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Pânico e desamparo na atualidade.

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Academic year: 2017

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RES UMO:Procura-se articular o que Freud denom inou “m al-estar na civilização” às psicopatologias contem porâneas, exam inando-se a re-lação da incidência do pânico com as m odalidades subjetivas em er-gentes. Diante do deslocam ento da ordem paterna com o referencial central, o desam paro do sujeito contem porâneo tornou-se agudo. Na tentativa de proteção contra o desam paro, o sujeito pode fazer u so d e m o d alid ad es su b jetivas q u e p r ivilegiam o m aso q u ism o. O pânico seria efeito do desam paro na contem poraneidade, um a form a de padecim ento em que está em jogo o m asoquism o com o figura da servidão.

Pa lavra s - c h ave : Pân ico, desam paro, su bjetividades em ergen tes, psicopatologias contem porâneas, m asoquism o.

ABSTRACT: Panic and helplessness in contem porary society. Pretends to articulate w hat Freud called “civilization and its discontents” to contem porary psychopathologies, exam ining the relationship be-tween the incidence of panic sym ptom s and contem porary w ays of subjectivity construction. In face of current displacem ent of paternal order as a central reference, the helplessness of the subject becam e severe, acute. To protect him self from a radical helplessness, m asoch-ist ways m ay be privileged. The panic is an effect a helplessness in contem porary society, a suffering form w here m asochism appears as a figure of servitude.

Ke y w o rds : Panic, helplessness, em ergent subjectivities, contem po-raries’ psychopathologies, m asochism .

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INTRODUÇÃO

Este artigo é fruto de m inha dissertação de m estrado: “Pânico: efeito do desam -paro na contem poraneidade. Um estudo psicanalítico”, apresentada ao Instituto de Psicologia da USP em setem bro de 2004. Trabalham os com o padecim ento do sujeito contem porâneo por m eio do estudo do pânico.

UMA PERS PECTIVA PS ICANALÍTICA

PARA O ESTUDO DO PÂNICO

Apresentam os esta pesquisa com o intuito de contribuir para a discussão das novas form as de m al-estar nas subjetividades em ergentes e os desafios im postos por elas à clínica psicanalítica contem porânea.

A m odalidade de sofrim ento psíquico, m ais especificam ente conhecida com o “ataque de pânico”, ocupa um lugar proem inente nos debates contem porâneos no cam po da psicopatologia. Em virtude da criação, em 1980, da categoria

psi-quiátrica “transtorno do pânico” ou “síndrom e do pânico”,1 esta classificação,

fundada nas bases “operacionais” e “pragm áticas” que norteiam a perspectiva objetivante da psiquiatria norte-am ericana, ultrapassa o âm bito profissional e vem tendo m uita repercussão na m ídia escrita e falada.

Qu e con tr ibu ições o referen cial psican alítico pode dar a esse debate con tem porân eo, u m a vez bem circu n scr itos os cam pos epistem ológicos distin -tos aos qu ais se ar ticu lam a psicopatologia psiqu iátr ica e psicopatologia psi-can alítica?

Nesse sentido, prim eiram ente é necessário m arcar a epistem ologia da psica-nálise com a finalidade de circunscrever o cam po em que estam os estudando o pânico. Dessa m aneira, o term o “pânico”, difundido pelo m undo contem porâ-neo por m eio da psiquiatria, é usado, aqui, enquanto suplência e não em oposi-ção ao biológico. Isso quer dizer que não se trata de nos ocuparm os do pânico com o um a categoria nosográfica, conform e descrita pela psiquiatria contem po-rânea com o “síndrom e do pânico” ou “transtorno do pânico”, m as sim , de abordá-lo a partir da perspectiva da psicanálise freudiana, o que significa atribuir-lhe um estatuto de pertinência, tanto do ponto de vista m etapsicológico quanto clínico, um a vez que as abordagens teórico-m etodológicas desses dois cam pos ( psiquia-tria e psicanálise) são absolutam ente distintas. Desse m odo, procuram os am pliar o debate para além das concepções biologizantes e em píricas de um a vertente da psiquiatria contem porânea, com o definir um cam po próprio à psicanálise no tratam ento desse quadro psicopatológico.

