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Responsabilidade social na cadeia produtiva automotiva: estudo de caso

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA

PRODUTIVA AUTOMOTIVA

ESTUDO DE CASO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

(2)

FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA CENTRO DE FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESQUISA CURSO DE MESTRADO EXECUTIVO

E

TÍTULO

RESPONSABILIDADE SOCIAL NA CADEIA PRODUTIVA AUTOMOTIV A -ESTIJDO DE CASO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR: SERGIO DE MATTOS HILST

APROVADOEMr2l/

{)2/;lOOJ.,

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

ç~Q.~

FERNANDO GULIHERME TENÓRIO

DOUTOR EM ENGENHARIA DA PRODUÇÃO

MARCELO MIL NO FA CÃO VIEIRA DOUTOR EM ADMINISTRAÇÃO

~

(3)

RESUMO

o

objetivo da dissertação é compreender a responsabilidade social das organizações, tomando-se como estudo de caso duas empresas pertencentes à cadeia produtiva do setor automotivo. No intuito de manter o anonimato das empresas estudadas, elas foram denominadas: Empresa A, elo forte desta cadeia, e Empresa B, fornecedora de produtos críticos à produção industrial da Empresa A. O objetivo, então, foi pesquisar como a responsabilidade social é percebida pelos diferentes atores dentro de uma mesma cadeia produtiva. Dentro desta linha, foi verificado até que ponto a prática da responsabilidade social interna da Empresa A se reproduz na Empresa B. Isto implicou medir práticas de responsabilidade social interna. Para tanto, foi utilizada com o instrumento de pesquisa a norma Social Accountability (SA) 8000 considerada como a materialização de um consenso ético-normativo de políticas e de sistemas de Gestão da Qualidade Social. A norma apresenta-se como um sistema de auditoria similar ao ISO 9000 e 14000, sendo um sistema de implementação, manutenção e verificação de condições dignas de trabalho, constituindo-se num padrão social auditável, passível de certificação e verificação por terceiros. Entretanto, quando se fala de experiências aplicadas à causa da responsabilidade social deve-se minimizar as tentações em relação à implementação de sistemas de gestão como, por exemplo, o proposto pela SA 8000. Esta norma comporta-se como um aperfeiçoamento das práticas flexíveis de gestão fazendo com que a qualidade de vida no interior das empresas seja suscetível de se tomar mais um critério de desempenho para vencer nos mercados mais competitivos. Sob o ponto de vista desta pesquisa a responsabilidade social interna ocorreria dentro do mundo do trabalho se houvesse uma interação consensual entre o modelo de Gestão da Qualidade Social proposto pela norma e a cidadania. Esta interação denomina-se 'Gestão Social'. O objetivo maior do estudo, desta forma, é aumentar o entendimento acerca das práticas do exercício da responsabilidade social interna voltadas para a emancipação do trabalhador-cidadão.

(4)

ABSTRACT

The dissertation' s aim is to understand the social responsibility of the organizations, taking the cases of two companies belonging to the supply chain of automotive sector. In order to keep the anonymous of these companies, they were called Company A, strong link of this chain, and Company B, supplier of criticai products for the industrial production of Company A. The objective was to research how the social responsibility is perceived by the different actors within the supply chain. In this line, we verify if the practice of internaI social responsibility of Company A is reproduced in Company

B.

That implied on measurement of internai social responsibility practices. To-do so, we used the standard Social Accountability (SA) 8000, as an instrument of research, and considered as a materiaIized of a polítical ethical-normative consensus and a Social QuaIity Management system. The standard is presented as an auditor system similar to ISO 9000 and 14000 systems, being an implementation, maintenance and verification system for worthy work conditions, establishing as an auditable social standard, liable of certification and verification by third party institutions. However, when concerning experiences applied do the social responsibility's cause, we should minimize the temptations related to the implementation of management systems like, as an example, the one proposed by SA 8000. This standard behaves as an improvement of flexible practices of management, making the quality of life in the companies be susceptive to become other performance criteria to win in more competitive markets. For us, the internai social responsibility would occur within the workplace if there is a consensual interaction between Social Quality Management model proposed by SA 8000 and citizenship. We call this interaction of 'Social Management'. The main achievement ofthis study is to enlarge the understanding about practices of exercises of internai social responsibility toward the emancipation ofthe worker-citizen.

(5)

ÍNDICE

1. Introdução ... 01

2 . Capítulo 1 - Referencial Teórico ... 11

2.1. Flexibilização Organizacional: Referencial Teórico - Organizacional ... 12

2.1.1 Panorama da política social do trabalho no Brasil ... 12

2.1.2 Globalização da Economia ... 23

2.1.3 .Neoliberalismo ... 26

2.1.4. Valorização da Cidadania ... 30

2.1.5. Gestão Social ... 37

2.1.6. Terceiro Setor ... 47

2.2. Responsabilidade Social da Empresa: Referencial Teórico - Social ... 53

2.2.1. Responsabilidade Social ... 53

2.2.2. Ética Empresarial ... 60

2.2.3. Responsabilidade Social Interna ... 63

2.3. Nonna Sa 8000: Referencial Técnico - Organizacional ... 67

2.3.1. Apresentação da SA 8000 ... 67

2.3.2. Elementos nonnativos e suas interpretações ... 76

2.3.3. Requisitos da SA 8000 ... 78

2.3.3.1 Trabalho Infantil ... 79

2.3.3.2 Trabalho Forçado ... 82

2.3.3.3 Saúde e Segurança ... 83

2.3.3.4 Liberdade de Associação e Negociação Coletiva ... 84

2.3.3.5 Discriminação ... 86

2.3.3.6 Práticas Disciplinares ... 87

2.3.3.7 Horas de Trabalho ... 88

2.3.3.8 Remuneração / Compensação ... 89

2.3.3.9 Sistema de Gestão ... 91

2.3.4. SA 8000 como Sistema de Gestão ... 91

2.3.4.1 Política Social e Condições de Trabalho ... 92

2.3.4.2 Representantes da Administração ... 93

2.3.4.3 Representantes dos Trabalhadores ... 94

2.3.4.4 Análise Crítica pela Administração ... 94

2.3.4.5 Planejamento e Implementação ... 94

2.3.4.6 Controle de Fornecedores ... 96

2.3.4.7 Ação Corretiva ... 97

2.3.4.8 Registro ... 98

2.3.4.9 Comunicação Externa ... 99

(6)

3. Capítulo 2 - Referencial Prático ... 10 1 3. t Análise Comparativa das Responsabilidades Sociais Internas da Empresa A e

da Empresa B ... 101

3.1.1 Apresentação da Pesquisa ... 10 1 3.1.2 Trajetória da Pesquisa ... 103

3.1.3 Identificação dos sujeitos pesquisados ... 107

3.1.4 Critério para verificação da responsabilidade social interna ... 109

3.1.5 Análise comparativa da responsabilidade social interna - gestão da qualidade social ... 111

3.1.6 Resumo da análise comparativa da responsabilidade social interna ... 133

4. Conclusão ... 136

4.1. Considerações finais sobre aSA 8000 ... 138

4.2 Considerações finais sobre a responsabilidade social- gestão da qualidade social ... 141

4.3. Considerações finais sobre a responsabilidade social- gestão social ... 144

5. Referências Bibliográficas ... 149

(7)

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 01- Sujeitos pesquisados na Empresa A ... 108

