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Dicionários do português: da tradição à contemporaneidade

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DICIONÁRIOS DO PORTUGUÊS: D A TRADIÇÃO

À CO N TEM PO RA N EID A D E

M ari a Terez a C am arg o BI D ER M A N1

• RESUM O : Este artig o exp õ e u m a v isão p ano râmica so bre d icio nário s no m u nd o latino , fo ca-lizand o a p ro d ução lexico g ráfica em Língua Po rtuguesa, p artic ularm ente os d icio nário s ge-rais d a língua. Dep o is d e histo riar rap id am ente os primó rd io s d a d icio narística na trad ição o cid ental, d escrev e, em linhas gerais, as p rim eiras grand es o bras lexico g ráficas e m Po rtu-g uês. Disco rre, a sertu-guir, so bre o início d a p ro d ução lexico rtu-g ráfica no Brasil. N o último item , este estud o exam ina a lexico g rafia em língua p o rtug uesa na co ntem p o raneid ad e, analisand o e c ritic and o q uatro d icio nário s gerais d o Po rtug uês co ntemp o râneo , send o três brasileiro s -o

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Aurélio (FERREIRA , 1999), o Ho uaiss (2001), o Dicionário de usos (BORBA , 2002) - e u m p o rtuguês, o Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa (DICIONÁ RIO..., 2001). • PA LA V RA S-C H A V E: Dicio nário s; lexico g rafia em língua p o rtug uesa; trad ição lexico g ráfica;

d icio nário s gerais d o p o rtuguês; d icio nário s co ntem p o râneo s d o p o rtug uês.

1 O papel do dicionário na sociedade

O léxico de um a língua natural reg istra o co nhecim ento do univ erso na fo rma de palavras. Ora, o teso uro v o cabular de u m id io m a c o nstitu i u m co njunto de d im ensõ es ind eterm inad as. De fato , o número to tal de p alav ras de uma língua de civ ilização p o d e ating ir uns 500.000 v o cábulo s o u mais. A lém d isso , send o u m co njunto aberto , no vas palavras são criad as co ntinuam ente pelo s usuário s, esp ecialm ente os mais culto s e mais criativ o s, e tam b ém pelo s cientistas (as term ino lo g ias científicas), embo ra qual-quer falante po ssa co ntribuir para a g eração lexical.

Por o utro lad o , co mo afirma Lara (1992, p.20), "o d icio nário rep resenta a memó ria co letiv a d a so cied ad e e é uma de suas mais im p o rtantes instituiçõ es sim bó licas". E

1 Programa de Pós-Graduação em Lingüística e Língua Portuguesa - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP - 14800-901 - A raraquara - SP - UNESP Endereço eletrônico: mtbider@attglobal.net

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co mo d iz Rey (1994, p .xv ii), "o dicio nário ... co nstitui o acervo e o registro das sig nifi-c aç õ es que nossa memó ria não é nifi-capaz de memo rizar".

O dicio nário é também e so bretud o u m p ro d uto lingüístico ; co nstitui "o resultad o de uma infinid ad e de atos verbais que, na exp eriência so cial, d esligaram-se de seus ato res" (LA RA , 1992, p.20) para passar a fazer p arte do patrimô nio cultural co letiv o , esp ecialmente o que fo i d ito intelig entemente no seio dessa so cied ad e. O co njunto dos usos so ciais da língua estão refletid o s no dicio nário .

A lém disso, o d icio nário d escreve o léxico em função de u m mo d elo id eal de lín-gua - a línlín-gua culta e escrita. Só circunstancialmente registra os pad rõ es subculto s, ou d esviantes da no rma padrão, tais como os usos d ialetais,2 po pulares, giriátíco s. Dessa fo rma o d icio nário co nv alid a e pro mo ve a ling uag em aceita e valo rizad a em sua co munid ad e.

2 O dicionário na tradição ocidental: primórdios

Co m a inv enção da imp rensa e sua po pularização na Euro pa inicio se a p ro d u-ção de d icio nário s no século XVI.

Os p rimeiro s d icio nário s eram glo ssário s bilíngües latino vernáculo s. Nessa épo -ca em que o pro cesso de glo balização estava em seus primórdios, os estado s, que se co nstituíam na Euro pa, intensificav am seus co ntato s recíp ro co s. Na cultura humanis-ta do Renascimento os d icio nário s passaram a d esempenhar u m p ap el im p o rhumanis-tante.

A interação dos d iverso s po vo s euro peus m o tiv o u a pro dução de muito s d icio ná-rios bilíngües e até multiling ues para servir à co municação de naçõ es de culturas e línguas d iferentes.

Pouco a po uco , a hegemo nia exercid a pelo latim fo i sendo substituíd a pela cres-cente valo rização dos vernáculo s, esp ecialmente os de o rig em latina. A co mp ilação de vo cabulário s mo no língües dessas línguas para a pro d ução de uma o bra de cunho pe-d agó gico inicio u-se na Itália, no século XVI. A requintape-d a co rte pe-dos M epe-d ic i em Flo ren-ça atribuía grand e impo rtância à literatura e ao cultiv o das artes, suscitand o a ap

ari-ção dos p rimeiro s vo cabulário s da língua vulgar que passaram a ser valo rizad o s

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per se. Os p rimeiro s vo cabulário s da língua vulgar basearamse nos auto res fund ad o res da Li

-teratura Italiana - Dante, Petrarca e Bo caccio - , co nsid erad o s por esses d icio nanstas p io neiro s co mo sup rema auto rid ad e em matéria de língua. O p rimeiro d icio nário abrangente da língua italiana é o Vocabulário Della Crusca, de 1612; p io neiro também enquanto dicio nário acad émico , o da Academia Della Crusca (VOCA BULÁ RIO..., 1612), de Flo rença. Fund amentand o nos "melhores e mais no bres auto res antig o s", apresentava-se como obra no rmativ a para aqueles que d esejavam escrever bem a lín-gua italiana.

N a Espanha do século XVI, período em que se co nso lid a a unificação po lítica es-p anho la sob os reis cató lico s, o Renascimento univ ersalizo u o humanismo , as letras e

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as artes; os estudo s clássico s se instalaram nas univ ersid ad es, so bretud o na Univ ersi-dade de Salamanca. Uma grand e eferv escência cultural to mo u co nta da so cied ad e. A popularização da imp rensa d iv ulg o u rap id amente as grand es obras do passado e do presente. Fo i então que intelectuais e grand es humanistas esp anhó is p ublicaram obras co mo o

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Vocabulário universal de A lo nso de Palencia (1490) e A nto nio de N ebrija suas o bras-marco : os Vocabulários Latino-Espanhol & Espanhol-Latino e sua gramáti-ca do espanho l (cf. NEBRIJA , 1545), d and o ao gramáti-castelhano o estatuto de uma língua de civ ilização3 que p o d ia co mp etir co m o latim .