1 Breviário de Critérios Diagnósticos do DSM-III-R / Am erican Psychiatr ic Association ( 1990,

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Introduzir um a perspectiva psicanalítica para o estudo desse estado afetivo extrem o de angústia im plica m arcar a pertinência a um cam po clínico e discursivo próprios, além do rom pim ento com o discurso ideológico que desim plica o sujeito em relação a seu sofrim ento.

Reportando-nos a Freud, é possível observar que a tem ática do pânico não é estranha à evolução de sua teoria da angústia. O início de seu trajeto teórico, em 1 8 9 5 ( 1 9 8 0 , p.1 0 9 - 1 6 , 1 1 2 - 3 ) , n o q u ad r o d a n eu r o se d e an g ú stia, a sintom atologia dos denom inados ataques de angústia, m uito se assem elha aos com ponentes dos ataques de pânico, conform e descritos no DSM-III-R ( 1990, p.91-3) e CID-10 ( 1994, p.341-2) . Posteriorm ente, em 1921 ( 1980, p.122-3) , Freud descreve o pânico com o um a angústia neurótica provocada pelo rom pi-m ento dos laços epi-m ocionais que unepi-m o indivíduo a upi-m líder ( ideal) e aos m em bros do grupo e, tal situação, libera um m edo gigantesco e insensato.

Sob esse prism a, nossa proposta geral é abordar o pânico com o um dos fenô-m enos do cafenô-m po psicopatológico do angustiante, referido na obra freudiana, e sua contextualização na atualidade. Para levar a cabo esta proposta, procuram os, por um lado, situar a m etapsicologia do pânico a partir da noção de desam paro no discurso freudiano, enfatizando a condição de desam paro do sujeito no m un-do e, por outro laun-do, introduzir a questão das psicopatologias contem porâneas, objetivando o recorte do pânico com o um processo de produção social, um dos efeitos do desam paro na contem poraneidade.

Neste sentido, nosso objetivo principal é articular o que Freud denom inou “m al-estar na civilização” às psicopatologias contem porâneas, exam inando a re-lação da incidência da sintom atologia do pânico com os m odos de subjetivação na atualidade.

O trabalho com essas questões exige o m anejo simultâneo das teorias freudianas da angústia e da cultura e da tem ática relativa às novas form as de subjetivação e seus efeitos nos sujeitos e nos laços sociais, vertente da pesquisa na qual foram im portantes as contribuições de alguns autores do cam po da sociologia, com o Anthony Giddens e Zygm unt Baum an.

AS PS ICOPATOLOGIAS CONTEMPORÂNEAS

E A METAPS ICOLOGIA DO PÂNICO

Certas form as de sofrim ento psíquico podem ser consideradas psicopatologias da

atualidade, no sentido de expressões dos m odos de subjetivação prom ovidos pela

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psicossom atizações, dentre outras, que ganham espaço progressivo na cena so-cial atual. Concordam os com Birm an ( 2001a, p.192) , para quem existe um pro-cesso de produção social dessas psicopatologias que encontra as suas condições de possibilidade na ética da sociedade atual. Para este autor, a

“... psicopatologia da pós- modernidade se caracteriza por certas m odalidades privilegiadas de funcionam ento psicopatológico, nas quais é sem pre o fracasso do indivíduo em rea-lizar a glorificação do eu e a estetização da existência que está em pauta. Esta é justa-m ente a questão da atualidade.( ...) Quando se encontra deprijusta-m ido e panicado, o sujeito não consegue exercer o fascínio de estetização de sua existência, sendo consi-derado, pois, u m fracassado segu n do os valores axiais dessa visão de m u n do.” ( BIRMAN, 2001b, p.168-9, grifo do autor)

Essas form as de sofrim ento integram e expressam , na sua sintom atologia, redes de significações entrelaçadas ao redor de ideais predom inantes na atualida-de. Desse m odo, trabalham os com a idéia de que existe um processo de produ-ção social do pânico, pela via do espectro de valores que im pera no m undo atual. Portanto, a questão da identificação e dos ideais, do narcisism o e da alteridade e da subjetividade na atualidade são pontos fundam entais neste estudo.

No que diz respeito à m etapsicologia do pânico, adotam os a hipótese suge-rida por Pereira ( 1999) de que o desam paro constitui para Freud um a noção m etapsicológica capaz de delim itar as bases psicopatológicas do fenôm eno do pânico, segundo um a perspectiva psicanalítica. Desse m odo, a noção freudiana de desam paro (Hilflosigkeit) é nosso operador m etapsicológico fundam ental que perm itirá o entendim ento do pânico com o um a m anifestação clínica do desam -paro e com o um a das expressões do m al-estar que m arca, na atualidade, a relação do sujeito com a cultura.

