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Avaliação da adoção de tecnologias na produção de leite caprino

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

AVALIAÇÃO DA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS NA

PRODUÇÃO DE LEITE CAPRINO

Estevão Marcondes Tosetto

Zootecnista

JABOTICABAL – SÃO PAULO – BRASIL 2005

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIAS

CÂMPUS DE JABOTICABAL

AVALIAÇÃO DA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS NA

PRODUÇÃO DE LEITE CAPRINO

Estevão Marcondes Tosetto

Orientador: Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Zootecnia (Produção Animal).

JABOTICABAL – SP Março de 2005

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Tosetto, Estevão Marcondes

T714a Avaliação da adoção de tecnologias na produção de leite caprino / Estevão Marcondes Tosetto. – – Jaboticabal, 2005

xii, 73 f. ; 28 cm

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2005

Orientador: Kléber Tomás de Resende

Banca examinadora: Ângela Cristina Dias Ferreira, José Gilberto de Souza

Bibliografia

1. Simulação. 2. Tecnologia. 3. Caprinocultura. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias.

CDU 636.39:636.083.31

Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.

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DADOS CURRICULARES DO AUTOR

ESTEVÃO MARCONDES TOSETTO – nascido em 26 de agosto de 1978, em São José dos Campos-SP, Brasil, graduou-se em zootecnia na Universidade Federal de Lavras onde foi bolsista do Programa Especial de Treinamento (PET-zootecnia) entre julho de 1999 e dezembro de 2000 e também bolsista de iniciação científica pelo CNPq entre março de 2001 e dezembro de 2002.

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v

“As oportunidades de crescimento normalmente se disfarçam como

trabalho duro, por isso a maioria das pessoas não as reconhece”

Ann Landers

“Quando não se pode fazer tudo o que se deve, deve-se fazer

tudo o que se pode”

Santo Agostinho

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DEDICO

Ao meu pai Eliseu e minha mãe Maria Alice pelas oportunidades, incentivos e apoio que me deram, sem eles certamente não teria chegado até aqui.

Aos meus irmãos Guilherme e Mariana simplesmente por serem meus irmãos queridos.

À minha futura esposa Michele, pelo incentivo, apoio, paciência e carinho oferecidos em momentos oportunos durante todo o desenvolvimento do trabalho.

À Juma pela companhia e distração “naqueles” dias. A Deus que me deu esta vida maravilhosa!

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AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pela concessão da bolsa.

Ao meu orientador Prof. Dr. Kleber Tomas de Resende e todos da cabritôlandia principalmente Izabelle, Angela, Moraes, Enrique, Márcia e Fábio pela amizade e contribuições nos diversos aspectos da minha vida.

A Profª Drª. Maria Inêz Espagnolli Geraldo Martins chefe do Departamento de Economia Rural desta universidade pela atenção dispensada e livros emprestados.

Ao Prof. José Gilberto de Souza pela disponibilidade e idéias.

Aos proprietários que gentilmente se dispuseram a colaborar com o trabalho disponibilizando as propriedades e todas informações que detinham, mas principalmente por dispensarem tempo e atenção comigo.

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SUMÁRIO Página

SUMÁRIO... viii

LISTA DE TABELAS ... x

RESUMO...xi

SUMARY...xii

INTRODUÇÃO ...1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...3

Sistema de Produção ...3

Transferência de Tecnologia ...4

Eficiência X Produtividade ...6

Pequenas Unidades de Produção no Agronegócio ...8

Viabilidade de Projetos ...10

A Caprinocultura ...12

Comercialização do leite caprino...14

Estratégias de manejo ...16

Regime quadrimestral de partos ...16

Indução de cio ...18

Fertilidade do rebanho ...20

Melhoramento genético...21

MATERIAL E MÉTODOS ...23

Diagnóstico...24

Escolha das Tecnologias...25

Simulação...26

RESULTADOS E DISCUSSÃO...27

Diagnóstico...27

Propriedade “A” ...30

Propriedade “B” ...32

Escolha das Tecnologias...36

Simulação...37

Regime quadrimestral ...37

Propriedade “A” ...39

Propriedade “B” ...41

Melhoria da fertilidade ...43

Propriedade “A” ...44

Propriedade “B” ...46

Melhoria do potencial genético dos animais...49

Propriedade “A” ...49

Propriedade “B” ...49

Aplicação de todas tecnologias anteriores simultaneamente...52

Propriedade “A” ...52

Propriedade “B” ...54

CONCLUSÃO...58

IMPLICAÇÕES...59

REFERÊNCIAS...60

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APÊNDICE ...68 Roteiro de inquérito para levantamento de informações nas propriedades...69

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x

LISTA DE TABELAS

Página

Tabela 1 – Principais características das propriedades A e B... 28

Tabela 2 - Resumo relativo a alimentação dos animais nas propriedades A e B... 28

Tabela 3 - Características do rebanho das propriedades A e B... 29

Tabela 4 – Características reprodutivas do rebanho das propriedades A e B... 29

Tabela 5 - Preços praticados pelas propriedades A e B... 29

Tabela 6 – Despesas nas propriedades A e B... 30

Tabela 7 - Variação nos índices zootécnicos com a mudança no regime de partos... 37

Tabela 8 - Variação da receita anual e quantidade de produtos para venda na propriedade “A” pela mudança no regime de partos no rebanho...39

Tabela 9 – Variação na despesa anual da propriedade “A” pela mudança no regime de partos... 40

Tabela 10 - Alteração na composição anual do rebanho da propriedade “A” pela mudança no regime de partos... 40

Tabela 11 - Variação da receita anual e quantidade de produtos para venda na propriedade “B” pela mudança no regime de partos no rebanho... 41

Tabela 12 - Itens alterados nos índices zootécnicos com a mudança no regime de partos na propriedade “B”... 42

Tabela 13 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “B” pela mudança no regime de partos... 43

Tabela 14 - Itens alterados nos índices zootécnicos da propriedade “A” após elevação da fertilidade do rebanho... 44

Tabela 15 - Itens alterados na receita anual da propriedade “A” pela elevação do índice de fertilidade do rebanho... 45

Tabela 16 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “A” pela elevação da fertilidade... 45

Tabela 17 - Itens alterados nos índices zootécnicos da propriedade “B” após elevação da fertilidade do rebanho... 46

Tabela 18 - Itens alterados na receita anual da propriedade “B” pela elevação do índice de fertilidade do rebanho na primeira e segunda etapa... 47

Tabela 19 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “B” pela elevação da fertilidade com mudança no manejo e controle individual dos animais (1ª etapa).. 48

Tabela 20 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “B” pela elevação da fertilidade com aumento no fornecimento de concentrado e sal mineralizado (2ª etapa)... 48

Tabela 21 - Variação na receita anual da propriedade “B” pela melhoria da qualidade genética do rebanho... 50

Tabela 22 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “B” pela melhoria do potencial genético dos animais e aumento no fornecimento de concentrado e sal mineralizado... 51

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xi

Tabela 23 - Itens alterados nos índices zootécnicos da propriedade “A” após aplicação conjunta do regime de partos quadrimestral e melhoria da fertilidade do rebanho... 53

Tabela 24 - Itens alterados na despesa anual da propriedade “A” após aplicação de regime quadrimestral de partos e melhoria no índice de fertilidade... 53

Tabela 25 - Itens alterados na receita anual da propriedade “A” após aplicação de regime quadrimestral e melhoria no índice de fertilidade... 54

Tabela 26 – Itens alterados nos índices zootécnicos da propriedade “B” após aplicação de todas as tecnologias simultaneamente... 55

Tabela 27 - Itens alterados nas despesas da propriedade “B” após aplicação conjunta de todas as tecnologias recomendadas... 56

Tabela 28 - Itens alterados na receita da propriedade “B” após aplicação conjunta de todas as tecnologias recomendadas... 57

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AVALIAÇÃO DA ADOÇÃO DE TECNOLOGIAS NA PRODUÇÃO DE LEITE CAPRINO

RESUMO – Procurou-se conhecer as mudanças nos índices zootécnicos e na rentabilidade de duas propriedades produtoras de leite caprino de níveis tecnológicos distintos após aplicação isolada e em conjunto de tecnologias. A pesquisa foi realizada em três etapas: diagnóstico da situação inicial, escolha das tecnologias e simulação. O diagnóstico foi feito através de inquirição semi-estruturada e observações diretas realizadas em visitas periódicas. Nesta etapa, observou-se a falta de registro de controle nas propriedades. Logo após, procedeu-se uma consultoria técnica e escolheu-se tecnologias somadoras de produtividade com adaptabilidade às situações existentes. Sugeriu-se a aplicação do regime quadrimestral de partos, aumento da fertilidade e melhoria do potencial genético do rebanho. Simulou-se, com auxilio de um programa montado em Microsoft® Excel, os índices zootécnicos, a estruturação do rebanho estabilizado, despesas e receitas nas novas situações, facilitando a aplicação da técnica da orçamentação parcial para comparação da situação inicial e a proposta. O regime quadrimestral isoladamente aumentou o rendimento da atividade, no entanto, produziu leite constantemente para um mercado consumidor intermitente. As tecnologias aplicadas simultaneamente resultaram em elevado aumento do rendimento da atividade quando se utilizam animais de boa genética e bem manejados.

