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Mielite transversa pós-infecciosa e espinha bifida toracica: registro de um caso.

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Academic year: 2017

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MIELITE TRANSVERSA POS­INFECCIOSA 

Ε  ESPINHA BIFIDA TORACICA 

REGISTRO DE UM CASO 

LUIZ AUGUSTO F. ANDRADE* PEDRO SIMÕES ROSADO**

Espinha bifida oculta nγo ι condiηγo rara, especialmente quando se consi­

dera seu aparecimento na coluna lombossacra ou cervical. Entretanto, pacientes 

com esta malformaηγo no segmento torαcico da coluna vertebral sγo considerados 

como minoria. Na sιrie publicada por Inzraham e  S w a n2

, em que 546 casos de 

espinha bνfica e crβnio bνfido foram apresentados (462 pacientes com espinha bifida) 

apenas 39 tinham a anormalidade congκnita na regiγo torαcica (menos de  1 0 % ) . 

Muitas infecηυes comprometendo estruturas extraneurais de natureza bacte­

riana ou viral podem desencadear complicaηυes neurolσgicas durante ou apσs 

o seu curso clνnico. Algumas destas complicaηυes podem ser explicadas pela 

simples invasγo das estruturas nervosas pelo agente infeccioso. Outro grupo 

de pacientes tem suas complicaηυes neurolσgicas secundαrias a envolvimento 

imunolσgico, semelhante ao que ocorre apσs alguns tipos de vacinaηγo. A 

encefalomielite pσs­infecciosa e a sνndrome de Guillain­Barrι sγo exemplos tνpicos 

desta forma de comprometimento do sistema nervoso­ Um pequeno n٥mero de 

pacientes, ocasionalmente, pode desenvolver sinais de uma mielite transversa 

no decurso da cachumba1

, sarampo5

, influenza4

, mononucleose infecciosa3

 e 

outras infecηυes virais. 

A ocorrκncia de espinha bifida oculta torαcica e de mielite transversa pσs­

­infecciosa em um mesmo paciente e o fato de ambas as patologias afetarem 

estruturas situadas em mesmo nνvel, mostram o relacionamento existente entre  elas e motivaram a descriηγo deste caso. 

OBSERVAΗΓO 

A.A.F., branco, dentista, 30 anos de idade, admitido no hospital em 19 de novembro  de 1974. Cinco dias antes havia iniciado o quadro com mal estar geral e indefinido,  dores musculares difusas em todo o corpo, dor ΰ movimentaηγo dos olhos e febre.  Ele notou que seu pescoηo estava ligeiramente rνgido e doloroso quando tentava a  flexγo ou a rotaηγo da cabeηa para os lados. Dirigiu­se ao seu mιdico e este solicitou  radiografia simples dos seios da face (a qual mostrou apenas a presenηa de um cisto  no seio maxilar esquerdo). O mιdico diagnosticou quadro infeccioso sistκmico, de 

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etiologia viral, do tipo gripai e forneceu­lhe prescriηγo de analgιsico. Houve melhora  discreta do quadro geral mas, na vιspera da internaηγo, comeηou a apresentar dificuldade  para urinar, com retenηγo urinaria, sendo necessαria passagem de sonda vesical. As  dores musculares jα haviam cessado nesta fase, mas a febre persistia (38°C). No dia  da internaηγo a retenηγo urinaria ainda era manifesta, necessitando de sondagens repetidas  e ele notou que o seu equilνbrio durante a marcha estava prejudicado e havia sensaηγo  de amortecimento em ambas as pernas, atι a altura dos joelhos. Apσs a internaηγo foi  chamado um urologista. Este encontrou­o febril (40° C) e sonolento. Foi tratado com  penicilina cristalina (20.000.000 U por dia) e cloranfenicol (2 g por dia), alιm de  prednisona (40  m g por dia). Duas semanas antes do inνcio dos sintomas ele havia  tido infecηγo dentαria. Sua histσria mιdica pregressa revelava que 2 anos antes havia  tido lesγo sifilνtica primαria, a qual fora tratada convenientemente com penicilina. No  terceiro dia de hospitalizaηγo um de nσs foi chamado em consulta. Nesta ocasiγo  o paciente estava l٥cido e nγo apresentava mais febre. O abdome se apresentava  distendido e ainda havia necessidade de se manter sondagem vesical permanente.  Hα vαrios dias nγo evacuava. A palpaηγo do abdome nγo revelava aumento do fνgado,  o baηo nγo era palpαvel e nγo se encontrou nenhum linfonodo infartado. O sistema  cardiocirculatσrio nγo apresentava anormalidades. O exame neurolσgico revelou marcha  atαxica e parιtica, caminhando com as pernas bem abertas e com dificuldade. Seu  equilνbrio era instαvel na posiηγo em pι, mas nγo havia sinal de Romberg. A forηa  muscular estava normal nos membros superiores e cabeηa, e levemente diminuνda nos  membros inferiores, mais no membro inferior esquerdo. O tono muscular apresentava­se  normal. Os reflexos tendinosos estavam normais nos membros superiores e hiperativos  nos inferiores, de maneira simιtrica. Havia sinal de Babinski bilateralmente. Os  nervos cranianos nγo apresentavam alteraηυes e o exame fundoscσpico era normal.  A estimulaηγo cutβnea com algodγo ou com agulha produzia uma hiperestesia desagra­ dαvel no segmento cutβneo correspondente a Τ9­Ί10 , continuando atι T12­L1, apenas  no lado direito do abdome e do dorso. A sensibilidade voltava ao normal deste nνvel 

atι as pernas, voltando a apresentar o mesmo aspecto hiperestιsico no terηo inferior  destas e nos pιs. A sensibilidade vibratσria estava diminuνda nos joelhos e pιs.  Nγo havia rigidez de nuca. 

