UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CENTRO DE AQÜICULTURA
CAUNESP
CRESCIMENTO DA MACRÓFITA AQUÁTICA
FLUTUANTE
Salvinia molesta
EM VIVEIROS DE
AQÜICULTURA COM DISTINTOS ESTADOS
TRÓFICOS.
RAQUEL EDUARDA TREVISAN PISTORI
Jaboticabal – São Paulo
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CENTRO DE AQÜICULTURA
CAUNESP
CRESCIMENTO DA MACRÓFITA AQUÁTICA
FLUTUANTE
Salvinia molesta
EM VIVEIROS DE
AQUICULTURA COM DISTINTOS ESTADOS TRÓFICOS
RAQUEL EDUARDA TREVISAN PISTORI
ORIENTADOR: Prof. Dr. ANTONIO FERNANDO MONTEIRO CAMARGO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Aqüicultura, Área de Concentração em Aqüicultura em Águas Continentais, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre.
Jaboticabal – São Paulo
S U M Á R I O
Lista de Figuras... i
Lista de Tabelas... ii
Resumo... iii
Abstract... iiii
1. Introdução... 01
2. Material e Método... 03
2.1Área de Estudo... 03
2.2Variáveis Físicas e Químicas... 05
2.3Índice de Estado Trófico (IET)... 05
2.4Coeficiente de Crescimento (rm) e Capacidade de Suporte (K)... 06
2.5Composição Química da Biomassa Vegetal e Estoque de N e P... 09
2.6Análise Estatística... 09
3. Resultados... 10
3.1Características Químicas e Físicas das Águas das Represas... 11
3.2 Índice de Estado Trófico (IET)... 14
3.3Curvas de Crescimento... 15
3.4Composição Química da Biomassa Total de S. molesta e Estoque de N e P.... 17
4. Discussão... 18
5. Conclusões... 23
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Cercados com Salvinia molesta na Represa 1 em Outubro de 2003... 07
Figura 2: Cercados com Salvinia molesta em Outubro de 2003. Em primeiro plano
cercado com tela e em segundo plano cercado sem tela...07
Figura 3: Valores das concentrações de nitrogênio orgânico total (mg/L) e fósforo total (µg/L) na água da represa 1 (R_1) e represa 2 (R_2)... 12
Figura 4: Ordenação pela Análise de Componentes Principais (ACP) dos meses de coleta na represa 1 (indicados pelo número 1) e represa 2 (indicados pelo número 2), com base nas variáveis limnológicas analisadas. Os dois componentes explicam 72,8 % da variação observada... 14
Figura 5: Dispersão dos valores de peso seco (g) e peso fresco (g) de Salvinia molesta. PS
= 0,40457 + 0,01725 * PF, r = 0,97679, n = 20...16
Figura 6: Curvas de crescimento de S. molesta nos diferentes tratamentos A = represa 1
com tela, B = represa 1 sem tela, C = represa 2 com tela, D = represa 2 sem tela, K = capacidade de suporte, rm = coeficiente de crescimento intrínseco. Os
gráficos apresentam escalas distintas... 16
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 : Dados morfométricos e batimétricos das represas estudadas (R1) e (R2), onde, V = volume; A = área superficial; P = perímetro; Zm = profundidade máxima; Z = profundidade média, Zr = profundidade relativa; Ce = comprimento máximo efetivo; L = largura máxima efetiva; DL = índice de desenvolvimento de
margem; Dv = índice de desenvolvimento de volume... 04
Tabela 2 : Índice de Estado Trófico (IET), baseado na concentração de fósforo total ( g.L
-1)... 05
Tabela 3: Valores mensais das variáveis físicas e químicas de superfície da água da represa 1 (R1) e represa 2 (R2), contendo Salviniamolesta... 11
Tabela 4: Correlação das variáveis limnológicas das represas com os componentes I e II da Análise de Componentes Principais (ACP)... 13
Tabela 5: Índice de Estado Trófico (IET g L-1) mensal em ambas as represas... 15
Tabela 6: Valores médios e desvios padrão da porcentagem de nitrogênio total e fósforo total, na biomassa de S. molesta... 17
Tabela 7: Valores médios e desvios padrão do estoque de nitrogênio e fósforo totais (mg. m -2) no início e final do experimento em cada tratamento... 18
Tabela 8: Densidade (K - g PS/m2), tempo de duplicação (TD - dias), local (C = campo e L = laboratório), concentrações de N e P totais e P-PO4 para a macrófita aquática do gênero Salvinia... 21
CRESCIMENTO DA MACRÓFITA AQUÁTICA FLUTUANTE Salvinia
molesta EM VIVEIROS DE AQÜICULTURA COM DISTINTOS ESTADOS
TRÓFICOS.
RESUMO
Salvinia molesta é uma espécie de macrófita aquática flutuante livre que tem
habilidade para colonizar rapidamente muitos ambientes aquáticos com características físicas e químicas distintas. Efluentes das atividades de aqüicultura podem proporcionar a eutrofização dos ambientes aquáticos, favorecendo o desenvolvimento indesejado de algumas macrófitas aquáticas, especialmente do tipo ecológico flutuante livre. No Centro
de Aqüicultura da UNESP - Jaboticabal a espécie S. molesta é encontrada em abundância
em várias represas.
Neste contexto, os objetivos principais deste trabalho foram avaliar os coeficientes de crescimento e da composição química da biomassa de S. molesta crescendo em duas
represas do CAUNESP. Represa 1 (R1) que não recebe descarga de efluentes de aqüicultura e represa 2 (R2) submetida a descarga de efluentes dos setores de nutrição, piscicultura e ranicultura.