Palavras-Chave: caprino, simulação, sistema de produção, tecnologia

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VALUATION OF ADOPTION OF TECHNOLOGIES IN MILK GOAT PRODUTION

SUMMARY – It tried know the changes in the zootechnic indices and in the profitability of two milk goat producers properties of distinct technological levels after isolated application and in technologies set. The research was accomplished in three stages: diagnosis of the initial situation, choice of the technologies and simulation. The diagnosis was done through inquiry semi-structured and direct observations accomplished in periodic visits. In this stage the control record lack was observed in the properties. It proceded, a technical consultancy and chose among productivity adders technologies with adaptability to the existing situations. It suggested application of the regime quadrimestral of childbirths, increase of the fertility and improvement of the genetic potential of the herd. It simulated, with assist of a program set in Microsoft® Excel, the zootechnic indices, the structure of the stabilized herd, expenses and revenues in the new situations, facilitating the application of the technique of budget partial for comparison of the initial situation and the proposal. The regime quadrimestral separately increased the revenue of the activity, however it produced milk constantly for an intermittent consuming market. The technologies applied simultaneously resulted in high increase of the revenue of the activity when they use good genetics animals and very managed.

Keywords: goat, simulation, production system, technology

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INTRODUÇÃO

O Brasil possui um enorme potencial agropecuário, mas a produtividade observada no setor ainda está muito aquém daquela que pode ser obtida através da otimização dos recursos disponíveis. A distância entre a teoria e a prática pode ser responsável pelo atraso no aproveitamento do potencial mencionado, pois muitas pesquisas realizadas geram dados que, por um motivo ou outro, não são aplicados pelos produtores, principalmente quando focamos as pequenas propriedades rurais.

Dentre os vários fatores que podem estar obstruindo o desenvolvimento agropecuário do Brasil, talvez os mais evidentes sejam: o desenvolvimento de tecnologias que, muitas vezes, são inaplicáveis em grande parte dos sistemas de produção existentes no país; a carência de meios eficientes para divulgação de tecnologias e informações; e a falta de assistência aos produtores, os quais, muitas vezes, aplicam erroneamente as tecnologias geradas nos centros de pesquisas e estão cada vez mais descapitalizados.

As instituições brasileiras de pesquisa, principalmente as de ciências agrárias, têm sido submetidas a uma crescente pressão da sociedade para justificar sua existência frente à realidade do país em relação à escassez de recursos e a competitividade mundial gerada pela globalização. Estas sempre consideraram a eficiência como o principal critério da viabilidade organizacional, porém, enfatizaram durante muito tempo, apenas procedimentos e regras de funcionamento que desconsideram os ambientes e sua influência, desta forma, sugeriram "pacotes tecnológicos" com soluções e técnicas eficazes em um ambiente e não necessariamente em outros.

Um exemplo de potencial desperdiçado é a caprinocultura brasileira. De acordo com relatório da FAO (2003), o Brasil possui um rebanho caprino com 7.300.000 cabeças, das quais 4.600.000 destas apresentam aptidão leiteira, o que corresponde a 3,14% do rebanho mundial de caprinos com tal aptidão, no entanto, a produção

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nacional é de apenas 138.000 ton de leite/ano, o equivalente a 1,21% da produção mundial.

A baixa produtividade da caprinocultura brasileira deve-se, provavelmente, a grande quantidade de animais rústicos e sem raça definida (SRD), cerca de 93% do efetivo nacional é criada de forma extensiva na região Nordeste. Cabras de alta produtividade leiteira e empreendimentos leiteiros com maior aplicação de tecnologia concentram-se na Região Centro-Sul do país e no litoral da Região Nordeste (SANTOS, 2003). É discrepante a diferença destas duas regiões com o interior do Nordeste brasileiro, no entanto, ao considerar apenas a Região Centro-Sul, ainda assim a heterogeneidade dos criatórios é muito grande, o que impossibilita a aplicação de um “pacote tecnológico” em toda a região. Existem diversas alternativas tecnológicas disponibilizadas pelos órgãos de pesquisa que visam melhorar a eficiência dos criatórios e são aplicáveis nos sistemas vigentes, porém são necessários estudos e cautela para aplicá-las, pois raramente duas propriedades vivem a mesma realidade, além disto, a capacidade de absorção de novas tecnologias de forma correta pelos produtores é limitada por diversos fatores.

O objetivo deste trabalho é avaliar, por meio de simulações e orçamentação parcial, a eficácia da adoção de diversas tecnologias em dois sistemas de produção de leite caprino com níveis tecnológicos distintos.

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Sistema de Produção

A Teoria Geral dos Sistemas, desenvolvida na década de 50 pelo biólogo alemão Ludwing Von Bertalanffy, é baseada em três premissas: sistemas existem dentro de sistemas; sistemas são abertos (caracterizados por intercâmbio infinito com seu ambiente) e; suas funções dependem de sua estrutura (CHIAVENATO, 1987), ou seja, o conceito de sistemas de produção envolve o conhecimento da melhor combinação de recursos para se obter o produto final, todavia, é muito importante conhecer as indicações e tendências do mercado, envolvendo os preços dos insumos, serviços e produto(s) produzidos e utilizados.

No Brasil, o desenvolvimento de pesquisa enfocando sistema de produção é relativamente recente. Surgiu com a crescente conscientização de que as instituições de pesquisa e extensão mostravam-se deficientes em gerar e difundir tecnologia de ampla adoção. A necessidade de pesquisa em sistema de produção tornou-se evidente quando alguns pesquisadores, especialmente de regiões subdesenvolvidas, constataram a lacuna e o descompasso entre a pesquisa e a agropecuária praticada, de modo que os resultados das pesquisas mostravam-se pouco aplicáveis aos sistemas de produção desenvolvidos pelos pequenos e médios produtores (SANTOS et al., 1994).

Segundo SOUZA NETO et al. (1993) as pesquisas conduzidas sobre situação controlada, um ou mais fatores são examinados e raramente considera-se o lucro, pois a maioria dos pesquisadores está voltada para a maximização da produção. Por conseguinte, são eliminados muitos fatores que podem ser relevantes para findar o sucesso e, conseqüentemente, a adoção de uma tecnologia.

É indiscutível a importância da pesquisa frente ao potencial de crescimento da produção e da produtividade que está quiescente no país. As cadeias produtivas do agronegócio nacional e mundial tornaram-se extremamente complexas e sensíveis, em um cenário de acirrada competição, em que a viabilidade e a sustentabilidade dos empreendimentos são definidas por detalhes tecnológicos, às vezes pequenos, mas

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sempre precisos e fundamentais (GASQUES et al.,2004). Todavia, a tecnologia gerada tem que ser transferida para o sistema de produção para trazer benefícios.

Transferência de Tecnologia

KRUGLIANSKAS (1996) define tecnologia como o conjunto de conhecimentos necessários para se conceber, produzir e distribuir bens e serviços de forma competitiva.

Nas empresas rurais, apesar de possível, não é muito fácil torná-las mais produtivas ou criar diferenciais entre produtos. Porém, o desenvolvimento tecnológico, pressões de grupos ecológicos, crescimento de demanda, escassez de mão-de-obra, leis trabalhistas rigorosas, as mudanças de hábito alimentar e muitas outras promovem mudanças sociais e de comportamento que demandam novos produtos e tecnologias (SOUZA et al., 1992).