Na França, a fund ação da A cad em ia Francesa pelo Cardeal Richelieu em 1635 t i -nha como p rincip al desideratum a defesa da pureza e da p erfeição da língua francesa. A A cad em ia nasceu co m a missão de elaborar u m dicio nário da língua francesa, que seria u m teso uro do id io ma e representaria uma auto rid ad e lingüística, bem ao estilo daqueles temp o s de go verno mo nárquico auto ritário . A p rimeira ed ição do d icio nário da A cad emia Francesa em 1694 (DICTIONNA IRE..., 1694) co nstitui uma marco na his-tória do francês. O fato im p o rtante a assinalar é a institucio nalização de um a entid ad e co m foros de auto rid ad e lingüística - a A cad em ia de Letras - para zelar pela língua. O dicio nário é inv estid o da auto rid ad e de guardião da língua. A liás, várias culturas lati-nas herd aram esse vezo id eo ló gico não só co m respeito às acad emias literárias e sua função cultural, mas também co m relação aos d icio nário s. Instituiu-se assim o princí-pio da auto rid ad e lingüística do dicio nário na so cied ad e.

3 Primeiras grandes obras lexicográficas em português

3.1 No m und o de língua p o rtuguesa, apesar de várias obras lexico gráficas de me-nor alcance nos século s XV I e XVII, o p rimeiro dicio nário realmente d ig no do no me é o do Padre Rafael Bluteau (Vocabulário português e latino, 1712-28, 8v. e 2 supl.), o bra mo numental so bretud o para o seu temp o . Embo ra seja u m d icio nário bilíngüe (p o rtu-guês-latim), a p arte relativ a ao po rtuguês é p raticamente uma d escrição do léxico por-tuguês d aquela ép o ca.

Vale a pena lembrar uma afirmação de Bluteau (1712) em seu "prólogo ao leito r4": "não temo s o utra pro va da p ro p ried ad e das palavras, que o uso delias, & d este uso não há ev id ência mais certa, & p ermanente, que a que nos fica nas obras dos A uto res, o u manuscrito s o u impresso s".

Mo stra, assim, clara co nsciência da impo rtância da d o cumentação escrita para registrar os usos das palavras. Bluteau (1712) co nsid ero u fund amental d o cumentar es-ses usos e os sig nificad o s das palavras co m abo nação de auto res, ind icand o d

etalha-3 Convém lembrar a hegemonia exercida pelo latim no contexto sociocultural do século XVI. Até então só o latim tinha prestígio universal no Ocidente De fato, o latim era considerado a única língua a ser adotada como veículo universal para as ciências o as artes, sobretudo nos grandes centros de saber da época, as universidades.

4 Cf o primeiro volume de Bluteau (1712), Catalogo alphabetíco, topographico e chronologico dos autores portuguezes, citados pella mayor parte nesta obra..

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d amente a referência, o que é uma no v id ad e para o início do século XVIII. Ele é u m típico rep resentante da cultura humanista de seu temp o .

O

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corpus co m que Bluteau (1712) trabalho u to talizav a 406 obras, ap ro ximad amen-te, de auto res dos século s XVI a XVII.

O dicio nário de Bluteau (1712) tem caráter enciclo p éd ico , d and o m uitas info rma-çõ es em cad a u m de seus verbetes, além de ind icar quand o o termo pro ced e de term i-no lo gias científicas.

M ais tard e A ntó nio de Mo rais Silva elabo ro u o mais im p o rtante e célebre d icio ná-rio do po rtuguês (SILVA, 1813) dos início s de nossa trad ição lexico gráfica. A p rimeira ed ição do Morais de 1789 (SILVA, 1789) fo i co nsid erad a pelo auto r uma mera co mp ila-ção do dicio nário de Bluteau (1712), razão por que não lhe apô s seu no me. Ele afirma que apenas extraiu do dicio nário bilíngüe de Bluteau (1712) o vo cabulário p o rtuguês. A segund a ed ição de 1813 pode ser co nsid erad a a ed ição princeps do Morais. Esse d icio nário se baseo u nu m corpus de 203 auto res dos século s XVI a XVIII co mo fo nte de referência.

Co nstitui obra de grand e fôlego para a ép o ca, embo ra co ntenha no menclatura de apenas ap ro ximad amente 40.000 verbetes. Mo rais sempre ind ica suas fo ntes d o cu-mentais nos v erbetes. Red ig iu uma intro d ução em que exp lico u como co nfeccio no u seu d icio nário . Uma característica d este d icio nário é o emp enho do auto r em fazer d escriçõ es precisas dos referentes e dos co nceito s.

Po demo s co nsid erar o Morais (SILVA, 1813) co mo u m d icio nário de língua, registrand o o vo cabulário mais usual na língua escrita e oral do seu temp o . Um aspecto d ig -no de -no ta: o Morais (ibid em) ind ica d iferentes níveis de ling uag em, se necessário , e as v ariaçõ es lingüísticas das palavras.

Em cad a v erbete d este dicio nário , ao lado da entrad a, ind ica-se a classe g ram ati-cal a que p ertence a palavra. Vem, a seguir, a d efinição co m exemplo s to mad o s a au-to res, co m ind icação co mp leta da referência: obra, capítulo , au-to mo , p ágina etc. Os ver-betes do Morais (SILVA, 1813) são mais bem estruturad o s e mais claros do que os de Bluteau (1712). A lém disso, o Morais (SILVA, 1813J registra também os d iferentes ní-veis de ling uag em , isto é, se a palavra é vulgar, familiar, o bscena, g iria, reg io nal etc. O registro de termo s científico s, co nfo rme a ciência da ép o ca, é o utro aspecto i m -p o rtante do Dicionário de Mo rais (ibid em). A ssim , quand o p ertinente, ind icam-se os do mínio s do co nhecimento : astro no mia, anato mia, bo tânica, aritmética, arquitetura, farmácia, física, geo grafia, geo metria, med icina, matemática, música, náutica etc.

Durante to d o o século XIX e mesmo no século XX, o Morais co nstituiu uma refe-rência lexico gráfica fund amental da língua p o rtuguesa, po d end o ser co nsid erad o a p rimeira co d ificação abrangente do léxico po rtuguês.

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No século XIX duas outras obras lexico gráficas merecem d estaque: p rimeiro , o

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Grande dicionário português o u Tesouro da língua portuguesa, de Frei Do mingo s Vieira

(1871-1874); segund o , o Dicionário contemporâneo da língua portuguesa de Caldas A ulete (1881). O d icio nário de Vieira (1871) gozava e goza de rep utação merecid a. Re-gistra uma ampla no menclatura; em geral d efine bem as palavras; inclui u m grand e número de lo cuçõ es, co mbinató rias, exp ressõ es id io máticas e pro vérbio s, além de abo naçõ es das p alavras-entrad a. A d esp eito de reg istrarem etimo lo gias e m uita info r-mação , os verbetes p o d eriam ser melho r o rganizad o s e de mo d o mais sistemático . O Aulete (1881) po ssui muitas qualid ad es, po d end o ser co nsid erad o u m d icio nário mo -derno para o seu temp o ; registra so bretud o a ling ua da ép o ca da sua co nfecção , des-cartand o arcaísmo s. São boas as suas fo ntes d o cumentais. Co ntud o , nas abo naçõ es, o Aulete (1881) só ind ica o autor, neg lig enciand o info rmaçõ es imp o rtantes co mo o re-gistro da fo nte (obra), d ata da ed ição e p ágina. Geralmente as d efiniçõ es são ad equa-das e a o rd enação equa-das acep çõ es também.

