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Revista
Brasileira
de
CIÊNCIAS
DO
ESPORTE
ARTIGO
ORIGINAL
A
transmissão
radiofônica
de
jogos
de
futebol:
a
incoerente
gratuidade
de
um
espetáculo
esportivo?
Ana
Paula
Cabral
Bonin
a,∗,
Diogo
Maoski
b,c,
André
Mendes
Capraro
de
Fernando
Marinho
Mezzadri
daProgramadePós-Graduac¸ãoemEducac¸ãoFísica,SetordeCiênciasBiológicas,UniversidadeFederaldoParaná,Curitiba,
PR,Brasil
bGraduac¸ãoemEducac¸ãoFísica,SetordeCiênciasBiológicas,UniversidadeFederaldoParaná,Curitiba,PR,Brasil cGraduac¸ãoemAdministrac¸ão,PontifíciaUniversidadeCatólicadoParaná,Curitiba,PR,Brasil
dDepartamentodeEducac¸ãoFísica,SetordeCiênciasBiológicas,UniversidadeFederaldoParaná,Curitiba,PR,Brasil
Recebidoem11dejulhode2012;aceitoem6defevereirode2013 DisponívelnaInternetem17denovembrode2015
PALAVRAS-CHAVE
Futebol; Transmissão radiofônica;
Legislac¸ãobrasileira;
ClubeAtlético
Paranaense
Resumo Amídiapassouaintegrarofutebolemsuasmaisdiversasvertentesepassouausufruir doretornofinanceiro,proporcionadopelapreferêncianacionaldesseesporte. Problematiza-mosesteartigo baseadosnaseguintequestão:sendoatransmissãodosjogosdefutebol um produtodasemissorasderádio,deveriamosclubesreceberumacontrapartidafinanceirapelos direitosdetransmissão?Oprocedimentometodológicoconsistiuemumarevisãobibliográfica, análisedocumentalenotíciasmidiáticasreferentesàtentativadecobranc¸apelatransmissão radiofônicapretendidapeloClubeAtléticoParanaense,em 2008.Asconsiderac¸õesapontam paraquestõesacercadotemacomvistasapensarsobreacoerenteouincoerentegratuidade datransmissãoradiofônicaintegraldosjogosdefutebolnoBrasil,tendoemvistaumevento transmitidoemundialmenteassistidocomoaCopadoMundodeFutebolrealizadanopaísem 2014.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todosos direitosreservados.
KEYWORDS
Soccer;
Radiobroadcast;
Brazilianlaw;
AtleticoParanaense
Theradiobroadcastofsoccermatches:thegratuitousincoherentsportingspectacle
Abstract Themediaarepartofsoccerinseveralrespectsandisenjoyingthereturns offe-redbythepreferenceofthenationalsport.Problematizethispaperbasedonthefollowing question:thetransmissionofsoccermatchesisaproductofradiostations,sotheclubsshould receivefinancial transmissionrights?Themethodological approach consistedofaliterature
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:aninhacabrall@yahoo.com.br(A.P.C.Bonin).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rbce.2015.10.009
review,documentanalysisandnewsmediaregardingtheattempttochargeforradio transmis-sionintendedbyAtleticoParanaensein2008.Considerationspointtotheinconsistencyinfree radiobroadcastoffootballgamesandincontradictiontothesovereigntyoftheFIFAstatutes beforethelawPele.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublishedbyElsevierEditoraLtda.Allrights reserved.
PALABRASCLAVE
Fútbol;
Programaderadio;
Legislaciónbrasile˜na;
ClubeAtlético
Paranaense
La transmisión de partidos de fútbol por la radio: la incoherente gratuidad deun espectáculodeportivo
Resumen Losmediosdecomunicaciónsonpartedelfútbolendiversosaspectosyhallegado adisfrutardelosbeneficiosobtenidosporlapreferencianacionalhaciaestedeporte.Este artí-culosebasaenlasiguientepregunta:Silatransmisióndelospartidosdefútbolesunproducto delasemisorasderadio,¿deberíanlosclubesrecibirunacontrapartidafinancieraporlos dere-chosdetransmisión?Elenfoque metodológicoconsisteenunarevisióndelabibliografía,un análisisde losdocumentosylasnoticiasde losmediosde comunicaciónenrelacióncon el intento decobrarpor latransmisión radiofónica queen2008exigíaelClube Atlético Para-naense.Lasconsideracionesapuntanalaincoherenciaenlaemisiónradiofónicalibredelos partidosdefútbolyencontradicciónconlasoberaníadelosestatutosdelaFIFAantesdela leyPelé.
©2015Col´egioBrasileirodeCiˆenciasdoEsporte.PublicadoporElsevierEditoraLtda.Todoslos derechosreservados.
Introduc
¸ão
‘‘Abrem-seascortinasdoespetáculo’’
FioriGigliotti
A transic¸ão do amadorismo para o profissionalismo no
futebolcontribuiu,demaneirabastantesignificativa, para
quehouvesseaespetacularizac¸ãodesseesporte.Deacordo
comCapraro(2006),ofutebolseimpôscomvalores aristo-cráticosrelacionadosaoócio,aoadestramentomilitareao
sportmanship (cavalheirismo, imparcialidade e lealdade).