Quadro 02 - Sujeitos pesquisados na Empresa B ... 109

Figura 01 -Fronteira entre gestão da qualidade social e gestão social ... 110

Quadro 03 - Etapas de análise da responsabilidade social interna ... 111

Quadro 04 -SA 8000 - Critérios fundamentais: trabalho infantil ... 112

Quadro 05 -SA 8000 - Critérios fundamentais: trabalho forçado ... 113

Quadro 06 -SA 8000 - Critérios fundamentais: segurança e saúde do trabalho ... 114

Quadro 07 - ... SA 8000 - Critérios fundamentais: liberdade de associação e direito à negociação coletiva ... 118

Quadro 08 - SA 8000 - Critérios fundamentais: discriminação ... 120

Quadro 09 - SA 8000·- Critérios fundamentais: práticas disciplinares ... 122

Quadro 10 -SA 8000 - Critérios fundamentais: horas de trabalho ... 123

Quadro 11 - SA 8000 - Critérios fundamentais: remuneração (salários e beneficios) ... 124

Quadro 12 -SA 8000 - Critérios fundamentais: sistema de gestão ... 126

Quadro 13 - Índice de confonnidade ... 134

Quadro 14 - Apuração dos resultados - critério essencial de verificação da responsabilidade social interna ... 135

(8)

1.

INTRODUÇÃO

Na era da informação, da economia globalizada - tempos de contradições sociais evidentes - defronta-se com um quadro de instabilidade social de contínuas crises econômicas e sociais, de um surpreendente avanço tecnológico e de um incipiente desenvolvimento nos campos morais, políticos e sociais. A área empresarial tem sido palco de discussões cada vez mais polêmicas e cruciais para o desenvolvimento do Brasil, e uma das questões mais controversas diz respeito ao papel que as organizações desempenham como agentes sociais. Existe um crescente consenso de que as empresas que buscam excelência devem ter a obrigação social de operar seus negócios de maneira ética, e ter como objetivos a qualidade nas relações institucionais e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Esta perspectiva está saindo do mundo das verbalizações para se firmar como uma referência prática, particularmente nos países em desenvolvimento, com as organizações repensando sua relação com a sociedade e assumindo aos poucos seu papel cidadão. Ademais as organizações, sejam públicas ou privadas, têm em comum a necessidade de organizar sua mão-de-obra, gerir seu capital e definir seu nível tecnológico da maneira que melhor lhes permita enfrentar a concorrência em termos de mercados.

(9)

empresarial visa melhorar não somente os aspectos internos, mas, também, as relações com todos os stakeholder.\·I.

Esse movimento fez com que as organizações refletissem mais sobre suas ações. Em um determinado pólo, a onda é ir além das expectativas, se antecipar a qualquer 'ataque' ao mais precIoso bem das empresas: a reputação da marca. O empresariado nacional tem demonstrado essa preocupação, aumentando o interesse em fazer parte do processo de desenvolvimento sendo os agentes de uma nova cultura, os atores de mudança social e os construtores de uma sociedade melhor.

No pólo oposto, a ação de um novo tipo de organização - definida como organização da sociedade civil ou organização não governamental (ONG\ ligada ao Terceiro Setor' -, fenômeno inovador e significativo, vem ocupando reconhecidos espaços e, assim, redefinindo o relacionamento das organizações com a sociedade. Através deste fenômeno a questão da responsabilidade social ganhou forte impulso. O

I De acordo com Robert Henry Srour em seu livro Érica EmpresariaL' posturas re5ponsáveis nos

negócios. na política e nas relações pessoais stakeholders são "os agentes que mantêm vínculos com a organízação, isto é os partícipes:

( I) na frente intenta. temos os trabalhadores. gestores e proprietários:

(2) na frente extenm. temos os cliente. fornecedores. prestadores de serviços. autoridades govenmmentais. credores, concorrentes. mídia. comunidade local. entidades da sociedade civil - sindicatos. associações profissionais. movimentos sociais. clubes de serviços. igrejas" (Srour. 2000:41) .

.. As O N Gs caracterizam-se por serem organizações sem fins lucrativos. autônomas. isto é. sem vínculo com o governo. voltadas para o atendimento das necessidades de organizações de base popular. complementando a ação do Estado. Têm suas ações financiadas por agências de cooperação internacional. em função de projetos a serem desenvolvidos. e contam com o trabalho voluntário. Atuam através da promoção social. visando contribuir para o processo de desenvolvimento que supõe transformações estruturais da sociedade. Sua sobrevivência independe de mecanismos de mercado ou da existência do lucro" (Tenório. 200 I: II ).

No Capítulo 2. no tópico Terceiro Setor. são utilizadas a contextualização e a definíção do tenno do autor Eduardo Szazi

(10)

papel desempenhado pelas ONGs é o de vetor gerador e acelerador do movimento de valorização da responsabilidade social, despertando os stakeholders para o sentido da cidadania e sobre quais mudanças se fazem a partir da participação de cada um e todos no processo.

Cada empresa tem suas peculiaridades advindas de sua principal atividade, porém o grande desafio ético e social que os gestores (de processos e de pessoas) precisam fomentar é que o trabalho enriqueça o homem além do sentido financeiro. Estes gestores devem direcionar suas reflexões e idéias num sentido mais ético, humano e responsável.

o

eixo desse estudo gira sobre o exercício de interagir de forma consensual

-patrões x trabalhadores - no interior das empresas, através de um novo modelo de gestão e cidadania. A intenção deste recorte é verificar até que ponto a execução prática da cidadania seria uma realidade cotidiana dentro de uma organização.

A preocupação foi segUIr uma linha de pesqUIsa que procura estudar e transferir formas e/ou modelos de gestão organizacional4 consoantes com os preceitos: (1) constitucionais brasileiros; e os (2) de uma sociedade econômica e socialmente

4

Foi utiiizaàa a idéia de um modelo de gesião que promova de maneira mais conscieme o envol"imemo do trabalhador no processo de trabalho. conforme definição dada pelo autor Femando G. Tenório em

seu livro Flexibilização Organizacional: mito ou realidade: "A este modelo de gestão da produção

(interface da organização da produção com a organização do trabalho) chamo de fle:âhilização

organizacional. que propõe às empresas uma forma de gerenciamento diferente daqueles preconizados

até então: da especialização do trabalhador (taylorista) à qualificação versátil (muItifuncional): da automação rigida (processo mecânico) à automação flexível (processo automático): da produção em massa (fordista) às demandas diversificadas do mercado (pós-fordista): da gestão tecnoburocrática

(monológica) a um gerenciamento mais participativo (dialógico). A flexibilização seria um paradigma

em gestão da produção que preconiza a diferenciação integrada da organização da produção e do

trahalho soh a trajetória de inovação tecnológica em direção à democratização das relações sociais nos sistemas-empresa"" (Tenório. 2000a: 15).

(11)

democrática - de ações sociais voltadas para o entendimento, particularmente no interior dos sistemas sociais organizados.

o

objetivo do estudo foi pesquisar como a responsabilidade social é percebida

pelos diferentes atores dentro de uma mesma cadeia produtiva. Seguindo esta linha, propusemo-nos a estudar a reprodução da responsabilidade social interna entre duas

empresas~ pertencentes à mesma cadeia produtiva.