O estudo foi desenvolvido entre os meses de julho de 2003 a março de 2004. Em
cada represa foram colocados oito cercados de 1 m2 cada contento rametes de S. molesta,
Quatro possuíram tela plástica vazada com abertura de poro de 3 x 4 mm na parte inferior e os outros quatro não contiveram proteção para verificar possíveis interferências de herbivoria por animais aquáticos nos coeficientes de crescimento.
Os coeficientes de crescimento em R1 (0,026 dia-1) foram inferiores ao de R2 (0,731 dia-1). A herbivoria e o diferente grau de trofia dos ambientes (R1 meso-eutrófica e R2 hiper-eutrófica) foram fatores que exerceram forte influência nos coeficientes de crescimento.
Os resultados permitiram concluir que os lançamentos de efluentes de aqüicultura
promoveram a eutrofização e conseqüentemente aumento do crescimento de S. molesta.
Palavras Chaves: Salvinia molesta, aqüicultura, eutrofização, crescimento.
GROWTH OF FLOATING AQUATIC MACROPHYTE Salvinia molesta IN AQUACULTURE RESERVOIRS WITH DIFFERENT TROPHIC LEVELS
ABSTRACT
Salvinia molesta is a free-floating aquatic macrophyte, which colonize many
aquatic environments with distinct physical and chemical characteristics. In this context, effluents from aquaculture activities may contribute to eutrofication of aquatic environments enabling the undesirable development of some aquatic macrophytes, specially the ecological type of free floating. In the Aquaculture Center of UNESP
(CAUNESP) – Jaboticabal City, São Paulo State, Brazil, the S. molesta is easily found in
many reservoirs.
The main aim of this research is to study the growth rates and the chemical composition of S. molesta breeding in two reservoirs in CAUNESP. The first one (R1)
does not receive any aquaculture effluents, whereas the second (R2) receive effluents from fish, frog and shrimp breeding tanks. This study was developed from July 2003 to March 2004. Eight square structures of 1 m2 each were set up in each reservoir; four of each had plastic sieves with 3 x 4 mm openings covering inferior part. The other four structures did not have any protection in order to allow fish interference concerning the growth rates. The growth rates in R1 (0,026 day –1)were lower than the values of R2 (0,731 day –1). The fish herbivory and the different trofic levels in the reservoirs (R1 meso-eutrophic and R2 hypereutrophic) were factors that strongly influenced the growth rates.
According to the results, we conclude that aquaculture effluents cause eutrofication and, consequently increase the growth of S. molesta.
Key words: Salvinia molesta, aquaculture, eutrification, growth.
1
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a aqüicultura mundial tem se expandido e sua produção aumentada. Esta expansão está associada à produção de biomassa de organismos aquáticos e ao aumento de nutrientes no ambiente, por meio da utilização de rações, fertilizantes, subprodutos da agroindústria, excretas de animais, entre outras práticas utilizadas. Entretanto, o manejo inadequado da produção pode causar mudanças nas características químicas e físicas do ambiente aquático (Boyd & Queiroz, 1997).
Algumas rações empregadas nos sistemas de criações podem apresentar elevados teores de proteínas e nutrientes, sendo apenas uma fração dos alimentos disponíveis digeridas pelos organismos (Vinatea, 1997). Esses alimentos não consumidos são convertidos em sólidos orgânicos em suspensão, dióxido de carbono, amônia, fosfatos e outros compostos (Mires, 1995) que, associados às excretas e às fezes, proporcionam o incremento da carga de matéria orgânica e inorgânica nos ecossistemas aquáticos (Macintosh & Phillips, 1992; Beardmore et al., 1997).
No Brasil e na maioria dos países em desenvolvimento grande parte dos efluentes domésticos, industriais e de aqüicultura são lançados sem tratamento prévio nos cursos d’água. Esses aportes de matéria orgânica e poluentes têm gerado preocupação crescente com o elevado nível de poluição e eutrofização dos ambientes aquáticos (Tundisi, 2003). Em longo prazo, a eutrofização pode inviabilizar o ecossistema receptor, tanto do ponto de vista ecológico como social (Esteves, 1998).
O aumento da concentração de nitrogênio e fósforo é a principal causa da eutrofização no ambiente de água doce. Como conseqüência promove-se a floração de cianobactérias, redução de oxigênio dissolvido, crescimento elevado de fitoplâncton, morte de organismos aquáticos, diminuição da produção aqüícola, aumento na incidência de plantas aquáticas no ambiente e aumento no custo de tratamento dos efluentes (Margalef, 1983; Wetzel, 1983; Esteves, 1998; Thomaz & Bini, 1999; Baccarin, 2002; Henry-Silva, 2000; Tundisi, 2003).
2 1990; Greenway, 1997, Brix, 1997). Eichhornia crassipes, por exemplo, pode dobrar de
peso em 12 dias e alcançar produtividade de 150 t ha-1 ano-1 (Westlake, 1963), e Salvinia molesta pode apresentar uma produtividade de até 110 t ha-1 ano-1 (Mitchell & Tur, 1975).
A produtividade elevada das plantas aquáticas pode estar relacionada a vários fatores, sendo que os principais são: a espécie, o tipo ecológico, processos ecológicos (especialmente competição e predação) e as características abióticas, como, temperatura, radiação fotossinteticamente ativa, transparência da água, velocidade de corrente, tipo de
substrato e concentrações de nutrientes (Camargo et al., 2003). Os métodos tradicionais de
controle da proliferação das macrófitas aquáticas (químicos, mecânicos e biológicos) muitas vezes apresentam baixa eficiência em virtude da ausência de estudos básicos sobre a ecologia das espécies (Thomaz & Bini, 1999). Neste contexto a estimativa da taxa de crescimento e da produção primária das macrófitas aquáticas assim como o conhecimento da variação sazonal de seus fatores limitantes são importantes. Conhecendo-se a autoecologia de determinada espécie, pode-se manejar adequadamente o ambiente aquático, com o objetivo de controle, quando esta se torna indesejável (Camargo et al.,
2003).
