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A arte do teatro na educação durante a infância: a percepção dos professores acerca de suas contribuições

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Academic year: 2017

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FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PEDAGOGIA

CAMILA TIEMI IZUMI

A ARTE DO TEATRO NA EDUCAÇÃO DURANTE A INFÂNCIA: A

PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DE SUAS

CONTRIBUIÇÕES

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE BAURU

FACULDADE DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

PEDAGOGIA

CAMILA TIEMI IZUMI

A ARTE DO TEATRO NA EDUCAÇÃO DURANTE A INFÂNCIA: A

PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DE SUAS

CONTRIBUIÇÕES

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências da UNESP, Bauru, como parte dos requisitos parciais à obtenção do título de graduação em Pedagogia, sob orientação da profª Ms. Mariana Vaitiekunas Pizarro.

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Izumi, Camila Tiemi.

A arte do teatro na educação e na aprendizagem durante a infância: a percepção dos professores acerca de suas contribuições / Camila Tiemi Izumi, 2010.

74 f. : il.

Orientador: Mariana Vaitiekunas Pizarro

Monografia (Graduação)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2010

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Orientador:

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CAMILA TIEMI IZUMI

A ARTE DO TEATRO NA EDUCAÇÃO DURANTE A INFÂNCIA: A

PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES ACERCA DE SUAS

CONTRIBUIÇÕES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação

da Faculdade de Ciências – UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para a

obtençãodo título de graduação em Pedagogia, sob a orientação da professora

Ms. Mariana Vaitiekunas Pizarro.

Banca Examinadora:

Profª. Ms. Mariana Vaitiekunas Pizarro – orientadora

Secretaria de Estado da Educação - E. E. Profª. Sebastiana Valdiria Pereira da Silva - Bauru

Profª. Drª. Márcia Cristina Argenti Perez Faculdade de Ciências – UNESP – Bauru

Profª. Drª. Maria Luiza Calim de Carvalho Costa

Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação – UNESP - Bauru

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Agradecimentos

Todos os valores nos quais acredito, aprendi durante o convívio com muitas pessoas.

Algumas delas apenas passaram pela minha vida e logo se foram, algumas outras foram tão

importantes que sempre terão um espaço reservado em minhas boas lembranças, algumas outras

seguem e seguirão comigo, e eu só tenho a agradecer por isso.

Primeiramente, agradeço a Deus, pelo dom da vida, e por olhar cuidadosamente para

cada um de nós, possibilitando que nossos maiores sonhos se concretizem, mesmo quando nos

julgamos pouco dignos.

Agradeço a toda a minha família, em especial aos meus pais, pela minha existência, pelo

amor incondicional de sempre, por acreditarem em mim e por estarem ao meu lado em todos os

momentos, dividindo alegrias, tristezas, dúvidas e conquista. Vocês sempre terão parte em cada

uma das minhas vitórias!

Aos amigos de sempre, de todas as horas, com quem sei que posso contar em qualquer

situação, Sthephanie, Thiago, Ronaldo, Fabio Augusto e Lucas, os quais tiveram parte nessa

realização, entre tantas outras em minha vida, e sem os quais eu não conseguiria, serei

eternamente grata...

Gostaria de agradecer a todos os professores que passaram pelo curso de Pedagogia, da

Unesp – Campus de Bauru, pela riqueza dos conhecimentos científicos, pedagógicos e,

sobretudo humanos que compartilharam conosco ao longo desses quatro anos, tornando viável a

concretização deste trabalho.

Faço um agradecimento especial à Profª. Ms. Mariana Vaitiekunas Pizarro, minha

orientadora, por aceitar o desafio de orientar um trabalho de pesquisa, pela oportunidade de

ampliarmos nossos conhecimentos sobre o tema juntas, pela sua dedicação, e pelo seu exemplo

de boa vontade, integridade, criticidade e competência, e ainda pela sua amizade e

companheirismo durante todo o processo.

Agradeço às professoras Drª. Márcia Cristina Argenti Perez, do Departamento de

Educação da Faculdade de Ciências (FC) da UNESP de Bauru, e Drª. Maria Luiza Calim de

Carvalho Costa, da Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicação (FAAC) da UNESP de

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parte dos seus vastos conhecimentos científicos e trazendo contribuições importantes para o

mesmo.

Agradeço à escola que abriu suas portas para meu trabalho, possibilitando a realização

da pesquisa de campo, especialmente à coordenadora e às professoras, que me receberam e

disponibilizaram seu tempo e socializaram suas vivências, contribuindo muito pra o trabalho.

E, finalmente, gostaria de agradecer às minhas queridas amigas de turma, Ana Suellen,

Bárbara, Elizabeth, Lílian, Luciana, Maria Carolina, Priscila, Regileni, Tânia e Viviane, que se

tornaram mais que simples colegas de turma, amigas de infância, quase que uma família, com

quem partilhei cada momento vivido durante o curso, e que de certa forma foram responsáveis

por muitas das coisas que aprendi. Obrigada por estarem sempre comigo, pelos momentos

divertidos, pela força nos momentos difíceis, pelos conselhos, por compartilharem comigo

sorrisos, lágrimas, novidades, sonhos e especialmente fé, mais que isso, pela amizade sincera de

vocês, que espero manter para sempre.

Peço desculpas se por ventura me esqueci de alguém. Contudo, mesmo não citadas ou

nomeadas, sempre terei muitas pessoas para agradecer, pessoas que a cada dia de minha vida,

contribuíram ou contribuem, direta ou indiretamente, para a pessoa que sou e para a pedagoga

que serei.

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RESUMO

Buscando novas maneiras a serem utilizadas nos processos de ensinar e aprender, voltou-se um olhar para linhas de pesquisas alternativas, passando a valorizar a arte na educação, e dentro dela, deu-se grande foco às vertentes da relação teatro-educação. Atualmente, o teatro tem sido alvo de pesquisas em educação e vem sendo também muito utilizado como recurso pedagógico, e sua adoção pelos profissionais da área é baseada em estudos que demonstram as contribuições do teatro para o desenvolvimento infantil. O teatro, enquanto jogo, expressão e representação artística envolve imaginação, criação e sociabilidade. O presente trabalho apresenta o desenvolvimento infantil em todas as suas fases, a importância dos jogos, principalmente os jogos simbólicos, durante esse processo, segundo a visão de Jean Piaget; um breve histórico do teatro dentro da educação e as contribuições que, de fato, sua utilização como metodologia de ensino e aprendizagem traz ao desenvolvimento das crianças dos anos iniciais do ensino fundamental, trazendo como discussão a percepção dos professores sobre a possibilidade real da sua utilização nas escolas, enquanto forma de ensinar e aprender. A presente pesquisa teve como objetivos compreender a relação dialógica entre teatro e educação básica, ressaltando suas características mais marcantes; enfatizar sua presença no processo de ensino e aprendizagem na educação básica, enfocando principalmente os anos iniciais do ensino fundamental; verificar como as habilidades desenvolvidas com o teatro podem auxiliar no desenvolvimento cognitivo, psicológico, social e moral da criança; realizar um levantamento inicial sobre as possibilidades da utilização do teatro dentro dos planos de ensino dos professores do 1º ano do ensino fundamental e conhecer a opinião dos profissionais da educação sobre o tema pesquisado, sendo realizada com quatro professoras que lecionam no primeiro ano do ensino fundamental de uma escola municipal da cidade de Santa Cruz do Rio Pardo, interior de São Paulo, e trazendo constatações importantes no que diz respeito à utilização do teatro em sala de aula, a percepção dos professores sobre essa prática, que mostra-se tão presente no cotidiano da sociedade.

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ABSTRACT

Seeking new ways to be used in the process of teaching and learning, he turned a look at alternative lines of research, going to value the arts in education, and inside, there has been a major focus of the relationship to both the theater and education. Currently, the theater has been the subject of research in education and has been also widely used as an educational resource, and its adoption by professionals is based on studies showing the contributions of the theater to child development. The theater, while playing, artistic expression and involves imagination, creation and sociability.This paper presents child development in all its phases, the importance of games, especially the symbolic games, during this process, through the perspective of Jean Piaget, a brief history of the theater within the education and the contributions actuallyits use as methodology of teaching and learning brings to children's development of the early years of elementary school, bringing the discussion as teachers' perception about the real possibility of its use in schools as a way of teaching and learning. This research aimed to understand the dialogic relationship between theater and basic education, emphasizing its most striking features, emphasize its presence in the teaching and learning in basic education, focusing on the early years of primary education; see how the skills developed with drama can help develop cognitive, psychological, social and moral development of children, performing an initial survey on the possibilities of using the theater within the lesson plans for teachers in the first grade of elementary school and learn the opinions of professional education on theresearch subject, being held with four teachers who teach in the first years of elementary education at a public school in Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, and bringing important findings regarding the use of drama in the classroom the perception of teachers about this practice, which is shown as present in everyday society.