Esta nova demanda tem exercido muitas vezes, uma influência trágica para pequenos e médios agricultores, pois o processo de modernização e adoção de tecnologias mais produtivas, normalmente, vem ligado ao aumento de escala da produção para incorporação de ganhos econômicos. Esse tipo de tecnologia faz com que a grande maioria dos pequenos e médios produtores não obtenha os resultados técnico-econômicos esperados, desta forma, fica evidente a necessidade de analisar outras alternativas que incorporem esta importante parcela de agentes econômicos rurais e, assim, contribuir na distribuição da renda gerada pela agropecuária, principalmente relacionada a caprinocultura, onde os empreendimentos geralmente são pequenos (PEROSA, 1999).

O processo de adoção de tecnologias por uma empresa, seja ela urbana ou rural, está intimamente ligado ao processo de aprendizagem organizacional, ou seja, a nova tecnologia deve passar por um processo em que os indivíduos e a organização aprendam e tenham um domínio sobre ela. Dessa forma, a tecnologia passa a ser incorporada à cultura da empresa (ANTONIALLI E GALAN,1997).

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Muitas vezes, as tecnologias podem ser rejeitadas ao serem consideradas inapropriadas às circunstâncias dos agricultores e às características estruturais das propriedades, isto é, ao conjunto de fatores e meios que influem na decisão do proprietário. Outras vezes, pode ser rejeitada devido à experiência anterior frustrante de aplicação de tecnologia incompatível com o sistema de produção vigente.

O enfoque sistêmico permite uma caracterização integrada da produção de um determinado produto e das ações estratégicas a serem adotadas para manter a competitividade presente, além de criar vantagens comparativas frente às transformações futuras.

As propriedades agrícolas são sistemas complexos e dinâmicos que mudam suas estruturas em função de um conjunto de variáveis que envolvem o objetivo dos produtores, fatores edafoclimáticos, biológicos, sociais, culturais, políticos e econômicos, portanto, formam um grupo bastante heterogêneo. Mesmo assim, o Estado, principalmente na década de 70, através do crédito rural, da assistência técnica e da pesquisa agropecuária, impôs “pacotes tecnológicos” orientados para o desenvolvimento de “sistemas de produção por produto” que desconsideravam essa heterogeneidade (SANTOS et al., 1994).

O modelo de transferência de “pacotes tecnológicos” padronizados resulta no aumento da desigualdade entre os produtores e retarda o desenvolvimento rural, pois muitas propriedades podem não possuir condições de adotar os “pacotes”. O Estado, quando considera o “perfil” médio de produção, exclui a heterogeneidade de situações o que torna muitos de seus programas não operacionais (PORTELA, 2002).

Alguns autores têm enfatizado o papel da pesquisa em forma de estudo de caso, como ferramenta para avaliar, desenvolver e disseminar tecnologias para os produtores. Uma das vantagens deste procedimento é que a tecnologia é avaliada no local onde será utilizada, ou seja, nos sistemas de produção existentes, os quais são, em geral, conduzidos pelo próprio produtor. Pesquisas conduzidas nas propriedades podem fortalecer o elo entre pesquisadores, extensionistas e produtores, ampliando o conhecimento entre as partes, gerando, a partir daí, novas idéias para futuras pesquisas. Estes estudos podem ser de grande valia na seleção de práticas que serão

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adotadas com êxito para melhoria da produtividade visto que aquelas conflitantes com os costumes e anseios dos produtores certamente serão rejeitadas (SOUZA NETO, 1993).

Segundo LAKATOS (1979), qualquer caso que se estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou até mesmo de todos os casos semelhantes. O estudo de um caso pode se constituir em um teste de qualquer teoria que, embora aceita como verdade universal, necessita ser provada em todas instâncias. O setor primário carece desse tipo de estudo, pois é o setor que enfrenta as maiores dificuldades em aspectos técnico-econômicos, o que dificulta alcançar a competitividade, a qualidade, a eficiência e a produtividade (SETTE, 1985).

Eficiência X Produtividade

Com a abertura dos mercados e a globalização da economia, ou seja, com o aumento da competitividade, cresceu a preocupação com a eficiência e produtividade nas diferentes cadeias produtivas. Contudo, percebe-se certa confusão no emprego dos termos e desconhecimento das principais técnicas de medição dos mesmos (TUPY e YAMAGUCHI, 1998).

LOVELL (1993) explica que índices de produtividade são medidas que consideram apenas um insumo de cada vez para um único produto, por exemplo, produção anual de leite/hectare, produção anual de leite/mão-de-obra permanente, etc. Considerando que vários insumos são exigidos no processo de produção, torna-se mais complexo entender e medir a produtividade, pois neste caso, devemos agregar no denominador os insumos e no numerador os produtos, ambos de forma economicamente sensível, para possibilitar o estabelecimento de relações de desempenho com outras unidades do mesmo setor.

A comparação entre unidades produtivas é mais abrangente que a comparação entre índices de produtividade, pois uma propriedade pode apresentar bom índice de produtividade em um ponto, mas no conjunto da unidade produtiva pode ser menos eficiente que outra propriedade.

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A eficiência de uma unidade produtiva é entendida como uma comparação entre valores observados e valores ótimos estimados por uma função de fronteira. Por exemplo, uma função de produção fronteira fornece a máxima produção possível conseguida com certo nível de recurso. Similarmente, uma função de lucro fronteira mostra o máximo lucro possível de ser atingido, dado o preço e o custo do(s) produto(s). A importância desta abordagem na análise de eficiência é que desvios destas fronteiras estimadas podem ser interpretados como ineficiências (TUPY e YAMAGUCHI, 1998).

O crescimento da produtividade pode ocorrer por aumento na eficiência da tecnologia já empregada ou progresso técnico. Entende-se a mudança na eficiência como a mudança da distância do valor observado em relação aos valores ótimos estimados. Já o progresso técnico é entendido como o deslocamento da fronteira de produção. (GROSSKOPF, 1993).

A confusão no emprego dos termos de eficiência e produtividade teve a sua origem provavelmente pelo fato de que o modelo de produção vigente e praticado por universidades e instituições de pesquisa ser o modelo clássico ou tradicional, que pressupõe implicitamente a ausência de ineficiência técnica concedendo ganhos em produtividade apenas com base na mudança técnica. Neste caso, eficiência e produtividade são tratados como a mesma coisa (os indicadores de produtividade, por exemplo, produção de leite/hectare, produção de leite/animal, são tratados como indicadores de eficiência), quando na verdade, a ineficiência é apenas um dos fatores que levam a uma menor produtividade (TUPY E YAMAGUCHI, 1998).

A baixa produtividade de qualquer segmento seja por motivos tecnológicos ou de ineficiência, pode comprometer toda a cadeia produtiva, que no caso da agricultura e/ou pecuária, convencionou chamar de agronegócio. Historicamente, os pequenos produtores rurais não tiveram as mesmas condições de acesso às linhas de crédito para desenvolverem suas atividades, em relação aos médios e grandes produtores rurais. O mesmo ocorreu em relação à geração de tecnologia, de modo que este segmento tem vivenciado momentos de estagnação e de descapitalização acentuada, salvo algumas exceções (PORTELA et al., 2002).

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Pequenas Unidades de Produção no Agronegócio

As riquezas geradas pelo agronegócio têm alicerçado a economia do país. Entre 1999 e 2002, o PIB agropecuário cresceu quase o dobro do PIB total, 4,29% e 2,32%, respectivamente (GASQUES E BASTOS, 2003). O segmento responsável pela produção contribui com aproximadamente 30% do PIB do agronegócio (GASQUES et al.,2004), portanto, os produtores rurais podem ser considerados fundamentais para o país.

As pequenas unidades de produção são responsáveis por 80% da ocupação de mão-de-obra no setor rural e 50% da produção, apesar de ocupar apenas 25% da área, desta forma, são estratégicas para o desenvolvimento e precisam ser estimuladas (BARROS e MAYORGA, 2000).

KRUGLIANSKAS (1996) evidencia a importância destas unidades produtivas nas diferentes cadeias produtivas para a saúde da economia, não apenas pela absorção de mão-de-obra, mas por atuarem como fornecedores de grandes empresas do setor de industrialização.

