FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÉMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
A POL~TICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO
MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÉMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
E
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR
JAIME ERNESTO HUGHES LEÓN
199610 1838 T/EBAP L579p
11111111111
~IU
11111111111111000076223
APROVADA EM 16/09/1996
PELA COMISSÃO EXAMINADORA
ENRIQUE JER Filosofia
DE OLIVEIRA - Doutora em Educação
Desejo agradecer desde o mais profundo do meu coração a paciência, a compreensão e o apoio de minha esposa, Marília, e dos meus filhos: Clara, Isabel, Jaime e Alexandre; a minha mãe Clara Maria e aos meus irmãos Angel, Roberto, Gilberto e Gerardo; e, em especial, em memória a meu falecido pai, Gilberto: sempre acreditaram em mim e souberam em todo momento suportar minhas ausências ao longo deste processo.
Obrigado.
AGRADECIMENTOS
Ao Governo do Brasil - Capes, pela bolsa de estudos que me concedeu, sem a qual não teria concluído a realização do Mestrado.
Ao professor Enrique J. Saravia, pela dedicação e interesse com que aceitou a orientação deste trabalho, fazendo-o de forma tal que muito me foi possível aprender em quanto me empenhava na sua realização.
Aos professores Paulo Roberto Motta e Fátima Bayma de Oliveira por terem aceito ser os integrantes da banca examinadora.
A os professores da FGVIEBAP, em especial à professora Valéria de Souza, pela amizade e oportunidade com que me brindou de muito aprender e repensar.
Aos meus amigos, irmãos e colegas latino-americanos, pela energia e coragem que nos transmitimos para superarmos todos este desafio. Em especial, para Presvítero Zamora, Kleber Hernán Mejía, EIsa Ardila, Wilbert Chirri e Severiano Arguello.
Ao pessoal do Nau, da Biblioteca, da Associação de Funcionários, do Restaurante, da Investbem, por sua propícia, ativa e valiosa colaboração.
Aos meus colegas e amigos da FGVIEBAP, pelo companheirismo, apoio e carinho que me dispensaram ao longo do curso.
Aos meus amigos Geraldo Werneck, Bruno, Nora, Simone e Fernando por sua generosidade no uso do seu tempo ao ler e comentar as diversa partes do trabalho.
Finalmente, a todas aquelas pessoas que de uma forma ou de outra contribuíram direta ou indiretamente na realização deste trabalho.
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS
RESUMO
o
estudo que agora apresentamos tem como objetivo identificar os fundamentos da política do governo do Panamá para sua inserção definitiva no mercado internacional de serviços e verificar sua atual contribuição na consolidação do país como centro fornecedor de serviços para o intercâmbio comercial entre os países da América Latina, o Caribe e o restante do mundo.Os processos observados e identificados foram analisados à luz de teorias de políticas públicas, desenvolvimento e integração econômica.
Conclui-se, então, que as políticas adotadas pela República do Panamá e o desenvolvimento da infra-estrutura de serviços de exportação do país, ora identificados, têm uma participação significativa para a sua inserção na nova ordem mundial. Constituem-se estes fatores em canais eficientes de promoção, divulgação e fortalecimento da imagem da nação como fornecedora confiável de serviços internacionais.
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS
ABSTRACT
The research we now present has the objective of identifying the fundamentaIs of the Panamanian Govemment policy for its definitive participation in the intemational trade of services and also verify the present contribution of the nation for its consolidation as a service supplier to the intemational trade between Latin America and the Caribbean and the rest of the world.
The processes that have been observed and identified were analyzed taking into account theories of public policies and economical integration and development.
The final conc1usion is that the policies adopted by the Republic of Panama and the development of its export service infra - structure identified in this study, have a meaningful importance in Panama's inc1usion in the new world order. These factors constitute in effective ways of promotion, propagation and strengthening of the nation image as a reliable supplier of intemational services.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ... 01
CAPÍTULO I ... 08
GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA 1. Globalização da Economia ... 08
2. Abertura Econômica ... 15
3. Integração Econômica ... 20
CAPÍTULO II SÍNTESE HISTÓRICA E SÓCIO - ECONÔMICA DO PANAMÁ 2.1 Aspectos Gerais ... 28
2.2 Natureza da Economia Panamenha ... 31
CAPÍTULO III O PERFIL DO SETOR DOS SERVIÇOS 3.1 Definições ... 40
3.2 Classificação dos Serviços ... .41
3.3 Importância do Setor de Serviços na Economia Mundial ... .43
3.4 O Comércio de Serviços ... .49
3.5 Política Comercial para os Serviços ... 51
CAPÍTULO IV INFRA - ESTRUTURA PARA DESEMPENHAR ATIVIDADES NA ÁREA DE SERVIÇOS NO PANAMÁ 4.1 O Canal do Panamá ... 58
4.2 O Centro Financeiro Intemacional ... 66
4.3 A Zona Livre de Colón ... 74
4.4 O Registro de Navios e a Marinha Mercante ... 80
4.5 A Empresa Petroterminales de Panamá ... 86
CAPÍTULO V
FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DO GOVERNO PARA A INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS
5.1 Conceitos Teóricos das Políticas Públicas ... 95
5.2 Avaliação da Política do Governo ... 98
CONCLUSÕES ... 119
BIBLIOGRAFIA ... 123
LISTA DE TABELAS
Tabela Página
I Crescimento da Economia e do Comércio Mundial 11
2 Comércio e Crescimento 12
3 Investimento Direto dos Cinco Maiores Países - OCDE 13
4 Comércio Internacional de Mercadorias entre blocos 24
5 Principais Características dos Acordos Regionais 26
6 Panamá Export. e Import. de Bens e Serviços 1984-1993 34
7 Indicadores da Abertura do Panamá Export. Import. 34
8 Contribuição dos Setores Econômicos no Plli A. Latina e do Caribe 45 - 1993
9 Estrutura do Setor Terciário (serviços) do Panamá 1993 56
10 Balança de Serviços do Panamá 1994 57
11 F orça de Trabalho da Comissão do Canal do Panamá 1994 62
12 Principais Grupos de Mercadorias que Transitam pelo Canal 64
13 Centro Bancário Internacional- Contas Externas 68
14 Movimento da Frota Mercante do Panamá 83
15 Trânsito pelo Canal do Panamá por Bandeira de Conveniência - 85
1994
16 Média de Volume de Petróleo transportado 1983-1995 90
17 América Latina: Coeficiente de Investimentos 108
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 1
INTRODUÇÃO
Estudos teóricos demonstram que existe uma relação positiva entre comércio e
crescimento econômico. À luz dessa idéia, os governos contemporâneos no mundo têm
adotado medidas de abertura das economias e de integração com mercados de outros
países, para incentivar maiores taxas de crescimento dos fluxos comerciais de bens e de
serviços. Acredita-se que, com estas medidas, é viável o crescimento nas correntes de
comércio e, como conseqüência, pode-se esperar uma modernização das estruturas
produtivas, uma maior geração de recursos e, por conseguinte, um nível mais elevado
de desenvolvimento na economia mundial.