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Educar É FAZER A CRIANÇA ABRIR OS OLHOS PARA O MUNDO QUE A RODEIA e dar-lhe a possibilidade de se maravilhar com cada nova descoberta que ela mesma vai fazendo do mundo que a cerca. Esta capacidade, hoje, só o poeta conserva. O que é uma pena! Sensível para o mundo que descobre, a criança será também sensível para os outros homens, para as ciências, para as artes, para o prazer de viver.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SIMBÓLICOS . 17 1.1. A Criança dos Zero aos Três (0 – 3) Anos ... 18

1.2. A Criança dos Quatro aos Seis (4-6) Anos ... 21

1.3. A Criança dos Sete aos Doze (7-12) Anos ... 23

2. A RELAÇÃO ENTRE TEATRO E EDUCAÇÃO: BREVE HISTÓRICO ... 28

2.1. Breve Histórico do Teatro em Âmbito Mundial ... 28

2.2 Breve Histórico do Teatro em Âmbito Nacional - Brasil ... 33

3. TEATRO EM SALA DE AULA: BENEFÍCIOS E APRENDIZAGENS ... 39

3.1. As Contribuições do Teatro ao Desenvolvimento Psicológico e Social da Criança ... 44

3.2. As Contribuições do Teatro ao Desenvolvimento da Linguagem na Criança ... 46

4. METODOLOGIA ... 50

4.1. Natureza da Pesquisa ... 50

4.2. Instrumentos para a coleta de dados ... 52

4.3. Tipo de análise ... 53

4.4. Caracterização do ambiente da coleta de dados ... 54

4.4.1. O local da pesquisa ... 54

4.4.1. Os sujeitos da pesquisa ... 55

5. ANÁLISE DOS DADOS ... 56

5.1. A Voz dos Professores sobre o Teatro como Recurso no Processo de Ensino e Aprendizagem (Entrevistas Preliminares) ... 57

5.2. O Estudo das Expectativas de Aprendizagem para o 1º Ano do Ensino Fundamental de Nove Anos ... 61

5.3. A elaboração de plano de ensino – os professores planejando uma atividade que utilize o teatro como recurso ... 66

5.4. A Discussão sobre as Atividades ... 69

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 72

REFERÊNCIAS ... 76

ANEXOS ... 80

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INTRODUÇÃO

Com a teoria evolucionista de Darwin, acrescentou-se uma base científica às observações de Rousseau e Fröbel. Sabe-se, hoje, que a criança é um ser em desenvolvimento, e que cada fase de seu crescimento deve ser estimulado pelo jogo, que é para a criança prazer, trabalho, dever e essência da vida. (REVERBEL, 2002, p. 14).

O estudo aqui apresentado surgiu na busca de responder algumas questões que acreditamos ser importantes no campo educacional, que busca diferentes e novos recursos para o aprimoramento da prática do professor, visando não apenas a prática docente em si, mas também a ação da mesma dentro de um contexto mais amplo, que envolve a criança como um ser ainda em formação e em que a educação, não apenas a escolar, dentro dos diversos contextos em que se faz presente, tem um papel importante no desenvolvimento infantil. É dentro desse contexto que a arte do teatro, como recurso didático, vem ganhando espaço nas escolas e também em ambientes de educação não-formais.

A palavra teatro, descrita em dicionários como sendo o “edifício onde se apresentam as obras dramáticas, óperas, etc; a arte de representar; ou a coleção das obras dramáticas dum autor, época ou nação” (Mini Dicionário Aurélio, 2002, p.664), ao ser pensada em seu significado mais amplo, imediatamente remete à arte como um todo, considerando que arte significa “ a capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical; artes plásticas; os preceitos necessários à execução de qualquer arte; habilidade; engenho; ofício (em especial nas artes manuais); maneira ou modo.” (Mini Dicionário Aurélio, 2002, p.64). Arte de imaginar, de criar, de representar, e de expressar-se. Arte, que também pode ser vista como uma forma de expressar o sentimento de uma população quanto ao contexto sócio-político-econômico vivido.

Dramatizar a realidade é apropriar-se dela para poder compreender a vida, os diferentes papéis sociais e as relações entre eles, criando uma dinâmica relacional, entre o homem e a natureza, o homem e o próprio homem, e o homem e o trabalho, caracterizando peculiarmente e complexamente a sociedade em que está inserido. Dessa forma, o teatro cumpre um papel sócio-cultural e vai além, possibilitando a formação, no imaginário de cada espectador, ator ou escritor, de novas situações e outras realidades, criando sonhos e expectativas de modificação.

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coragem e o medo. Fantoches, marionetes, fantasias e maquiagens contribuem para esse exercício de faz de conta e também compõem esse cenário. Trata-se de uma linguagem artística que já vem sendo utilizada, fazendo-se presente no processo de ensino e aprendizagem, como um recurso a mais que os profissionais da área de educação podem se apropriar para tornar as aulas mais atrativas e lúdicas, oferecendo novas formas de reflexão sobre o conteúdo e contribuindo para seu desenvolvimento integral e também a capacidade de expressão e o desenvolvimento de um pensamento crítico.

Nos anos iniciais do ensino fundamental, as atividades que envolvem o teatro, quando utilizadas de forma adequada, contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento tanto social quanto psicológico e cognitivo da criança, fazendo-a desenvolver a criticidade não apenas dos conteúdos escolares aprendidos, mas também da realidade que a cerca.

Sendo assim, o trabalho com as artes cênicas dentro de ambientes educacionais deve ser bem estruturado, bem planejado e organizado de modo que realmente tragam importantes contribuições para a formação das crianças. Para que isso ocorra é necessário que o educador seja consciente dos benefícios da utilização dessa metodologia de trabalho para o desenvolvimento de pequenos cidadãos e também de suas implicações durante todo o processo de criação e execução. Mas, no contexto atual, levando em conta as várias contribuições do teatro para o desenvolvimento infantil, como essa metodologia é compreendida e está sendo utilizada, pelos profissionais da educação, dentro da educação infantil e dos anos inicias do ensino fundamental, em especial no 1º ano, considerando o ensino fundamental de nove anos, em que a criança inicia seus estudos com seis anos de idade?

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O presente trabalho buscou destacar as várias faces do desenvolvimento infantil (psicológico, cognitivo e social), fazendo um paralelo com as capacidades e habilidades que a arte de encenar pode desenvolver, estabelecendo um diálogo de como as artes cênicas podem ser usadas a favor da educação nos projetos pedagógicos de forma não apenas a auxiliar no desenvolvimento da criança, mas também contribuir no processo de apropriação dos conteúdos escolares pelas mesmas, enfocando principalmente a visão do professor nesse processo.

Desse modo, foi também proposta da pesquisa, por meio do estudo sobre a relação teatro e educação, tratar de objetivos específicos como:

• compreender a relação dialógica entre teatro e educação básica, ressaltando suas características mais marcantes;

• enfatizar seu uso como metodologia de ensino e aprendizagem na educação básica, enfocando principalmente os anos iniciais do ensino fundamental;

• fazer um estudo sobre o desenvolvimento infantil segundo a visão de Jean Piaget, colocando as diversas fases do desenvolvimento por ele elencadas, e destacando a importância dos jogos, principalmente os que envolvem representações e dramatizações, nesse processo; verificar como as habilidades desenvolvidas com o teatro podem auxiliar no desenvolvimento cognitivo, psicológico, social e moral da criança;

• realizar, através de pesquisas de campo de caráter qualitativo um levantamento inicial sobre as possibilidades da utilização do teatro dentro dos planos de ensino dos professores do 1º ano do ensino fundamental e conhecer a opinião dos profissionais da educação sobre o tema pesquisado e a possibilidade da utilização de qualquer nova metodologia de ensino e aprendizagem que envolva as artes e que traz ao desenvolvimento infantil, diversas contribuições, mas que demanda preparação teórico-prática do profissional, organização e determinação, além de envolver também uma questão política, ideológica, sobre a autonomia docente nos momentos de planejamento, possibilidades reais e ideais de criar e inovar em sua prática.

