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Contra-hegemonia: um conceito de Gramsci?

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Academic year: 2017

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Fa cu lda de de Ed u ca çã o

Pr og r a m a d e Pós- Gr a d u a çã o e m Edu ca çã o: Con h e cim e n t o e I n clu sã o Socia l

H e r be r t Gla u co de Sou z a

CON TRA- HEGEM ON I A: UM CO N CEI TO D E GRAM SCI ?

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CON TRA- HEGEM ON I A: UM CO N CEI TO D E GRAM SCI ?

Disser t ação de Mest r ado apr esent ada ao Progr am a d e Pós- Gradu ação em Edu cação: Conhecim ent o e I n clusão Social da Facul dade de Edu cação da Univer sidade Feder al de Minas Ger ais, com o r equi si t o par cial à obt enção do t ít ulo de Mest r e em Edu cação.

Lin h a de pe squ isa : Políti ca, t r abalho e

for m ação hu m ana.

Orie n t a d or a : Pr ofa. Dr a. Rosem ar y Dor e

Hei j m an s

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S729c T

Souza, Herbert Glauco de, 1983-

Contra-hegemonia : um conceito de Gramsci? / Herbert Glauco de Souza. - Belo Horizonte, 2014.

82 f., enc,

Dissertação - (Mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.

Orientadora: Rosemary Dore Heijmans. Bibliografia : f. 79-82.

1. Educação -- Teses. 2. Educação -- Filosofia -- Teses. 3. Hegemonia -- Teses. 4. Filosofia italiana -- Teses. 5. Filosofia moderna -- Teses -- 6. Gramsci, Antoni, 1891-1937 -- Teses. I. Título. II. Heijmans, Rosemary Dore. III. Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação.

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CON TRA- HEGEM ON I A: UM CO N CEI TO D E GRAM SCI ?

Dissert ação de m est r ado apr esent ada ao Pr ogr am a de Pós- Gr aduação em Educação da Faculdade de Edu cação da Univer sidade Feder al de Min as Gerais, defendida em 0 4/ 07/ 2013 e subm et ida à av aliação da Banca Ex am inador a con st it uída pelos professores:

_______________________________________________________________ Profa. Dra. Rosemary Dore Heijmans – FaE / UFMG

Orientadora

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Umberto Margiotta – Universidad Ca’Foscari Di Venezia

Examinador

_______________________________________________________________ Prof. Dr. Antônio Júlio de Menezes Neto – FaE /UFMG

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Prim eiram ent e gost aria de agradecer à m inha fam ília: à m inha m ãe Consuelo e av ó Celest e, por t erem acredit ado e se em penhando em m inha vida. À m inha princesa Talit a, que foi m eu sol nos m om ent os de m aior escu ridão, possibilit ando às m inhas noit es se t ornarem “ noit es com sol” . À m inha irm ã Suélen e ao m eu Sobrinho João Pedro. Aos m eus t ios e t ias que sem pre est iveram presentes de um a form a ou de out ra em m inha vida.

Gost aria de agradecer especialm ent e à m inha “ m est ra” e orient adora Rosem ary Dore Heij m ans – um a das int elect uais m ais brilhant es de seu t em po, m as t am bém das m ais inj ust içadas devido à força de seu carát er - , pelo carinho, am izade, educação e em penho. Que um dia eu t enha dez por cent o de seu t alent o!

Ao m eu out ro grande am igo e “ m est re” Pierre Marie Heij m ans, m inha aest hesis devo a você.

Ao CNPq pelas bolsas de est udo que m e proporcionou desde a graduação e que subsidiou a m inha t raj et ória.

Ao Program a de Pós- Graduação em Educação: Conhecim ent o e I nclusão Social – professores, funcionários, est agiários - , pela est rut ura. Em part icular agradeço aos funcionários Gílson, Ernane e Joanice; Tam bém em especial aos Porfessores Horm indo, Ant ônio Júlio, Ana Galvão e Maria de Fát im a. A t odos os com panheiros e com panheiras alunos do Program a, pela cam inhada conj unt a e t rocas de ideias.

A t odos os funcionários da Bibliot eca da FaE ( m inha “ casa” ) , em especial Karllos, Marli, Mônica e o Sérgio pela am izade e profissionalism o exem plar. Tam bém a Sim one e Cam ila.

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Às m inhas am igas e am igos, além de com panheiros do dia-a- dia Adriana Salgado, Renat a, Ariadia, Priscilla Bahiense, Miriã, Tat iana Lage, Jam es Soares, Marcello, Fabiana Malha, Vit or Lino, Carla Bonfim , Mônica Am orim , Wander August o, obrigado pela am izade.

