• Nenhum resultado encontrado

A febre amarela na região de Ribeirão Preto durante a virada do século XIX: importância científica e repercussões econômicas.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A febre amarela na região de Ribeirão Preto durante a virada do século XIX: importância científica e repercussões econômicas."

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 ( 1 X 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

FA TO H IS T Ó R IC O

A FEBRE AMARELA NA REGIÃO DE RIBEIRÃO PRETO

DURANTE A VIRADA DO SÉCULO XIX: IMPORTÂNCIA

CIENTÍFICA E REPERCUSSÕES ECONÔMICAS

Luiz T ad eu M o ra es F ig u e ir e d o

N e s t a r e v i s ã o h i s t ó r i c a , d e s c r e v e - s e a s i t u a ç ã o p r e c á r i a d a s a ú d e p ú b l i c a n o B r a s i l d u r a n t e o s é c u l o X I X d e v i d o â s m ú l t i p l a s e p i d e m i a s d e f e b r e a m a r e l a . D e s c r e v e - s e , t a m b é m , o s p r e c á r i o s c o n h e c i m e n t o s q u e h a v i a m , ü é p o c a , s o b r e a e n f e r m i d a d e . F a z -s e u m b r e v e h i -s t ó r i c o -s o b r e a R e g i d o d e R i b e i r ã o P r e t o , -s i t u a d a n o X o r d e -s t e d o E -s t a d o d e S ã o P a u l o , s e u s d e s b r a v a d o r e s , i m i g r a n t e s e f a z e n d e i r o s d e c a f é p i o n e i r o s , i n c l u i n d o - s e L u i z P e r e i r a B a r r e t o . R e l a t a m - s e a s j e p i d e m i a s d e J é b r e a m a r e l a o c o r r i d a s n a c i d a d e d e S ã o S i m ã o , n o s a n o s d e 1 8 9 6 . 1 8 9 8 , 1 9 0 2 e u m a o c o r r i d a e m R i b e i r ã o P r e t o , n o a n o d e i 9 03■ M o s t r a - s e q u e a s m e d i d a s d e s a ú d e p ú b l i c a t o m a d a s p a r a o c o n t r o l e d o s s u r t o s m o s t r a r a m - s e e f i c i e n t e s q u a n d o E m í l i o R i b a s p r o m o v e u , d e f o r m a p i o n e i r a , o c o m b a t e a o m o s q u i t o t r a n s m i s s o r , o A e d e s a e g y p t i . D e s c r e v e m - s e o s e x p e r i m e n t o s e f e t u a d o s p o r E m í l i o R i b a s , c o m a p a r t i c i p a ç ã o d e A d o l p b o L u t z e d e L u i z P e r e i r a B a r r e t o , v i s a n d o c o n f i r m a r a t r a n s m i s s ã o v e t o r i a l d a f e b r e a m a r e l a e a f a s t a r o u t r a s f o r m a s d e c o n t á g i o . O b s e w a - s e q u e a s e p i d e m i a s d e f e b r e a m a r e l a c a u s a r a m p r e j u í z o a o d e s e n v o l v i m e n t o d a C i d a d e d e S ã o S i m ã o . c o l a b o r a n d o p a r a a t r a n s f e r ê n c i a d o p o l o e c o n ô m i c o r e g i o n a l p a r a R i b e i r ã o P r e t o . R e s s a l t a - s e a i m p o r t â n c i a d a s m e d i d a s d e c o n t r o l e v e t o r i a l e a d o s e x p e r i m e n t o s s o b r e o m e c a n i s m o d e t r a n s m i s s ã o d a f e b r e a m a r e l a , n o d e s e n v o l v i m e n t o d a c i ê n c i a m é d i c a , e d a s a ú d e p ú b l i c a n o B r a s i l .

P a l a v r a s - c h a v e s : E p i d e m i a s d e f e b r e a m a r e l a . R i b e i r ã o P r e t o . S ãio S i m ã o . H i s t ó r i a d a f e b r e a m a r e l a .

A fe b re a m arela, g rav íssim o flag elo e dizim adora d e p o p u laçõ e s, ca u so u im p o rtantes efeitos, a in d a p o u c o a v a lia d o s, s o b re a e c o n o m i a , a s o c i e d a d e , a c i ê n c i a e o d ese n v o lv im en to d o Brasil. T rata-se d e um a d o en ç a tro p ical, q u e ju n tam en te co m a m alária e o u tro s m ales, in sp irav a h o rro r e fazia com q u e o s e u ro p e u s tiv essem receio d o Brasil, c o n sid e ra d o n o séc u lo XIX, um a d as áreas mais in salu b res d os trópicos. Aos brasileiros p o d ero so s d o final d a q u e le século, os g ra n d es fazendeiros d e café, assu stav a a d izim ação d e sua força d e tra b a lh o b em co m o o a b a n d o n o da em ig ração e u ro p é ia d e trab a lh ad o res, pelo tem or da feb re am arela38. P or o u tro lado, n aq uela é p o c a, florescia m u n d ialm e n te e com influências n o Brasil, o p e n s a m e n to positivista.

U n id ad e M u ltid isc ip lin a r d e P esq u isa em V irologia, Faculdade d e M ed icin a d e R ibeirão P reto, U niversidade de Sào Paulo.

E n d e r e ç o p a r a C o r r e s p o n d ê n c i a : Luiz Tadeu M. Figueiredo,

U n id ad e M u ltid isc ip lin a r d e P e sq u isa em V iro lo g ia/ FMRP/USP 14049-900, R ibeirão P reto , SP, Brasil.

Fax: (0 1 6 ) 633-1144

R ecebido para p u b lic a çã o e m 17 /2 /9 5 .

S u rg ia a m e to d o lo g ia c ie n tífic a , o n d e se analisava os fe n ô m e n o s b io ló g icos d e form a n e u tr a , b u s c a n d o a v e r d a d e . Q u a n to ao c o n tr o le d a f e b re a m a r e la e a o d e o u tr a s d o e n ç a s tropicais, surgiu, n a q u e le m o m ento , um a ciara recep tiv id ad e p ara a ciência, v en d o - a co m o um a e sp e ra n ç a p ara a so lu ção destes m ales, em su b stitu ição ã situ ação anterior, q u e era d e um p e s s im ism o p ró p rio d e país co lo n izad o . E, realm en te, no caso da febre am arela, ao invés de atribuí-la, sim p lesm en te, d e form a co nform ista a fe n ô m e n o s clim áticos e geog ráficos, b u sco u -se a fu n d o su as ca u sa s5.

A f e b r e a m a r e l a . A feb re am arela era

tam b ém c h a m a d a de ty p h o icteroide, ty p h o

(2)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

f e b r e a m a r e l a , c o m e ç a n d o n a B a h i a e ch e g a n d o , p o r m ar, a o Rio d e Ja n e iro , co m os m arin heiro s d o e n te s d o n av io d in am arq u ês N avarre. Em m a rç o d e 1850, to d a a c id a d e d o Rio d e Ja n e iro estav a ata c a d a p e la febre am arela. O b se rv o u -se q u e a d o e n ç a p o u p a v a os p re to s e m atav a e u ro p e u s , em m u ito m aio r freqüência que aos nativos, in d e p e n d e n te m e n te d e id ad e, e c o m m aio r m o rtalid ad e e n tre o s d o sexo m a s c u lin o '37. O corriam , p o rtan to , casos assin to m ático s, casos incaracterísticos, co m o u m a g ripe, caso s leves, m o d e ra d o s e grav es o u m alignos. Entre 1850 e 1902, a fe b re am arela o co rreu a n u a lm e n te n o Rio d e Jan e iro , co m ex c e ç ã o d e 1865, 1866 e 1867, te n d o ca u sa d o o im p ressio n an te n ú m e ro d e 58063 ób ito s n esse p e río d o , n u m a cid a d e q u e, em 1850, co n tav a co m 166000 h a b ita n te s 15.

O s c o n h e c i m e n t o s s o b r e a f e b r e a m a r e l a n o

s é c u lo X I X . Na s e g u n d a m e ta d e d o sé c u lo XIX,

o casião q u e p re c e d e u as ep id em ias n a R egião d e R ibeirão P reto, a fe b re am arela tin h a cau sa e m ecan ism o d e tran sm issão d esc o n h ecid o s. D iscutia-se, inclusive, se era ou n ão contagiosa. C itada p o r F ran c o 13, e m m aio d e 1850, a C om issão C entral d e S aú d e P ú b lica d o Rio de Jan eiro, c o m p o sta p o r g ra n d e s m éd ico s da ép o c a, ind icava in d ig estõ es, a su sp e n sã o da tran sp iração , ex p o siç ã o à ch uv a, à u m id ad e, ao se re n o d a n o ite e à in so lação , e esta foi, sem d ú v id a, u m a d as m ais fortes cau sas da sua p ro d u ç ã o en tre nós. As fadig as d o esp írito , as c o n tra rie d a d e s m orais, as p aix õ es vio lentas, o terror, etc, tam b ém c o n c o rre m m u ito p ara seu d esen v o lv im en to . Torres H o m em , u m g ra n d e clínico d a ép o c a , d eclarav a, em 1875, q u e, p ara a feb re am arela d ese n v o lv e r-se em u m a lo calid ad e q u alq u er, são n ecessárias certas c o n d i ç õ e s t o p o g r á f i c a s , t e l ú r i c a s e m eteo ro ló g ica s a n te v e n d o o co n h e c im e n to a t u a l d a n e c e s s i d a d e d e c o n d i ç õ e s m eteo ro ló g icas a d e q u a d a s p ara a re p ro d u çã o d o m o sq u ito A e c le s a e g y p ti, o v e to r d e ste m al.

