
A seguir, será apresentado o referencial teórico a ser utilizado, pautado na teoria estruturalista, como forma de aproximar essas duas realidades e vislumbrar uma investigação empírica consistente conceitualmente com aplicabilidade prática no campo da pesquisa científica.
CAPÍTULO II - UMA BREVE APROXIMAÇÃO ÀS BASES EPISTEMOLÓGICAS DO ESTRUTURALISMO: o filosofar sem sujeito
A presente pesquisa utiliza como referencial teórico-metodológico, o estruturalismo. Desta forma, é importante discutir os alicerces da referida teoria para melhor embasar o trabalho.
Inicialmente, o que se percebe é que ao buscar a epistemologia que circunscreve o universo do estruturalismo é que a primeira fronteira de análise trata justamente da dificuldade de se separar o estruturalismo, das obras de Claude Lévi-Strauss, se é que isso é possível. Assim, este capítulo busca discorrer superficialmente sobre as origens e principais conceitos da referida teoria, como forma introdutória ao assunto.
Os conceitos estruturalistas serão tratados, utilizando-os como “pano de fundo” e contextualização de todo o restante do trabalho, uma vez que a discussão teórica irá se desdobrar em dois autores que se serviram dessa base para desenvolver suas próprias teorias.
Para que se possa alcançar a proposta dessa dissertação faz se necessário percorrer por essas instâncias, de maneira a preservar um nível de profundidade conceitual que permita a compreensão dos conteúdos que se seguem, resguardando o intuito principal de ter condições de aplicar adequadamente o método de pesquisa estruturalista principalmente tendo Lévi-Strauss como ponto focal e Pierre Bourdieu como fonte que servirá de base para a análise e interpretação dos dados coletados.
De acordo com Dosse (1994), o termo “estruturalismo” tem origem no Cours de
Linguistique Générale de Ferdinand de Saussure9 e é denominado como uma corrente de
pensamento que surgiu no começo do século XX, tendo sido incorporado ao método de diversas disciplinas, como a linguística, a antropologia, a filosofia, a matemática e a psicologia.
Para Thiry-Cherques (2008) o estruturalismo nasceu da conjunção do vazio epistemológico com tendências que buscam preencher os espaços gerados por modelos explicativos ultrapassados. Tal vazio teria sido gerado pela tríade composta pelo positivismo lógico, pelo pensamento dialético e pela fenomenologia.
Rocha (1986) conceitua o estruturalismo a partir da comparação com o existencialismo, sendo que este último se configura por uma apaixonante pregnância das situações ao nível da experiência e da inteligibilidade, enquanto que o estruturalismo manifesta o esforço da racionalização, como um novo discurso do método que diferentemente do paradigma existencialista, acentua constantemente o desvelamento dos conteúdos latentes, isto é, das propriedades mais profundas.
Segundo Thiry-Cherques (apud Lévi-Strauss, 2008) a diferença de outras linhas de pensamento, como o marxismo e a fenomenologia é que no estruturalismo o termo estrutura é conceituado como algo inacessível à observação e à descrição observacional. O estruturalismo procura captar os fenômenos humanos aquém da consciência que deles se tem, escolhendo como terrenos de estudos privilegiados as ordens de fatos muito insignificantes e desprovidas de implicações práticas.
Saussure considera tais agrupamentos como sintagmáticos10 e paradigmáticos11, no qual o primeiro a relação é de seqüência (frase) e no segundo prevalece a oposição (ROCHA, 1976).
Ainda seguindo sob a perspectiva do autor citado acima, uma das dualidades presentes nas obras de Saussure e também de Lévi-Strauss é a de sincronia-diacronia, na
9 Linguista e filósofo suíço que deu origem a grande parte da linguística contemporânea. Suas elaborações teóricas propiciaram o surgimento do estruturalismo (ABBAGNANO, 2007, p.721).
10 De acordo com a teoria de Saussure, sintagmático é a combinação de formas mínimas numa unidade lingüística superior, e surge a partir da linearidade do signo, ou seja, ele exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo, pois um termo só passa a ter valor a partir do momento em que ele se contrasta com outro elemento (ABBAGNANO, 2007, p.1073).