A NOÇÃO DE DES AMPARO NO PENSAMENTO FREUDIANO

E A MOTIVAÇÃO BÁS ICA DO PÂNICO

De m aneira sucinta, a noção de Hilflosigkeit im plica num a dim ensão de desam -paro, independentem ente de sua concreta efetivação num a situação traum á-tica. Há, portanto, a condição de desam paro, fundante e estr uturante do psiquism o e a situação de desam paro, com o concretização dessa condição instalada na situação traum ática, relativa ao excesso pulsional que não pôde ser sim bolizado, ou seja, ao inundam ento pulsional no psiquism o, à instalação da angústia auto-m ática. Nesse sentido, o pânico é expressão da instalação de uauto-m a situação de perigo interna insuportável para o sujeito: a situação de desam paro, a situação de ausência de ajuda.2O perigo é

2 Curiosam ente, a palavra Hilflosigkeit, traduzida na língua portuguesa por “desam paro”,

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o de perder o am or do objeto,3 o per igo é o desabam ento de todo o m undo

sim bolicam ente organizado. Em outras palavras: o retorno para o desam paro (Hilflosigkeit) original.4

O pânico faz parte de um a gam a de diferentes form as do afeto de angústia, distinguíveis entre si, e que constituem , na visão de Freud, o cam po do angusti-ante: das Angstlichen.5 Sob esse ponto de vista m etapsicológico, o pânico corres-ponde ao afeto de angústia despertado pelo confronto súbito do sujeito com a condição fundam ental de desam paro que, até então, estava enuviada. Considera-m os que a função Considera-m aterna falha no aspecto de perConsidera-m itir que a criança passasse por um lento e progressivo processo de desilusão e de subjetivação de um m un-do que não corresponde àquele que ela im aginava ( onipotência narcísica) , por-tanto, que perm itisse que a descoberta da realidade do desam paro pudesse ser um a experiência tolerável.

Sob esse prism a, o pânico diz respeito à angústia despertada pelo desabamento da ilusão de um

ideal protetor onipotente, que garantia a estabilidade do mundo psíquico organizado longe de incertezas,

da falta de garantias e de indefinições. O pânico é um a das possibilidades afetivas que o sujeito encontrou no enfrentam ento da condição de desam paro fundante e insu-perável na constituição da vida psíquica. Ser tom ado pelo pânico atesta que o sujeito não conseguiu subjetivar a condição de desam paro. Essa é a motivação básica do pânico: a perda do ideal protetor ou o medo da perda do amor.

Nesse sentido, a abordagem psicanalítica do pânico exige o questionam ento do lugar ocupado pela figura do pai onipotente que protege e reúne os hom ens, ou seja, o lugar do desam paro (Hilflosigkeit) , com o sugere Freud.

m ãe nem o pai nem ninguém que proteja o indivíduo ( Cf. Wahr ig, Deutsches W örterbuch) . 3 Recordem os que, para Freud ( 1927/ 1980, p.43) , “a im pressão ter rificante do desam paro na

infância despertou a necessidade de proteção através do am or”. Na função de proteção, a m ãe é substituída pelo pai m ais forte, que retém essa posição pelo resto da infância. Entretanto, “o reconhecim ento de que esse desam paro perdura através da vida tornou necessário aferrar-se à existência de um pai, dessa vez, porém , um pai m ais poderoso”.

4 Lem brem os que, para Freud ( 1927/ 1980, p.36) , “é a defesa contra o desam paro infantil que

em presta suas feições características à reação do adulto ao desam paro que ele tem que reco-nhecer.”