P o s te r io r m e n te , fa ria o u tr a s im p o r ta n te s o b serv açõ es: p ara m im , a fe b re am arela n ã o é c o n t a g i o s a , o q u e , r e a l m e n t e , s e r i a co m p ro v a d o , co m o v erem o s a s e g u ir1’. Em 1885, Torres H o m em , o b se rv a n d o a au sên cia d e e p id e m ia d e feb re am arela em P etrópolis, T eresó p olis e o u tras lo calid ad e s d e elev ad a altitud e, a p e sa r da p re se n ç a d e in d iv íd u o s com a d o e n ç a , fug id o s d a ep id e m ia d o Rio de Janeiro, co n clu iu : o q u e p ro v a isso, se n ã o q u e o t i f o a m e r i c a n o ( f e b r e a m a r e l a ) é

e x clu siv am en te in feccio so e n ã o contagioso? R ealm ente, ho je sa b e -se q u e e m locais de altitu d e e le v a d a n ã o se ac lim a ta b e m o m o sq u ito vetor, ú n ica fo rm a d e co n tág io , n ã o o co rren d o , p o rtan to , a tra n sm issã o 18. A inda, em 1885, F ilo g o n io L. U tin g u a ssú 3, fisiologista d a F acu ld ad e d e M edicina d a U n iv ersid ad e d o B ra sil, p r o p õ e , e m r e u n iã o d a A c a d e m ia Im p erial d e M edicina, q u e a fe b re am arela p o d e ria ter co m o tran sm isso r u m m o sq u ito q u e c o n t a m i n a v a a á g u a a s e r b e b i d a . C o n t u d o , e m 1 8 8 5 , n ã o o b t e v e b o a re cep tiv id ad e a p ro p o siç ã o d o Dr. U tinguassú. T am bém , o m éd ico c u b a n o C arlos F inlay 13, em 1 8 8 1 , p u b l i c o u t r a b a l h o s u g e r i n d o p re cisam en te q u e o m o sq u ito C u l e x t a e n i a t u s ,

tam b ém c o n h e c id o c o m o S t e g o m y i a f a s c i a t a e,

hoje, p e lo n o m e d e A e d e s a e g y p t i, seria o v e to r

tra n s m is s o r d a fe b re a m a re la . M ostrava r e s u lta d o s d e s u a s p e s q u is a s , o s q u a is , in felizm en te, e ram in su ficien tes p a ra u m a co n firm ação ab so lu ta. Em 1900, s e g u in d o as id éias d e Finlay, viria esta co n firm a ção p ela e q u ip e m éd ica d o ex ército n o rte-am eric an o em C uba, ch e fiad a p o r W alter R eed 32. Em fevereiro d e 1901, in iciaram -se tra b a lh o s d e s a n e a m e n to e c o m b a te ao A e c le s a e g y p ti, q u e

confirm aram , na prática, o m e c a n ism o d e tra n s m is sã o v e to ria l, e r ra d ic a n d o a fe b re am arela d e H av an a em 6 m eses. As m e d id a s d e c o m b a te a o m o s q u ito , t o m a d a s p e lo ex ército n o rte-am eric an o o c u p a n d o a cid ad e, eram rig o ro sas e fo ram e fe tu a d a s so b o c o m a n d o d o s a n i t a r i s t a m i l i t a r W illia m G o rg as23.

Q u a n to à e tio lo g ia d a fe b re am a re la , acreditava-se, inclusive Finlay, n a p o ssib ilid ad e d e u m p ro to z o á rio 38, c o m o n a m alária e, n o B rasil, o Dr. D o m in g o s F reire iso lo u d e cad áv eres co m fe b re am arela, u m a b ac té ria, a q u al d e n o m in o u M i c r o c o c c o o u C r y p t o c o c c u s

x a n t b o g e n i c o . O M i c r o c o c c o x a n t b o g e n i c o foi

e s t u d a d o p o r m ú l t i p l o s g r u p o s d e p esq u isad o res brasileiro s e e stra n g e iro s n o s últim os an o s d o sé c u lo XIX. O b se rv o u -se q u e esta b actéria p ro d u z ia u m a d e g e n e re sc ê n c ia g o rd u ro sa n o fíg ad o d e c o e lh o s e les_ es h em o rrág icas h ep á tic as em cães in o c u la d o s ex p e rim en talm en te29. Foi p ro d u z id a , inclusive, u m a v acin a co m a n tíg e n o s d o M i c r o c o c c o

x a n t b o g e n i c o , a q u a l n ã o se m o stro u e fic az13.

(3)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a 11a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , J a n - f e v , 1 9 9 6 .

cad áv eres e d o s a n g u e d e in d iv íd u o s co m f e b re a m a r e la . P o s te r io r m e n te , o Dr. J o ã o Batista d e L acerda, p a sso u a d iv u lg ar esta etiologia, su g e rin d o q u e o bacilo icteró id e v iv e ria e m s im b io s e c o m b o lo r e s q u e se ap re se n ta ria m n o so lo d a s h ab ita ç õ e s e se esp a lh a riam p e lo ar d e form a lim itada, no in terio r o u p ro x im id a d e d estas h ab ita ç õ e s20. A tran sm issão se faria p o r v e h i c u l a ç ã o e s o m a t i c a

dos b o lo res, isto é. atrav és d o tra n sp o rte do germ e n o b o lo r em o b jeto s e co u sa s q u e n ã o tiveram c o n ta to co m e x c reç õ es d o d o e n te 2’. T am bém , o b a c i l l o X h a v a n e n s i s foi m ais u m a

bactéria iso lad a d e c a d áv eres d e am arelentos, em C u b a ” . U m a n o v a id éia, com re la ção à etiologia d a feb re am arela, su rg e n o co m eç o d o s é c u lo XX, c o m o i s o la m e n to d e u m ferm en to em c a d á v e re s e d o e n te s am arelentos, a p artir d o fígado, rins, san g u e , e stô m a g o e vô m ito s22. A p re s e n ç a d e célu las h ialin as o b serv ad as n o fígado p o r d iv erso s p ato lo g istas e d e s c r ita s p o r K le b s e C o n c ilm a n c o m o am eb a s o u p ro to z o á rio s seriam , na o p in ião de Lacerda, o ferm en to . S abe-se q u e estas células hialinas, h o je c o n h e c id a s co m o c o rp o s d e C ouncilm an, são h e p a tó c ito s n ec ro sad o s. As p e sq u isa s d e s te s d iv e rso s a u to re s tiv eram m éritos, a p e s a r d e n ã o terem a c e rta d o co m o ca u sa d o r d a feb re am arela. P orém , g eraram d eb a te s a c a lo ra d o s e conflitos variad os, q u e cau saram u m a certa d ificu ld ad e na aceitação da d e sc o b e rta d o v e rd a d e iro a g e n te etio lóg ico da feb re am arela. Esta, o co rreu em C uba e foi feita p o r W alter R eed e sua co m issão d e m é d ic o s d o e x é rc ito a m e ric a n o (C aroll, A g ram on te e L azear ), no a n o d e 190112.

N o sé c u lo XIX e início d o sé c u lo XX, os e x p e r i m e n t o s p o r i n o c u l a ç â o d e s e r e s h u m an o s v o lu n tário s co m m icro org anism o s cau sad o res d e d o e n ç a s graves, c o m o é o caso d a f e b r e a m a r e l a , e r a m a c e i t o s e a t é re c o m e n d a d o s p o r g ra n d e s v u lto s d a m edicina. Louis P asteur, e m carta a D. P ed ro II, n o a n o d e 1884, re c o m e n d a este tip o d e e x p e rim e n to n o ca so da raiva, in clu sive, in sin u an d o q u e fo ssem utilizado s prisio neiros c o n d e n a d o s a m o rte". A co m issão d e m éd ico s do ex ército a m e ric a n o em C uba, ch efiad a p o r W alter R eed, u tilizo u -se d a ex p o sição , ou m esm o d a in o c u la ç â o d e seres h u m a n o s, p ara verificar se o m icro o rg an ism o c a u sa d o r da febre a m a re la era tra n sm itid o a tra v és do san g u e d e e n ferm o s, fôm ites, e /o u através de m o s q u ito v e t o r c o n ta m in a d o . P a rtic ip a r a m

co m o v o lu n tário s p e sso a s q u e n u n c a en traram em co n ta to co m a fe b re am arela, so ld ad o s, em ig ran tes e sp a n h ó is e m em b ro s da p ró p ria e q u i p e m é d i c a d o e x é r c i t o , c o m o o bacteriolog ista Jam es C arrol e o m éd ico Jesse Lazear, q u e se d eix aram p icar p o r m o sq u ito s su sp e ito s d e c a rre g a r o m icró b io . Lazear ad q u iriu form a grav e d e fe b re am arela, v in d o a falecer. C o n sid ero u -se, na é p o c a, q u e este foi o sacrifício m áx im o d e u m cientista, d a n d o sua vida p ela b u sca d a v e rd a d e 11. P o r fim , a co m issão m éd ica do ex ército n o rte-am erican o p ô d e co n c lu ir q u e o ag e n te esp ecífico d a feb re am arela estaria p re se n te n o san g u e , p elo m e n o s n o s 3 p rim eiro s d ias d e d o e n ç a e q u e p o d e ria se r tran sm itid o a o u tra s p esso a s, em b o ra n e ste sa n g u e n ã o se e n c o n tra sse q u a lq u e r m icro o rg an ism o q u e crescesse nos m e i o s d e c u l t i v o b a c t e r i o l ó g i c o s . O m icro o rg an ism o era in ativ ad o p e lo ca lo r e transm issível, m esm o q u a n d o p a ssa d o p o r filtro d e b actérias B erk efeld. C on cluíram tratar- se d e u m m icró b io u ltra-m icro scó p ico filtrável (v íru s)12. H oje, sab e -se tratar-se d o p ro tó tip o d o g ê n e ro f l a v i v i r u s da fam ília F l a v i v i r i d a e

