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Concepções de munícipes da cidade de Rio Claro sobre a arborização urbana

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Academic year: 2017

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INSTITUTO DE BIOCIÊNCIAS - RIO CLARO

ÉLLEN DA SILVA GARCIA

CONCEPÇÕES DE MUNÍCIPES

DA CIDADE DE RIO CLARO SOBRE

A ARBORIZAÇÃO URBANA

Rio Claro 2015

(2)

ÉLLEN DA SILVA GARCIA

CONCEPÇÕES DE MUNÉCIPES DA CIDADE DE RIO CLARO

SOBRE A ARBORIZAÇÃO URBANA

Orientador: PROF. DRA. DALVA MARIA BIANCHINI BONOTTO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - Câmpus de Rio Claro, para obtenção do grau de licenciada e bacharela em Ciências Biológicas.

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arborização urbana / Éllen da Silva Garcia. - Rio Claro, 2015 117 f. : il., figs.

Trabalho de conclusão de curso (licenciatura e

bacharelado - Ciências Biológicas) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Biociências de Rio Claro

Orientador: Dalva Maria Bianchini Bonotto 1. Educação ambiental. 2. Arborização urbana. 3. Árvores. I. Título.

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RESUMO

Até a Revolução Industrial, no século XIX, não havia preocupação com a questão ambiental, mas após esse período e com a crescente urbanização, além de outros fatores, o meio ambiente passou a sofrer com problemas como desmatamentos, queimadas e extração de recursos naturais para além da capacidade de restauração. Assim, entramos nas décadas finais do século XX com os problemas ambientais constituindo em seu conjunto uma das mais importantes questões a serem enfrentadas pela sociedade. Dentre os vários temas e focos de estudo englobados pela questão ambiental, o tema da arborização urbana tornou-se uma discussão atual importante, pois ao mesmo tempo em que continua o crescimento urbano, é preciso manter e aumentar o contingente de árvores nas cidades. No entanto, sabe-se que nem sempre a população compreende essa necessidade e considera as árvores elementos importantes. Tendo em conta a contribuição que a educação deve fornecer para enfrentamento dos problemas ambientais, é importante que toda a população seja educada quanto a esse assunto. Diante disso, este trabalho tem a finalidade de investigar as concepções de munícipes da cidade de Rio Claro, ou seja, seus conhecimentos, ideias e opiniões sobre a arborização urbana, buscando identificar e analisar as opiniões, conhecimentos, crenças e atitudes que possuem frente a esse tema, tentando descobrir seus significados para assim, identificarmos possíveis causas que levam a aceitação ou não da presença de árvores na cidade, assim como detectar aspectos que podem favorecer ou desfavorecer a realização e a manutenção da arborização urbana na cidade. Esse trabalho poderá servir de subsídio para práticas educativas voltadas a esse tema, seja em escolas ou outros espaços educativos.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Núcleo urbano de Rio Claro, ano de 1879... 21

Figura 2: Centro da cidade de Rio Claro, fevereiro de 2005 ... 21

Figura 3: Ficus (Ficus microcarpa) ... 23

Figura 4: Alecrim de Campinas (Holocalyx balansae Micheli) ... 23

Figura 5: Flamboyant (Delonix regia (Hook.) Raf.) ... 24

Figura 6: Sibipiruna (Caesalpinia pluviosavar peltophoroides (Benth.) G.P. Lewis) ... 25

Figura 7: Paineira (Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna ) ... 26

Figura 8: Ipê- rosa (Tabebuia heterophylla (DC.) Britton) ... 26

Figura 9: Espécies arbóreas comumente usadas na arborização de vias públicas. ... 28

Figura 10: Foto aérea de Maringá-PR ... 39

Figura 11: Foto aérea panorâmica de Maringá- PR... 40

Figura 12: Foto aérea da área livre e área verde de Rio Claro, Lago Azul ... 42

Figura 13: Floresta Estadual Edmundo Navarro de Andrade (FEENA) ... 42

Figura 14: Aspectos que se destacaram mais nas respostas sobre árvores e arborização urbana por bairro ... 81

Figura 15: Respostas sobre a infância correlacionadas com árvores e os tipos de bairros ... 83

Figura 16: Opinião dos munícipes sobre a quantidade de árvores por bairro ... 86

Figura 17: Motivos citados os quais o entrevistado gosta do local onde mora por bairro ... 87

Figura 18: Número de citações de cada benefício trazido pelas árvores por bairro e total. ... 88

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LISTA DE ABREVIATURAS

EA Educação Ambiental

FEENA Floresta Estadual “Edmundo Navarro de Andrade”

SESI Serviço Social da Indústria

SEPLADEMA Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento e Meio Ambiente

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 6

2 OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ... 11

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 14

3.1 A árvore e seu simbolismo... 14

3.2 A Questão Ambiental... 16

3.2.1 A Arborização Urbana ... 18

3.3 A Educação Ambiental e a Arborização Urbana... 29

3.3.1 Urbanização e arborização urbana ... 36

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO GERAL ... 41

4.1 Respostas das entrevistas... 41

4.2 Uma síntese possível a partir das respostas ... 81

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 92

REFERÊNCIAS ... 94

ANEXOS ... 100

Anexo A-- Procedimento metodológico para obtenção dos dados de porcentagem de copa de árvore na cidade de Rio Claro...100

Anexo B – Documento de aprovação das entrevistas pelo Comitê de Ética... 103

Anexo C- Termo De Consentimento Livre E Esclarecido - (TCLE)... 107

(Conselho Nacional de Saúde, Resolução 466/12)...107

Anexo D - Falta de planejamento prejudica desenvolvimento de árvores... 109

Anexo E - Podas irregulares matam Sibipirunas no Bela Vista...111

Anexo F - Inquérito Civil Sobre poda de árvore em área urbana entra na fase pericial... 113

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1 INTRODUÇÃO

A questão ambiental se tornou uma discussão importante para a sociedade desde as últimas décadas do século XX. Buscando compreender a causa dos problemas ambientais, diversos autores têm apontado para vários fatores vindos da “concepção de mundo derivada da ciência mecanicista” (LAYRARGUES, 2004, p.38), como a construção de um modelo de racionalidade separando rigorosamente o sujeito cognoscitivo e o objeto do conhecimento e nossa sociedade capitalista, em cuja racionalidade cabe ao ser humano o domínio da natureza. A partir disso, se consolida nossa sociedade uma visão dicotomizada, como bem aponta Layrargues (2004):

Dialeticamente falando, para construirmos um novo patamar societário e de existência integrada às demais espécies vivas e em comunhão entre nós, precisamos superar as formas de expropriação que propiciam a dicotomia sociedade-natureza. (p. 79).

Até a Revolução Industrial, no século 19, não havia preocupação com a questão ambiental, mas após esse período, com a crescente urbanização e pelos fatores citados anteriormente, se intensificaram problemas como desmatamentos, queimadas e extração de recursos naturais para além da capacidade de restauração. Paralelamente a eles, a desigualdade e a exclusão social.

Dentre todos esses problemas, nos voltamos nesse trabalho para o tema da arborização urbana. Esse se tornou uma discussão atual importante, pois ao mesmo tempo em que continua o crescimento urbano, é preciso manter e aumentar o contingente de árvores nas cidades.

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Reconhecemos que um caminho que pode nos levar a solucionar esses transtornos e nos aproximar dos ideais do movimento ecologista é a educação ambiental. Esta vem como uma ferramenta que possibilita trazer maior consciência à população sobre a importância da nossa moradia e convivência em sociedade, visto que os recursos que retiramos da natureza em prol das construções e modernização tecnológica podem acabar e que, apesar da alta produtividade com a qual nos encontramos não se permite que mais da metade da população tenha direito às necessidades básicas satisfeitas e, menos ainda têm a possibilidade de usufruir dessa tecnologia. De acordo com Carvalho (2008), há uma necessidade de estar atento à má distribuição e finitude dos recursos naturais, e também envolver o cidadão em ações ambientais apropriadas.

