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Ensaios em desenvolvimento e crescimento econômico

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO

FELIPE GARCIA RIBEIRO

ENSAIOS EM DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

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FELIPE GARCIA RIBEIRO

ENSAIOS EM DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

Tese apresentada à Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, como requisito para obtenção do título de doutorado.

Campo de Conhecimento: Desenvolvimento Econômico.

Orientador: Dr. André Portela Fernandes de Souza

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Garcia, Felipe Ribeiro

Ensaios em Desenvolvimento e Crescimento Econômico / Felipe Garcia Ribeiro. - 2013.

172 f.

Orientador: André Portela Fernandes de Souza

Tese (doutorado) - Escola de Economia de São Paulo.

1. Desenvolvimento econômico. 2. Energia elétrica - Brasil - Aspectos sociais. 3. Escolaridade. 4. Produto Interno Bruto - Cuba. 5. Catástrofes Naturais - Santa Catarina - Aspectos econômicos. I. Souza, André Portela Fernandes de. II. Tese (doutorado) - Escola de Economia de São Paulo. III. Título.

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS ESCOLA DE ECONOMIA DE SÃO PAULO

FELIPE GARCIA RIBEIRO

ENSAIOS EM DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO ECONÔMICO

Tese Aprovada em 07/06/2013 para a obtenção do título de Doutor em Economia

Banca Examinadora:

Prof. Dr. André Portela Fernandes de Souza (EESP-FGV) Prof. Dr. Eduardo Luiz Gonçalves Rios Neto (UFMG)

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AGRADECIMENTOS

Ao Professor André Portela, meu orientador de mestrado e doutorado, pela incomparável atenção que me ofereceu durante todo o período que tive a satisfação em conviver profissionalmente com ele.

Aos professores da EESP-FGV que sempre foram muito atenciosos comigo.

Aos professores participantes da banca de defesa do doutorado.

Aos colegas e amigos de doutoramento, em especial Bruno Teodoro Oliva, Eduardo Zylberstajn, Priscilla Albuquerque Tavares e Rafael Camelo.

Aos Amigos Guilherme Stein e Thomas Kang coautores no segundo ensaio desta tese. Guilherme Stein é também coautor no último ensaio.

Aos professores de economia aplicada da UFRGS.

Aos amigos de graduação da UFRGS, em especial Augusto Sandino Tonello Vanazzi, Carlos Henrique Corrêa, Klaus Nery Teixeira, Marcelo de Carvalho Griebeler, Marcos Vinicio Wink Junior e Pedro Lutz Ramos.

Ao amigo Philipe Berman e sua família.

Aos colegas e amigos do Departamento de Economia da UFPel.

Ao Eduardo Tillmann pelo auxílio em pesquisa no primeiro ensaio desta tese.

À minha família, em especial aos meus avós, Francisco Nunes Garcia e Maria Rubira Garcia, e minha querida mãe, Maria da Graça Garcia. Devo tudo a eles.

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i

RESUMO

Esta tese é composta por três ensaios, um na linha de desenvolvimento econômico e dois na linha de crescimento. O primeiro deles trata de uma investigação sobre o papel do acesso à energia elétrica a nível domiciliar na alocação do tempo das crianças e adolescentes do Brasil rural entre frequentar a escola e participar do mercado de trabalho. Para o estabelecimento da relação causal entre energia elétrica e a alocação de tempo se utilizam os critérios de prioridade de obras do programa Luz Para Todos como fonte de variação exógena no acesso à energia elétrica dos domicílios localizados na zona rural do Brasil. Aplicam-se os métodos de Regressão Descontínua e Diferenças em Diferenças com Variáveis Instrumentais. Os resultados obtidos da segunda metodologia apontam que a presença de energia elétrica aumenta a probabilidade das crianças e adolescentes estarem matriculadas na escola, não estarem atrasadas em relação à série que deveriam estar dada sua idade, serem alfabetizadas e não estarem trabalhando. Entre os possíveis canais capazes de explicar estes resultados está a maior participação das mães no mercado de trabalho. Entretanto, não se pode descartar a hipótese de que os resultados observados sejam justificados pelo aumento do aceso à energia elétrica a nível escolar, o que pode tornar as escolas melhores e mais atrativas, ou consequência do aumento do recebimento do programa Bolsa Família que exige frequência escolar das crianças e adolescentes.

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ii

recente literatura de desastres naturais. No Brasil não há nenhum trabalho, sob nosso conhecimento, medindo empiricamente o impacto que um desastre natural tenha acarretado a uma região atingida. Este estudo está estruturado em duas partes. Na primeira se utiliza o controle sintético para medir o impacto das chuvas na produção industrial de Santa Catarina. Propõe-se uma pequena acomodação do método para tratar o possível transbordamento dos efeitos das chuvas nos demais estados. Já na segunda parte, utiliza-se o método de diferenças em diferenças para medir o impacto das chuvas no PIB per capita das cidades mais atingidas.

Os resultados apontam que para um período de dois anos após o final de 2008, o desastre causou uma produção industrial mensal 2.0% menor do que seria caso as chuvas não tivessem ocorrido. Por municípios, o efeito estimado do desastre sobre o PIB per capita se situou ao redor de -7,0% em 2008 e -5,0% em 2009. Em 2010 não há evidências de efeito.

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iii

ABSTRACT

This thesis consists of three essays, one being on economic development and the two others on economic growth. The first essay is an investigation into how access to electricity by households affects time allocation of children and teenagers from rural Brazil in what regards the choice to attend school or to engage in the labor market. To establish a causal relationship between the availability of electricity and time allocation, we use the criteria of priority works from Luz Para Todos program as a source of

exogenous variation in access to electricity of households located in rural Brazil. We apply Regression Discontinuity Design and Difference in Difference estimator with endogenous variables. The results from the latter methodology indicate that the presence of electricity increases the likelihood that children and adolescents are enrolled in school and are not delayed relative to the grade they should be attending at their age. Also, the probability of a child being literate and not being working increases with the presence of electricity. One of the possible channels that could explain these results is the increased participation of mothers in the labor market. However, one cannot discard the hypothesis that the observed results are justified by the increased access to electricity by the schools, making them better and more attractive to students and by the receipt of Bolsa Familia program which is conditional on school attendence by children

and teenagers.

The second study aims to contribute to the literature on institutions and economic growth through the investigation of how the 1959 socialist revolution in Cuba have affected the trajectory of per capita income in that country. To do so, we apply the synthetic control method to obtain the counterfactual path of income per capita in the absence of such revolution. The results show that the trajectory of the annual GDP per capita of Cuba between 1959 to 1980 was lower than it would have been if the socialist regime had not been implemented. This result is robust to different placebo tests deployed and also to the use of different series of GDP per capita. Alternative hypotheses that could explain the lower path of GDP per capita are discussed based on the existing literature and data. The discussion suggests that institutional change was indeed the cause of the observed negative effect on the Cuban economy during the period of analysis.

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iv

recent literature on natural disasters. To our knowledge, there are no studies in Brazil that empirically measure the impact that a natural disaster has entailed on an affected region. This study is structured in two parts. The first uses synthetic control to measure the impact of rainfall on the industrial production of Santa Catarina. For that, we propose a small accommodation method for treating the effects of possible flooding rains in other states. In the second part, we use the method of difference in difference to measure the impact of the rains on the GDP per capita of the cities. The results show that for a period of two years after the end of 2008, the impact of the rains caused a lower monthly industrial production of 2.0% in Santa Catarina. For municipalities, the estimated effect of the disaster on GDP per capita was around -7.0% in 2008 and -5.0% in 2009. There was not significant effect in 2010.