Em vários locais alterados por atividades antrópicas, as espécies do gênero Salvinia
proliferam-se indesejadamente, causando prejuízos econômico e sanitário ao uso múltiplo do ecossistema aquático no que se refere à geração de energia elétrica, navegação, suprimento de água, usos recreativos, entre outros (Moozhil & Pallauf, 1986). Pode-se citar como exemplos de crescimentos indesejados, a proliferação desta espécie no lago Kariba,
situado no Zimbabwe (Mitchell, 1969) e o de Salvinia natans, em canais de drenagem na
Iugoslávia (Murphy et al., 1990).
No Brasil S. molesta é amplamente distribuída ocorrendo tanto em ecossistemas
aquáticos naturais como em ambientes aquáticos impactados por atividades antrópicas (Bini et al., 1999; Henry-Silva et al., 2000). No Centro de Aqüicultura da UNESP –
Campus de Jaboticabal esta espécie, em determinadas épocas, é encontrada em abundância em algumas represas, podendo ocasionar prejuízos, especialmente nas criações de organismos aquáticos.
Os objetivos principais deste trabalho foram avaliar e estabelecer possíveis interferências no coeficiente de crescimento e na composição química da biomassa total da macrófita aquática flutuante Salvinia molesta em duas represas submetidas a diferentes
3
2. MATERIAL E MÉTODO
2.1 – Área de Estudo
De acordo com Macedo (2000), o Centro de Aqüicultura da Unesp (Caunesp), Campus de Jaboticabal / S.P. (latitude 21º 18` S; longitude 48º 18` O), foi criado em 1988 ocupando aproximadamente 14 hectares. Em sua estrutura encontram-se seis represas artificiais, dispostas em série. Assim, a água de uma represa passa diretamente para a outra com fluxo contínuo, abastecendo tanques e viveiros menores de peixes, rãs e camarões de um sistema composto por três setores: piscicultura, ranicultura e carcinicultura. Em algumas represas são lançadas as águas residuais dos tanques e viveiros destes três setores, que se situam em paralelo às represas. Os efluentes de todo o conjunto de viveiros deságuam no córrego Jaboticabal, afluente do rio Mogi-Guaçu. Os períodos nos quais ocorrem maiores produções correspondem à estação do verão (dezembro, janeiro e fevereiro) quando as temperaturas elevadas favorecem a reprodução e a despesca dos viveiros arraçoados.
4 Tabela 1. Dados morfométricos e batimétricos das represas R1 e R2, em que, V = volume; A = área superficial; P = perímetro; Zm = profundidade máxima; Z = profundidade média, Zr = profundidade relativa; Ce = comprimento máximo efetivo; L = largura máxima efetiva; DL = índice de desenvolvimento de margem; Dv = índice de
desenvolvimento de volume.
Medidas Represa 1 (R1) Represa 2 (R2) Unidade
V 5208,00 4630,78 M3
A 3472,08 4268,04 M2
P 255,25 305,50 M
Zm 3,46 2,50 M
Z 1,49 1,08 M
Zr 5,50 2,84 %
Ce 97,70 110,50 M
Le 57,70 71,00 M
DL 1,22 1,32
DV 1,22 1,54
Z/Zm 0,41 0,51
Modificado de Macedo (2000)
A represa 1 é utilizada como fonte de abastecimento de todo o sistema composto pelos setores de piscicultura, ranicultura e carcinicultura e também de outras represas, pois sua nascente está situada em altitude mais elevada. Em suas áreas adjacentes encontram-se os setores de fazenda de gado e caprino. Em suas águas não ocorrem lançamentos de efluentes de aqüicultura. Entretanto, são cultivadas em pequenas quantidades, algumas espécies de peixes como lambari (Astyanax sp.) e matrinxã (Brycon cephalus).
Na represa 2 ocorrem lançamentos de efluentes de outros tanques e viveiros em paralelo dos setores de nutrição, piscicultura e ranicultura. Nesta represa, também écriada
grande quantidade de peixes sendo aproximadamente, 2200 pacus (Piaractus
mesopotamicus), 900 matrinxãs (Brycon cephalus), 600 kg de espécies de peixes sem
registros e várias tilápias (Oreochromis niloticus). Para as manutenções de tais espécies de
5 2.2 Variáveis Físicas e Químicas
O estudo foi desenvolvido entre os meses de julho de 2003 a março de 2004, com duração de 231 dias. Foram obtidas medidas superficiais de variáveis físicas e químicas da água das duas represas, no período da manhã entre as 9:00 e 10:00 horas. Os valores de temperatura (oC), pH, condutividade elétrica (µS.cm-1), turbidez (NTU) e concentração de
oxigênio dissolvido (mg.L-1) foram obtidos com o aparelho Water Quality Checker marca
Horiba modelo U-10. A radiação fotossinteticamente ativa (RFA), foi determinada com um radiômetro marca Licor, modelo Li-192-SA. A transparência da água foi avaliada com o disco de Sechi e as concentrações de nitrogênio orgânico total foram determinados segundos métodos de Mackereth et al., (1978). Os teores de fósforo orgânico total e
ortofosfato (P-PO4) foram determinados segundo Golterman et al., (1978). As
concentrações de clorofila – a foram determinadas segundo metodologia descrita em Nusch (1980).
2.3 – Índice de Estado Trófico (IET):
As concentrações de fósforo total ( g L-1) foram utilizadas para estabelecer o Índice de Estado Trófico (IET) segundo Wetzel (1975) (Tabela 2).