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teatro mostra-se uma importante ferramenta que pode ser utilizada nesse processo, tanto para que o professor possa trabalhar os conteúdos escolares sem deixar de lado a ludicidade da educação infantil, como para que o aluno possa se adaptar a um ensino mais sistematizado, sem perder o encanto pelo aprender brincando.

O primeiro capítulo, denominado “O Desenvolvimento Infantil e a Importância dos Jogos simbólicos”, constituinte da base teórica dos fundamentos do trabalho, apresentará as fases do desenvolvimento infantil segundo a visão de Jean Piaget, contando também com contribuições de outros autores da psicologia a fim de explanar sobre o desenvolvimento biológico, psicológico, social e cognitivo da criança e também a importância que possuem os jogos simbólicos nessa fase do desenvolvimento.

No segundo capítulo, denominado “A Relação entre Teatro e Educação: Breve Histórico”, traço uma linha do tempo, buscando as raízes da relação entre a educação e o teatro, procurando compreender melhor a dialética relação entre um e outro para embasar de maneira sólida a pesquisa realizada.

No terceiro capítulo, “Teatro em sala de Aula: Benefícios e Aprendizagens”, é o espaço onde a discussão das contribuições do teatro e das artes no geral para o desenvolvimento do ser humano, mais especificamente da criança, toma corpo e apresenta as possíveis colaborações nos campos psicológico, cognitivo, social, físico e intelectual, tornando-os pequenos cidadãos críticos e atuantes na sociedade.

No quarto capítulo, “Metodologia”, apresenta-se a natureza da pesquisa realizada, os instrumentos de coleta de dados utilizados para que se alcançasse os objetivos propostos - estudo teórico e a intervenção, considerados na perspectiva da pesquisa qualitativa.

O quinto capítulo traz a descrição dos dados coletados durante a pesquisa de campo e a análise dos mesmos, permitindo assim a construção de um conhecimento mais aprofundado sobre a relação peculiar existente entre teatro e educação, as possibilidades da sua prática dentro dos ambientes educacionais e os entraves que limitam sua utilização, fazendo uma análise da teoria e da prática.

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1. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS SIMBÓLICOS

Para o pleno desenvolvimento do trabalho de pesquisa proposto, fez-se necessário o estudo de várias bibliografias que revelaram-se essenciais e indispensáveis para o embasamento teórico.

Frente à vasta bibliografia que o tema oferece, destacou-se a leitura de obras de autores que apresentaram apontamentos relevantes para o estudo do tema.

Primeiramente, para tratar das contribuições do uso do teatro na educação, como auxílio no processo do desenvolvimento infantil, necessita-se de uma base teórica que trate de todo o processo do desenvolvimento da criança, enfatizando as características principais de cada fase. Tal estudo será embasado nos trabalhos do biólogo, zoólogo, filósofo, epistemólogo e psicólogo Jean Piaget, conhecido por seu trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil e o jogo simbólico na infância, em obras como “A Construção do Real na Criança”, “A Formação do símbolo na criança – Imitação, Jogo e Sonho e Representação”, “A linguagem e o pensamento da Criança”, “Aprendizagem e Conhecimento”, entre outras:

A respeito das teorias sobre o desenvolvimento da criança e as suas relações com o processo de aprendizagem, a perspectiva psicogenética de Piaget corresponde a um dos marcos do pensamento educacional contemporâneo, constituindo um instrumento fundamental à compreensão de como o ser humano alcança o conhecimento, ou seja, de como organiza, estrutura, compreende e expressa o mundo em que vive. (SANTOS, 2004, p. 18)

Jean Piaget, ao falar sobre o desenvolvimento infantil, aponta que, da mesma forma que o corpo evolui, crescendo e amadurecendo em busca de um equilíbrio, também a inteligência e seu aspecto psíquico como um todo passa por um processo de evolução buscando, o que o autor define como “uma forma de equilíbrio final, representada pelo espírito adulto”. (PIAGET, 1990 p.11). Assim, o autor define o desenvolvimento da seguinte maneira:

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Do ponto de vista da inteligência, é fácil opor assim a instabilidade e incoerência relativas das idéias infantis à sistematização da razão adulta. (PIAGET, 1990, p.11)

Dessa forma, ao tratar da maturação física e psíquica do ser humano durante a infância, Piaget define seis fases desse desenvolvimento, as quais ele denominou estádios, também chamados de períodos do desenvolvimento, pontuando as especificidades existentes nas características de cada etapa do desenvolvimento.

...1º. O estádio dos reflexos, ou montagens hereditárias, assim como das primeiras tendências instintivas (nutrições) e das primeiras emoções. 2º. O estádio dos primeiros hábitos motores e das primeiras percepções organizadas, assim como dos primeiros sentimentos diferenciados. 3º. O estádio da inteligência sensório-motora ou prática (anterior à linguagem), das regulações afectivas elementares e das primeiras fixações exteriores da afectividade. Estes três primeiros estádios constituem o período do bebê (até cerca de 1 ano e meio a 2 anos, isto é, anteriormente aos desenvolvimentos da linguagem e do pensamento propriamente dito). 4º. O estádio da inteligência intuitiva, dos sentimentos interindividuais espontâneos e das relações sociais de submissão ao adulto (dos 2 aos 7 anos, ou segunda parte da <<primeira infância>>). 5º. O estádio das operações intelectuais concretas (início da lógica) e dos sentimentos morais e sociais de cooperação (dos 7 aos 11-12 anos). 6º. O estádio das operações intelectuais abstractas, da formação da personalidade e da inserção afectiva e intelectual na sociedade dos adultos (adolescência). (PIAGET, 1990, p.14)

1.1. A Criança dos Zero aos Três (0 – 3) Anos

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Essas habilidades surgem, de forma gradual, nas primeiras semanas. Por volta de um mês, o bebê consegue levantar o queixo do chão ou do colchão. Por volta dos dois meses, ele consegue segurar a cabeça enquanto está no colo e começa a golpear com as mãos os objetos próximos.

Em seu desenvolvimento, essas habilidades motoras seguem dois amplos padrões:

cefalocaudal, no qual o desenvolvimento parte da cabeça e prossegue para baixo, e proximodistal, do tronco para fora – padrões originalmente identificados por Gesell.

Assim, o bebê segura a cabeça antes de sentar ou de se virar e senta antes de engatinhar.

(BEE, 2003, p.144)

A esse período, em que a criança praticamente limita-se a reflexos, percepções e à descoberta de movimentos motores, mostrando-se ainda com as capacidades intelectuais e afetivas não desenvolvidas, Piaget, em seus estudos denomina de período sensório-motor, compreendendo o primeiro estádio do desenvolvimento, estádio dos reflexos, e posterior a esse, também o segundo estádio, que compreende o período dos primeiros hábitos motores e primeiras percepções, e ainda um terceiro estádio, o da inteligência sensório motora, compreendendo o período desde o nascimento até os dois anos aproximadamente, e “é marcado por um desenvolvimento mental extraordinário” (PIAGET, 1990, p.18), onde a criança passa a desenvolver suas capacidades de percepção do mundo, uma assimilação sensório-motora, podendo ter uma percepção através do toque e dos movimentos, do mundo exterior que a rodeia, embora ainda lhe falte a função simbólica, que será desenvolvida posteriormente, à medida que desenvolve a intelectualidade, a afetividade e capacidade de abstração.

No momento do nascimento, a vida mental reduz-se ao exercício de aparelhos reflexos, isto é, de coordenações sensoriais e motoras montadas hereditariamente e correspondentes a tendências instintivas, como a nutrição, por exemplo. (PIAGET, 1990, p.19)

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coloca-se em pé, caminha agarrado aos móveis, até concoloca-seguir caminhar coloca-sem ajuda, curvar-coloca-se e agachar-se, já é capaz de agarrar uma colher com a palma da mão, mas ainda tem dificuldades para leva-la até a boca; dos treze aos dezoito meses já caminha para trás e para os lados, podendo também correr, empilha dois blocos, coloca objetos em recipientes e despeja-os.