( f i a v o s -am arelo). Um m icro o rg an ism o esférico,

en v e lo p a d o , d e 60nm , p o s su id o r d e u m a fita simples de RNA infectante com ap ro x im a d am en te 10000 b ases, c o n te n d o 10 g en es co d ificad o res d as p ro te ín a s estru tu ra is E, M e C e das n ão - estru tu rais NS1, NS2a, NS2b. NS3, NS4a, NS4b e NS542.

A R e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e to . A h istó ria da

(4)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a t i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

q u a n tid a d e , o s bilreiros, c o m o eram c h a m a d o s p e lo s se rta n ista s o s ín d io s c a ia p ó s. Eles, p ro v av elm en te, h ab itav am n u m ero sa s tabas nas p ro x im id a d e s d o s rios da R egião de R ibeirão P reto, q u e eram m u ito piscoso s. Estes índios foram sistem aticam en te ex term in ad o s o u afu g e n ta d o s ao lo n g o d o séc u lo XVII e XVIII, so b a a leg a ção d e q u e assaltavam viajantes p au listas e m in eiro s8 10. C ontudo, term in av a o ciclo d as m in as e v o ltav am -se os b a n d e ir a n t e s , p r o g r e s s iv a m e n te , p a r a a o c u p a ç ã o a g r o - p e c u á r i a . o b t e n d o d o s g o v e r n a d o r e s d a s c a p ita n ia s , f a c ilm e n te , a c o n c e s s ã o d e s e s m a r i a s ( 3 l é g u a s q u a d ra d a s )10 D esta form a, h o u v e u m len to e p o n tilh a d o a p a re c im e n to d e fa z e n d a s, se g u in d o o c a m in h o d o s G u a ia ses2-. Já se iniciava o séc u lo XIX, q u a n d o c h e g ara m à R egião, b a n d e ira n te s , o riu n d o s d e iVIinas G erais, b u sc a n d o o u ro e, tam b ém , a o c u p a ç ã o a g ro -p ec u ária d as terras d o Rio P a rd o 1 s. Esta o c u p a ç ã o p a sso u a ser in cen tiv ad a a p ó s a tran sfo rm ação d o Rio d e Ja n e iro n a C apital d o Im p é rio P o rtu g u ês, co m a v in d a d a fam ília re a l p a r a o B ra s il, e m 1808*. D e n tr e o s b a n d e ira n te s c h e g a d o s n esta é p o c a, en c o n tra- se S im ão da Silva Teixeira, fu n d a d o r d e São S im ão, a p rim e ira p o v o a ç ã o d a R egião. N a q u e la o c a s iã o , ta m b é m , o u tr a s fa m ília s m ineiras p io n eira s ac o rre ram p ara ali, co m o os Ju n q u e ira e os N o g u eira28.

Em 1833, a R egião d e R ibeirão P reto p e rte n c ia ao D istrito d e São S im ão (F igura D e

era o c u p a d a d e fo rm a esp a rsa p o r fazen das, d ed icad as, p rin cip a lm en te , à criação d e g ad o , ca n a-d e -aç ú car e c e re a is12 26 28. São S im ão foi e le v a d a a V ila e m 1865 e, a p ó s 10 a n o s . p o ssu ía 3507 h ab itan tes, s e n d o 777 escravos. P or volta d e 1850, R ibeirão P reto era um a sesm aria d o P ad re iManoel P o m p e u d e A rruda, q u e a p asso u às m ão s d o C ap itão J o ã o Diniz J u n q u e ir a " . A V ila d e S ã o S e b a s tiã o d e R ibeirão P reto d e sm e m b ro u -se d e São Sim ão em 1871 e, em 1875, p o ssu ía 5552 h ab itan tes, se n d o 857 esc rav o s'0. Na m e ta d e d o sé c u lo XIX esta era a região q u e m ais p o ssu ía esc rav o s na Província d e São P au lo 8.

J u r i d i c a m e n t e , a R e g i ã o p e r t e n c e u inicialm en te a Casa B ranca, s e n d o prim eira com arca reg io n al a d e São Sim ão, cria d a em 1877. R ibeirão P reto p a sso u a co m arca em 1892, s e p a ra n d o -se d e São S im ão 10 28.

A lg u n s f a z e n d e i r o s c a f e i c u l t o r e s d e Valença, V assouras. Parati, Barra M ansa e R e se n d e , c o m o o s irm ã o s B a rre to q u e . ch efiad o s p o r Luiz Pereira B arreto (F igura 2A), m u d ara m -se p ara ali, em 1876, c o m e ç a ra m a tra n s fo rm a r a R eg ião d e R ib e irã o P reto . B uscavam e ali e n c o n tra ra m as terras ideais p ara a q u e la cultura. Eles d eix aram su as terras esg o ta d a s na Serra d o M ar e Vale d o P araíb a e, a partir d e R ibeirão P reto, tran sfo rm ara m o N o rd este d o E stad o d e São P au lo n u m m a r de café q u e av a n ç o u p ara o n o rte , c h e g a n d o ao Rio G ra n d e e fa z e n d o d a R egião o m aio r e m p ó rio cafeeiro d o p a ís 122’.

(5)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a t n a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X . i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

H g u n i 2 - 7 h « { ( i w u l e s v u l t o s d a m e d i c i n a b r a s i l e i r a. A L u i z P e r e i r a B a r r e i n . H -H m íl i o R ib a s , C - A d o l p b o L u t z .

P ara o tra b a lh o n a c a fe ic u ltu ra , q u e d e te rm in o u e ste n o tá v e l p ro g resso , m u ito co n tribuiu o su rg im en to d e u m a p referên cia local p e la m ão d e o b ra livre a o s n eg ro s escravos. H o u v e e n o rm e c o rre n te im igratória de tra b a lh a d o re s livres, p rin c ip a lm e n te de i t a l i a n o s , m a s , t a m b é m , d e e s p a n h ó i s , p o rtu g u ese s e jap o n ese s. Entre 1889 e 1906, o Estado d e São P au lo registrou a c h e g a d a de 1.039.987 im ig ra n te s10.

Logo a e stra d a d e ferro rasg o u aq u e le s sertões e foi d e fu n d a m e n ta l im p o rtân cia co m o fácil m eio d e tra n sp o rte p a ra o café até ao p orto e x p o rta d o r d e Santos. A C o m p an h ia M ogyana d e E stradas d e F erro c h e g o u a São Simão e m 1882 e a R ib eirão Preto, d istante a p ro x im a d am en te 44km , em n o v e m b ro d e 1883I22Í.

Pela e stra d a d e ferro, q u e p ro p ic io u o prog resso d a R egião d e R ibeirão P reto, vieram alguns m ales. D estes, o m ais terrív el foi a feb re am arela, q u e v eio ju n tar-se à m alária, feb re tifóide, tu b e rc u lo se e varíola, d e n tre o u tras d o en ças já e x iste n te s n a R egião28.

Em 1895, o c o rria e p id e m ia d e fe b re am arela e m S an tos e a S ecretaria d e N egócios do In te rio r re c o m e n d a v a em São Sim ão u m a ativa v ig ilâ n c ia d e to d o s o s p a ss a g e iro s ch egados, co m d e sin fe c ç ã o d o s carros d o trem e da b a g a g e m 1. C o n tu d o , a e p id e m ia av an ço u de fo rm a in e x o rá v e l n o s ru m o s N o rte e O e ste

atra v és d a s ferro v ias P au lista, M og iana e S o ro cabana, a ta c a n d o São C aetano , Valinhos, C am pinas, Rio Claro, Jaú , P irassu n u n g a, B elém d o D e sc a lv a d o , A ra ra q u a ra , B e b e d o u ro , B arretos e Jab o tica b al. C h eg o u a São Sim ão (F igura 3A) em jan eiro d e 1896*102"28.

A p r i m e i r a e p i d e m i a d e f e b r e a m a r e l a e m

S ã o S im ã o . S eg u n d o o d e p o im e n to d o ex-

(6)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 . j a n - f e v , 1 9 9 6 .