Ao m io caro am ico Robert o Fini, Grazie per t ut t o.

Aos am igos da Rev ist a Trabalho e Educação, pelo aprendizado e confiança.

À m inha querid a dent ist a Cibele Dupin, por alargar os m eus horizont es.

Ao m eu casal de am igos Lucas Sardinha e Brenda, obrigado pela am izade.

Aos m eus am igos da Moradia Sebast ião, Mat eus “ Tex as” , Daniel “ Cam isolão” , Diogo “ Carioca” , Moisés, Marcelo, Thiago, Lucas, Warley, Sérgio, Gov aldinei e Renan.

Ao m eu grande am igo e com panheiro de j ornadas Fábio Jaderson e sua fam ília, obrigado.

Aos m eus am igos de Caet é: Mauro, Leandro Henrique, Jonat as, Jéferson, Guilherm e, Clay t on, Thiago, Rodrigo, Júlio, Fabrício, Robert o e Tiago Ferreira – com v ocês t ive m inha prim eira form ação. Tam bém aos m eus grandes am igos Frederico e André, com panheiros de labut a e de vida.

À m inha am iga caet ense Helena de Cast ro, pela am izade e pelos prim eiros ensinam ent os sobre um a das prát icas m ais im port ant es de nossa vida social – a polít ica.

A t odos e t odas que de cert a m aneira cont ribuíram para m inha form ação sej a com o t ese ou ant ít ese, obrigado.

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A present e dissert ação t em com o obj et ivo analisar o conceit o de «cont ra- hegem onia» que, em bora sej a apresent ado com o um a form ulação de Ant onio Gram sci ( 1891- 1937) , não t em regist ro na sua obra. Propôs- se, por conseguint e, ent ender a gênese desse conceit o e o porquê ocorreu sua vinculação ao nom e do aut or dos Quaderni del carcere. Para t ant o, foi realizado um lev ant am ent o bibliográfico dos t ex t os gram scianos em it aliano e em port uguês para o aprofundam ent o do conceit o de hegem onia com o t am bém o lev ant am ent o de t rabalhos nos quais o conceit o de cont ra-hegem onia v em v inculado ao nom e de Gram sci. Em seus escrit os, Gram sci elaborou o conceit o de hegem onia e j á deu início à discussão desse conceit o em Alguns t em as da quest ão m eridional ( 1926) , pouco ant es de ser preso pelo regim e fascist a que se inst alou na I t ália. Cont udo, não faz m enção ao conceit o de cont ra- hegem onia em sua obra produzida no cárcere, que é m ais sólida e sist em at izada ( um a obra de m at uridade) , cont endo um proj et o invest igat ivo m ais coeso e desenvolvido. No ent ant o, encont ra- se em diversos cam pos do saber a relação ent re o conceit o de cont ra-hegem onia e o nom e de Ant onio Gram sci. A pesquisa em preendida confirm ou que o conceit o de cont ra- hegem onia não é um a form ulação de Gram sci e que esse conceit o foi acrescent ado ao corpus t eórico gram sciano por Raym ond William s em sua obra int it ulada Marxism o e Lit erat ura ( 1977) .

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ABSTRACT

This t hesis aim s t o analy ze t he concept of " count er- hegem ony " which, alt hough present ed as a form ulat ion of Ant onio Gram sci ( 189 1-1937) , has no record in his work. I t was pr oposed, t herefore, t o underst and t he genesis of t his concept and why was t heir connect ion t o t he nam e of t he aut hor of Quaderni del carcere. To t his end, we conduct ed a lit erat ure Gram scian t ex t s in I t alian and Port uguese for t he deepening of t he concept of hegem ony as well as t he surv ey work in which t he concept of count er -hegem ony is linked t o t he nam e of Gram sci. I n his writ ings, Gram sci developed t he concept of hegem ony has already begun t he discussion of t his concept in t he sout hern quest ion Som e t hem es ( 1926) , j ust before being im prisoned by t he fascist regim e t hat has t aken place in I t aly. Howev er, it m akes no m ent ion of t he concept of count er- hegem ony in his work produced in t he prison, which is m ore solid and sy st em at ic ( a work of m at urit y) , cont aining an invest igat ive proj ect m ore cohesive and developed. Howev er, lies in v arious fields of knowledge t he relat ionship bet ween t he concept of count er- hegem ony and t he nam e of Ant onio Gram sci. The research undert aken has confirm ed t hat t he concept of count er- hegem ony is not a form ulat ion of Gram sci and t hat t his concept was added t o t he corpus Gram scian t heorist by Ray m ond William s in his work ent it led Marxism and Lit erat ure ( 1977) .