Esta moderna estratégia de integração e inserção internacional numa economia
crescente globalizada, além de mudar a concepção do comércio internacional, impõe o
desafio de desenhar e colocar em prática mecanismos diferentes dos que prevaleceram
no passado. Em particular, os países da América Latina devem experimentar profundas
transformações, como resultado da imposição de uma severa mudança na concepção de
desenvolvimento econômico. Com efeito, depois de uma prolongada etapa, na qual a
base doutrinária esteve constituída pela substituição das importações com intensa
proteção, os governos da região têm-se lançado a implementar políticas que permitam a
articulação de suas economias com o resto do mundo.
Esta orientação implica também numa diminuição da interferência do Estado
nas atividades econômicas diretas e, concomitantemente, numa revalorização da gestão
dos agentes privados, num esforço crescente de desregulamentação das atividades e,
fmalmente, numa substancial redução da proteção diante de países extra-regionais,
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 2
Em particular, os serviços possuem a característica de ser altamente dinâmicos,
de estabelecer interconexões múltiplas, que vinculam as diferentes atividades do setor
real das economias, e de complementar as estruturas produtivas. Ultimamente, sua
importância aumenta progressivamente e seu comércio tem-se expandido a taxas
aceleradas, até serem identificados como elementos chave para o desenvolvimento
econômico dos países da América Latina.
Como conseqüência, é preciso que a liberalização chegue até o comércio de
serviços, o que significa desmantelar paulatinamente grande parte das regulamentações
protetoras, expondo as economias a uma maior participação estrangeira e a menores
margens de manobra para a tomada de decisões, vinculadas à política econômica para
seu desenvolvimento. Sobre este assunto existe preocupação geral por parte dos países
da América Latina e do Caribe, que se manifesta na procura de estratégias para
desenvolver a capacidade produtora de serviços da região, para desregulamentar essas
atividades e fortalecer a cooperação econômica. Os países consideram especialmente
importante a prestação de serviços de transporte, de seguros, de resseguros, de
assessoria em engenharia, de atividades bancárias, de consultoria, computacionais e
fluxos de dados computadorizados, meios de comunicações e publicidade.
Dentro da área geográfica da América Latina e do Caribe, a República do
Panamá é um país que, por tradição, fundamentou sua economia nas atividades do setor
serviços, com ênfase nas áreas bancária, fmanceira, comercial, de transporte e de
turismo. Sua importância, que cresceu através dos anos, é ressaltada quando se observa
que os países vizinhos colocam maior interesse em outros setores da economia, como a
agricultura, a caça e a pesca e, em forma mais discreta, nas atividades industriais. Essa
característica do país, junto com as últimas transformações da economia mundial,
impõe um grande desafio para a economia panamenha e exige a formulação de uma
estratégia econômica que tenha a capacidade de inserir defmitivamente o Panamá no
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 3
para viabilizar as transações internacionais da região com o resto do mundo resulta
indispensável.
A partir destas primeiras considerações, surgiu a idéia de pesquisar sobre a
política pública desenhada pelo Governo do Panamá para a inserção do país no
mercado internacional. Buscamos, assim, responder à seguinte pergunta: Qual é a
política utilizada pelas autoridades, para a inserção do Panamá no mercado
internacional de serviços e, especificamente, qual é sua contribuição na consolidação
do país como fornecedor de serviços para América Latina e o Caribe?
A vantagem natural que possui o Panamá por sua posição geográfica estratégica
e pela presença do Canal do Panamá, faz com que parte importante do comércio
mundial tenha sua convergência direcionada para ali, permitindo a mobilização rápida
de mercadorias nos sentidos leste - oeste e norte - sul, e facilitando o intercâmbio entre
os principais centros produtores e comerciais do mundo, como Europa, Estados
Unidos, Japão, Taiwan, Singapura e América Latina.
Para o Panamá, como fonte geradora de recursos, e para os agentes econômicos
do mundo inteiro, resulta importante demais contar com um ponto geográfico dotado
da infra-estrutura de serviços necessária à realização de operações comerciais. Os
dirigentes da República do Panamá, cientes dessa realidade e de suas vantagens, tem
promovido, nos últimos 25 anos o desenvolvimento das atividades do setor serviços.
De fato, hoje em dia, elas são responsáveis por mais de 70% do Produto Interno Bruto
(PIB) e por 50% da força de trabalho do país.
Derivados da existência do Canal, destacam-se ainda as atividades comerciais,
de serviços fmanceiros, de seguros e do setor transporte. Por sua vez, a Zona Livre de
Colón, que é a segunda maior do mundo, depois da de Hong Kong, e se constitui numa
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 4
das Américas Central e do Sul, assim como da região do Caribe. Produtos de todas as
partes do mundo podem ser importados, armazenados, modificados, reembalados e
reexportados sem estar sujeitos as regulações aduaneiras. Durante quatro décadas e
meia, tem representado para o Panamá uma fonte de riqueza e um dos mais importantes
pilares da economia nacional (5%), acesso privilegiado a diversidade de rotas e
facilidades de transportes, que lhe dão posição singular no desenvolvimento do
comércio internacional.
o
Centro Bancário Internacional do Panamá se desenvolve a partir de 1970. Acriação de um novo regime bancário especial nacional e estrangeiro, converteu o
Panamá num dos mais importantes centros financeiros internacionais. Com a
assinatura de vários acordos, nos últimos anos, tem-se fomentado a credibilidade
internacional, inspirando a confiança nos banqueiros e seus clientes, mediante o
fortalecimento dos conceitos básicos de liquidez, estrutura de capital e supervisão.
Por outra parte, desde 1982, a questão da liberalização do comércio de serviços
tem sido motivo de profundas divisões entre os signatários do antigo GATT.
Infortunadamente, o Panamá não era signatário daquele acordo, pelo qual o país ficava
mais exposto a imposição de barreiras. Daí que o país, como desejava aumentar suas
possibilidades de negociação na área internacional se subscreveu a este acordo para
formar parte do bloco de países de América Latina e o Caribe, para que, em conjunto
tenham maior capacidade de negociação nos foros internacionais e possam ter maiores
possibilidades de estabelecer as regras do jogo para comercialização e venda
internacional de serviços.
A partir dessas primeiras considerações expostas acima, os objetivos do presente
estudo foram: identificar os fundamentos da política do Governo do Panamá para a
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 5
consolidação do país como fornecedor de serviços para os países da América Latina
e do Caribe
Esta dissertação não pretendeu tratar de todas as variáveis que influem no
processo de inserção do Panamá no mercado de serviços da América Latina. Foram
avaliadas apenas as mais relevantes em face de outras, que tornariam o estudo amplo
demais e, possivelmente, incompleto. Seu objetivo está limitado a identificar as
principais estratégias e os instrumentos utilizados pelo governo para adquirir a
infra-estrutura necessária a constituir o setor serviços em motor de desenvolvimento
econômico. Em particular, foram enfocadas as seguintes atividades: o Canal do
Panamá, o Centro Financeiro Internacional, a Zona Livre de Colón, atividades
decorrentes a Marinha Mercante e atividades pertinentes a Transporte de Petróleo. Não
houve a intenção direta de observar outras atividades, reconhecida embora sua
importância para esta análise.