5 Freud cham a de “o angustiante” (das Ängstlichen) um cam po psicopatológico que reúne

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A DUPLA FACE DO DES AMPARO: UM CAMINHO

PARA COMPREENSÃO DO PÂNICO NA ATUALIDADE

Podem os dizer que a problem ática do desam paro na obra freudiana tem dupla face: a face erótica e sexual, que diz respeito a um lugar infantil e à sexualidade traum ática vinda da m ãe — o desam paro original estruturante do psiquism o ( FREUD, 1926/ 1980) ; e a face da falta de garantias do sujeito sobre seu existir e sobre seu futuro ( FREUD, 1927/ 1980 e 1930/ 1980) , que é obrigado a um a renúncia pulsional com o condição para viver em sociedade. Recordem os que para Freud o desam paro tam bém é o m otor da civilização. O hom em ergueu a civilização num a tentativa de dim inuir seu desam paro diante das forças da natureza, dos enigm as da vida e, sobretudo, da própria m orte. O desam paro no cam -po social Freud ( 1930/ 1980) cham ou de mal- estar (Unbehagen) , tendo em vista que a relação do sujeito com a cultura é perm eada pelo antagonism o irrem ediá-vel entre as exigências pulsionais e as restrições da civilização.

Na m edida que a construção do psiquism o se dá no entrelaçam ento entre a pulsão e a cultura, o sintom a, na concepção freudiana, apontando para a dim en-são da subjetividade, traz em si um a m ensagem do conflito individual, fam iliar e social do ser hum ano. Dessa m aneira, as form ações de sintom as são, em últim a instância, um a m aneira que o sujeito encontra de se organizar dentro de um grupo.

N ossa hipótese é de que o pânico, na atualidade, seria expressão de um modo que o sujeito encontrou

de se organizar na sociedade contemporânea, respondendo aos subsídios que a organização social atual

oferece para que ele se sustente para além da cena familiar. Essa hipótese é pertinente, na

m edida em que FREUD se refere ao fenôm eno do pânico, por um lado, com o um fenôm eno do cam po da angústia e, por outro, com o algo advindo de um a estrutura de relação de grupo. Foi isso que ele trabalhou em Psicologia de grupo e análise do ego ( 1921/ 1980) .

PROCES S OS S UBJETIVOS E A CENA S OCIAL ATUAL:

O PADECIMENTO DO S UJEITO CONTEMPORÂNEO

Sob o prism a freudiano, a construção da identificação e dos ideais, seja do indi-víduo, seja do grupo, é m arcada por processos subjetivos que devem ser desen-volvidos para que seja m antida tanto a organização individual quanto a organiza-ção social que têm com o referencial central, com o organizador sim bólico, a or-dem paterna.6 Esses processos se dão entre duas form as de existência da

subjeti-6 Conform e trabalhado, principalm ente, nos textos: “Totem e tabu” ( 1913/ 1980) ; “Sobre o

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vidade: entre os registros do narcisism o ( ego ideal/ am or de si) e da alteridade ( ideal de ego, superego/ am or de outro) .

Por conseguinte, para Freud, os ideais orientam os laços sociais sustentados pelo desejo e pelas identificações e, nesse sentido, a construção dos laços sociais é um efeito da problem ática do indivíduo em relação aos ideais e às identifica-ções, portanto, em relação aos processos narcísicos e alteritários. O sujeito oscila entre os pólos do narcisism o e da alteridade, o que configura duas m odalidades conflitantes de subjetividade: autocentrada e descentrada.

Entretanto, a cena social atual oferece poucas possibilidades para experiências de alteridade, na m edida que os ideais da cultura contem porânea, que têm com o valores soberanos a glorificação do eu e a estetização da existência7 ( BIRMAN, 2001) ,

incitam o sujeito para o pólo do narcisism o, da subjetividade autocentrada, fi-cando o m esm o restrito e aprisionado em si m esm o. Quando a alteridade vai cedendo lugar para o narcisism o, vão se configurando m odos hegem ônicos de produção de subjetividade. Não há lugar para diferenças. O sujeito contem porâ-neo forja um a identidade im aginária em que, nas identificações im aginárias, parte de si para si m esm o, tendo, com o conseqüência, um a referência autônom a e independente da m aneira com o é visto pelo outro. As form ações im aginárias causam o im pacto de um a falsa realidade, poupando os sujeitos da dúvida e da incerteza e congelando seus afetos e pensam entos.