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INTRODUÇÃO ... 2

CAPÍTULO 1 - O CONCEITO DE HEGEM ONIA EM GRAM SCI ... 7

1.1 - As mudanças hist óricas e o Est ado ... 7

1.2 - Influências de Croce e Lênin na formulação gramsciana de hegemonia ... 14

1.3 - Hegemonia ... 22

CAPÍTULO 2 - ESTRATÉGIAS PARA A CONSTRUÇÃO DA HEGEM ONIA POR PARTE DOS GRUPOS SOCIAIS SUBALTERNOS: Um “conhece-te a ti mesmo” ... 28

1.1 – Um processo de “ cisão” ... 28

2.2 – Refor ma int elect ual e moral ... 36

2.3 - A organização da cult ura ... 42

2.4 - A const rução da consciência polít ica: do econômi co-corporat ivo ao universal. ... 52

CAPÍTULO 3 - CONTRA-HEGEM ONIA ... 55

3.1 - A apresent ação do problema ... 55

3.2 - A disseminação do conceit o de cont ra-hegemonia ... 59

CONCLUSÃO ... 76

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I N TRO DUÇÃO

O present e t rabalho de pesquisa t em com o obj et ivo analisar o conceit o de «cont ra- hegem onia» que, em bora sej a apresent ado com o um a form ulação de Ant onio Gram sci ( 1891- 1937 ) , não t em regist ro na sua obra. Propõe- se, por conseguint e, ent ender a gênese desse conceit o e o porquê ocor reu sua vinculação ao nom e do aut or dos Quaderni del carcere.

Gram sci elabora no cárcere fascist a – onde perm aneceu de 1926 a 1937 – o conceit o de hegem onia com o a “ ferram ent a” t eórica para ent ender e explicar a nova configuração assum ida pelo Est ado Moderno a part ir, principalm ent e, da segunda m etade do século dezenov e. Est udando a configuração t ípica das sociedades de capit alism o avançado, ele explica a nov a “ face” do Est ado Moderno com a “ fór m ula” Est ado = Sociedade Polít ica + Sociedade Civil.

O Est ado, t al com o Marx e Engels o int erpret am no Manifest o do Part ido Com unist a ( 1848) , é concebido com o “ m áquina” . Em sua lut a cont ra

o Est ado, o m ovim ent o operário deveria se confront ar diret am ent e com aquela “ m áquina” e derrubá- la violent am ent e a fim de est abelecer o seu dom ínio e elim inar os ent raves que lhe im possibilit av am apropriar- se das forças produt ivas sociais.

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solução para elim inar os ent raves que im possibilit avam o desenvolvim ent o do prolet ariado, “ um a revolução abert a” cont ra a burguesia.

Gram sci analisa o conceit o de Est ado present e no Manifest o e afirm a que, naquele m om ent o, a lut a de classes se configurava com o guerra de m ov im ent o, pois não exist ia um a sociedade civil robust a e organizada e o Est ado era sinônim o de sociedade polít ica ( coerção) .

A part ir da segunda m et ade do século dezenov e, Gram sci ident ifica m udanças na sociedade que repercut em na configuração e caract erização do Est ado Moderno. É o m om ent o de significat ivas vit órias sociais com o a redução da j ornada de t rabalho, o sufrágio universal m asculino, sist em a de prev idência pública, am pliação do acesso às escolas públicas para os filhos dos t rabalhadores. Gram sci percebe que o Est ado não baseava m ais apenas na coerção sua direção polít ica sobre a sociedade, percebe que ao lado da coerção, o Est ado abriu “ canais” de part icipação na sociedade civil para que os grupos sociais subalt ernos apresent assem suas reivindicações e cont est ações. Ent ão Gram sci caract eriza essa nov a “ face” do Est ado com o sendo Est ado = sociedade polít ica + sociedade civil, coerção m ais consenso. Se o Est ado sofrera t ransform ações, a “ fórm ula” para enfrent á- lo t am bém deveria se m odificar. Ent ão, Gram sci elabora o conceit o de guerra de posição, o qual corresponde à conquist a de espaços de força na sociedade civil, o qual supera o conceit o de guerra de m ovim ent o, aquele que corresponde ao confront o diret o com o Est ado, concebido com o “ m áquina”. A guerra de posição é por ele ent endida com o a form a m ais at ual de enfrent am ent o do Est ado Moderno, o qual personifica a fórm ula da “ hegem onia civ il” – direção int elect ual e m oral dos grupos sociais dom inant es, exercida pela com binação da coerção e do consenso.