F ig u r a 3 - E p i d e m i a s d e f e b r e a m a r e l a c m S ã o S i m a u : A - A s p e c t o cia C i d a d e d e S ã o S i m ã o n o f i n a l d o s é c u l o X IX . v e n d o se. a o f u n d o , u m a p l a n t a ç ã o d e c a fé : B -S a n t a C a s a cie -S ã o -S i m ã o , u t i l i z a d a c o m o h o s p i t a l d e i s o l a m e n t o , e m f o t o g r a f i a t i r a d a a l g u n s a n o s a p ó s a s e p i d e m i a s d e f e b r e a m a r e l a : C - B e n e d i t o G e r a l d o ( o e x - e s c r a v o N b ô ) e m f o t o g r a f i a o b t i d a n a d é c a d a d e 4 0 .

p elo m en o s 500m d o ú ltim o a rra b a ld e da cid ad e. Ao m esm o te m p o , co m a e p id e m ia n o auge, c a u sa n d o n ú m e ro ca d a vez m aio r de m ortos, o g o v e rn o estad u a l e n v io u sanitaristas a São S im ão. E s tra n h a m e n te , a C âm ara M u n ic ip a l lo c a l s e n tiu - s e d e s p r e s tig ia d a , afirm an d o q u e tin h a serviço sanitário p ró p rio , q u e a e p id e m ia era d e su a c o m p e tê n c ia e q u e as m ed id as estad u a is feriam sua au to n o m ia-8.

D e s c o n h e c e n d o -s e o m e c a n ism o d e tran sm issão da feb re am arela e b u sc a n d o -se evitar tran sm issão a p artir d o s cad áveres, d ecid iu -se, a l s d e julho d e 1896, m a n d a r ab rir u m a vala ao re d o r d o cem itério, e n c h e n d o -a d e cal, e n c o sta r e m to d a a e x te n sã o lâm inas d e zinco, a fim d e ev itar infiltração, p la n ta r e u c alip to e colocar, e m cad a se p u lc ro d o s c a d á v e r e s e p i d ê m i c o s , 30 l i t r o s d e c a l, in te rd ita n d o -se o local . Um cem itério n o v o foi c o n stru íd o a 5km d a cid ad e, e m p le n o ce rra d o (ho je ali e n c o n tra -se a vila d e B ento Q u irin o ), p o rq u e a c red itav a -se q u e até o m au ch eiro seria co n tag io so . Este cem itério p a sso u a ser u tiliz a d o a p ó s a lo ta ç ã o to ta l d o a n tig o . Q u a n to ao lazareto , fu n c io n o u p rim eiram en te em alg u m as salas a o la d o d o cem itério n o v o m as lo go foi d em o lid o p o r so licitação ex p ressa da D iretoria d e H y g ien e d o E stado, te n d o se co n stru íd o o u tro 28 ( FP O liveira, LA N ogueira: d a d o s n ã o p u b licad o s).

A tuaram no cu id a d o aos p a c ie n te s d esta ep id em ia, o C om itato d e P ú b lica A ssistência C ruz V erm elha e a M açonaria. D e sc rev e -se q u e fam ílias inteiras, o u q u ase , m o rriam , às vezes, à m ing u a. C o nta-se o ca so d e u m jo v em q u e, n e c e ssita n d o d e assistên cia m éd ica p ara si e seu s fam iliares, m o rre u d e fe b re am arela q u a n d o ch eg av a ao laza reto p a ra c h a m a r o m édico. Foi e n te rra d o n a q u e la s p ro x im id ad es, o n d e s e e r i g i u u m a p e q u e n a c a p e l a . D iariam ente, p assav a a carro ç a p e la s ru as d e São Sim ão, c o n d u z id a p e lo e x -escra v o N hô, re c o lh e n d o os ca d áv eres e tra n sp o rta n d o -o s p ara o ce m itério n o v o . As v e z e s n ã o era p o ssív el e n te rra r a to d o s n o m esm o dia. Em 1945, d ese n te rra ram -se 5 crân io s d e u m a cova c o m u m , em lo cal d o c e m ité rio q u e foi re serv ad o ao s e p u lta m e n to d e a m a re le n to s (FP O liveira, LA N ogueira: d a d o s n ã o p u b licad o s).

(7)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c t d o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

ao s esfo rço s d o s in sp e to re s sanitários, o estad o san itário d e sta c id a d e é m u ito an im ad or. Até e ste m o m e n to só ex istem 2 d o e n te s, am b o s re c o lh id o s n o h o s p ita l d e iso la m e n to . O a sp e c to d a c id a d e é tristíssim o; ruas d esertas, g r a n d e p a r t e d a s c a s a s a b a n d o n a d a s . E n t r e t a n t o , s e n ã o f o r a a d e s e r ç à o d o s h a b ita n te s d e S. Sim ão, m u ito m aio r seria o n ú m ero d e vitim as. E c o n se lh o d o s m éd ico s e q u e c o n v é m se r rep ro d u zid o : n in g u ém deve. p o r e n q u a n to , re g ressar a esta cid ad e, p o is q u e viria a te a r n o v a m e n te a fo g ueira, isto é, a e p id e m ia r e c r u d e c e r i a e n o v o s e a c e r b o s so frim en to s viriam se a ju n tar aos q u e têm am a rg u ra d o o c o ra ç ã o d e to d o s os am ig os e i n te r e s s a d o s p e lo d e s tin o d e s ta fu tu ro s a cid ade. C on ta-se q u e este co n se lh o m éd ico foi s e g u id o d e fo rm a e x a g e ra d a p o r m u itas fam ílias q u e n u n c a m ais voltaram , p a ssa n d o a residir em R ibeirão Preto, N hum irim , Icaturam a ( a tu a l S ta. R o sa d o V ite rb o ), C ra v in h o s e C ajuru. A lgum as v ezes, a fuga d e São Sim ão era feita p o r b a rc o p e lo p ró p rio R iacho São S i m ã o , q u e p a s s a d e n t r o d a c i d a d e , e n c o n tra n d o à fren te o Rio T am an d u á e, fin alm en te, o Rio P ard o . O s fugitivos da febre am arela eram re p elid o s p elo s m o rad o res em m u ito s locais, cju and o sab iam q u e sua orig em era São Sim ão. Eles tem iam p e g a r a d o en ça. S eg u n d o o Cel. L eônidas B arreto, p o lítico da é p o c a, os m aio re s ag lo m e ra d o s d e refugiados d e S ão S im ão teriam se lo calizad o na fazen d a d o s P e re ir a B a rr e to , e m C r a v in h o s e n a F aze n d a P alm eiras, e m R ibeirão Preto. Ali e x is tiria u m c e m ité r io a b a n d o n a d o , o n d e te ria m sid o e n te r ra d o s a m a re le n to s . O s n u m e r o s o s r e f u g ia d o s e r a m a lo ja d o s p e lo c o m a n d o san itário d e R ibeirão Preto, p ara q u a re n te n a , em b arra c õ e s, o q u e d e u origem ao n o m e an tig o d e B arracão ao atu al b airro rib eirão p re ta n o d o Ip iran g a (FP O liveira, LA N ogueira: d a d o s n ã o p u b licad o s).

A s e g u n d a e p i d e m i a d e f e b r e a m a r e l a e m

S ã o S i m ã o . T eve início em 1898. H o u v e n ov a

correria, n o v a d e b a n d a d a e n o v o s óbitos. O s e n te r ra m e n to s e ra m fe ito s so m e n te no c e m itério n o v o . Em 2 d e m aio d e 1898, d ecid ia a C âm ara M unicipal m u d a r su a se d e p ara local d ista n d o 3km d a c id a d e até a ex tin çã o da ep id em ia. Este su rto foi m ais b ra n d o , ca u san d o a p e n a s caso s iso lad o s. N ão h á registro oficial d o n ú m e ro d e m o rto s. Em 1899, o m al havia a b ra n d a d o e São S im ão vo ltav a a o norm al, p o ré m , c o m su a p o p u la ç ã o re d u z id a 1 (FP O liveira, LA N o gueira: d a d o s n ã o pu b licad o s).

A te r c e i r a e p i d e m i a d e f e b r e a m a r e l a e m

S ã o S i m ã o . Em 1902, q u a n d o São Sim ão

c o m e ç a v a a e s q u e c e r - s e d a s e p i d e m i a s passad as, surge n o v a m e n te a feb re am arela d e form a av assalad o ra. O s prim eiros casos teriam sido o b se rv a d o s ain d a em o u tu b ro d e 1901, m as se g e n e ra liz a ra m n o a n o s e g u in te . N ovam ente, a p o p u la ç ã o fugiu ap a v o rad a da cid ad e24 (Livro d o T o m b o d a Igreja M atriz de São Sim ão; FP O liveira, LA N ogueira: d ad o s n ão publicad o s).