A capacitação tecnológica deste segmento do agronegócio tem despertado a atenção também pelo fato de apresentar uma série de características que facilitam a inovação, quando comparadas com as grandes empresas do mesmo segmento, como por exemplo, a flexibilidade e a informalidade. Desta forma, deve-se aumentar progressivamente a importância conferida a elas para uma modernização tecnológica na intenção de buscar e alcançar a competitividade e a qualidade imposta pelo mercado (KRUGLIANSKAS E SBRAGIA, 1996).

Normalmente, no Brasil, as pequenas propriedades rurais são unidades de produção familiar (UPF). Segundo WAQUIL (1999), a UPF fica caracterizada quando a propriedade dos meios de produção, o fornecimento da maior parte do trabalho e a gestão da unidade produtiva, inclusive os investimentos realizados, são originados de apenas uma família. SILVA (1995), vai mais além e coloca que o trabalho familiar pode ou não ser complementado por assalariados temporários. Deste modo as UPF não

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apresentam necessariamente caráter de subsistência, mas podem apresentar caráter empresarial, e estarem inseridas no agronegócio.

Os padrões da agropecuária moderna estão conduzindo à exclusão de pequenos produtores, seja pela falta de escala de produção, de padrões sanitários ou de suporte técnico adaptado às suas possibilidades. É necessário desenvolver novos instrumentos de abordagem para que estes produtores possam adequar-se às condições requeridas pelos padrões mínimos de qualidade do mercado, dentro de um contexto orientado pelos critérios de desenvolvimento sustentável (KITAMURA, 1994).

Dada a velocidade dos recentes acontecimentos, pode-se arriscar a dizer que esse processo de modernização não ocorrerá sem provocar sérios problemas sociais. A perspectiva de expulsão desses produtores do mercado ou sua reversão a um processo de subsistência é grande, principalmente porque a maioria não possui capacidade de investimento para acessar novas tecnologias, ou não estão capacitados para incorporar novas técnicas de manejo de produção, de processamento de produtos e também de gerenciamento da atividade. Todos esse fatores remetem à necessidade de conhecer a realidade desses produtores, suas práticas e estratégias utilizadas, assim como as possibilidades econômicas de que dispõem para poder estabelecer políticas públicas condizentes às suas necessidades e que garantam a continuidade de sua inserção ao mercado (OTANI et al., 2000).

O fortalecimento da UPF sugere a necessidade de que sejam ultrapassados os velhos conceitos de atividade de baixa renda, pequena produção ou atividade de subsistência, os quais geralmente resultam em não integração destas unidades ao mercado competitivo. Toda pequena propriedade deve ser rigorosamente entendida como um segmento que detém poder de influência econômica e social. A despeito do tamanho das unidades produtivas, da capacidade geradora de renda, as características que a definem são inteiramente compatíveis com sua importante participação na oferta de produtos agropecuários (ABRAMOVAY, 1997).

GIMENEZ (1988), cita aspectos não quantificáveis relacionados às pequenas e médias unidades produtivas, que são relevantes e contribuem para uma economia sadia, entre elas destaca-se: a baixa relação entre investimentos e mão-de-obra

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empregada, a complementação as atividades industriais mais complexas, a descentralização regional do desenvolvimento e a atuação em mercados limitados ou especializados que não apresentam viabilidade econômica para grandes empresas.

Apesar dessas potencialidades, no Brasil, estas unidades produtivas encontram-se ainda limitadas por diversos problemas e dificuldades, tais como: ausência ou debilidade das políticas diferenciadas de desenvolvimento econômico que apóiem o segmento; tecnologias agropecuárias inadequadas às circunstâncias do pecuarista/agricultor; relação desfavorável entre insumo e produto; falta de conscientização por parte desses produtores, da capacidade de que dispõem para melhorar as condições de produção e bem-estar familiar; deficiente ou nenhum nível de organização e falta de assistência técnica capacitada para trabalhar as UPF’s (EMBRAPA, 1998).

A carência em tecnologias adequadas não é problema apenas das unidades familiares, mas certamente de toda pequena unidade de produção agropecuária. A integração dos centros geradores de tecnologia com o produtor através da operacionalização de pesquisas em sistemas de produção podem ajudar no desenvolvimento e difusão de tecnologias que possam abranger um maior número de agentes econômicos do setor primário da economia e torná-los viáveis.

Viabilidade de Projetos

Usualmente, os estudos de viabilidade de uma atividade rural partem da estrutura produtiva num estágio tecnológico dado, para, em seguida, a partir da produtividade e do preço de mercado, proceder à análise do resultado econômico atual e permitir o planejamento de ações futuras (PEROSA,1999).

MONDAINI et al. (1997) classificam os fatores que influem no resultado econômico como externos e internos. Os fatores externos são aqueles sobre os quais o produtor não tem controle direto, ou seja, condições climáticas, legislação, comportamento do mercado, política agrícola, etc. Os fatores internos são aqueles mobilizados pelo produtor e sobre os quais ele tem controle administrativo, ou seja,

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tamanho e volume dos negócios, rendimento da criação, seleção e combinação de linhas de exploração, eficiência da mão-de-obra e das máquinas, etc.

Portanto, da porteira para dentro, os resultados econômicos dos criatórios, dependem da interpretação dos índices zootécnicos e da coerência das escolhas realizadas em termos de valorização do produto e do sistema de produção por sua vez influenciados por decisões administrativas, técnicas e comerciais.

Uma ferramenta, possível de utilização, para verificar as conseqüências de uma decisão que se pretende tomar futuramente é a orçamentação. Esta técnica consiste em converter unidades físicas em valores monetários, por meio do conhecimento das quantidades de insumos e serviços necessários a um processo de produção, bem como a quantidade dos produtos que serão produzidos e seus respectivos preços (MAGALHÃES, 1999).

Como todas as formas de planejamento econômico estão sujeitas as incertezas, o orçamento também está sujeito a dificuldades inerentes tais como: o pressuposto de que as relações entre os fatores de operação são relativamente constantes ou variam de forma linear; a dificuldade relativa à previsão dos retornos decrescentes em empreendimentos agropecuários; a dificuldade de prever com segurança os preços dos produtos finais e etc. (TUNG, 1990).

Existem diferentes tipos de orçamentos que variam em função do objetivo do orçamento em questão, do nível de agregação dos dados e do impacto sobre a organização da empresa. O orçamento parcial serve para analisar decisões parciais, ou marginais, na organização do sistema produtivo, sem alterar o ramo de exploração da propriedade. Nos orçamentos parciais procura-se estimar a mudança nas despesas e receitas advindas do novo modo de operar o negócio, portanto constitui-se em um procedimento expedito e eficaz de análise de benefício-custo. (NORONHA, 1987; TUNG, 1990; MAGALHAES, 1999).

Nesta perspectiva, um acompanhamento regular dos parâmetros técnico-econômicos de um criatório podem ser uma ferramenta útil para melhorar os resultados de produção. Deve-se ter um mínimo de conhecimento sobre a atividade a ser

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analisada (no caso deste estudo a caprinocultura) para que a fonte de dados para o planejamento seja confiável.

A Caprinocultura

A cabra foi o primeiro animal a acompanhar o homem, servindo como fonte de leite, fonte de carne e também como mercadoria de troca. Fósseis de caprinos foram encontrados em sítios arqueológicos da Ásia, evidenciando que a domesticação ocorreu antes de 7000 a.C.. No Brasil, oficialmente, as primeiras cabras chegaram por volta de 1840, importadas do Cairo no Egito destinadas ao Nordeste, no entanto, desde o início da colonização, cabras chegavam sem documentação nos navios e eram vendidas a qualquer interessado. Embora com presença marcante no Nordeste brasileiro, poucas vezes foram evidenciadas nos nossos livros de história ou economia (SANTOS, 2003).

Segundo o IBGE (2002), o Brasil possui um rebanho caprino de 9.428.622 cabeças, sendo que 93% do efetivo nacional concentra-se na região Nordeste, principalmente nos Estados da Bahia, Pernambuco e Piauí. Apenas 5% do plantel brasileiro encontra-se na Região Centro-Sul (Centro-Oeste, Sudeste e Sul), principalmente em Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro.