Entretanto, há variação quanto ao entendimento do que seja ‘educação ambiental’. Muitas vezes ela é apresentada como uma proposta de discussão para pensarmos a natureza sem a introdução do homem como parte dela, sob uma perspectiva conservacionista (LAYRARGUES, 2004). A principal ideia é a de preservar o verde das matas, de replantar o que retiramos, de reintroduzir e/ou preservar a biodiversidade das comunidades de animais e plantas, mas sem muito aprofundamento nas questões de relacionamento entre nós, humanos, e com o ambiente no qual estamos inseridos, tanto o natural, o não modificado; quanto o urbano, que é a natureza transformada pelo homem.

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A nosso ver, a educação ambiental deveria estar de fato, desse modo, inserida no currículo escolar, constituindo uma boa oportunidade de desenvolver um trabalho que permita aos alunos se inserir nas problemáticas ambientais e sociais como sujeitos causadores e solucionadores dos desequilíbrios antrópicos.

Diante disso nos voltamos à questão da arborização urbana. Com o surgimento da urbanização e inerentemente com seus problemas (ilhas de calor, inversão térmica, enchentes, mau trânsito; poluição do solo, das águas, do ar por resíduos sólidos, dentre outros), a sociedade precisa se desdobrar para trazer possíveis atividades e buscar formas de enfrentamento para, pelo menos, minimizar esses transtornos presentes na vida urbana, principalmente, por trazerem prejuízos à saúde, desarmonia à convivência na cidade, desequilíbrio ecológico e social.

Mas será que a população pensa dessa forma? Em minha experiência como estagiária do setor de meio ambiente de uma cidade do interior paulista, Rio Claro, observei que pelas solicitações de poda/retirada de árvores na Secretaria do Município responsável pela autorização do serviço, parece haver uma tendência, que desejamos verificar, dos munícipes da cidade em perceber as árvores mais como um problema do que uma necessidade, visto que os mesmos justificam o pedido de corte de árvores por estas prejudicarem a fiação da rede elétrica, entupir calhas e bueiros, pela sujeira que fazem no quintal de suas residências, além de servirem como ponto de uso de drogas e como esconderijo para bandidos. Até que ponto a presença de árvores está relacionada com a presença de bandidos? E até que ponto a retirada das árvores “resolve” esse problema?

A arborização das ruas, avenidas e praças não é planejada, estando sujeita às podas. Atualmente, Rio Claro apresenta poucas áreas verdes, e assim pode-se dizer que o reconhecimento da importância da arborização foi se perdendo com o tempo.

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queda da árvore. No trabalho de Cadorin (2013), a sujeira também apareceu dentro das principais desvantagens da arborização. Mas como a autora diz: “as folhas, flores e frutos que caem das árvores fazem parte de um ciclo natural que não pode ser modificado ou interrompido” (p.85). O mesmo se encontra em Moura (2010), o autor verificou que 19% dos seus entrevistados (centro de Teresina- PI) consideram como principal problema causado pelas árvores a sujeira nas ruas e praças provocada pela queda de folhas e galhos. Além disso, afirma:

Para muitas pessoas, nos dias atuais, as praças são vistas como espaços públicos abandonados, da mendicância, do uso de drogas e da prostituição. Sendo assim, uma grande parcela da população da cidade fica praticamente sem espaço público livre para o desenvolvimento de diversas atividades relacionadas ao lazer, o encontro, o comércio e o descanso em horas de ócio. Faz-se necessário a criação e manutenção desses espaços para a melhoria da qualidade de vida da população. (p. 35)

E o que será que acontece na cidade de Rio Claro? O que os munícipes pensam sobre o tema? Essas e outras questões indicam a necessidade de identificarmos as concepções que a população apresenta sobre o tema da arborização urbana, para subsidiar programas de EA voltados a um trabalho dirigido a essas concepções. .

Para Valentin (2005, p. 97), “uma concepção envolve saberes acumulados e vai sendo reconstituída e re-elaborada de acordo com os acontecimentos, com as mensagens recebidas, com as relações estabelecidas e com o contexto vivido”. Para Thompson (1992 apud VALENTIN, 2005, p. 97), as “concepções podem ser definidas como estruturas mentais (conscientes ou inconscientes) compostas por crenças (beliefs), conceitos, significados, regras, imagens mentais e preferências”.

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2 OBJETIVOS E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Esse trabalho tem a finalidade de investigar as concepções de munícipes da cidade de Rio Claro, ou seja, seus conhecimentos, idéias, opiniões, crenças e atitudes sobre a arborização urbana. Buscamos, pois, identificá-las e analisá-las, tentando descobrir seus significados para que assim, possamos identificar possíveis causas que levam a aceitação ou não da presença de árvores na cidade, assim como detectar aspectos que podem favorecer ou desfavorecer a realização e a manutenção da arborização urbana. Esse trabalho poderá servir de subsídio para práticas educativas voltadas a esse tema, seja em espaços escolares ou não escolares.

Essa pesquisa parte da abordagem qualitativa que, de acordo com Ludke e André (1986), determina ser quase impossível entender o comportamento humano sem tentar entender o quadro referencial dentro do qual os indivíduos interpretam seus pensamentos, sentimentos e ações. Nessa perspectiva, o pesquisador deve tentar encontrar meios para compreender o significado manifesto e latente dos comportamentos dos indivíduos, ao mesmo tempo em que procura manter sua visão objetiva do fenômeno. Assim foi feito por Mônico (2001) que, em sua pesquisa, buscou investigar os motivos que levam o munícipe a ter uma relação negativa com a árvore, envolvendo cortes sucessivos sem necessidades.

Ainda de acordo com Ludke e André (1986), a investigação se dá pelo contato direto do pesquisador com o ambiente e/ou situação a ser investigada, não sendo possível “estabelecer uma separação nítida e asséptica entre o pesquisador e o que ele estuda e também os resultados do que ele estuda” (p.5).

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formulávamos, para buscar compreender esse processo de construção de significados em relação à arborização urbana.

A coleta de dados foi feita através de entrevistas semi-estruturadas, que, segundo Ludke e André (1986) “se desenrola a partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações” (p.34).

Entrevistamos munícipes de Rio Claro em diferentes situações, que supúnhamos influenciar a percepção da importância – ou prejuízos – da presença das árvores na vida dos moradores da cidade:

1- Morador de bairro pouco arborizado; 2- Morador de bairro bem arborizado; 3- Munícipes solicitantes de corte;

A cidade de Rio Claro tem uma população estimada de 199.961 habitantes em 2015 (IBGE, 2005), sendo considerada uma cidade de médio porte do interior paulista. Tem duas áreas verdes importantes, que são a Floresta Estadual “Edmundo Navarro de Andrade” (FEENA) e o Lago Azul. “Apesar de a cidade ter sido planejada, possuir 114 praças e jardins, ela tem índice de áreas verdes muito inferior ao apontado como ideal pela ONU (12m2) por habitante” (NICOLETTI et al, 2001, p.60).

Para a pesquisa foram classificados e identificados bairros mais e menos arborizados de acordo com a densidade de indivíduos arbóreos presentes em toda malha urbana, desde árvores presentes nas calçadas até áreas verdes (Anexo A). Esse dado tornou-se importante para nós porque na intenção também será levado em consideração se a densidade de indivíduos arbóreos presentes no bairro do entrevistado poderá ser considerada um parâmetro significativo para o tipo de concepção observada na entrevista. Vale lembrar que essa pesquisa foi encaminhada ao comitê de ética em pesquisa do IB- UNESP/Rio Claro tendo sido aprovada (ANEXO B).

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abordagem qualitativa. Assim, não nos preocupamos com tratamento estatístico para determinação de amostra significativa para a cidade. Em nossa pesquisa, foram entrevistados ao todo 20 munícipes. As entrevistas foram realizadas a partir das seguintes questões básicas:

I- O local onde você mora com relação às árvores: como é? Você gosta dele?

II- Em sua infância, como era(m) o(s) local (is) em que você morou?

III- Você algum dia já plantou uma árvore e/ou outro tipo de planta? Se sim, conte como foi essa experiência. (se falar apenas de plantas, insistir perguntando sobre árvores)

IV- Você algum dia já teve que cortar uma árvore? Se sim, conte como foi essa experiência.