No que diz respeito ao horizonte temporal, o estudo abrangeu o período entre
1990-1994, buscando analisar o Panamá após iniciado o processo de reconstrução
nacional, depois da invasão do país por parte dos Estados Unidos, o que afetou de
forma rigorosa o comportamento da República e, portanto, constituiu um período
atípico para ser analisado. Quanto ao horizonte espacial, o estudo cingiu-se à República
do Panamá, localizada historicamente na América do Sul e geograficamente no istmo
centro americano.
Quanto ao fim, a pesquisa foi do tipo descritivo e explicativo. O trabalho foi
realizado, visando a entender as bases conceituais, as políticas públicas do Governo e
as características do processo de inserção do Panamá no mercado Latino Americano de
serviços; e, em particular, a importância do país como centro produtor e fornecedor de
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 6
Confonne os objetivos desta dissertação, os processos observados e
identificados foram analisados à luz das teorias de políticas públicas de
desenvolvimento e integração econômica, de fonna a responder à totalidade das
questões fonnuladas nos objetivos finais e intennediários.
Quanto aos meios, a dissertação foi realizada através de pesquisa documental,
bibliográfica e de campo, objetivando recolher os documentos estatísticos e
indicadores, de sorte a constituir um farto acervo de elementos para análise do
problema em pauta. A partir desses elementos foi-nos possível realizar um estudo
sistemático da infonnação e dos dados coletados.
Com relação à coleta de dados, podemos dizer que, numa primeira etapa, foram
recolhidas infonnações contidas nas teorias sobre desenvolvimento, globalização,
abertura e integração; foram pesquisados documentos, livros, jornais, revistas
especializadas etc.
Adicionalmente, foram coletados dados sobre a legislação panamenha, que
define as orientações do Governo e as regras que devem ser atendidas quanto ao
sistema bancário, frnanças, investimentos e regulamentos comerciais e internacionais,
utilizando documentos do governo e publicações oficiais para compreender as
diretrizes e os programas de governo.
Finalmente, foram identificados e examinados os resultados das estratégias de
desenvolvimento de políticas públicas e sua contribuição na inserção do Panamá no
mercado de serviços. Levantaram-se também dados gerais e infonnações estatísticas,
que foram utilizadas como indicadores da importância do setor de serviços no Panamá
A POUTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 7
Os dados extraídos das fontes bibliográficas estão constituídos por
argumentações, interpretações e reflexões de diferentes autores, às quais foi dado um
tratamento qualitativo, visando a extrair conceitos e elementos teóricos que sustentem o
inter-relacionamento que existe entre o mercado de serviços, integração e
desenvolvimento.
A dissertação consta de cinco capítulos. O primeiro contém os conceitos teóricos
e fatos históricos do processo da globalização da economia, enfatizando os elementos
que têm materializado o processo de abertura e integração econômica. O segundo busca
familiarizar o leitor com a República do Panamá, horizonte espacial do nosso estudo,
no seus aspectos históricos e sócio - econômicos. O terceiro contém a composição,
características, tendências e contribuição dos serviços ao crescimento econômico. O
quarto capítulo foi reservado para identificar a infra - estrutura existente na área de
serviços de exportação no país. O capítulo quinto examina as determinações que foram
adotadas pelas autoridades panamenhas para estimular a inserção do país no mercado
A POLíTI, .-\ DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 8
CAPÍTULO I
GLOBALIZAÇÃO DA ECONOMIA
N este capítulo, trataremos dos conceitos teóricos e apreCIaremos os fatos
históricos que definem o processo de globalização da economia, com ênfase em
dois dos fenômenos que têm materializado o processo: a abertura das economias e a
integração, ocorridas nas últimas décadas, tanto no interior da América Latina,
quanto na economia do resto do mundo, e que constituem as duas principais
manifestações da globalização.
1. Globalização da Economia
Ao longo dos últimos anos, a economia mundial tem passado por inéditas e
profundas transformações das forças produtivas, das relações sociais, dos sistemas de
produção, das instituições e da ideologia. Todas essas mudanças fizeram com que o
mundo ficasse cada vez mais interdependente, intercomunicável e, por conseguinte,
mais vulnerável aos meios de comunicação de massa, às telecomunicações em geral e à
informática.
o
processo dessas transformações levou o mundo a assumir uma nova visão dagestão baseada na coexistência de regimes diversos e até contraditórios na forma de
enfrentar aspectos econômicos, sociais, políticos, e sobretudo culturais da sociedade.
Este novo processo permite perceber o mundo como um todo e não em fragmentos
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 9
1.1 Características do Processo de Globalização
Após a consulta de parte da literatura existente sobre a globalização da
economia, observamos que a maioria dos autores concordam em que as principais
caracteristicas dest..; processo são:
~ a extraordinária expansão do comércio mundial;
~ o crescimento dos investimentos multinacionais;
~ o aumento das transações financeiras internacionais;
~ a terceira revolução industrial, baseada na micro - eletrônica e na organização
flexível do trabalho;
~ o aumento da concorrência externa;
~ o desaparecimento da supremacia econômica dos EUA;
~ a formação dos três grandes blocos econômicos;
~ a internacionalização da produção e dos mercados;
~ o desaparecimento da mentalidade nacionalista e protecionista;
~ os intensos movimentos migratórios do sul para o norte;
~ o desenvolvimento do pensamento cooperativo e participativo;
~ os grandes movimento dos países pela preservação do meio ambiente;
~ as mudanças na natureza do Estado e dos sistemas estatais para inserir-se na
economia mundial;
~ e as novas formas de integração, entre outras.
Para Shultz (1994: 1), estas mudanças conduzem a visualizar a economia, não
como uma simples relação de negócios entre empresas e países individuais, mas, sim,
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 10
culturas de países grandes e pequenos, ricos em recursos naturais ou menos dotados
nesse particular, estão convergindo.
Paralelamente, o processo é reforçado pelo fato de que a infonnação e o
conhecimento transbordaram as fronteiras, na medida em que idéias e teorias circulam
sem qualquer impedimento, oferecendo-nos condições de utilizarmos o que realmente
ftrnciona no mundo.
Ianni (1992:9) comenta que as mudanças da sociedade no mundo se revelam de
fonna transparente quando ocorrem conjunturas críticas. Nessas oportunidades, ficam
explícitas relações, processos e estruturas insuspeitas ou pouco visíveis. À guisa de
exemplos, mencionamos as duas guerras mundiais, a grande depressão econômica, o
início da guerra fria e a desintegração do bloco socialista, que evidenciaram articulações
e antagonismos que envolveriam nações e continentes. Em todos estes casos, os
acontecimentos tomam explícitas as características da sociedade mundial, evidenciam
relações, processos e estruturas ainda desconhecidas, operando em escala global.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, temos acompanhado uma expansão do
comércio entre países, surgindo assim uma força revitalizante da economia mundial que
deve ser aproveitada. Após esse acontecimento, lançaram-se as bases de uma economia
internacional, isto é, o estabelecimento de um comércio aberto, que promove a
eliminação das barreiras nacionais, promove a redução das tarifas e das quotas de
importação, a eliminação dos subsídios e que estimula o crescimento dos níveis do
comércio internacional. (Shultz, 1994: 3)
o
fluxo do comércio cresceu de fonna sem precedentes e se expandiu maisrapidamente que a produção mundial; as economias nacionais tomaram-se mais abertas.