Tabela 2. Índice de Estado Trófico (IET), baseado na concentração de fósforo total ( g.L-1)
Modificado de Wetzel (1975)
Fósforo Total ( g.L-1) Índice de Estado Trófico (IET)
< 5 Ultra-oligotrófico
5 – 10 Oligo-mesotrófico
10 – 30 Meso-eutrófico
30 - 100 Eutrófico
6 2.4 - Coeficiente de Crescimento (rm) e Capacidade de Suporte (K)
Na margem das represas, foram fixados oito cercados de 1 m2, distribuídos aleatoriamente. Quatro possuíam, na parte inferior, tela plástica vazada com abertura de poros de 3 x 4 mm e os demais não continham nenhuma proteção. O objetivo de utilizar cercados protegidos foi verificar as possíveis interferências de herbivoria nos rendimentos de crescimento. Assim, nos dois ambientes, foram totalizados quatro tratamentos com quatro réplicas em cada, sendo eles denominados: represa 1 com tela, represa 1 sem tela, represa 2 com tela e represa 2 sem tela.
Em cada cercado, foram colocados inicialmente 10 rametes de S. molesta de
7
Figura 1. Cercados com Salvinia molesta na Represa 1 em outubro de 2003
Figura 2. Cercados com Salvinia molesta na Represa 2 em outubro de 2003. Em
8 Para estimar a capacidade de suporte (K) de cada tratamento foi ajustada a equação
logística ao ganho de biomassa de S. molesta. Segundo Krebs (1994), para representar o
crescimento de uma população em uma curva logística, esta deve ter uma distribuição inicial estável dos indivíduos, unidades de medidas adequadas para a população, a relação entre densidade e a taxa de crescimento deve ser linear e a taxa de crescimento dependente da densidade. Neste trabalho, estes fatores foram observados. Assim, foi ajustado um modelo de crescimento logístico para cada tratamento por meio da parametrização da Equação 1.
,
1
e
N
Ka r tm
t
+
−= ( 1 ),
Em que,
Nt = biomassa (g PS);
t = tempo;
K = capacidade suporte (máximo valor de N);
e = 2,71828 (base dos logaritmos naturais);
a = constante de integração que define a posição relativa da curva à origem;
rm = coeficiente de crescimento intrínseco.
Os coeficientes de crescimento intrínseco (rm) e as capacidades de suporte (K)
foram estimados dos ajustes das variações temporais de biomassa ao modelo sigmóide (Krebs, 1994). Para estes ajustes foram fixados os coeficientes de crescimento para R1 e R2 como sendo inerente da espécie dentro das condições climáticas adotadas. Os ajustes foram efetuados, por meio de regressões não lineares, calculadas pelo algoritmo iterativo de Levenberg-Marquardt Press et al., (1993).
O tempo de duplicação (TD) foi calculado de acordo com a Equação 2, dividindo-se o logaritmo natural de 2 pelo coeficiente de crescimento intríndividindo-seco (rm).
,
)
2
(
r
L
m n
9 2.5 – Composição Química da Biomassa Vegetal e Estoque de N e P
As amostras de biomassas vegetais (rametes coletados da mesma população utilizada nas unidades amostrais) foram obtidas em triplicata no início e ao final do experimento em ambas represas. Em seguida foram limpas com sucessivas lavagens para a remoção de perifíton, detritos orgânicos e partículas inorgânicas associadas. Posteriormente foram secas em estufa a 60o C, até atingirem peso constante e trituradas em moinho, para a determinação das percentagens de nitrogênio e fósforo total. Pela diferença entre a percentagem inicial e final, obteve-se a assimilação de nitrogênio e fósforo pelos
indivíduos de S. molesta. Os resultados foram expressos em percentagem de peso seco (%
PS). Após a obtenção destes valores, foi obtida a média das variáveis analisadas nos
vegetais e obtidos os desvios padrão. Para o cálculo do estoque de N e P em S. molesta
foram considerados os valores iniciais e finais da biomassa (g PS. m-2) de cada tratamento e os teores de N e P na biomassa (%PS).
Os teores de fósforo total foram determinados segundo metodologia descrita em Esteves (1980). O método analítico de determinação do nitrogênio orgânico total foi o de Kjeldahl, proposto por Allen et al., (1974) e adaptado especificamente para macrófitas
aquáticas por Esteves (1980). As análises de composição química das plantas e da água foram efetuadas no Laboratório de Ecologia Aquática do Departamento de Ecologia da Unesp - Rio Claro.
2.6 – Análise Estatística
Aos dados de temperatura, pH, condutividade, turbidez, concentração de oxigênio dissolvido, alcalinidade, radiação fotossintética, transparência, N-total, P-total e clorofila-a, foi aplicada a Análise dos Componentes Principais (ACP) (Bouroche & Saporta, 1982), com o objetivo de agrupar as variáveis para caracterizar o estado trófico das represas. A massa seca dos indivíduos colocados nos cercados, nos diferentes períodos amostrados, foi obtida com base em regressão linear entre peso fresco e peso seco.