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concepções de m undo dom inant es num Est ado que governa com base na hegem onia não const it uem algo que est á fora do horizont e int elect ual e m oral dos indivíduos. As concepções de m undo que se t ornam dom inant es passam a fazer part e do próprio m odo de pensar dos diferent es grupos sociais, sendo const it ut iv a não apenas do m undo int elect ual dos indiv íduos, m as t am bém de seu m odo de agir, de sua m oral. Elas est ão, port ant o, “ dent ro” dos indivivíduos, int rospect adas com o v alores e norm as de condut a.

Assim , para que os grupos sociais subalt ernos possam se em ancipar e const ruir a sua hegem onia, Gram sci afirm a que eles devem rom per com as concepções de m undo que assim ilaram dos grupos dom inant es e que dão su st ent ação à sua direção, sej a no plano int elect ual ou m oral. O m ovim ent o de rupt ura envolve um aut oconhecim ent o, com o diz Gram sci, um “ conhece-t e a conhece-t i m esm o” coleconhece-t iv o, um m ovim enconhece-t o de elevação inconhece-t elecconhece-t ual e m oral das m assas populares que possa culm inar num a reform a int elect ual e m oral, na const ru ção de um a nova hegem onia.

Nesse sent ido, Gram sci cham a a at enção para a função fundam ent al que os int elect uais orgânicos aos grupos sociais subalt ernos t êm em relação ao processo de educação das m assas e organização da cult ura. São os int elect uais que desem penham a função de m ediação ent re as m assas populares e o processo de rupt ura com o st at us quo.

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As reflex ões de Gram sci sobre o conceit o de hegem onia est ão present es em cart as e nos Cadernos do cár cere, m as não se regist ra nesses escrit os a palav ra “ cont ra- hegem onia”. No ent ant o, encont ra- se em div ersos cam pos do saber a relação ent re o conceit o de cont ra- hegem onia e o nom e de Ant onio Gram sci.

Sabóia ( 1990) e Scocuglia ( 1999) , por exem plo, t eóricos relacionados ao cam po de est udos da educação, apresent am em seus respect iv os t rabalhos um a discussão sobre a sociedade civ il e as organizações que a com põem a part ir de um referencial t eórico gram sciano. No t rabalho desses aut ores, a sociedade civ il é ent endida com o o lugar da const ru ção da hegem onia. Todav ia, t am bém ident ificam possíveis prát icas na sociedade civil que denom inam com o cont ra- hegem ônicas e cham am a at enção para o papel que a educação pode t er no sent ido de possibilit ar um novo desenvolvim ent o int elect ual, m oral e polít ico dos grupos sociais subalt ernos, desde que ela sej a ent endida com o prát ica cont ra- hegem ônica.

No cam po do Serviço Social, a abordagem da cat egoria subalt erni em Gram sci lev a Sim ionat t o ( 2009) a relacionar um a possív el superação da condição de subalt ernidade, em que se encont ram m uit os grupos sociais, à const ru ção de um a cont ra- hegem onia.

William s ( 2000) , dest acado aut or na área de est udos sobre a cult ura, ent ende que o conceit o de hegem onia de Gram sci deve ser rev ist o, j á que a direção de um det erm inado grupo social sobre a sociedade não se realiza de m odo “ pacífico” . O exercício da direção sofre pressões cont rárias, resist ências, cont est ações. Por isso, William s apresent a a necessidade de int roduzir o conceit o de cont ra- hegem onia, com o obj et iv o de explicar a dinâm ica de forças env olv idas num det erm inado cont ex t o social.

Port ant o, se não há um a form ulação gram sciana da noção de “ cont ra-hegem onia” , de que m odo foi difundida a ideia de que se t rat a de um a elaboração de Gram sci?

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apresent a- se o desenvolvim ent o do conceit o a part ir das t ransform ações pelas quais passou o Est ado nas sociedades de capit alism o avançado, ident ificando- se, t am bém , as influências t eóricas e prát icas sobre a form ulação gram sciana de hegem onia.

No segundo capít ulo, int it ulado “ Est rat égias para a const rução da hegem onia por part e dos grupos sociais subalt ernos: um ‘conhece- t e a t i m esm o’” , são ret om adas as reflexões gram scianas sobre os m eios e as condições para que os grupos sociais subalt ernos possam const ruir a sua hegem onia. A const ru ção da hegem onia é apresent ada por Gram sci com o um processo de elevação int elect ual e m oral das m assas populares, a ser iniciado com a “ cisão” com as con cepções de m undo dom inant es, a qual requer a organização da cult ura pelos int elect uais, t endo com o “ nort e” a filosofia da práxis. A const rução da hegem onia se configura com o um a reform a int elect ual e m oral.