V- Aprendemos na escola que as árvores, como todas as plantas, são seres vivos. Você saberia dizer por que elas podem ser consideradas seres vivos? E você consegue perceber que elas são seres vivos, assim como os animais são seres vivos?

VI- Qual a sua opinião sobre as árvores nas cidades? E na cidade de Rio Claro? (elas têm alguma utilidade?)

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A árvore e seu simbolismo

Hoje em dia, no cinema, muitas vezes, as árvores representam a força, vida, mistério e medo. Em Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban, a árvore

era porta de entrada de uma passagem secreta; outro filme se chama A árvore o qual uma garotinha acredita que dentro dela se encontra o espírito

do pai, em Fonte da Vida ela traz a imortalidade e, em Avatar era responsável

pela ressurreição, era o coração da natureza, pulsava de modo semelhante ao nosso órgão transmitindo vitalidade. Esse símbolo de vida remota à macieira da história de Adão e Eva, e também remete à morte, como material para a cruz de Jesus Cristo, conforme indica Schama (1945, p. 193):

Algumas vezes, a árvore anunciou seu destino, como fez em anglo saxão para o autor do Dream of the roood [Sonho do crucifixo], do seculo X. Em sua visão, a árvore descreve o próprio fado físico- cortada, derrubada e despedaçada-, como se lhe coubesse sofrer os tormentos de Cristo. Assim, quando recebe o corpo do Salvador, sua substância e a do Messias se fundem num só organismo de morte e redenção. E, corretamente, ela pôde dizer. “Transpareçam-me com pregos. [...] / Marcamos / Eu estava toda orvalhada de sangue”.

Na antiguidade, as árvores apresentavam distintos significados. A oliveira selvagem era usada para fazer a coroa, o prêmio nos Jogos Olímpicos, se chamava kótinos. Na época do império de Alexandre, os atletas

passaram a receber também um ramo de palmeira (ANDRONICOS, 2004). A árvore é o retrato que representa a genealogia dos seres vivos, chamada a “árvore da vida” quando se estuda genética ou evolução Darwiniana. A folha de Maple ou Bordo é desde os índios, um emblema canadense (CIMINI, 2013), uma representação de palmeira vemos na bandeira do Haiti. No Brasil, o arbóreo mais presente em sua história foi o pau-brasil (Caesalpiniaechinata), (MOURA, 2010). E a relação com o humano era

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segunda metade do século XX passa a ser urbano e industrial (SANTOS

2008, p.19 APUD MOURA, 2010, p.24). Como apresenta Chauí (2008), nossas relações com a natureza são

mediadas por relações sociais, os entes reais (árvores, por exemplo) são seres culturais que apresentam um campo significativo, e são valorizados de acordo com nossos valores, conforme as necessidades, interesses e ética, os quais variam para cada um. Esta autora exemplifica diferentes olhares e significados que uma paisagem pode apresentar dependendo de quem, ou de qual grupo a vê:

O Monte Olimpo, o Monte Sião são realidades culturais tanto quanto as Sierras para a história da revolução cubana, ou as montanhas para a resistência espanhola e francesa, ou a Montanha santa Vitória, pintada por Cézame. O que não impede ao geólogo de estudá-las de modo inverso, nem ao capitalista de reduzí-las a mercadorias (seja explorando seus recursos de matéria-prima, seja transformando-as em objeto de turismo lucrativo) (p. 21)

Para um artista, o simples fato de existir o objeto (montanha) já o deixa contemplado. Foster (2005) comenta que, mediado pelo trabalho, o homem transforma a natureza e, nesse movimento, também se transforma. Porém, ao mesmo tempo em que o homem se diferencia da natureza pelo trabalho, este, em vez de realizá-lo, na sociedade atual o escraviza. Em modos de produções antigas, desde os primórdios das civilizações, a transformação da natureza por meio do trabalho humano se praticava como um modo de satisfazer suas necessidades básicas e instintivas. No sistema capitalista, a satisfação dessas necessidades não é mais o principal motivador do trabalho, mas um meio para se obter lucros e acúmulo de capital. Ou ainda, podemos pensar o que “o capitalismo não destrói a natureza, mas sim a transforma e a produz constantemente, na busca ininterrupta pelo lucro e pela valorização constante das mercadorias e dos objetos”. (HENRIQUE, 2009, p.104).

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Voltando à história do homem e sua relação com as árvores, podemos citar os rituais antigos conhecidos para a chuva, o sol, as árvores, dos povos primitivos. Eles denotavam uma postura de grande reverência pela natureza e pela vida, que se constituíam de muitos mistérios (MONICO, 2001). Mas como disse esta autora, em nossos tempos, a ciência já desvendou uma infinidade dos mistérios. Assim, o que era fonte de inspiração, religiosidade, abrigo, alimento, madeira e garantia de sobrevivência para os seres humanos, aos poucos, a árvore foi se tornando um interesse econômico, ou até, um empecilho ao desenvolvimento econômico.

É nesse contexto que vemos a temática das árvores fazendo parte da questão ambiental, conhecida por muitos também como ambientalismo ou movimento ecológico.

3.2 A QUESTÃO AMBIENTAL

A preocupação intelectual com os problemas “ambientais” esteve presente, ao menos no mundo de expressão européia, desde o final do século XVIII, ocupando um lugar relevante no processo de construção do pensamento moderno (RAUMOLIN, 1984; GROVE, 1995; PÁDUA, 2002 APUD PÁDUA, 2010). Para Pádua (2010) a questão ambiental aparece recentemente na trajetória humana. “[...] Mas pode-se dizer que as relações ambientais já estavam presentes, sendo percebidas, ou não, segundo os padrões culturais de cada período [...] ” (p. 96)e ainda, acrescenta:

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Como por exemplo, ela se articula com uma economia de mundo predominantemente calcada na atitude de dominância a outros povos, como ocorreu na expansão colonial européia.

Para o autor a ideia de “ecologia” rompeu os muros da academia para inspirar o estabelecimento de comportamentos sociais, ações coletivas e políticas públicas em diferentes níveis de articulação, do local ao global. Mais ainda, ela penetrou significativamente nas estruturas educacionais, nos meios de comunicação de massa, no imaginário coletivo e nos diversos aspectos da arte e da cultura. Para Layrargues (2004):

A “questão ambiental” é complexa, trans e interdisciplinar. Posto que nada se define em si, mas em relações em contextos espaço-temporais, [...] é, dentre as que buscam pensar o enredamento do ambiente, a que se propõe a teorizar e agir em processos conexos e integrados, vinculando matéria e pensamento, teoria e prática, corpo e mente, subjetividade e objetividade. (p. 70)

Para Carvalho (2001), tanto nos depoimentos de ativistas quanto na literatura, destaca-se a referência aos anos 70 como a década onde começa a configurar-se de forma mais sistemática um conjunto de ações, entidades e movimentos que se nomeiam ecológicos ou ambientais e, no plano governamental, uma estrutura institucional voltada para a regulação, legislação e controle das questões de meio ambiente. Essa década vai criar as condições para a expansão e consolidação das entidades ambientalistas da década seguinte.

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3.2.1 A Arborização Urbana

Termos e conceitos associados

É preciso ter clareza quanto ao uso dos termos (em função da abrangência que nosso tema abarca) relacionados ao presente tema de estudo; áreas verdes, áreas livres e arborização urbana não são sinônimos, e precisamos indicar nosso foco de interesse.

Espaço livre é um conceito abrangente, contrapõe-se ao espaço construído em áreas urbanas. Ele é destinado a caminhadas, lazer, esportes, onde não entra locomoção com veículos.

Área verde é um tipo de espaço livre com boa representação arbórea e pode abranger praças, jardins públicos e parques urbanos. Para Pereira (1994 apud SOUZA, 2013?):

 Parque urbano: É uma área verde, com função ecológica, estética e de lazer, no entanto com uma extensão maior que as praças e jardins públicos.