Para testar a normalidade e a homocedasticidade dos dados da composição química de S. molesta (% PS) foram utilizados os testes de D'Agostinho e de Bartlett. Verificadas a
10
3. RESULTADOS
3.1 - Características Químicas e Físicas das Águas das Represas
Os valores mensais das variáveis físicas e químicas das águas superficiais de R1 e R2 estão apresentados na Tabela 3. Os valores de temperatura (ºC), turbidez (NTU) e
alcalinidade (mg. L-1) foram sempre superiores em R2. Os ambientes mostram-se
ligeiramente neutros e semelhantes com valores médios de pH = 6,9 e 6,8 em R1 e R2,
respectivamente. Os valores de condutividade elétrica (µS.cm-1) foram maiores em R2 com
exceção do mês de janeiro (R1: 30 µS.cm-1 e R2: 20 µS.cm-1). As concentrações de
oxigênio dissolvido no mês de julho (19,5 e 20,3 mg. L-1 em R1 e R2, respectivamente)
foram superiores quando comparadas aos meses seguintes nos quais as concentrações diminuíram e variaram em média de 6,5 e 6,7 mg.L-1, respectivamente. Os valores de radiação fotossinteticamente ativa (RFA) foram maiores em R2, com exceção do mês de
março quando se obteve 462,0 µmol.m-2.s-1 e 76,3 µmol.m-2.s-1 em R1 e R2,
respectivamente. Para os valores de transparência da água, as médias foram 2,2 e 0,6 m em R1 e R2, respectivamente. As concentrações de clorofila – a (µg. L-1) foram sempre
11 R2 27,1 6,6 78,0 24,0 5,6 0,74 76,3 0,5 3,62 25,34 R1 25,0 6,1 21,0 2,0 6,6 0,22 462,0 2,0 3,00 6,04 R2 26,2 6,2 50,0 10,0 7,8 0,78 183,1 1,0 10,36 17,36 R1 25,7 6,7 20,0 4,0 6,7 0,21 184,1 2,0 13,49 10,68 R2 28,6 6,7 16,0 35,0 6,4 0,43 1151,0 0,5 6,92 18,69 R1 26,5 6,8 25,0 3,0 8,4 0,12 698,0 2,0 3,00 3,00 R2 26,7 6,7 76,0 60,0 3,7 0,82 563,0 0,5 14,90 29,4 R1 25,2 6,7 19,0 1,0 6,3 0,29 346,0 2,0 2,38 3,00 R2 27,2 6,7 82,0 28,0 4,6 0,68 128,0 0,5 3,62 14,69 R1 25,5 6,8 20,0 1,0 6,1 0,24 86,2 2,4 3,00 3,00 R2 25,1 6,9 78,0 45,0 7,2 0,88 1320,0 0,5 3,00 72,98 R1 23,8 7,0 21,0 1,0 5,5 0,36 1108,0 2,2 3,00 16,02 R2 23,1 7,0 80,0 32,0 9,3 0,82 839,0 0,5 6,05 44,86 R1 21,3 7,6 22,0 4,0 6,2 0,36 724,0 2,4 22,79 3,00 R2 21,4 6,5 79,0 34,0 9,2 0,82 605,0 0,5 3,00 16,02 R1 20,1 6,8 21,0 5,0 5,9 0,32 270,2 2,2 3,00 3,00 R2 20,3 7,4 77,0 28,0 8,1 0,74 819,1 0,5 3,00 17,80 R1 19,5 7,8 20,0 5,0 6,4 0,27 722,1 2,6 4,92 3,00
Radiação (mmol.m-2.s-1)
Transparência da água
P - PO4 (mg.L-1)
Clorofila - a (ug.L-1)
Condutividade (mS.cm-1)
Turbidez (FTU)
Oxigênio Dissolvido (mg.L-1)
Alcalinidade (ug.L-1)
Setembro
Temperatura ºC
pH
Tabela 3. Valores mensais das variáveis físicas e químicas de superfície da água da represa 1 (R1) e represa 2 (R2), contendo Salvinia molesta. Agosto MESES Março Fevereiro janeiro Dezembro
12
Os valores das concentrações de nitrogênio total (mg/L) e fósforo total (µg/L) nas
águas de ambas as represas estão apresentados na Figura 3.
Figura 3. Valores das concentrações de nitrogênio orgânico total (mg/L) e fósforo
total (µg/L) na água da represa 1 (R_1) e represa 2 (R_2).
Os valores das concentrações de nitrogênio total e fósforo total foram sempre
inferiores em R1. Os valores de P-PO4 oscilaram nos dois ambientes, e em alguns meses
R1 apresentou maiores concentrações que R2 e vice versa. Os valores médios de P-PO4
foram 6,51 µg/L e 6,05 µg/L em R1 e R2, respectivamente.
13 Tabela 4. Correlação das variáveis limnológicas das represas com os componentes I e II da Análise dos Componentes Principais (ACP).
Componentes Principais Variáveis
I II
Temperatura 0,251 -0,796
PH -0,194 0,852
Condutividade elétrica 0,864 0,065
Turbidez 0,893 0,052
Oxigênio dissolvido -0,076 0,790
Alcalinidade 0,930 0,079
Radiação Fotossinteticamente Ativa (RFA) 0,330 0,581
Transparência da água -0,929 0,115
Nitrogênio total 0,773 0,248
Fósforo total 0,838 -0,180
Clorofila – a 0,870 0,143
% de Variação Explicada 50,42 22,37
14 Temperatura
Condutividade, Turbidez, Alcalinidade, N – Total, P – Total, Clorofila - a
Transparência da água
Figura 4. Ordenação pela Análise dos Componentes Principais (ACP) dos meses de coleta na represa 1 (indicados pelo número 1) e represa 2 (indicados pelo número 2), com base nas variáveis limnológicas analisadas. Os dois componentes explicam 72,8 % da variação observada.
3.2 – Índice de Estado Trófico (IET)
Os Índices de Estado Trófico (IET) estabelecidos mensalmente para as represas estão apresentados na Tabela 5. Os dados mostram que a represa 1 foi menos eutrofizada que a represa 2, com exceção do mês de março.
pH
15 Tabela 5. Índice de Estado Trófico (IET) mensal em ambas as represas.
IET
Meses Represa 1 Represa 2
Jul-03 Oligo-mesotrófico Eutrófico
Ago-03 Meso-eutrófico Hipereutrófico
Set-03 Meso-eutrófico Hipereutrófico
Out-03 Eutrófico Hipereutrófico
Nov-03 Oligo-mesotrófico Hipereutrófico
Dez-03 Meso-eutrófico Eutrófico
Jan-04 Meso-eutrófico Hipereutrófico
Fev-04 Eutrófico Hipereutrófico
Mar-04 Eutrófico Eutrófico
3.3 - Curvas de Crescimento
A análise de regressão linear simples entre peso fresco e peso seco de S. molesta
apresentou coeficiente de correlação de 0,97679 e a equação obtida foi PS = 0,40457 + 0,1725 * PF, onde PS = peso seco (g) e PF = peso fresco (g), (Figura 5).