C u rio sam en te, em 20 d e ju n h o d e 1902, p a rtin d o d e um a cid ad e vizinha, ch e g a o p rim eiro p e d id o d e p ro v id ên cias ao serviço s a n itá r io e s ta d u a l q u a n to a c a s o s d e fe b re am arela e m São Sim ão. Fez-se im ed iatam en te co n tato co m São Sim ão, q u e re sp o n d e u âs i n d a g a ç õ e s r e f e r i n d o s e r e m ó t i m a s as c o n d içõ e s sanitárias da cid ad e. N ão satisfeito co m a resp o sta d o in te n d e n te , o serviço sanitário estad u a l en v io u carta a u m clínico lo c a l s o lic ita n d o in fo rm a ç õ e s . R e c e b e u re sp o sta afirm ativa- ali v in h am o c o rre n d o casos d e febre am arela. Referia o m éd ico sobre a o co rrên c ia d e d isp u tas científicas locais q u a n to à p re s e n ç a o u n ã o d e feb re am arela na cid ad e, co m in teresses particulares envolvidos. E assim , sob d iag n ó stico s estap a fú rd io s com o, fe b re re m ite n te b ilio sa g ra v e d o s p a íse s qu en tes, febre gastro -ên tero-h ep ática, influenza c o m p lic a d a c o m im p a lu d is m o e e n tid a d e m ó rb id a, en terraram -se m uitos p ac ie n tes com feb re am arela. Em 6 d e julho, se g u e p ara São Sim ão o in sp e to r san itário Dr. C arlos M eyer, q u e a p e d id o d o m u n icíp io , vin ha certificar-se d as b o as co n d iç õ e s sanitárias locais. O Dr. M eyer, a p e sa r d e n ão e n c o n tra r n e n h u m caso d e f e b r e a m a r e l a , o b s e r v o u m ú l t i p l o s ex em p lares d e A e d e s a e g y p t i . R eto rn o u a São

P au lo , in d ic a n d o p a ra S ão S im ão u m a c a m p a n h a p r o f ilá tic a d e e r r a d ic a ç ã o d o m o sq u ito vetor. P o u co s d ias d ep o is, viria ao serviço sanitário estad u a l um a solicitação de p r o v i d ê n c i a s d e p a r t e d o i n t e n d e n t e m un icip al, já q u e haviam a p a re c id o 4 o u 5 casos su sp eito s. M anifestaram -se, en tão , os m éd ico s locais, referin d o q u e a ep id em ia teria se in iciad o na p raça ce n tral da lo calid ad e e, p o sterio rm e n te , se e sp a lh a d o , se n d o q u e p elo m en o s 25 casos h aviam o co rrid o , a m etad e fatais4'.

(8)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o XIX : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p ic a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

em São Sim ão, as m e d id a s d e co n tro le vetorial. Para isto, Em ílio R ibas (F igura 2B), d ire to r d o serv iço san itário, en v io u ao local, em ag o sto d e 1902, u m a co m issão d e in sp e to re s so b o c o m a n d o d o Dr. F ran cisco Luiz V iana31.

Em ílio Ribas re la cio n av a em 7 itens as m ed id as a serem to m a d a s p ara co n tro le da febre am arela33:

1. Evitar as águas estagnadas nas habitações e seus arredores;

2. Q u an d o não for possível evitar as coleções de água, d erram ar q u e ro se n e so b re estas coleções;

3. Proteger os enferm os p or m eio de cortinados;

4. Extinguir por todos os m eios os m osquitos

encontrados nos dom icílios;

5. Proteger as habitações dos m osquitos com telas em portas e janelas;

6. Fechar e proibir a entrada de pessoas na casa de enferm os antes do tratam ento local com inseticidas;

7. Proteger dos m osquitos, nos hospitais, os enferm os com febre am arela.

A co m issão sanitária e n fre n to u en o rm es d ificu ld ad es d ev id o às c o n d içõ e s locais, q u e foram d escritas p o r Em ílio Ribas d e form a p o u c o lis o n je ir a . A c id a d e (F ig u ra 3A ), localizada a 635 m etro s acim a d o nível d o mar, p o ssu ía u m clim a d o s m ais q u e n te s d o estado . Era atrav essad a, em to d a a su a e x ten sã o , p o r u m c ó r r e g o c h e io d e c u r v a s e c o m p o u c a corren teza, q u e form ava esp raiad o s, alagadiços e q u e era re p re sa d o em alg u n s p o n to s. H avia, ain da, cistern as m al feitas e p o u c o lim pas. S eg u n d o Em ílio Ribas, São Sim ão tin h a a ativ id ad e febril característica d a q u e la região c a f e e i r a . C o m c o n s t i t u i ç ã o é t n i c a c o m p letam en te h e te ro g ê n e a , a p o p u la ç ã o , em p a rte re c é m -c h e g a d a , vivia e m situ a ç ã o provisória. A c id ad e p o ssu ía 530 p ré d io s, 90% m al co n stru íd o s, sem forro o u asso alh o , n ão o b se rv a n d o p re ceito s d e h ig ien e o u conforto. Era d esp ro v id a d e esg o to s, s e n d o o serviço feito em fossas fixas3'.

A co m issão sanitária b u sc o u e n ten d im en to , p r i m e i r a m e n t e , c o m o s c l í n i c o s l o c a i s . C o n t u d o , a s i d é i a s n o v a s q u a n t o a o m ecan ism o d e tran sm issão d a feb re am arela n ã o fo ram u n a n im e m e n te ac e ita s p e lo s m é d ic o s , o q u e d if ic u lto u a e x e c u ç ã o d a s m ed id as previstas. Instru iu -se a p o p u la ç ã o q u a n to à n e c e ssid a d e d e su a c o o p e ra ç ã o no

co m b ate ao m o sq u ito rajad o ( A e d e s aegypti),

d e stru in d o as larvas e m se u s criadouros. B u s c o u - s e c o n v e n c e r a s p e s s o a s da n ec e ssid a d e d e p ro c u ra r assistên cia m édica, ao su rg ire m os p rim e ro s s in to m a s d e febre am arela e d e q u e estes ca so s d ev eriam ser in tern ad o s, o q u e n ã o era b e m aceito pelos leigo s. T am b é m , foi d ifícil c o n v e n c e r os m é d ic o s lo cais q u a n to à n e c e s s id a d e de h o sp italização d o s am arelen to s. D ev id o a estas resistências, b u sc a n d o n ã o u tilizar m étodos v io len to s, to lero u -se o iso lam en to domiciliar, s e n d o q u e a p rim eira in te rn a ç ã o só veio a o co rrer em d e z e m b ro . O s en ferm o s ficavam em casa, so b co rtin ad o s, v isa n d o evitar que fo ssem p icad o s p o r m o sq u ito s e eram vigiados p o r m em b ro s da c o m issã o 3". Na ocasião, o h o sp ital d e iso lam en to c o m e ç o u a funcionar n o atual p ré d io d a Santa Casa local (Figura 3B)2,Í. Um d o s m em b ro s d a co m issão sanitária, 0 Dr. C o u tin h o , fa le c e u e m S ão Simão vitim ad o p ela fe b reJs.

Em ag o sto d e 1902, E m ílio R ibas v eio a São Sim ão a c o m p a n h a d o d e o u tro s m éd icos e h o sp e d o u -se n o an tig o H o tel d o s Viajantes. T a m b é m , o c i e n t i s t a t e r i a s o l i c i t a d o a co n trib u içã o d e m o ra d o re s a o serv iço da e q u ip e m éd ica , te n d o o b tid o a p e n a s um p e q u e n o n ú m ero d e v o lu n tário s, e sta n d o entre e les o ex -escrav o N hô. E x p lico u -lh es q u e tinha in teresse em c o n h e c e r a form a p e la q ual a d o e n ç a se p ro p a g a v a na c o m u n id a d e (FP O liveira, LA N ogueira: d a d o s n â o pub licado s).

A C om issão p ô d e o b se rv a r o ag ravam ento d o surto, em 1902, co m caso s su rg in d o na seg u in te seq ü ê n cia: 12/08 1 caso fatal; 4/09 -1 caso; 22 /-10 - -1 caso ; -15/-1-1 - 4 caso s; -16/-1-1 - 5 c a s o s ; a p a r tir d e s ta d a ta o b s e r v o u - s e ap a rec im e n to c resce n te d e d o e n te s até atingir o m á x im o e m 2 8 /1 2 c o m 11 c a so s. A p o p u l a ç ã o e n c o n t r a v a - s e a p a v o r a d a , ab a n d o n a v a a cid ad e, inclusive, a b a n d o n o u -a até a ad m in istração m u n icip al e foi p o ssív el à co m issão im p o r su as regras, in clu in d o -se a de in tern a ção obrigató ria. B u scan d o -se evitar a d issem in ação d a feb re am arela a p a rtir de p acien tes, instalaram -se telas d e ara m e em to d a s as ja n e la s e p o r ta s d o h o s p ita l d e iso lam ento, a p ó s u m rig o ro so e x p u rg o de to d o s os seus côm

(9)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X . i m p o r t â n c i a c i e n t i f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v . 1 9 9 6 .

iso lam en to , o e m in e n te sanitarista co lo co u o d e d o em s e c re ç õ e s d e u m am a re le n to recém - falecido e em se g u id a in seriu o d e d o em sua p ró p ria b o c a (FP O liveira, LA N ogueira: d a d o s n ão p u b licad o s).