 Praça: É um espaço livre público cuja principal função é o lazer. Pode não ser uma área verde, quando não tem vegetação e encontra-se impermeabilizada.

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Entretanto, podemos encontrar conceituações distintas e outras mais específicas para cada um. Concordamos com Londe e Mendes (2014) que a

falta de consenso entre estes conceitos pode estar atrelada ao fato de a vegetação ser tratada sob diferentes olhares, seja entre as ciências como Geografia, Arquitetura, Engenharia Florestal, entre outras, seja no âmbito dos órgãos públicos responsáveis pela vegetação nas cidades.

Reconhecer as diferenças aumentaria as possibilidades de integração, aperfeiçoando a administração destes recursos (MAGALHÃES, 2006). Diante dessa diversidade dos conceitos, a arborização urbana é um ponto a ser discutido em qualquer gestão de municípios. Atualmente poucas cidades apresentam uma área arborizada satisfatória e proporcional à área total da cidade. É necessário que haja um planejamento, com um sistema municipal de áreas verdes ou de espaços livres, que atenda a toda a densidade populacional e aproveite o potencial natural das áreas existentes. Segundo Cavalheiro e Del Pichia (1992) há necessidade que se pense com cuidado no ordenamento dos espaços livres dentro do tecido urbano, visando não só uma otimização do meio físico, mas também uma melhoria da oferta de áreas livres par ao lazer da população.

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A Arborização em Rio Claro

Tendo estagiado na Prefeitura do município junto à Diretoria de Planejamento Ambiental na Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento e Meio Ambiente (SEPLADEMA) e estando em contato com pessoas que estão envolvidas no assunto, verifiquei que não há documentos sobre a história da Arborização Urbana de Rio Claro, nem mesmo algum projeto de arborização de vias públicas no arquivo da Prefeitura que possibilite uma análise.

Apenas no Arquivo Histórico do município são encontrados registros fotográficos que podem indicar a evolução das áreas verdes na cidade (figuras 1 e 2). Pode-se observar que ao se realizar o planejamento das ruas não houve a preocupação de implantar árvores, em função da largura das calçadas proposta.

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Figura 1: Núcleo urbano de Rio Claro, ano de 1879

Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio Claro

Figura 2: Centro da cidade de Rio Claro, fevereiro de 2005

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A cidade de Rio Claro em seu processo de consolidação da urbe tem uma configuração típica de cidade planejada em formato de tabuleiro de xadrez. Todo processo embrionário de formação de suas quadras, principalmente, em sua região central e bairros mais antigos, apresentam leitos carroçáveis com larguras variando entre 7 e 8 metros e passeios públicos com medidas entre 1,5 metros e 2,1 metros também de largura. Tais medidas repetidas na maior parte da malha urbana do município de Rio Claro inviabilizam projetos consistentes de arborização urbana.

A aprovação de lotes com 5 metros de testada (frente) com rebaixamento de guias em suas totalidades para o abrigo de automóveis; prática comum nos novos loteamentos exclui qualquer possibilidade de plantio de árvores diante desses lotes.

A despeito de todas essas dificuldades, Rio Claro recebeu ao longo das últimas oito décadas tentativas de se promover a arborização de suas ruas e avenidas. Citaremos algumas dessas tentativas:

a) Arborização da Avenida da Saudade. Na década de 1930, a Prefeitura Municipal de Rio Claro efetuou o plantio de árvores no corredor que vai da Rua 08 até a Rua 16, caminho ao cemitério de São João Batista com mudas da espécie Ficus microcarpa (figura 3). No

decorrer dos anos, outras espécies foram ali introduzidas, descaracterizando o local. Mesmo assim, o conjunto arbóreo da Avenida da Saudade é considerado um dos mais bonitos do Brasil;

b) Arborização da Rua 01. Nos anos 50, na administração do então Prefeito Benedito Pires Joly, a Rua 01, entre os trechos da Avenida 02 até a Avenida 22, recebeu mudas de Alecrim de Campinas (Holocalyx glaziovii) (figura 4).

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maiores do que calçadas e ruas do centro antigo de Rio Claro.

Figura 3: Ficus (Ficus microcarpa)

Fonte: Altervista

Figura 4:Alecrim de Campinas (Holocalyx balansae Micheli)

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O Alecrim de Campinas mostrou ser durante décadas espécie arbórea resistente a podas mutilatórias e pragas urbanas. Passadas seis décadas do plantio em série, ainda restam alguns exemplares no trecho citado acima.

Outro trabalho de plantio de árvores em série executado nos anos 60 foi a arborização dos canteiros centrais da Avenida Brasil, cuja espécie arbórea escolhida foi Delonix regia; árvore conhecida popularmente

como Flamboyant (figura 5).

Nos ano 70, os viveiros de todo Estado de São Paulo produziam mudas da espécie Caesalpinia peltophoroides conhecida popularmente como

Sibipiruna (figura 6). “Na administração do prefeito Demeral da Fonseca Nevoeiro Júnior, durante as décadas de 77 a 82, ocorreu a implantação da Sibipiruna por quase toda a cidade” (SOUZA, 1998. p. 13), a autora ainda complementa que após alguns anos após o plantio, começaram a causar danos às calçadas e à algumas residências.

Figura 5: Flamboyant (Delonix regia (Hook.) Raf.)

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Figura 6: Sibipiruna (Caesalpinia pluviosavar peltophoroides (Benth.) G.P. Lewis)

Fonte: Fotos Públicas

Rio Claro, como a maior parte das cidades do Estado de São Paulo, executou o plantio de mudas dessa espécie em grande parte de suas ruas e avenidas. Com o passar dos anos, as Sibipirunas mostraram ser inadequadas às nossas configurações de ruas, avenidas e equipamentos públicos; tratava-se, portanto, de espécie vegetal de porte grande, folhas caducas, suscetíveis a pragas, cuja relação custo/benefício mostrou-se negativada.

Outro espaço público que merece destaque é o canteiro central da Avenida 40 que tinha em passado recente árvores da espécie Chorisia speciosa conhecida como Paineira (figura 7). Com sistema radicular agressivo

e canteiros centrais demasiadamente estreitos foram, gradativamente, substituídas por Ipês rosa (Tabebuia pentaphylla) (figura 8) durante as

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Figura 7: Paineira (Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna )

Fonte: Fotona tural

Figura 8: Ipê- rosa (Tabebuia heterophylla (DC.) Britton)

Fonte: Flickr

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1. Murraya paniculata (L.) Jack (Murta),

2. Lagerstroemia indica (Escumilha),

3. Lagerstroemia speciosa (Resedá),

4. Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos (Ipê

Amarelo),

5. Tabebuia roseo alba (Ridl.) Sandwith(Ipê branco),

6. Tecoma stans (Ipê da Jardim),

7. Callistemon sp (Escova de Garrafa),

8. Bauhinia sp (Pata-de-vaca)

9. Grevillea banksii (Grevilha de Jardim).

(informação verbal)1

___________________________

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Figura 9: Espécies arbóreas comumente usadas na arborização de vias públicas.

Murta Escumilha Resedá

Fonte: Forestry Imagens Fonte: Lambley Nursery Fonte: 4shared

Ipê Amarelo Ipê branco Ipê de Jardim

Fonte: Registros de Viagens Fonte: Flickr Fonte: Pinterest

Escova de Garrafa Pata-de-vaca Grevilha de Jardim

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3.3 A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A ARBORIZAÇÃO URBANA

A Educação Ambiental conforme a perspectiva que adotamos nesse trabalho em uma preocupação política tende a conjugar-se com o pensamento da complexidade que, observado em Layrargues e Lima (2014, p.33), ocorre ao “perceber que as questões contemporâneas, como é o caso da questão ambiental, não encontram respostas em soluções reducionistas”.