As curvas de crescimento de S. molesta nos diferentes tratamentos estão
apresentadas na Figura 5. No início do experimento os tratamentos possuíram biomassas
semelhantes de 0,67 ± 0,01 g PS/m2.
O valor máximo de biomassa no tratamento de R 1 com tela foi de 3,37 ± 1,34 g PS
no 180º dia do experimento. Após este dia, os valores oscilaram até atingirem a biomassa de 2,73 ± 0,96 g PS no 231º dia, final do experimento (Figura 6 A). A curva de
crescimento do tratamento de R1 sem tela apresentou comportamento semelhante ao com
tela da mesma represa. O valor máximo de biomassa foi de 3,38 ± 1,07 g PS/m2 no 180º
dia do experimento. Após este dia os valores oscilaram e atingiram a biomassa de 1,80 ±
16 Figura 5. Dispersão dos valores de peso seco (g) e peso fresco (g) de Salvinia molesta. PS = 0,40457 + 0,01725 * PF, r = 0,97679, n = 20
Figura 6. Curvas de crescimento de S. molesta nos diferentes tratamentos A =
represa 1 com tela, B = represa 1 sem tela, C = represa 2 com tela, D = represa 2 sem tela, K = capacidade de suporte, rm = coeficiente de crescimento. Os gráficos apresentam
escalas distintas.
0 50 100 150 200 250
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
K = 2.966 ± 0.672 rm = 0.026
A B io m as sa ( g. PS /m 2 )
Tempo (dias) 0 50 100 150 200 250
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0
K = 2.447 ± 0.392 rm = 0.026
B B io m as sa ( g. PS /m 2 ) Tempo (dias)
0 50 100 150 200
0 10 20 30 40 50 C
K = 36.268 ± 2.367 rm = 0.732
B io m as sa ( g. PS /m 2 ) Tempo (dias)
0 20 40 60 80 100
-1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 D
K = 0.714 ± 0.179 rm = 0.732
B io m as sa ( g. PS /m 2 ) Tempo (dias)
peso fresco (g)
pe so s ec o (g ) 0 1 2 3 4 5 6
17
O valor máximo de biomassa de S. molesta 41,52 ± 3,23 g PS/m2 no 180º dia no
tratamento de R 2 com tela foi maior quando comparado a todos os outros tratamentos. A biomassa de 36,63 ± 1,72 foi atingida no 206º dia (Figura 6 C).
Para o ajuste da equação logística ao ganho de biomassa de S. molesta no
tratamento sem tela de R2, foi considerado o coeficiente de crescimento intrínseco de 0,732 dia-1 que foi obtido no tratamento com tela da mesma represa. Assim, a biomassa
atingiu seu valor máximo no 23º dia do experimento 1,02 ± 0,20 g PS/m2, diminuindo até
atingir o valor de 0,40 g PS/m2 no 86º dia, que foi considerado o final do experimento. Neste tratamento não ocorreu ganho de biomassa até 231º dia de experimento, o que o diferenciou dos demais (Figura 6 D).
3.4 - Composição Química da Biomassa Total de S. molestae Estoque de N e P
Os valores médios e desvios padrão dos teores de nitrogênio e fósforo totais em percentagem de peso seco, na biomassa de S. molesta são apresentados na tabela 6. Os
teores de nitrogênio total na biomassa de S. molesta na represa 1, ao final do experimento,
foram similares aos teores no início, não apresentando diferenças significativas. Já na
represa 2, os teores de nitrogênio total foram significativamente superiores (p ≥ 0,05) ao
final do experimento. Os teores de fósforo total na biomassa de S. molesta na represa 1
foram significativamente inferiores (p≤0,05) ao final do experimento. Na represa 2 foram
constatadas diferenças significativas superiores (p ≥ 0,05) ao final do experimento.
Tabela 6. Valores médios e desvio padrão da porcentagem de nitrogênio total e fósforo total, na biomassa de S. molesta.
Represa 1 Represa 2
Variáveis
Início Julho / 03 Fim Março / 04 Fim Março / 04
Nitrogênio (%PS) 1,38 ± 0,089 (a) 1,41 ± 0,029 (a) 2,03 ± 0,039 (b)
Fósforo (%PS) 0,22 ± 0,001 (b) 0,20 ± 0,005 (a) 0,41 ± 0,008 (c)
18 Os valores médios e desvios padrão do estoque de nitrogênio e fósforo totais (mg.
m-2) na biomassa no início e no fim do experimento em cada tratamento está apresentado
na tabela 7.
Tabela 7. Valores médios e desvios padrão do estoque de nitrogênio e fósforo totais (mg. m-2) no início e final do experimento em cada tratamento.
4 – DISCUSSÃO
Através da análise de componentes principais (PCA) e de acordo com os índices de estado trófico (IET) obtidos observaram-se diferenças no grau de impacto gerado nas represas. Com exceção do mês de março, R1 mostrou-se menos eutrofizada que R2. De fato, em R1 não ocorre o lançamento de efluentes de tanques e viveiros do sistema composto pelos setores de piscicultura, ranicultura e carcinicultura. Entretanto, em suas áreas adjacentes próximas às nascentes, há os setores da fazenda de gado e caprino que podem ter favorecido a entrada de materiais e possíveis infiltrações nos períodos de precipitações elevadas. Estes fatores podem ter contribuído para o aporte de nutrientes no mês de março. Já em R2 são lançados os efluentes dos sistemas de tanques e viveiros em paralelo dos setores de nutrição, piscicultura e ranicultura. Também ocorre o arraçoamento da grande quantidade de peixes que nela é cultivado. Aldon & Buendia (1998) observaram que o excesso de alimento nos sistemas de criação de peixe pode causar elevada descarga de nitrogênio e fósforo para os efluentes e corpos d’ água receptores. Estes fatores também podem ter contribuído para tornar o ambiente de R2 mais eutrofizado. Como em R1 são cultivadas poucas espécies de peixes e utilizadas pequenas quantidades de rações, provavelmente, este fator não influenciou nos resultados. Macedo (2000) também constatou que em R1 o ambiente é menos eutrófico que em R2. A autora observou valores
médios de fósforo total de 12 e 4 µg/L em R1 no período de chuva e seca, respectivamente.
