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Controle anestésico de paciente com esclerose múltipla - relato de caso.

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Academic year: 2017

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RevBrasAnestesiol.2016;66(4):414---417

REVISTA

BRASILEIRA

DE

ANESTESIOLOGIA

PublicaçãoOficialdaSociedadeBrasileiradeAnestesiologia

www.sba.com.br

INFORMAC

¸ÃO

CLÍNICA

Controle

anestésico

de

paciente

com

esclerose

múltipla

---

relato

de

caso

Eduardo

Barbin

Zuccolotto,

Guilherme

Coelho

Machado

Nunes,

Rafael

Soares

Lopes

Nogueira,

Eugenio

Pagnussatt

Neto

e

José

Roberto

Nociti

CentrodeEnsinoeTreinamentoemAnestesiologia(CET-SBA),ClinicadeAnestesiologiadeRibeirãoPreto(CARP),RibeirãoPreto, SP,Brasil

Recebidoem20defevereirode2014;aceitoem19demarçode2014 DisponívelnaInternetem6demarçode2015

PALAVRAS-CHAVE

Esclerosemúltipla; Cirurgiaurológica; Propofol;

Sevoflurano; Remifentanil

Resumo

Justificativaeobjetivos: Esclerosemúltiplaédoenc¸adesmielinizantedocérebroedamedula espinhal, caracterizada por fraqueza muscular, disfunc¸ão cognitiva, perda da memória, alterac¸ões de personalidade. Fatores que promovem exacerbac¸ão da doenc¸a são estresse, traumafísico,infecc¸ões,cirurgias,hipertermia.Oobjetivoédescreveraabordagemanestésica deumcasoencaminhadoacirurgiaurológica.

Relatodecaso:Pacientedosexofeminino,44anos,portadoradeesclerosemúltipla,como diagnósticodenefrolitíase,éencaminhadaaureterolitotripsiaendoscópica.Optou-sepor anes-tesiageralbalanceadacommidazolam, propofoleremifentanileminfusãoalvo-controlada, sevofluranosobmáscaralaríngeaeventilac¸ãoespontânea.Tendoapresentadodificuldade ven-tilatóriaportóraxrígido,optou-seporinterromperainfusãoderemifentanil.Nãoseregistraram outrasintercorrênciasnemexacerbac¸ãodadoenc¸anopós-operatório.

Conclusão:O uso de bloqueadores neuromusculares (tanto despolarizantes como não--despolarizantes) constitui um problemanestes pacientes. Como não havia necessidade de relaxamentomuscularnestecaso,elesforamomitidos.Concluímosqueaassociac¸ãodepropofol esevofluranofoisatisfatória,nãoresultandoeminstabilidadehemodinâmicanemexacerbac¸ão dadoenc¸a.

© 2014 SociedadeBrasileira de Anestesiologia. Publicado por Elsevier EditoraLtda. Este é umartigoOpenAccesssobalicençadeCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

Autorparacorrespondência.

E-mail:md.eugenio@gmail.com(E.PagnussattNeto). http://dx.doi.org/10.1016/j.bjan.2014.03.012

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Controleanestésicodepacientecomesclerose 415

KEYWORDS

Multiplesclerosis; Urologicsurgery; Propofol; Sevoflurane; Remifentanil

Anestheticmanagementofapatientwithmultiplesclerosis---casereport

Abstract

Backgroundandobjectives: Multiplesclerosisisademyelinatingdiseaseofthebrainandspinal cord,characterizedbymuscleweakness,cognitivedysfunction,memoryloss,andpersonality disorders.Factorsthatpromotediseaseexacerbationarestress,physicaltrauma,infection, sur-gery,hyperthermia.Theobjectiveistodescribetheanestheticmanagementofacasereferred tourologicalsurgery.

Casereport: Afemalepatient,44yearsofage,withmultiplesclerosis,diagnosedwith nephro-lithiasis,referredforendoscopicureterolythotripsy.Balancedgeneralanesthesiawaschosen, withmidazolam, propofolandremifentaniltarget-controlledinfusion;sevoflurane via laryn-gealmaskairway;andspontaneousventilation.Becausethepatienthadrespiratorydifficulty presentingwithchestwallrigidity,itwasdecidedtodiscontinuetheinfusionofremifentanil. Therewasnoothercomplicationorexacerbationofdiseasepostoperatively.

Conclusion: Theuseofneuromuscularblockers(depolarizingandnon-depolarizing)isaproblem inthesepatients.Astherewas noneedformusclerelaxationinthiscase,musclerelaxants wereomitted.Weconcludethatthecombinationofpropofolandsevofluranewassatisfactory, notresultinginhemodynamicinstabilityordiseaseexacerbation.