O caprino adapta-se facilmente a condições adversas e “produz” onde outras espécies não sobreviveriam, exercendo papel de extrema importância sócio-econômica em regiões menos desenvolvidas em todo o mundo, porém, ao mesmo tempo em que tem sua reputação de animal rústico justificado, quando em condições favoráveis mostra-se altamente produtivo. Assim, os sistemas de produção variam desde criações de subsistência, até criatórios comerciais bem organizados com grandes estruturas de produção (RIBEIRO, 1997).

A caprinocultura se reveste de especial importância social e econômica para os ecossistemas do semi-árido brasileiro. O potencial de adaptabilidade do caprino às condições naturais do meio semiárido, onde a agricultura convencional é atividade de

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alto risco e a bovinocultura sofre pesadas perdas decorrentes do déficit hídrico, torna a caprinocultura uma das poucas atividades com capacidade de amenizar os problemas sócio-econômicos da região. Entretanto, o padrão “ultra-extensivo” de produção, caracterizado pelo manejo rudimentar dos rebanhos e seus baixíssimos índices de produtividade, não remuneram o produtor suficientemente. Devido às limitações regionais, não se observa um direcionamento à especialização e nem uma “preocupação” com o lado comercial da produção na maioria das propriedades. Para a grande maioria desses pecuaristas, esta é uma atividade voltada, eminentemente, para a subsistência familiar (LIMA e BAIARDI, 2000).

Segundo JARDIM (1984) na região Centro-Sul do Brasil e litoral do Nordeste a exploração caprina pode ser caracterizada como intensiva destinada à produção leiteira. A industrialização do leite e as orientações aos criadores de caprinos do Sudeste fazem com que a matéria-prima seja mais bem utilizada pelos laticínios na fabricação de queijos e iogurtes com tecnologia aprimorada, possibilita maior aceitação no mercado interno e, conseqüentemente, melhora as perspectivas da atividade.

A Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro apresenta uma boa estruturação do agronegócio relativo a caprinocultura leiteira. Constata-se um aumento do volume de leite de cabra fornecido anualmente à Queijaria-Escola de Nova Friburgo e a outras indústrias que se instalaram na região as quais absorvem até mesmo a produção das regiões adjacentes (BRESSLAU, 1997 e LEITE, 1997).

De acordo com CORDEIRO (1996), a caprinocultura leiteira passou por fases distintas. Inicialmente atravessou uma fase de retorno expressivo ligado essencialmente a venda de matrizes e reprodutores que se baseava na multiplicação de animais puros de raças leiteiras. A segunda fase foi caracterizada pela venda de quantidades reduzidas de leite a preços elevadíssimos permitindo aos criadores alcançarem margens de lucro significativas. Atualmente, com o crescimento do rebanho leiteiro, a obtenção de resultados econômicos positivos para um criatório implica no domínio mais amplo possível de várias tecnologias relacionadas ao manejo do rebanho e processamento do leite, além de uma boa estratégia de comercialização dos produtos.

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Comercialização do leite caprino

Existem diversas formas de comercialização, no Brasil, a mais freqüente é a verticalizada, ou seja, com o produtor cuidando da produção, do beneficiamento e da comercialização feita diretamente com o consumidor final. A verticalização total permite alcançar maior remuneração por litro de leite, no entanto, insere custos financeiros para adequação de estrutura física e requer maior disponibilidade de tempo e informações. Apenas em algumas regiões do país, o leite é entregue “in natura” a laticínios, que se encarregam de beneficiar e comercializar o produto, talvez este seja o melhor caminho, pois possibilita especialização e aumento de escala. (RIBEIRO, 1997).

A industrialização do leite e derivados surge como uma necessidade para a maioria dos produtores do Brasil pela dificuldade do comércio do leite "in natura". A industrialização possibilita aumentar a escala de produção e, por conseguinte, melhorar o faturamento bruto mensal, entretanto, este segmento necessita de apoio político para ser incentivado (CORDEIRO, 1996).

Segundo CARVALHO (s.d.) o mercado dos produtos lácteos caprinos industrializados no Brasil é baseado na comercialização de leite fluido, 95% de todo leite industrializado é comercializado desta forma, apenas 3% é transformado em queijos e 2% em leite em pó.

Talvez o maior impedimento à comercialização de produtos da caprinocultura leiteira esteja no fato de serem novos para o mercado brasileiro, já que não participam do pacote de consumo dos consumidores, principalmente por falta de tradição. Atualmente, o leite tem atendido um mercado particular constituído principalmente de crianças e idosos, alérgicas ao leite de vaca. Este mercado é bastante limitado e difuso, o que dificulta a propagação do produto fluido nos circuitos comerciais clássicos (HAAS e HAAS, 1994).

PIMENTA FILHO e SIMPLÍCIO (1994) propõem que uma alternativa para dar fluxo ao mercado é melhorar a apresentação do produto fluido, de modo a oferecer variedades de opções (desnatado, achocolatado, etc.) e acondicionamento (leite UHT, leite em pó, porções individuais, etc), ou mesmo a exploração dos derivados do leite.

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Os queijos de leite de cabra são produtos pouco conhecidos, para não dizer completamente novos para a grande maioria dos consumidores potenciais, principalmente por se caracterizarem como produtos especiais e apresentarem preços elevados (HAAS e HAAS, 1994). A fabricação de queijos menos requintados e a preços acessíveis também pode expandir o mercado e, conseqüentemente, estimular o aumento da produtividade da exploração e incentivar empresários a montarem laticínios (PIMENTA FILHO E SIMPLICIO, 1994).

O iogurte caprino é um produto de grande aceitação no mercado, que possui vantagens como baixo custo de produção, facilidade de preparo e conservação e não necessitar de equipamentos sofisticados (CORDEIRO, 1998). Segundo RIBEIRO (1997) o leite de cabra forma uma coalhada mais friável e fina que o leite de vaca, e é digerida mais facilmente no estômago, por isso agrada muitos consumidores.

Outra vertente que se mostra bastante promissora a utilização do leite de cabra como matéria-prima é a indústria de cosméticos. Atualmente, algumas empresas já estão com seus produtos no mercado, entre elas destaca-se a Valtex Comércio e Indústria (nome fantasia Ubon). Hoje, 5% de seus produtos são formulados com leite caprino, tais produtos respondem por 30% do faturamento da indústria. Os principais produtos encontrados no mercado são: sabonete, shampoo, condicionador, loção cremosa, sabonete líquido, display com mine sabonetes, entre outros (CARVALHO, s.d.).

A comercialização é o fator determinante para impulsionar a caprinocultura leiteira, pois o desempenho dos produtos no mercado é o que condiciona o resultado da atividade. Os aspectos essenciais que devem ser considerados em relação aos produtos são: oferta constante de um produto de excelente qualidade; acondicionamento e apresentação pertinentes e principalmente uma propaganda adequada, voltada para o público em geral ou, se for o caso, uma divulgação técnica específica para médicos, pediatras, alergistas, geriatras e homeopatas (CORDEIRO, 1996).

CORDEIRO (1998) lembra a importância que existe a oportunidade de se explorar o mercado de subprodutos como carne, peles e esterco, diversificando a

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receita do produtor. Além disto, nos sistemas de criação com animais especializados e registrados, a venda de matrizes e reprodutores pode constituir uma das principais fontes de renda.

Mesmo no Nordeste, onde a maioria do rebanho caprino é explorada para carne e pele, a caprinocultura leiteira também vem se desenvolvendo em algumas regiões, no entanto, o maior potencial está nos rebanhos de corte (RIBEIRO, 1997).

Praticamente todo levantamento estatístico da agropecuária realizado pelos política publicas não traz informações suficientes para caracterizar os sistemas de produção vigentes na caprinocultura. LEMOS NETO e ALMEIDA (1993), levantaram a situação da caprinocultura paulista e mostraram que as raças criadas com maior freqüência eram a Saanen e a Alpina e, ao incluir seus cruzamentos com animais sem raça definida (SRD) totalizavam 57,3% do rebanho paulista. O fato da caprinocultura na região Sudeste estar em ascensão faz com que a freqüência de criatórios que utilizam animais SRD seja considerável (28,5% em São Paulo), pois os criadores normalmente utilizam animais mais baratos para iniciar seus plantéis e obter animais melhorados a cada geração através de um cruzamento absorvente com raças leiteiras.