Aindasegundooautor:
as camadas menos abastadas da populac¸ão já
tenta-vamseaproximardele,umprocessoqueseacentuaria
cadavezmaisaolongodotempo.Porém,nãoeraainda
do interesse dos fidalgos que praticavam o football a
presenc¸aderepresentantesdasclassesmaispobresnas
suasrefinadasatividadesdelazer(Capraro,2006p.53).
Comodecorrerdosanoseasmudanc¸associais, caracte-rísticasdeumperíodocadavezmaisglobalizadoevoltado paraomercadoconsumidor (Reis,2006),ofutebolpassou
aingressarnoramodeespetáculo,tornou-seumadas
fer-ramentas maisrentáveis daindústria do lazer. De acordo
comRibeiro(2007),noiníciodosanos1990,porexemplo,
o futebolinglês passoua ser organizadoem moldes
com-pletamenteempresariais,aprofundoubastantearelac¸ãodo
esportecomatelevisão.Aindadeacordocomo
pesquisa-dor,‘‘aespetacularizac¸ãodofuteboléaexpressãodopapel queamídia---emespecialatelevisiva---assumiunosúltimos
anos,mundializandooespetáculoesportivo’’(Ribeiro,2007
p.53).
Nãohá dúvidas sobrea importância dopapel damídia
enquantopropulsoradaespetacularizac¸ãodofutebol,tendo
emvista principalmente que ela observouarentabilidade
doesporte,queessepassouamovimentarbilhõesde
dóla-rescomaorganizac¸ãodecompetic¸ões,vendadejogadores,
bemcomocomoaumentosignificativodepatrocinadorese
investimentos.
Aderindoaessalógicaempresarial,osclubespassarama agircomoempresasdispostasanegociarjogadores,direitos
detransmissão, marca etc. Osclubes movimentam cifras
queinterferemsignificativamentena economianacional e
internacional.DeacordocomPronieZaia:
(...) se a gestão profissional do esporte-espetáculo já
vinhaexigindoumarevisãodementalidadedos
dirigen-tes,agoraoqueseimpunhaeraaconversãodotimede
futebolemempresacapitalistainseridaemummercado
regulado, masbastantecompetitivo(PronieZaia,2007
p.22).
Emsetratandodeatualidades erelac¸õesempresariais,
osbenefícios têmumsinônimo: acúmulodecapital
finan-ceiro.Aotransportaressa lógicaempresarialparaoartigo aquidescrito, essa relac¸ão está presente entreos clubes
de futebol e a mídia, haja vista que, mesmo diante da
expansão de veículos midiáticos (televisão e internet), a
transmissãodos jogosde futebolainda continua bastante
usadapelamídiaradiofônica.Ainserc¸ãodoesportecomoum
complexo ‘‘econômico-cultural-esportivo-midiático’’
exemplo, passaram a receber memoráveis quantias pela transmissãodeseusjogos.Segundodadosdobalanc¸o
finan-ceiro do Corinthians --- time com maior receita do Brasil
desde2009---,oclubeteveumfaturamentode184milhões e39milreais,em2011,semcontaratransferênciade atle-tas.Dessetotalfaturado,62%---poucomaisde112milhões dereais---vieramdacessãodosdireitosdetransmissão tele-visiva(BrittoseSantos,2012).
Partindo do pressuposto de que tanto a televisão
quanto o rádio transmitem partidas de futebol, embora
as agremiac¸ões sejam pagas apenas por direitos
televisi-vos,problematizamosoartigoapartirdaseguintequestão:
sendoadifusãodosjogosumprodutotambémdas
emisso-rasderádio,deveriamosclubesreceberumacontrapartida financeirapelosdireitosdetransmissão?
Para responder essa questão, usamos o procedimento
derevisãobibliográfica,análisedocumental deleis vigen-tesnoesportebrasileiroe doestatutodaFifa(Fédération InternationaledeFootballAssociation,entidadediretorado
futebolmundial), bem como a análise das notícias
divul-gadasnojornal paranaenseGazeta do Povo, referentesà
tentativadecobranc¸apelatransmissãoradiofônicadejogos
defutebol,pretendidapeloClubeAtléticoParanaenseem
2008(GazetadoPovo,2008).Ocasoemquestãofoitratado
demaneiraespecialnodecorrerdotexto,tendoem vista
serpioneiraatentativadoclubeparanaensedecobrardas rádiosumataxapelatransmissãodeseusjogos.
O jornal Gazeta do Povo foi escolhidopor representar
umagrandefontedeinformac¸õesreferentesaoassuntoem
questão;alémdisso,operiódicotembastante
representa-tividadeemrelac¸ãoaopovoparanaense.