C riou -se u m a casa d e a b rig o p ara os fam iliares d o s am arelen to s, q u e tin h am sua resid ên cia in terd itad a, às vezes, p o r m ais d e 2 dias. A m e d id a v isava a p re v e n ç ã o e a r e m o ç ã o d e f u t u r o s c a s o s . A s c a s a s in terd itad as tin ham su as a b e rtu ras calafetadas e eram trata d as p ela q u eim a d e p íretro na p ro p o rç ã o d e 1 3 g /m J n as casas fo rrad as e, enx o fre, na p ro p o rç ã o d e óOg/m- nas n ão fo rra d a s, q u e e ra m a m aio ria. M o rad ias p ró x im a s às d o s e n fe rm o s ta m b é m eram ex p urgad as. U tilizaram -se, ainda, p ulverizações d e creo lin a e d e su b lim a d o nas casas em q u e o a p a re c im e n to d e d o e n te s era reincidente. C o n tu d o , as casas p o ssu íam m uitas frestas p o r o n d e fu g iam os m o sq u ito s, d ificu ltan d o sua d estru içã o d u ra n te os trata m e n to s dom iciliares. T am bém , to d a s as p e ç a s d e ro u p a , b em co m o co lch õ e s d os en ferm o s, eram esterilizad o s em estu fa d e G e n e ste & H erscher. Estas últim as

m e d i d a s e r a m t r a d i c i o n a i s e b u s c a v a m p re v e n ir a tran sm issão p o r c o n ta to o qu e, s e g u n d o os trab a lh o s feitos em C uba, n ão o co rria na feb re am arela3'.

C om a c o la b o ra ç à o d e tra b a lh a d o re s m u n icip ais, ca n alizo u -se o có rreg o São Sim ào, fez-se a d re n a g e m d as m arg en s e p ro m o v eu -se a elim in a ção d e criaciouros d e m osqu ito s, lim p a n d o - s e o s c a p in z a is d o p e r ím e tr o u rb a n o , re m o v e n d o -se latas vazias, cacos d e g arrafas e o u tro s recip ien tes q u e p u d esse m c o lec io n ar água. R efere Em ílio R ibas q u e o clim a aju d o u n o c o n tro le d a ep id em ia, p o rq u e o co rrera m p e río d o s d e b aixas tem p eratu ras q u e re d u ziram a v e lo c id a d e d e m u ltiplicação cio m o s q u ito '1.

A c id a d e , d e s ta v ez, fico u q u a s e c o m p le ta m e n te a b a n d o n a d a e m uitas foram as vítim as. O m al só foi e x te rm in a d o e m m aio de 1 9 0 3 , q u a n d o c o n s e g u i u - s e r e d u z i r a p o p u la ç ã o d e m o sq u ito s p o r m e io d as m e d id a s s a n itá ria s , e m b o ra n ã o e x ista m citações esp ecíficas so b re a aferição d e índices d e in festaç ão vetorial. A p o p u la ç ã o co m eç o u a re to rn a r ao s lares e m ju n h o 2S.

Em 1904, v eio p ara São S im ão o m éd ico s a n i t a r i s t a R e g o B a r r o s , q u e t o m o u a s p ro v id ê n c ia s c o m p le m e n ta re s p a ra m a n te r sa n e a d a a cid ad e. D e sd e en tão , n ã o o co rreram m ais caso s d e feb re am arela n a localidade® .

E x p e r i m e n t o s s o b r e a t r a n s m i s s ã o d a f e b r e

a m a r e l a . M otivaram estes ex p e rim e n to s a

o b stin açã o d e g ru p o s d e m éd ico s brasileiros em n ã o aceitarem a tran sm issib ilid ad e da febre a m arela p e lo m o s q u ito , m e sm o a p ó s a c o m p ro v a ção p elo s e x p e rim e n to s da co m issão d o e x é r c i t o n o r t e - a m e r i c a n o e m C u b a , c o rro b o rad a pelas ativ id ad es sa n e a d o ra s d e E m ílio R ib as e m S o ro c a b a e S ão S im ã o . A pontavam , estes m éd ico s, erro s nos e stu d o s feitos em C uba, a v e n ta n d o a p o ssib ilid ad e d e o u tro s m ecan ism o s d e infecção. A tribuíam a errad ica ção da febre am arela em H av an a às m ed id as d e d esin fe cçà o e, p rin cip a lm en te , às o b ra s san itá ria s e x e c u ta d a s p e lo s n o rte- am ericano s, in d e p e n d e n te da ex term in açào d o s m o sq u ito s1\

O s e x p e rim e n to s foram id ealizad o s po r Em ílio Ribas, co m rigor científico, re p e tin d o de form a distin ta o q u e W alter R eed havia feito em C uba. C om o prim eira m ed id a, n o m e o u u m a co m issão m éd ica d e alto nível, e x p e rie n te n o d iag n ó stico d a feb re am arela e isenta, para dirigir e avaliar os resultad os d o s exp erim en to s. Esta era co m p o sta p elo s seg u in tes m édicos: Luiz P ereira B arreto, A d rian o d e B arros e AG da Silva R o d rig u es1'.

O tra b a lh o foi in iciad o n o final d e 1902, o b te n d o -se larvas d e A e d e s a e g y p t i na cid ad e

(10)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

p rim eiros tiv eram fo rm as b en ig n a s d a in fecção e Fiori a p re se n to u q u a d ro m ais grave. Sua d o e n ç a a p a r e c e u 3 d i a s a p ó s a p i c a d a , m a n i f e s t a n d o - s e c o m f e b r e e l e v a d a , h em orragias, alb u m in ú ria e icterícia. C o ntu do , o p a c ie n te re c u p e ro u -se 3< 3\

O s ex p e rim e n to s m o strav am claram en te a tran sm issão veto rial d a feb re am arela, m as era p r e c i s o p r o v a r q u e a d o e n ç a n ã o e r a tran sm itida p o r v estes sujas e ex cretas d o s e n f e r m o s , c o m o p r e c o n i z a v a m o s co n tag io n istas3'. In icio u-se, en tão , u m a n o v a série d e ex p e rim en to s.

N o P av ilh ão II d o H o sp ital d e Iso lam en to d e São P aulo, p re p a ro u -s e u m q u a rto iso lad o d o e x te rio r p o r m eio d e tela fina d e aram e c o lo c a d a e n tre a v e n e z ia n a e a v id raç a lacran d o -se a v e n e z ia n a e re co b rin d o -se a v id raça co m u m p a n o v e rm e lh o p a ra red uzir ao m ín im o a e n tra d a d e luz. O q u a rto c o n tin h a u m a estu fa a gás q u e d ev e ria m a n te r a te m p e ra tu ra a m b ie n te p o r v o lta d e 20°C e, n o dia a n te rio r ao e x p e rim e n to , foi ex p u rg a d o co m gás su lfu ro so . Às 21 h o ra s e 30 m in u to s d o d ia 20 d e a b r il d e 1903 , n a p r e s e n ç a d a co m issão m éd ica, d e Em ílio R ibas e o u tro s d o u to res, co n fin o u -se, n este q u arto , o italian o G iu se p p e M alagutti, o q u al v estiu as ro u p a s de am arelen to s m o rto s e cuja cam a foi p re p ara d a co m fro n h as e len çó is sujos d e sa n g u e e d e v ôm itos n eg ro s d e p a c ie n te s falecid o s em São J o sé d o Rio P ard o , São Sim ão e T au b até. N os d ia s s e g u in te s , o u tr o s ita lia n o s , A n g e lo P aroletti e G io v an n i Siniscalchi, jun taram -se ao prim eiro. O s 3 h av iam c h e g a d o h á m e n o s d e 1 a n o ao B rasil e n ã o h av iam tid o c o n ta to co m a febre am arela. D u ra n te a n o ite verificavam -se d iv ersas v ez es se v estiam as ro u p a s e d o rm iam n o s le ito s s u jo s . N o d ia 27, e s p a lh a r a m - s e so b re su as v estim en tas e so b re o asso alh o , sa n g u e v o m itad o , fezes e u rin a d e d o e n te s de Ca.sa B ranca e d e R ibeirão Preto, q u e hav iam sido trazid os em frascos fech ad o s. A d o lp h o Lutz, em visita ao q u arto , c o n sta to u q u e em b o ra o ar se a c h asse im p reg n a d o , v iciado e fé tid o , o s 3 c o n f in a d o s e n c o n tr a v a m - s e sau d áv eis e b e m h u m o rad o s. In te rro m p e u -se o e x p e rim e n to n o d ia l 2 d e m aio q u a n d o a c o m issã o m é d ic a in fo rm o u q u e to d o s e n c o n tr a v a m - s e b e m . P e r m a n e c e r a m n o ho spital, em o b se rv a ç ã o , p o r m ais 10 d ias e tiveram alta em p erfeita sa ú d e 34 3'.

C on cluiu a co m issão m éd ica, em 15 d e j u n h o d e 1 9 0 3 , q u e , c o m b a s e n o s

ex p e rim en to s, é c o m p le ta m e n te in fu n d a d a a cren ça re la cio n ad a à tran sm issão d a febre am arela p o r fôm ites. R eco m en d a, p o rta n to , o a b a n d o n o das m e d id a s san itárias b a s e a d a s na co n tag io sid ad e d o mal. P ro pô s, co m o sug estão , q u e cad a d o e n te p o d e ria p e rm a n e c e r e m casa, p ro te g id o co n tra as p ic a d a s d o m o sq u ito p o r u m s i m p l e s c o r t i n a d o , e v i t a n d o - s e as re m o ç õ e s v io le n ta s e as o c u lta ç õ e s , p o r fa m ilia re s , d e s e u s e n t e s q u e r id o s . Is to facilitaria as n o tificaçõ es d e casos, le v a n d o ao co m b ate m ais efetiv o ao m o sq u ito in fectad o , c o m m e lh o re s re s u lta d o s e m te rm o s d o c o n tr o le e p id ê m ic o . T a m b é m , d e v e r ia s e r sim plificado o ex p u rg o das m o radias, b u sc a n d o a p e n a s o e x term ín io d o vetoi*.