Além do cruzamento absorvente, existem outras tecnologias que podem ser utilizadas pelos produtores, entre elas está o controle reprodutivo imprimindo 1,5 partos/cabra ao ano, também conhecido como regime quadrimestral de partos.

Estratégias de manejo

Regime quadrimestral de partos

O controle da reprodução ocasiona vantagens inerentes à antecipação do período de reprodução, com diminuição dos períodos improdutivos, aumento da prolificidade, incremento do progresso genético e disponibilização de leite na entressafra (CHEMINEAU et al., 1990).

Na região de abrangência do trabalho do Núcleo Sudeste da EMBRAPA Caprinos têm sido proposto pagamento diferenciado (superior) pelo leite de cabra na

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entressafra. No entanto, é preciso ter certa escala de produção para vislumbrar ganhos (MELO, 2003).

Na região Centro-Sul, de acordo com TRALDI (1994) a criação de cabras leiteiras apresenta reprodução estacional que determina a produção de leite de agosto a março. Quando findam as lactações, estas reiniciarão apenas na próxima estação de parição, ou seja, o final do inverno. Isso acarreta uma entressafra de aproximadamente quatro meses, sem lucro para o criador e traz problemas de fornecimento, que geram a perda de mercado pela falta de continuidade na produção de leite e derivados.

Freqüentemente tem sido cometido um erro pelos caprinocultores e por muitos técnicos, que atribuem à programação reprodutiva a solução para o problema da estacionalidade na produção de leite, quando na verdade esta é apenas uma das etapas, que deve ser acompanhada por uma programação alimentar e, na maioria das vezes, por estocagem de produtos (RIBEIRO, 1997).

É importante esclarecer que a freqüência de uma parição por ano ocorre principalmente em animais de raça mais apurada e/ou com maior produtividade resultante de longos períodos de lactação. Já os animais que tem este período mais curto conseguem três parições a cada dois anos e permite um intervalo satisfatório entre duas lactações, sem causar prejuízo a cabra (LEMOS NETO e ALMEIDA, 1993).

No setor de caprinocultura da UNESP-Jaboticabal implantou-se o regime quadrimestral de partos com cabras Saanen puras. Foram adotadas três estações de cobertura ao ano, nos meses de fevereiro, junho e outubro. Somente no mês de outubro as cabras aparentemente estavam em anestro, mas apenas o efeito macho foi suficiente para que elas entrassem em cio, no entanto, a taxa de concepção foi menor que nos outros meses de cobertura (80% contra 92%, na média de três anos de experiência).

No regime quadrimestral o período de lactação é reduzido, mas a média da produção leiteira diária aumenta em função da maior quantidade de picos de produção no intervalo de dois anos (três lactações no regime quadrimestral contra duas lactações no regime anual) e conseqüentemente maior produção de leite durante o ano. Além disto, se obtêm 1,5 partos por cabra por ano o que disponibiliza um maior número de

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crias para reposição do rebanho ou para venda. RESENDE (1998) conclui que este regime imprime uma constância na produção de leite durante todo o ano, um aumento na produção de leite e no número de animais para a venda. Com este manejo, durante um período de dois anos, as cabras passam por dois cios naturais e um cio induzido.

Indução de cio

A indução de cio pode ser feita através de “efeito macho”, manipulação de fotoperíodo, métodos farmacológicos ou combinação destes.

Para utilização do “efeito macho” basta introduzir um reprodutor ou rufião em um lote de fêmeas sazonais, que se encontrem isoladas de qualquer contato com machos há pelo menos 3-4 semanas, para que o estro seja induzido em 5-10 dias após sua introdução. Isso se deve à liberação do hormônio LH em ambos os sexos, influenciados pelo estímulo social; entretanto, muitas vezes, esse pico de LH é insuficiente para provocar ovulações ou formar corpos lúteos que apresentem pleno funcionamento (TRALDI, 1994).

A indução hormonal pode ser feita com melatonina ou uso de hormônios sexuais naturais e/ou seus análogos sintéticos.

De acordo com RIBEIRO (1997) e TRALDI et al. (2000), a utilização de hormônios sexuais segue protocolos possiveis de diferenciação, só que normalmente envolvem a colocação do presságio vaginal impregnado com o progestágeno seja ele acetato de fluorogestona (FGA) (45mg) ou medroxiprogesterona (MAP) (60mg) em esponjas, ou “Controlled Internal Drug Release” (CIDR), que permanecem de 10 a 12 dias no interior da vagina.

Quarenta e oito horas antes do final do tratamento procede-se à administração intramuscular de 200 a 300 UI de Gonadotropina Coriônica Eqüina (eCG, anteriormente denominado PMSG) ou 300 UI de gonadotrofina coriônica humana (hCG) mais 50 a 100

µg de prostaglandina sintética (cloprostenol) ou 1,25mg de prostaglandina natural (PGF-2α), que promoverão o crescimento folicular. Cerca de 20 horas após a retirada

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da esponja ou implante, as fêmeas começarão a manifestar comportamento de estro (ESPESCHIT, 1998).

Pode-se também utilizar implante subcutâneo de progestágenos (progesterona e norgestomet).O implante de norgestomet é encontrado comercialmente no Brasil, com indicação para fêmeas bovinas nas doses de 6 e 3 mg. Vários experimentos já foram conduzidos para utilização destes implantes em caprinos, variando a dosagem e o tempo de permanência. Os melhores resultados foram conseguido com implantes de 3 mg por período de 10 dias. No oitavo dia após inserção do implante deve-se aplicar 200 a 300 UI de (eCG) mais 50µg de cloprostenol ou 1,25 mg de prostaglandina natural, deste modo, os cios serão observados cinco dias após retirada dos implantes (ESPESCHIT, 1998).

Por utilizar hormônio heterólogo à espécie, a formação de anticorpos é detectada cerca de 6 dias após sua primeira administração e poderá implicar num atraso na manifestação do estro, na descarga e pico de LH e na ovulação em tratamentos posteriores com o mesmo hormônio, inviabilizando a utilização dessas fêmeas no programa de inseminação com horário fixo para aplicação de sêmem. Por esse motivo, é indicado o uso de rufião na detecção dos estros, sendo inseminados apenas os animais que manifestarem sintomas de estro dentro de 30 horas após a retirada do presságio vaginal (BARIL et al, 1998).

Já a melatonina é um hormônio de ocorrência natural em todos mamíferos, sintetizado e secretado exclusivamente durante à noite pela glândula pineal. O animal percebe o fotoperíodo através da concentração sistêmica deste hormônio, portanto, tem sido estudado o fornecimento de melatonina isoladamente ou associado a programas de luz através de injeções, ingestão ou implante, sendo este último o que tem apresentado melhores resultados (RIBEIRO, 1997).

Em nosso país, o tratamento fotoluminoso realizado durante o final do outono e início de inverno, com duração de 2 a 4 meses, associado ao efeito macho no início da primavera, permite que cerca de 70 a 80 % das fêmeas a ele submetidas apresentem cios férteis durante a primavera. Os animais devem ser expostos a 16 horas de luz e 8 de escuro por dia com o auxílio de lâmpadas fluorescentes, instaladas no galpão

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ativadas diariamente através de um “timer” cerca de 2 horas antes do alvorecer e automaticamente desligadas 2 horas após o entardecer, alongando o fotoperíodo natural e permitindo uma luminosidade de 200 lux dentro do galpão. Ao final do tratamento o “timer” é desativado e os animais retornam à situação de fotoperíodo natural. Após mais ou menos 60 dias aplica-se o efeito macho que desencadeia e/ou acentua a manifestação dos estros (TRALDI et al., 2000).

Fertilidade do rebanho

Com o objetivo de aumentar a eficiência da ovulação, garantir a fecundação e a gestação, diminuir o período de serviço, varias ações devem ser implementadas na intenção de melhorar desempenho reprodutivo.

A subnutrição representa um dos fatores mais importantes no baixo desempenho reprodutivo e produtivo de nossos rebanhos. O déficit alimentar severo e/ou prolongado traz como conseqüência o anestro, definido como ausência de ciclo estral e estro (cio). Nesse caso, os ovários se apresentam pequenos e inativos (não funcionais) e essas modificações ocorrem mais rapidamente quando a má alimentação está associada à doenças crônicas debilitantes e/ou alta produção de leite (FERREIRA, 1993).