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 11
mundial em 1965, alcançaram cerca de 15% do PNB em 1990. Comparando-se a
evolução das exportações mundiais com a do produto, tem-se uma queda na taxa média
de crescimento das exportações no período de 1980-1985, (ver tabela ~ 1) que se
deveu à crise do início da década dos 80. Mas o crescimento das exportações no período
de 1985-1990 é maior do que a do PNB. Nos dias de hoje, mantém-se a tendência de
maior crescimento do comércio do que a do produto. (Thorstensten, 1994)
Exportações Prod. Agricola Prod. Mineral
Prod. Manuf.
PNB
Tabela N" 1
CRESCIMENTO DA ECONOMIA E DO COMÉRCIO MUNDIAL (Taxa % anual média)
1980-85 1985-90 1991
-0,9 12,3 1,6
-2,3 10,1 0,8
-5,3 2,5 -5,1
1,6 15,5 3,3
2,6 3,3 0,0
Fonte: Gatt, 1993 f i Thorstensten, 1994
1992 5,9 6,1 -2,0 7,6 1,0
o
mercado de capitais também se internacionalizou e os fluxos financeirosinternacionais cresceram mais rapidamente que os empréstimos nacionais. Um número
cada vez maior de países em desenvolvimento tem buscado o aumento das exportações
e das importações, assim como a atração de maiores fluxos de investimentos
estrangeiros diretos como caminho de um crescimento mais rápido.
A análise empírica da experiência de desenvolvimento de diversos países na
década dos 80 mostra que existe uma correlação entre desempenho das exportações e
taxas maiores de crescimento. Essa correlação se evidencia mais nos países onde
ocorreu uma abertura econômica genuína, medida pelo crescimento conjunto de
exportações e importações em relação ao PIB. (Agosin; Tussie, 1993: 57)
Uma análise estatística do desempenho de 35 países em desenvolvimento
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 12
exportações de manufaturados superior a 10% a.a., apresentaram mna taxa real de
crescimento do PIB de 5,4% a.a., no período, superior à dos demais grupos com
desempenho inferior nas exportações.
Cresc. Export. Manufat. Cresc. Exportações Cresc. PIB Real Manuf./PIB (1980) Invest./PIB(1980)
1980 Variação Tx. de Câmbio Taxa de Inflação
TabelaN" 2
COMÉRCIO E CRESCIMENTO
(1980 - 1988)
GRUPO I 1/ GRUPO 11 2/
16,5 6,0
9,1 4,0
5,4 2,8
19,3 17,2
26,9 19,4
27,8 27,3
8,0 10,0
15,9 31,0
Fonte: Unctad, extraído de Agosm e Tussle (1993: 57). Notas :
GRUPOm 3/
0,4 1,4 1,0 20,8 17,8 25,9 19,9 59,5
1/ Constituído por doze países com taxas de crescimento real das exportações de manufaturados em 1980-88 excedendo 10% a.a. ex. Indonésia, Turquia, México, Tailândia, Mauritânia, Sri Lanka, Rep. da Coreia, China, Marrocos, Hong Kong, Malásia, e Paquistão.
2/ Constituído por Tunísia, Chile, Egito, Brasil, Costa Rica, Singapura, Bangladesh, Jordânia, Simbabwe, Senegal, Índia, e Trinidade e Tobago que entre 1980-88 apresentaram taxas de crescimento real das exportações entre 4% e 10% a.a.
3/ Constituído por Filipinas, Uruguai, Equador, Colômbia, Iugoslávia, Quênia, Guatemala, Costa do Marfim, Argentina e Peru que entre 1980-88 apresentaram taxas de crescimento real das exportações menores que 4% a.a.
Os dados da tabela acuna mostram também que o forte crescimento das
exportações de manufaturados está correlacionado com a estabilidade da taxa de
câmbio das economias, ao impor inovadores padrões de relacionamento nos mercados
nacionais e internacionais.
Acompanhando a expansão do comércio mundial, as grandes empresas se
internacionalizaram, amnentando o fluxo dos investimentos diretos. No período
1971-1980, essa cifra chegou a US$ 302 bilhões de dólares e, em 1981-1990, a US$ 1,0
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 13 PAIS JAPAO REINO UNIDO EUA FRANÇA ALEMANHA
TOTAL OCDE
TabelaN' 3
INVESTIMENTO DIRETO DOS CINCO MAIORES PAÍSES - OCDE
(US$ bilhões)
1971 - 1980 1981 - 1990
US$ % US$
18,1 6 185,8
55,1 18 184,3
134,4 44 173,9
13,9 5 85,8
24,5 8 86,5
302,3 100 1.003,1
Fonte: m Thorstensen e outros, 1994
% 19 18 17 9 9 100
Para Ianni, a globalização não é um fato acabado e sim uma sucessão de
mudanças em marcha, que enfrenta obstáculos, sofre interrupções, mas, de forma geral,
aprofunda-se como tendência. Por isso, segundo o autor, há nações e continentes nos
quais a globalização pode desenvolver-se ainda mais, por ter ainda espaços a conquistar.
(Ianni, 1992: 24)
Paralelamente, Ianni anota que hoje em dia, as disputas entre as nações
capitalistas adquirem um novo sentido. O crescimento da Alemanha e do Japão passou
a incomodar os EUA e a Europa pelos sinais de declínio da hegemonia norte-americana.
Igualmente, reaparecem graves problemas do terceiro mundo, pelas dificeis condições
de vida e trabalho dos habitantes dessas regiões, assim também criam-se novas formas
de organizar a sociedade e de pensar o mundo.
Neste esquema, o comércio internacional e o processo de globalização ainda
enfrentam grandes barreiras, que têm sido diminuídas na medida em que os países em
desenvolvimento abriram suas economias unilateralmente e os países desenvolvidos o
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 14
Para levar adiante o processo de globalização, aproveitando suas vantagens e
contornando os obstáculos, os países em desenvolvimento têm de, em primeiro lugar,
considerar que, mesmo que a tendência internacional seja a de globalização, desde
meados deste século, esta forma de visualizar as relações comerciais têm perdido
espaço para a regionalização, na medida em que cada vez mais consolidam-se novos
blocos econômicos, baseados em concessões comerciais privilegiadas.
Em segundo lugar, é necessário apoiar o crescimento dos mercados do terceiro
mundo, para trazer possibilidades de trocas mais justas. Os países desenvolvidos
deverão crescer em termos de produção e tecnologia, assim como também deverão se
preocupar com os consumidores. O mercado global será, numa visão futurista, o motor
propulsor da igualdade social.
Por último, a globalização dos negócios das grandes empresas multinacionais,
que acontece, na prática, desde há muitos anos, deve ser regulamentada pelos Governos,
para evitar trustes e domínio do mercado mundial. No entanto, para ser eficaz, essa
regulamentação deverá ser de caráter multilateral, o que significa que deverá haver uma
política de harmonização a respeito das leis antitrustes, entre outras.