As subjetividades contem porâneas caracterizam -se pelo apagam ento da alte-ridade, em que a tendência é um a redução do hom em à dim ensão da im agem . Há um a ênfase no “exterior” em detrim ento do “interior”: o que interessa é o brilho, a cena, o espetáculo, o sucesso a qualquer preço, a im ediatez, a captação narcísica do outro. Em conseqüência disso, as relações sociais são, predom inan-tem ente, regidas pelo im aginário, constituindo-se um a subjetividade em que há o deslocam ento da ordem paterna com o referencial central. Esse quadro provoca efeitos n o su jeito, efeitos n os m odos de su bjetivação, qu e apon tam para a fragilização dos vínculos sociais, dos laços m útuos e da constituição e perm a-nência dos grupos. O padecim ento do sujeito contem porâneo é efeito das subje-tividades que tiveram de tecer laços sociais horizontais, confrontando-se com o desam paro e o m al-estar na relação com o outro.

DO MAL- ESTAR DE FREUD AO MAL- ESTAR NA ATUALIDADE:

A QUESTÃO DO PÂNICO

No sentido do que desenvolvemos até agora, as formas de sofrimento manifestadas pelos sujeitos são indissociáveis das transformações que remodelam o campo social.

7 Vide p.5 a respeito das psicopatologias contem porâneas com o efeito de um processo de

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Segundo Giddens ( 1991) e Baum an ( 1998) , m odernidade refere-se a estilo, costum e de vida ou organização social que em ergiram na Europa a partir do século XVII e que, posteriorm ente, tornaram -se, de certa m aneira, m undiais em sua influência. Dessa form a, o term o m odernidade im plica um a série de trans-form ações sociais, m ateriais, políticas e intelectuais a partir da em ergência e difusão do Ilum inism o, e que acabaram por se m isturar à Revolução Industrial e às transform ações geradas pelo capitalism o. O Ilum inism o enunciou o “ideal de felicidade” segundo o qual o hom em dom inaria a natureza com base na razão científica e constituiria um a sociedade igualitária. Essa m entalidade em balou as realizações e aspirações hum anas daí provenientes, determ inando a ideologia de um a dinâm ica social caracterizada pela inovação perm anente e por um a “obses-siva m archa adiante”. Houve, portanto, um a alteração da ordem social, ou seja, da ordem tradicional para a ordem m oderna. Mas, certam ente, este não é o cená-rio social atual e, tam pouco, o ideal ilum inista se concretizou.

Da m esm a form a que a m odernidade alterou a ordem social com suas conquis-tas tecnológicas, científicas, culturais e políticas, algo sem elhante ocorreu no sécu-lo XX, sobretudo nas últim as décadas. Vim os surgir novos estisécu-los, costum es de vida e diferentes form as de organização social. É evidente o declínio da esfera pública e política, a m istura entre o público e o privado, as novas form as de identidade social, o im passe histórico do socialism o, a expansão dos fundam entalism os, os tribalism os, as conseqüências que a inform atização gerou na produção m aterial e no cotidiano, a crise ecológica e as dim ensões da globalização.

Nessa esteira, a m oder n idade n ão prom oveu a su peração do m al-estar (Unbehagen) , resultado do excesso de ordem e da escassez de liberdade. Ao contrário, na sua m áxim a radicalização, o que fez foi apenas “re-configurar” o m estar. O m al-estar contem porâneo é efeito da desregulamentação e do excesso de liberdade individual ( privatização) , é fruto do excesso pulsional e da fragilidade de sim bolização. Nesse sentido, tem um a m arca essencialm ente traum ática, o que aponta para a vulnerabilidade psíquica do hom em contem porâneo, assim com o destaca o pâ-nico entre os m odos atuais de sofrim ento hum ano.

Dessa m aneira, as condições atuais do m al-estar na civilização dizem respeito ao vazio existencial produzido pela destruição da narrativa:8 o sujeito contem

-8 No quadro da atualidade predom inam as m odalidades de sociabilidade em que a

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porâneo está à m ercê da solidão e do vazio. No cum e desse quadro, o desam paro do sujeito tornouse agudo, assum indo form as radicais com o o pânico, por exem -plo, que irrom pe quando o sujeito se depara com o abism o terrorífico da expe-riência do vazio.