No capít ulo 3, int it ulado “ Cont r hegem onia” , discut e- se e cont est a-se a v inculação realizada ent re o conceit o de cont ra- hegem onia e o nom e de Ant onio Gram sci. I nicialm ent e, apresent a- se a grande dissem inação desse conceit o com o se o m esm o fosse int egrant e do corpus t eórico gram sciano. Post eriorm ent e, invest igam - se as origens dos vínculos ent re o conceit o de cont ra- hegem onia e o nom e de Gram sci. Para isso, são ret om adas as reflex ões gram scianas present es nos Quaderni e nas Let t ere sobre o conceit o de hegem onia, confront ando- as com as t eorias sobre a cont ra- hegem onia.

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O CON CEI TO D E HEGEM ON I A EM GRAM SCI

1.1 - As m udanças hist óricas e o Est ado

Ant onio Gram sci depara- se com um a det erm inada realidade e sua respect iva configuração, depara- se com det erm inados problem as próprios do m om ent o viv ido por sua geração e enxerga a necessidade de novas “ ferram ent as” para explicar a problem át ica ent ão v ivida - é o cont ext o do final do século dezenove e prim eira m et ade do século v int e.

Gram sci era um hom em profundam ent e v inculado aos m ovim ent os sociais e polít icos de seu t em po, desde o período de est udos universit ários ( que não chegou a concluir) at é sua relação com o Part ido Socialist a I t aliano. Post eriorm ent e, part icipou vivam ent e da fundação do Part ido Com unist a do seu país, bem com o da v ida pública it aliana, com o deput ado e hom em vinculado ao m undo lit erário, at rav és de organização edit orial e crít i ca de j ornais e revist as ( GRAMSCI , 1999) . Hom em sensível aos problem as de seu t em po, influenciado pelo filósofo liberal e de m at riz t eórica hegeliana Benedet t o Croce ( 1866- 1952) , Gram sci t ornou- se depois um est udioso das obras de Marx e Engels, dando ao m undo um a int erpret ação original das t ransform ações ocorridas nas sociedades capit alist as avançadas, a part ir da segunda m et ade do século dezenove.

O cont ext o no qual Marx ( 1818- 1883) e Engels ( 1820- 1895) desenvolveram a Filosofia da Práxis – expressão que Gram sci adot aria para se referir às reflex ões dos aut ores do Manifest o Com unist a ( 1848) – caract erizava- se pela incipiência da sociedade civil. Era o m om ent o em que os grupos dom inant es governavam , sobret udo pela coerção, não ex ist indo prat icam ent e organizações dos t rabalhadores, que ainda eram clandest inas e pouco desenvolvidas.

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naquele m om ent o. E que Est ado era aquele, analisado pelos aut ores, no m om ent o da escrit a do Manifest o?

Marx e Engels ( 1963, p.24) afirm aram que cada et apa da evolução percorrida pela burguesia era acom panhada por um respect ivo progresso polít ico correspondent e, at é o m om ent o em que o Est ado não passav a de um “ com it ê para gerir os negócios com uns de t oda classe burguesa” . Desse m odo, o “ poder polít ico” era “ o poder organizado de um a classe para a opressão de out ra” ( idem , p.47) .

Num t ex t o ant erior ao Manifest o, escrit o em fins de 1845 e início de 1846, essa ideia de Est ado “privado” , ou sej a, com o represent ant e de um a classe específica e não com o represent ant e universal, j á est ava present e e denunciado por Marx e Engels, quando afirm aram que no cont ext o em que escrev iam ,

(...) o Estado, a liberdade pessoal existia apenas para os indivíduos desenvolvidos nas condições da classe dominante e somente na medida em que eram indivíduos dessa classe. A comunidade aparente, em que se associaram até agora os indivíduos, sempre se autonomizou em relação a eles e, ao mesmo tempo, porque era uma associação de uma classe contra outra classe, era, para a classe dominada, não apenas uma comunidade totalmente ilusória, como também um novo entrave (MARX; ENGELS, 2007, p.64).

O Est ado era a form a na qual os indiv íduos de um a classe dom inant e faziam valer seus int eresses com uns e que sint et izava a sociedade civil int eira da época, logo “ t odas as in st it uições colet iv as” eram “ m ediadas pelo Est ado” , adquirindo “ por m eio dele um a form a polít ica” ( MARX; ENGELS 2007, p.76) .