A globalização não será um processo pacífico, em virtude dos múltiplos
interesses em jogo. Por um lado, a tensão, que se registrará entre as empresas e as
exigências da prática de uma economia global, e os, conflitos entre as políticas locais e
governos nacionais. Por outro lado, poderá haver sérios conflitos que tendem a exigir
uma intervenção militar como a ocorrida recentemente na Bósnia e no Iraque, o que
obrigaria a uma restruturação de organizações internacionais, voltadas para os aspectos
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 15
Assim, o grande desafio no início do século XXI consistirá, fundamentalmente,
num entrosamento efetivo entre os poderes políticos e econômicos, de forma a permitir
um desenvolvimento sócio - econômico mais equilibrado, uma distribuição de renda
mais justa e uma maior mobilização de vários fatores de produção e transferência de
tecnologias, e que permitirá uma tomada de consciência global por parte dos seres
humaPos com relação aos beneficios que esse novo modelo econômico lhes trará.
2. Abertura Econômica
No contexto internacional de hoje em dia, abertura significa, não somente,
acesso a mercado_'ias, serviços, tecnologia e fluxos de capital; significa, também,
estímulo a maiores taxas de investimento e maIOr integração entre países, como
elementos que podem acelerar o processo de reconversão industrial e de
desmantelamento do protecionismo que os países praticam em suas relações recíproca
(BID Intal- N°. 197, 1994).
Prates (1993:220) analisa a abertura comercial através dos dois modelos
convencionais da teoria do comércio internacional: o estático e o dinâmico. Sob o
enfoque do primeiro modelo, a abertura comercial é entendida como a liberalização das
importações e o fomento das exportações; neste esquema, promovem-se alterações nos
preços relativos dos fatores de produção, favorecendo a produção no setor intensivo, no
fator abundante, onde se situam as chamadas "vantagens comparativas".
No entanto, no segundo modelo, o enfoque é de longo prazo, onde a questão
fundamental centra-se no papel da abertura comercial em promover o crescimento
econômico, através da incorporação do progresso tecnológico, da criação de economias
de escala, acumulação de capital, qualificação do capital humano e geração de efeitos
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 16
Já para Botero (1992), a abertura enfatiza fatores concernentes à restruturação
produtiva, flexibilização do trabalho e diferenças em termos de eficiência associada a
fatores de especialização e vantagens comparativas.
De forma geral, o processo de abertura aconteceu, nos países em
desenvolvimento, em épocas de forte recessão, elevadas taxa de inflação, altos déficits
públicos e em períodos críticos de estabilização e privatização das economia. Esses
fatores desencadearam efeitos negativos e dificultaram a visualização do impacto da
liberalização comercial (Prates, 1993:221).
Existe, entre os teóricos, um alto grau de concordância com relação aos efeitos
desfavoráveis e favoráveis do processo de abertura econômica: com relação ao primeiro
tipo de efeito, é sabido que, a curto prazo produz um impacto recessivo inicial, que
deriva do fato de que alguns setores demoraram a ajustar-se às novas condições e, a
"restruturar-se" para enfrentar a concorrência e os atritos próprios de qualquer processo
de realocação de recursos; os fatores produtivos que são eliminados dos setores
ineficientes, não são absorvidos imediatamente pelos setores mais dinâmicos da
economIa.
Os Governos da maioria dos países em desenvolvimento avaliam que a abertura
econômica gera alguns custos de curto prazo, tai~ como uma desaceleração do
crescimento; mas induz, no meio prazo, a uma aceleração substancial do crescimento.
Na verdade, os efeitos possíveis serão moderadamente negativos e tanto o custo
social como o esforço de restruturação não se darão de forma tão rápida como se
insinua, já que o processo de restruturação e reconversão setorial iniciou-se, embora
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 17
Para o segundo tipo de efeito, os estudiosos da matéria consideram que a
abertura gera uma série de fatores que favorecem a produção do país: por um lado, na
área das importações, a redução dos preços relativos dos bens de capital externos
conduz à melhoria da eficácia produtiva da capacidade instalada, tanto no sentido de
que se incorporariam novas tecnologias inacessíveis no sistema protecionista, como no
sentido de que inclusive o capital existente pode ser utilizado em conjunto com o novo
equipamento importado. Por outro lado, no campo das exportações, na medida em que
no contato com os mercados externos gera uma aquisição de "know how" produtivo que
se aquilata com a participação ativa das empresas nos mercados externos.
É evidente também, que a abertura produz um impacto favorável sobre a
produtividade das indústrias que subsistirão e eleva a produtividade geral dos fatores de
produção; também oferece uma série de efeitos benéficos aos produtores, à sociedade
em geral e à racionalização dos níveis de preços.
A abertura permite aos produtores reconhecer oportunidades que o mercado
internacional oferece dá acesso a uma gama mais ampla de opções tecnológicas,
permite às empresas assumir mais riscos e ainda responder de forma criativa a um
ambiente mais competitivo, da mesma forma como as empresas produtoras ficam
capacitadas para adquirir insumos e bens de capital a preços e qualidades competitivas.
Numa economia aberta, a sociedade ganha capacidade de consumo, porque os
recursos são destinados a produzir em atividades onde se tem vantagem comparativa,
isto é, que as vendas no estrangeiro são mais rentáveis do que no mercado interno. Por
sua vez, os produtores são obrigados a acompanhar as mudanças para enfrentar a
competitividade externa ou serão absorvidos pelo dinamismo do processo; nessa
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 18
qualidade na produção tende a aumentar, melhorando a oferta disponível no mercado
interno e externo.
Os preços dos produtos, diante de um processo de abertura, tendem a cair, por
causa da forte concorrência externa, beneficiando os consumidores. A liberalização
beneficia a economia, no sentido de que os preços não poderão sinalizar aos
empresários para produzir bens cujos substitutos importados pagam as tarifas mais
elevadas para obter maior rentabilidade, como acontecia no protecionismo; pelo
contrário terão de se submeter à forte concorrência externa, em função das reduzidas
taxas alfandegárias, beneficiando assim ao consumidor. (Camacho, Edna e outros 1992,
4)
Finalmente, o custo social de um processo de liberalização se vê diminuído com
a abertura econômica, pela geração de maiores níveis de emprego, como conseqüência
do estímulo a atividades que utilizam relativamente bastante mão de obra. A abertura
beneficiará os consumidores proporcionando-lhes maiores níveis de bem-estar, porque
as empresas locais passarão a vender produtos de boa qualidade e a preços iguais ou
menores do que os oferece o mercado externo.
A crise econômica da América Latina dos anos oitenta, causada não só por
fatores de origem externa, mas também pelas fraquezas do modelo de desenvolvimento
econômico aplicado no continente e que ficou em evidência nos excessivos níveis de
endividamento externo para propósitos não produtivos, os altíssimos níveis de
crescimento de preços e a expansão acelerada, desordenada e improdutiva do Estado,
iniciou o processo de abertura.
Particularmente, Prates (1993:220) argumenta que o modelo de substituição de
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 19
começou a dar sinais de esgotamento a partir de meados da década de 70, na medida em
que não conseguia atingir de forma eficiente e competitiva os fatores de produção das
economias desses países. Langoni (1993), por seu lado, conclui que os anos 80 foram
em particular dificeis para a América Latina, desde o ponto de vista econômico, a
simultaneidade de desequilíbrios internos e externos limitou a expansão do produto real,
deteriorando os padrões de vida.