Para Layrargues (2004 p. 21) ela serve para “promover a compreensão dos problemas socioambientais”, “contribuir para a transformação dos atuais padrões de uso e distribuição dos bens ambientais em direção a formas mais sustentáveis, justas e solidárias de vida e de relação com a natureza”. Possibilita “formar uma atitude ecológica dotada de sensibilidades estéticas, éticas e políticas sensíveis à identificação dos problemas e conflitos que afetam o ambiente em que vivemos” e, com isso, “rompe com a visão de uma educação tecnicista, difusora e repassadora de conhecimentos, convocando a educação a assumir a mediação na construção social de conhecimentos implicados na vida dos sujeitos”. (p. 20).

Desejamos aqui reforçar uma distinção importante com relação à perspectiva de educação ambiental adotada neste trabalho: trata-se da diferenças entre a educação ambiental crítica frente às perspectivas mais conservadoras.

A Educação Ambiental Crítica, ao mesmo tempo transformadora se contrapõe à Educação Conservadora, visto que a primeira visa que o sujeito tenha capacidade de entender, pensar com a própria cabeça. A EA Crítica Para Layrargues (2004, p. 25) é também transformadora porque é “capaz de contribuir com a transformação de uma realidade que, historicamente, se coloca em uma grave crise socioambiental”.

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cientificismo cartesiano e o antropocentrismo que informam a compreensão/ação sobre o mundo e que historicamente se constituiu hegemônica na sociedade moderna”, e apresentando as seguintes características:

[...]compreensão de mundo que tem dificuldades em pensar o junto, o conjunto, totalidade complexa. Focado na parte, vê o mundo partido, fragmentado, disjunto. Privilegiando uma dessas partes, o ser humano, sobre os demais, natureza, estabelece uma diferença hierarquizada que constrói a lógica da dominação. Pela prevalência da parte na compreensão e na ação sobre o mundo, desponta características da vida moderna que são individuais e sociais: sectarismo, individualismo, competição exacerbada, desigualdade e espoliação, solidão, violência. A violência sinaliza para a perda da afetividade, do amor, da capacidade de se relacionar do um com o outro (social), do um com o mundo (ambiental), denotado a crise socioambiental que é de um modelo de sociedade e seus paradigmas; uma crise civilizatória. (p. 26)

Layrargues (2004) nos revela que a EA Crítica vem sendo denominada por vertente transformadora da educação ambiental pela maior aproximação de educadores, principalmente os envolvidos com educação popular e instituições públicas de educação, tendo a finalidade de:

[...]revolucionar os indivíduos em suas subjetividades e práticas nas estruturas sociais-naturais existentes. Ou seja, estabelecer processos educativos que favoreçam a realização do movimento de constante construção do nosso ser na dinâmica da vida como um todo e de modo emancipado. Em termos concretos, isso significa atuar criticamente na superação das relações sociais vigentes, na conformação de uma ética que possa se afirmar como “ecológica” e na objetivação de um patamar societário que seja a expressão da ruptura com os padrões dominadores que caracterizam a contemporaneidade. (p. 73).

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comunidade não-escolar (para quem não teve contato com a EA quando estava na escola).

Concordamos com essa visão ampliada de educação, defendida por esse e outros autores. É ainda Layrargues (2004) quem ressalta:

[...] educação ambiental é uma perspectiva que se inscreve e se dinamiza na própria educação, formada nas relações estabelecidas entre as múltiplas tendências pedagógicas e do ambientalismo, que têm no “ambiente” e na “natureza” categorias centrais e identitárias. Neste posicionamento, a adjetivação “ambiental” se justifica tão somente à medida que serve para destacar dimensões “esquecidas” historicamente pelo fazer educativo, no que se refere ao entendimento da vida e da natureza, e para revelar ou denunciar as dicotomias da modernidade capitalista e do paradigma analítico-linear, não-dialético, que separa: atividade econômica, ou outra, da totalidade social; sociedade e natureza; mente e corpo; matéria e espírito, razão e emoção etc. (p. 66)

As disciplinas escolares geralmente são postas em aula como se existissem fora da realidade do aluno. No dia 21 de Setembro se comemora o dia da árvore e, muitas escolas promovem eventos em prol da conscientização sobre a importância da árvore em nossa vida. Entretanto, a comemoração de um evento em um dia do ano não é o suficiente para fazer os alunos se importarem realmente com o tema, além de não os fazer entender seu significado e importância, ou seja, trata-se de uma atividade pontual, presente para conforme indica Layrargues (2004):

[...], “esses projetos de educação ambiental, na maior parte, tendem a reproduzir práticas voltadas para a mudança comportamental do indivíduo, muita das vezes, descontextualizada da realidade socioambiental em que as escolas estão inseridas, permanecendo assim preso a “armadilha paradigmática”. (p. 32)

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e a todos os seres vivos”. (p. 78). O ideal seria que as atividades de EA se expandissem e fossem frequentes na vida das pessoas. Essas ações específicas, infelizmente, não trazem o entendimento correto sobre o assunto, pois são trabalhadas de maneira superficial e, concordamos com Carvalho (1999, p. 35) quanto “aos riscos presentes em posturas desse tipo e a relação que pode ser estabelecida entre estas posturas e os ‘modismos pedagógicos’’.

O autor propõe um caminho para tratar a questão ambiental considerando três dimensões possíveis, que entendemos e devem ser consideradas em se tratando do tema da arborização urbana:

Uma primeira dimensão relacionada com a natureza dos conhecimentos a serem trabalhados; uma segunda dimensão relacionada com valores éticos e estéticos envolvendo a questão da natureza; e, por fim, um conjunto de objetivos relacionados com a dimensão política, no sentido de preparar o indivíduo para ações concretas na busca de soluções para os problemas ambientais. (p.36)

Este autor relaciona estas dimensões à um projeto de educação ambiental crítica, explicitando que na primeira dimensão o trabalho com os conhecimentos se vincula aos componentes e processos da natureza e à compreensão das complexas interações estabelecidas entre o homem e a

VALORES ÉTICOS E ESTÉTICOS

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natureza, englobando todos os de seres vivos e com os fatores abióticos do ecossistema, indo além da abordagem unicamente descritiva e classificatória dos elementos naturais.

A segunda corresponde à tentativa de compreender e buscar novos padrões coletivos de relação sociedade-natureza, o que envolveria lidarmos com os valores éticos e estéticos.

E a terceira dimensão está atrelada ao desenvolvimento da capacidade de participação política do indivíduo rumo à construção da cidadania e da democracia, salientando que é importante “o envolvimento e a participação coletiva dos indivíduos na busca de soluções para diversos problemas ambientais com os quais nos deparamos”.

Carvalho (1999) destaca a necessidade de articularmos essas três dimensões entre si, ressaltando que educação ambiental deve ser uma prática intencionalizada e coerente com o nível da ação, sob o risco de não passar de uma “aventura” inconseqüente.

Reforçamos que não aspiramos a uma educação ambiental que visa ou traga um condicionamento reducionista. Desejamos uma consciência política formada por indivíduos imbuídos de novos valores frente à natureza e que tenham conhecimento da importância da arborização urbana e, a partir daí, saibam agir. Essa perspectiva encontramos exposta em Carvalho (2008):

Muitas vezes, as atividades de EA ensinam o que fazer e como fazer certo, transmitindo uma série de procedimentos ambientalmente corretos. Mas isso nem sempre garante a formação de uma atitude ecológica, isto é, de um sistema de valores sobre como relacionar-se com o ambiente, sistema que será internalizado como uma visão de mundo orientadora dos posicionamentos do sujeito na escola e em outros espaços e circunstâncias da vida (p.180)

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questões envolvendo áreas verdes sem deixar de lado a importância da natureza na sua cidade, além de poderem promover eventos em prol do meio ambiente como cidadãos ativos dentro das políticas do seu município. É de suma importância a participação dos munícipes em projeto de arborização urbana, pois, como ressalta Silva (2005, p. 34) “além da mudança de mentalidade sobre arborização de ruas, eles podem opinar sobre a proposta da escolha da árvore em frente à sua casa e cobrar dos órgãos públicos maiores eficiência”. Se houvesse um trabalho em EA voltado a esse assunto, envolvendo as três dimensões de carvalho (1999) explicitadas anteriormente, seria mais efetivo a participação e esclarecimento da comunidade diante do assunto.