Esse Est ado foi denunciado e crit icado pelos aut ores do Manifest o do Part ido Com unist a com o sendo um Est ado classist a, burguês. As próprias ideias da classe burguesa, segundo os aut ores, decorriam do regim e de produção e propriedade burguês. Tam bém o direit o ( direit o burguês) não passava da v ont ade daquela classe erigida em lei, vont ade cuj o cont eúdo seria det erm inado pelas condições m at eriais de ex ist ência da própria burguesia com o classe.

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que lhe im possibilit av am apropriar- se das for ças produt ivas sociais. O prolet ariado deveria elim inar os ent raves que im possibilit avam o seu desenvolvim ent o social por m eio de um a “ rev olução abert a” , a part ir da qual “ est abelecesse sua dom inação pela derrubada v iolent a da burguesia” ( MARX; ENGELS, 1963, p.35) .

Gram sci analisa o conceit o de Est ado present e no Manifest o e diz que, naquele m om ent o, a lut a de classes se caract erizav a com o “ guerra de m ov im ent o” ( e cham a a at enção para o uso desse conceit o, pois o m esm o deveria ser adot ado cun granum salis) porque predom inava a repressão e não exist ia ainda um a sociedade civil fort e.

Quando caract eriza o cont ex t o da década de 40 do século XI X, no qual se desenv olviam det erm inados t ipos de relações ent re as forças sociais, Dore Soares ( 2000) afirm a que Gram sci com para t al cont ext o à guerra de m ovim ent o e que esse t ipo de “ guerra” correspondia ao m om ent o em que o Est ado era m enos desenv olv ido, não t endo alcançado um a hom ogeneidade ent re est rut ura e superest rut ura:

É a época em que a burguesia lutava predominantemente contra os particularismos da aristocracia feudal e o clero. Acabando de deparar com a oposição dos trabalhadores ao seu governo, ela não conseguira ainda encontrar sua forma de dominação política para enfrentá-la. Os trabalhadores por sua vez, ainda não estavam organizados politicamente, o que é um dos traços do “Estado restrito”, no qual a sociedade civil é disforme (DORE SOARES, 2000, p. 118).

A est rat égia da guerra de m ov im ent o fora adot ada na Com una de Paris e, post eriorm ent e, t am bém durant e a Rev olução Russa de 1917. Engels, diant e da derrot a dos com unas na França e de um a série de event os que foram se concret izando ao longo do fim do século XI X, percebera a necessidade de m udanças das est rat égias polít icas a serem colocadas em prát ica pelo prolet ariado, a fim de poderem alcançar êx it o.

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Engels, j á ant eriorm ent e, capt ara a im port ância de m odificar as est rat égias diant e de um nov o m om ent o, o que fica explícit o quando escrev e em 1895 a “ I nt rodução” para As lut as de classe na França de 1848 a 1850, de Marx:

Então, Engels afirmou que as modificações na estrutura econômica, levando à recuperação da reação europeia, as modificações na arte militar, inviabilizando as guerras no estilo napoleônico, e as modificações dos métodos revolucionários do proletariado, inviabilizando as barricadas e os ataques de surpresa, modificações essas que foram coroadas com o nascimento do sufrágio universal, tinham tornado “obsoleto sob todos os aspectos o modo de luta de 1848” (DORE SOARES, 2000, p. 123-124).

No ent ant o, o m ov im ent o operário int ernacional não foi capaz de capt ar as m udanças ocorridas nas sociedades de capit alism o av ançado e apont adas por Engels. Sob nov a liderança de Karl Kaut sky , assum ida após a m ort e de Engels em 1895, cont inuou “ defendendo, em condições com plet am ent e m odificadas, a fórm ula da rev olução perm anent e” ( DORE SOARES, 2000, p.125) .

Em 1921, após a Rev olução Bolchevique, Lênin com eça a reflet ir sobre a m udança de conj unt ura na qual se dav am as nov as relações ent re as classes sociais e sobre as nov as m anifest ações do Est ado. Sua reflexão decorre de um a avaliação da Revolução Russa de 1917, com o t am bém de um a análise do m ov im ent o operário em nível int ernacional: a revolução não ocor rera, por exem plo, na Alem anha, onde se esperava; o m ovim ent o sofrera sucessiv as derrot as em out ros locais nos quais a est rat égia da “ revolução perm anent e” fora adot ada – fat os que causaram cert o isolam ent o da Rússia. Com Lênin,

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m ov im ent o socialist a eram insuficient es para com preender a nov a dinâm ica das relações de forças sociais.

A análise de Gram sci sobre as m udanças ocorridas nas sociedades de capit alism o avançado, especialm ent e a part ir de 1871, desem bocam na form ulação de um nov o conceit o de Est ado, no qual a sociedade civil assum e grande relevância. Ele m ost ra que a burguesia j á não governava apenas com base na força, na coer ção, m as desenvolvera nov as est rat égias para assegurar a sua direção, com o obj et ivo de obt er o consent im ent o dos gov ernados ao seu poder.