Ao lado dos aspectos negativos desse periodo, houve importantes avanços
institucionais, que ajudam a modificar o cenário para a nova década. No plano nacional,
consegue-se com êxito, na maioria dos países da América Latina, a transição de regimes
autoritários para a plena democracia, quando ocorreram intensos debates sobre as
razões para o esgotamento das estratégias convencionais de desenvolvimento e, de certa
forma, os anos oitenta marcaram a transição de uma estratégia de desenvolvimento que
atingiu seus limites externos (crises da divida externa) e internos (quase hiper-inflação)
para um novo modelo, cujos contornos são a liberalização, a globalização e a integração
hoje em curso na América Latina.
Paralelamente, a mudança de estratégia econômica está ocorrendo dentro de um
clima amplamente favorável; isto se observamos que a expansão acelerada da economia
mundial torna viável a liberação comercial por seus superávits comerciais e,
particularmente, o bom desempenho dos países do Sudeste Asiático, que obtiveram
altos níveis de exportações nos anos oitenta, constitui uma fonte de inspiração para as
autoridades latino-americanas.
Um outro fator favorável à mudança de estratégia é representada pelo fato de que
os grandes déficits do setor público nos países da região impossibilitaram os governos
de continuarem oferecendo significativos incentivos e subsídios aos setores
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 20
Desde o ponto de vista teórico, para recuperar o atraso relativo da América
Latina acumulado no último decênio, a abertura comercial dos países em
desenvolvimento deverá eliminar as barreiras para o capital de risco externo e para os
fluxos tecnológicos. Na área de integração, haverá que superar os esquemas regionais,
cuja inspiração básica é o conceito de fronteiras fisicas, atropeladas hoje pelo
dinamismo dos mercados.
A desregulamentação dos mercados financeiros e de capitais e a minimização
dos custos de transação, com a transferência eletrônica de dinheiro em escala mundial,
decretaram o fim da geografia política, forçando os países a queimarem etapas e a
pensarem em formas ambiciosas de integração, incluindo, de preferência, alguma região
desenvolvida.
3. Integração Econômica
Num sentido clássico, as relações internacionais caracterizam-se como um
conjunto de interações entre Estados distintos. Essas interações podem ser de
conflito ou de cooperação. A integração é contemplada como uma interação de
cooperação.
Para Gros Espiell (1992), os processos de integração econômica, hoje, são
processos abertos, não direcionados a criar autarquias regionais ou sub-regionais,
mas a constituir elementos que indispensavelmente devem inserir-se em um
comércio internacional a escala mundial, livre e não protecionista.
Segundo Zelada Castedo (1989), a integração consiste na identificação
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 21
comum destinado a ser a base de ações direcionadas a eliminar conflitos ou a
atenuar seus efeitos.
Porém, para Tamames (1989), a integração econômica é um processo através
do qual dois ou mais mercados domésticos, previamente separados e de dimensões
unitárias pouco adequadas, unem-se para fonnar um só mercado de uma dimensão
mais compatível.
N o entanto, Bela Balassa (1984) conceitua a integração como processo e
situação. Como processo, trata-se de ações direcionadas a abolir a discriminação
entre unidades econômicas pertencentes a diferentes economias nacionais;
observada como situação, a integração caracteriza-se pela ausência de fonnas de
discriminação entre economias nacionais.
É importante destacar que existe diferença entre cooperação econômica e
integração. A cooperação pressupõe ações dirigidas a reduzir as barreiras para o
intercâmbio, enquanto que a integração econômica implica na supressão de tais
barreiras. A cooperação tende a diminuir a discriminação econômica, enquanto que
a integração procura suprimir fonnas econômicas discriminatórias entre os países.
Por sua vez, o processo de integração implica na realização de ações de
acoplamento de estruturas nacionais, pelas quais transferem-se alíquotas de
soberania nacional a entidades comunitárias de caráter supranacional. No processo
de cooperação, não se adotam decisões que menoscabem a soberania dos Estados
membros.
Os objetivos da maioria dos processos de integração centram-se, entre outros
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 22
intrazonal, a conhecida Zona de Livre Comércio, na formação da União Aduaneira,
visando a uniformi_-=ar os impostos de importação e a Tarifa Externa Comum, para,
finalmente concretizar o Mercado Comum, com a livre circulação de bens de
produção, capitais, mão-de-obra e serviços_ Em síntese, todo processo de integração
objetiva essencialmente aumentar a produtividade e a qualidade dos bens à
disposição do consumidor e aproveitar as vantagens comparativas das nações,
transformando-as em instrumentos para buscar a inserção conjunta em terceiros
mercados_
Tanto os processos de integração como os de cooperação direcionam-se à
conformação de um espaço econômico ampliado, que inclua a liberdade de
movimento dos fatores de produção, salvo na área de preferência tarifária. De
acordo com este enfoque, os países envolvidos priorizam entre eles relações
especiais e estabelecem graus distintos de exclusão ou discriminação com respeito a
terceiros.
o
fenômeno da integração é uma das novas características da economiainternacional de hoje e, sem dúvida, marcará todo o processo de reorganização do
sistema mundial no futuro. Existem diversos tipos de integração econômica e
política. Algumas são consideradas de integração "superficial", como as zonas de
livre comércio; outras de integração "profunda", como os mercados comuns.
3.1 Integração Superficial
a.- Zona de Livre Comércio: é a primeira fase da integração econômica
entre países. Negocia-se a criação de urr~a zona onde os bens circulem livremente,
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 23
b.- União Aduaneira: é a fase da integração econômica, onde, além da livre
circulação dos bens, se negocia uma tarifa externa comum para demarcar os limites
fronteiriços da união, perante os demais parceiros comerciais.
3.2 Integração Profundas
a.- Mercado Comum: é a criação de um espaço de maior liberdade entre os
países membros. Além da união aduaneira, com a livre circulação de bens,
estabelece-se também a livre circulação de pessoas, serviços e capitais. É
indispensável a criação de instituições supranacionais, que determinem a legislação
do mercado comum, além de políticas comuns acima das políticas nacionais.
Implica também, na coordenação e harmonização da legislação fiscal, trabalhista e
de sociedades.
b.- União Monetária: é outra fase da integração econômica entre países e
pressupõe a implantação do mercado comum entre seus membros. É indispensável
aqui uma coordenação estreita das políticas econômicas, principalmente níveis
compatíveis de taxas de juros, taxas de inflação e políticas monetárias de acordo
com índices estabelecidos de déficits públicos.
c.- União Política: é a última fase de integração; é a que presume a
existência do mercado comum e da união monetária. Exige também a criação de
uma política comum de relações externas, de defesa e de segurança. Exemplo desse
estágio de integração está por implantar-se na União Européia e foi negociado e
estabelecido pelo tratado de Maastricht que entrou em vigor em 1993.
Nos últimos anos, tem aumentado o número de acordos para a eliminação
recíproca das barreiras de comércio e para a formação de arranjos regionais de
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 24
próximos anos, junto com o aumento também do comércio administrado sob
acordos não tradicionais. A formação de blocos não é só resultado da pressão do
processo de globalização da economia e do desgaste do multilateralismo, mas tem
uma lógica econômica.