Outro d icio nário famo so , do século XIX, é o Cândido de Figueiredo {Novo dicioná-rio da língua portuguesa) cuja p rimeira ed ição é de 1899. Seu auto r p retend ia ter elabo rad o o mais co mp leto d icio nário do po rtuguês, po is gabavase de ter incluído regio -nalismo s de to d o s os territórios o nde se falava o po rtuguês no mund o (FIGUEIREDO, 1899). Co ntud o , apesar da extensão do repertório registrad o , o d icio nansta não teve m uito cuid ad o em suas pesquisas sobre suas fo ntes d o cumentais. A o bra p ad ece de sério s d efeito s e co ntém até imp ro p ried ad es graves. A no menclatura é m u ito extensa, po is inclui m uitas palavras raras. A micro estrutura do v erbete é bastante simp les e, às vezes, as d efiniçõ es são ruins e até erradas. Esse dicio nário teve muitas ed içõ es, em-bo ra não merecesse o grand e prestígio que lhe fo i atribuído .

Na p rimeira metad e do século XX co nv ém ressaltar algumas ed içõ es do Morais, do Cândido de Figueiredo, do Aulete.

3.2 Início da pro dução lexico gráfica no Brasil. Desde a fund ação da A cad em ia

Brasileira de Letras (A BL), M achad o de A ssis p ro gramara a elabo ração de u m v o cabu-lário de brasileirismo s. Em 1926-1927 a A BL co meço u a im p rim ir e rever a p rimeira parte desse trabalho , que não chego u a ser p ublicad o . Po sterio rmente ho uv e tentati-vas frustrad as de reto mar o emp reend imento .

Laud elino Freire ap resento u u m pro jeto de dicio nário à A cad emia, lembrand o aos acad êm ico s que to das as grandes acad emias euro péias a italiana e a francesa t i -nham estabelecid o co mo sua o bra máxima a elabo ração de u m d icio nário da língua. Co mo o p ro jeto da A BL se d esenvo lvia lenta e p recariamente, Laud elino d ecid iu elabo-rar u m d icio nário do p o rtuguês e mo nto u sua equip e para tal fim . O Grande e novíssi-mo dicionário da língua portuguesa, o rganizad o por Laud elino Freire, fo i p ublicad o no Rio de Janeiro de 1939 a 1944. Organizad o em cinco v o lumes, o d icio nário (FREIRE, 1939) p rim a pela riqueza vocabular, co m a inclusão de m uitas lo cuçõ es e exp ressõ es, neo lo gismo s e termo s técnico s, além de o utras qualid ad es co mo numerar as acep çõ es das p alavras-entrad a. Entre o utro s pro blemas apresenta o de não ter cuid ad o co m a inclusão de vo cábulo s meramente v irtuais e não d o cumentad o s na língua. Na Intro d u-ção de seu d icio nário , d iz Laud elino Freire que "o Brasil, país civ ilizad o e de v id a mais

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que quatro vezes secular, aind a não p o ssui o seu d icio nário , send o u m dos po uco s o u talvez o único nestas co nd içõ es" (FREIRE, 1939, p .xiv ).

Embo ra o

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Grande e novíssimo dicionário (FREIRE, 1939) buscasse p reencher um a lacuna cultural brasileira, de fato tento u atender a co nsulentes do Brasil e de Po rtugal,

igno rand o o p ro blema po sto pelas d iv ergências existentes entre as duas varied ad es do po rtuguês, tanto no do mínio lexical, no qual elas são mais abund antes, co mo tam -bém no g ram atical e sintático . Laud elino Freire ind ico u os vo cábulo s usado s em Por-tug al co mo lusitanismo s, bem co mo os do po rPor-tuguês da Á frica e d a Á sia, co nsid eran-do que fazia u m d icio nário para brasileiro s. Esse dicio nário (FREIRE, 1939) tento u pad ro nizar a o rto grafia, p ro blema extremamente sério para as so cied ad es de língua p o rtuguesa naquela ép o ca, dado o caos o rto gráfico em que se v iv ia. Não o bteve g ran-de sucesso e não chego u a uma segund a ed ição .

Entrementes, a A BL aind a não p ro d uzira o seu d icio nário , u m dos o bjetivo s de sua fund ação . Em 1940 a A cad emia inc u m b iu A nteno r Nascentes da elabo ração desse d i -cio nário . Fo i esco lhid o co mo mo d elo o Diccionario de Ia Real Academia Espanhola (Drae). Em 1943 Nascentes entrego u o manuscrito à ABL, o qual fo i apro vad o para p u -blicação . Passaram-se aind a anos até que esse dicio nário fosse p ublicad o - 1961-1967 - em cinco v o lumes.

A no menclatura do d icio nário de Nascentes (1961), ou da A cad em ia Brasileira de Letras, to taliza ap ro ximad amente 100.000 verbetes. Não há abo naçõ es nos verbetes; quand o necessário para o entend imento da d efinição , o d icio narista crio u exemplo s, que são , porém, raros. A pesar das muitas qualid ad es desse dicio nário , ele também não teve grand e fo rtuna. Primeiro , po rque fo i p ublicad o muito s anos d epo is de co ncluíd o e não há nad a que env elheça mais do que o léxico ; segund o , p o rque resulto u em o bra vo lumo sa e o público co mp ro v ad amente prefere co mpulsar uma obra lexico gráfica em apenas um v o lume e que lhe custe meno s.

3.3 Relativ amente à d escrição do léxico brasileiro , na verd ad e, nenhum desses d i -cio nário s havia-se d esincum bid o dessa tarefa.

Durante século s o léxico do po rtuguês brasileiro tiv era a língua falada co mo su-p o rte. A fixação da v aried ad e brasileira do Po rtuguês fo i u m su-pro cesso lento que abran-geu século s. Na verd ad e, as grand es obras lexico gráficas do século XIX retrataram apenas o po rtuguês euro p eu.

Co nvém lembrar que o po rtuguês do Brasil (PB) é essencialmente a mesma língua de Po rtugal. A s características lingüísticas típ icas do PB situam-se no plano da norma e não do sistema. Entretanto , é no léxico que o po rtuguês do Brasil mais se d isting ue do po rtuguês euro p eu.

So mente em 1938 o po rtuguês brasileiro passo u a co ntar co m um d icio nário que registro u seu patrimô nio lexical: o Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa (PDBLP), obra mo d esta e de po rte red uzid o . É imp o rtante lembrar aqui que o d icio nário é u m instrum ento ind ispensável e imprescind ível na fixação do léxico de uma língua e ferramenta básica na co nso lid ação de uma língua escrita e literária.