Keywords: (i) Electrification; (ii) Luz Para Todos; (iii) Regression Discontinuity; (iv)

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SUMÁRIO

Capítulo 1 - Acesso à Energia Elétrica e a Alocação do Tempo

das Crianças e Adolescentes no Brasil Rural ... 1

1 Introdução ... 1

2 Possíveis Canais do Efeito do Acesso Domiciliar à Energia Elétrica Sobre Educação e Participação no Mercado de Trabalho ... 4

3 Programa Luz Para Todos ... 7

4 Estratégia Empírica e Dados ... 9

5 Resultados ... 17

6 Considerações Finais ... 27

Referências ... 28

Apêndice ... 32

Capítulo 2 - O Experimento Cubano: Uma Mensuração do

Impacto da Revolução de 1959 Sobre o Desempenho Econômico

... 113

1 Introdução ... 113

2 Quando Cuba foi deixada para trás? ... 115

3 Estratégia Empírica ... 116

4 Dados... 121

5 Resultados ... 122

6 A primazia das Instituições ... 129

7 Considerações Finais ... 136

Referências ... 138

Capítulo 3 - O Impacto Econômico dos Desastres Naturais: O

Caso das Chuvas de 2008 em Santa Catarina ... 142

1 Introdução ... 142

2. Avaliação Socioeconômica de Desastres Naturais Ocorridos ao Redor do Mundo ... 145

3 As Chuvas de 2008 em Santa Catarina ... 147

4. Estratégia Empírica e Dados ... 149

5 Resultados do Controle Sintético ... 155

6 Resultados da Estimação por Diferenças em Diferenças ... 164

7 Considerações Finais ... 167

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1

Capítulo 1 - Acesso à Energia Elétrica e a Alocação do Tempo das

Crianças e Adolescentes no Brasil Rural

1 Introdução

Este trabalho avalia o papel do acesso à energia elétrica nos domicílios do Brasil rural na alocação de tempo das crianças e dos adolescentes entre educação e mercado de trabalho. Precisamente, investiga-se o impacto da presença de energia elétrica a nível domiciliar sobre a matrícula, o atraso escolar, o aprendizado (medido pela alfabetização) e a participação no mercado de trabalho das crianças e dos adolescentes. Na literatura recente de desenvolvimento é bastante ativa a discussão e a investigação dos possíveis benefícios que a presença de energia elétrica pode gerar na renda, na educação e na saúde (Barnes et. al. (2003), Kulkarni e Barnes (2004), Cabraal e Barnes

(2006), Khandker et. al. (2009), Bensh et. al. (2011), Barnes et. al.(2011), Dinkelman

(2011), Khandker et. al. (2012a) e Khandker et. al. (2012b)). Identificar a magnitude do

impacto da presença de energia elétrica nas diversas dimensões do desenvolvimento tem fundamental relevância para gestores de políticas públicas, pois possibilita o exercício de avaliação de custo benefício de projetos de eletrificação rural e outros programas sociais.

São muitos os efeitos positivos que o acesso à energia elétrica pode gerar dentro dos domicílios. Por exemplo, na presença de energia elétrica famílias podem exercer durante a noite atividades laborais que complementam a renda da casa. A utilização de ferramentas e equipamentos, que requerem energia elétrica, pode aumentar a produtividade do trabalho e gerar novas oportunidades de negócios. Em termos de saúde, o acesso à energia elétrica pode proporcionar a utilização de eletrodomésticos que conservam melhor os alimentos, mantendo-os mais frescos e saudáveis para o consumo. Na educação, crianças podem utilizar o turno da noite para a realização de tarefas escolares. A presença de energia elétrica na zona rural torna a vida no campo mais atrativa, uma vez que é capaz de levar conforto e informação antes disponíveis apenas em centros urbanos. Esta provável contenção do êxodo rural é importante também para redução da pobreza nas grandes cidades.

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Índia, Vietnã, e outros). Acredita que o acesso à energia elétrica é um importante vetor capaz de auxiliar no cumprimento das oito metas de desenvolvimento traçadas pela Organização Mundial das Nações Unidas em 20001.

No Brasil, em 2010, o censo demográfico revelou que havia quase 730 mil domicílios sem energia elétrica, 81% na zona rural. Em termos de população este número refletia aproximadamente 2,8 milhões de pessoas. A restrição ao acesso à energia elétrica era ainda mais grave no país no começo dos anos 2000, quando mais de 3 milhões de domicílios não tinham acesso à energia elétrica (80% na zona rural), totalizando uma população de aproximadamente 10 milhões de pessoas. Esta redução ao longo da última década pode ser atribuída entre outros fatores aos programas federais de eletrificação rural, Luz no Campo e Luz Para Todos.

Quanto ao ensino no Brasil, embora a educação básica tenha atingido nível de cobertura bastante expressivo ao longo dos últimos 15 anos, ainda é alto o contingente de crianças e adolescentes que não frequentam a escola: aproximadamente 2,8 milhões entre 7 a 17 anos de idade em 2010, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Precárias condições de infraestrutura como falta de energia elétrica, tanto em casa quanto na escola, podem explicar parte do baixo aprendizado, que por sua vez pode repercutir em atraso escolar, que pode, por fim, gerar abandono dos bancos escolares (Manacorda (2012), Pierre (2012) e Yi et. al. (2012)). A interrupção escolar precoce

tem consequências drásticas para a vida futura das pessoas, uma vez que está bem documentado na literatura de desenvolvimento que educação exerce um importante papel na performance individual no mercado de trabalho e na qualidade de vida (Acemoglu e Angrist (2000), Angrist (1995)), Card e krueger (1992), Card (1999), Duflo (2001) e Teixeira e Menezes-Filho (2012)).

Para o cumprimento da proposta deste artigo, explora-se a influência que o Programa Luz Para Todos (LPT), do governo federal criado em 2003, possa ter sobre o acesso à energia elétrica a nível domiciliar. Dois dos critérios de prioridade de obras do LPT são estabelecidos em cima de variáveis quantitativas: i) o grau de cobertura elétrica domiciliar municipal em 2000, e ii) o IDH municipal em 2000. O primeiro critério de prioridade de obras privilegia aqueles municípios cujo grau de cobertura elétrica domiciliar era inferior a 85% em 2000. Já o segundo critério define prioridade de obras de eletrificação em municípios cujo IDH era inferior ao IDH médio do estado em 2000.

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3

Os dois critérios de prioridades de obras podem exercer variações exógenas na presença de energia elétrica nos domicílios, gerando, portanto, a possibilidade de identificação do impacto da energia elétrica a nível domiciliar sobre os resultados de interesse através de duas metodologias. A primeira é a regressão descontínua. A segunda é a utilização dos critérios do programa como variáveis instrumentais para o acesso à energia elétrica a nível domiciliar.

O presente artigo está estruturado em seis seções com esta introdução. Na seção seguinte se discutem os possíveis canais que ligam a importância de energia elétrica sobre os resultados educacionais e a participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes. Apresentam-se os resultados obtidos na literatura recente, que investiga o papel de projetos de eletrificação rural no desenvolvimento econômico, e que auxiliam na discussão dos possíveis canais que ligam acesso à energia elétrica às variáveis de fluxo, aprendizado e participação no mercado de trabalho das crianças e dos adolescentes. A terceira seção apresenta a estrutura do programa LPT e os critérios de prioridade de realização das obras. A quarta seção apresenta e discute as estratégias empíricas adotadas neste trabalho e o banco de dados utilizado, enquanto a quinta seção discute os resultados. Por fim, a sexta seção apresenta as considerações finais.