A
mídia
radiofônica
Atrajetóriadorádioacompanhouopaísempraticamente
todooséculoXX.DamesmamaneiraqueoBrasilcomec¸ava
aseestruturarnoiníciodoséculo, orádiotambém
apre-sentavaseusprimeirosindíciosdeorganizac¸ão.Quandose iniciouaradiodifusãonopaís,pormeiodaRádioSociedade
do Rio de Janeiro e seus fundadores --- Roquette Pinto e
HenryMorize---,aideiainicialeraqueaemissorativesseum
cunhosomenteeducativo,de‘‘levaracadacantoumpouco
deeducac¸ão,deensinoedealegria’’(Ortriwano,1985,p.
14).Mas aautora revelaque o rádionasceu em ummeio
deelite,enãodemassa,devidoaofatodequesedirigiaa
quemtivessepoderaquisitivoparamandarbuscarno
exte-rioros carosaparelhosreceptores.EdileuzaSoares(1994)
corroboraaposic¸ãodeOrtriwanoquandorelataqueatéo
iníciodadécada de 1930 orádio erasustentado por
pes-soasquetinhamcondic¸õesdeseassociaràsemissoras,por issodiz-sequeorádiotambémeraummeio,emseuinício,
vinculadoàelite.Porém,quandoGetúlioVargasassumiua
presidênciaem1930,permitiuousodepublicidade,oque
trac¸ounovosrumosparaaradiodifusãobrasileira(Haussen, 2004).Aautorarelata,ainda,queasalterac¸õesnalegislac¸ão agiramnopadrãodorádiodosanos1930,quese caracteri-zavaporprogramac¸õesmusicaiseeruditas;equeachegada dasagênciasdepublicidadeincrementouaprogramac¸ãodas emissoras,tornouorádioumveículodecomunicac¸ão comer-cial.Efoinessemomentodetransic¸ãodomeioelitistapara
opopularqueofutebolfoiinseridocomprodutoradiofônico (Capello,2011).
A partir do momento em que se autorizava a
publi-cidade no rádio, tornou-se necessária a reformulac¸ão da
programac¸ão das emissoras e a criac¸ão de gêneros que
atingissemamassa.Passadoomomentodeinserc¸ãodo fute-bolnaclassetrabalhadoraesuacrescenteapreciac¸ãopelo referidogruposocial,oesportepassouaserusadocomo fer-ramentaparaatrairmaioresníveisdeaudiência,contribuiu
paraqueoradiojornalismofosseumdosprimeirosgêneros
asefirmarnorádio(Bezerra,2008).
Aprimeiratransmissãoradiofônicadeumjogodefutebol noBrasil geroucontrovérsias.Para Soares(1994), ocorreu em1931,noconfrontoentreasselec¸õespaulistaecarioca,
comlocuc¸ãodeNicolauTuma.Emcontrapartida,segundoa
historiadoraLiaCalabreo primeirojogoocorreuem 1927,
tambémnumadisputaentreasselec¸õespaulistaecarioca
(Bezerra,2008).
Independentementedaprecisãocronológica,aprimeira
transmissão radiofônica de um jogo de futebol brasileiro
geroupelomenosumagrandeconsequência:osucessoda
parceriarádio-futebol.AindasegundoBezerra(2008),deum ladotinha-seorádio,queprecisavasetransformarem
veí-culo demassaparaconseguir anúncios deempresas;e do
outro,ofutebolque,parasustentarosnovosgastos oriun-dosdaprofissionalizac¸ão,necessitavadejogoscomgrandes
públicospagantes.
Durantemuitosanosorádiofoiomeiodecomunicac¸ão
maispróximoqueobrasileirotinhadasnarrac¸ões esporti-vas.Porém,apartirde1950houveoprocessodeinserc¸ãoda televisão,comoveículodetransmissãomidiática,destinada agruposempresariaisdetentoresdecapitalsuficientepara
investir em ummeioinovador ede poucoacesso. Porém,
como todos os meios de comunicac¸ão, suas adaptac¸ões
foramprogressivase,aopensarmosnatransmissãodosjogos defutebol,deacordocomMadrigal(2009),adificuldadede transmitirosjogosao vivopelatelevisãofoi umdos
prin-cipais fatores que causaram a hegemonia da transmissão
radiofônica.Alémdisso,emumaépocaemque60%doBrasil nãodispunhamderedesdeeletrificac¸ão,adispensadefios
etomadasporpartedosrádiosconferiuumaenorme
vanta-gemcompetitivaemrelac¸ãoàtelevisão(Zucoloto,2004). AautoraLiaCalebre(2004),emseulivroAEradoRádio,
relata que ao longo da década de 1950 o rádio
tornou--seumobjetoacessívelàgrandemaioria dapopulac¸ãoe,
nessamesmaépoca,tinhainíciooprocessodelanc¸amento
evalorizac¸ãodatelevisãonoBrasil.Nesseperíodo,os pro-gramasquefizeramsucessonorádiotransferiram-separaa
televisão,oqueculminoucomamudanc¸adaprogramac¸ão
radiofônica.
Há de se destacar que programas contemporâneos à
narrac¸ãoesportiva---comoradioteatro,radionovelae gran-desmusicais,porexemplo---,foramextintos,aopassoquea narrac¸ãoesportivaperduradoiníciodadécadade1930até osdiasatuais.