Durante esse período, o brincar do bebê tem um papel de grande importância na construção da inteligência e do equilíbrio emocional.

A partir da atividade reflexa que se manifesta desde o nascimento, vindo totalmente programada pela bagagem genética e sendo ativada de forma automática de fora para dentro, constroem-se os primeiros esquemas de ação, que vêm potencialmente contidos no genoma, estando apenas parcialmente programados, e que já supõem o despertar do bebê como sujeito ativo[...]. O brincar ensina a escolher, a assumir, a participar, a delegar, a postergar. (OLIVEIRA, 2000, p.p 16-17)

No decorrer dos dezoito primeiros meses de vida, o desenvolvimento mental da criança mostra-se rápido e importante, de modo que:

A criança elabora, nesse nível, o conjunto das subestruturas cognitivas, que servirão de ponto de partida para as suas construções perceptivas e intelectuais ulteriores, assim como certo número de reações afetivas elementares, que lhe determinarão, em parte, a afetividade subseqüente. (PIAGET e INHELDER, 2002, p.11)

A partir do segundo ano de vida, onde se inicia o período também denominado pré-operatório, a criança já corre com facilidade, sobe escadas usando um pé por degrau, pula nos dois pés, pedala e é capaz de dirigir um triciclo, apanha pequenos objetos e segura um lápis com os dedos, realizando também outras atividades que requerem maiores habilidades motoras, e assim a criança vai se apropriando dessas capacidades e adquirindo não apenas a maturação física, mas também, em paralelo com esta, a maturação intelectual e a afetiva. Também por volta do segundo ano de vida (15 aos 18 meses), começam a se manifestar atividades simbólicas, imagéticas e imitativas, que são decorrentes do desenvolvimento verbal da criança, perceptíveis no ato da criança de brincar. Segundo Oliveira (2000, p.19), sobre a importância da brincadeira simbólica durante esse período do desenvolvimento:

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O brincar, por ser uma atividade livre que não inibe a fantasia, favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e até quebra de estruturas defensivas. (OLIVEIRA, 2000, p.19)

E, dessa maneira, através das brincadeiras, a criança de dois e, principalmente de três anos passa a representar, fazer de conta, usando seu imaginário e desenvolvendo-se cada vez mais, tanto em seu aspecto físico/biológico, quanto na sua capacidade intelectual/cognitiva.

1.2. A Criança dos Quatro aos Seis (4-6) Anos

Dos quatro aos seis anos de idade, percebe-se um grande avanço no crescimento biológico da criança, mas os aspectos principais a serem destacados dentro desse período dizem respeito ao desenvolvimento intelectual, social e cognitivo da mesma. Sendo abrangida pelo período pré-operatório, essa fase é marcada pela ampla utilização de símbolos; certo egocentrismo, em que a criança crê que todos podem ver o mundo da mesma forma que ela; dá-se início a formação de caráter e personalidade da criança, e principalmente o desenvolvimento da linguagem, pois, segundo Piaget “a criança graças a linguagem, fica apta a reconstituir suas ações passadas, sob a forma de narrativa, e de antecipar as ações futuras pela representação verbal” (1990, p.30); a socialização, o desenvolvimento do pensamento e da intuição da criança também mostram-se muito importantes durante o processo de maturação da criança. Nesse período a criança sente uma necessidade maior de estar em contato com outras da mesma idade e também de outras faixas etárias, convivendo e ampliando sua rede social, a fim de adquirir conhecimentos diversificados através da interação social, fato que vem confirmar uma proposição básica de Vygotsky: o desenvolvimento cognitivo das crianças é consideravelmente favorecido pelas interações sociais.

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...assiste-se durante a primeira infância, a uma transformação da inteligência que, de simplesmente sensório-motora ou prática que era de início, se prolonga daí em diante em pensamento propriamente dito, sob a dupla influência da linguagem e da socialização. (PIAGET, 1990, p.36)

A criança se comunica usando frases completas para dizer o que deseja e sente, dar opiniões, escolher o que quer; é muito criativa, gosta de inventar histórias. A brincadeira de faz-de-conta ajuda a desenvolver o seu pensamento, que agora se apóia nas idéias e palavras. Ela já é capaz de imaginar além do que está vendo. Tem mais domínio sobre suas ações e movimentos, permanece mais tempo brincando em atividades que exigem atenção, como encaixe de pequenas peças, recorte, colagem, desenho.

A criança já sabe segurar lápis e gravetos com mais firmeza, e desenhar formas que parecem sol, bonecos, e casas. Por meio do desenho, ela expressa o que vê e o que sente.

Durante essa fase a criança mostra-se curiosa para descobrir cada vez mais o mundo, sedenta por novos conhecimentos e precisa ser estimulada a buscar esses conhecimentos através dos jogos e brincadeiras.

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1.3. A Criança dos Sete aos Doze (7-12) Anos

A fase da infância que compreende o período dos sete aos doze anos é denominada por Piaget como sendo o período das operações concretas, e é a fase em que começam a aparecer na criança muitas formas novas de organização, que complementam as fases anteriores, iniciando uma série de construções, e segundo Piaget (1990, 62), “a idade média de sete anos, que coincide com o início da escolaridade propriamente dita da criança, marca uma viragem decisiva no desenvolvimento mental”.

...a criança de sete anos começa a libertar-se do seu egocentrismo social e assim se tornar capaz de coordenações novas, que terão a maior importância para a inteligência e ao mesmo tempo para a afectividade [...] a partir dos sete anos, a criança torna-se capaz de construir explicações propriamente atomísticas, e isto na altura em que começa a saber contar. (PIAGET, 1990, p.62 - 65)

A criança, a partir dessa idade (7 anos), passa a descobrir e desenvolver uma série de regras, maneiras de compreender o mundo em que vive e interagir com ele, desenvolve também esquemas internos abstratos, como reversibilidade, que é o entendimento de que tanto as ações físicas quanto operações mentais podem ser revertidas; adição, subtração, divisão, multiplicação e seriação. Também passa, a partir de então, a utilizar a lógica indutiva, conseguindo usar experiências próprias concretas para chegar a princípios gerais.

A criança operacional concreta é capaz de lidar com algo que conhece ou consegue ver e manipular – isto é, ela é hábil com questões concretas; ela não alcança um bom resultado manipulando mentalmente idéias e possibilidades. Piaget pensava que o raciocínio dedutivo não se desenvolvia antes do período das operações formais, no início da adolescência. (BEE, 2003, p.210)

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- que corresponde à noção de dever; e de cooperação - que pressupõe a noção de articulação de operações de dois ou mais sujeitos, envolvendo não apenas a noção de 'dever' mas a de 'querer' fazer, uma vez que para Piaget, a moral pressupõe a própria inteligência.

Ressalta-se também, durante todo o processo que se dá durante o desenvolver da criança, desde seu nascimento até alcançar a idade adulta, a fim de alcançar uma forma de equilíbrio final, que mostra-se notória a importância dos jogos e das brincadeiras como a construção de novos conhecimentos. Piaget (1990) acredita que os jogos são essenciais na vida da criança.

...Sabe-se que o jogo constitui a forma de actividade inicial de quase todas as tendências, ou pelo menos o exercício funcional dessas tendências, que as activa à margem da sua aprendizagem propriamente dita e reage sobre esta reforçando-a. Observa-se pois, já muito antes da linguagem, um jogo de funções sensório-motoras que é um jogo de puro exercício, sem intervenção do pensamento nem da vida social, visto que não acciona senão movimentos e percepções. No nível da vida colectiva (dos 7 aos 12 anos), pelo contrário, vemos que se constituem entre as crianças jogos de regras caracterizados por certas obrigações comuns que são as regras do jogo. (PIAGET, 1990, p.37)

Classificados em sensório motores, ou de exercício; simbólicos, ou de símbolos; de regras; e os de construção1, os jogos tem um papel fundamental no desenvolvimento físico e intelectual, ou mental, da criança. Segundo Piaget (1976, p. 39 ): “... os jogos não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energias das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual”.

(...) o indivíduo não poderia adquirir sua estruturas mentais mais essenciais sem uma contribuição exterior, a exigir um certo meio social de formação, e que em todos os níveis (desde os mais elementares até os mais altos) o fator social ou educativo constitui uma condição de desenvolvimento (PIAGET, 1976, p. 39).