Os resultados obtidos pelo método de regressão descontínua não sugerem impacto da presença de energia elétrica sobre os resultados escolares e a participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes residentes em domicílios localizados em municípios cujo IDH em 2000 era levemente inferior à média do estado, e cujo grau de cobertura elétrica domiciliar em 2000 era igual ou superior a 85.0%. Já as estimativas do método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais encontram evidências de que a presença de energia elétrica tem efeito positivo sobre o grupo dos indivíduos que passaram a ter acesso à energia elétrica a nível domiciliar em decorrência da maior probabilidade de exposição ao programa LPT ao longo do tempo. Em geral, observa-se que o acesso à energia elétrica exerce influência positiva sobre a educação de meninos e meninas em diferentes faixas etárias. Quanto ao mercado de trabalho, o acesso à energia elétrica reduz a participação dos adolescentes de 15 a 18 anos de idade.

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consequência do choque positivo de produtividade que as atividades de manutenção da casa sofrem na presença de energia elétrica no domicílio. Contudo, as estimativas do efeito do acesso à energia elétrica sobre o salário por hora no trabalho principal foram negativas (principalmente nos homens).

É importante destacar também que as regras quantitativas do programa LPT parecem exercer baixo efeito sobre o comportamento migratório dos indivíduos, o que em caso contrário colocaria sob forte suspeita a validade da hipótese de exogeneidade dos instrumentos. Contudo, O programa LPT parece ter influência sobre o acesso da população do Brasil rural ao programa Bolsa Família. Como este programa tem entre as suas condicionalidades a exigência de frequência a escola por parte das crianças, os resultados obtidos podem ser explicados pelo aumento da abrangência do Bolsa Família. Por fim, a investigação do efeito do programa LPT sobre a eletrificação das escolas da zona rural também não permite que se descarte a hipótese de que é a eletrificação destas a responsável pelo efeito positivo estimado da energia elétrica sobre a educação das crianças e adolescentes, ao invés da eletrificação domiciliar.

2 Possíveis Canais do Efeito do Acesso Domiciliar à Energia Elétrica Sobre Educação e Participação no Mercado de Trabalho

São dois os principais canais que podem justificar o porquê energia elétrica afeta o desempenho educacional das crianças e dos adolescentes: i) possibilidade de mais tempo para estudar em casa, e ii) maior participação dos adultos no mercado de trabalho e maiores salários. O primeiro canal se refere ao fato de que a presença de energia elétrica possibilita o estudo, a leitura, e a realização das atividades escolares durante a noite, as quais na ausência de energia elétrica ficam mais restritas. Está documentado na literatura de educação que a permanência da criança e do adolescente na escola está associada ao seu desempenho (ver, por exemplo, Manacorda (2012), Pierre (2012) e Yi

et. al. (2012)). Com mais tempo para estudar é de se esperar uma melhora no

desempenho escolar, e, portanto, redução no atraso e no abandono. Contudo, o efeito da presença de energia elétrica sobre as atividades realizadas no turno da noite pode ser ambíguo, uma vez que a presença de energia elétrica também possibilita a realização de atividades de lazer tais como assistir televisão e escutar rádio.

Khandker et. al. (2012a) encontram significativo impacto do acesso à energia elétrica

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5

instrumentais para avaliar o impacto da energia elétrica sobre alguns indicadores socioeconômicos e escolares dos domicílios presentes no Censo de Bangladesh de 2005. Khandker et. al. (2012b) fazem estudo similar ao realizado para Bangladesh, mas para a

Índia. Com o uso de variáveis instrumentais obtidas a partir da interação do grau de cobertura elétrica com características demográficas das comunidades em que os domicílios se encontram (sob a hipótese de peer effect), os autores encontram

evidências de que energia elétrica aumenta a escolaridade e o tempo de estudo em casa de meninos e meninas.

Khandker et. al. (2009) encontram efeito positivo do acesso à energia elétrica sobre a

matrícula na escola de meninos e meninas no Vietnã Rural. Já Bensch et. al. (2011) não

encontram efeito do acesso à energia elétrica sobre o tempo de estudo das crianças em casa quando controladas diferenças regionais em Ruanda.

O segundo canal capaz de ligar acesso à energia elétrica com resultados escolares e participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes é o aumento da participação e salários (produtividade) dos pais, adultos, no mercado de trabalho. Na presença de energia elétrica muitas atividades domésticas ganham considerável incremento de produtividade (por exemplo, preparação de alimentos), garantindo, mais tempo livre durante dia. Este tempo pode repercutir em maior participação no mercado de trabalho e maiores salários, tanto através da inserção quanto do aumento no número de ocupações.

Além disso, a presença de energia elétrica possibilita a realização de outras atividades laborais, ou empreendedoras. A utilização de forno elétrico, por exemplo, proporciona a preparação de alimentos para a comercialização na vizinhança. O ganho de produtividade associado ao acesso à energia elétrica pode gerar excedentes da produção doméstica, passíveis de comercialização. Todas as atividades laborais que podem ser realizadas em casa passam a ser uma opção complementar de trabalho durante o turno da noite. Há ainda a melhor conservação de alimentos, assim como o aumento das atividades de lazer, que podem gerar choques positivos na produtividade. Aumento da produtividade pode repercutir em maiores salários.

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os membros do domicilio). Além disso, no caso em que a variação da renda do domicilio com a presença de luz seja superior ao que é perdido pela redução do trabalho das crianças e adolescentes, parte do aumento da renda pode ser investido nas crianças, através de melhor alimentação, cuidados de saúde e bem estar em geral. Tais investimentos também podem afetar positivamente o desempenho escolar.

Dinkelman (2011) apresenta para África do Sul resultados que reforçam a hipótese de que acesso à energia elétrica aumenta a participação dos adultos no mercado de trabalho. No caso das mulheres o aumento estimado no emprego é de 9.5%, e segundo o autor um dos canais pelo qual o acesso à energia elétrica influencia a oferta de trabalho das mulheres é justamente pela liberação de atividades domésticas que são afetadas positivamente pela presença de energia. Khandker et. al. (2012b) encontram evidências

similares às obtidas por Dinkelman (2011): redução do tempo dedicado a atividades de manutenção da casa e aumento no emprego dos homens e das mulheres.

Contudo, há a possibilidade de que o aumento da participação dos pais no mercado de trabalho aumente também a participação das crianças e adolescentes. Como já discutido, a presença de energia elétrica pode gerar uma gama de novas oportunidades econômicas, porém, nessas novas oportunidades o trabalho das crianças e adolescentes pode ser complementar ao trabalho dos adultos. Soares et. al. (2012) desenvolvem um

modelo de escolha em que as famílias podem optar por manter as crianças somente na escola, manter na escola e no mercado de trabalho, e apenas no mercado de trabalho diante de circunstâncias que envolvem choques de produtividade, ou novas oportunidades econômicas. Com dados para o Brasil, os autores encontram evidências de que diante de oportunidades econômicas temporárias o trabalho das crianças e adolescentes de famílias pobres aumenta e a participação na escola diminui.

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3 Programa Luz Para Todos

Foram duas as motivações que resultaram na criação do LPT, além do diagnóstico de exclusão elétrica de parte da população residente na zona rural do Brasil. A primeira motivação era promover o desenvolvimento econômico e social baseada na ideia de que a energia elétrica pode ser um vetor para tanto através dos já discutidos mecanismos que ligam acesso à energia elétrica a produtividade do trabalho, produtividade escolar e bem-estar. A segunda motivação era a possibilidade de aprimorar a integração dos programas sociais vigentes e futuros (Bolsa Família, por exemplo), e a facilitação do acesso da população aos bens e serviços fornecidos pelo governo (uma vez que o programa também canalizou esforços para eletrificação de postos de saúde, escolas, e outros). O objetivo maior do programa era bastante ousado: propiciar o acesso à energia elétrica à totalidade da população do meio rural brasileiro até 2010.