Entretanto, a partir de alguns fatores, como a
popularizac¸ão da televisão e o desenvolvimentode novas
tecnologias, o rádio comec¸oua perder sua hegemonia na
transmissãodosespetáculosesportivos.Asnarrac¸ões televi-sivas,aovivo,contribuíramaindamaisparaapopularizac¸ão dofuteboleparaocrescimentodanarrac¸ãoesportiva.Esse
anunciantespassouainvestirnatelevisãoe,juntocomeles, migraram osprincipaisprofissionais dastransmissões radi-ofônicas(Monteiro,2007).
Haussen (2004) afirma que, além de agregar novos servic¸osasuaprogramac¸ão,orádioprocurouacentuarsua
proximidadecomacomunidaderegional.Aindasegundoa
autora,seaglobalizac¸ãoeatecnologiatrouxeramcadavez
maisinformac¸õesemescalamundial,coubejustamenteao
rádio,devidoasuascaracterísticasinerentes,promoveras informac¸õeslocais.
Após exposta a importância e inovac¸ão datransmissão
radiofônica para a manutenc¸ão do espetáculo esportivo,
buscamosnalegislac¸ãobrasileiratópicosquelegalizamou nãoacobranc¸adareferidatransmissão.
A
legislac
¸ão
na
transmissão
radiofônica
no
futebol:
Lei
Pelé
x
Estatuto
da
Fifa
Dentreasdiversasintervenc¸õesestataisnofutebol, desta-camosaLei9.615/98(LeiPelé),queregulamentaoesporte brasileiroefazalusãoaotemaaquiexposto---odireitode negociac¸ãodatransmissãodoseventosesportivos.A
refe-rida lei instituiuas normas gerais do desporto e, em seu
artigo42,expõeque:
Art. 42.Às entidades depráticadesportiva pertenceo
direitodenegociar,autorizareproibirafixac¸ão,a
trans-missão ou retransmissão de imagem de espetáculo ou
eventosdesportivosdequeparticipem.
§ 1.◦. Salvo convenc¸ão em contrário, vinte por cento
do prec¸o total da autorizac¸ão, como mínimo, será
distribuído, em partes iguais, aos atletas profissionais
participantesdoespetáculoouevento.
§2.◦.Odispostonesteartigonãoseaplicaaflagrantes
de espetáculo ou evento desportivo para fins,
exclusi-vamente,jornalísticosoueducativos, cuja durac¸ão,no
conjunto,nãoexcedadetrêsporcentodototaldotempo previstoparaoespetáculo.
§3.◦.Oespectadorpagante,porqualquermeio,de
espe-táculoouevento desportivoequipara-se, paratodosos
efeitoslegais,aoconsumidor,nostermosdoart.2.◦ da
Lein.◦ 8.078,de11desetembrode1990(Brasil,24de marc¸ode1998,artigo42,parágrafo3.◦daLei9.615/98).
A lei aponta que àsentidades de práticas desportivas
pertenceo direitodenegociar atransmissãodosjogosde
futebol.Entretanto,otextocontemplaaimagemdo
espe-táculoesportivosemfazerreferênciaàsquestõesdeáudio e voz. O inciso XXVIII do artigo 5◦ da Constituic¸ão
Fede-ral (Brasil, 1988) menciona ‘‘a protec¸ão às participac¸ões
individuais em obras coletivas e à reproduc¸ão daimagem
e voz humanas, inclusive em atividades desportivas’’. No
entanto,essagarantiaéfornecidaaosjogadoresdefutebol que,segundootextooriginaldoartigo42daLeiPelé,têm direitoa20%dovalorrecebidopelatransmissãodo espetá-culoesportivo.Ouseja,porqualquerumdosmeiosojogador defutebolestáresguardado,pelalegislac¸ão,emrelac¸ãoao
seupagamentodevidoaousodesuaimageme/ouvoz.
ALeiPelésurgiucomoumaleiinovadoraemalguns
parâ-metros,como, por exemplo,a criac¸ão doclube-empresa.
Entretanto, com a realizac¸ão daCopa do Mundo de2014
e das Olimpíadas de 2016, alguns pontos --- dentre eles o
embateentre Fifae entidadesde práticas desportivas ---, quantoaopagamentopelatransmissãoradiofônicadosjogos
defutebol,nãoestavamdefinitivamentecontempladosna
legislac¸ãobrasileira, demaneiraaamparar igualmente os
envolvidos. Sendo assim, a Câmara dos Deputados
apro-vou, em 22 de fevereiro de 2011, a medida provisória
502/2010,quealteraaLeiPelé.EssamedidaculminounaLei
12.395/2011,publicadaem16defevereiro,quemodificou
aLeiPelé;alterou aLei10.891/2004 (Bolsa-Atleta);criou
osprogramasAtletaPódioeCidadeEsportiva;erevogoua
Lei6.354/76(AtletaProfissionaldeFutebol).