Parcela significativa do comércio mundial já está sendo feita intra e
interblocos regionais. O volume de comércio intra e interblocos, compreendendo o
bloco europeu, o da América do Norte e o Asiático, já abrange 85% do comércio
mundial. (Thorstensten, 1994)
Tabela N° 4
COMÉRCIO INTERNACIONAL DE MERCADORIAS ENTRE BLOCOS
(1992 - US$ bilhões)
BLOCOS EXPORTA- %DOSTRÊS IMPORTA- %DOSTRÊS
ÇÕES BLOCOS ÇÕES BLOCOS
UE+EFTA 1,682. 45.1 1746 45.3
NAFTA 628 16.8 745 19.3
ASIATICO 850 22.8 675 17.5
OUTROS 571 15.3 689 17.9
Fonte: Gatt, 1993, adaptado da (Thorstensen - 1994,38)
Total Blocos do Mundo: Exportações 3,731 Importações 3,855.
O bloco europeu foi responsável por 45% das exportações mundiais e as
exportações intra-UE, incluindo as exportações entre os 12 Estados Membros.
Assim mesmo, importou do resto do mundo 45% das mercadorias. O bloco do
Nafta, por sua vez, foi responsável por 17% das exportações e 19% das importações
mundiais. E o bloco Asiático responde por 23% das exportações e por 18% das
importações mundiais. (Thorstensen, 1994, 38)
A integração regional surge como alternativa para a gestão da
interdependência e de conflitos diante das dificuldades nas negociações
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 25
práticas comerciais, num conjunto reduzido de países vizinhos, são sempre lllaIS
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 26
---Tabela N° 5
3.3 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS ACORDOS REGIONAIS DE INTEGRAÇÃO POPULAÇAO
BLOCOS PAÍSES MEMBROS OBJETIVOS (Milhões) PIB US$ Associação Européia Austria, Finlândia, Ampliar os mercados e aproveitar 33,2 889,7 b de Livre Comércio Noruega, Islândia, os recursos naturais regionais e a
(AELC) Suécia e Suíça abolição progressiva de tarifas. Concede liberdade aos países associados de estabelecerem tarifas para terceiros países (é zona livre e não União Aduaneira). Não dispõe de instituições fmanceiras, sendo apenas uma zona de livre comércio entre eles.
Associação Latino Argentina, Bolívia, Criação do mercado comum latino- 330,0 617,9 Americana de Brasil, Chile, americano, criou preferencias
Integração (ALADI) Colômbia, Equador, econômicas através de preferências México, Paraguai, tarifárias em relação a terceiros Peru, Uruguai, e países, Acordos de Acordos Venezuela. Regionais (AAR) onde participam todos e Acordos de Alcance Parcial (AAP) para alguns países membros.
Comunidade Anguilla, Antigua e Criar Zona de Livre Comércio e 5,5 nld Econômica do Barbuda, Barbados, eliminar barreiras de comércio.
Caribe (Caricom) Belize, Rep. Dominicana, Guiana, Granada, Jamaica, Monserrat, Trinidad e Tobago, Sta. Lúcia, São Cristóvão e N évis, São Vicente e Granadina.
Comunidade Alemanha Ocidental, Estabelecer mercado comum entre 347,1 674,8 Econômica Européia Bélgica, Dinamarca, seus membros. É protecionista.
(CEE) Espanha, França, Livre movimentação de bens, Grécia, Holanda, Itália, serviços capital e pessoas.
Irlanda, Luxemburgo, Portugal, Reunido Unido, Áustria, Suécia e Finlândia.
Grupo dos Três (G-3) Colômbia México e Eliminar tarifas comerCIaIS em 10 136,0 398,3 b Venezuela anos.
Pacto Andino Bolívia, Colômbia, Integração Comercial e Econôtnica. 93,0 146,7 b Equador, Peru e
Venezuela.
Asiático Japão, Coréia do Sul, Liberdade Econôtnica 1.684,1 5.103 t Taiwan, Hong Kong e
Singapura
Mercosul Argentina, Brasil, Livre Circulação de bens e Serviços. 194,6 607,1 b Paraguai e Uruguai.
North American Free Canadá, EUA, e México Zona de Livre Comércio e 386,5 7.080,8 t Trade Agreement futuramente Mercado Comum em
(NAFTA) toda a América
Mercado Comum Costa Rica, El Salvador, Estabelecer União Aduaneira com 29,9 31,2 Centro Americano Guatemala, Honduras e Tarifa Externa Comercial
(MCCA) Nicarágua.
, .
-
-
-
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 27
Considerando o panorama até aqui exposto, pode-se dizer que a forma
tradicional que têm os países em desenvolvimento de participar no processo de
globalização é chegar a acordos bilaterais ou multilaterais de diversos tipos, que lhes
permitam ampliar suas exportações de bens e serviços. No caso particular da República
do Panamá, daremos especial consideração ás exportações de serviços, por ser este o
setor responsável por três quartas partes da geração de divisas e contar com vantagens
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 28
CAPÍTULO II
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SINTESE HISTORICA E SOCIO - ECONOMICA DO PANAMA
Neste capítulo da dissertação, apresentamos as características gerais da
República do Panamá, quanto aos seus aspectos geográficos, históricos e
sócio-econômicos. A intenção é familiarizar o leitor com o país e comentar os aspectos
relevantes da sua economia e as suas perspectivas no quadro da
intemacionalizaçfo da economia.
1. Aspectos Gerais
A República do Panamá ocupa uma faixa de terra de setenta e cinco mil
quinhentos e dezessete (75.517) quilômetros quadrados, integrando o mais
estreito elo do istmo da América Central, que junta a América do Norte com
América do Sul. Limita ao Norte com o Mar do Caribe e ao Sul com o Oceano
Pacífico. A Leste, limita com a República da Colômbia e, a Oeste, com a
República da Costa Rica.
O espanhol é o idioma oficial do país. O inglês é amplamente falado e
entendido em grande parte do território, particularmente nas cidades de Panamá e
Colón, que são os centros comerciais da nação, devido à sua posição de entrada e
A POLíTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 29
A taxa de analfabetismo situa-se aproximadamente em 10%, uma das mais
baixas da América Latina. Isto, adicionado a um número elevado de profissionais
treinados no exterior (EUA, Alemanha, Inglaterra, México, Brasil, Espanha,
etc.), contribui para a qualificação da mão-de-obra.
o
Panamá conta com uma excelente rede de comunicações. O modernosistema de conexão digital e o serviço de seleção automática internacional
proporcionam contato imediato e seguro com qualquer parte do mundo.
A população do Panamá em 1995, era de 2.600 mil habitantes, com uma
densidade aproximada de 33,7 habitantes por quilômetro quadrado, mais da
metade residindo em centros urbanos e refletindo uma taxa média anual de
crescimento, nos anos 90, de 2,8%.
O Sistema de Governo do país é presidencialista. É unitário, republicano.
O país tem um governo democrático representativo, dividido em três poderes: o
Executivo, o Legislativo e o Judiciário. A organização político - administrativa
do país é composta por nove províncias, sessenta e sete distritos, quinhentos e
dez municípios e duas reservas indígenas. (Constituição de 1972, Título I: 3)
O Istmo do Panamá, desde seu descobrimento em 1501, tem uma história
estreitamente relacionada com a do resto da América; e tem sido um lugar de
grande importância para o tráfego internacional de mercadorias, pessoas e
servIços.
Nos primeiros anos da colônia, e sabendo-se já no século XVI que todas as
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 3 O
configurar a natureza da economia panamenha, ligada às funções que tem
desempenhado a zona de trânsito interoceânico através da sua história,
determinada por três fatores geográficos que se interligam: a estreita faixa do
Istmo; o baixo relevo do seu território e a existência do rio Chagres, que é
fundamental para o abastecimento de água e para a existência do Canal.