Tratamento Nitrogênio Fósforo Nitrogênio Fósforo
R1 com tela 9,3 ± 0,2 1,5 ± 0,04 29,9 ± 22,7 4,2 ± 3,2
R1 sem tela 9,3 ± 0,1 1,5 ± 0,02 26,3 ± 5,9 3,7 ± 0,8
R2 com tela 9,1 ± 0,2 1,4 ± 0,03 515,9 ± 321,8 104,2 ± 65,0
R2 sem tela 9,2 ± 0,2 1,5 ± 0,03 17,3 ± 5,7 3,5 ± 1,1
ESTOQUE
19
Em R2 foi observada uma concentração média de 154 µg/L no período de chuva. Neste
estudo, os valores médios encontrados em R1 foram 30,8 e 9,7 µg/L no período de chuva e
seca, respectivamente. Em R2 a concentração média foi 116 µg/L no período de chuva. Os
resultados obtidos permitem concluir que os efluentes lançados em R2, assim como o arraçoamento dos peixes cultivados neste viveiro podem ter contribuído para o aumento no grau de trofia do ambiente. A água de R1, usada como fonte de abastecimento apresentou características diferentes de R2. É importante ressaltar que formular dietas com maior digestibilidade e com menor quantidade de nutrientes e efetuar o manejo correto das criações podem contribuir para minimizar tais impactos (Henry-Silva, 2000; Baccarin 2002). Além disso, há a necessidade do tratamento dos efluentes de aqüicultura antes de serem lançados nos ambientes aquáticos, evitando-se assim a eutrofização dos corpos d’água receptores. De acordo com estas afirmações, pode-se constatar que existe a possibilidade dos efluentes gerados pela aqüicultura promoverem a eutrofização artificial dos ambientes aquáticos.
O crescimento excessivo de indivíduos de uma população de macrófitas aquáticas flutuantes deve-se, geralmente, a dois fatores principais: a falta de herbívoros e ao nível elevado de eutrofização (Esteves, 1998). De fato, as estimativas dos coeficientes de
crescimento intrínseco (rm) nas duas represas podem ter sido influenciadas por estes
fatores. As diferenças entre as capacidades suporte nos dois ambientes provavelmente estiveram relacionadas a herbivoria, especialmente por peixes. Esta interferência pode ser observada devido à presença das telas protetoras. Assim, o ganho de biomassa de S. molesta nos tratamentos de R1 foram muito semelhantes durante os 231 dias de estudo. Já
em R2, o tratamento sem proteção sofreu forte influência da grande quantidade de peixes que são cultivadas. O aumento da biomassa neste tratamento não passou do 86º dia de experimento. Seus valores foram muito inferiores quando comparados ao tratamento com proteção da mesma represa que oscilaram até final do experimento (231º dia). As diferenças no grau de trofia dos dois ambientes também podem ter influenciado nos valores dos coeficientes de crescimento intrínseco de S. molesta que foram ≅ 28 vezes
superiores em R2 mais eutrofizada.
20 dos organismos aquáticos no tratamento sem proteção, este provavelmente se comportaria de forma semelhante ao tratamento com proteção por estarem submetidos às mesmas condições. Desta forma, os coeficientes de crescimento intrínseco foram fixados e assim obteve-se o ajuste da equação logística ao ganho de biomassa de S. molesta.
O resultado de correlação linear entre peso fresco e peso seco de S. molesta para a
obtenção da equação da reta que estima a massa seca dos indivíduos utilizados neste estudo, mostraram que esta relação pode fornecer boa estimativa de crescimento e capacidade de suporte para esta espécie de macrófita aquática. Outros autores também observaram correlações altas entre variáveis biométricas e peso seco. Rubim & Camargo (2001) obtiveram correlações elevadas entre peso seco e número de folhas e a partir destas
duas variáveis, estimaram a taxa de crescimento específico e o tempo de duplicação de S.
molesta.
Vários pesquisadores avaliam o crescimento de S. molesta em experimentos de
campo e laboratório. Os resultados deste estudo e os obtidos por outros autores para alguns fatores como, densidade, tempo de duplicação (TD dias) e valores de concentrações de N-total, P-total e P-PO4 apresentam-se na Tabela 8. Junk & Howard – Williams (1984)
obtiveram tempo de duplicação reduzido (7,2 dias) para Salvinia auriculata no Lago do
Castanho (Amazônia Central), que segundo Schimidt (1973) contém concentrações de
nitrogênio total entre 0,31 e 2,86 mg/L e de ortofosfatos entre zero e 30 µg/L. Henry-Silva
et al. (2002) testando o efeito de diferentes concentrações de nutrientes no crescimento de S. molesta observaram que esta espécie apresentou crescimento semelhante quando
cultivada em condições com maiores ou menores concentrações de nitrogênio e fósforo; entretanto, a densidade foi um dos fatores que interferiu no crescimento. Para uma densidade baixa o tempo de duplicação foi 49,51 dias e, com o aumento da densidade este tempo aumentou para 346,5 dias. Rubim & Camargo (2001) trabalhando em um braço do Rio Preto (Porto Boacica), em Itanhaém S.P., registraram reduzido tempo de duplicação em águas pobres em nutrientes, provavelmente devido à baixa densidade de indivíduos utilizados. O tempo de duplicação reduzido (10,7 a 3,5 dias) obtido por Reddy & De Busk (1985) também foi determinado sob baixas densidades de Salvinia rotundifolia. Mitchel &
Tur (1975) também observaram que em baixas densidades S. molesta apresentou reduzidos
21
Tabela 8. Densidade (g.PS / m2), tempo de duplicação (TD - dias), local (C = campo, L = laboratório), concentrações
de N e P totais e P-PO4 para a macrófita aquática do gênero Salvinia.