Apesar de ter sido aprovada em plenário, em 15 de
dezembro de 2010 a Lei retornou à Câmara dos
Deputa-dos por ter recebido uma emenda do relator e senador
ÁlvaroDias(PSDB-PR).Destacamosamedida,queserefereà manutenc¸ãododireitodosprofissionaiscredenciadospelas associac¸ões de cronistas esportivos de acesso às prac¸as, estádioseginásiosdesportivosemtodooterritórionacional.
Segundooprópriosenador:
Aemendaqueapresentei,equefoiacatadapelogoverno
federal ao sancionar o projeto, confere aos cronistas
esportivosapossibilidadedefrequentartodasasprac¸as
esportivas do País, além dodireito deterem umlocal
adequado prao exercíciodasuaatividadeprofissional.
Acreditoqueaaprovac¸ãodaLeicomestaemenda
repre-sentou uma conquistapara os cronistasdesportivosdo
Brasil.Sobalegac¸ãodequenomundotodocobra-sedas
emissoras de rádio direito de arena para transmissão
dos espetáculosesportivos, principalmente osjogosde
futebol,houvefortepressãonoCongresso,naépocada
votac¸ãodaLeiPelé,paraquefosseaprovadoaquino Bra-silomesmotipodecobranc¸a.Sealeifossepromulgada
como sequeria,asemissorasderádioseriamobrigadas
apagarpelatransmissãodecampeonatosestaduais,
Bra-sileirão, entre outros.A partir da aprovac¸ãodaminha
emenda,foisuprimidodaLeiPeléestedispositivo.
Acre-ditoqueestafoiumajustahomenagemprestadaaorádio
brasileiro,queéoprincipalpromotordoseventos espor-tivosnoPaís(DiasapudSenadorÁlvaroDias,17demarc¸o de2011).
Quantoàstransmissõesdosespetáculosesportivos,aLei 12.395/2011,noseuartigo42dispõeque:
Pertenceàsentidadesdepráticadesportivaodireitode arena,consistentenaprerrogativaexclusivadenegociar, autorizarouproibir acaptac¸ão, afixac¸ão,aemissão,a
transmissão, a retransmissão oua reproduc¸ão de
ima-gens, por qualquer meio ou processo, de espetáculo
desportivodequeparticipem.
§ 1◦ Salvo convenc¸ão coletiva de trabalho em
contrá-rio, 5% (cinco por cento) da receita proveniente da
explorac¸ão de direitos desportivos audiovisuais serão
repassadosaossindicatosdeatletasprofissionais,eestes distribuirão, em partes iguais, aos atletas profissionais
participantes doespetáculo,como parceladenatureza
civil.
§2◦ Odisposto nesteartigonãoseaplicaàexibic¸ãode
exclusivamentejornalísticos,desportivosoueducativos, respeitadasasseguintescondic¸ões:
I-acaptac¸ãodasimagensparaaexibic¸ãodeflagrante
deespetáculo ouevento desportivo dar-se-á em locais
reservados,nosestádioseginásios,paranãodetentores dedireitosou,casonãodisponíveis,medianteo
forneci-mentodasimagenspelodetentordedireitoslocaispara
arespectivamídia;
II-adurac¸ãodetodasasimagensdoflagrantedo
espe-táculooueventodesportivoexibidasnãopoderáexceder
3%(trêsporcento)dototaldotempodeespetáculoou
evento;
III - é proibida a associac¸ãodas imagens exibidas com
basenesteartigo a qualquerforma depatrocínio,
pro-pagandaoupromoc¸ãocomercial(Brasil,16demarc¸ode 2011,artigo42,parágrafo3◦.Lei12.395/2011).
Podemos perceber que, apesar das modificac¸ões, não
foi inserido termo que concedesse às entidades
esporti-vas o direito de cobrar pelas transmissões radiofônicas
dos jogos de futebol. Essa decisão foi comemorada pela
Associac¸ão Brasileira de Rádios e Televisão e, segundo o
então presidente daAbert, Emanuel Carneiro, em
repor-tagempublicada no site daassociac¸ão, ‘‘A aprovac¸ão da
medida foi importante porque garante umdireito
funda-mentaldasemissorasderádioe,porconsequência,aampla divulgac¸ãodos eventosesportivos’’(Carneiro apudAbert, 2010).
Entretanto,agratuidadedatransmissãoradiofônicados
jogos de futebol não é adotada em muitas organizac¸ões
externasaoesportebrasileiro.AFifatemnoseuestatutoum artigoquelheconfereodireitodeexclusividadede radiodi-fusãoetransmissãodoseventossobsuajurisdic¸ão.Oartigo 49,contempladonocapítuloVIIdoEstatutodainstituic¸ão, relataque:
A Fifa, seus membros associados, as confederac¸ões e
os clubes detêm os direitos exclusivos de
radiodifu-sãoe transmissãodoseventossujeitosàsuarespectiva
jurisdic¸ão através de qualquer método audiovisual e
sonoro de transmissão --- seja ao vivo, em videotape
oucompacto.OComitêExecutivo decidirásobre ouso
dos direitos de acordo com os estatutos e
regulamen-tosdasrespectivasconfederac¸ões.Asdisposic¸õesparaa
implantac¸ãodesseartigoestãocontidasnos
regulamen-tosespeciaisredigidospeloComitêExecutivo,quedeve, emparticular, decidirsobreosdireitose asobrigac¸ões
resultantesdo usointernacional e transmissãode
ima-gensde televisão entre os donosdos direitose outras
associac¸õesnacionais(Franc¸a,8dejunhode1998,artigo 49,EstatutodaFifa).