Assim , além da força, procurou abrir canais de part icipação dos gov ernados na sociedade, acolhendo reivindicações dos grupos subalt ernos para m ant er sua direção polít ica sobre os m esm os. A sociedade civil, out rora “ gelat inosa” e disform e, t ransfor m ara- se e se apresent av a agora com o cont eúdo ét ico do est ado, no sent ido de “egem onia polit ica e cult urale di un gruppo sociale sull’int era societ à, [ ...] ” ( GRAMSCI , 1975, p.703) .

Desse m odo, os grupos subalt ernos passam a t er suas organizações legalizadas, am pliando- se a sua part icipação nos part idos polít icos, nos sindicat os. Mas a busca do consent im ent o, além de se m anifest ar no acolhim ent o de reivindicações dos grupos subalt ernos nos planos econôm ico ( sindicat os) e polít ico ( part idos) , t am bém ganha um a im port ant e dim ensão cult ural. O consent im ent o é buscado t am bém at ravés da educação. Nesse quadro, a escola se am plia enorm em ent e, sendo aprov adas, na m aioria dos países europeus, leis para garant ir o ensino público, grat uit o, laico e obrigat ório.

Tam bém foram alcançados em alguns países direit os sociais com o prev idência social pública ( Alem anha de Ot t o Von Bism arck) , sufrágio universal m asculino ( França) , fat os que cont ribuirão para o est abelecim ent o de um a nov a “ face” do Est ado Moderno que encont rará sua form a par excellence no regim e parlam entar.

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consenso permanentemente organizzato (ma l’organizzazione del consenso è lasciata all’iniziativa privata, è quindi di carattere morale o etico, perché consenso «volontariamente» dato in un modo o nell’altro) (GRAMSCI, 1975, p.1636).

Gram sci, ent ão, ex plica o Est ado com o sociedade polít ica ( força) + sociedade civil ( consent im ent o) . As caract eríst icas da sociedade civ il, a sua organização, a sua im port ância e o seu papel na busca do consent im ent o se dest acam com o elem ent os fundam ent ais da cont ribuição de Gram sci à com preensão do Est ado e culm inam no desenvolvim ent o do conceit o de hegem onia. Est a noção é o com plem ent o do conceit o de Marx sobre o “ Est ado força” , sem a qual o poder se t orna dit at orial.

Ret om ando reflex ões de Maquiavel sobre as relações ent re força e consenso no ex ercício do poder, Gram sci m ost ra que, a part ir do final do século XI X, o Est ado se configu rara com o um cent auro: m et ade hum ana ( o aspect o do consenso, da hegem onia) , m et ade anim al ( o aspect o coercit ivo, a força, a violência) .

Sobre a nova caract erização do Est ado m oderno – t ípico das sociedades de capit alism o avançado – Gram sci exporá seu ent endim ent o à sua cunhada Tat iana num a cart a dat ada de 7 de set em bro de 1931 ( escrit a port ant o no cárcere fascist a) , afirm ando que ent endia o Est ado Moderno com o um equilíbrio ent re sociedade polít ica e sociedade civil, diferent em ent e das int erpret ações corriq ueiras que t om avam o Est ado com o sinônim o de sociedade polít ica apenas.

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Para Gram sci o exercício ‘norm al’ da hegem onia nas sociedades de dem ocracia burguesa caract erizadas pelo regim e parlam ent ar é um a com binação da força e do consenso que se equilibram , sem que a força suplant e dem ais o consenso, “ anzi appaia appoggiat a dal consenso della m aggioranza espresso dai così det t i organi dell’opinione pubblica ( i quali

perciò, in cert e sit uazioni, vengono m olt iplicat i art ificiosam ent e) ”

( GRAMSCI , 1975, p.59) .

E o Est ado m oderno foi- se reforçando à m edida em que não só se conect av a às m últ iplas associações part iculares, m as as incorporav a. Desse m odo, t odo o espaço est at al ganhou nova qualidade, um a “ face” diferent e – sociedade civil + sociedade polít ica.

Gram sci, segundo Nogueira ( 2003) , esclareceu que o at o de governar seria o de cont inuar a buscar o “ consenso dos governados” , m as não apenas com o “ consenso genérico e vago”, que “ se afirm a no inst ant e das eleições” , e sim com o “ consenso organizado” .