Conhecer as exigências nutricionais da categoria é de grande importância para as fases do ciclo reprodutivo. SILVA SOBRINHO (2001) sugere que na pior das hipóteses, pelo menos duas semanas antes da estação de monta deve-se melhorar os níveis nutricionais para que as matrizes sejam fecundadas ganhando peso, pois além de aumentar a taxa de ovulação, melhora os níveis de fecundação. Este período é considerado crítico no que se refere à nutrição no ciclo reprodutivo. Uma boa mineralização também é indispensável. Não podemos confiar só nas pastagens, pois o consumo exclusivo das mesmas não atende as exigências.

As doenças da reprodução também podem ser consideradas como causas de baixos índices de produtividade, o conhecimento destas pode, em muitos casos, evitar problemas como infertilidade, aborto, infecções, etc. Vale lembrar que práticas de higiene são capazes de manter integra a saúde do animal. As

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endoparasitoses,·eimerioses, toxoplasmoses, micoplasmose, brucelose, aborto por clamídia, salmonelose, listeriose, leptospirose, campilobacter e toxemia de prenhez, são algumas doenças que causam debilidade e influenciam na fertilidade, concepção ou aborto. Deve-se dispensar uma atenção especial aos reprodutores antes da estação de monta, fazendo os exames periódicos, como o andrológico, garantindo, assim, o êxito dos acasalamentos (BARBOSA, 2003)

FERREIRA (1993) menciona que o manejo inadequado ou incorreto pode ocasionar falha na fertilização ou morte embrionária em função de estresse causado por brutalidades com os animais, longas caminhadas em marcha acelerada imediatamente antes ou após cobrição ou inseminação das fêmeas, parasitismo acentuado, altas densidades populacionais entre outros. Problemas na identificação dos animais, confiabilidade nas informações e erros de projeto nas instalações também comprometem o índice de fertilidade do rebanho.

Melhoramento genético

As melhorias no manejo nutricional, sanitário e geral, permitem a elevação do nível de produção e desempenho reprodutivo dos caprinos, mas, sem dúvida, o melhoramento genético ocupa lugar de destaque nos ganhos obtidos. Melhorar não necessariamente significa produzir mais; pode-se aumentar o lucro, com a mesma ou menor produção, pela redução dos despesas.

CARDELLINO & ROVIRA (s.d.) enfatizam que o aumento de produção de leite obtido pelo melhoramento genético pode ser menos espetacular e mais lento que o obtido pela melhoria das condições ambientais, mas tem caráter permanente e cumulativo ano a ano.

O desenvolvimento da caprinocultura evidencia a necessidade de aumento na produção de leite de caprinos criados no Brasil, tanto em função da rentabilidade do empreendimento quanto para suprir o mercado consumidor, sendo que os caprinos melhorados para as condições brasileiras teriam condições de incrementar esse aumento, já que seriam selecionados no ambiente especifico de criação, enquanto as

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importações de animais originários de zonas temperadas, podem apresentar grande sensibilidade às mudanças ambientais, nutricionais e de manejo, que pode ter reflexo no desempenho produtivo e reprodutivo, além do risco de inserção de novas doenças no rebanho brasileiro (RIBEIRO, 1997).

O melhoramento do rebanho começa pela escolha do tipo de animal apropriado para a fazenda. Fazendas com maior potencial de produção podem trabalhar com animais mais especializados, de raças européias, enquanto fazendas de baixas condições de manejo, será mais conveniente o uso de animais mestiços devido a sua maior resistência (MADALENA, 1986).

O melhoramento do potencial genético dos animais deve ocorrer de forma gradual para que o produtor tenha tempo de adaptar o sistema de produção ao potencial e exigência dos animais, caso contrário, o resultado pode ser desastroso.

A venda de matrizes e reprodutores pode representar uma ótima oportunidade de receita, mas não deve ser colocada como o objetivo da criação. Um projeto bem elaborado e apoiado na comercialização de leite e/ou derivados tem muito mais chance de êxito, pois se o criatório tem bons animais e faz bom trabalho de seleção, terá como conseqüência matrizes e reprodutores para a venda (RIBEIRO, 1997).

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MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido na Região Sudeste e abrangeu dois sistemas de produção de leite caprino com características tecnológicas distintas.

Em respeito aos produtores que se disponibilizaram em colaborar com o trabalho, as propriedades foram codificadas em “A” e “B”. Foram escolhidas, dentre as propriedades rurais que tem a caprinocultura como atividade principal, duas propriedades com níveis tecnológicos diferenciados para que o resultado das simulações da aplicação de uma mesma tecnologia em ambos os criatórios seja facilmente percebível. Convencionou-se codificar com a letra “A” a propriedade que apresenta o sistema de produção de leite caprino mais tecnificado.

Ambos os criatórios selecionados sempre produziram em sistema de confinamento. A escolha de criatórios que utilizam o confinamento deveu-se ao fato de que, de acordo com LEMOS NETO e ALMEIDA (1993), outros sistemas de criação normalmente visam apenas à subsistência, portanto contribuem pouco no agronegócio da caprinocultura leiteira, além disto, os objetivos destes produtores raramente passam pela procura de maiores rendimentos ou produtividade.

As informações necessárias foram coletadas através de inquirição pessoal semi-estruturada (apêndice) e observações diretas realizadas durante visitas às propriedades.

A inquirição semi-estruturada é caracterizada por NICHOLS (1991) como aplicação de uma lista preparada dos tópicos (não necessariamente uma lista de questões) que direcionam e apontam os assuntos a serem discutidos de acordo com as circunstâncias, sem se preocupar com a ordenação dos tópicos ou com frases preestabelecidas. Este modo de trabalho permite confeccionar um relatório rico em informações porque a entrevista assemelha-se a um diálogo.

A pesquisa foi realizada em três etapas distintas: o diagnóstico da situação inicial, a escolha das tecnologias a serem simuladas e a simulação.

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Diagnóstico

Sabe-se que um sistema de produção é dinâmico, contudo para o diagnóstico considerou-se o sistema e o nível tecnológico como fixos no intuito de retratar a situação da propriedade para o trabalho de simulação.

A caracterização do sistema de produção foi feita através das seguintes informações:

sistema de criação; número de matrizes; ciclo de parição aplicado; produção leiteira média; preço de venda do leite;

idade e peso de abate dos(as) cabritos(as); preço de venda de animais para abate;

porcentagem de animais vendidos para reprodução; preço de venda dos animais para reprodução; fertilidade e prolificidade das cabras;

relação de matriz por reprodutor;

taxa de reposição de machos e de fêmeas; preço de compra de matrizes e de reprodutores; preço de venda de animais de descarte;

idade média à primeira cria; intervalo de partos;

sistema de acasalamento;

mortalidade até 3 meses, de 4 a 6 meses e acima de 6 meses; período de aleitamento;

quantidade de leite (ou sucedâneo) oferecido por dia; tipo e qualidade dos alimentos fornecidos;

consumo médio de concentrado, volumoso e sal; consumo de vacinas e medicamentos.

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A identificação das despesas, assim como da receita, ateve-se aos itens alterados após aplicação das tecnologias. Segundo TUNG (1990) quando se pretende apenas ajustar os métodos de produção, a técnica orçamentária mais recomendada é a orçamentação parcial que consiste em estimar os efeitos das alterações sobre as despesas e lucros da estrutura existente. O mesmo autor lembra que é decisivo ter a capacidade de discernir entre despesas que se alterarão e as que ficarão inalteradas, no entanto, esta tarefa foi facilitada pelo auxílio do programa de simulação criado pelo GECAPRI (Grupo de Estudo em Caprinocultura) da UNESP-Jaboticabal desenvolvido em Microsoft® Excel.

Escolha das Tecnologias

A escolha das tecnologias a serem utilizadas na simulação ficou na dependência do resultado do diagnóstico. Após o diagnóstico da situação atual realizou-se uma consultoria técnica e, avaliou-se quais estratégias de manejo que poderiam ser adotadas em ambas propriedades em função da facilidade de aplicação e adaptabilidade às situações existentes.

Não houve uma pré-seleção de quais estratégias seriam adotadas, todas as tecnologias conhecidas e difundidas cabíveis em um sistema de produção de leite caprino poderiam ser selecionadas, principalmente as tecnologias já consolidadas no meio acadêmico como somadora de produtividade ao sistema. A proposta deste trabalho é de conhecer a mudança nos índices zootécnicos e na rentabilidade do sistema após aplicação isolada ou em conjunto das tecnologias sugeridas.