O Conselho Nacional de Universalização designou ao Ministério de Minas e Energia (MME) o papel de organizar o programa. Este atribui ao Comitê Gestor Nacional (CGN) a tarefa de dar ao Estado as prioridades e informações sobre o andamento das obras, informar a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) as diretrizes e aprovação do programa de obras, e junto com a Secretaria Executiva do MME e a coordenadoria Regional analisar programas de obras e relatórios. Ao Estado coube a tarefa de dar a instrumentação jurídica apropriada e a liberação de recursos. A cargo da ANEEL estava a verificação dos cumprimentos das metas junto aos agentes executores, concessionárias e permissionárias de energia elétrica e cooperativas de eletrificação rural. A cargo da Eletrobrás estava à elaboração de contratos e liberação de recursos para as distribuidoras, e a checagem do programa de obras e a cobrança de relatórios, ou seja, a fiscalização. A demanda por atendimento era direcionada aos agentes executores das obras.

O aporte financeiro do programa teve origem de fundos setoriais de energia, como a Conta de Desenvolvimento Energético e a Reserva Global de Reversão. Somaram-se também investimentos a cargo dos governos estaduais e das empresas que distribuem energia elétrica. Recursos de outros órgãos da Administração Pública e outros agentes complementaram a fonte.

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8

I – projetos de eletrificação rural em municípios com índice de atendimento a domicílios inferior a oitenta e cinco por cento, calculado com base no censo de 2000; II – projetos de eletrificação rural em municípios com índice de desenvolvimento humano inferior à média Estadual em 2000;

III – projetos de eletrificação rural que atendam comunidades atingidas por barragens de usinas hidrelétricas ou por obras do sistema elétrico, cuja responsabilidade não esteja definida para o executor do empreendimento.

IV – projetos de eletrificação rural que enfoquem o uso produtivo comunitário da energia elétrica e que fomentem o desenvolvimento local integrado;

V – projetos de eletrificação rural em escolas públicas, postos de saúde e poços de abastecimento de água, sendo este último exclusivamente voltado ao atendimento comunitário;

VI – projetos de eletrificação em assentamentos rurais;

VII – projetos de eletrificação rural para desenvolvimento comunitário da agricultura familiar ou de atividades de artesanato de base familiar;

VIII – projetos de eletrificação para atendimento de pequenos e médios agricultores; IX – projetos de eletrificação rural, paralisados por falta de recursos, que atendam comunidades e povoados rurais;

X – projetos de eletrificação rural das populações do entorno de Unidades de Conservação da Natureza e dos Territórios da Cidadania; e

XI – projetos de eletrificação rural das populações em áreas de uso específico de comunidades especiais, tais como minorias raciais, comunidades remanescentes de quilombos, comunidades indígenas, comunidades extrativistas, etc.

Eram três as possibilidades técnicas de instalação de energia elétrica: i) extensão de redes de distribuição; ii) sistemas de geração descentralizada com rede elétrica isolada e iii) sistemas individuais. As instalações dos tipos sistemas de geração descentralizada com redes isoladas e sistemas individuais para terem o aval dos órgãos responsáveis eram tecnicamente comparadas com o tipo extensão de redes de distribuição.

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Comitê Gestor Estadual avaliar e decidir. Este ofício precisava conter as informações de cada morador interessado na instalação de energia.

A tabela 1, localizada no apêndice, apresenta a evolução do programa LPT em termos de ligações físicas realizadas ano a ano em cada região do Brasil. De 2004, primeiro ano de operacionalização do programa, até 2010, o programa realizou 2.654.535 ligações, sendo que deste total praticamente a metade foi realizada na região nordeste. A região centro oeste é a que apresentou o menor número de ligações.

Com base nos resultados do censo demográfico de 2010, que localizou ainda um contingente grande de pessoas sem energia elétrica, o governo federal estendeu às ações do programa até 2014, através do Decreto n° 7520/2011. Nesta nova fase a atenção estará voltada para as comunidades indígenas e quilombolas, assentamentos de reforma agrária e indivíduos contemplados nos Programas Territórios da Cidadania e Plano Brasil sem Miséria.

4 Estratégia Empírica e Dados 4.1 Viés de Seleção

Idealmente para a realização do objetivo deste artigo seria necessário comparar os indicadores escolares e a participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes que residem em domicílios com energia elétrica com os indicadores escolares e a participação no mercado de trabalho dessas mesmas crianças e adolescentes na situação em que elas morassem em domicílios sem energia elétrica. Obviamente, essa é uma tarefa impossível de ser realizada, uma vez que se observam as crianças apenas em uma das duas situações: residindo em domicílios com energia elétrica, ou em domicílios sem energia elétrica.

(20)

10

fator não observável) for também correlacionada com a habilidade dos filhos na escola, o desempenho escolar das crianças residentes em domicílios com eletricidade é diferente do desempenho de crianças residentes em domicílios sem eletricidade por outros fatores que não somente a presença de energia.

Colocando essa discussão em termos formais, tem-se

(1)

em que é o resultado escolar da criança i,e é uma dummy igual a 1 para a presença

de energia elétrica no domicilio, e zero caso contrário. Claramente quando a criança reside em um domicilio com eletricidade, e caso resida em um domicilio sem eletricidade. O efeito da presença de eletricidade sobre os indicadores escolares do indivíduo i é

(2).

Contudo, como já dito, observa-se apenas um dos casos, o que torna impossível a obtenção de . A primeira solução é calcular a média do efeito de ter energia elétrica através da comparação do resultado do grupo com energia elétrica contra o grupo sem energia elétrica. Formalmente,

(3).

A diferença das médias acima, , é o efeito médio do tratamento, que neste caso é residir em um domicílio com energia elétrica. Como a média é calculada apenas com as informações do grupo das crianças que residem em domicílios com energia, e a média é calculada apenas com as informações do grupo das crianças que residem em domicílios sem energia, a diferença acima pode ser reescrita da seguinte forma

(4).

Se for acrescentado e subtraído a expressão acima o termo , tem-se que

(5).

O primeiro termo a direita da igualdade é o efeito médio do tratamento sobre os tratados, que é exatamente o que se deseja identificar, enquanto o segundo termo é o componente de viés de seleção. Este componente de viés,

, é justamente o que já foi discutido anteriormente: fatores observáveis

(21)

11

resultados entre o grupo das crianças que moram em domicílios com energia com as que não moram provavelmente pouco informa sobre a relação causal entre ter energia ou não sobre indicadores escolares e participação no mercado de trabalho.

Na tentativa de contornar o problema de viés de seleção as médias acima poderiam ser condicionadas às variáveis que são passíveis de observação e que podem confundir a identificação do impacto. Dessa forma, estariam sendo comparadas crianças que moram em domicílios com energia com crianças que moram em domicílios sem energia, mas que são iguais em termos de fatores observáveis tais como gênero, cor, número de pessoas no domicílio, etc. Mesmo assim, ainda restaria o problema dos fatores não observáveis que podem tornar os grupos não comparáveis.

4.2 Regressão Descontínua

Para contornar o problema de viés de seleção exposto acima, uma saída é encontrar alguma variável que exerça alguma influência sobre a probabilidade de se residir em domicilio com energia, mas que não esteja correlacionada a nenhum fator capaz de tornar crianças que residem em domicílios com energia diferentes das crianças que residem em domicílios sem energia. Tal variável exerceria uma variação exógena (não correlacionada com fatores observáveis e não observáveis) na probabilidade de se residir em domicílio com eletricidade. Com tal variação, o viés de seleção desapareceria e seria possível estimar o impacto do acesso à energia elétrica sobre os indicadores educacionais e a participação no mercado de trabalho.