©2014SociedadeBrasileiradeAnestesiologia.Publishedby ElsevierEditoraLtda.Thisisan open access article under the CC BY-NC-ND license (http://creativecommons.org/licenses/ by-nc-nd/4.0/).

Introduc

¸ão

Esclerosemúltipla(EM)édoenc¸adesmielinizantedocérebro e da medula espinhal (nervos periféricos não são afeta-dos), com remissões e recaídas crônicas ou com curso progressivo.Épossivelmentecausadapelainterac¸ãoentre fatores genéticos e ambientais, cuja etiologia exata é desconhecida. Caracteriza-se por perda da forc¸a mus-cular, inicialmente reversível, disfunc¸ão cognitiva, perda da memória, alterac¸ões de personalidade e labilidade emocional.1---5 Os sintomas manifestam-se entre os 20 e

os 40 anos, com prevalência oito vezes maior no sexo feminino:4 não obstante, no caso de pacientes do sexo

masculino, a exacerbac¸ão é potencialmente mais grave, commenoríndicedesobrevivência.6 Condic¸õesassociadas

incluemconvulsõeseuveíte.Adestruic¸ãomuscularacarreta hiperpotassemiaeapossibilidadedesobredosedeagentes bloqueadoresneuromusculares.Otratamentocrônico com corticosteroidespredispõeasupressãoadrenaleulcerac¸ão gástrica.4

Fatoresclinicamenteestabelecidosparaa exacerbac¸ão da doenc¸a incluem crises de estresse e trauma físico, infecc¸ões, cirurgias, hipertermia, período puerperal.2,5,7

Estudo com o objetivode verificar sea exposic¸ão ocupa-cionalaagentesinalatóriosutilizadosemanestesiapoderia aumentaro risco deocorrênciadaEMem profissionais da área,nãoencontrourelac¸ãoentreestefatoreo desenvol-vimentodadoenc¸a.8

O tratamento tem sido direcionado para o controle dos sinais e sintomas e da progressão da doenc¸a. Cor-ticosteroides são à base do mesmo, grac¸as à sua ac¸ão imunomoduladora e anti-inflamatória. Interferon beta é agente de escolha para pacientes com crise-remissão ou, comoalternativa,acetatodeglatiramer.Oimunossupressor azatioprinaéefetivonadiminuic¸ãodafrequênciadascrises, masnãonaremissãodadoenc¸a.5

Relato

de

caso

Pacientedosexofeminino,44anos,apresentador abdomi-nalemcólica, deforteintensidade,noflanco direitocom irradiac¸ão para a região ventral. Avaliada pela equipe da Urologia, foi diagnosticada nefrolitiase e indicada urete-rolitotripsia endoscópica. A paciente é portadora de EM, cominicio dos sintomas há dez anos, relatando perdado equilíbrio,parestesianomembroinferiordireito,diplopiae desviodarimalabial.Hácercadedoisanos,estabelecidoo diagnóstico,passouaseracompanhadaporneurologista.No momentoencontra-seemusodenatalizumab,gabapentina 300mgaodiaebaclofeno10mgduasvezesaodia.Aúltima crisefoirelatadahámaisdeumano.Negaoutras comorbi-dadeseusoregulardeoutrasmedicac¸ões.Nãotemhistória dealergias.Foisubmetidaatrêsoperac¸õescesarianas pré-vias,há25,22e19anos,tendorecebidoraquianestesianas duasprimeirasebloqueioperiduralnaúltima.Atualmente não consegue deambular em func¸ão de intensa fraqueza muscularemambososmembrosinferiores.

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416 E.B.Zuccolottoetal.

conduzidaàSaladeRecuperac¸ãoPós-Anestésicaacordada, comcondic¸õesvitaisestáveiseassintomáticas.Noperíodo pós-operatórionãofoiconstatadaexacerbac¸ãodaEM.