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llan-da Ferreira aparece co mo co labo rado r e rellan-dato r. A partir llan-da 6- ed ição do PDBLP, A uré-lio Buarque de Ho lland a Ferreira passo u a ser seu p rincip al ed ito r, tend o trabalhad o intensamente em to das as suas ed içõ es sucessivas. O PDBLP teve onze ed içõ es, sendo a última de 1967; sua carreira glo rio sa fo i interro mp id a quand o a d itad ura militar fe-cho u a Ed ito ra Civilização Brasileira, que o p ublicav a. Esse desastro so feito do arbítrio político d eixo u os brasileiro s no v amente órfãos de um po rta-vo z da sua v aried ad e lin-güística. Tal lacuna d icio narística p o ssibilito u a A urélio Buarque de Ho lland a Ferreira p ublicar seu d icio nário em 1975, o bra essa que inicio u também um a carreira de suces-so, em grand e parte por não ter nenhum co nco rrente de peso naqueles ano s em que o Brasil já se to rnara uma nação mo d erna e carecia tremend amente de u m d icio nário para preencher suas necessid ad es básicas de fornecer u m padrão lingüístico e lexical e, mais aind a, um padrão o rto gráfico .

4 A lexicografia em língua portuguesa na contemporaneidade

Nesta última parte, serão co mentad o s os quatro d icio nário s gerais do p o rtuguês co ntemp o râneo :

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o Aurélio (FERREIRA , 1975, 1986, 1999), o Houaiss (2001), o Dicioná-rio de usos (BORBA , 2002 ) e o Dicionário da Academia (DICIONÁ RIO..., 2001).

4.1 Um dos pro blemas do dicio nário Aurélio (FERREIRA , 1975, 1986, 1999; é a falta de fund amenfaltação teó rica de natureza lingüística e lexico ló gica. Existem im p ro -p ried ad es na id entificação de lexias co m-plexas e nas subentrad as dos v erbetes. De fato, as fro nteiras entre uma unid ad e lexical co mplexa e u m sintag ma d iscursiv o liv re são m uito d ifusas, po is a lexicalização das unid ad es co mplexas não se v erifica de mo d o unifo rme. Para melho r exp licitação desse argumento , cito trabalho m g u não -pu-blicad o , A unidade lexical e o lema do dicionário de língua:

Nas realizaçõ es d iscursivas (orais e escritas) as fro nteiras entre uma unid ad e lexical co m-plexa e um sintagma d iscuisiv o são difusas. Existe toda uma gama de soldadura entre os ele-mento s de uma seqüência lingüística. Ocorre um processo de cristalização dessas sequências d iscursivas que pode desaguar naquilo que chamaremos de lexia complexa. A ssim, po demo s id entificar lexias complexas cujos elementos componentes estão perfeitamente soldados, e o u-tras com um forte índ ice de co esão interna. Quase poderíamos afirmar que a freqüência do uso vai dando aos falantes um forte sentimento de ciistalização da seqüência d iscursiva ...

O fenô meno da lexicalização das unidades complexas não se verifica de modo unifo rme. Os falantes d isco rd am quanto ao grau de cristalização dessas unidades, máxime os grupo s pro fis-sionais, usuários das linguagens especializadas.

Co mo o léxico é u m co njunto aberto

A s combinatórias lexicais discursivas po d em deixar de ser meras co mbinató rias freqüentes de unidades léxicas para se co nverterem em novas unidades do léxico da língua. (BIDERMA N, 2000)

A lém disso , uma vasta gama de ambigüid ad es se o rigina na o rto grafia, co nserva-dora e inco nsistente, uma vez que muitas unid ad es co mplexas já catego rizad as em lexias co mplexas são grafadas como se fossem várias unid ad es.

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rtssiiu, p u i e x e m p i u , na enu au a/ v eiu ei.e

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agua, u

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nuieiio \r&r\r\&mt\, iv/o, i » o o ,

1999) inclui co mo subentrad as: água benta, água destilada, água mineral, água oxige-nada, água potável, o que pro ced e, uma vez que tais unid ad es léxicas são , de fato , v a-riaçõ es de uma entid ad e d esignad a co mo água. E o d icio nansta d isting ue, co m p erti-nência, co mo entrad as separadas: água-de-colônia, água-de-coco, co nsid erand o -as unid ad es léxicas d istintas, Isso faz sentid o , uma vez que água-de-coco e água-de-co-lônia não são mo d alid ad es de água.

Há o utro s casos, po rém, em que o d icio narista d ev eria ter d ad o entrad a separad a para sintag mas lexicalizad o s (palavras co mpo stas) que d esig nam co nceito s bastante d istinto s e já d istanciad o s da base lexical de que d eriv am. E o caso d e: ar-condiciona-do, assistência social, folha corrida, por exemp lo . Essas unid ad es léxicas co mp lexas d eriv am de ar, assistência e folha; po rém, no atual estad o smcrô nico do p o rtuguês, co nstituem unid ad es léxicas autô no mas, d ev end o ser-lhes d ad o o estatuto de pala-vras d istintas que co mp õ em o acervo vo cabular da língua; lo go , d ev em integ rar a ma-cro estrutura do d icio nário .

Basta opor tais d ecisõ es a o utras so luçõ es d iferentes em que A urélio (FERREIRA , 1975, 1986, 1999) d eu entrad a a palavras co mp o stas co nsid erand o -as v erbetes: ca-pim-açu, capim-amargoso, capim-bambu, capim-guiné, do-pará, castanha-do-maranhão.

Há também inco erência no uso do hífen, po is ora o d icio narista grafa a unid ad e co mp lexa co m hífen, ora sem hífen.

Outro s p ro blemas surg iram de A urélio (FERREIRA , 1975,1986,1999) ter-se curv a-do ao peso da trad ição lexico gráfica, d and o entrad a ind iv id ual a palavras d esap areci-das de há m u ito no uso da língua. É o caso de v erd ad eiro s fó sseis lexicais co mo guisa, soslaio. Ora, tais v o cábulo s não existem mais no p o rtuguês co ntemp o râneo - são pa-lavras mo rtas. A ssim , o d icio narista d everia ter co nsid erad o à guisa, de soslaio co mo entrad as da no menclatura, v isto co mo são esses ad vérbio s, ou lo cuçõ es ad v erbiais, que p erd uram na língua mo d erna.

Outra inad equação de Mestre A urélio: a não -d iscnm inação de m uito s ho mô nimo s hoje ind iscutív eis no p o rtuguês mo d erno . Por ter to mad o co mo mo d elo o Diccionario de la Real Academia Espahola (DICCIONA RIO..., 1956), co nsid ero u co mo ho mô nimo s apenas palavras de étimo d iferente. A d icio narística mo d erna prefere tratar co mo ho -mô nimo s palavras de fo rma id êntica mas cujo sig nificad o está tão d istanciad o que não p o ssuem mais semas co muns, mesmo se, no passado, esses v o cábulo s tiv eram uma mesma o rig em . É o caso de banco, barbeiro, bote, cabo, canal, estado, montar, ponto, renda, trevo etc. Em alguns casos o d icio narista d isting u iu os ho mô nimo s,

co mo em jbanco, cabo, renda; mas em o utro s, não .

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na-lismo s do Brasil, os quais A urélio marco u como

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brasileirismos, nu m to tal de 24.632. Ge-ralmente o d icio narista registro u a região do país em que o vo cábulo seria usado.

Care-ce, porém, de critério nesse caso também. Não ind ico u nenhuma de suas fo ntes d o cumentais em que teria co lhid o tais regio nalismo s. Ora, os glo ssário s e os vo cabulá-rios de regio nalismo s p ublicad o s no Brasil, nos século s XIX e XX, co m po ucas exceçõ es, não são fid ed igno s. Seja como for, Mestre A urélio jamais registro u suas fo ntes de reco-lha, o que seria ind ispensável para u m dicionário geral da língua co m auto rid ad e.