Sabemos que a percepção da arborização urbana pela população humana tem sido relegada a um plano secundário pelos administradores e técnicos responsáveis (MALAVASI & MALAVASI, 2001). Oliveira (1996) indica que os parâmetros utilizados para a avaliação da arborização urbana baseiam-se geralmente na observação e mensuração de variáveis biológicas, embora tenha sido já admitido que fatores sentimentais, psicológicos e estéticos são importantes. No trecho a seguir de Maroti (2005, apud ROPPA et al, 2007),podemos perceber o quanto a dimensão valorativa, um dos elementos da EA crítica, é importante para ser trabalhada neste tema, e entendemos as barreiras desse processo que faz parte da percepção ambiental.

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3.3.1. Urbanização e arborização urbana

Em 1990, 75% da população brasileira já viviam em cidades, mas os desequilíbrios ambientais em áreas urbanas têm recebido proporcionalmente pouca atenção dos governantes ou da opinião pública. (RIBEIRO, 1992).

Em muitos trabalhos acadêmicos sobre a arborização urbana relevam-se relevam-seus benefícios aos munícipes, como podemos obrelevam-servar em Furtado e Mello Filho (1999 APUD GENGO e HENKES, 2013)

As árvores interceptam, refletem, absorvem e transmitem a radiação solar. Uma adequada arborização e uma boa ventilação constituem dois elementos fundamentais para a obtenção do conforto térmico para o clima tropical úmido. O conjunto arbóreo colocado a uma distância mais apropriada possível da edificação fornecerá um bom sombreamento nas fachadas, compondo um entorno mais favorável (p. 63)

Outros autores destacam que as espécies devem ter porte apropriado para que não haja necessidades de poda ou corte gerando custos para a Prefeitura

Andrade (2002) ainda aponta a necessidade de modificação das espécies arbóreas para se adequarem ao espaço urbano, do melhoramento genético das árvores. Já que o crescimento acelerado das cidades dificulta a seleção de espécies que atendam às características do meio e que tolerem tantas adversidades.

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que nos indica, dentro de uma perspectiva comentada por Grun (1996, APUD BONOTTO 201-?)

O problema que estamos enfrentando aqui é que a autonomia é vista como um ideal. Sendo ela um dos principais pressupostos que formam a base conceitual do currículo, as tentativas de compreensão da crise ambiental tornam-se muito difíceis ou até mesmo impossíveis (...) A autonomia da razão pode ser considerada como uma das principais causas a engendrar o antropocentrismo. Em uma postura antropocêntrica o Homem é considerado o centro de tudo e todas as demais coisas no universo existem única e exclusivamente em função dele. O antropocentrismo é um mito de extrema importância para a manutenção da crise ecológica. (p. 34)

Paralelamente a essa questão, Henrique (2009) nos lembra a influência do capitalismo que atravessa nosso olhar perante a natureza:

A natureza, material e simbolicamente, incorpora-se à esfera de um mundo capitalista, de uma racionalidade instrumental e da criação de um conjunto de necessidades que parecem ser naturais ao homem, mas que se constituem apenas em mais possibilidades de consumo (p.115 )

Enfim, esta ética antropocêntrica, que encontramos na modernidade nem sempre existiu. No passado a natureza se apresentava a nós com diferentes simbolismos (conforme já indicamos anteriormente na seção 3.1), principalmente dentro da visão dualista do bem ou do mal, ou mesmo cheia de mistérios. Mas esta visão foi cedendo lugar à dominante, de cunho capitalista.

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ensinado para nos envolvermos com essa ideia, o ato de “sentir” a vida dos demais seres vivos, no que se refere à valorizarmos e respeitarmos essas outra formas de vida.

Assim, vários autores defendem o plantio de árvores adequadas no espaço urbano para que as mesmas não causem a destruição dos equipamentos públicos como calçadas, rede elétrica, imóveis etc. Isto não está errado, entretanto, podemos considerar que temos claramente a capacidade de adequar o espaço urbano a qualquer espécie arbórea, desde arbustos até as de porte grande que excedem 30m de altura. Da mesma maneira que as ruas são calculadas, planejadas para a passagem de veículos, as cidades podem ser planejadas para se obter, além de uma boa arborização, áreas verdes mais amplas para lazer e convivência com outros animais e, como consequência, beleza estética.

Largura e comprimento das ruas estão totalmente em harmonia para, por exemplo, um ônibus virar uma esquina e não bater em um carro estacionado. Distribuição das placas, altura e localização da rede elétrica também estão adequados para que não sejam destruídos pelos veículos, mas elas não são pensadas para respeitar as árvores e seu crescimento. Isso prova o quanto a natureza está ausente em nossas preocupações diárias. Não é destinado espaço para a arborização planejada, para o plantio de uma muda e crescimento até sua fase adulta sem que cause danos aos equipamentos urbanos (canalização, rede elétrica, placas, ruas, calçadas, imóveis). Além disso, mesmo com planejamento sem a inclusão dos elementos da natureza, a rapidez do crescimento de uma cidade não propicia resultados satisfatórios, caso contrário não encontraríamos enchentes em épocas de chuvas, congestionamentos no trânsito e desmoronamentos de edifícios por causa de problemas com o solo, por exemplo.

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representação social de seus habitantes, estruturando um espaço urbano, em que as árvores traduzem uma representação social de “cidade ecológica” e o seu traçado urbanístico simboliza a modernidade (SILVA, 2006).

“Projetada por Jorge de Macedo Vieira, engenheiro da Companhia City de São Paulo”(SILVA, 2006, p. 71), o projeto urbanístico, pensando-se numa

interação entre cidade e natureza, foi inspirado no modelo de cidade-Jardim de Ebenezer Howard, estabelecida pela Companhia Melhoramento Norte do Paraná (CMNP), dentro de um projeto de expansão do oeste brasileiro.

Os gestores públicos de Maringá elegeram a árvore como o signo da cidade. Esta se transformou na representação social da “cidade verde”, “cidade ecológica”. Este é um exemplo de Planejamento Urbanístico que desejamos a todas as cidades brasileiras, o qual integra espaço transformado pelo homem e os demais elementos da natureza, ambos ocupando, dividindo e se relacionando num mesmo ambiente (ver figuras 10 e 11).

Fonte: Gazeta do Povo

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Figura 11: Foto aérea panorâmica de Maringá- PR

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO GERAL

4.1 Respostas das entrevistas

Foi possível termos acesso e entrevistar 07 munícipes de Rio Claro, moradores do bairro Arco Éris e Floridiana, (bairros menos arborizados), 07 do bairro Vila Paulista (mais arborizado) e 06 solicitantes de corte para a Prefeitura, vale indicar que todos eles assinaram e receberam cópia do Termo de Consentimento livre e esclarecido –TCLE (ANEXO C) exigido pelo Comitê de Ética em pesquisa o qual deu parecer a essa pesquisa. Para preservar a identidade, cada munícipe será identificado nesse trabalho com números romanos. Assim, apresentaremos os dados envolvendo munícipes I a XX, conforme a distribuição que se segue:

a) Bairro menos arborizado (Arco Éris e Floridiana) I a VII (7 entrevistados);

b) Bairro mais arborizado (Vila Paulista) VIII a XIV (7 entrevistados);

c) Solicitante de corte XV a XX (6 entrevistados);

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Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio Claro

Fonte: Arquivo Público Histórico de Rio Claro

Lago Azul

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Apresentaremos e discutiremos a seguir os resultados a partir de cada questão apresentada ao longo da entrevista.

Pergunta 1- O local onde você mora com relação às árvores: como é? Você gosta dele?

No geral, quando comentam sobre o que gostam do bairro, a maioria dos entrevistados cita a relação de amizade, a proximidade com o comércio, e a tranquilidade. Assim, percebe-se que a pouca movimentação/barulho, e o convívio prazeroso com outros moradores são essenciais para determinar se o morador gosta do bairro ou não.