Diferentemente do que ocorre na Lei Pelé, o estatuto
daFifaadicionaaradiodifusãocomoumdosdireitos
exclu-sivosdaentidade. O temafoi abordado no37◦ Congresso
daAssociac¸ãoBrasileiradeCronistas Esportivos,nopainel
‘‘Emissorasde Rádio e a Copade 2014’’;e o palestrante
Claudio Carneiro, vice-presidente da Rádio Itatiaia (MG),
alertouparaanecessidadedeconhecerasregrasimpostas
pelaFIFAeapontouparaumaac¸ãoconjuntaentreasrádios,
nosentido deestabelecer ummaiorpoderde negociac¸ão
juntoàentidade.
Comovistoanteriormente,acobranc¸apelosdireitosde
transmissãoradiofônicadosjogosdefuteboléumtemaque vemsendodiscutidoentreaspartesinteressadasdesdeque foisancionadaaLeiPelé.
Aseguir,apresentamosocasodoClubeAtlético
Parana-ensecomoformadeexemplificararelac¸ãoentreclubede
futebol,rádioelegislac¸ão.Em2008,oclubetentoucobrar
uma contrapartida financeira pela cessão dos direitos de
transmissãoradiofônicadocampeonatobrasileirodomesmo
anoegerouumintensodebateentrecronistasesportivos,
juristasegestores.
O
caso
do
Clube
Atlético
Paranaense
x
rádios
locais
Em10deabrilde2008,adiretoriadoClubeAtlético
Para-naense publicou em seusite uma notae informou que, a
partir de 10 de maio do mesmo ano --- início do
Campe-onato Brasileiro---, asemissoras de rádiointeressadas em transmitirosjogosdoclubedeveriampagaruma contrapar-tidafinanceira.Segundoanota,todasaspartidasdisputadas peloAtlético,fossenacondic¸ãodemandanteouvisitante,
deveriam ser compradas pelas equipes de rádio. Os
valo-rescobrados,emqualquerestádiobrasileiro,seriamdeR$ 15.000porjogoouR$456.000pelopacotecomas38
parti-dasdocampeonato.
Conformeanota,acobranc¸apelacessãodosdireitosnão seaplicavaaosflagrantesdoevento,masàtransmissão
inte-gral.Comisso,oclubenãoestariaem discordânciacomo
acesso à informac¸ão e à liberdade de imprensa. Segundo
Luciana Pombo,então diretora decomunicac¸ão doclube,
em reportagem do jornal Gazeta do Povo, a medida não
passavadeumatendênciaejáteriasidoabordadaemuma
reuniãodoClubedos13,1emqueapossibilidadeteriasido aventada.
Aindadeacordocomareportagemdojornal,amedida
nãoseriainédita. Noiníciode2008, aAssociac¸ãode Clu-besdeFutebolProfissionaldeSantaCatarinatentouexigir dasrádioslocaisacessãodeespac¸ocomercialemtrocado usodascabinesderádio.Umamaneiradisfarc¸adadecobrar pelosdireitosdetransmissão.Entretanto,amedidafoi bar-radaeajuízaMarivoniKoncikoskiAbreu,da1a
VaraCívelde Florianópolis,concedeuliminarfavorávelàAssociac¸ão Cata-rinensedeEmissorasdeRádioeTelevisão(Acert)egarantiu atransmissãodosjogospelasrádioslocais.
1Clubedos13éonomedadoàassociac¸ãodosclubesmais
NocasodoClubeAtléticoParanaense,ograndedebate emtornodacobranc¸apelacessãodosdireitosde transmis-sãoradiofônicadosjogoscentrava-senainterpretac¸ãodalei específicavigente(LeiPelé),sobretudonoquedizrespeito aotermo‘‘imagem’’.Oartigo42daleiprevêque:‘‘Às enti-dadesdepráticadesportivapertenceodireitodenegociar, autorizareproibir afixac¸ão, atransmissãoou
retransmis-sãodeimagemdeespetáculooueventosesportivosdeque
participem’’ (Brasil, 24 de marc¸o de 1998, artigo 42, Lei 9.615/98).
ParaosdiretoresdoAtlético,aimagemseriaumconceito alémdapercepc¸ãovisual.SegundoLucianaPombo,‘‘o
Atlé-ticoentende queamarcaé aimagem’’e,sendoassim,o
clubeteriadireitodefazertalcobranc¸a.Porém,essavisão
nãofoicompartilhadadeformaunânime.SegundoRodrigo
XavierLeonardo,entãoprofessordedireitocivilda
Univer-sidadeFederaldoParaná,emreportagemdojornalGazeta
doPovo,‘‘nãosecaptaaimagem,olocutor---coma ativi-dadepessoaldele ---vêumespetáculo erelataoqueestá vendo.Oquetransmitenãoéojogo,masorelatodo locu-tor.Oobjetivodatransmissãoéaleituradolocutorsobrea realidade’’.