4.2 O d icio nário Houaiss (2001) revela d esco nhecimento da Teo ria Lexical, Gra-matical e Lingüística.

Um exemplo é o tratamento dado a unid ad es meno res que a palavra co mo morfe-mas derivacionais e elementos de composição. Embo ra os d icio nário s mo d erno s i n -cluam, e co m razão , esse tip o de fo rmantes de palavras, imp o rta que os d icio naristas tenham bem claros e d efinid o s tais co nceito s. Não é o que ocorre no Houaiss (2001), sendo d iscutível a inclusão , nesse d icio nário , de muitas unid ad es co mo elementos de composição em desaco rdo co m a Teoria Lexical. No Houaiss (2001) há inúmero s des-lizes, incluind o -se u m número imenso de pseud o -elemento s de co mp o sição . De fato , muitas vezes são aí incluíd o s co mo elementos de composição p seud o mo rfemas que não p o d em ser assim catego rizad o s. Exemplo s: deix-, desequ-, desentros-, eleit-, en-vid-, fabr-, lobreg-, mend-, nomo-, -oivar, plant-, pot-, prec-, put-, reboe-, senh-, sime-tr(i/o)-, temper-, trib-. Tais segmento s não têm auto no mia. Em m uito s casos trata-se de raízes o u rad icais. Mas não são elementos de composição.

É v erd ad e que a questão das fro nteiras entre a co mp o sição e a p refixação é co n-tro versa. Co ntud o , os exemplo s citad o s e centenas de o un-tro s não p o d em ser classifi-cados nem co mo prefixo s, nem como elemento s de co mp o sição .

No Houaiss (2001), a

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nomenclatura

inclui u m número imenso de efiaçõ es vir-tuais que não estão d o cumentad as. A lg uns exemplo s: abrenunciar, açafatar, diluviar,

dobragem, doidaria, enfastiadiço, enfatismo, faxinai, feriar, feriável, gêníto, imiscível, impolítica, impolítico, inesculpido, manducação, manducativo, manducável, martele-jar etc. Co mo afirmamo s, no início , citand o Lara (1992) e Rey (1994), o d icio nário representa a memó ria co letiv a da so cied ad e, reco lhend o o acervo e o "registro das sig -nificaçõ es que nossa memó ria não é capaz de memo rizar" (REY, 1994, p .xv ii).

M uitas das co ntrafaçõ es do Houaiss (2001) d eriv am do fato de que ele reco lheu sua no menclatura em vários d icio nário s gerais do po rtuguês que o p reced eram, os quais careciam de rigo r na seleção das palavras-entrad a.

Na ciência d icio narística co ntemp o rânea co nsid era-se que uma p alav ra faz p arte do patrimô nio léxico da língua se ela tiv er sido usada n u m d eterminad o número de vezes por d iferentes falantes e tiver o co rrid o em mais de u m tip o de gênero . De fato , o dicio nário deve recolher e registrar o vo cabulário em circulação na co munid ad e dos falantes (em geral os mais educado s, mas não apenas) d o cumentand o essa norma lin-güística de sig nificad o s e usos, que não são necessariamente literário s, p o d end o ser, por exemplo , texto s jo rnalístico s.

Ho uaiss (2001) d eclaro u em seu prefácio que seu d icio nário inclui to d o s os regio nalismo s brasileiro s, a grand e maio ria dos po rtugueses, bem como v o cábulo s regio -nais de to d o s os p aíses de fala lusófona. Isso é, no mínimo , u m exagero. A cresce que não são ind icad as suas fo ntes d o cumentais de regio nalismo s. No que resp eita ao

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tuguês do Brasil, fica ev id ente que sua fo nte de reco lha fo i o d icio nário

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Amélio (FER-REIRA , 1975,1986), cujas limitaçõ es nesse p articular já fo ram co mentad as. Cabe

res-saltar que o p ro blema dos regio nalismo s aind a não fo i examinad o co m o rigo r que essa matéria requer. Sena necessária uma pesquisa de camp o em to d o s os recanto s do Bra-sil para po der d irim ir dúvidas em relação às p recárias fo ntes d o cumentais existentes e restabelecer a verd ad e lexical.

Quanto a palavras obsoletas, existe uma pleto ra de arcaísmo s no Houaiss (2001).

No capítulo

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"etimologia

e histó ria das palavras", os auto res do d icio nário reiv ind i-cam co mo uma marca de sup erio rid ad e do Houaiss (2001) sobre os d icio nário s co

n-temp o râneo s do po rtuguês o tratamento dessa questão , o que é questio náv el. A língua p o rtuguesa não po ssui estudo s co nfiáveis sobre a história de seu léxico em seu co n-junto para que se po ssam fazer afirmaçõ es categ ó ricas sobre a o rig em e a evo lução de u m número co nsid erável de palavras do nosso vo cabulário

Em suma, para o p o rtuguês d o Brasil, o A uréJio (FERREIRA , 1975,1986,1999) co n-tinua sendo u m d icio nário mais co erente e de melho r qualid ad e técnica que o Houaiss (2001) .

M uitas das d eficiências d etectad as no Aurélio (FERREIRA , 1975,1986,1999) e no Houaiss (2001) co m relação à no menclatura do dicio nário resulto u de não terem eles se fund amentad o em um corpus de texto s para d o cumentar e auto rizar a seleção das palavras-entrad a, isto é, do s lemas d e sua macro estrutura. A d icio narística mo d erna se baseia em um corpus informatizado de referência p aia a extração e a seleção das entrad as (lemas) do dicio nário . Em se tratand o de u m grand e d icio nário geral da lín-gua, esse corpus precisaria ter grandes d imensõ es e ser m uito d iv ersificad o para pre-tend er representar o acervo lexical da língua.

4.3 O Dicionário de usos do português do Brasil (DUP), elaborado por F. S. Borba (2002) e o utro s d o centes da Faculd ad e d e Ciências e Letras d a UNESP, Camp us d e A ra-raquara, baseou-se em um corpus de língua escrita de mais de 70 milhõ es de palavras do p o rtuguês brasileiro co ntemp o râneo de 1950 a 1997. Esse co rp us caracteriza-se por ser m uito d iv ersificad o e m u ito rep resentativ o da varied ad e brasileira co ntemp o râ-nea, incluind o to d o s os tip o s de gênero . O dicio nário (BORBA , 2002) to taliza ap ro xi-mad amente 62.000 verbetes e mais de 125.000 acep çõ es. Uma de suas características é d o cumentar cad a sig nificad o e/ ou uso da p alav ra-entrad a co m co ntexto s reco lhid o s no corpus. Por essa razão representa, de fato, u m retrato do po rtuguês brasileiro co mo está sendo usado pelos usuário s da língua hoje.

