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Alterações cerebelares em pacientes com cardiopatia crônica chagásica.

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Academic year: 2017

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ALTERAÇÕES CEREBELARES EM PACIENTES COM CARDIOPATIA

CRÔNICA CHAGÁSICA

A L E X A N D R E A L E N C A R

Em trabalhos a n t e r i o r e s1 , 2 , 3

chamamos a atenção para alterações do córtex cerebral observadas em pacientes chagásicos crônicos, conseqüentes à hipoxemia do sistema nervoso central resultante do comprometimento car-díaco. A hipoxemia prolongada do tecido nervoso leva a alterações profun-das do metabolismo celular, traduziprofun-das, morfologicamente, por aumento do pigmento lipofucsínico encontrado nas células nervosas, por alterações das bainhas de mielina das fibras nervosas e por proliferação da astroglia, além da mobilização microgial. Em pacientes chagásicos crônicos, falecidos em fase de insuficiência cardíaca congestiva, encontramos enorme sobrecarga pigmentar, não somente nas células nervosas mas também nos elementos astrogliais satélites perineuronais. Muitas células nervosas apareciam em estado de "contração celular", hipercromáticas e outras em desintegração. O pigmento resultante da desagregação celular era fagocitado pela micro-glia, mobilizada e concentrada nos espaços perivasculares. As fibras nervo-sas finas e delicadas da camada externa de Baillarger se apresentavam de-generadas. Na substância branca, a astroglia havia entrado em proliferação, sob a forma de gliose anisomórfica difusa. Em casos extremos, estas alte-rações corticais difusas traduziam-se, macroscopicamente, por atrofia das circunvoluções cerebrais mais ou menos pronunciada.

Continuando esta linha de pesquisa estendemos nossas observações ao córtex cerebelar, o que constitui motivo do presente trabalho.

M A T E R I A L E M É T O D O S

U t i l i z a m o s os c e r e b e l o s de 12 p a c i e n t e s c a r d i o p a t a s c h a g á s i c o s c r ô n i c o s , t o d o s f a l e c i d o s e m f a s e de i n s u f i c i ê n c i a c a r d í a c a c o n g e s t i v a . A i d a d e dos p a c i e n t e s v a -r i a v a e m t o -r n o d e 30 a n o s . Os c e -r e b e l o s , e m sua m a i o -r p a -r t e , j á t i n h a m sido c l i v a d o s e m e s t u d o s a n t e r i o r e s , c o n s t i t u i n d o m a t e r i a l d e r e s e r v a a r q u i v a d o n a D i v i s ã o de P a t o l o g i a d o I n s t i t u t o O s w a l d o C r u z . O m a t e r i a l e n c o n t r a v a s e e m e x -c e l e n t e s -c o n d i ç õ e s de f i x a ç ã o , p e r m i t i n d o e s t u d o h i s t o l ó g i -c o m i n u -c i o s o . U t i l i z a m o s t a m b é m os c e r e b e l o s de 9 p a c i e n t e s c o m c a r d i o p a t i a s d e e t i o l o g i a s d i v e r s a s , t o d o s

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f a l e c i d o s e m f a s e d e i n s u f i c i ê n c i a c a r d í a c a c o n g e s t i v a . P a r a c o m p a r a ç ã o , e s t u d a -m o s d o i s c e r e b e l o s de i n d i v í d u o s j o v e n s , f a l e c i d o s a c i d e n t a l -m e n t e .

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m i n u t o s ( s o l u ç ã o s a t u r a d a d e S u d a n B e m á l c o o l e t í l i c o ) ; a p ó s l a v a g e m e m á g u a d e s t i l a d a os c o r t e s e r a m m o n t a d o s , s e m d e s i d r a t a r , e m g o m a a r á b i c a , m o n t a g e m e s t a q u e p e r m i t e b o a t r a n s p a r ê n c i a d o s c o r t e s e c o n s e r v a ç ã o d u r a n t e a l g u n s m e s e s .

R E S U L T A D O S E D I S C U S S Ã O

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meninges. Apenas em um dos casos foi possível verificar diminuição de volume do órgão e irregularidades em sua superfície externa.

Microscopicamente verificou-se redução numérica na camada das célu-las de Purkinje. Todavia, como mesmo em indivíduos normais esta camada de células não é contínua, foi feita verificação numérica exata: em cada caso contamos, em 5 fólios cerebelares diversos, o número destas células (cortes de 5 micra; obj. 10x — oc. 5 x ) . tirando a média aritmética. Da mesma forma procedemos nos cerebelos "normais". Nos chagásicos obtive¬ mos a média de 18 células por fólio cerebelar, enquanto que nos normais obtínhamos cerca de 24 células. Esta redução numérica das células de Purkinje já fôra assinalada por Brandão4

, em 1964.