Primeiramente, a estratégia empírica se baseia no método de regressão descontínua. A regressão descontínua consiste em comparar as variáveis de interesse de grupos que ao redor de um ponto de corte de uma terceira variável tenham diferentes probabilidades de receber o tratamento justamente pelo fato de que há uma regra arbitrária (exógena) que gera a direita e a esquerda do ponto de corte diferentes probabilidades de tratamento aos grupos.

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12

elétrica, e o segundo é o que define atenção especial àqueles municípios cujo IDH de 2000 é inferior ao IDH médio do seu estado em 2000.

Do primeiro critério se espera que, em 2010, domicílios localizados em municípios que em 2000 tinham cobertura de rede elétrica levemente inferior a 85% tenham maior probabilidade de ter energia elétrica do que aqueles domicílios, que em 2010, eram localizados em municípios com cobertura elétrica domiciliar levemente superior a 85% em 2000. Essa diferença de probabilidade de acesso à energia elétrica se acredita que seja gerada pela regra do programa.

Já do segundo critério se imagina que domicílios localizados em municípios com IDH em 2000 inferior à média do estado tenham uma maior probabilidade de terem luz elétrica em 2010, do que aqueles domicílios localizados em municípios cujo IDH em 2000 era levemente superior à média do estado. Aqui também se acredita que essa provável diferença deva ser exclusivamente gerada pela regra arbitrária. No caso deste critério, a descontinuidade está no valor 1 da variável gerada pela razão entre o IDH municipal e o IDH médio do estado a qual será chamada de IDH relativo.

Colocando em termos formais, defini-se como a variável que terá sobre ela a descontinuidade de uma regra arbitrária, em um ponto c. O parâmetro que se deseja

identificar é o seguinte:

(6).

O parâmetro acima captura o impacto da presença de energia elétrica nas medidas escolares e na participação no mercado de trabalho do grupo das crianças e adolescentes cujos domicílios passaram a ter luz em decorrência do programa e que se localizam ao redor da descontinuidade c da variável Z gerada pelo programa. Contudo, esse

parâmetro só identificará a relação causal de interesse sob as hipóteses de continuidade das funções das variáveis dos resultados escolares condicionais a variável Z e da

hipótese de monotonicidade.

(23)

13

da rede elétrica em 2000 e a do IDH em 2000; ii) atender a regra de cobertura de rede elétrica em 2000 e não atender a do IDH em 2000; iii) atender a regra do IDH em 2000 e não atender a de cobertura de rede elétrica em 2000; e iv) não atender a ambas.

Na primeira situação, atender a ambos os critérios, encontram-se 1741 municípios o que representa 31% do total. Na segunda, atender ao critério de cobertura de rede, mas não ao do IDH, encontram-se 63 municípios, ou 1,1% do total. Na terceira, atender ao critério de IDH, mas não ao de cobertura, há 3054 municípios o que equivale a 55% do total. E na última situação, não atender a nenhum dos critérios, há 734 municípios, ou 13%.

Dessa forma, primeiramente selecionam-se todos os municípios que tinham em 2000 cobertura de rede elétrica superior a 85%, e que, portanto, não satisfazem o critério de cobertura. Dentre este conjunto, que tem 3788 municípios, há aqueles que satisfazem o critério do IDH e aqueles que não satisfazem (3054 municípios contra 734). Sendo assim, acredita-se que do lado esquerdo do ponto de corte da variável IDH relativo haverá domicílios com maior probabilidade de ter energia elétrica do que aqueles do lado direito do ponto de corte.

Há ainda outra seleção de municípios passível de ser realizada. É aquela em que se selecionam municípios que não satisfazem o critério de prioridade do IDH. Dentro deste conjunto há dois outros: os que atendem ao critério de cobertura e os que não atendem. Contudo, o número de municípios que atendem ao critério de cobertura é muito pequeno em relação ao total, cerca de 1.1%, ou 63 municípios. Dessa forma, todo exercício que será desenvolvido neste estudo é com base no uso dos municípios que possuíam em 2000, 85% ou mais de cobertura domiciliar de rede elétrica.

Os mapas 1 e 2 apresentam a distribuição dos municípios brasileiros em 2000, segundo a cobertura domiciliar de energia elétrica e o IDH relativo. Percebe-se pela observação dos mapas que o exercício da regressão descontínua se concentra em partes das regiões nordeste, centro-oeste, sudeste, sul, e muito pouco na região norte, uma vez que nesta região havia muitos municípios com cobertura domiciliar de energia elétrica inferior a 85% no ano de 2000.

As estimações do parâmetro de interesse são realizadas por regressões não paramétricas e paramétricas através do método de mínimos quadrados em dois estágios. No primeiro estágio é modelada a probabilidade da criança morar em um domicílio com energia elétrica em função de uma dummy que representa o corte na variável que gera a

(24)

14

descontinuidade com (ou sem) a interação dos polinômios com a dummy da

descontinuidade.

Para checar a validade da utilização de regressões descontínuas, adota-se uma série de testes de placebo apresentados na abordagem gráfica. Primeiramente se checa se realmente ao redor do valor 1 da variável IDH relativo há uma descontinuidade na probabilidade de se ter energia elétrica. Em segundo, testa-se a robustez da descontinuidade através da estimação com diferentes janelas ao redor da descontinuidade. Em terceiro, testa-se a existência de descontinuidade na função das covariadas que podem estar associadas aos resultados escolares e participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes. Caso estas covariadas apresentem descontinuidades no ponto de corte da variável IDH relativo, podem ser elas as responsáveis por um efeito observado nas variáveis escolares e na participação no mercado de trabalho, e não a presença de energia elétrica no domicilio. Em quarto, testa-se se há maior probabilidade de haver energia elétrica em domicílios da zona urbana situados em municípios com IDH relativo inferior a 1. Como o programa é focalizado na zona rural, espera-se que não haja descontinuidade. Por fim, investiga-se se há maior probabilidade de haver energia elétrica em domicílios da zona rural em 2000, ao lado esquerdo do ponto de corte da variável IDH relativo. Como o programa foi criado em 2003, em 2000 o resultado esperado para a validação da aplicação do método de regressão em descontinuidade é que, novamente, não tenham maior probabilidade de acesso à energia elétrica domicílios localizados em municípios com IDH relativo inferior a 1.

Quanto à possibilidade dos agentes (municípios) manipularem os critérios para receber maior atenção do programa, o que também inválida a utilização da regressão descontínua, acredita-se que neste trabalho isto não se caracteriza como um problema. Isso ocorre pelo fato de que o critério do IDH é baseado em informações referentes ao ano de 2000, enquanto o programa foi criado em 2003, e posto em prática a partir de 2004, o que torna pouco provável a manipulação.

(25)

15

4.3 Diferenças em Diferenças com Variáveis Instrumentais

Com as informações presentes nos censos demográficos de 2000 e 2010, estima-se a seguinte equação que relaciona acesso à energia elétrica a nível domiciliar com as regras do programa luz para todos:

(7).

A variável é uma dummy que representa a presença de energia elétrica no

domicilio d em que se encontra a criança i residente no município m no período t. é

o efeito fixo do município. A variável é uma dummy igual a 1 para as

observações do ano de 2010, e zero para as observações do ano de 2000. Já representa uma das k covariadas que serão utilizadas como controles. Entre essas

covariadas estão idade, cor, gênero, escolaridade do chefe do domicílio, número de pessoas do domicílio, taxa de ocupação no mercado de trabalho e renda real média do município. As variáveis e são obtidas pela interação da variável com as dummies e

. Essas dummies assumem valor 1 quando o município atende aos

critérios de prioridade de obras do LPT, e zero caso contrário. Dessa forma, a interação entre elas e a variável capta o efeito do programa LPT sobre o acesso à energia elétrica a nível domiciliar ao longo do tempo. Portanto os parâmetros de interesse nessa equação são e .