Procurou-se trabalhar com as mesmas tecnologias nas diferentes propriedades, porém, não existiu a pretensão de comparar os resultados obtidos em uma propriedade e outra, pois como mencionado anteriormente, as propriedades são propositalmente distintas e o resultado final após adoção de uma mesma tecnologia obviamente será diferente.

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Simulação

Simulou-se a aplicação isolada e em conjunto das mesmas tecnologias em cada uma das propriedades.

A simulação foi realizada com auxílio do programa computacional desenvolvido pelo GECAPRI (Grupo de Estudos em Caprinos) da UNESP–Jaboticabal, montado em Microsoft® Excel, que exige a introdução de algumas informações, tais como: número de matrizes, ciclos de parições por ano, produção leiteria média, preço de venda do leite, idade para abate dos cabritos(as), peso dos(as) cabritos(as) para abate, preço de venda para corte, preço de compra e venda de matrizes, preço de compra e venda de reprodutores, preço de venda de animais de descarte, porcentagem dos(as) cabritos(as) nascidos(as) vendidos(as) para reprodução, fertilidade, prolificidade, relação de matrizes por reprodutor e taxa de reposição de machos e fêmeas. Após a introdução dos dados, o programa estima os índices zootécnicos, a estruturação do rebanho estabilizado, as despesas e as receitas.

De posse das informações de receita e despesa, estimados pelo programa, em função das alterações sobre a estrutura existente foi aplicada a técnica do orçamento parcial, recomendada por TUNG (1990), para verificar a viabilidade da aplicação das tecnologias sugeridas.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diagnóstico

O diagnóstico das propriedades foi dificultado devido à falta de controle de alguns dados por parte dos produtores. Neste estudo, mesmo no sistema de produção caracterizado como mais tecnificado (propriedade “A”), algumas informações necessárias ao trabalho não estavam disponíveis em seus registros e tiveram que ser calculadas ou estimadas com base nas informações existentes.

Os dados coletados foram trabalhados para que a propriedade fosse caracterizada em todos os aspectos. A exposição em tabelas permite a visualização dos dois sistemas de produção caracterizados por níveis tecnológicos e administrativos distintos, já o detalhamento de cada propriedade é descrito a seguir.

A Tabela 1 apresenta algumas características gerais e a Tabela 2 os principais aspectos relativos a alimentação dos animais das duas propriedades. Na Tabela 3 são demonstradas algumas características do rebanho. Um resumo que facilita a diferenciação dos aspectos relacionados à reprodução das propriedades é apresentado na Tabela 4. E as Tabelas 5 e 6 exibem, respectivamente, os preços praticados por ocasião de compra e venda de alimentos, animais e produtos e gastos com outras despesas.

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Tabela 1 – Principais características das propriedades A e B

ITEM Unidades Propriedade “A” Propriedade “B”

Superfície agrícola útil ha 2 35

Área da caprinocultura ha 2 3

Área para produção de alimento ha 1 2

Sistema de criação Confinamento Confinamento

Sistema de produção de leite caprino Intensivo Intensivo

Tipo de propriedade “Monoativa” Pluriativa

Comportamento do produtor Empresarial Não empresarial

Escolaridade do produtor Pós-graduação Ensino Médio

Nível tecnológico Alto Médio

Posição da caprinocultura na propriedade Principal Principal

Assistência técnica Permanente Raramente

Motivo da produção Mercado Mercado

Investimentos na propriedade Habitual Eventual

Produção de leite diária 90 litros 85 litros

Piso das baias Maravalha sobre cimento Ripado

Confinamento das crias Coletivo Individual

Sala de ordenha Duplo 6X3 Simples 4X2

Tabela 2 - Resumo relativo a alimentação dos animais nas propriedades A e B

ITEM Unidades Propriedade “A” Propriedade “B”

Tipo de alimentos volumosos fornecidos

Feno Pré-secado Capim picado Cana picada Silagem milho Capim picado

Consumo de vol/cabras lactação kg/MS.dia 1,5 1,3

Consumo de vol/cabras secas e bodes kg/MS.dia 1,3 1,3

Consumo de volumoso/cabritos(as) kg/MS.dia 0,5 0,4

Tipo de concentrado pronto diluir em milho

Consumo de concentrado/cabras lactação kg/MS.dia 2 0,5

Consumo de concentrado/cabras seca e bodes kg/MS.dia 0,6 0,3

Consumo de concentrado/cabritos(as) kg/MS.dia 0,4 0,3

Número de rações utilizadas 3 2

Número de refeições 2 2

Mineralização Semanal Semanal

Número de suplementos minerais utilizados 2 1

Consumo de sal diário kg/cabeça 0,013 0,012

Período de aleitamento dias 60 49

Quantidade de leite (sucedâneo) oferecido Litros/dia 1,5 1,5

Nº de refeições diárias durante aleitamento 2 2

Método de colostragem Mamadeira Balde

Período de colostragem dia(s) 1 2

Método de aleitamento Calha Balde

Alimento dos lactentes Comercial Leite bovino

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Tabela 3 - Características do rebanho das propriedades A e B

ITEM Unidades Propriedade “A” Propriedade “B”

Número de matrizes 40 73

Cabras em lactação 31 57

Produção leiteira média Litros/dia 90 85

Produção leiteira média /animal Litros/dia 3 1,5

Produção média por cabra/ano kg 900 460

Cabritos vendidos para reprodução % dos nascidos 30 0

Cabritas vendidas para reprodução % das nascidas 50 10

Cabritos vendidos para corte % dos nascidos 70 100

Cabritas vendidas para corte % dos nascidos 25 65

Idade para abate dos cabritos Meses 3 2

Peso de abate dos cabritos kg 20 13

Idade para abate das cabritas Meses 3 2

Peso de abate das cabritas kg 18 11

Mortalidade até 3 meses % ao mês 0,8 1,0

Mortalidade de 4 a 6 meses % ao mês 0,6 0,6

Mortalidade acima de 7 meses % ao mês 0,4 0,4

Tabela 4 – Características reprodutivas do rebanho das propriedades A e B

ITEM Unidades Propriedade “A” Propriedade “B”

Ciclo de parição aplicado Anual planejada Anual sazonal

Época de parição fev/mar ago/out

Método de indução e sincronização de cio Efeito macho/Luz/ Hormonal Efeito macho

*1 Sistema de acasalamento MC e IA MN

Período de lactação médio dias 305 280

Período seco médio dias 60 85

Intervalo entre partos médio dias 365 365

Relação de matriz por reprodutor 20 25

Taxa de reposição de machos e fêmeas % 25 25

Idade média à primeira cria meses 15 18

Prolificidade crias/ano 1,5 1,5

*2Fertilidade das cabras % 60 60

*1 Sistemas de acasalamento: MN = Monta Natural, MC = Monta Controlada, IA = Inseminação Artificial *2 (Número de cabras prenhas/número de cabras do rebanho) x 100

Tabela 5 - Preços praticados pelas propriedades A e B

ITEM Unidades Propriedade “A” Propriedade “B”

Preço médio do volumoso R$/kg 0,7 0,35

Preço médio do concentrado R$/kg 1,0 0,7

Preço médio do sal R$/kg 0,8 0,8

Preço de compra de matrizes R$/cabeça 500 300

Preço de compra de reprodutores R$/cabeça 4.000 1.000

Preço de venda de animais de descarte R$/cabeça 120 120

Preço de venda de reprodutores (bodetes) R$/cabeça 1.500 0

Preço de venda de matrizes (cabritas) R$/cabeça 1.500 250

Preço de venda do leite R$/litro 1 1

Preço de venda de animais para abate R$/kg PV 5 5

Preço do leite (sucedâneo) R$/kg 0,50 0,35

Imagem

Tabela 2 - Resumo relativo a alimentação dos animais nas propriedades A e B
Tabela 3 - Características do rebanho das propriedades A e B
Tabela 6 – Despesas nas propriedades A e B
Tabela 8 - Variação da receita anual e quantidade de produtos para venda na propriedade “A”  pela mudança no regime de partos no rebanho
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Referências

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