Arco Íris e Floridiana

Quanto à quantidade de árvores nesses locais, 3 munícipes disseram que o bairro possui poucas árvores, 2 que tem bastante e 2 que tem o suficiente. O morador que declarou não gostar do bairro, único dono de comércio entrevistado, declara não achar o bairro tranquilo. Isso indica que o relacionamento entre as pessoas, afetividade e conduta dos vizinhos são determinantes para o munícipe se sentir num local agradável; as árvores não parecem merecer destaque quanto á relação afetiva positiva com o bairro. Apenas um comentou gostar da praça, mas provavelmente por esta ser o local de um ponto de encontro com os amigos. É o que se observa nos excertos a seguir:

I-“O ambiente aqui é de empresários, no caso somos nós. O ambiente é bem agradável”.

Quando questiono sobre o que tem no bairro que mais gosta responde “Amizade”.

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III- “É bem tranquilo aqui”. “Tem bastante coisa perto: mercado, padaria, escola”.

IV- “É um lugar calmo para morar”.

V- “Ah, gosto. Gosto que vem bastante gente e “a gente” conhece”. VI- “Dos amigos, da praça, da escola. Aqui é bom, tem mercado perto, comércio”.

VII- [Único morador diz não gostar do próprio bairro]. “A bandidagem aqui é ‘feia’”.

Vila Paulista

Quanto a esse bairro, 4 munícipes declararam que ele possui poucas árvores, 1 indica que as árvores estão em quantidade suficiente e 2 que há bastante, por se situar perto do horto. Aqui três munícipes consideraram a presença de árvores, ou da área verde próxima ao bairro, - o horto- como fator determinante para gostarem ou não do bairro. Pela umidade e ar puro que proporcionam, e pela vida agradável e de qualidade que usufruem. Aqui também surgem comentários sobre a tranquilidade do bairro como aspecto importante. É o que denotam os excertos que se seguem:

VIII- “Eu gosto, mas não tem o número suficiente de árvores. É um bairro sossegado ainda, a relação com as pessoas ainda é do modo antigo, conheço quase todo mundo que mora aqui, são as pessoas antigas que moram aqui, os filhos delas, a família inteira mora aqui.”

IX- “Antigamente era mais sossegado, porque gosto do sossego. Agora, ultimamente, anda meio agitadinho. Eu gosto do bairro por causa do sossego mesmo”.

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o horto está aqui embaixo. Eu vou caminhar lá e é uma delícia, tem um ar até mais úmido e me lembro um pouco de onde eu vim. Lá é mais úmido, mais puro, mais gostoso. A gente se sente mais saudável do que aqui”.

XI- “Por que as pessoas são boas, não brigam com as outras. È um lugar bom de morar”.

XII- “Por que o ar é mais puro, mais fresco, não tem muita movimentação. Aqui é uma área para lazer mesmo. Não tem muito tráfego de caminhão, ônibus, carro não é constante. Tem as árvores aqui atrás do horto e ajuda”.

XIII- “Tem bastante árvore e eu gosto sim”.

XIV- “Eu gosto do local”.

Solicitantes de corte para a Prefeitura

Dos 6 solicitantes de corte de árvores, a munícipe do bairro Vila Alemã disse que em seu bairro as árvores são diversificadas e má distribuídas, sendo que em frente de sua casa há muitas árvores, enquanto que no restante do bairro têm pouquíssimas.

Os solicitantes do bairro Mãe Preta e do bairro Bela Vista consideram que há muitas árvores, já os munícipes dos bairros Wenzel e Arco Éris disseram haver poucas.

Outra solicitante de corte, moradora do bairro Bela Vista, comentou que antigamente havia mais árvores: “andaram cortando as árvores”.

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XV- “As opções diferentes de comércio. A Vila Alemã é conhecida como um bairro de moradores antigos, então existe uma tranquilidade no que diz respeito e as pessoas se conhecem”.

XVI- “Gosto, porque as edificações não são grandes, não tem sobrado. Tem um pouco mais de liberdade. Ao mesmo tempo deveria ter um pouco mais de cuidado na segurança. O que gosto mais é a liberdade de olhar para cima e não ver prédios”.

XVII- “O bairro é muito bom, principalmente para as crianças, podem ficar na rua até a noite sem perigo. Tem acesso a tudo, a bancos. Esse bairro tem até subprefeitura, como se fosse uma cidade dentro de Rio Claro. Tem lojas, tem mercados grandes. Tudo o que quiser procurar tem lá mesmo”.

XVIII- “Tem bastante coisa perto, supermercado, farmácia. Bem acessível”.

XIX- “Silêncio, não tem movimentação na rua, e de poder ir ao horto [FEENA] a pé. Antes eu tinha que atravessar a cidade de carro para poder desfrutar da floresta. Botava o cachorro no carro para passear com ele no horto, agora não preciso mais”.

XX- “Gosto da proximidade com o horto, o sol nasce aqui, a qualidade do ar, a proximidade do campus da UNESP. Quando cheguei aqui em Rio Claro nas primeiras semanas, fui fazer o reconhecimento do bairro, aqui no Bela Vista. Andei no bairro, fui conhecer a UNESP, ia ao horto sozinha. Naquela época não acontecia muitas barbáries. Era tranquilo, eu ia sozinha e gostava de andar”.

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uma boa quantidade de árvores, tanto que um dos entrevistados afirmou que se mudou para o bairro menos urbanizado (Mãe Preta) indicando: “gosto mais é a liberdade de olhar para cima e não ver prédios”. Outro se mudou para um bairro perto da floresta (Bela Vista), “antes eu tinha que atravessar a cidade de carro para poder desfrutar da floresta”.

Dessa forma, verificamos uma tendência de quem mora nesses bairros terem escolhido o local justamente por apreciar mais a natureza. Podemos considerar que essas opiniões estão de acordo com a realidade de cada bairro, inclusive sobre a distribuição das espécies dentro de todo espaço urbano, devido à falta de planejamento (ANEXO D)

Pergunta 2- Em sua infância, como era(m) o(s) local (is) em que você morou?

Arco Íris e Floridiana

Apenas um munícipe apresentou ligação da infância com a presença de árvores, mas ao mesmo tempo, ao dizer sobre o que mais gostava do bairro, deu uma das respostas que percebemos ser mais comuns, a de não ter violência, presente na fala de todos os entrevistados, de modo explícito ou não. Um deles relacionou as árvores com os familiares os quais as plantaram: “tem uma na frente da casa da minha avó, que meu avô plantou; tem uma na frente da loja do meu tio, que ele teve que tirar”. Mas ao falar sobre o bairro, o que mais gostava era da proximidade com lojas e banco. Um munícipe que vivenciou sua infância em sítio, gostava da falta de preocupação, de não se preocupar com contas a pagar.

I- [em sua infância], “gostava de chupar manga e pinha”. “Antigamente era [mais arborizado], mas hoje está tudo acabado. Gostava era liberdade de poder se divertir sem violência bem presente atualmente”.

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coisa para fazer. Eu gosto daqui, porque já faz um tempo e fiz amizades, mas a terra natal é sempre mais querida”.

III- “Bem agitado [o bairro que mora atualmente]. E sobre árvores acho que é mais ou menos assim nas ruas. Tem uma na frente da casa da minha avó, que meu avô plantou; tem uma na frente da loja do meu tio, que ele teve que tirar”.

[E quando pergunto sobre o que mais gostava no bairro] “bastante loja, banco....”.

IV- [Morou em São Paulo e em Santo Amaro, não tinha árvores e não gostava do local] “por causa da violência”.

V- [Morou sempre no mesmo bairro].

VI- [Gostou de morar mais no bairro da infância num sítio em Assistência]. “Era criança. Não tinha preocupação com nada, era só estudar, ajudar meu pai no sitio. Lá era bom de morar” [...]“ Não tem compromisso, a gente plantava, comia. Não tinha compromisso de pagar água, luz, isso e aquilo”.

VII- [Na infância, morou no bairro Cidade Nova, que diz gostar por que o ambiente não é pesado e diz ser menos arborizado que o atual] “Sou nascido lá, então o ambiente, o povo é diferente daqui. Aqui já é mais bandidagem. Lá eu saia de casa e deixava a casa aberta e voltava. Aqui nem trancado, não posso sair.