Isto implicou medir suas práticas de responsabilidade social interna, por meio de pesquisa em formato de auditoria social. Esse tipo de auditoria é crível, verificável, passível de certificação e fiscalização por terceiros especializados. Como instrumento

OQjetivando manter o anonimato das empresas estudadas. elas foram denominadas empresas A e B. A seguir apresentamos breve descrição destas empresas:

Empresa A - iniciou suas atividades no Brasil na década de 1950, instalando seu primeiro escritório em São Paulo. Passados mais de quarenta anos. a empresa soma cinco modernas unidades de

produção no pais. além de três empresas coligadas e um grande número de escritórios de

representação e assistência técnica. Exporta seus produtos para 35 paises da Europa, Ásia África e Américas. A unidade fabriL objeto deste estudo. foi instalada em 1975 e ocupa urna área total de 600 mil metros quadrados sendo 70 mil de área construída. Esta fábrica detém a produção de autopeças. para veículos de pequeno. médio e grande porte. Os modernos sistemas produtivos resultam em um nivel de qualidade de fabricação que, além de garantir uma larga aceitação de seus produtos junto aos consumidores. proporcionou a esta unidade fabril a conquista do Certificado ISO 9001. A fábrica conta atualmente com 3.500 empregados diretos. é empresa líder (elo forte) da cadeia produtiva do setor automotivo.

Eml)reSa B - fundada no início da década de 1960. especializada na produção em série de peças de máquinas para empresas automotivas. em peças usinadas. em tratamento superficial realizado em

peças de alumínio e uma subdivisão de especializada em extrusão de alumínio. fornecedora da

Cadeia Produtiva da Empresa A. Sua linha de produção de equipamentos automotivos inclui: peças

para transmissão: componentes para bombas a diesel: componentes para sistemas de freios: peças

para injeção eletrônica de combustível. peças para sistemas de rolamentos. peças para motores e amortecedores. Em 1999 a empresa foi certificada nas normas ISO 9002 e QS 9000 nas suas duas unidades fabris. Conta atualmente com 816 trabalhadores e é um fornecedor crítico na cadeia

produti"a da Empresa A não apenas porque produz componentes de alta complexidade tecnológica

mas pelo alto volume de negócios e pelo expressivo quantitativo de itens críticos fornecidos à

(12)

de pesquisa foi utilizada a Norma SA 8000ó

, que é a materialização de um consenso

mundial que estabelece regras de ordem ética sobre a política e o sistema de responsabilidade social interna, sob as prerrogativas da Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas. A SA 8000 tipifica o futuro da responsabilidade social. pois se baseia em consenso e requer substancial transparência e divulgação pública.

No universo da SA 8000, empresas precisam fazer mais do que simplesmente declarações políticas, pois necessitam de verificação independente e de consulta prévia a seus srakeholders. Uma vez que toda cadeia produtiva esteja engajada e reproduza as práticas da responsabilidade social, estes resultados são significativamente ampliados consolidando os resultados econômicos, sociais e ambientais. Com esta norma a intenção é que as empresas criem uma cadeia de valor responsável, ou seja, quando as empresas comprarem uma das outras será exigido, além do preço e qualidade, algo mais. Este diferencial seria uma metodologia de gestão fomentadora de ações que venham acabar com o vácuo deixado pela nossa sociedade, problema este facilmente percebido em forma de ações antiéticas, falta de diversidade no quadro funcional, desrespeito aos limites emocionais do trabalhador, locais de trabalho inadequados, agressões ao meio ambiente e até uso de mão-de-obra infantil. Esta norma requer estudos teóricos e aborda em suas especificidades nove requisitos 7 que devem ser

(, A 'Social Accountability 8000' (SA SO()O) é uma certificação internacional que Yisa aprimorar o

bem-cstar c as boas condições de trabalho. bem como o desen"olYimento de um sistema de ycrificação que garanta a contínua conformidade com os padrões estabelecidos pela nomn

Os requisitos são os critérios fundamentais da nomla SA 8000 e qualquer empresa visando à

(13)

cumpridos pelas empresas certificadas, tanto no âmbito de suas unidades de produção como no de seus fornecedores: (1) proibição do trabalho infantil; (2) do trabalho forçado; (3) saúde e segurança; (4) liberdade de associação e direito à negociação coletiva; (5) da discriminação; (6) práticas disciplinares; (7) horas de trabalho; (8) compen~ação / remuneração; e (9) sistema de gestão.

Esses requisitos foram utilizados nesse estudo como base de verificação, medição e análise comparativa da responsabilidade social interna da unidade de produção da Empresa A e de seu fornecedor critico, a Empresa B.

o

objetivo, então, foi pesquisar e responder à seguinte questão: Até que ponto

a prática da responsabilidade social interna da Empresa A se reproduz na Empresa B?

Para tanto, além do desenvolvimento de um referencial teórico, três objetivos específicos, foram perseguidos, a saber:

L levantar a prática da responsabilidade social interna da Empresa A;

ll. levantar a prática da responsabilidade social interna da Empresa B;

lll. verificar as relações interorganizacionais, comparando as responsabilidades

sociais internas das duas empresas.

Pelo fato de a responsabilidade social como um todo atuar na dimensão social do desenvolvimento sustentado, tornando o tema amplo e complexo, foi necessário

(14)

pesquisadas são do tipo empresarial. Logo, o estudo é limitado às unidades de negócios das duas empresas, mais precisamente focalizando a responsabilidade social interna da Empresa A e da Empresa B, uma vez que ações sociais internas constituem o investimento no bem-estar e na qualidade de vida dos trabalhadores e seus dependentes, no respeito aos direitos do trabalhador como cidadão e na garantia de condições humanas de trabalho nas unidades de produção e na comunidade na qual as empresas estão inseridas.

A relevância do tema está associada ao redesenho das funções tradicionalmente exercidas pelas diferentes instâncias do governo, pela iniciativa privada e pela sociedade civil organizada. A partir da conscientização de todas as partes envolvidas neste redesenho da responsabilidade social, abre-se a possibilidade do desenvolvimento e implementação de sistemas de gestão social que beneficiem diretamente organizações e comunidades envolvidas.

Enfim, este estudo beneficia empresas de pequeno, médio e grande portes que têm interesse em trabalhar em sinergia com seus stakeholders, principalmente com

seus fornecedores, para alcançar a verdadeira relação de parceria como forma de ampliação das vantagens competitivas através da divulgação e implementação de ações sociais na cadeia produtiva.

No que se refere à metodologia da pesquisaS, o estudo se caracteriza como um

No Capítuio 3. no tópico Apresentação da Pesquisa é feita a caracterização da pesquisa, abordando-se os aspectos referentes ao tipo e à metodologia da pesquisa. à perspectiva de análise e ao modo de investigação. Em seguida o planejamento da pesquisa. onde são definidos os passos percorridos durante e para a realização da dissertação.

(15)

estudo de caso, uma vez que a temática se refere especificamente à Empresa A e à Empresa B. A caracterização da pesquisa é de natureza qualitativa9

. O universo da pesquisa foram as próprias unidades de produção das empresas. A amostra selecionada ocorreu entre os diretores, gerentes e trabalhadores das duas empresas, em conformidade com os procedimentos de auditoria da norma SA 8000. A metodologia observou a seguinte ordem: revisão da literatura, levantamento e análise documental. elaboração do referencial teórico e pesquisa de campo.