Esse contexto rem ete a nossa hipótese de que o pânico, na atualidade, seria expressão de um m odo que o sujeito encontrou de se organizar na sociedade contem porânea, respondendo aos subsídios que a organização social atual ofere-ce para que ele se sustente para além da ofere-cena fam iliar, tendo em vista que o pânico expressaria o descom passo entre as exigências do tipo psicológico ideal atual, da exaltação desm esurada do eu e da estetização da existência, e a incapa-cidade no cum prim ento dessas exigências, portanto, efeito de um processo de

produção social, expressão do m al-estar na contem poraneidade.9 O panicado

faria parte da categoria dos cham ados consumidores falhos que, segundo BAUMAN

( 1998, p.22) , são pessoas que não são capazes de ser seduzidas “pela infinita pos-sibilidade e constante renovação prom ovida pelo m ercado consum idor, de se re-gozijar com a sorte de vestir e despir identidades, de passar a vida na caça interm inável de cada vez m ais intensas sensações e cada vez m ais inebriante experiência”. São os fracassados, segundo a visão de m undo ( ideal da cultura) atual, fracassam no exer-cício da rapidez e infixidez, da infinita possibilidade da constante renovação, da sedução e prom essa de felicidade que a mudança perm anente traz. São excluídos sociais. Todavia, paradoxalm ente, são indivíduos que estão dizendo “não” a essa form a im positiva de ser, denunciando a sua m aneira que, na atualidade, estam os m ais à m ercê da desregulamentação e da liberdade individual, com o dissem os antes.

Desse m odo, circunscrevem os o pânico com o um m odo de padecim ento que expressa o m al-estar na contem poraneidade, entendendo-o com o um dos efeitos do desam paro do sujeito contem porâneo, para quem a experiência de im potên-cia/ desam paro é elevada a um ponto radical.

DUAS POS SÍVEIS ARTICULAÇÕES METAPS ICOLÓGICAS

A RES PEITO DO PÂNICO

Na m edida que, na atualidade, os sujeitos passaram a verticalizar10 o cam po das relações horizontais em busca de proteção diante da im possibilidade do con-fronto com o desam paro, o sujeito, na tentativa de evitar o desam paro radical, pode fazer uso de m odalidades subjetivas que privilegiam o m asoquism o, a ser-vidão e a violência. Esse novo ângulo para abordar as questões de nosso interesse

9 Vide p.5 e 8, a respeito das psicopatologias contem porâneas e dos ideais na atualidade.

10 A m udança do “elo social vertical ( pai orientado) ” para o “elo social horizontal” foi um dos

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gerou novas linhas de investigação a respeito do quadro psicopatológico do pâ-nico, com desdobram entos fundam entais relativos à m etapsicologia do pânico.

Dessa m aneira, o desenrolar de nosso estudo culm inou em duas possíveis articulações m etapsicológicas que se com plem entam . Para com preendêlas, lem -brem os que partim os do pressuposto de que a m otivação básica do pânico é o rom pim ento com o ideal.

A relação conflituosa entre ego e ideal do ego/ superego é expressa por m eio do sentim ento de culpa que, nas suas variadas relações com a angústia, diz res-peito tanto ao m al-estar quanto ao m edo do superego. Portanto, o sentim ento de culpa é fruto das exigências do superego em relação ao ego e das exigências da civilização voltadas à dom inação da agressividade, im plícita no ser hum ano ( FREUD, 1930/ 1980) . Pode acontecer o rom pim ento do vínculo libidinal que liga, especificam ente, o ego com seu ideal, no caso de o ego não suportar as injunções superegóicas relativas às exigências dos ideais. No nosso estudo

traba-lham os com a idéia de que o ideal do ego é um a subestrutura do superego.11

Nesse sentido, o superego falha na sua função de m anter o ideal. Situamos o pânico

como efeito de um aumento do sentimento de culpa12 que o sujeito não pôde tolerar. Essa é a

pri-m eira articulação pri-m etapsicológica.

Nesse quadro, o sujeito pode erotizar a culpa com o m eio de fazê-la suportá-vel, transform ando-a, assim , em fonte de satisfação m asoquista. Dessa m aneira, m antém o nível de culpa, investindo-a de m aneira m asoquista.