A f e b r e a m a r e l a n a C i d a d e d e R i b e i r ã o

P r e to . O su rto d e fe b re am arela e m R ibeirão

P reto eclo d iu n o co m e ç o d e l9 0 3 , q u a n d o a c id a d e p o s s u ía a p ro x im a d a m e n te 15000 h a b ita n te s. A 31 d e ja n e iro d e 1903, o sanitarista Dr. F rancisco V iana dirige-se àq u e la cid ad e p la n e ja n d o p ô r em p rática os p rin cíp io s s a n i t á r i o s d e c o m b a t e à d o e n ç a já e x p e rim e n ta d o s em São S im ão” .

Em R ibeirão P reto h o u v e a p o io a o serv iço de sa n e a m e n to p o r p a rte d as au to rid a d e s m u n icip ais e m o b ilizo u -se, d u ra n te 1 m ês, te m p o n ec essário p ara u m ciclo p re lim in ar de lim p eza d a cid ad e, 200 h o m e n s, co m 30 carroças. F oram rem o v id as a p ro x im a d a m e n te 4000 carroças d e lixo, c o n stitu íd o d e latas, g arrafas e o u tro s m ateria is p ró p rio s p ara co leç ão d e água, serv in d o c o m o cria d o u ro s d o

A e d e s a e g y p ti . T om aram -se m e d id a s a p e n a s

lim itadas ao c o m b ate ao vetor, a b a n d o n a n d o - se a esterilização d e ro u p a s e o u s o d e d esin fetan tes n as casas, p ro c e d im e n to s q u e h av iam sido feitos em São S im ão3'.

F o ram n o tific a d o s 810 c a so s d e feb re a m a re la . Na S a n ta C asa d e M is e ric ó r d ia , fu n d a d a em 1902, in tern a ram -se vários casos d e feb re am arela e o Dr. Luiz P ereira B arreto teria ali ate n d id o estes p a c ie n te s". Em 11 de julho d e 1903, a e p id e m ia foi c o n sid e ra d a d eb e la d a, re in ic ia n d o -se as au las n as esco las p ú b licas locais (C âm ara M unicipal d e R ibeirão Preto, atas das re u n iõ e s d e 1903). Em R ibeirão Preto, tam b ém , o c o rre u fuga d a p o p u la ç ã o d u ra n te a ep id em ia. A c id a d e ficou d e se rta e h o u v e q u e ix a s d e p ro p rie tá rio s q u e , ao re to rn a re m , e n c o n tra ra m s u a s re sid ê n c ia s s a q u e a d a s31.

(11)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

P au lo , n a S ociety o f T ro pical M edicine a n d H y g iene, e m L on d res35, refere-se ao su rto d e R i b e i r ã o P r e t o c o m o a q u e l e e m q u e , d e f i n i t i v a m e n t e , s e p o d e p r o v a r q u e o c o m b a te a o m o s q u ito é a m e d id a m ais im p o rta n te p a ra se d e b e la r a d o e n ç a (Figura 4). Ju stifica su a afirm a ção c o m o fato d e n ã o h a v e re m o c o rrid o m ais caso s d e feb re am arela na c id ad e , a p e s a r d e p o ssu ir u m a p o p u la ç ã o e n o r m e d e e m i g r a n t e s e s t r a n g e i r o s , p r i n c i p a lm e n t e ita lia n o s , c o m p le ta m e n te su sce p tív eis à fe b re a m arela e, tam b ém , p o r ali t e r s i d o p r a t i c a d a , e x c l u s i v a m e n t e , a e x te rm in a ç ã o d o s m o sq u ito s p ela d estru ição d e se u s viveiros.

C o n s id e r a ç õ e s f i n a i s . O s ex p e rim e n to s de

Em ílio Ribas co m seres h u m a n o s justificaram - se p e la n o táv el im p o rtân cia prática q u e tinha, n a é p o c a , a c o n f ir m a ç ã o d e f in itiv a d o m eca n ism o d e tran sm issão d a feb re am arela. P rova d o m érito e d o rig o r cien tífico d estes ex p e rim e n to s foi a p a rtic ip a ç ã o n o s m esm o s d e u m d o s m aio res cientistas brasileiros, o D r A d o lp h o Lutz q u e, inclusive, se d eix o u in fectar p e la fe b re am arela. As co n c lu sõ e s relativas ao s ex p e rim e n to s d e Ribas fo ram c o rro b o ra d a s no m esm o a n o d e 1903, p e lo s resu ltad o s d o s estu d o s d e u m a m issão d e cien tistas franceses, o s d o u to re s M archoux, Salim beni e Sim ond,

R E V IS T A M E D IC A I)K S. P A U L O

A extincção da lebre amarella no Estado de S. Paulo (Brasil) t na cidade do

Rio dt Janeiro

PE L O

Dr. Em í l i o Ri d a s

d o t o d a s a s c i d a d e s d c S . P a u l o ; e a e x * p l i o a v S o ó q u e 11’a q u e l l e a i m o f o i e x e c u t a d a p e l a p r i m e i r a v e z r i g o r o s a c x t e r m in a < ; A o d o s m o s q u i t o s .

K m K i h e i r i o P r e t o , c i d a d e e g u a l a S o ­ r o c a b a , n o t i f i c a r a m - s e 8 1 0 c a s o s d o f e b r o a m a r e l l a e m 1 9 0 . 1 D e s d e e s s e a r m o n f io h o u v e n o v a i m i p ç f t o d a m o l é s t i a , o c w p o u s o < ju e e s t e f a c t o p r o v a o i m p o r t a n t e p a p e l d o S tn jn m y in c o m o a g e n t e p r o p a g a ­ d o r . m a i s c l a r a m e n t e d o < ju e e m H a v a n a , v i s t o < ju c c m K i h e i r â o P r e t o n ã o f o r a m e x e c u t a d o s t r a b a l h o s p ú b l i c o s d e s a n e a ­ m e n t o .

The eitinction of yellow fenr in tlw State of São Paulo (Brazil), and in tiie city of

Rio de Janeiro 13t Em í l i o Ri b a s, M. D.

D ire c io r of t h t S an ltary D c p a rlm e n t o f S i o P a u lo

I A t H i b e i r f l o P r e t o , a t o w n o f t h e s a m e

j s i z e a s S o r o c a b a , 8 1 0 y e l l o w f e v e r c a s e s w e r e j i o t i f i e d i n 1 í)0 U . S i n c e t l i a t y e a r t h e r e h a s b e e n n o f u r t h o r o u t b r e a k o f t h e d i s o a s e , a n d 1 c o n s i d e r t h i s p r o v e s t h e f a c t o f t h e S tc g o n n jin b e i n g t h e a c t i v e p r o p a -g a t i u -g a -g e n t m o r e c J e a r l y e v e n t h a n i n H a v a n a , b o c a u s o i n I t i b e i r f i o P r e t o n o n e w p u b l i c w o r k s w e r o u n d e r t a k e n .

K i b c i r f i o P r e t o b u s e n j o y e d t h i s i n i m t i -n i f y i -n « p i t o o f t h e f -n c t t h a t i t s p o p u l a t i o -n i s l a r g e l y c o m p o s e d o f i m m i g r a n l s , a r r i v i n g í r o m I t a l y í o r w o r k i n t b i s g r e a t c e n t r e o f

F i g u r a 4 - T e x to d a p u b l i c a ç ã o d e E m í li o R ib a s u a R e v is ta M é d ic a d e S. P a u lo , e m J 9 0 9 ' \ r e f e r i n d o - s e a o s u r t o d e R i b e i r ã o P r e to c o m o a q u e l e e m q u e , d e f i n i t i v a m e n t e , s e p o d e p r o v a r q u e o c o m b a t e a o m o s q u i t o é a m e a i d a m a i s i m p o r t a n t e p a r a s e d e b e l a r a f e b r e a m a r e l a .

q u e e n tre 1901 e 1903, estu d a ra m a febre am arela n o Rio d e J a n e iro 25.

Em ílio Ribas, d ire to r d o serv iço san itário estad u a l, tev e a titu d e ex e m p la r d u ra n te o p e río d o d e tran siçã o e n tre as id éias antigas, m ísticas e, na m aio ria falsas, so b re a feb re a m a r e la e o s c o n h e c i m e n t o s m o d e r n o s , o b t i d o s a p a r t i r d o m é t o d o c i e n t í f i c o . B a s e a n d o - s e e x c lu s iv a m e n te e m d a d o s c o m p ro v a d o s cientificam en te, evitou q u erelas co m o u tro s m é d ic o s q u e tin h am o p in iõ es distin tas e, p o r fim , c o m p ro v o u su as idéias p o r m eio d o s p ro c e d im e n to s san itário s vitoriosos

n o co n tro le d o s su rto s d e feb re am arela e d e s e u s e x p e r i m e n t o s c o n f i r m a d o r e s d o m eca n ism o d e tran sm issão d a d o en ç a.

S eg u n d o Em ílio Ribas, citad o p o r Vieira"1, a fe b re a m a re la n o E sta d o d e S ão P a u lo , in clu in d o -se a R egião d e R ibeirão Preto, teria d izim ad o p elo m en o s 30000 p esso a s, e n tre 1888 e 1903. N este an o , ela foi e rra d ic a d a em c o n s e q ü ê n c i a d o s t r a b a l h o s p o r e l e dirigidos'*1.