Levantamento de dados sobre o 'estado da arte' da norma SA 8000 foi feito via Internet e através de livros e normas adquiridos nos EUA e Inglaterra. Para auxiliar a pesquisa de campo foi contratada empresalO

de consultoria e auditoria, especializada em implementação dos procedimentos da norma SA 8000, responsável pela aplicação do questionário estruturado e entrevistas não estruturadas. Assim, a questão da responsabilidade social interna foi estudada à luz do referencial teórico e da aplicação

-} A abordagem qualitativa vem despertando cada vez mais o interesse dos pesquisadores. onde sujeito

e objeto são elementos integrados e co-participantes do processo. a partir do qual as ações. as estmturas e as relações tornam-se significativas. Enfatizamos a análise das condições de regulação social. a desigualdade e poder. Nesta abordagem "procura-se investigar o que ocorre nos gmpos e instituições relacionando as ações humanas com a cultura e as estruturas sociais e políticas. tentando compreender como as redes de poder são produzidas. mediadas e transformadas. Parte-se do pressuposto que nenhum processo social pode ser compreendido de fonna isolada. como uma instância neutra acima dos conflitos ideológicos da sociedade. Ao contrário, esses processos estão sempre profundamente vinculados às desigualdades culturais. econômicas e políticas que dominam nossa sociedade" (Alves-Mazzotti. 2000: 139).

10

(16)

prática nas duas empresas de auditoria de primeira partell

padrão SA 8000, procurando apresentar novas interpretações e compreensões sobre o assunto, em conformidade com a SAI:

"Nesta a empresa interessada na certificação deve investigar e garantir o

atendimento aos requisitos da norma SA 8000. É um processo de auto-auditoria com

a assislência. se apropriado, de qualquer uma das seguintes partes: ONGs locais.

consultores. representantes dos sindicatos. ou outros especialistas. É uma atividade

formal e documentada, inicia-se com reuniões de pré-auditoria, com os auditores

elaborando cronograma da auditoria, organizando os questionários e as entrevistas.

selecionando as ONGs. sindicatos e trabalhadores envolvidos. São ainda atividades

dessa etapa o trabalho preparatório para a empresa e seus fornecedores: (1)

explanação da natureza da auditoria aos trabalhadores. estipulando a necessidade de

se obter informações precisas; (2) requisitar a completa colaboração dos

lrabalhadores nas trocas de informações; e (3) apresentar as práticas e processos

idenrificados como ausentes ou necessários" (SAI, 1999:39).

Quanto à estrutura, a dissertação está dividida em dois capítulos, subdivididos em quatro itens, além desta introdução e da conclusão. No primeiro capítulo, com três itens, é apresentado o referencial teórico, como segue.

No pnmelro item, chamado "Flexibilização Organizacional: referencial-teórico organizacional", vê-se um panorama da política social do trabalho no Brasil e

11

Âuditoria de I)rimeira parte é a etapa inicial do processo padrJo de cenificação SA 8000 numa empresa.

(17)

são discutidos os processos de globalização e neoliberalismo; os conceitos de valorização da cidadania, da gestão social e do terceiro setor.

No segundo item, denominado "Responsabilidade Social da Empresa: referencial teórico-social", são apresentados e discutidos conceitos de responsabilidade social, ética empresarial, abordando mais especificamente a responsabilidade social interna das organizações.

No terceiro item, denominado "SA 8000 - Norma de Gestão da Qualidade Social: referencial técnico-organizacional", é exposto, em linhas gerais, um panorama inicial da história da Social Accountability (SA) 8000; descrita a norma

como um código de responsabilidade social internacional; demonstrados os objetivos e as conseqüentes interpretações deste documento normativo. Finalmente, são apresentados os requisitos da norma, além da descrição dos subsistemas característicos da norma como Sistema de Gestão da Qualidade Social.

o

segundo capítulo trata do estudo de caso e é composto por um item,

denominado "Análise comparativa das responsabilidades sociais internas da Empresa A e da Empresa B", onde há a apresentação da pesquisa, seguida pela identificação dos sujeitos pesquisados nas empresas. Por último são apresentados e analisados comparativamente os dados extraídos da realidade pesquisada.

Por fim, na conclusão, são tecidas considerações sobre o estudo, além da apresentação de recomendações sobre o exercício da responsabilidade social interna.

(18)

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Este capítulo tem como objetivo apresentar a revisão da literatura dividida em três itens.

No pnmelro, Flexibilização Organizacional: referencial teórico-organizacional, é apresentado um panorama da política social do trabalho no Brasil, discutidos os processo de globalização e neoliberalismo; os conceitos de valorização da cidadania, da gestão social e do terceiro setor.

No segundo, Responsabilidade Social da Empresa: referencial teórico-social, são apresentados e discutidos conceitos de responsabilidade social, ética empresarial, abordando mais especificamente a responsabilidade social interna das organizações.

No terceiro, SA 8000 - Norma de Gestão da Qualidade Social: referencial técnico-organizacional, é exposto, em linhas gerais, um panorama inicial da história da Social Accountability (SA) 8000; é descrita a norma como um código de responsabilidade social internacional; demonstrados os objetivos e as conseqüentes interpretações deste documento normativo. Finalmente são relatados os requisitos da norma, além de serem descritos os subsistemas característicos da norma como sistema de Gestão da Qualidade Social.

(19)

2.1.

FLEXIBILIZAÇÃO ORGANIZACIONAL

DO

TRABALHO: REFERENCIAL TEÓRICO-ORGANIZACIONAL

Este item se divide em seis tópicos. Primeiramente resgata-se a política social do trabalho, no campo da legislação social brasileira, e, nela, procura-se evidenciar a correspondente responsabilidade social. Esta breve incursão, principalmente a partir da promulgação da Carta Constitucional de 1988, é importante para o entendimento e a contextualização do tema em análise. Nos demais tópicos evidenciam-se os conceitos e práticas que correspondem a ações efetivas sobre os temas da Globalização da Economia, do Neoliberalismo, da Valorização da Cidadania, da Gestão Social e do Terceiro Setor.

2.1.1., Panorama da Política Social do Trabalho no Brasil

No início do século XX, com a emergência do período da industrialização, são discutidas as mudanças ocorridas nas relações entre trabalho e trabalhador. Na era da Revolução Industrial, a ocorrência de inovações tecnológicas levou um aumento dos problemas sociotrabalhistas à vida dos operários, já que estes eram obrigados a operar no mesmo ritmo das máquinas. Estas condições desumanas de trabalho começam a compor a pauta de discussões no campo da legislação social. A Declaração Universal

dos Direitos Humanos12 consolida a afirmação de uma ética universal, ao consagrar um consenso sobre valores de cunho global a serem seguidos pelos Estados. No

12 No dia 10 de dezembro de 1948 a comunidade internacional aprovou a Declaração Universal dos

Direitos Humanos como uma norma comum de aplicação que reconhecia a dignidade e os direitos

inalienáveis e inerentes a todas as pessoas de todos os países.

(20)

cenário mundial, direitos humanos e liberdades fundamentais tomavam-se preocupação constante.

Entre 1930 e 1940, no Brasil, é concebida e implementada, regulamentada e fiscalizada a maioria das leis sociais visando à proteção do trabalhador e de sua família. Nesse mesmo período foi promulgada a CLT\3, dando-se início, mesmo que timidamente, a uma nova discussão sobre os direitos humanos, cuja proteção não se deve reduzir ao domínio reservado do Estado.

Nos Estados Unidos dos anos de 1960 iniciou-se um movimento de boicote aos produtos e ações de empresas, decorrente de uma reação negativa da população em relação à guerra do Vietnã, que de alguma forma estavam ligadas ao conflito armado. Está reação gerou para as organizações a necessidade de prestar informações ao público sobre suas atividades no campo social. As empresas reagiram às pressões da sociedade, que exigia nova postura ética, iniciando um processo de prestação de contas de suas ações justificando seu objetivo social, com o intuito de melhorar a imagem junto a consumidores e acionistas.