A equação acima é o primeiro estágio desta parte da estratégia empírica. O segundo estágio consiste em estimar a seguinte equação:

(8).

é o valor previsto do acesso à energia elétrica no domicílio d localizado no

município m no período t, obtido no primeiro estágio da estratégia empírica (equação

(7)).

(26)

16

artigo, o método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais mede o impacto da presença de energia elétrica no grupo das crianças e adolescentes cujos domicílios são suscetíveis a terem energia elétrica em decorrência da exposição ao programa LPT ao longo do tempo. Na presença do programa estes domicílios têm maior probabilidade de ter energia elétrica, na ausência menor.

Serão também utilizadas como instrumentos diferentes combinações das duas regras quantitativas do programa LPT. Em um primeiro momento, estima-se o modelo com as duas variáveis instrumentais. Após, estimam-se as equações (7) e (8) com apenas uma das variáveis do programa como instrumento, e a outra como controle. Em seguida, inverte-se: a variável que era controle passa a ser instrumento e a que era instrumento passa a ser controle.

4.4 Dados e Seleção Amostral

A fonte de dados são os Censos demográficos de 2000 e 2010 e o IPEADATA. Dos censos de 2000 e de 2010, retiram-se as informações sobre a frequência (estar frequentando a escola), o atraso escolar, a alfabetização e a participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes. Dessas fontes também são retiradas as informações das covariadas. Do IPEADATA são obtidas as informações de IDH e da cobertura elétrica domiciliar em 2000 dos municípios brasileiros.

A variável frequência escolar é binária e assume valor igual a 1, caso a criança ou o adolescente frequente a escola, e zero caso contrário. A variável atraso escolar é também binária e assume valor igual a 1, caso a criança esteja com idade pelo menos dois anos acima da idade que seria a ideal para série em que se encontra, e zero caso contrário. Por exemplo, uma criança que tenha 9 ou mais anos de idade na primeira série terá valor 1 nesta variável. Outra criança que tenha idade de 6 a 8 anos na primeira série terá valor zero. Crianças e adolescentes fora da escola são consideradas como atrasadas. A medida de aprendizado é o status de alfabetização, ou seja, se sabe ler e escrever. Portanto, gera-se uma variável binária com valor 1 se a criança souber ler e escrever, e zero caso contrário. A participação no mercado de trabalho é medida pelo engajamento em alguma atividade laboral. Esta informação está disponível apenas para indivíduos com 10 ou mais anos de idade.

(27)

17

educacionais: gênero, cor, nível de escolaridade dos adultos presentes no domicilio, número de pessoas do domicílio, etc.

A amostra das crianças e adolescentes residentes em domicílios da zona rural é particionada primeiramente em três: crianças de 7 a 10 anos de idade, crianças e jovens de 11 a 14 anos de idade, e adolescentes de 15 a 18 anos de idade. Essa participação é justificada pelo fato de que crianças e jovens com idades muito diferentes estão em momentos bastante diferentes da vida escolar e podem ter escolhas e decisões muito distantes no que tange à alocação do tempo entre escola e mercado de trabalho. De 7 a 10 anos de idade a criança deve estar na primeira metade do ensino fundamental, enquanto as de 11 a 14 anos na segunda metade. Já os jovens de 15 a 18 anos de idade devem estar no ensino médio. Cada uma das três amostras também é subdivida em meninos e meninas para a identificação de possíveis efeitos distintos do acesso à energia elétrica nos gêneros. Cabe ressaltar que para a amostra das crianças de 7 a 10 anos de idade não é possível a investigação do impacto do acesso à energia elétrica sobre a participação no mercado de trabalho, porque como já dito, não há, no censo demográfico, informações de mercado de trabalho para crianças com menos de 10 anos de idade.

5 Resultados

A tabela 3 no apêndice apresenta as estatísticas descritivas da amostra das crianças de 7 a 18 anos de idade residentes na zona rural do Brasil em 2000 e 2010. Tanto em 2000 quanto em 2010, 53% das crianças eram meninos. Em 2000, 83% das crianças frequentavam a escola, 54% estavam atrasadas na escola, 81% eram alfabetizadas e 10% tinham emprego. Em 2010 estes números eram 90%, 26%, 89% e 12%. Quanto ao acesso à energia elétrica, em 2000, 67% das crianças e adolescentes de 7 a 18 anos de idade residiam em domicílios com energia elétrica, enquanto em 2000, 92%.

(28)

18

Estimações Não Paramétricas da Regressão Descontínua Primeiro Estágio

Os gráficos de 1 a 3, localizados no apêndice, apresentam o comportamento da probabilidade de haver energia elétrica no domicílio em função da variável IDH relativo nos municípios em que a cobertura elétrica em 2000 atingia mais de 85% dos domicílios. Cada gráfico contém uma janela diferente ao redor do ponto de corte (sem janela, de 0.8 a 1.2 e de 0.95 a 1.05). Claramente nos três gráficos há um salto na probabilidade de se ter energia elétrica no valor 1 da variável IDH relativo. À esquerda do valor de corte a probabilidade estimada é maior do que à direita, o que a principio, indica o efeito do programa LPT na probabilidade dos domicílios em ter acesso à energia elétrica.

Já os gráficos de 4 a 9 apresentam estimativas com o deslocamento do ponto do corte para pontos à esquerda e à direita do valor 1 da variável IDH relativo. Nos deslocamentos à esquerda à medida que se afasta do valor 1 parece não haver diferenças estatisticamente significativas, a 5.0%, a esquerda e a direita do falso ponto de corte, o que sugere ser robusto os resultados observados nos gráficos de 1 a 3. Quando se desloca o ponto de corte à direita do valor 1, percebe-se uma descontinuidade na probabilidade, porém, na direção contrária a que se espera que o programa tenha gerado. Este resultado pode ser explicado por outros fatores que não o programa, o que não inválida a validade do experimento ao redor da descontinuidade.

Os gráficos de 10 a 12 apresentam o estudo de placebo em covariadas que podem explicar a descontinuidade observada na probabilidade de ter acesso à energia elétrica no domicílio ao invés do programa LPT. As covariadas investigadas foram o gênero, o número de pessoas no domicílio e a escolaridade média dos adultos do domicílio. Percebe-se que para nenhuma das variáveis há saltos ao redor da descontinuidade, o que sugere que o resultado observado nos gráficos de 1 a 3 sejam decorrentes da regra arbitrária do programa LPT.

(29)

19

realiza o estudo de placebo com os domicílios da zona rural do país no ano de 2000 (gráfico 14). Aqui novamente não há aumento da probabilidade em ter acesso à energia elétrica à esquerda do ponto de corte.

Estimações Não Paramétricas da Regressão Descontínua Segundo Estágio

Os gráficos de 15 a 19 apontam para um aumento na probabilidade em frequentar a escola dos meninos de 7 a 10 anos, uma vez que há uma descontinuidade ao redor do ponto de corte da variável IDH relativo. O mesmo se observa para amostra das meninas (gráficos 20 a 23). Este resultado também é observado na amostra dos meninos de 15 a 18 anos (gráficos 31 a 34).

Já no atraso escolar, apenas para o grupo das meninas de 7 a 10 anos se observa descontinuidade na probabilidade de estar atrasada na escola ao redor do ponto de corte. A inspeção visual indica para redução na probabilidade de estar atrasada se residente em um domicílio localizado em um município cujo IDH relativo em 2000 é levemente inferior ao IDH do estado (gráficos 39 a 42). Os resultados para as demais amostras de crianças não foram robustos às estimações com diferentes janelas ao redor da descontinuidade (gráficos 43 a 62).