Os jogos sensório-motores, ou de exercício são comuns entre as crianças mais pequenas, geralmente bebês, uma vez que não exigem qualquer tipo de técnica, baseando-se na repetição de ações sem modificar as estruturas mentais, mero divertimento.

1

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Maria Cristina de Matos Kuwahara (2009, p. 1)2

O jogo consiste em rituais ou manipulações de objetos em função dos desejos e hábitos motores da própria criança. Aos poucos a criança vai ampliando seus esquemas, adquirindo cada vez mais prazer através de suas ações. O prazer é que traz significado para as suas ações. (KUWAHARA, 2009, p.1)

, citando os jogos de exercício, afirma que:

Já na primeira infância, quando a criança começa a se apropriar da linguagem, os jogos de exercício já não são para ela tão interessantes, e assim, surgem os jogos simbólicos, que com suas características próprias, como liberdade de regras, desenvolvimento da imaginação e fantasia, ausência de objetivos, ausência de uma lógica da realidade, adaptação da realidade aos seus desejos, vêm satisfazer as necessidades da criança dessa fase.

O simbolismo é uma característica do gênero humano, pois ele depende de importantes funções mentais tais como a percepção, a observação, a discriminação, a análise, a síntese, a classificação, a representação até chegar à significação.

No faz-de-conta a criança passa a representar, interligando a imagem (significante) e o conceito (significado). ( CARNEIRO, 2008, p. 2)

Maria Cristina de Matos Kuwahara (2009, p. 1), afirma que:

É a fase do faz de conta, da representação, do teatro, onde uma coisa simboliza outra. Uma vassoura pode virar um cavalo, e ao brincar com as bonecas pode representar o papel de mãe. A criança é capaz porque já estruturou as imagens mentais, já domina a linguagem falada com a qual pode se expressar.

À medida que a criança passa a socializar com os demais, deixando a fase egocêntrica e tornando-se um ser mais social, e que se desenvolve mentalmente, os jogos egocêntricos também são deixados de lado e surgem os jogos de regras, onde as obrigações são impostas por intermédio das relações de reciprocidade e cooperação do grupo. O jogo de regras mostra-se necessário para que as convenções sociais e os valores morais de uma cultura sejam transmitidos.

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Eles pressupõem a existência de relações sociais, uma vez que se caracterizam pelos acordos realizados entre os jogadores.

Quando as crianças jogam dominó, por exemplo, há necessidade de regras que favoreçam o desenrolar da partida. Elas são regularidades impostas pelo grupo, porém aceitas pela criança de modo que possa participar da atividade.

Inicialmente, as regras são inquestionáveis por serem transmitidas. Com o tempo, passam a ser discutidas e reformuladas pelas crianças de acordo com seus interesses. Apresentam, portanto, uma natureza contratual e momentânea, possibilitando o desenvolvimento da autonomia e do raciocínio, a superação do desafio e a testagem de hipóteses entre outras coisas. (CARNEIRO, 2008, p. 3 )

Dentro desse contexto, a brincadeira teatral, o jogo dramático e o teatro propriamente dito são abrangidos dentro dos jogos simbólicos e de regras, demonstrando assim sua importância dentro do processo do desenvolvimento da criança. Fernando Prado (2004), tratando dos jogos de mímica e de representação como recurso psicopedagógico aponta que:

Uma das formas do sujeito apreender o mundo que o cerca é a imitação, das pessoas, dos sons, das formas e mais adiante de suas semânticas; imitação por princípio é a base das artes representativas que se espelham na vida para ‘criar’ ou como diria Platão (1981) para ‘recriar’, posto que “o conhecimento na verdade é reconhecimento, é retorno, buscar e aprender não são outra coisa senão relembrar” portanto a oportunidade de imitar as formas da natureza sem pré-conceitos configura-se num retorno necessário às raízes, ao que é primitivo. Imitar é, num amplo sento, conhecer e aprender através das formas geradas pelo outro os movimentos e gestos significativos, como feições, palavras, sons, locomoções etc... (PRADO, 2004, p. 1)

Peter Slade, citado na obra de Ingrid Koudela (1984), ao tratar da importância dos jogos na infância, afirma que:

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E, assim, mostram-se de grande importância ao desenvolvimento os jogos e brincadeiras, principalmente os jogos simbólicos, para o pleno desenvolvimento das capacidades cognitivas, intelectuais e imaginativas da criança. Dessa forma, atividades de interpretação de papéis, como o teatro, fazem-se essenciais no âmbito escolar.

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2. A RELAÇÃO ENTRE TEATRO E EDUCAÇÃO: BREVE HISTÓRICO

O teatro, como forma de arte, de comunicação, expressão e representação, mostra-se presente desde o início da humanidade, dando-se seu desenvolvimento em diferentes localidades, pois a partir do momento em que o homem sente a necessidade de relacionar-se com seus iguais e vivendo em determinado contexto, ele sente a necessidade de comunicação e expressão (modo de representação da sociedade em que está inserido). Enquanto expressão artística, o teatro acompanhou toda a trajetória histórica da humanidade, e teve um papel de grande importância em algumas localidades desde a antiguidade, como na Grécia, onde surgiu, até a atualidade, Portugal, Brasil e outros.

Três mil e duzentos anos antes de Cristo já existiam tais representações teatrais. E foi do Egito que elas passaram para a Grécia, onde o teatro teve um florescimento admirável, graças à genialidade dos dramaturgos gregos. Para o mundo ocidental, a Grécia é considerada o berço do teatro, ainda que a precedência seja do Egito. (MAGALHÃES, 1980, p.3)

2.1. Breve Histórico do Teatro em Âmbito Mundial

O teatro surgiu a partir do desenvolvimento do homem, através dos caminhos utilizados por ele para suprir suas necessidades momentâneas.

O homem primitivo era caçador e selvagem, por isso sentia necessidade de dominar a natureza, de expressar-se, de criar, e além de tudo, de ser social. Através destas e de outras tantas necessidades surgem invenções como o desenho e o teatro, na sua forma mais primitiva.

O teatro, na sua forma mais simplória e primária, teve seu início com danças dramáticas coletivas que abordavam as questões do dia a dia, uma espécie de rito de celebração, agradecimento ou perda dos homens às divindades. A partir de então, sofreu pequenas evoluções que aconteceram com o passar de vários anos, em longos e árduos processos. Com o tempo o homem passou a realizar rituais sagrados na tentativa de apaziguar os efeitos da natureza, harmonizando-se com ela.

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rituais formalizados e baseados em mitos, que são histórias sagradas que tem a função de explicar como uma realidade veio a existir.

Além do Egito Antigo, a Índia, a China, e também a Grécia possuíam uma forma, mesmo que de mesmo que de maneira primitiva, de teatro. Geralmente, tinha como característica principal sua estruturação toda baseada na religião, e inicialmente, sem vínculo algum com a educação.

Mais tarde, dentro das sociedades Grega e Romana da antiguidade, pensadores e estudiosos da época passaram a valorizar o jogo e o teatro enquanto colaborativo e de grande importância no processo educativo e na formação intelectual do ser humano:

A educação grega valorizava o teatro, a música, a dança, e a literatura. Platão considerava o jogo fundamental na educação. Dizia que mesmo que as crianças de tenra idade deveriam participar de todas as formas de jogo, adequadas ao seu nível de desenvolvimento, pois sem essa atmosfera lúdica, elas jamais seriam adultos educados e bons cidadãos. Achava também que a educação deveria começar de maneira lúdica e sem qualquer ar de constrangimento, sobretudo para que as crianças pudessem desenvolver a tendência natural do seu caráter.

Aristóteles, como Platão, deu grande destaque ao jogo na educação, considerando-o de máxima importância, pois acreditava que educar era preparar para a vida, proporcionando ao mesmo tempo prazer.

Para os romanos, o teatro era uma imitação que teria um propósito educacional se pudesse ensinar lições morais. Horácio considerava o teatro uma forma não só de entretenimento mas também de educação: “Todo louvor obtém o poeta que une informação com prazer, ao mesmo tempo iluminando e instruindo o leitor”.(REVERBEL, 2002,p/p.12-13)

Especificamente na Grécia, o teatro, em seu início era realizado em declamações em coro, tornando-se uma tradição dentro da sociedade, até que um autor e ator chamado Thespis, no século V antes de Cristo, conhecido como o primeiro produtor teatral, rompeu com tal tradição, apresentando-se em papéis destacados, como protagonista, ator principal. A partir de então, o teatro grego deu grande salto, tornando-se a principal forma de diversão popular existente na época, naquela sociedade.