Entendem os que, no pânico, estam os lidando com um superego feroz, cruel e sádico que, ao contrário de estabelecer barreiras para a satisfação pulsional desregrada, fom enta-a, tom ando para si a força pulsional para aum entar sua

tira-11 Em Freud não é fácil delim itar a noção de ideal do ego, na m edida que a m esm a está ligada

à elaboração da noção de superego. Entretanto, é inegável que há um a nuance entre ideal do ego e superego e que nem sem pre o próprio Freud usou a am bos com o sinônim os, tendo em vista que em seus últim os textos apareceu essa distinção, por exem plo, em N ovas conferências introdutórias sobre psicanálise ( 1932/ 1980, p.86) e Esboço de psicanálise ( 1938/ 1980, p.171) . Esse fato é discutido por com entadores de Freud com o, por exem plo, Strachey (Obras completas) e Laplanche & Pontalis (Vocabulário de Psicanálise) . Justam ente porque há um a problem ática sem resposta clara em torno dessa questão, é que optam os em nosso estudo pela sugestão de Laplanche & Pontalis ( 1986, p.644) de que “se m antiverm os, pelo m enos com o subestrutura particular, o ideal do ego, então o superego surge, principalm ente, com o um a instância que encarna um a lei e proíbe a sua transgressão”. O fato de apontar o ideal do ego com o um a função do superego ou um a subestr utura particular, portanto, não com o sinônim os, é im portante para nós tendo em vista que a m otivação básica do pânico é o rom pim ento das catexias libidinais direcionadas para o ideal, o que não é o m esm o que dizer que é o rom pim ento com o superego.

12 Lem brem os que para Freud ( 1930/ 1980) o problem a m ais im portante no desenvolvim

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nia ao ego. Nesse m odo de sofrim ento, parece que há um engrandecim ento da vertente rígida e sádica do superego, em detrim ento da vertente relativa à sua função de agente da lei. Ou seja, o superego feroz e sádico não estabelece lim ites adequados para um bom funcionam ento psíquico, segundo as regras do princí-p io d e princí-p razer; ao co n trár io, im princí-p õ e ao princí-p siq u ism o u m m o d o d e agir q u e desconsidera o desejo e a singularidade. E, com o conseqüência, acaba por con-duzir o sujeito de volta ao m odo de funcionam ento psíquico no registro do ego ideal, da onipotência narcísica, ficando o sujeito assujeitado ao regime do masoquismo primário.

Entretanto, o m asoquism o tam bém é um a m odalidade da m esm a relação entre ego e superego, ou seja, da necessidade que o ego sente da punição infligida pelo superego. A diferença está no fato de que na culpa, o ego “se subm ete” ao superego; e no m asoquism o, o ego “deseja essa subm issão”. O sujeito procura a própria culpa e se dá a satisfação m asoquista da punição. Há um a autopunição ( culpa) infligida pelo superego, m as, na realidade, o que o sujeito visa é a puni-ção pelo pai ( edipiano) .

Essa situação tem ponto de âncora na cena social atual, tendo em vista que o im perativo de agir a qualquer preço, som ado à precariedade de referências sub-jetivas, leva o sujeito para o regim e do m asoquism o, com o m eio de proteção contra o desam paro radical no m undo atual. O fundam ental nessa categoria, com o um dos efeitos das subjetividades em ergentes, não é que o sujeito sinta prazer com a dor, m as que ocupe posição de hum ilhação e assujeitam ento na relação com o outro ( FORTES, 2003) . N o pânico está em jogo o masoquismo como figura de servidão. Essa é a segunda articulação m etapsicológica.

O MAS OQUIS MO COMO FIGURA DA S ERVIDÃO: UMA PROPOSTA

PARA PENS AR A QUESTÃO DO PÂNICO NA ATUALIDADE

Lem brem os que um dos im passes que a m odernidade criou para o sujeito foi o fato de não poder contar m ais com a figura do pai protetor onipotente, isto é, “o pai não garante m ais nada em term os de proteção subjetiva” ( BIRMAN, 2001a, p.157) . Foi isso que Freud ( 1930/ 1980) m ostrou em o Mal- estar na civilização ca-racterizando este m al-estar com o um a nostalgia do pai e um apelo à proteção do pai, presentes em qualquer sofrim ento neurótico, em qualquer im aginário neu-rótico. Portanto, algo da ordem do m asoquism o: o apelo à proteção do pai como forma de proteção contra o desamparo é um traço masoquista fundamental.

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portanto, subjacente às form as de sofrim ento, ao m al-estar atual. Em conseqüên-cia disso, o pânico pode ser entendido como um dos efeitos da situação traumática em que a subjeti-vação torna- se um processo de sujeição.