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também não co nsid ero boa a d ecisão de igno rar co m freqüência o fenô meno da

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homo-nímia, so bretud o a ho mo nímia de tip o catego rial. A ssim , substantiv o s e ad jetivo s,

verbos e substantiv o s ho mô nimo s têm um único lema como entrad a; os d istinto s va-lores semântico s são arrolados como acep çõ es d iferentes de uma mesma unid ad e le-xical co nsid erad a, p o rtanto , como p o lissêmica. A ssim , co nsid ero u-se frio adj. / frio N m . co mo u m só lema, isto é, uma unid ad e lexical. Igualmente: fundo ad j. / fundo N m . / fundo adv. co nstitui u m único v erbete. Os d iferentes usos catego riais são registrad o s como ac ep ç õ es d iferentes da mesma unid ad e léxica. Isso não só não ajuda o co nsu-lente a localizar o vo cábulo que p ro cura, co mo também é inexato teo ricamente. De fa-to, a categ o riz ação sintática já se d eu em nível do sistema da língua e po d emo s e de-vemos co nsid erar cada uma dessas fo rmas como unid ad es léxicas d iferentes. A ssim , no DUP (BORBA , 2002), as categ o rizaçõ es d iferentes estão embutid as no mesmo ver-bete, co ntand o apenas como novas acep çõ es do vo cábulo . Não entrarei em maio res d etalhes, mas parece-me um tanto inco erente dar-se p rimazia para a sintaxe em um caso (ad o ção da Teoria das Valências) e não se dar no o utro : categ o rização g ramatical das unid ad es léxicas. Tal questão d eriv a em p arte de uma d ecisão teó rica infeliz para elaborar o d icio nário : a classificação dos substantiv o s como no mes. Não é que esteja errado, claro, uma vez que os substantiv o s são no mes. Co ntud o , há d o is po réns. De um lado, igno ra-se a lo nguíssima trad ição g ramatical e lexico gráfica da língua p o rtu-guesa, que sempre d isting uiu as duas classes no minais: o substantiv o e o ad jetiv o , em grand e parte por causa das p eculiarid ad es sintático -semânticas de cada uma delas. No caso da d escrição d icio narística, resulto u numa inco nv eniência séria. Fo i p reciso mud ar to d o o mo delo de d escrição do substantiv o ; isso tem muitas co nseq üências. Go staria de lembrar uma delas. O substantiv o é a p rincip al classe de palavras no pro -cesso de g eração do léxico e co nstitui a metad e das palavras do vo cabulário de uma língua. Por isso funcio na co mo a base p rincip al de fo rmação de lexias co mp o stas e co mplexas p articularmente no domínio das ciências e das técnicas. O mo d elo teó rico fo rmal ad o tad o pelo DUP (BORBA , 2002) crio u emp ecilho s na id entificação das unid a-des d eriv ad as por co mp o sição e so bretud o sua ev entual inclusão co mo subentrad a no interio r do v erbete. Vejam-se exemplo s: poder, verbo , e poder, substantiv o , fo ram tra-tado s n u m único verbete; e poder executivo fo i co nsid erad o uma unid ad e léxica co m-po sta, entrand o co mo u m lema da no menclatura. Mas em poder executivo o valor semântico básico (os semas) do substantiv o poder estão presentes. Lo go , não se jus-tifica a entrad a autô no ma. E onde estão poder legislativo e poder judiciário^ Caso

si-milar é o de água. Água-de-cheiro, água-de-coco, água-de-colônia são entrad as, o que

é legítimo , po is não são tip o s de água, mas referem co nceito s m uito d istinto s no u ni-verso extralingüístico . Entretanto , co mo subentrad a no verbete água d ev eriam co

ns-tar água potável, água salobra, água destilada, água oxigenada.

Penso também que a equip e de d icio naristas d everia ter d esprezad o os hapax le-gomena, isto é, as palavras que o co rreram apenas uma vez no corpus, o que não fize-ram. A ssim , estão registrad as como entrad as, palavras cujo uso na língua da co m uni-dade co mo um to d o é m uito questio nável. Como se p retend eu fazer u m d icio nário de usos, vejo nisso uma inco erência. Os hapax p o d em representar palavras usadas ad hoc em circunstâncias p articulares, caracterizand o o id io leto de u m falante o u até de

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u m escrito r. N em por isso fazem parte do acervo vo cabular da língua co mo instituição so cial e histó rica.

4.4 O

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Dicionário da Academia (DICIONÁ RIO..., 2001) po ssui ap ro ximad amente 70.000 entrad as. Descreve o léxico da língua p o rtuguesa co ntemp o rânea abrangend o os século s XIX e XX. Co nsiderar o vo cabulário do século XIX co ntemp o râneo é certmente inad equad o . Este dicio nário inclui também info rmaçõ es so bre o utras v aried a-des do p o rtuguês co mo a brasileira e as varied ad es de p aíses lusó fo no s da Á frica. Des-tina-se a u m público amp lo .

O Dicionário da Academia utiliz o u co mo corpus de referência:

• obras p ublicad as d esd e 1824 até 1994 (Po rtugal, Brasil e p aíses lusófonos da Á frica); • obras institucio nais po rtuguesas;

• Diário da A ssembléia da República;

• leis e u m corpus do Supremo Tribunal de Justiça; • perió d ico s: jo rnais, revistas.

No item relativo à biblio grafia utilizad a, co nstam d icio nário s variad o s da língua p o rtuguesa e de o utras línguas: latim, francês, inglês etc.

Trata-se uma obra descritiva mas também normalizadora no que se refere à

grafia, à fo nética, à hifenação de co mpo sto s e co m respeito ao p ro blema do ap o rtu-guesamento de estrangeirismo s.

No que se refere aos

estrangeirismos,

este d icio nário tem uma p o sição bem-es-tabelecid a, co erente e fund amentad a ling uisticamente. Geralmente na fo rma ap o rtu-guesad a (ex.: abajur), incluiu-se o co nteúd o do verbete co m remissão à segund a en-trad a (sem texto definitório) da fo rma estrangeira o riginal \abat-jour] o nde co nsta a remissão para a fo rma ap o rtuguesad a abajur. Fo i uma d ecisão acertad a, essa d up la entrad a - o lema estrangeiro e o vo cábulo equiv alente ap o rtuguesad o . Esse é tam bém o caso de chauffage e chauffeur, que remetem à entrad a do equiv alente p o rtuguês aquecimento, motorista, o nd e as palavras estão d efinid as. E de numero so s o utro s ver-betes. A ssim , em e-mail faz-se a remissão : V. correio electrónico. A lexia co mp o sta correio electrónico aparece co mo co mbinató ria ou subentrad a no v erbete correio (acep ção 11). Infelizmente essa inserção no interio r de u m verbete - correio - é um a d esv antag em para o co nsulente que po de ter algum trabalho em localizar correio elec-trónico. E verd ad e, porém, que o d estaque em neg rito ajuda na co nsulta.

Por o utro lado, esse exemplo de correio electrónico ilustra bem u m dos p ro blemas so bre o co nflito entre as varied ad es do po rtuguês, criand o impasses para o uso d este d icio nário por usuário s da v aried ad e brasileira. Sabemos que, a d espeito do Acordo ortográfico, as no rmas do po rtuguês euro peu e do po rtuguês brasileiro c o ntinuam sen-do d iferentes. Ver também o utro s exemplo s em que o co rrem d iferenças nas fo rmas de ap o rtuguesamento e, p o rtanto , nas grafias: po rtuguês euro peu brífmgue, cartune, ló-bi, parque de campismo. No po rtuguês brasileiro , geralmente a fo rma inglesa o rig inal é mantid a: briefing, cartoon, lobby e camping.