No Brasil, nessa mesma década, a política reacionária imposta pelo golpe de Estado fez desabar o sistema no país, mais especificamente sobre a área social, colocando um freio na luta dos trabalhadores por melhores condições de vida. Passaram a ocorrer altas taxas de desemprego, houve queda dos salários reais e aumentou a procura por contrato de trabalho em tempo parcial, além da demanda por

i3 CLT: Consolidação das Leis do Trabalho. promulgada pelo Decreto-Lei n° 5.-1-52. de 1" de maio de

(21)

maiores níveis de escolaridade para os trabalhadores que permanecessem empregados

e que ocupassem postos de trabalho considerados essenciais para os processos

produtivos nos quais estavam inseridos.

Somente em 1988, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil. tem

InICIO uma nova fase para o trabalhismo brasileiro, ainda que no plano formal. A

grande inovação do texto de 1988, que ampliou a dimensão dos direitos e garantias,

consistiu em incluir no catálogo de direitos fundamentais não apenas os direitos civis e

políticos, mas também os direitos sociais, aumentando os direitos dos trabalhadores.

Neste período, muitas empresas, na luta pela vitória ou em busca da

sobrevivência, apostavam no 'vale-tudo' e nem sempre tinham entre suas prioridades

uma conduta baseada em princípios éticos como o respeito ao consumidor, o

cumprimento da legislação trabalhista ou a preocupação com a preservação ambiental.

Este quadro começa a mudar nos anos de 1990, com a preocupação de criar

melhores condições de vida para o trabalhador e com a extensão da qualidade do

produto como pré-requisitos para obtenção do passaporte do qual o Brasil precisa para

ter acesso à internacionalização da economia1ol, principalmente no que tange à

competitividade de mercado.

lol

À intemacionaiização da economia é propósito que fa\'orece as nações fones que, JXldem conter

prcços dc seus produtos aquém do custo dc produção cnscjando uma concorrência ilegítima. Para

Boa"ctllura dc Souza Santos "0 traço da glohalização da economia é a primazia toral das empresas

mu/tinaciol1ais. enquaJ1lO agentes do 'mercado gloha/". A própria c"olução do nomc por que são conhccidas assinala a constantc cxpansão das atividades dcstas cmprcsas com atiúdades cm mais quc um Estado nacional: dc cmprcsas multinacionais para cmprcsas transnacionais c, mais rcccntcmcntc, para cmpresas globais" (Santos, 2001:290).

(22)

Na esfera pública, o Brasil é signatário das Convenções da OITI5. Qualquer convenção da OIT pode virar lei no Brasil se forem observados todos os passos legais (prazos, depósitos e carência). Normalmente são introduzidas no nosso ordenamento jurídico por meio de decretos presidenciais, após a sua aprovação e confirmação pelo Congresso Nacional. Passa a ser um tratado internacional com força de lei no país porque todos os requisitos formais foram observados e seus conteúdos alinhados à Constituição Federal do Brasil.

As convenções da OIT são a base de elaboração da norma SA 8000 e fio condutor no cumprimento dos requisitos de responsabilidade social, aos quais as organizações têm a obrigação de atender. Soma-se a esta base a necessidade que as organizações têm de ser coerentes com os preceitos da Carta Constitucional de 1988, e, então, começa-se a perceber a existência, ainda que incipiente, de um movimento de convivência democrática nas empresas. Vive-se uma época de profundas mudanças que afetam diretamente o sistema-empresa 16.

Além do processo de crescente internacionalização da economIa, tem-se o maior reconhecimento do mercado como fornecedor de recursos, o que faz o Estado

I~ OIT: Organização Internacional do Trabalho. Criada pelo Tratado de paz de Versalhes. em 1919. em

Genebra. na Suíça. É um fórum internacional onde governos. empregadores e trabalhadores discutem

e adotam. em igualdade de condições, princípios trabalhistas condizentes com o direito e a dignidade do homem e com os interesses da sociedade.

16

"O sistema-empresa. a partir do taylorismo-fordismo. tem preestabelecido as ações de seus membros mediante uma divisão de trabalho implementada por meio de vários instrumentos gerenciadores de suas ações: estrutura decisória através da disposição hierárquica: definição de atribuições através de plano de cargos e salários: programas de treinamento através de conteúdos standarizados segwldo o modismo da época: definição de tarefas através de manualização etc. Tais mecanismos são utilizados para demarcar ou delimitar o comportamento do empregado. dificultando a manifestação dos elementos estruturais de seu mundo da vida" (Tenório. 2000a:91).

(23)

recuar de sua antiga posição na esfera produtiva e de seu papel como regulador do mercado.

Nos espaços empresarIais são observadas novas formas de organização que tendem a privilegiar o trabalho coletivo, criativo, inovador. No campo do trabalho surge a incumbência de produzir novos resultados, tais como salários mínimos aceitáveis. dignas condições de trabalho e justas relações trabalhistas.

Registra-se, também, a ocorrência do desenvolvimento progressIvo de uma produção cada vez maiS 'individualizada' e de estilos de consumo cada vez mais diferenciados. O Estado passa a intervir menos na regulação do livre funcionamento dos mercados, abandonando gradualmente seu papel de executor direto no esforço de obtenção do pleno emprego.

A expectativa de conseguir níveis cada vez mais altos de consumo de massa é transferida. progressivamente, da ação estatal para a ação do mercado. Nessa conjuntura destaca-se também a tecnologia de base microeletrônica que vem

(24)

cando importantes mudanças na organização tavlorista do trabalho. A tlexibilidade17 da produção reduz a homogeneização da força de trabalho.

o

crescente emprego transitório - definido por modalidades mutáveis de

contratação e pela tlexibilidade nas funções e no horário, com formas diversas de remuneração - reduz progressivamente o contingente assalariado estável.

Os temas tlexibilização e desregulação18

trabalhista, como novas tendências nas relações trabalhistas, parecem ser os tópicos mais críticos nas relações que começam a se estabelecer entre o papel principal do mercado e o papel menos interveniente do Estado.

Com a queda do muro de Berlim começou verdadeiramente o século XXI, pois, com sua simbologia, um ciclo foi encerrado, o século das conquistas sociais ficou para trás, e, no campo da política, a celeridade persegue o ritmo da Internet. Tomar decisões torna-se extremamente rápido, aumentando a tlexibilidade e a mobilidade do exercício do poder. Sob o manto da forte volatilidade do mercado, do aumento da competição e

17 No iino La Jiexibiíidad dellrabajo en Europa. coordenado por Robert Boyer e sob os auspícios da

Federación Europea de Investigaciones Económicas (Fere) ( ... ) os autores identificaram cinco

definições para o termo flexibilidade: a) maior ou menor adaptabilidade da organização da produção

- opções técnicas e organizacionais condicionadas às dimensões e demandas do mercado: b) a atitude dos trabalhadores para mudar o posto de trabalho - competência técnica e atitude da rnão-de-obra para dominar di"ersos segmentos de um mesmo processo produtivo: c) debilidade das restrições juridicas que regulanl o contrato de trabalho - dizem respeito aos aspectos institucionais relacionados às leis trabalhistas e que facilitem. inclusive. ao empregador a dispensa dos empregados sem

qualquer garantia adicional: d) sensibilidade dos salários (nominais ou reais) - significa a

dependência dos salários em relação à situação econômica da empresa ou ao mercado de trabalho em

geral: e) possibilidade de as empresas subtraírem uma parte das deduções sociais e fiscais -liberação

das empresas das regulações do Estado quanto ao seu funcionamento" (Tenório. 2000a: 16~).