Dessa m aneira, diante do desam paro radical, o sujeito contem porâneo abre m ão de seu bem m aior: a liberdade, pois em troca de um a segurança ilusória ele se oferece com o escravo. Essa posição de servidão caracteriza um a condição de extrem a m iséria psíquica, na m edida que o sujeito está inserido na proteção da onipotência narcísica, no registro do ego ideal e não arrisca o im previsível, ou seja, não se aventura na experiência da castração. Ele se subm ete aos seus iguais, em laços sociais tecidos horizontalm ente segundo a lógica da verticalidade. Des-se m odo, diante das angústias que surgem no exercício do deDes-sejo o sujeito Des-se subm ete ao conforto da posição m asoquista.

Sob este prism a, a experiência de subm issão ao outro rem ete-nos, outra vez à questão do pai, ou seja, o lugar do pai nesta experiência que, no caso do pânico, co m o su ger e Per eir a ( 1 9 9 9 , p.2 6 4 - 8 ) , tem o teo r d o Gr an d e Fiad o r1 3 Tr an scen d en tal d e su a existên cia: “ u m a in stân cia d ivin a, o n ip o ten te e transcendental” que o sujeito acom etido pelo pânico “supõe ser a única capaz” de sustentar sua vida “contra os perigos inim agináveis que a am eaçam ”. Em outras palavras, “o sujeito em pânico parece dirigir-se diretam ente a um a instân-cia que supõe capaz de sim bolizar de m odo com pleto, sem resto, a sua experiên-cia inom inável” ( p.275) .

É um a tentativa neurótica de restaurar no plano im aginário a figura de um ideal onipotente que proteja o sujeito e dê um destino para seu desam paro. No pânico há um pedido de am or desesperado, de reconhecim ento, dirigido ao pai protetor onipotente e transcendente, ao pai pré-histórico, o único que pode libertá-lo de sua terrível vivência de estar m orrendo. O pânico constitui-se num apelibertá-lo do sujeito para não ser abandonado a seu próprio desam paro, apelo esse que, no circuito pulsional, diz respeito à ativação do m asoquism o prim ário.

Pereira ( 1999) afirm a que a relação entre desam paro e pedido de am or que há no pânico “m ostra-se de m odo incontestável. Apenas a dem anda não está endereçada a um outro hum ano em particular, m as, antes de tudo, ao Grande Fiador Transcendental da existência. ( ...) Toda sua existência é condicionada à presença em pessoa desse Outro propício” ( p.268) .

Nesse sentido, quando o sujeito que sofre de pânico condiciona sua existên-cia à presença em pessoa do Grande Fiador Transcendental, seus laços com o ou tro im plicam nu m pacto m asoqu ista, tran sform an do su a existên cia em assujeitam ento na relação com o outro. No evitam ento da condição fundam ental

13 Para um a análise detalhada desta questão, ver Pereira ( 1999) no capítulo 13: “A

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de desam paro, o sujeito acom etido pelo pânico acaba por ocupar a posição de subm issão com o form a de refúgio contra o desam paro, contra a am eaça da per-da do am or, buscando afastar a angústia que a experiência de desam paro lhe im põe. É sob esse prism a que o pânico se articula com o m asoquism o: a pessoa cultua o outro, subm ete-se a um outro qualquer, dando-lhe o direito de fazer o que quiser com seu corpo e sua alm a, desde que esse outro a proteja de um a

situação de desamparo.

Nesse contexto, o pânico não poderia jam ais ser com preendido, sim ples-m ente, coples-m o uples-m a resposta afetiva de angústia autoples-m ática. Pelo contrário, ser tom ado de pânico atesta a dim ensão de desam paro fundam ental sobre a qual se desenrola o funcionam ento psíquico.

O pânico na contem poraneidade é tanto a expressão m áxim a do ponto a que pode chegar o sentim ento de desproteção que acom ete as pessoas, com o é ex-pressão radical da subm issão m asoquista a que o sujeito pode chegar com o for-m a de proteção contra as incertezas da vida.

O atual cenário em que nos inserim os é colorido, m uitas vezes de choque e pavor, de cenas de brutalidade, destruição e violência que provocam indignação, desilusão e im potência em todos aqueles que se posicionam contra a injustiça, contra a degradação e a depredação do ser hum ano. O pânico nos traz a seguinte questão: com o tornar tolerável a experiência do desam paro num m undo desam -parado?

Recebido em 30/ 3/ 2005. Aprovado em 30/ 8/ 2005.

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