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Quanto ao tratamento do s

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homônimos,

fo i feita a d iscriminação catego rial, d

is-ting uind o -se d o is o u mais v o cábulo s, o que é co rreto e ad equad o . A ssim :

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frio1 ad j. /

frio2 s.m.; docente1 ad j. / docente2 s.m.f.; exterior1 ad j. / exterior2 s.m.; falecido1 ad j. /

falecido2 s.m.; saneador1 ad j. e saneador2 sub.; sucursal1 ad j. e sucursal2 sub. No caso

dos ho mô nimo s semântico s, nem sempre fo i feita a d iscriminação em itens lexicais d iferentes, d and o -lhes entrad as separadas. Por exemplo : canal co m to do s os seus sen-tid o s fo i tratad o co mo p o lissemia, a saber: 1. canal de irrigação , 2. Canal d a M ancha..., 9. canal d e televisão . Entretanto , cabo1 está separado d e cabo2, embo ra ambo s sejam

v o cábulo s que d eriv am de caput do latim .

Em cada v erbete o d icio nário ind ica o

étimo

do lema. Vejamos alguns exemplo s. Casos de vo cábulo s de o rig em ind ígena: jacaré (do tu p i yaka1 ré "o curv o "); jararaca (do tu p i yara' raka) [cf. Cunha: "que envenena ao ap anhar"]; mirim (do tu p i m i ' ri) |cf. Cunha: m i ' ri "p equeno "]; paçoca (do tu p i p a' soka) [cf. Cunha: pa'so ka; piaba (do tu p i p i' aw a "de pele manchad a")]; tapera (do tu p i ta' pera " ald eia extinta") Bras. Casa ve-lha, em ruínas. A p esar de o d icio nário co brir p arcialmente u m vo cabulário típ ico d o Brasil, não co nstam d o d icio nário : jataí, jatobá, jaú, jirau, pacu, uaçaí, ubá, uiara e tc , e m uito s o utro s itens lexicais que referem

elementos da realidade brasileira

co mo p ássaro s, peixes, animais e plantas.

A ind a relativ amente à

etimologia,

o dicio nário registra étimo s de p ro ced ências variad as: a) moqueca (do q u im b .m u ' keka); jiló (do q u im b . njilu); tanga (do q u im b . ntang a "pano "); b) nascituro (do lat. nasciturus, part. fut. do v. nasci "nascer"); tarame-la, tramela (do lat. trabella, d i m . de trabes "trav e"); c) jihad (ár.); jarra1 (do ár. d jarra,

"vasilha d e barro para ág u a" ) ; d) sangria (do cast. sangria); e) jingle (ingl.), b em co mo criaçõ es v ernáculas. Em m uito s casos, info rma-se apenas sobre a o rig em do étimo co mo no s exemplo s citad o s (jihad, jingle e sangria). A d esp eito de o corpus de refe-rência ind icar d icio nário s etimo ló gico s, a m eu ver, a ciência da Etim o lo g ia não está suficientemente d esenv o lv id a em bases científicas no m und o lusófono para que se possa certificar co m rigo r a o rig em e a evo lução de grand e p arte do nosso vo cabulário . A ssim , tais info rmaçõ es, em muito s casos, têm de ser vistas co m ressalvas.

No que se refere aos registro s sobre

marcas de uso,

o Dicionário da Academia (DICIONÁ RIO..., 2001) classifico u certas ac ep ç õ es co mo típ icas do Brasil, marcand o -as co mo brasileirismos (Bras.); várias vezes tal info rmação é d iscutível. Seria nec essá-rio saber qual a fo nte da info rmação usada pelos d icio naristas. Presumo que seja ex-clusiv amente o Dicionário Aurélio. A lg uns exemplo s: sabiá Bras. Pop. p equena ferid a que se abre nos canto s da bo ca = bo queira. [Essa acep ção é d iscutível.] Moqueca: 3. Bras. Cul. Peixe assado na grelha, envo lto em folhas de bananeira. 4. Bras. Enfiad a d e peixes pequeno s. 5. Bras. Esp écie d e cataplasma feito co m fo lhas de m ang ueira e d e tabaco , que co lo ca sobre a c ab eç a para debelar cefaléias. [Essa ac ep ç ão é d iscutív el.]; bombeiro: Bras. Canalizado r. - Parece que só no Rio de Janeiro se uso u bombeiro co m tal sentid o , mas não sei se as novas g eraçõ es o utiliz am; de qualquer fo rma, não co-nheço registro fid ed ig no em o utras regiõ es do Brasil, que justificassem a marca Bras. A ind a no v erbete bombeiro: Bras. Fam. Criança que, d urante a no ite, tem inco ntinên-cia urinária. N unca o uv i o u v i tal uso, embo ra ambo s os usos co nstem do Aurélio. E muito s o utro s exemplo s co mo : Capoeira3 Bras. Os sig nificad o s 4 e 5 são d iscutív eis.

Capoeiro3 como ad jetiv o também. Capoeiro3 s.m. Pequeno veado [Essa ac ep ç ão é d

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cutível.j Veja-se aind a a estranha info rmação em

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encardido: Bras. "diz-se de co isa so-bre a qual é difícil dar uma o pinião ". E aind a: tapera: entrad a como ad jetiv o . 1. Diz-se

da casa o u prédio que não está habitad o . 2. Que é meio to nto , am alucad o .5 Tico-tico: 3. Estabelecimento de ensino básico ; escola primária. E também: 2. Pessoa o u co isa de red uzid as d imensõ es, de po uca imp o rtância.6 xodó Bras. A to de namo rar = namo ro .

Essas po ucas amo stras ev id enciam que a questão dos brasileirismos e regionalis-mos brasileiros precisa de uma pesquisa séria para que os d icio nário s fo rneçam info r-maçõ es co m maio r rigo r científico .

O uso do sinal + para ind icar co -o co rrentes p riv ilegiad o s não está ind icad o em itálico co mo se afirma nas "Ind icaçõ es para co nsulta do dicio nário ", mas em neg rito . Seja co mo for o mo delo não é bo m, d eixand o a desejar so bretud o em casos co mo o de água. Exemplo s: bombeiro ex. de co mbinató ria fixa: corpo + de bombeiros; encarnado1 adj. cartão + encarnado; chato, cara + chata ... nariz + chato ... pé + chato.

Tal sistema é realmente inad equad o para ind icar as "co mbinató rias fixas". Essas "co mbinató rias fixas" d ev eriam repetir a palavra-entrad a, seguid a dos elemento s que integ ram a co mbinató ria, para que haja maio r transp arência na d esco d ificação das in-fo rmaçõ es pelos eventuais co nsulentes.

Outras imp ro p ried ad es:

1. a d espeito dos exemplo s registrad o s no verbete celebrável, esse vo cábulo é apenas v irtual. De fato, não co nstam abo naçõ es.

2. Celenterado adj. A d efinição "Que pertence o u é relativo aos celenterad o s" está inco mp leta. Seria necessário fazer a remissão ao verbete celenterados, embo ra esse venha a seguir.