Importante destacar que a arte teatral, não apenas a Grega, mas também a Romana e de outros povos antigos dividia-se em dois grandes grupos, a Tragédia e a Comédia Clássica.

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dos sentimentos, a aceitação em relação à morte, luto e dos sacrifícios diversos da vida. Sua finalidade baseava-se em emocionar, comover, provocar lágrimas, fazer com que o espectador se identificasse com o herói da trama, enobrecendo-se e/ou purificando-se através de sua trajetória. O mais antigo dos autores trágicos gregos de que se tem registro é Ésquilo, que viveu entre os anos 525 e 456 antes de Cristo.

Já a Comédia Clássica, possuía outros traços característicos, servindo como forma de satirizar os excessos, a dissipação, a falsidade, o embuste, e ainda os sentimentos mesquinhos, e totalmente contrárias das tragédias, não tinham a intenção de fazer chorar, de comover, mas sim de fazer rir.

Nesse período destacaram-se dois notáveis imitadores das comédias gregas, sendo eles Tito Maccio Plauto e Terêncio Públio Afro, mais conhecidos como Plauto e Terêncio.

Em Roma, o teatro, de início tratava-se apenas de mera imitação do teatro grego, com as mesmas características e finalidades; porém as tragédias romanas não despertaram na população romana tanto interesse quanto as comédias, e ainda assim teve seus cultores, sendo o principal deles Lúcio Aneu Sêneca, filósofo, que serviu de preceptor ao futuro imperador Nero, que influenciou, mais tarde, em grande escala o teatro europeu, através da tradução de suas obras pelos humanistas do Renascimento.

Durante a Idade Média, o teatro foi, por muito tempo, condenado pela Igreja, sendo visto com maus olhos pela concorrência com as festividades religiosas, e ainda pelo fato de as atrizes serem equiparadas às prostitutas, e ainda por motivos mais ideológicos e filosóficos, como:

...o mimo romano satirizava a Igreja; os costumes pagãos continham um elemento mimético e dramático; o pensamento neoplatônico estabelecia um conflito entre o mundo e o espírito. (REVERBEL, 2002, p.13)

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Com o abastardamento do teatro e as perseguições cada vez maiores à profissão teatral, os espetáculos foram reduzidos a simples proezas de saltimbancos, malabaristas, cantores ambulantes, pantomimas e palhaçadas, em feiras e circos, para o gozo da população. (MAGALHÃES, 1980, p.9)

Mas, com o tempo a própria Igreja tomou ciência de seu preconceito infundado, e passou a ver o teatro com outros olhos, passando a utiliza-lo a seu favor, como um meio de divulgar seus dogmas e arrebanhar pessoas e comunicar-se com o povo, através de representações de cenas bíblicas, em que os atores eram muitas vezes os próprios padres, monges ou irmãos leigos.

Por volta do século IX, Carlos Magno, que foi coroado rei do Império Romano-Germânico, fundou muitas escolas e monastérios na Europa, onde os trabalhos de Aristóteles voltaram a ser estudados e o teatro passou a ter sua importância realmente reconhecida. Logo depois:

...São Tomaz de Aquino adaptou a filosofia aristotélica à fé católica, dando então aprovação plena à representação, desde que ela fosse recreação pura. O ensino do teatro propagou-se pelas escolas. Por cinco séculos as encenações dos mistérios e das moralidades propiciaram às massas sua educação. (REVERBEL, 2002,p.13)

Ao final da Idade Média, o teatro já se encontrava em uma situação bem melhor, e viria a melhorar ainda mais no Renascimento, com o surgimento das grandes Navegações, descoberta de novas terras, a invenção da imprensa e divulgação de grandes obras da antiguidade, que viriam a ser traduzidas para os idiomas europeus.

Na Renascença, a história do teatro na escola começou de fato a florescer, a partir do estudo e encenação de peças latinas nas numerosas academias, de onde formaram-se inúmeros professores, que foram, posteriormente trabalhar nas escolas e difundir a idéia do teatro na educação. Como destaca Reverbel (2002, p. 13), “Cultivava-se a arte de falar, prática essa realizada através de diálogos. Em função desse tipo de ensino, os espetáculos escolares eram muito valorizados”.

E assim, o teatro difundiu-se pelo mundo todo, mantendo sempre seu significado cultural e uma relação dialógica com a educação dentro de cada contexto em que se inseria.

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primeiras peças ali representadas mostraram-se de cunho religioso, como os atos sacramentais ou os mistérios. Tem-se como marco do teatro em Portugal o autor, encenador e ator Gil Vicente, com cerca de cinqüenta autos entre moralidades, comédias e farsas. Os autos eram, de início, religiosos, foram tornando-se crescentemente profanos, tendo como um de seus principais cultores o grande poeta épico Luís de Camões. Durante a dominação espanhola, o cenário espanhol passou por um período aflitivo, tenso, e sofreu fortes influências do Santo Ofício. Somente depois da restauração do trono português é que surge um autor teatral digno de apreço, Dom Francisco Manuel de Melo, com fortes influências de Gil Vicente.

Na Inglaterra, a época do reinado de Isabel, falecida em 1603, foi o momento de ouro da dramaturgia britânica, inteiramente dominada pela personalidade artística e pelo gênio criativo de Shakespeare, exercido por ele e por seus companheiros da Companhia do Camarlengo na sua sede à beira do Rio Tâmisa, o Globe Theatre. E, mais tarde:

Depois do desaparecimento de William Shakespeare e de seus êmulos[...] começou no teatro inglês um período conhecido como o da “restauração”, pois na verdade se tratava da restauração da beleza britânica, sob Rei Charles II, da dinastia Stuart. Houve então uma liberalização tão grande nessa ocasião que os papéis femininos deixaram de ser feitos por homens, em travesti, passando a ser desempenhados por mulheres[...](grifos do autor) (MAGALHÃES, 1980, p.18)

Nas escolas francesas, Rebelais trabalhou jogos para exercício da mente e do corpo e introduziu as artes como os trabalhos manuais, o teatro, a dança, o canto, a modelagem, a pintura e ainda o estudo da natureza.

Quando menos se esperava, surgiu, na Noruega, na segunda metade do século passado, uma força renovadora do teatro moderno, na pessoa de Henrik Johan Ibsen, e sua primeira peça foi uma tragédia histórica, Catilina, escrita em 1850.

O teatro russo era dedicado à ópera e ao balé, especialmente, sendo que as obras dramáticas deveriam ser importadas de outros países da Europa. Eram raros dramaturgos e comediógrados russos, e dentre esses poucos, destacou-se Mikaail Yurevich Lermontov.

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grande dramaturgo, Eugene O’Neill, que dedicou-se muito, deixando grandes obras primas, como Anna Christie e O macaco peludo.

2.2 Breve Histórico do Teatro em Âmbito Nacional - Brasil

Em âmbito nacional, apontam-se indícios de manifestações cênicas desde o início da colonização do país. Os colonizadores trouxeram da metrópole o hábito das representações, mas não conseguindo ajusta-las aos preceitos religiosos, incumbiram a José de Anchieta, um dos jesuítas, as responsabilidades sobre os autos a serem encenados. Surge assim o teatro jesuítico, criado, escrito e encenado pelos jesuítas com o objetivo maior de civilizar e catequizar os nativos que aqui viviam.

Os vários autos, desiguais na forma e no resultado cênico, parecem uma aplicada composição didática de quem tinha um dever superior a cumprir: levar a fé e os mandamentos religiosos à audiência, num veículo ameno e agradável, diferente da prédica seca dos sermões. Acresce que os índios eram sensíveis à música e à dança, e a mistura das várias artes atuava sobre o espectador com vigoroso impacto. A missão catequética dos autos se cumpria assim facilmente. (MAGALDI, 2001, p.16)

Posteriormente, o teatro brasileiro diversificou-se com a introdução de novas peças trazidas da Espanha, além das encenações em língua portuguesa e essas representações aconteciam principalmente em ocasiões festivas, quando grupos amadores montavam, em praça pública, peças populares, em homenagem às autoridades.