A medida atleticana logo foi criticada pela Associac¸ão
deCronistasEsportivosdoParaná(Acep).ParaIsaíasBessa,
entãopresidentedaAcep,emreportagemdojornalGazeta
doPovo,‘‘istoéumabsurdocompleto.Estamosindignados
e já provocou descontentamento em todo o país. Porém,
éumaquestãoqueaAbrace(Associac¸ãoBrasileirade Cro-nistasEsportivos) vaiavaliaratravésdeseudepartamento jurídico’’.
Diasdepoisdadivulgac¸ãodanotadecobranc¸a,aAbrace emitiuumcomunicadooficialemseusiteerepudioua
deci-são tomada pela diretoria atleticana. No comunicado, o
então presidente daAssociac¸ão, Anderson Maia Nogueira,
lamentouaatitudedoCAP:
Esperamos que o bom senso prevalec¸a, a diretoria do
ClubeAtléticoParanaensereconsidereasuadecisão con-tidaemsuainformac¸ãoereconhec¸aqueorádioesportivo brasileiroteveetemsignificativaimportânciaemtodaa vidadoClubeAtléticoParanaenseenãomereceser
pena-lizado por ter ajudadoa fazer a história destegrande
clubebrasileiro(NogueiraapudFuracão.com,11deabril de2008).
Apesardascríticas,algunsórgãosrepresentativosde
crô-nica esportiva se mostraram favoráveis à cobranc¸a pelos
direitos detransmissão radiofônica.A Aceesp (Associac¸ão
deCronistas Esportivosdo EstadodeSãoPaulo) publicou,
em16deabril,umcomunicadooficialemquesecolocoua
favordacobranc¸aatleticana.Segundooentãopresidente, Ricardo Capriotti, a proposta decobranc¸a nãoera ilegal, erafeitaemoutrospaíses.Entretanto,emcontrapartida,o clubedeveriadispordecondic¸õesfavoráveisparao cumpri-mentodasfunc¸õesdosprofissionaisdaimprensa.
AdiretoriadoAtléticoprocurousedefendereem15de
abrilde2008esclareceualgumasquestõessobreoassunto
emumaentrevistacoletiva.Oentãopresidentedoconselho deliberativodoclube,MarioCelso Petraglia, explicouque afundamentac¸ãojurídica estavabaseadanaConstituic¸ão, queascobranc¸asseriamfeitaspeloprodutonaíntegrasem prejuízosaoacessoàinformac¸ãoequeosvalorescobrados
tinhamsidobaseadosemumapesquisademercado.Segundo
Petraglia:
Nós fizemosumestudodemercado comosquatro
seg-mentos: TV,rádios,jornais e internet.A TVpagavaR$
10 milhões em 1996. Hoje, paga R$ 320milhões entre
aberta e fechada para o Brasileirão. Ano passado, dos
R$40bilhõesdefaturamentoemmídia,aTVficoucom
50%,ouseja,R$20bilhões.Asrádiosfaturaramde3%a
4%dotodoe emtornode6%a7%doqueaTVfaturou
(...)Avalorizac¸ão virána sequência.As rádioscobram
dos anunciantes, oscustos repassam paraosprodutos.
Hoje, osclubesabsorvemsozinhososcustos edãoesse
produtogratuitamente.Nomomentoqueissopassaaser
cobrado,avalorizac¸ãoviránasequência,foiassimnaTV (PetragliaapudGloboEsporte.com,15deabrilde2008).
Nessacompetic¸ãoentrerádios e clube,oAtlético
per-deu a primeira disputa em 18 de abril de 2008. A juíza
NilceRegina,da5aVaraCíveldeCuritiba,concedeudecisão
favorávelàRádioTransaméricaeeximiuaemissorado paga-mentopeloschamados‘‘direitosdearena’’.Assim,oclube
nãopoderiacobrardaRádioTransaméricaosR$15.000por
jogo,tampoucoosR$456.000pelopacotecompleto,fosse
nacondic¸ãodemandanteouvisitante.Casooclube descon-siderasseadecisãodajustic¸a,seriapunidoemR$150.000 porpartida.
Apesar da decisão desfavorável, o Atlético teve uma
pequenavitóriadoisdiasdepois.As emissorasderádiode CuritibafirmaramumboicoteaoClubeAtléticoParanaense, emquenãoseriamtransmitidosnaíntegraosjogosdoclube.
Seria apenas informado o placar e seriam feitas algumas
entrevistas. Entretanto, a Rádio Mais se recusou a aderir
aoboicoteeinformouquetransmitiriaojogode20deabril de2008,oqueacabouincentivandooutrasemissorasa
faze-remomesmo.Porfim,nenhumaemissoradeixoudefazera
transmissãocompleta.