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Vila Paulista

Os entrevistados deste bairro formam o grupo que mais se identificou com a arborização urbana. A maioria indicou gostar do bairro por este possuir área verde e árvores na calçada. Apenas uma moradora manifestou desinteresse e desprazer por esse aspecto. Cabe salientar que o tempo médio das entrevistas nesse grupo foi maior do que o tempo das entrevistas feitas no Arco Éris/Floridiana (bairros menos arborizado), pelo fato de o grupo da Vila Paulista narrar mais experiências com o meio natural. Seguem alguns excertos das respostas dadas pelos entrevistados:

VIII- “Era bem arborizado, por que era no horto florestal em Camacuã. Meu pai era funcionário. O Bom daqui, da Vila Paulista, é que é próximo Horto, temos as árvores bem próximas. Na rua não tanto, mas eu saio aqui e vejo a plantação de eucalipto todinha, que é bonita. Agora, comparar fica difícil. Eu lembro bastante com 06 anos, mas aqui também vemos isso. Não tenho preferência, gosto dos dois lugares”.

IX- “O lugar que eu morava era mais no centro, mas era um lugar bem sossegado também. Tinha bastante árvore. Eu não gosto se eu tiver que cuidar”.

X- “Eu vim de Minas há pouco tempo e lá era um lugar bem mais arborizado do que aqui. Então, eu sinto falta. Até porque sentimos com o ar, que é mais pesado. Tem muita praça”.

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XII- [Em Barra Bonita] “Lá tem bastante verde, bastante área boa para lazer”.

XIII- “Tem bastante árvores lá, era bem legal. É um lugar sossegado, não tem barulho de carro, do trânsito do dia-a-dia”.

XIV- [Sempre morou no Vila Paulista].

Solicitantes de corte para a Prefeitura

Nesse grupo, apenas um morador não relacionou sua infância com a natureza. É interessante ressaltar que, as duas entrevistadas desse grupo que moraram em São Paulo em sua infância, manifestaram gostar com mais intensidade da natureza do que muitos dos entrevistados que moraram sempre no interior. Isso pode nos fazer questionar o quanto que a historia de vida, no que se refere às experiências ocorridas na infância, implica ou não em maior ou menor ligação com a natureza. Muitos aspectos e fatores influenciam o estabelecimento dessa ligação, e não apenas as experiências da infância. Seguem-se trechos das entrevistas referentes a essa questão:

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XVI- “Era um tempo que podíamos fazer amizade com os vizinhos, era mais tranquilo. Brincávamos sobre a sombra de uma árvore. Sempre teve uma árvore em minha vida”.

XVII- “Eu podia brincar de rodar pião, de bolinha de gude, empinar pipa. Os brinquedos nós mesmos fabricávamos, tinha imaginação”.

XVIII- “Na fazenda. O lugar era natural, gostoso de viver. Gostava de brincar nas árvores, meu pai fazia balanço nos galhos, brincar nas sombras das árvores, balançar”.

XIX- “Morei numa chácara. Vivia em cima da árvore. Tinha goiabeira, jabuticabeira, caju, abacate. Então, todo ano tinha fruta e passávamos em cima das árvores. Muito gostoso”.

XX- “Infelizmente, não tive muito contato com a natureza, por que nasci em São Paulo no Cambuci. É um bairro com muita poluição, era bem próximo do centro. Eu morava próxima a Avenida Independência, onde passava muitos ônibus, carros e tive muitos problemas respiratórios na infância. Minha mãe teve que me levar muitas vezes no posto de saúde para fazer inalação. E minha mãe me levou a um pediatra, que recomendou a retirada das amigdalas... Graças a Deus as minhas não foram retiradas e na adolescência vim morar aqui nesse bairro e minhas crises de rinite e sinusite pararam. Com certeza por causa da qualidade do ar. Menos poluição. E não tenho mais esse tipo de problema”.

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de solicitar um serviço de corte de árvores para a Prefeitura? E, dessa forma, mais “espertas” diante da entrevista? Ou de fato, realmente tiveram mais experiências do que outros grupos?

De qualquer forma é uma análise importante, visto que os solicitantes de corte são considerados “pessoas más” que não gostam de árvores.

Pergunta 3- Você algum dia já plantou uma árvore e/ou outro tipo de planta? Se sim, conte como foi essa experiência

Arco Íris e Floridiana

Apenas uma pessoa não se lembrou de ter plantado alguma árvore. No entanto, alguns entrevistados, embora tenham respondido afirmativamente, ao longo da entrevista revelaram que, na verdade, o plantio foi idealizado por outra pessoa/instituição que o convidara a ajudar no plantio. Sendo assim, não houve de fato uma decisão do entrevistado em plantar uma muda de árvore.

I- [Plantou diversas árvores como Ipê Amarelo, Ipê Roxo em áreas urbanas como ruas e calçadas]. “Na verdade, o pessoal da firma onde eu trabalhava falou “Vamos lá plantar”. Abrimos uma cova e está até hoje”.

II- “Não”.

III- “Sim, muitas. Na escola Agrícola, na ciclovia. Plantamos em volta. Não deu muito certo, porque estragaram, não cuidaram”.

Questionada se a escola não comentou sobre o cuidado que deveriam ter pós o plantio, respondeu que não e complementou dizendo que depois do plantio ninguém foi no local.

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A entrevistada se lembrou que plantou umas sementinhas quando a questionei se não havia plantado na época de escola, mas tem pouca lembrança.

V- “Teve uma vez que veio um pessoal de uma ONG e eles plantaram todas essas árvores e eu ajudei a plantar as árvores lá de baixo, do campinho. Foi bem legal o dia, gostoso. Todo mundo participando, é uma coisa que faz bem, coisa da natureza. Não faz bem só para nós, mas para os pássaros, para todos os seres vivos”.

Aqui podemos ressaltar a importância do papel da escola na realização de atividades voltadas à educação ambiental. Mesmo um único dia de plantio, pode ficar marcado na memória de algumas pessoas. No entanto, como discutimos no inicio desse trabalho, se as atividades fossem menos pontuais e apresentassem um sólido programa de educação ambiental, poderiam contribuir muito mais e trazer maiores efeitos benéficos em termos de valorização das pessoas em relação aos seres vegetais. Seguem outras respostas à essa mesma pergunta:

VI- “Já, [Plantou] as duas que tinham na frente [de sua casa]. “Os meus amigos vinham aqui, “a gente” sentava embaixo dela e passava o tempo lá. Meu pai trouxe essa muda e plantamos e depois um caminhão a derrubou. A outra um amigo trouxe o pé” (acerola).

Quando perguntei se não tinha mais vontade de plantar outra árvore no local respondeu que não, por que na sua casa já tem o suficiente. “Se todo mundo plantasse em cada casa seria bem melhor”

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No caso dos dois últimos entrevistados, o plantio foi realizado junto com um familiar. O primeiro plantou em conjunto ao pai e, posteriormente plantou mais sozinho, o segundo apenas plantou em conjunto como tio e não plantou mais, nem sozinho ou com outra pessoa.

Vila Paulista

Aqui se destacam alguns munícipes, ao expressarem a ideia que ‘cada um tem que fazer sua parte’. Por outro lado, chama nossa atenção a moradora IX, por afirmar não gostar de árvores, dizendo que não plantaria nem cuidaria de nenhuma, mas que, se a prefeitura plantasse e cuidasse, poderia haver mais árvores no espaço público. Ela considera a possibilidade do poder público manter a arborização, mas coloca nele toda a responsabilidade por esse trabalho.

Neste grupo, notamos 4 pessoas que plantaram alguma árvore por decisão própria; por incentivo vindo da escola foram 2 e no exercício de seu trabalho 1. É o que se observa nos trechos a seguir:

VIII- “Plantamos, meu marido na verdade, aqui na frente de casa, na calçada. E aqui dentro tem árvore, têm frutíferas. E tem mais flores aqui, tem primavera, o abacateiro, os coqueirinhos. Foi meu marido que plantou, ele que deveria responder, por que é que gosta”.

Referências

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