O primeiro ator e dramaturgo a se destacar foi João Caetano. Carioca, nascido em 1808, interpretou clássicos de autores do teatro como Shakespeare e Molière, além de autores brasileiros.

Em meados do século XIX, autores como Machado de Assis e Aluisio de Azevedo introduzem ao teatro o realismo através de uma literatura recheada de humor e sarcasmo que criticava as elites brasileiras.

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quais A Capital Federal e O Mambembe.

Já no final do século XIX, teve início a construção dos grandes teatros brasileiros como o Teatro Amazonas (1896), o Teatro Municipal do Rio de Janeiro (1909) e o Teatro Municipal de São Paulo (1911). As edificações foram inspiradas na Ópera de Paris. Nesses locais, em princípio, encenavam-se obras eruditas, óperas, orquestras, apresentações de grupos e artistas estrangeiros. Hoje esses teatros recebem todo tipo de espetáculos, do clássico ao regional.

As questões sociais passaram a ser realmente discutidas nas peças brasileiras a partir dos anos 50. Nelson Rodrigues despertou polêmica com peças consideradas escandalosas. Ariano Suassuna inovou o teatro regionalista.

As décadas de 60 e 70 vão mostrar um teatro político que expressa um forte

nacionalismo preocupado em revelar e denunciar a realidade agonizante do Brasil durante o

regime militar, buscando uma ligação e uma participação cada vez mais sólida do público dentro

da peça, e revelando atores, diretores e dramaturgos de qualidade excepcional, premiados a nível

nacional e internacional.

Na década de 60 presencia-se uma vigorosa geração de dramaturgos que irrompe na cena brasileira nessa década. Entre eles destacam-se Plínio Marcos, Antônio Bivar, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e José Vicente.

Em 1964 o grupo Opinião entra em atividade no Rio de Janeiro, adaptando shows musicais para o palco e desenvolvendo um trabalho teatral de caráter político. Responsável pelo lançamento de Zé Keti e Maria Bethânia, realiza a montagem da peça Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filhoe Ferreira Gullar.

Em 1968 estréia Cemitério de Automóveis, de Arrabal. Este espetáculo e O Balcão, de Genet, ambos dirigidos por Victor Garcia e produzidos por Ruth Escobar, marcam o ingresso do teatro brasileiro numa fase de ousadias cênicas, tanto espaciais quanto temáticas.

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Em São Paulo surgem a Royal Bexiga’s Company, com a criação coletiva O Que Você Vai Ser Quando Crescer; o Pessoal do Vítor, saído da EAD, com a peça Vítor, ou As Crianças no Poder, de Roger Vitrac; o Pod Minoga, constituído por alunos de Naum Alves de Souza, que se lançam profissionalmente com a montagem coletiva Follias Bíblicas, em 1977; o Mambembe, nascido sob a liderança de Carlos Alberto Soffredini, de quem representam Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu; e o Teatro do Ornitorrinco, de Cacá Rosset e Luís Roberto Galizia, que inicia sua carreira nos porões do Oficina, em espetáculos como Os Mais Fortes e Ornitorrinco Canta Brecht-Weill, de 1977.

Já em 1974, após a invasão do Teatro Oficina pela polícia, Zé Celso parte para o auto-exílio em Portugal e Moçambique. Regressa ao Brasil em 1978, dando início a uma nova fase do Oficina, que passa a se chamar Uzyna-Uzona.

Em 1978 acontece a estréia de Macunaíma, pelo grupo Pau Brasil, com direção de Antunes Filho. Inaugura-se uma nova linguagem cênica brasileira, em que as imagens têm a mesma força da narrativa. Com esse espetáculo, Antunes Filho começa outra etapa em sua carreira, à frente do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), no qual desenvolve intenso estudo sobre o trabalho do ator. Grandes montagens suas fazem carreira internacional: Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno; Romeu e Julieta, de Shakespeare; Xica da Silva, de Luís Alberto de Abreu; A Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptado de Guimarães Rosa; Nova Velha História; Gilgamesh; Vereda da Salvação, de Jorge Andrade.

Em 1979 a censura deixa de ser prévia e volta a ter caráter apenas classificatório. É liberada e encenada no Rio de Janeiro a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, que fora premiada num concurso do Serviço Nacional de Teatro e, em seguida, proibida.

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Cetim), têm seus trabalhos reconhecidos. Cacá Rosset, diretor do Ornitorrinco, consegue fenômeno de público com Ubu, de Alfred Jarry. Na dramaturgia predomina o besteirol – comédia de costumes que explora situações absurdas. O movimento cresce no Rio de Janeiro e tem como principais representantes Miguel Falabella e Vicente Pereira. Em São Paulo surgem nomes como Maria Adelaide Amaral, Flávio de Souza, Alcides Nogueira, Naum Alves de Souza e Mauro Rasi. Trair e Coçar É Só Começar, de Marcos Caruso e Jandira Martini, torna-se um dos grandes sucessos comerciais da década. Luís Alberto de Abreu – que escreve peças como Bella, Ciao e Xica da Silva–é um dos autores com obra de maior fôlego, que atravessa também os anos 90.

Em 1987 a atriz performática Denise Stoklos desponta internacionalmente em carreira solo. O espetáculo Mary Stuart, apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, é totalmente concebido por ela. Seu trabalho é chamado de teatro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais e o máximo dos próprios meios do ator, que são o corpo, a voz e o pensamento.

Já nos anos 90, no campo da encenação, a tendência à visualidade convive com um retorno gradativo à palavra por meio da montagem de clássicos. Dentro dessa linha tem destaque o grupo Tapa, com Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues e A Megera Domada, de William Shakespeare. O experimentalismo continua e alcança sucesso de público e crítica nos espetáculos Paraíso Perdido (1992) e O Livro de Jó (1995), de Antônio Araújo. O diretor realiza uma encenação ritualizada e utiliza-se de espaços cênicos não-convencionais – uma igreja e um hospital, respectivamente. As técnicas circenses também são adotadas por vários grupos. Em 1990 é criado os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. A figura do palhaço é usada ao lado da dramaturgia bem-humorada de Hugo Possolo, um dos membros do grupo. Também ganha projeção a arte de brincante do pernambucano Antônio Nóbrega. O ator, músico e bailarino explora o lado lúdico na encenação teatral, empregando músicas e danças regionais.

Outros nomes de destaque são Bia Lessa (Viagem ao Centro da Terra) e Gabriel Villela (A Vida É Sonho). No final da década ganha importância o diretor Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão. Seu grupo realiza um trabalho de pesquisa sobre o teatro dialético de Bertolt Brecht, que resulta nos espetáculos Ensaio sobre o Latão e Santa Joana dos Matadouros.

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artístico com algumas especificidades, sempre buscando torná-las cada vez mais coerentes com as realidades vivenciadas em cenário nacional.

Temos presenciado, em mais de uma década, vertiginosas mudanças de valores, que recomendam cautela e humildade.

[...] na atualidade, por um ou outro motivo, cumpre-nos registrar a pluralidade de tendências. Cada dramaturgo, respondendo ao imperativo vocacional ou a uma sugestão de mestres estrangeiros e do próprio desenvolvimento interno, se encaminha num rumo diferente, o que dificulta o trabalho agrupador de fins didáticos e anima quanto à riqueza de possibilidades. (MAGALDI, 2001, p. 255)

A partir de então o teatro vem conquistando cada vez mais espaço, não apenas em campo nacional, mas também ganhando reconhecimento internacional, como forma de expressão, de arte, de representação cultural, acabando por atravessar os limites da área em que se encontra, das artes e entretenimento, e encontrar cada vez mais espaço em outras áreas, dentre as quais ocupa lugar de destaque a educação.

Sobre a relação dialógica existente entre teatro e educação, Olga Reverbel afirma que:

Pensadores e educadores vêm há muito tempo percorrendo diversos caminhos na tentativa de encontrar aquele que realmente coloque a arte a serviço da educação. Numa rápida revisão da arte e da história do pensamento educacional, verifica-se que esses caminho são longos, pois começam a ser trilhados na Grécia, no século V a.C. (REVERBEL, 2002, p.12)

Por meio de uma breve síntese da trajetória histórica do teatro através dos tempos, pode-se perceber que a todo o momento existiu, de certa forma uma ligação muito grande do teatro com a educação.