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anormalidades anatτmicas que pudessem ser detectadas pela radiografia simples da  coluna torαcica. O paciente foi medicado com dexametasona» (4,5mg/dia, durante 10  dias) e os demais medicamentos foram interrompidos. Duas semanas apσs ele se  encontrava livre de sintomas e o exame neurolσgico mostrava apenas reflexos tendinosos  vivos nos membros inferiores. Nestes ٥ltimos 8 anos o paciente vem desempenhando  normalmente sua atividade de dentista, sem sintomas neurolσgicos. 

COMENTÁRIOS 

O diagnσstico de quadro infeccioso a vνrus, de tipo gripai, foi feito basendo­

­se apenas nos dados clνnicos. Nenhuma pesquina especνfica para vνrus foi 

feita neste caso. 

A anormalidade congκnita de vertebra  T 7 , pelo menos depreendendo­se do 

observado na radiografia simples de coluna e na perimielografia, nγo parece 

estar associada a anormalidades anatτmicas das estruturas neurais subjacentes. 

No entanto, isto nγo pode ser considerado como evidκncia definitiva, desde 

que pequenos defeitos de desenvolvimento poderiam existir sem que se mani­

festassem nestas investigaηυes. Embora o achado radiolσgico de defeito de 

desenvolvimento na coluna nem sempre possa ser relacionado a sintomas que 

apareηam ao longo da vida, pensamos que a ocorrκncia de mielite transversa 

no mesmo nνvel de uma vertebra com tais defeitos (espinha bifida em  T 7 e 

comprometimento medular no segmento  T 9 ­ T 1 0 , os quais se encontram 

aproximadamente no mesmo nνvel) seria mais que simples coincidκncia. 

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um papel no desenvolvimento da mielite, provavelmente em virtude de ser um 

"ponto vulnerαvel" ontogeneticamerite determinado ("locus minor resistentia") 

naquele nνvel — quer anatτmico ou imunolσgico. 

RESUMO 

O s autores registram um c a s o de mielite transversa pós-infecciosa em

paciente que apresenta espinha bifida oculta torácica, no mesmo nível. Estas

duas c o n d i ç õ e s clínicas s ã o infreqüentes e o fato de surgirem em um mesmo

paciente e, ainda, n o mesmo nível, leva a o raciocínio de que estejam relacionadas

uma à outra. O s autores pensam que o defeito congênito vertebral estabeleceu

um " p o n t o vulnerável" naquela área predispondo o paciente a que ali se

esta-belecesse a c o m p l i c a ç ã o medular pós-infecciosa ( " l o c u s minor resistentia").

SUMMARY 

Post-infectious transverse myelitis and thoracic spina bifida. Report of a case.

T h e patient, a 3 0 year-old man, dentist, started having an influenza-like

infection which lasted five days, with malaise, muscle pain throughout the b o d y

and fever- One day before the hospital admission he presented urinary retention

followed in the next d a y b y ataxia and numbness sensation in both feet and

l o w e r third of his legs. T h e neurological examination disclosed a thoracic

spinal c o r d impairment at T 9 - T 1 0 level and the d i a g n o s i s of a p o s t - infectious

transverse myelitis w a s made. T h e plain R x of the spine s h o w e d a spina bifida

oculta in the T 7 vertebra, which is roughly at the same level of the T 9 - T 1 0

spinal c o r d segment. A n iodinated m y e l o g r a p h y s h o w e d no abnormalities. T h e

CSF examination s h o w e d small increase in the white cells (6.4 c e l l s / c u . m m ) .

T h e patient received dexamethasone ( 4 . 5 g / d a y ) and t w o w e e k s later w a s

entirely free of symptoms. T h e authors think that the congenital b o n e defect

(spina bifida) might have played a role in the development of the myelitis,

p r o b a b l y because o f an ontogenetically determined "vulnerable point" ( " l o c u s

minor resistentia") at that level, either anatomical or immunological.

REFERENCIAS 

1. BENADY, S.; BEN ΖVI , Α . & SZABO, G. — Transverse myelitis following mumps. Acta paediat. scand. 62:206, 1973.

2. INGRAHAM, F.D. & SWAN, H . — Spina bifida and cranium bifidum: survey of 546 cases. N. Engl. J. Med. 228:559, 1943.

4. OWEN, N.L. — Myelitis following type A-2 influenza. J. amer. Med. Assoc. 64:1752, 1969.

4. OWEN, N.L. — Myelitis following type A-2 influenza. J. aumer Med. Assoc. 215:1986, 1971.

5. WESOLEK, I. — Transverse myelitis in the course of measles in a 7 years old boy. Neurol. Neurochir. Pol. 4:471, 1970.

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