Apesar dabreve vitória,a decisãoque culminaria com
o fim do embateveio alguns dias depois. Em 30 de abril
de2008,apenas20diasdepoisdoprimeirocomunicadodo
clube,a Associac¸ãoBrasileira de Emissoras de
Radiodifu-são(Abert) e a Associac¸ão das Emissoras deRadiodifusão
do Paraná (Aerp) conseguiram uma liminar que liberava
todasassuasafiliadasdacobranc¸adoAtlético,para trans-mitiraspartidasdoclubenoCampeonatoBrasileirode2008. Aliminarbeneficioumaisde275emissorassónoParaná.
O Atléticoimpôs recurso contra a primeira decisão da
juízaNilce ReginaLima,em favor daRádioTransamérica.
Entretanto, em 2 de maio o desembargador Guilherme
GomesindeferiuorequerimentodoClubeAtlético
Parana-enseemantevealiminarqueliberavaaRádioTransamérica dacontrapartidafinanceirapelastransmissõesradiofônicas.
Do mesmo modo, o recurso contra a liminar concedida a
Aberte Aerp foiindeferido. Assim,todas asemissorasde
rádiovinculadasmantiveram odireitodetransmissão
gra-tuitarespaldadojuridicamente.
Considerac
¸ões
finais
Oprocesso deespetacularizac¸ão peloqual passouo
fute-bolbrasileirofoi estimulado e posteriormente usadopela
observaram no futebol um produto financeiramente
ren-tável, passaram a usá-lo de maneira intensa em suas
programac¸ões,pormeiodavendadecotaspublicitárias.
As transmissões de jogos de futebol integram
atual-mente uma grade extensa de emissoras de televisão e,
principalmente,de emissorasde rádio,que compartilham
do futebol com seus telespectadores e ouvintes,
respec-tivamente. Entretanto, observamos que somente a mídia
televisivatemaobrigac¸ãodepagarpelosdireitosde trans-missão.Orádioéisentodetalcobranc¸apelofatodequea legislac¸ãobrasileira,pautadanaLeiPelé,fazalusãoapenas
àcobranc¸aintegraldoeventodevidoàimagemnessemeio
projetada.
ALeiPeléabordaapenasaquestãodaimagemna
trans-missãodos jogosdefutebol, negligenciao áudio e avoz.
Ela garante que parte das receitas adquiridas pelo clube
comáudioe visual(art.42)deverãoserdistribuídasentre
os jogadores, o que está de acordo com o art. 5◦ da
Constituic¸ão,ouseja,odireitoédadoaojogador,masnão aoclube.Emumaúltimamudanc¸adaLeiPelé(MP502/2010, queculminounaLei12.395/11),estavaprevistaainserc¸ão
doáudiocomoumprodutopassíveldesernegociadopelos
clubes,porém,umaemendapropostapelosenadorÁlvaro
Diasfezcomqueaadic¸ãofosseretirada.
Em 2008, o Clube AtléticoParanaense tentoucobrar o
direitodetransmissãodasrádiosealegouqueasemissoras
usamamarcadoclubeparadesenvolveroseuproduto,as
transmissões.Entretanto,oclubeperdeuacausa,porqueo
PoderJudiciárioentendeuqueamarca(nocaso,aimagem)
nãocontempla o áudio. Após a investida da agremiac¸ão,
umagrande parceladoscronistasesportivosposicionou-se
contráriaàatitudedoClubeAtléticoParanaense,por consi-derarqueatransmissãoradiofônicaéumdireitoadquirido
pelas rádios há muitos anos e que ele garante o
funcio-namentodemuitasemissoras.Alémdisso,atransmissãoé
defendidacomoumaformadedivulgac¸ãogratuitado
fute-bol.
Com relac¸ãoa essa gratuidade na divulgac¸ão do
fute-bol,defendidapeloscronistas,podemosperceberque,com
osnovosmeiosdecomunicac¸ão,osgrandesclubesdo fute-bolbrasileirotêmoutrasopc¸õesparadivulgarasuamarca,
como a televisão (que paga pelos direitos de transmissão
dosjogos)eainternet(emquecadaclubetemoseusite
oficial). Assim, podemos supor que na atualidade o rádio
dependemaisdofuteboldoqueofuteboldorádio.
Expostotodoessecenárioeentendendoesteartigocomo
propulsor de novas questões e estímulo acadêmico para
pensá-las,norteamosemnossasconsiderac¸ões finaise iní-ciodenovosapontamentos:aLeiPelégaranteodireitoao acesso gratuito à informac¸ão esportivapara fins
jornalís-ticos e educativos? As emissoras de rádio usam o futebol
para muito além da cobertura jornalística e educativa,
transformamoesporteemumprodutoextremamente
ren-tável? A televisão é obrigada a pagar pelos direitos de
transmissão, isso se aplica às rádios? Sendo assim,
pro-pomos, ao término deste artigo, um estímulo ao estudo
dasquestõesaquiapresentadasnãonointuito definalizar
a discussão, mas sim na tentativa de propiciar mais
dis-cussões acadêmicas em torno do assunto, principalmente
noque serefere àcoerente ouincoerente gratuidade da
transmissão radiofônica integral dos jogos de futebol no
Brasil.
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
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