Durante a antiguidade, existiu uma grande valorização tanto das civilizações gregas quanto das romanas do jogo, especialmente do teatro e da representação na educação, tendo como principais defensores do ideal os filósofos Platão e Aristóteles.

Na Idade Média, temos duas fases principais, um no início do período, em que a Igreja condenava a prática do teatro, e outra mais no final, em que a Igreja passou a aceitar e utiliza-lo a seu favor para arrebanhar fiéis e comunicar-se com a população, através das encenações públicas.

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evidente a relação dialógica existente.

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3. TEATRO EM SALA DE AULA: BENEFÍCIOS E APRENDIZAGENS

Um espetáculo de teatro bem feito é um estímulo inesgotável para a sensibilidade da criança. A emoção artística leva a criança a um mundo de fantasia e de sonho que corresponde ao que busca sua alma em desenvolvimento. (MACHADO, ano, p.5)

Em se tratando de teatro e educação, deve-se ter clara não somente sua trajetória histórica, mas também suas possibilidades e os benefícios que sua utilização pode trazer, enquanto recurso pedagógico utilizado no processo de formação, de ensino e aprendizagem dentro e fora dos ambientes educacionais.

Ao longo de toda a trajetória traçada pelo teatro dentro da educação, estudos como os de Slade (1987), Koudela (1990; 1992), Reverbel (2002), Santos (2004), Spolin (2006), e vários outros, demonstram a importância da utilização do teatro na educação, dando ênfase à análise das suas contribuições ao desenvolvimento da criança.

No que diz respeito à importância do ambiente escolar para a formação pessoal e social da criança, Reverbel (2002) coloca que a escola não é um ambiente em que a criança estará inserida individualmente, mas conviverá com outras e poderá socializar aprendizagens e dificuldades. Destaca ainda que a educação deve ser centrada na criança, portanto deve ser pautada em atividades lúdicas, onde a criança sinta prazer em realizá-las:

É principalmente na escola que a criança aprende a conviver com os outros, delineando-se nesdelineando-se momento sua primeira imagem da sociedade. É na sala de aula que podem acontecer as primeiras descobertas de si mesmo, do outro e do mundo, pois ai o aluno incorpora-se ao grupo social, ao mesmo tempo que se diferencia dele. (REVERBEL, 2002, p.19)

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Nesse sentido, valorizar as atividades lúdicas, em que o aluno possa participar ativamente e sita prazer em realiza-las, e garantir que tais atividades considerem o contexto de cada aluno, almejando a transformação da realidade, são ações essenciais ao professor, pois assim a criança terá mais facilidade no aprendizado e um pensamento mais crítico.

Koudela (1984) também aponta reflexões nesta direção, destacando que:

A educação, respeitando o desenvolvimento natural, é centrada na criança. Como consequência, contrapõe-se ao aspecto lógico dos programas de ensino o aspecto psicológico. A inclusão do trabalho livre, da atividade lúdica, a adoção dos princípios da educação pela ação abriram a possibilidade de aproveitamento das áreas artísticas no currículo escolar. (KOUDELA, 1984, p. 19)

Quanto à realidade atual das salas de aula, em que o construtivismo de Jean Piaget é deveras difundido e utilizado, mesmo que com muitas adaptações e muitas vezes sendo compreendido e praticado erroneamente, Santos (2004) traz uma reflexão importante para uma prática pedagógica coerente nessa vertente:

O construtivismo enfatiza a importância não somente da criança descobrir a resposta de sua maneira, mas também de levantar as próprias perguntas. Começar o trabalho a partir das perguntas da própria criança assegura ao professor o início do processo de aprendizagem construtivista a partir do ponto onde a criança está, ao invés de começar por onde o professor está. (KAMII apud SANTOS, 2004, p. 19)

O construtivismo, fundamentado por Piaget, parte do princípio de que o conhecimento se constrói a partir da relação do sujeito com o meio, a base do conhecimento está na experiência. Pela manipulação, observação e interação com os objetos e pessoas e com o mundo que a criança vai elaborando suas hipóteses e construindo seu conhecimento sobre todas as coisas.

Dentro da escola, onde se prioriza a aprendizagem dos conteúdos, encontra-se um currículo voltado para tais objetivos, deixando, muitas vezes, outros saberes em segundo plano:

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educando, há uma acentuada distância entre as teorias e a prática em sala de aula. (REVERBEL, 2002, p.34)

Não se considera, dessa forma, que outros saberes e outras formas de conhecimento trazem contribuições importantes ao desenvolvimento da criança, e também colaboram para o desenvolvimento dos aspectos cognitivos, e assim, perde-se muito do que poderia ser trabalhado com esses alunos.

No caso das Artes, embora componham o currículo escolar, estas são utilizadas, na maioria das vezes, como forma de recreação e descontração desfazendo-se do seu caráter educativo, formativo e da sua função social, quando poderia na verdade ser ricamente trabalhada em suas diversas vertentes, oferecendo ao aluno mais que o conhecimento artístico.

Os documentos oficiais da Educação no nosso país colocam a importância do trabalho da Arte, entre eles os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), que argumentam que:

Conhecendo a arte de outras culturas, o aluno poderá compreender a relatividade dos valores que estão enraizados nos seus modos de pensar e agir, que pode criar um campo de sentido para a valorização do que lhe é próprio e favorecer abertura à riqueza e à diversidade da imaginação humana. Além disso, torna-se capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, reconhecendo objetos e formas que estão à sua volta, no exercício de uma observação crítica do que existe na sua cultura, podendo criar condições para uma qualidade de vida melhor.

Uma função igualmente importante que o ensino da arte tem a cumprir diz respeito à dimensão social das manifestações artísticas. A arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam os diferentes tipos de relações entre os indivíduos na sociedade. A arte solicita a visão, a escuta e os demais sentidos como portas de entrada para uma compreensão mais significativa das questões sociais. Essa forma de comunicação é rápida e eficaz, pois atinge o interlocutor por meio de uma síntese ausente na explicação dos fatos.

A arte também está presente na sociedade em profissões que são exercidas nos mais diferentes ramos de atividades; o conhecimento em artes é necessário no mundo do trabalho e faz parte do desenvolvimento profissional dos cidadãos.

O conhecimento da arte abre perspectivas para que o aluno tenha uma compreensão do mundo na qual a dimensão poética esteja presente: a arte ensina que é possível transformar continuamente a existência, que é preciso mudar referências a cada momento, ser flexível. Isso quer dizer que criar e conhecer são indissociáveis e a flexibilidade é condição fundamental para aprender. (BRASIL, 1997, p. 19)

Ainda tratando da importância da arte na educação, Olga Reverbel (2002) aponta que:

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parte de si mesma: nos mostra como sente, como pensa e como vê [...] As atividades de expressão artística são excelentes recursos para auxiliar o crescimento, não somente afetivo e psicomotor como também cognitivo do aluno. O objetivo básico dessas atividades é desenvolver a auto-expressão do aluno, isto é, oferecer-lhe oportunidades de atuar efetivamente no mundo: opinar, criticar e sugerir. (REVERBEL, 2002, p/p.21 -34)

As atividades artísticas possibilitam o despertar de um olhar crítico do aluno, pois são uma maneira de expressar opiniões e ideais, logo, não é apenas para divertimento, mas um manifestador de pensamentos sociais e culturais. Permite analisar o contexto social através de um processo reflexivo em que, por meio da abstração, do distanciamento ou da identificação, na representação, permite-se a denúncia, o confronto de idéias, de perspectivas, o rompimento com a rotina de uma aceitação passiva da realidade que o cerca.

Tendo uma breve concepção sobre a importância da arte e tendo reconhecida a sua colaboração na formação da criança, tanto nos aspectos psicológicos, físicos e cognitivos, partiremos então para uma discussão mais específica sobre uma das várias formas de arte: o teatro.

A ênfase na presença do teatro na escola como um sistema de conhecimento a ser constituído na interação da criança com a experiência estética vincula-se aos avanços do pensamento pedagógico em arte. (SANTOS, 2004, p. 44)

Pesquisas e discussões acadêmicas mais atuais sobre as artes e educação levaram a um estudo mais aprofundado sobre uma forma específica de arte, o teatro, dentro da educação, enquanto recurso didático. A partir desses estudos, pôde-se perceber a relevância do estudo, destacando as contribuições do teatro ao desenvolvimento da criança.

Referências

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