Na alfabetização se observa descontinuidade em favor das observações à esquerda do ponto de corte nas crianças de 7 a 10 anos de idade, tanto na amostra de meninos quanto na amostra de meninas (gráficos 63 a 70). Nas crianças de 11 a 14 anos e 15 a 18 anos não há indícios de descontinuidade (gráficos 71 a 86). Por fim na probabilidade de trabalhar, percebe-se resultado robusto de descontinuidade nos meninos de 15 a 18 anos de idade (gráficos 95 a 98). Os resultados apontam para uma menor probabilidade de trabalhar para aqueles meninos de 15 a 18 anos residentes em domicílios localizados em municípios cujo IDH relativo está à esquerda do ponto de corte.

(30)

20

estimativas do numerador e do denominador da razão de Wald estão via de regra no sentido observado da análise dos gráficos, e a maior parte das estimativas do numerador não é significativa.

Estimações Paramétricas da Regressão Descontínua Primeiro Estágio

As tabelas de 7 a 15 apresentam as estimações paramétricas do primeiro estágio da regressão descontínua. Percebe-se pelos resultados apresentados que os coeficientes estimados da dummy da variável de corte, Critério do IDH relativo de 2000, não

apresentam resultados robustos às diferentes especificações que foram realizadas. O sinal e a magnitude estimados da variável que serve de instrumento na estimação paramétrica da regressão descontínua se altera com a flexibilização obtida através do uso do polinômio de grau 2. Altera-se também com o uso das interações entre a dummy

da variável de corte com os termos do polinômio e com o uso de variáveis de controle. Dessa forma, não se deu continuidade com as estimações paramétricas da regressão descontínua uma vez que os resultados obtidos em primeiro estágio são muito sensíveis à forma funcional.

Estimativas do Modelo de Efeito Fixo

Antes de apresentar os resultados das estimações do método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais se discutem os resultados obtidos por estimações de modelos de efeito fixo município dos resultados escolares e participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes sobre a presença de energia elétrica e demais controles dos indivíduos, domicílios e municípios. Entre os controles estão à idade da criança, a cor, o número de pessoas no domicílio, a escolaridade do chefe do domicílio, a taxa de ocupação no mercado de trabalho, a renda real média do município e o período. Os resultados obtidos estão presentes nas tabelas de 16 e 17.

(31)

21

a 1.0%. Sobre a participação no mercado de trabalho o coeficiente estimado é positivo 0.2 p.p., porém, não é estatisticamente significativo.

Entre os meninos de 15 a 18 anos de idade as estimativas são todas significativas, constatando-se novamente aumento da probabilidade de frequentar a escola (9.3 p.p.), redução no atraso escolar (-6.1 p.p.), aumento na probabilidade de alfabetização (7.3 p.p.) e aumento na probabilidade de participação do mercado de trabalho (1.8 p.p.). Estimativas significativas a 1.0%.

Para as meninas, as estimativas obtidas são similares às obtidas na amostra dos meninos (tabela 17). No grupo de meninas com faixa etária entre 7 a 10 anos de idade a presença de energia elétrica a nível domiciliar está associada positivamente com a frequência escolar em magnitude de 7.2 p.p., negativamente com o atraso escolar em -11.3 p.p., e positivamente com a alfabetização em 10.7 p.p. (todas estimativas significativas a 1.0%).

Na faixa etária dos 11 a 14 anos de idade, novamente, tem-se o mesmo padrão observado para os meninos, mas em geral em menor magnitude. A frequência escolar aumenta em média 5.2 p.p., o atraso escolar se reduz em 16.6 p.p. e alfabetização aumenta em 5.6 pontos percentuais. Novamente estimativas significativas a 1.0%. O coeficiente estimado para a participação no mercado de trabalho é positivo, mas não significativo no grupo desta faixa etária.

Por fim, no grupo das meninas entre 15 a 18 anos de idade o acesso à energia elétrica está estatisticamente associado a todos os resultados que estão sendo investigados. A frequência escolar aumenta em média 7.4 p.p. na presença de energia elétrica, o atraso escolar se reduz em 10.3 p.p., a alfabetização aumenta em 4.0 p.p. e a probabilidade de trabalhar aumenta em 1.1 pontos percentuais. Todas as estimativas significativas a 1.0%.

Diferenças em Diferenças (Primeiro Estágio)

(32)

22

encontrados na amostra dos meninos: entre 19.6 e 20.4 p.p. o efeito do programa pelo critério de cobertura elétrica em 2000, e ao redor de 5.5 p.p. o efeito do critério do IDH em 2000. Todas as estimativas significativas a 1.0%. Os altos valores observados para a estatística F dos instrumentos em todas as equações estimadas também reforçam a validade dos instrumentos.

Diferenças em Diferenças (Segundo Estágio)

As tabelas 19 e 20 apresentam as estimativas de segundo estágio para as amostras de meninos e meninas respectivamente. Em geral, as estimativas obtidas são maiores do que as obtidas no modelo de efeito fixo. Entre os meninos de 7 a 10 anos de idade o acesso à energia elétrica a nível domiciliar aumenta a frequência escolar em 19.4 p.p. (significativo a 1.0%). Já o atraso escolar é reduzido em 45.5 p.p., e a alfabetização aumentada em 18.4 pontos percentuais. Estimativas significativas a 1.0%.

Já para os meninos de 11 a 14 anos de idade o efeito do acesso à energia elétrica é menor na frequência escolar do que no grupo mais jovem: 2.8 pontos percentuais. Nas demais variáveis de resultado (atraso e alfabetização) o efeito é similar e também significativo a 1.0%. No emprego o efeito estimado é positivo, 0.1 p.p., porém estatisticamente não significativo.

Por fim, para o grupo dos meninos de 15 a 18 anos de idade, constata-se impacto da presença de energia elétrica em todas as variáveis dependentes. A probabilidade dos jovens estarem na escola aumenta em 10.2 pontos percentuais. A probabilidade de estarem atrasado na escola se reduz em 7.3 p.p. e a probabilidade de serem alfabetizados aumenta em 19.7 pontos percentuais. A probabilidade de estarem trabalhando é menor em 14.7 pontos percentuais. Todas as estimativas significativas a 1.0%.

(33)

23

Por fim dentro do grupo das meninas adolescentes de 15 a 18 anos de idade, a presença de energia elétrica não exerce efeito significativo sobre a frequência escolar, mas exerce sobre o atraso (-29.8 p.p.), sobre a alfabetização (7.2 p.p.) e sobre a probabilidade de trabalhar (-9.2 p.p.). Os efeitos observados são significativos a 1.0%.

No apêndice há ainda o resultado das estimações do segundo estágio do modelo de diferenças em diferenças quando se utiliza uma das regras como instrumento e a outra como controle. Constata-se que quando apenas a regra da cobertura elétrica em 2000 é utilizada como instrumento as estimações são similares em magnitude e sinal ao que já foi observado nas estimações já discutidas. No caso em que a regra do critério de IDH relativo é o instrumento, os resultados corroboram os resultados já apresentados em termos de sinal, porém, os efeitos estimados são bem superiores (tabelas de 21 a 24).

Testando os Canais e Hipóteses Alternativas

1) Participação e Salário dos Adultos no Mercado de Trabalho

Um dos canais que pode justificar o aumento da participação das crianças e adolescentes na escola e a diminuição da participação no mercado de trabalho (em especial na faixa etária de 15 a 18 anos) é o aumento da participação dos pais, homens e mulheres, no mercado de trabalho e o aumento dos salários. Com maior participação e salários dos adultos, acredita-se que as crianças e jovens possam ser liberadas das atividades laborais para dedicar mais tempo às atividades escolares. Em especial, acredita-se que a participação das mulheres no mercado de trabalho seja mais sensível do que a dos homens à presença de energia elétrica no domicílio pelo já discutido choque positivo de produtividade que provavelmente ocorre nas atividades que principalmente as mulheres desenvolvem no domicílio.