(12)

F a t o H i s t ó r i c o . F i g u e i r e d o L T M . A f e b r e a m a r e l a n a r e g i ã o d e R i b e i r ã o P r e t o d u r a n t e a v i r a d a d o s é c u l o X I X : i m p o r t â n c i a c i e n t í f i c a e r e p e r c u s s õ e s e c o n ô m i c a s . R e v i s t a d a S o c i e d a d e B r a s i l e i r a d e M e d i c i n a T r o p i c a l 2 9 : 6 3 - 7 6 , j a n - f e v , 1 9 9 6 .

co m o d e sc o b rim e n to d o s ag e n te s etio ló gico s e d o m eca n ism o d e tran sm issão d e d o en ç as, aq ui in clu in d o -se a feb re am arela, iniciava-se a m ed icin a científica n o Brasil. Estas ep id em ias p ro p iciaram , p ela prim eira vez, a to m ad a de m ed id as san itárias eficazes n o co m b a te à d o e n ç a , q u e lev aram a o c o n tro le d a m esm a na R egião e fo rn e c e ra m su b síd io s fu n d a m e n tais a ca m p a n h a s m aio res, c o m o foi a d e O sw a ld o C ruz n o Rio d e J a n e ir o 35. T am b é m , é im p o rta n te salien tar q u e n esta d é c a d a (1901- 1910), iniciada p e lo co n tro le d as e p id e m ia s da R egião d e R ibeirão P reto, errad ico u -se, q u ase c o m p letam en te , a feb re am arela u rb a n a d o p aís35.

As e p id e m ia s d e feb re am arela n a R egião d e R ib e irã o P re to re p re s e n ta ra m g ra v e tra n s to rn o a u m a re g iã o q u e v in h a se d e se n v o lv e n d o a p le n o vapor, p o r co n ta da cafeicultura em ex p a n sã o . C om o c o n se q ü ê n c ia da feb re am arela, é p ro v á v el q u e te n h a h av id o u m g ra v e p re ju íz o ao d ese n v o lv im e n to e ao futuro d a C id ad e d e São Sim ão, q u e teria p e rd id o p a rte d e su a p o p u la ç ã o em v irtu d e d as fugas, m o rtes e, a p ó s as 3 ep id em ias, teria p a ssa d o a se r vista p e lo s p o ten cia is im igran tes co m o local in salu b re. Talvez tal fato fosse p re sse n tid o p o r au to rid a d e s locais q u e, na o c a s iã o d a s e p id e m ia s , d iv u lg a v a m c o m d ific u ld a d e in fo rm a ç õ e s so b re o q u e ali ocorria. A nos m ais tarde, m esm o n a cid ad e, m an tin h a-se u m te m o r su p ersticio so p ela feb re am arela, o q u a l fez c o m q u e o s tú m u lo s d e a m a r e l e n t o s , i n c l u s i v e d e i n d i g e n t e s , p e rm a n e c e s s e m in to c a d o s n o s c e m ité rio s lo c a is , p o r q u a s e 50 a n o s (N o g u e ir a LA- h isto riad o r d e São Sim ão: in fo rm ação p essoal, 1994). P o d e-se im ag in ar q u e São Sim ão seria h oje u m a c id a d e m a io r e d e m aio r im p o rtân cia e c o n ô m ic a , n ã o f o s s e m as 3 e p id e m ia s . P ro v av elm en te, a febre am arela influiu n o d eslo c a m e n to d o p o lo d e d ese n v o lv im en to ec o n ô m ic o reg io n al p ara R ibeirão Preto.

L u iz P e r e i r a B a r r e t o t i n h a e n o r m e c o n fia n ç a n a c iê n c ia p a ra a so lu ç ã o d o p ro b le m a a m a rílic o e afirm av a: d e v e m o s re u n ir to d o s os n o sso s esfo rço s p ara d esc o b rir u m a re sp o sta p a ra o p ro b le m a . Esta id éia era d e d ifícil e n te n d im e n to n u m p a ís o n d e , m esm o os in telectu ais, p o u c o se in teressav am p e la ciên cia o u se u p ro g re sso e o n d e a m ed icin a ex p e rim e n ta l era feita a p e n a s em escala p e q u e n a , n o Rio d e Jan e iro e B ahia. A

co m p ro v ação , em São P aulo, d o m e c a n ism o d e tran sm issão d a fe b re am arela, b a s e a d a em i n f o r m a ç õ e s o b t i d a s c i e n t i f i c a m e n t e , re p re s e n to u u m n o tá v e l e stím u lo p a ra o d e se n v o lv im en to das ciên cias e d a p esq u isa. Na v e rd a d e , os fatos a q u i re la tad o s tiveram im p o rtan te in flu ên cia p a ra o p ro g re sso da m ed icin a e d a s a ú d e p ú b lic a n o B rasil71214 193038.

SUMMARY

Y e ll o w f e v e r i n t h e R e g i o n o f R i b e i r ã o P r e t o a t t b e t u r n o f X I X c e n t u r y : s c i e n t i f i c i m p o r t a n c e a n d e c o n o m i c r e p e r c u s s i o n . T h i s h i s t o r i c a l r e v i e w d e s c r i b e s t h e b a d s i t u a t i o n o f p u b l i c h e a l t h i n B r a z i l d u r i n g t h e X I X C e n t u r y c a u s e d b y m u l t i p l e y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s . T b e k n o w l e d g e r e g a r d i n g t o y e l l o w f e v e r a t t h a t t i m e is a l s o d e s c r i b e d . A s h o r t h i s t o r y is p r e s e n t e d o f t h e d e v e l o p m e n t o f t h e R e g i o n o f R i b e i r ã o P r e t o , l o c a t e d i n t h e N o r t h e a s t o f S a o P a u l o S t a t e , B r a z i l , e m p h a s i s i n g t h e a c t u a t i o n o f i m m i g r a n t s a n d p i o n e e r c o f f e e f a r m e r s l i k e L u i z P e r e i r a B a r r e t o . Y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s o c c u r r e d i n t h e C i t y o f S a o S i m a o i n 1 8 9 6 , 1 8 9 8 , a n d 1 9 0 2 a r e d e s c r i b e d a s w e l l a s a n o u t b r e a k i n t h e C i t y o f R i b e i r ã o P r e t o o c c u r r i n g i n 1 9 0 3 ■ I t is s h o w n t h a t y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s w e r e s t o p p e d i n t h e 2 c i t i e s b y E m i l i o R i b a s w h o l e d t h e f i g h t a g a i n s t t h e t r a n s m i t t i n g m o s q u i t o A e d e s a e g y p t i . E m i l i o R i b a s , h e l p e d b y A d o l p h o L u t z a n d L u i z P e r e i r a B a r r e t o , p r o m o t e d s c i e n t i f i c e x p e r i m e n t s i n o r d e r t o c o n f i r m

t h e v e c t o r i a l t r a n s m i s s i o n o f y e l l o w f e v e r a n d to a n n u l t h e s u p p o s e d i m p o r t a n c e o f o t h e r k i n d s o f c o n t a g i o u . T h e y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s c a u s e d d a m a g e t o t h e d e v e l o p m e n t o f S a o S i m a o a n d i n f l u e n c e d t h e t r a n s f e r e n c e o f t h e e c o n o m i c p o l e o f t h e r e g i o n t o t h e C i t y o f R i b e i r ã o P r e t o . T h e v e c t o r c o n t r o l w o r k d o n e d u r i n g y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s a n d t h e s c i e n t i f i c e x p e r i m e n t s c m t h e t r a n s m i s s i o n o f y e l l o w f e v e r w e r e i m p o r t a n t f o r t h e d e v e l o p m e n t o f m e d i c a i S c i e n c e a n d f p u b l i c h e a l t h i n B r a z i l .

K e y - w o r d s : Y e l l o w f e v e r o u t b r e a k s . R i b e i r ã o P r e t o . S ã o S i m ã o . H i s t o i y o f y e l l o w f e v e r .

A GRA D ECIM EN TO S

Referências

Documentos relacionados

Em função do atraso da entrada em operação de determinados parques do Complexo Eólico Alto Sertão III que atenderiam aos contratos no mercado livre, a controlada Renova

Já na virada do século XIX para o século XX, o ensino secundário será de importância vital para o cenário educacional privado local – uma vez que acaba se

O declínio gradual dos níveis de miR156 com a idade permite a expressão de características adultas, no entanto, como os níveis desse miRNA é regulado ao longo do

A1 0-7cm, (lOyR 4/3, seco); muito cascalhento; fraca média e granular; franco-arenoso; muitos poros, pequenos e médios, poros comuns muito pequenos; ligeiramente duro, muito

- Ainda não apresenta circulação de vírus, mas é vulnerável por similaridade ecológica a áreas com circulação de vírus e proximidade da zona de transição. - Ausência

Uma análise do futebol contemporâneo, consumido hegemonicamente de forma globalizada, e sua relação com o nacionalismo ainda existente no Brasil, verifi cado principalmente

Para evitar interferência na proteção confe- rida pelas vacinas, a vacina para febre amarela não deve ser administrada ao mesmo tempo que a vacina tríplice viral (contra

Como fatores controláveis têm-se o equipamento de mistura (misturador de eixo vertical e betoneira de eixo inclinado) e a ordem de mistura dos materiais (tradicional e