18

A preocupação que na desregulação o Estado não intervenha nas relações de trabalho. para que a autonomia privada. coletiva ou individual. disponha. sem limitações legais. sobre as condições de trabalho. além de outros fatores par.! adequado funcionamento dessa autonomia exige equilíbrio entre a oferta e a procura do emprego. o que não se verifica na atual conjuntura.

(25)

do estreitamento das margens de lucro, as organizações tiram proveito do enfraquecimento do poder sindical e da grande quantidade de mão-de-obra excedente (desempregados ou subempregados) para impor regimes e contratos de trabalho mais flexíveis, diminuindo o emprego regular em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou sub contratado. A proposta, que não é nova, assume sua verdadeira face: a desregulamentação.

Mesmo quando se atribui ao Estado um papel menos ativo do que no passado, não há dúvida de que, nos processos de transformação socioeconômica em curso, os Estados nacionais ainda desempenham o papel de atores protagonistas. Um dos desafios do Estado é transformar seu próprio papel, redefinindo as funções que classicamente desempenhava no antigo sistema. Esta mudança ou redefinição de seu papel é um dos mais importantes componentes do fenômeno global de transformação socioeconômica e é um dos processos que geram a maior quantidade de conflitos entre os diversos atores políticos, sindicais e empresariais. A concepção do Estado mínimo é uma das propostas de redefinição do Estado. O que se propõe é uma desregulação tão abrangente quanto possível dos mais diversos âmbitos de atividade, inclusive ao domínio das relações trabalhistas. Há um processo de esvaziamento que vai progressivamente reduzindo o papel do Estado por meio de uma ação de transferência de funções para o mercado e para o setor privado.

Já o novo papel do mercado, aqui representado pela organização empresarial, introduz um conjunto de desafios relevantes. Assegura-se a competitividade, o que implica a capacidade de adaptar-se a condições variáveis de mercado e à conseqüente

(26)

incerteza. Ambos os fenômenos são decorrentes da abertura para uma economIa internacional em transformação e com permanente inovação tecnológica.

A articulação entre os requisitos de competitividade e uma gestão trabalhista que inclua componentes de negociação individual e coletiva das novas modalidades institucionais, técnicas e trabalhistas, requer seguramente que se realizem reordenamentos em cada um desses campos, reduzindo os custos sociais e ampliando as possibilidades de incorporação de parte dos trabalhadores e de suas organizações sindicais no processo.

A partir do exposto, o desempenho global da economia passa a ser o resultado não só das decisões de política econômica - cujo papel fundamental se concentra na criação de condições favoráveis à produção de certos tipos de comportamento dos atores econômicos, entre eles, prioritariamente, o empresarial - mas também, e cada vez mais, da agregação das múltiplas decisões empresariais. Este fato pode ser verificado na busca de comportamentos empresariais positivos quanto a investimentos, geração de empregos, aumento de produtividade e de competitividade, elevação de salários e inovação em tecnologia.

Também as inovações em termos de tecnologias gerenciais e de organização empresarial mostram-se eficazes se associadas à concepção da empresa como uma unidade que integra positivamente o trabalhador, proporcionando-lhe um princípio de identidade. Seguindo este raciocínio, resgata-se a enfase na responsabilidade social como condutora das ações do trabalhador. Esse fio condutor faz surgir o comprometimento destes com os sistemas produtivos, o que propicia o atingimento

(27)

dos objetivos organizacionais traduzidos em melhor qualidade no trabalho e maIOr satisfação do trabalhador, boa produtividade e alta competitividade.

Diante desta consideração, verifica-se que nos anos de 1990 surge a preocupação com a qualidade de vida do trabalhador, para além da atenção dispensada à qualidade do produto, como pré-requisito para a internacionalização da economia brasileira, principalmente no que tange à competitividade de mercado.

Os mecanismos de medições da gestão da qualidade do produto e ambientais são feitos pelas empresas através da implementação das normas certificadoras ISO 900019 e 140002

°,

e, particularmente para a indústria automobilística, a norma QS 900021

, que tem como objetivo básico credenciar as organizações que se destacam no tocante aos padrões de eficiência e eficácia. Os certificados ISO e QS se constituem em passaportes para o mercado internacional.

No contexto do ambiente de trabalho a expressão 'qualidade' pode ter várias interpretações, representando uma variável que não explicita as condições em que

1\

vivem os trabalhadores de uma empresa. Por outro lado, a expressão 'responsabilidade social' por parte do empregador, ancorada na legislação sociotrabalhista, representa:

19 "A série ISO 9000 fornece um sistema de gestão da qualidade reconhecido globalmente. baseado nos

princípios de melhoria contínua, auditoria. monitoramento e em um sistema de gestão" (Mcintosh et aI.. 2001:311).

20 "A série ISO 14000 foi criada depois da ISO 9000. fornecendo um sistema de gestão ambiental

reconhecido globalmente. A série baseia-se nos princípios de um registro de efeitos ambientais. incluindo entradas. processos e saídas. além da melhoria contínua mensurável baseada em auditoria. monitoramento e sistema de gestão" (Mcintosh et aI.. 200 I :314).

II

O sistema QS 9000 é uma tentativa de uniformização de práticas da indústria automobiiistica americana e pode ser aplicado a todos os fornecedores na área automobilística. ou seja. a toda a cadeia produtiva automotiva. dentre os quais a Empresa A e a Empresa B." (Martins. 1999:404).

fllBlIOTtCA MARIO HENRIQUE SIMONSEI

FUNDACAo GETULIO VARGAS

(28)

salário justo, ambiente saudável do ponto de vista de higiene e da segurança no trabalho, e condições facilitadoras que impliquem o bem-estar do trabalhador em ' termos daquilo que ele busca como pessoa, como profissional e como ser social. Para os empresários, a empresa, além de produzir bens e serviços, também deve ter um sentido mais amplo que justifique sua existência. Esta responsabilidade, inserida na missão empresarial, deve estar associada a um objetivo social, como o de proporcionar o bem-estar das pessoas no ambiente de trabalho e na sociedade, contribuindo para a existência de modos de vida mais saudáveis.

Na empresa, este chamado à responsabilidade social inclui a preocupação com a qualidade de vida do ser humano, em todos os seus espaços de convivência. A melhoria da qualidade de vida, como o custeio da eficiência das redes de proteção social para todos os habitantes das sociedades avançadas, pode ser constatada por meio da verificação de alguns indicadores, como segue:

" (...) a existência de uma renda minima universal que garanta os meios básicos de

subsistência: a redução da jornada de trabalho e a semana de .J dias ou menos: as

condições de segurança de trabalho e a gradativa eliminação de tarefas insalubres ou

perigosas. entregues a robôs; o abandono da tese da luta de classes e a aceitação da

economia de mercado por parte de sindicatos de larga tradição anticapitalista; o

desthae pelos consumidores de produtos mais duradouros e diversificados: a

universalização dos sistemas de educação. saúde e segUridade social: o amplo acesso

às redes de energia elétrica. de água tratada e de esgotos: o transporte coletivo

subsidiado: e a possibilidade defhlição do lazer ou do ócio. entendido como usu[nlfo

do rempo livre" (Srour, 1998:42).