Os elementos neuronals remanescentes mostravam-se normais ou alte-rados em graus diversos, indo desde a fragmentação da substância de Nissl até a excentricidade do núcleo, com diminuição do volume celular e hiper¬ cromatismo ("contração celular" de Spielmeyer). Na figura 1 podem ser vistas estas alterações que ressaltam quando se compara com o que foi en-contrado em indivíduo normal (fig. 2 ) .

Nas fibras nervosas que formam as cestas peripurkinjeanas, a impreg-nação argêntica revelou fragmentação e aglutiimpreg-nação conseqüente, talvez, à diminuição do volume celular (fig. 3 ) .

As mais importantes alterações foram vistas mediante a coloração pelo Sudan B. Na camada das células de Purkinje as cestas pericelulares mos-traram as bainhas de mielina em desintegração sob a forma de gotículas dispersas pelos interstícios do tecido nervoso ou em disposição catenular. Muitos histiócitos apareciam carregados de gotículas lipídicas (figs. 4 e 5 ) . Devemos assinalar que esta desintegração mielínica, bem como a mobiliza-ção dos histiócitos, não foram encontradas nos controles normais. Os his-tiócitos eram observados, preferencialmente, concentrados nos espaços peri-vasculares (fig. 5 ) .

Como jamais verificamos sinais histológicos de processo inflamatório, interpretamos estas alterações como resultantes do processo hipoxêmico de-terminado pela insuficiência cardíaca congestiva. Com esta idéia realiza-mos o mesmo tipo de estudo em 9 cerebelos de pacientes com cardiopatias não chagásicas, falecidos também em fase de falência cardíaca. As altera-ções encontradas foram idênticas às verificadas nos casos dos chagásicos. Devemos assinalar que estes últimos não apresentavam sinal algum de ar-teriosclerose cerebral, de pneumopatias crônicas associadas, nem tampouco alterações hematológicas graves, a não ser discreta anemia ferropriva (os pacientes provinham todos da zona rural).

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Em conclusão, cabe dizer que no córtex cerebelar de pacientes com cardiopatias chagásicas crônicas encontram-se alterações microscópicas

se-melhantes às que já foram descritas em relação ao córtex cerebral 1,2,3

.

Estas alterações consistem em redução numérica das células de Purkinje1

, lesões regressivas nas células remanescentes, alterações das cestas peripur-kinjeanas e mobilização histiocitária nos espaços perivasculares.

Tais alterações, entretanto, não são específicas da cardiopatia crônica chagásica, encontrando-se também em cardiopatias de outras etiologias.

R E S U M O

Foram estudados 12 cerebelos de pacientes com cardiopatia crônica chagásica, 9 cerebelos de pacientes com cardiopatias não chagásicas (ambos os grupos constituídos de indivíduos falecidos em fase de insuficiência car-díaca congestiva) e dois cerebelos de indivíduos normais, falecidos aciden-talmente. Nos pacientes chagásicos foi verificada redução numérica nas células de Purkinje, alterações de natureza regressiva nas células remanes-centes, alterações das cestas peripurkinjeanas e mobilização microglial. Estas modificações foram também encontradas nos cerebelos dos cardiopatas não chagásicos.

As alterações observadas foram interpretadas como resultantes da hypo-xemia do sistema nervoso central devido à falência cardíaca.

S U M M A R Y

Cerebellar changes in patients with chronic chagasic cardiopathy

The study of the cerebellums of 12 patients with chronic Chagas' disease (chronic chagasic cardiopathy) has shown numeric reduction of the Pur-kinje cells with regressive changes in the remaining ones, changes in the nervous fibers of the Purkinje's cells nests and microgial mobilization. The same alterations were found in the cerebellums of 9 patients with non cha-gasic cardiopathy but, like the chacha-gasic ones, with congestive heart failure. T w o cerebelleums of "normal" persons accidentally died were used as controls.

The changes in the cerebellar parenchyma were considered as resulting from hypoxaemia of the central nervous system due to congestive heart failure.

R E F E R Ê N C I A S

1. A L E N C A R , A . — A t r o f i a do c é r e b r o e a n o x i a na c a r d i o p a t i a da d o e n ç a de C h a g a s . A n . A c a d , b r a s i l . Cien. 36:193-197, 1964.

2 . A L E N C A R , A . — A t r o f i a c o r t i c a l na c a r d i o p a t i a c r ô n i c a c h a g á s i c a . O H o s p i t a l ( R i o d e J a n e i r o ) 66:807-815, 1964.

3 . A L E N C A R , A . — A t r o f i a c o r t i c a l na c a r d i o p a t i a c r ô n i c a c h a g á s i c a . A n . A c a d , b r a s i l . C i e n c . 1966, e m p u b l i c a ç ã o .

4 . B R A N D Ã O , H . — E s t u d o d o c e r e b e l o e m c h a g á s i c o s . A p r e s e n t a d o a o V C o n -g r e s s o B r a s i l e i r o d e P a t o l o -g i a , N o v a F r i b u r -g o ( R i o de J a n e i r o ) 12 a 18 d e j u l h o , 1964.

Referências

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