A tabela 25 apresenta as estimativas do efeito da presença de energia elétrica sobre o emprego dos pais das crianças que residem em domicílios da zona rural. Aplica-se o método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais. Os modelos estimados para os adultos são similares aos que foram discutidos nas equações (7) e (8) para as crianças e adolescentes. As amostras selecionadas dos pais das crianças do Brasil Rural em 2000 e 2010 foram restritas àqueles pais que têm disponíveis as informações referentes à sua participação no mercado de trabalho.

(34)

24

significativas a 1.0%. Estas estimativas do primeiro estágio têm magnitudes muito próximas as que foram observadas nas estimações para as amostras das crianças e adolescentes.

A estimativa de segundo estágio aponta para menor probabilidade dos homens em estar trabalhando quando residentes em domicílios com energia elétrica. O coeficiente estimado é -2.8 p.p. (significativo a 1.0%). Já para as mulheres, o efeito do acesso à energia elétrica é positivo: 10.7 pontos percentuais (significativo a 1.0%).

Como já encontrado na literatura (Dinkelman (2011)) o acesso à energia elétrica aumenta o emprego das mulheres. Este resultado corrobora, em parte, a ideia de que a maior participação das mães no mercado de trabalho em decorrência da presença de energia elétrica possa ser um dos canais responsáveis pelo efeito positivo da energia elétrica sobre a educação das crianças e adolescentes e sobre a redução da participação no mercado de trabalho dos jovens de 15 a 18 anos de idade. Contudo, como os resultados apontam para uma menor participação dos pais (embora de baixa magnitude), não se pode descartar a possibilidade que a presença de energia elétrica exerça outras influências na alocação de tempo, recursos e barganha entre os membros dos domicílios. A tabela 26 apresenta as estimativas do método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais do efeito do acesso à energia elétrica sobre o rendimento por hora do trabalho principal dos pais e mães das crianças do Brasil Rural. Tanto sobre os pais quanto sobre as mães, as estimativas de primeiro estágio apontam para efeito do LPT sobre o acesso à energia elétrica assim como já foi amplamente verificado em outras especificações e amostras.

Já a estimativa de segundo estágio aponta para efeito negativo do acesso à energia elétrica sobre o salário por hora do trabalho principal dos homens. O acesso à energia elétrica reduz o salário por hora dos homens no trabalho principal em 14.3% (estimativa significativa a 1.0%). Para as mulheres o efeito estimado do acesso à energia elétrica sobre o salário por hora no trabalho principal é de -7.3%, significativo a 5.0%.

(35)

25

Por outro lado, é possível que o maior acesso à energia elétrica possa ter gerado algum tipo de substituição entre o trabalho dos homens e das mulheres com aumento na demanda do trabalho das mulheres em detrimento do trabalho dos homens. Este fato justificaria o aumento no emprego das mulheres com a queda dos salários. Contudo, uma investigação mais profunda nesse sentido carece ser realizada.

2) Bolsa Família

O programa LPT além de ter proporcionado acesso à energia elétrica à população do Brasil rural (conforme apontam os resultados de primeiro estágio) pode ter aumentado o acesso ao programa Bolsa Família do governo federal. Entre os canais que ligam o programa Bolsa Família ao Programa LPT está a identificação direta das pessoas em situação de vulnerabilidade econômica e social durante o processo de realização de obras do LPT e o próprio efeito do acesso à energia elétrica a nível domiciliar sobre o acesso a informações de programas sociais.

O Bolsa Família consiste em transferir renda para pessoas pobres condicional a algumas exigências que dentre elas está a participação das crianças e adolescentes na escola. Dessa forma, os resultados estimados do efeito do acesso à energia elétrica sobre a alocação de tempo das crianças e adolescentes podem ser explicados pelo efeito direto da renda do programa nas decisões das famílias, ou pelo efeito da exigência de participação das crianças na escola.2 O aumento do acesso ao Bolsa Família pode inclusive surgir como hipótese para explicar o efeito negativo do acesso à energia elétrica sobre o salário por hora dos pais (sob a hipótese de que o aumento da renda diminua a oferta de trabalho dos adultos).

Para checar essa possibilidade estima-se por efeito fixo município o impacto dos critérios de prioridade de obras do LPT sobre o acesso ao programa Bolsa Família. Procede-se essa estimação apenas para amostra das mães, pois são as mulheres as responsáveis pelo recebimento do benefício do programa.

A tabela 27 apresenta os resultados. Os coeficientes estimados apontam que mulheres residentes em domicílios localizados em municípios que satisfazem as duas regras tem uma maior probabilidade de receber o Bolsa Família. Da primeira regra o efeito estimado é de 21.2 p.p., enquanto da segunda regra 13.0 p.p. (ambas as estimativas significativas a 1.0%).

(36)

26

Os resultados estimados corroboram a hipótese de que o resultado observado das estimações do efeito do acesso à energia elétrica sobre os resultados escolares e participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes possa ser explicado pelo acesso ao Bolsa Família. Mais do que isso, a própria redução do salário por hora dos adultos talvez seja explicada pelo recebimento do programa de transferência de renda.

3) Migração

Outra hipótese alternativa capaz de explicar os resultados obtidos pelo método de diferenças em diferenças com variáveis instrumentais é o fato de que ao longo do tempo os indivíduos possam ter migrado dos municípios com menor exposição ao LPT, pelo menos em termos das duas regras quantitativas, para municípios com maior exposição. Dessa forma, os instrumentos para a presença de energia elétrica obtidos das regras do LPT poderiam estar correlacionados com fatores não observáveis dos indivíduos, o que invalidaria a hipótese de exogeneidade dos instrumentos.

Para checar a possibilidade exposta acima, estimam-se equações de efeito fixo município em que a variável dependente é o status de migração dos pais das crianças das amostras selecionadas. A variável dependente assume valor igual a 1, se os indivíduos são migrantes, ou seja, não são locais do município em que residem, e zero caso contrário. A tabela 28 apresenta os resultados obtidos.

Constata-se da estimação que o efeito da regra do critério de cobertura elétrica em 2000 sobre a probabilidade dos indivíduos serem migrantes é negativa e significativa a 1.0%, porém baixa: -0.9 pontos percentuais. O efeito da regra do critério de IDH é positivo e também significativo, porém, também baixo: 1.7 pontos percentuais. Os resultados obtidos desse procedimento apontam que o efeito do LPT sobre o comportamento migratório é baixo. Parece que a migração não é a responsável pelos efeitos observados do acesso à energia elétrica sobre educação e participação no mercado de trabalho das crianças e adolescentes.

4) Eletrificação de Escolas

Imagem

Tabela 3  – Estatísticas Descritivas da Amostra de Crianças e Jovens de 7 a 18 anos do  Brasil Rural presentes no Censo Demográfico de 2010
Tabela 7  – Estimações do Primeiro Estágio RDD Paramétrico Sem Janela – Amostra das Crianças de 7 a 10 anos de Idade
Tabela 8  – Estimações do Primeiro Estágio RDD Paramétrico Janela de 0.8 a 1.2 – Amostra das Crianças de 7 a 10 anos de Idade
Tabela 9  – Estimações do Primeiro Estágio RDD Paramétrico Janela de 0.9 a 1.1 – Amostra das Crianças de 7 a 10 anos de Idade
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