Na cidade de Portobelo, localizada no litoral Atlântico, se fizeram por
quase dois séculos as famosas "Feiras de Portobelo", onde se trocavam e
compravam mercadorias procedentes da Europa e das Américas. No Pacífico,
países como Bolívia, Colômbia, Equador, México, Panamá e Peru negociavam e
transportavam metais preciosos para a Espanha e outros países da Europa.
A independência hispano-americana, no final do século XVIII e início do
XIX, interrompeu a rede de comunicação e transporte que existia com sede no
Panamá. Entretanto, sempre continuou vivo o desejo de unir os dois oceanos,
realizando-se na época muitos estudos e projetos de rotas transístmicas, para
facilitar o transporte de ouro e prata. Com a construção da Estrada de Ferro do
Panamá, a primeira estrada de ferro transcontinental na América, o país retoma
sua tendência como sede e rota de distribuição de bens, serviços e pessoas. O
Panamá é, desde aquela época, considerado um caminho obrigatório pela sua
estratégica posição geográfica.
Cabe aqui ressaltar a visão clara e futurística do Libertador Simón Bolívar,
com relação à importância do Panamá para o continente americano e o mundo,
plasmada na su? célebre frase " ... Panamá, Ponte do Mundo e Coração do
Universo ", que descreve bem a realidade panamenha, pois sua posição
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 31
América Central com os da América do Sul; assim como também os da Europa e
África com os da Ásia e junta os oceanos Atlântico e Pacífico. O Panamá
representa, então, o principal elo de ligação natural entre os mercados
internacionais e permite um serviço especificamente comercial.
De especialidade nos serviços de transporte, comunicação e hospedagem,
o Panamá adquiriu prestígio e serviu de base ao florescimento das colônias
espanholas na América. Essa especialidade terciária determinou estruturas
econômicas, costumes, tradições e formas de vida que ainda perduram no
Panamá.
2. Natureza da Economia Panamenha
As atividades econômicas do país são diversificadas e as características
mas significativas são: o centro bancário e o comércio, que são as mais
importantes; a Zona Livre de Colón que dedicando-se ao comércio e à indústria
de montagem para a exportação e reexportação, gera algo mais de US$ 7.000
milhões de dólares americanos em transações anuais; a cidade do Panamá é uma
grande vitrine para artigos de todo o mundo; conta com dezessete portos navais,
entre os quais, os de Cristóbal e Balboa, que oferecem seus serviços de carga e
descarga de mercadorias vindas da Europa e da Ásia, cujo destino final serão os
mercados da América do Sul, América Central e o Caribe. Nos portos terminais,
manipula-se carga internacional em "trânsito", em grande escala.
No ocidente, existe o oleoduto para o transporte de petróleo que atravessa
o país de norte a sul e presta serviços aos navios de grande calado que, pelas suas
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 32
o
turismo, enquadrado no setor de serviços, produz um terço das divisasque entram no país e supera o conjunto dos produtos de exportação: bananas,
camarões, café, derivados do petróleo e cimento.
A República do Panamá está classificada hoje como o primeiro país no
âmbito da Marinha Mercante em abandeiramento de navios, conforme
avaliaremos mais adiante, no capítulo IV.
o
país se encontra hoje numa fase de reorganização econômica, onde asmudanças mais significativas se encontram no papel da livre empresa no
desenvolvimento da economia, no programa de privatização das empresas
estatais e nas reformas da Constituição vigente nos seus aspectos tributário, da
ordem econômica, de reforma do Estado e da segurança.
o
setor de mais alta contribuição no PNB no Panamá é o setor terciárioconhecido como de serviços, que contribuiu, em 1993, com 74% do PNB, já o
setor secundário contribuiu com 14% e o setor primário com 12%. (Contraloria
General, 1994)
o
maiS importante contribui dor do PNB também é o mais importantegerador de emprego. As principais atividades deste setor incluem o transporte; o
oleoduto transístmico; o comércio através do Canal do Panamá; e as atividades
bancárias e financeiras, principalmente devidos à Zona Livre de Colón.
o
Canal do Panamá é o ponto de convergência de muitas das principaisrotas do comércio internacional. Desde a sua inauguração, em 1914, mais de
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 33
cinco mil e seiscentos milhões de toneladas de carga aos diversos portos do
mundo. (Panama Canal Report, 1994)
A atividade bancária desenvolveu-se de forma dinâmica e significativa e
vem aumentando seu crescimento e participação na configuração do Produto
Interno Bruto. Isto tudo é conseqüência derivada das características, vantagens,
beneficios e elementos determinantes em geral do sistema monetário panamenho,
conforme veremos no capítulo IV.
Com relação ao comércio internacional e levando em consideração os
objetivos do presente estudo, tentaremos, em forma breve, caracterizar os
principais vínculos da economia nacional com o exterior. Entre os indicadores
mais conhecidos e utilizados para medir o nível de abertura das economias,
encontram-se aqueles que relacionam as exportações, as importações e o
comércio total com o produto interno bruto. Estes indicadores, conforme Jované
(1988), mostram o "grau de abertura" da economia, isto é, seu nível de
A POLÍTICA DE INSERÇÃO DO PANAMÁ NO MERCADO LATINO AMERICANO DE SERVIÇOS 34
Tabela N° 6
PANAMÁ: EXPORTAÇÕES E IMPORTAÇÕES DE BENS E SERVIÇOS NÃO FATORIAIS
1984 - 1993 (em milhões de Balboas)
EXPORTAÇOES IMPORTAÇOES TOTAL COMERCIO DE PIB PREÇOS
ANO FOB. CIF. BENS E SERVIÇOS CORRENTES
1984 1.622.10 1.696.90 3.319.00 4.565.50
1985 1.735.20 1.710.90 3.446.10 4.901.10
1986 1.786.50 1.599.30 3.385.80 5.145.10
1987 1.736.30 1.636.80 3.373.10 5.309.70
1988 1.625.40 1.082.80 2.708.20 4.551.40
1989 1.580.00 1.230.80 2.810.80 4.581.60
1990 1.936.00 1.728.70 3.664.70 4.948.70
1991 2.l34.40 1.966.00 4.100.40 5.491.10
1992 2.228.40 2.312.00 4.540.40 6.001.10
Fonte: Contraloria General de la Rep. de Panamá, IPCE - Directório de Expaortadores, 1993:48
Tabela No 7
INDICADORES DA ABERTURA DO EXTERNA DO PANAMÁ RELACIONADA COM A EXPORTAÇÃO E IMPORTAÇÃO DE BENS E SERVIÇOS NÃO
FATORIAIS. 1984 - 1992 em %
ANO RELAÇAO RELAÇAO RELAÇAO COMERCIO
EXPORT/PIB IMPORT/PIB TOTAL/PIB
1984 35.53 37.17 72.70
1985 35.40 34.91 70.31
1986 34.72 31.08 65.81
1987 32.70 30.83 63.53
1988 35.71 23.79 59:50
1989 34.49 26.86 59.l1
1990 39.12 34.93 74.05
1991 38.87 35.80 74.67
1992 37.l3 38.53 75.66