Discussão

Estresseanestésicoeperioperatóriosãofatoresquepodem desencadearcrises deexacerbac¸ão daEM; nessesentido, portadores da doenc¸a submetidos a um ato anestésico--cirúrgicoapresentammaiorriscodedisfunc¸ãoneurológica comparadoscomnãoportadores.1

Relatosdecasoseestudosretrospectivossãolimitados nadeterminac¸ãodosefeitosdastécnicasanestésicase do controleperioperatórioempacientescomEM.Osdados dis-poníveis não dão suporte à hipótese de que a anestesia podeestarrelacionada com novaslesõesdesmielinizantes empacientescomEM.2

Bloqueioneuroaxialempaciente comEMécontroverso emfunc¸ãodopotencialdeneurotoxicidadedosanestésicos locais,especialmentenosnervosdesmielinizados.2,4Porém

vários estudos retrospectivos nãodemonstraram aumento significativodasexacerbac¸õesquandoadministrados anes-tésicoslocaisnoespac¸operiduralounosubaracnoideo.2,6,9

Dequalquer maneira,nocaso deindicac¸ãoprecisaparaa realizac¸ãodebloqueioneuroaxial,éopiniãodealguns auto-resqueatécnicaperiduraldeveterpreferência.4,10

Hipertermiaperioperatóriapodesercausaderecorrência eexacerbac¸ãopós-operatóriadeEM,poisalteraaconduc¸ão nervosaemregiõesdemielinizadas.4,6Nocasoapresentado,

fez-se uso de reposic¸ão volêmica com soluc¸ões friasbem comoderesfriamentodapaciente.

Agentes de induc¸ão venosa ou anestésicos inalatórios parecem não apresentar efeitos adversos na conduc¸ão nervosaealiteraturadisponívelnãoosrelacionacom pro-gressãodaEM.2Namaioriadosrelatosdecasos,fez-seuso

desevofluranonamanutenc¸ãoanestésica,semreferências aexacerbac¸õespós-operatóriasdadoenc¸a.11,12

Ousodebloqueadoresneuromusculares representaum problema: a succinilcolina deve ser evitada em func¸ão da ocorrência de hiperpotassemia; os não despolarizan-tesdevemserevitadosespecialmentenoscasosdegrande destruic¸ão muscular e, quando imprescindíveis, seu uso deve ser feito sob estrita monitorizac¸ão.6 Como o

pro-cedimentonão exigia relaxamento muscular e o controle davia aérea ocorreu sem intubac¸ão traqueal, não se fez uso de bloqueadores neuromusculares. O tratamento far-macológico da espasticidade inclui o uso de baclofeno e tizanidine por via sistêmica, toxina botulínica, álcool efenolporvia local,constituindoosdoisprimeiroso tra-tamento de primeira linha.8,13 O emprego de baclofeno

paracontrole deespasmosmusculares, comoocorria com estapaciente,éadequadoembora possadiminuiramassa muscular.6 Trombose venosa é fator de risco em

pacien-tes com EM exacerbada pós-punc¸ão espinhal ou em uso de altas doses de corticosteroides, sendo indicado o tra-tamento profilático.10 Não foi o caso desta paciente. A

doenc¸aapresentaperíodosdeexacerbac¸ãoeremissõesem intervalosimprevisíveis e,quando seconsideramsomente gestantes,maisdametadedasrecaídasocorremnoperíodo pós-parto,normalmentedentrodosprimeirostrêsmeses.9,14

Este risco não está relacionado com o tipo de técnica

anestésica ou com a paridade.14 Alguns relatos de casos

mostraram bons resultados com a realizac¸ão de bloqueio subaracnóideoparacesariana,semsinaisdeexacerbac¸ãoda EM,mesmonaquelaspacientesacompanhadaspeloperíodo deatédozemesesapósoprocedimento.9,15,16 Outros

ates-tamque o bloqueioperidural bemconduzido associa-se a mínimoriscodeexacerbac¸ãopós-parto.10,17Nãoconsenso

sobrequalamelhortécnicanagestanteportadoradeEM. Apesar do baixo nível de evidência, há estudos que apoiam a utilizac¸ão pré-operatória de ansiolíticos para o controledosdistúrbiosemocionaisquepodemdesencadear exacerbac¸ões,bemcomooadequado controledador pós--operatória.6

Conclusão

Anestesia regionalouneuroaxial nãotêm contraindicac¸ão absolutaemportadoresdeEM,masmenoresconcentrac¸ões deanestésicoslocaisecuidadosnamanipulac¸ãodosmesmos sãoparticularmenteimportantes.Estespacientes apresen-tam maior risco de disfunc¸ão autonômica, devendo ser rigorosamente acompanhados. Aqueles com doenc¸a em estágio mais avanc¸ado têm risco aumentado de depres-sãoperioperatória,hipoventilac¸ão,atelectasiaseapneiado sono.Ousodebloqueadoresneuromusculares despolarizan-tesdeveserevitadoeosnãodespolarizantesutilizadossob monitorizac¸ão.

Conflitos

de

interesse

Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.

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Controleanestésicodepacientecomesclerose 417

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