Autor
Mitchel & Tur, 1975
Mitchel & Tur, 1975
Finlayson, 1984
Rubim & Camargo, 2001
Henry - Silva, et al 2002
Henry - Silva, et al 2002
Junk & Howard - Williams, 1984
Saia e Bianchini Junior, 1998
Reddy & De Busk, 1985
Reddy & De Busk, 1985
Este Estudo
Este Estudo
P-PO4
< 20 ug/L
11,6 ± 4,1 ug/L
28,1 ± 8,4 ug/L
0 e 30 ug/L
3 mg/L
6,51 ug/L
6,05 ug/L
P-total
9 mg/L
77 ± 24,3 ug/L
15,1 ± 7,7 ug/L
24,45 ug/L
114,55 ug/L
N-total
24 mg/L
< 0,44 mg/L
0,33 ± 0,05 mg/L
0,19 ± 0,05 mg/L
0,31 e 2,86 mg/L
0,23 mg/L 0,35 mg/L Local C C C C C C C L L C C TD 8,6 11,6 1,4
3,5 a 7,1
49,51
346,5
7,2
7,2
10,7 a 3,5
231 a 23,1
22 Durante os nove meses deste estudo (231 dias) R1 apresentou um tempo de duplicação de 26,6 dias. Já em R2, o tempo de duplicação reduziu para 0,95 dias. Pôde-se
concluir que S. molesta cresceu intensamente em ambientes com baixas ou altas
concentrações de nutrientes, e que outros fatores podem ser limitantes ao desenvolvimento desta espécie. Nesse contexto, os baixos valores de densidade obtidos nas duas represas podem ter contribuído para tempos de duplicação reduzidos. Quando se compara o tempo de duplicação de R1 com os de outros autores é possível considerá-lo relativamente curto. Entretanto, as elevadas concentrações na água de R2 de nitrogênio (≅ 1,5 vez) e
principalmente de fósforo totais (4,7 vezes), maiores que em R1, pode ter sido um dos
fatores que reduziu o tempo de duplicação para esta espécie em R2 (≅ 28 vezes maior que
em R1).
A temperatura e a radiação fotossintéticamente ativa (RFA) são fatores que podem influenciar as taxas de crescimento de macrófitas aquáticas. Temperaturas acima de 30 e abaixo de 15 ºC limitam o crescimento de S. molesta (Mitchel & Tur, 1975; Usha Rani &
Bambie, 1983). Os valores de temperatura da água foram sempre superiores em R2. De acordo com o intervalo de variação de temperatura o menor valor encontrado ao longo do experimento foi 19,5 ºC em R1 e o maior valor foi 28,6 ºC em R2. Supõe-se que este fator não tenha se constituído em fator limitante ao crescimento de S. molesta neste estudo,
permitindo os registros de coeficientes de crescimento elevados.
No final do experimento, o teor de nitrogênio (% PS) na biomassa de S. molesta em
R1 foi semelhante ao início. Para os teores de nitrogênio orgânico total não houve diferenças significativas, apenas um pequeno aumento no final. Para os teores de fósforo total, as concentrações foram significativamente inferiores e diminuíram no final. Em R2 as concentrações finais de nitrogênio total foram significativamente superiores quando comparadas ao início. Também para as concentrações de fósforo total, no final, foram constatadas diferenças significativamente superiores. Essas variações provavelmente estiveram associadas aos estados tróficos das represas (Tucker, 1981; Morris, 1982;
Esteves, 1998). No presente estudo os teores de N e P na biomassa de S. molesta em R1
foram sempre inferiores que em R2. Os elevados teores de nutrientes na biomassa de S. molesta em R2 também pode ser um dos fatores que contribuíram para os elevados
coeficientes de crescimento. O aumento obtido no estoque de N e P em S. molesta (g PS.
23 ser utilizada no tratamento de água removendo nutrientes e contribuindo para a atenuação da eutrofização do ambiente aquático.
5 – CONCLUSÕES
A Represa 1 utilizada como fonte de abastecimento de todos os sistemas de criação do Caunesp e que não recebe efluentes de aqüicultura pôde ser classificada como meso-eutrófica de acordo com as concentração de fósforo total.
Na Represa 2 onde foram lançados efluentes de piscicultura e ranicultura sem tratamento houve o aumento das concentrações de nutrientes (principalmente N e P - totais) o que levou este ambiente a ser classificado como hiper-eutrófico de acordo com as concentrações de fósforo. A maior quantidade de nutrientes nesta represa promoveu o maior crescimento de
Salvinia molesta neste ambiente.
A baixa densidade de plantas utilizada no início do experimento foi um dos fatores que influenciaram no crescimento de S. molesta que apresentou
reduzido tempo de duplicação nas duas represas,
Em R2, o tempo de duplicação desta espécie foi ≅ 28 vezes menor que em
R1 em função da maior quantidade de N e P,
Os elevados teores de N e P especialmente na biomassa de R2 permitem inferir que quando manejada de forma adequada, S. molesta pode ser
utilizada no tratamento de água, pois remove nutrientes (acumulando-os em sua biomassa) e contribuindo para a atenuação da eutrofização do ambiente aquático,
A herbivoria limitou fortemente o crescimento de S. molesta em R2 por este
24
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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