(29)

Porém, precede essas tendências avançadas a preocupação com as altas taxas de desemprego, que são acompanhadas por uma crescente insegurança devido à

precariedade das novas formas de ocupação e pela queda dos salários reais. Também a flexibilização das relações de trabalho (contrato de tempo parcial, subcontratação, terceirização etc.) inscreve-se no mesmo processo que demanda maiores níveis de escolaridade para os trabalhadores que permanecem empregados e que ocupam postos de trabalho considerados essenciais para os processos produtivos nos quais se inserem.

Por isso, em especial, as empresas têm que buscar a constante modernização de seu processo produtivo para sobreviverem no mercado atual. Além da Qualidade Total, da preocupação ecológica, do marketing institucional, existe a presteza da responsabilidade social, que vem a se integrar ao novo processo produtivo qualitativo e - por que não? - competitivo.

E nessa conjuntura, dentro do sistema de mercado, que a responsabilidade social da empresa toma-se um componente vital para o sucesso dos negócios e, mais do que isso, uma extraordinária vantagem competitiva. Desse modo, exercer e demonstrar a responsabilidade social, incluindo as obrigações das leis de trabalho, é um direito adquirido dos trabalhadores e é um dever das empresas que se preocupam com suas partes interessadas e com seus negócios em longo prazo.

(30)

2.1.2. Globalização da Economia

o

século XX marca o início da era do conhecimento e da informação,

caracterizada por um período de grandes transformações tecnológicas, sociais e econômicas, que impõe novos padrões de gestão às organizações públicas e privadas. Trata-se de um processo de reestruturação produtiva apoiado pelo desenvolvimento científico e tecnológico e na globalização de mercados.

Neste contexto, parece haver consenso entre estudiosos da teoria organizacional de que o sucesso de uma organização é, cada vez mais, influenciado pela sua capacidade de implementar formas flexíveis de gestão que possam fazer face às mudanças do mundo contemporâneo.

Flexibilização organizacional22 tomou-se um discurso hegemônico nos últimos anos, tanto no meio acadêmico quanto no empresarial. Questões como estruturas orgânicas e horizontalizadas, empowerment e descentralização, caracterizam a gestão estratégica23 e fazem parte do dia-a-dia das organizações que apontam a flexibilidade como fundamental para a produtividade. Entretanto, sua aplicação na rotina das organizações mais parece fruto do pragmatismo e oportunismo patronais, utilizada no controle do trabalhador e na obtenção de melhores resultados econônico-financeiros.

"

-- Na nota 0.+ apresentamos a definição de flexibilização organizacional.

23

(31)

Parece lícito supor, portanto, que o conceito de organização flexível, embora pretenda incorporar mudanças nos regimes de regulação do trabalho e acumulação de capital, na realidade representa apenas um aperfeiçoamento das práticas tradicionais de gestão. Percebe-se flexibilidade como a busca para reestruturar o processo produtivo, e a força de trabalho para aumentar a versatilidade e a adaptabilidade do indivíduo a novas tecnologias, visando reforçar o controle social sobre os trabalhadores.

Desta maneira, a possibilidade de concentrar a atenção sobre a pessoa mais do que sobre o posto de trabalho reforça a estratificação social existente - a divisão da sociedade em um núcleo altamente capacitado e uma periferia desqualificada e excluída do processo produtivo.

Para Srour (1998:44)

"a organização do trabalho no sistema capitalista excludente assumiu o caráter de

linha de produção ao estilo taylorista-fordista, lídima expressão da Revolução Industrial.

Foram claramente separadas as funções de concepção e controle, conferidas aos gestores

pelos empresários ou exercidas por eles mesmos; e execução de tarefas parceladas, exclusiva

dos trabalhadores. Tal processo requer tão-somente trabalhadores desqual~ficados 01/

semiqual0cados. de quem se extrai principalmente força fisica. Os trabalhadores tornam-se

descartáveis. substituíveis por outros igualmente despojados de habilidade técnica, já que seu

preparo se resume a treinamentos sumários ou a uma aprendizagem precária com base no

(32)

2.1.3. Neoliberalismo

Durante o período compreendido entre 1930 e 1945, o Estado forte desempenhou um papel altamente interveniente na economia. Contudo. ao administrar a conjunção de crises, transições e novas estratégias de desenvolvimento, demonstrou o esgotamento de sua capacidade de gestão, fazendo crescer a percepção de sua posição de atraso. Desta percepção surge o debate sobre a polaridade modernização e atraso, que aponta as discussões à perspectiva neoliberal.

Do final da Segunda Guerra Mundial em 1945 até 1985 a discussão neoliberal ganhou contornos nacionalistas, consensada basicamente em torno do Estado-desenvolvimentista. O grande mote deste movimento é a repulsa contra a política intervencionista do Estado do Bem-estar Social

No Brasil, a partir da queda do regIme militar2-l em 1985, o neoliberalismo começa a deixar de ser uma discussão e passa, mesmo que de forma incipiente e confusa, a ser uma prática.

"Este período está marcado pela configuração de uma coalizão de interesses bastanre

heterogênea e diferenciada internamente. expressão do amplo leque de fórças

políticas que liderou a transição do regime militar para o governo civil (..) Como é sahido. a transição brasileira. notabilizou-se por seu gradualismo e pela expressivo

participação de setores ligados ao regime militar. ao lado das/orças pertencenres aos

quadros oposicionisra. no processo de instauração de uma nova ordem. A lensclO

enrre continuidade e m1ldança marcaria todo o longo percurso em direçc70 a

(33)

COl7.w!/(!aç'({o da democracia C.) () compromisso com a meta de conciliar CrL'SCll11et1l0

e('O!7(JllllCO com cO/llhare à pohreza e à desig/laldade social era hege!1l()nico entre as

IJrincipois fiJrç'os politicas. Assim. o agenda política incl1liria. entre sllas prioridodes.

alé!1l da redll!.r'âo da inflação e da instauraçâo da ordem democrático. o chamado

rL'sgOle da dívida social (..) Se havia 11m amplo consenso quanto à necessidade de

realizar as refármas políticas liberalizantes de modo a eliminar o legado allforitário.

por 01ltro lado, não havia acordo. no interior do próprio governo, quanto ao

esgo(omeJ1{O do antigo modelo de desenvolvimento, q1ler em seus aspectos

econnmicos. quer em seus suportes institucionais (..) A meta do desmonte do legado

do lJassado só se romaria prioritária com o ascensão de Fernando Collor à

presidência, no limiar dos anos 1990" (Diniz, 2000:77-8).

A crise do Estado intervencionista e a hiperinflação ocorrida desde o início da

década de 1980 fizeram os neoliberais elegeram o poder sindical e os movimentos

operários como culpados da crise econômica a da alta inflação. Para eles, as pressões

reinvidicatórias por melhores salários e condições de trabalho geraram uma

universalização dos direitos sociais, abalando as bases de acumulação capitalista,

fomentando a ascensão do movimento de flexibilização do trabalho. Soma-se a isto o

surgimento da nova geração dos direitos humanos, quais sejam os chamados 'direitos

de solidariedade' que, em conjunto com as ONGs, tendem a supnr as demandas

sociais ocultadas pelo Estado neoliberal.