3. Celebrizar (De célebre + suf. -izar). Este verbete está bem d efinid o e até abo na-do ; porém, celebrização, que também tem entrad a própria, é u m tanto esdrúxulo; co nsta um exemplo , mas não u m registro que co nfirme que esta palavra o co rreu. Cha-to ad j. A abo nação de A lçad a Bap tista para este lema não fo i d ev id amente d o cumen-tad a, po is a obra não está incluída nas "fo ntes d o cumentais". Amover, amovível. Tais vo cábulo s seriam realmente usados em Po rtugal? Talvez na ling uag em juríd ica, o u como termo arcaico . O Dicionário da A cad emia (DICIONÁRIO..., 2001) dá co mo étimo para amover o latim amovêre. Em latim esse verbo amovêre é mais raro que movêre e é mais usado na ling uag em jurídica. Nas línguas latinas da Ibéria, amovível (port.) e amovijbie (esp.) são cultismo s. A ssim, é inad equad o o uso de amovível na d efinição da acep ção 3. De chaveta: "cunha amovível que serve para unir duas partes de u m meca-nismo o u de u m o bjeto ". Parece que as entradas amover e amovível p retend em justi-ficar essa d efinição . Tais palavras não co nstam do corpus d a UNESP [CEL, Camp us de A raraquara] de 180 milhõ es de palavras.

Nesse caso (amovível), a fo nte de referência para a A cad em ia p o d e ter sid o o Houaiss (2001), que, co mo já fo i d ito , p rim a pela inclusão de v o cábulo s exó tico s e raríssimo s, se é que já fo ram realizado s em texto s do p o rtuguês. Nesse d icio nário ,

5 A cepção discutível. De onde tiraram essa info rmação7

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enco ntramo s:

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amover, amovibilidade, amovível. Registra-se aí que o v erbo e o adje-tivo são do s século s XV e XVI, afirmand o -se que o ad jetiv o fo i extraíd o das

Ordena-ções Afonsinas. De fato , se a p alav ra tiv er alg um uso será apenas na ling u ag em jurí-d ica, co mo injurí-d ica o Dicionário jurídico de M ag alhães e M alta (1997); co ntud o , nesse d icio nário não existe u m v erbete para amovível e faz-se remissão a removível. De qualquer fo rma, o testem unho d esta o bra é que se trata de v o cábulo exclusiv o da lin-g ualin-g em juríd ica, hav end o nele também referência às Ordenações Afonsinas e Leis Novíssimas. Po rtanto , o v o cábulo amovível não d ev eria ser usado para d efinir na lín-gua geral.

Outro s senõ es: livre-docência: termo d efinid o co mo "ativ id ad e". Na v erd ad e é u m co ncurso e u m titulo . Por o utro lado, entraram co mo lemas e v erbetes autô no mo s: li-vre-circulação, íivre-trânsito a par de livre-arbítrio e livre-câmbio, o que está bem. En-tretanto , p ro p õ e-se co mo plurais: livres-arbítrios, livres-circulações, livres-câmbios e livres-trânsitos. Será que esses vo cábulo s são usados no plural?

No capítulo dos recurso s mó rfico s de geração do léxico , este d icio nário registra, por exemp lo : " Manu- elemento de fo rmação (Do lat. manus, mão ). Exp rim e a no ção de mão ". Tal classificação como "elemento de fo rmação " está co rreta, embo ra fosse me-lhor usar um termo co nsagrad o em Mo rfo lo gia Lexical formante.

Geralmente as d efiniçõ es são co rretas e ad equad as. Exs.: nação: "co njunto de pessoas ligad as por trad içõ es histó ricas e por uma língua, co stumes e instituiçõ es co-muns". Co ntud o , não co nsta nas fo ntes a referência da obra Casa do pó de F. Campo s, que abo na essa acep ção . De qualquer fo rma, é uma d efinição melho r que a do Aurélio (FERREIRA , 1975,1986, 1999) e a do Houaiss (2001).

Outro exemp lo de boa d efinição : CD-ROM, quintalão. Verbete bem-feito é o de: encardido. Lo uve-se o fato de esse ad jetiv o , d eriv ad o de part. pass., ter merecid b en-trad a própria; aliás, exp lico u-se no prefácio que, quand o necessário , hav eria u m ver-bete ind iv id ual para ad jetiv o p articip ial.

Há inúmero s exemplo s de verbetes que ev id enciam a imp o ssibilid ad e de se fazer u m d icio nário único , válido para as d iferentes no rmas do p o rtuguês. No caso das va-ried ad es brasileira e euro péia, esse d esid erato é inviável. Tem de ser co mo a A cad e-mia fez: o d icio nário fo i elaborado para os usuário s euro peus, co ntend o info rmaçõ es reg istrand o as esp ecificid ad es do po rtuguês do Brasil, so bretud o de natureza semân-tica e referencial co nfo rme salientad o .

A inclusão de vo cábulo s de o utras varied ad es do po rtuguês no Dicionário da Aca-demia (DICIONÁ RIO..,, 2001) é assistemática, d eixand o a desejar. Há u m número i n -suficiente de entrad as relativas às varied ad es do p o rtuguês não -euro peu, ap arecend o alguns itens quase co mo curio sid ad e, como por exemplo : termo s de M acau: chau-chau (chauchau), chau-min (chaumin); de São To mé: quinté (de quintal), quidalê; de A ng o la: quibeba, quibenza, quicola, quitaba. De fato , este d esid erato de co brir to d o o univ erso de língua p o rtuguesa no mund o até o mo mento presente está lo nge de ser factível. Co ntinuam a vigo rar as p ráticas do temp o de Cand id o de Fig ueired o , quand o a p retend id a co bertura univ ersal e integral do léxico do p o rtuguês em to do s os co nti-nentes revelo u-se uma falácia.

A pesar de tud o , o Dicionário da Academia (DICIONÁ RIO..., 2001) é certamente u m dos melho res d icio nário s gerais do po rtuguês co ntemp o râneo , se não o melho r.

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Fund amento u-se em critério s científico s e é co erente na sua estrutura e d escrição do

léxico . A d emais, e esta é uma de suas maio res v irtud es, baseo u-se em u m

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corpus de texto s do po rtuguês realmente p ro d uzid o s.

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• ABSTRACT: This article provides an overall view of dictionaries in the neo-Latm world, with a focus on the production of Portuguese dictionaries, mainly the reference works that cover the majority of the lexicon. After analyzing, in broad terms, the beginning of the dictionaris-tics in the Western tradition, it examines the most important early dictionaries of the Portu-guese language. The article discusses the first dictionaries made in Brazil, and, in the last chapter deals with the most recent general Portuguese dictionaries, analysing and critici-sing four dictionaries, three Brazilians - A urélio (FERREIRA , 1975), Ho uaiss (2001), D i-cio nário d e uso s (BORBA , 2002) and the European Portuguese Dicionário da Academia de Ciências de Lisboa (DICIONÁ RIO..., 2001).

• KEYWORDS: Dictionaries; Portuguese lexicography; lexicographical tradition; general dic-tionaries of Portuguese; contemporary dicdic-tionaries of Portuguese.

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