Nesses anos de doutrinação ideológica pela flexibilização do trabalho o

discurso fundamentador. mantendo sempre o mesmo objetivo, tem oscilado apenas

(34)

particularmente em seus aspectos legais onde as leis são 'velhas' e 'desatualizadas',

impedindo a competitividade numa economia globalizada. A retórica contra a

legislação trabalhista nacional segue com idéias de que as leis oneram sobremaneira o

empresariado, impedem a ampliação dos mercados de trabalho, geram desemprego,

não estão adequadas à modernidade, atrasam ou até mesmo bloqueiam o

desenvolvimento, agridem a liberdade do trabalhador, anulam os sindicatos, além de

afastarem a livre negociação. A ênfase é sempre a diminuição do emprego e tem

submersa a proposta de pleno emprego se o trabalho for gratuito, algo muito próximo

do século XIX, daí porque ser chamado de neoliberalismo, todavia consegue ser mais

cruel: está agravado pelo aumento populacional, o avanço tecnológico e as

dificuldades econômicas, de transporte e habitacionais e os novos modelos de gestão.

Uma análise que leve em consideração tais ponderações não reservará o qualitativo

'neoliberal' tão-somente às políticas estatais que se conformarem integralmente com

os princípios econômicos nacionais. Será considerada neoliberal toda ação estatal que

contribua para o desmonte de políticas de incentivo à independência econômica

nacional. de promoção do bem-estar sociall~ (we(fare slate), de instauração do pleno

,<

"Estado de hem-estar ou 11 elfare .'>fale. sistema econõmico ciaborado lcoricamelHe por Anhur

Ceci I Pigou (I R77 - 19)9) atra\"(~s da obra FC0I10Illic.1 (i( ll"c/(àrc. consiste em um capitalismo

(35)

empregoC6 (keynesianisl11o) e de mediação dos conflitos socioeconõmicos. Esse desmonte passa pela implementação de três políticas específicas: (1) política de privatização das atividades estatais; (2) política de desregulamentação, isto é, redução do Estado no terreno da economia e das relações do trabalho; e (3) política de abertura da economia ao capital internacional.

A rigor, o neoliberalismo articula prática e ideologicamente os interesses dos grupos, classes e blocos de poder organizados em âmbito mundial, com ramificações, agências ou sucursais em âmbito regional e até mesmo local. Sob todos os aspectos, seja a proposta teórica ou ideológica, o neoliberalismo revela como se desenvolve a globalização - pelo alto, ou de cima para baixo.

Sempre privilegia a propriedade privada, a grande corporação, o mercado livre, a tecnificação crescente e generalizada dos processos de trabalho e produção, a produtividade e a lucratividade. Os principais guardiães dos ideais e práticas neoliberais no mundo têm sido o FMI, Fundo Monetário Internacional, o BIRD, Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento, e a OMe, Organização Mundial de Comércio. A experiência do liberalismo em países europeus tem reduzido os direitos sociais e aumentado o desemprego, com repercussão negativa nas condições de vida dos cidadãos.

20

"Na relação Estado-sociedade o fordismo vai ser um aliado das idéias de 101m Mamard KC\l1CS

( 1883 - 19~6) ou do ke~·nesianismo. na medida cm que esse propõe. para solucionar o problema dc

(36)

No Brasil, o neoliberalismo, com abertura quase que irrestrita das importações.

tem se revelado um eficaz instrumento de geração de empregos no exterior e de

desemprego interno. No atual governo brasileiro a receita do neoliberalismo é aplicada

em sua íntegra: ao mesmo tempo em que prega a liberdade de mercado. a minimização

do Estado. a livre iniciativa, pratica rígido intervencionismo na economia interna.

contrai a emissão de moeda, baixa impostos sobre rendimentos altos, abre o mercado.

cria alto nível de desemprego, normatiza relações de trabalho, fixa juros e taxa de

càmbio, controla preços de tarifas e atividades bancárias.

A lógica do liberalismo, que se caracteriza por um extremado individualismo, é

a do livre mercado, da acumulação, do lucro máximo, que reduz o homem e as

relações sociais a valores econômicos. Um pragmatismo impiedoso impede sua

humanização. Nele, a opulência de poucos se nutre da miséria de muitos.

2.1 A. Valorização da Cidadania

Se do ponto de vista econômico a década de 1980 representou a chamada

'década perdida', no plano político ela consolidou um quadro institucional básico de

democratização. Daí a necessidade de aperfeiçoar os instrumentos conducentes à

concretização dos direitos sociais definidos na Constituição como uma nova cidadania.

Nos anos de 1990. além das práticas participativas inovadoras que se

institucionalizam cada vez mais, surgiram movimentos baseados em ações solidárias

alternativas centradas em questões éticas de valorização da vida humana. Mais

especificamente. empresas de diversos setores começaram a realizar efetivas ações

(37)

sociais_ ao mesmo tempo em que passaram a divulgar um perfil mais social e humano

de suas corporações Esse foi um período de consolidação da mudança de mentalidade

de pane do empresariado nacional, em que a visão de um capitalismo de cunho mais

social. que busca maior negociação com amplas parcelas dos trabalhadores_ está cada

vez mais atenta aos problemas sociais, levando em consideração a questão ética e da

responsabilidade social na hora de tomar decisões.

A preocupação com o trabalhador como cidadão dentro da empresa perpassa

todo este estudo. Nesta pesquisa, a responsabilidade social interna ocorre dentro do

ambiente organizacional (mundo do trabalho27) se houver uma interação consensual

entre um novo modelo de gestão e cidadania.

Segundo Tenório (2000a: 15),

"incorporar Ilm novo modelo de gestão que agilizasse o processo de produção através

das tecnologias da infórmaçc7o]8 e que promovesse de maneira consciente o envolvimento do

empregado !lO processo prodlttivo."

Este novo modelo seria a Gestão da Qualidade Social, onde se tem o princípio

de se obrigar o capital a respeitar os direitos do trabalhador. Ou seja, quando há

interação consensual entre Gestão da Qualidade Social e cidadania no seio das

organizações acontece o exercício da responsabilidade social interna. A este modelo

flexível de gestão organizacional chamamos de Gestão Social.

ü mundo do tnlbaiho tem o mesmo significado que sistema-eml)resa.

~s

r(,cl1(}/(}~/{] da I/ltimnaçâo - interação da eletrônica. informática e das telecomunicações (Tenório.

2()()Oa: 15)

(38)

Entretanto deve-se tomar cuidado com termo 'flexível', pois um dos perigos para interação consensual ocorre quando a globalização da economia denomina de flexibilização uma de suas estratégias para amenizar ou disfarçar o seu objetivo maior: maximização do lucro. Flexibilidade pode sugerir aos desavisados a manutenção do

status quo apenas amenizado, maleável, compreensível, tolerável, enfim, só aspectos

bons. Na realidade, essa palavra é um subterfUgio, pois a verdadeira estratégia de lucros é pacificamente aceita pelos sfakeholders, sem oposições e maiores obstáculos.

tàtores a colaborar com a sua celeridade. Para se caminhar na direção dessa interação consensual é preciso um esforço de valorização da cidadania. Para nós, o termo 'valorização da cidadania' tem a mesma explicação/ denominação de Fernando Tenório:

·'C .. ) ofato de no Brasil a cidadania ainda não ser um valor que a sociedade tenha

institucionalizado. Aqui o indicador "cidadania" ainda não é plenamente

considerado. quer nas discuss6es parlamentares nas quais. salvo exceções. a politica

como um bem comum é subsTituida pelos interesses corporativos e/ou fisiológicos.

quer nos ambientes organizacionais em que este elemento tem servido mais como

expressão de retórica do que para atender às necessidades do cidadão-trabalhador. O

trabalhador é sempre visto como llm .fàtor a ser controlado ou motivado e não como

llm sujeito da ação produtiva" (Tenório, 2000a: 182).

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