O terreno das associações privadas tornava-se, assim, uma espécie de “dimensão civil” do Estado, base material da hegemonia política e cultural. Estado (coerção) e sociedade civil (consenso) passavam, desse modo, a ser vistos como instâncias distintas, mas integradas, formando uma unidade. Reuniam-se, portanto, dialeticamente. (NOGUEIRA, 2003, p.190).

A hegem onia se const rói na sociedade civil, m as isso não quer dizer que a sociedade civil est á separada do Est ado, de m aneira dicot ôm ica, com o esfera dist int a e opost a, irreconciliável at é m esm o a part ir da unidade dialét ica. A sociedade civ il possibilit a a art iculação e a unificação dos int eresses, a polit ização das ações e consciências, a superação de t endências corporat iv ist as ou concorrenciais, a organização de consensos e hegem onias.

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1.2 - I nfluências de Croce e Lênin na form ulação gram sciana de hegem onia

Um dos principais int erlocut ores de Gram sci quando da escrit a dos Quaderni no cár cere fascist a é o pensam ent o de Benedet t o Croce. Dent re as

várias form ulações croceanas ret om adas por Gram sci, dest aca- se a concepção da hist ória com o hist ória ét ico-polít ica, na qual Croce salient a aspect os da m aior im port ância que influenciarão a form ulação gram sciana de hegem onia e o auxiliarão na caract erização do Est ado m oderno.

A hist ória ét ica é o aspect o da hist ória que diz respeit o à sociedade civil, à hegem onia; a hist ória polít ica, por sua vez, corresponde à iniciat iva est at al- governam ent al.

Croce chega a afirm ar que o “ verdadeiro” Est ado, ist o é, a força diret iva do im pulso hist órico deve ser buscado, às vezes, não lá onde se esperaria, no Est ado j uridicam ent e ent endido, m as frequent em ent e nas forças “ privadas” ( sociedade civ il) .

Per il Gentile la storia è tutta storia dello Stato; per il Croce è invece «etico-politica», cioè il Croce vuole mantenere una distinzione tra società civile e società politica, tra egemonia e dittatura; i grandi intellettuali esercitano l’egemonia, che presuppone una certa collaborazione, cioè un consenso attivo e volontario (libero), cioè un regime liberale-democratico (GRAMSCI, 1975, p.691).

Seguindo as indicações de Croce sobre as caract eríst icas do Est ado ét ico e de cult ura, Gram sci afirm ará que um Est ado é ét ico se um a das suas funções m ais im port ant es é aquela de elevar a grande m assa a um det erm inado nível cult ural e m oral que corresponda às necessidades de desenvolvim ent o das forças produt iv as e, port ant o, aos int eresses das classes dom inant es.

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Croce cham a a at enção para os fat os da cult ura, para a at uação dos int elect uais na sociedade civ il, com o t am bém no Est ado. Gram sci, ent ão, fará um exercício de aproxim ação ent re a t eorização de Croce e a prát ica polít ica de Lênin. Dest e últ im o, Gram sci t om a com o referência a sua valorização da frent e de lut a cult ural que com eça a t er lugar na sociedade, dev ido às m udanças nas relações ent re as classes sociais, const ruindo a dout rina da hegem onia com o com plem ent o do “ est ado força” :

[...] il più grande teorico moderno della filosofia della praxis, nel terreno della lotta e dell’organizzazione politica, con terminologia politica, ha in opposizione alle diverse tendenze «economistiche» rivalutato il fronte di lotta culturale e costruito la dottrina dell’egemonia come complemento della teoria dello Stato-forza e come forma attuale della dottrina quarantottesca della «rivoluzione permanente». (GRAMSCI, 1975, p.1235).

Há, port ant o, um a at ualização da “ fórm ula de 1848” da “ revolução perm anent e” , form ulada no Manifest o do Part ido Com unist a, que se expressa no conceit o de hegem onia. I sso significa a com preensão das nov as caract eríst icas do Est ado, com o t am bém da necessidade de elaborar nov as est rat égias de “ lut a” . A “ fórm ula da hegem onia” é o reconhecim ent o da superação, na prát ica e na t eoria, da “ fórm ula de 1848” .

A valorização da frent e de lut a cult ural e polít ica por Lênin, principalm ent e após o fim da guerra civil russa em 1921, cont rapõe- se, por exem plo, ao pensam ent o de Trót sk i, que cont inuav a sust ent ando a “ fórm ula de 1848” da “ revolução perm anent e” – um a concepção que Gram sci considera ret rógrada e relaciona ao reflex o das condições gerais, econôm icas, cult urais e sociais « di un paese in cui quadri della vit a nazionale sono em brionali e rilasciat i e non possono divent are “ t rincea o

fort ezza” » ( GRAMSCI , 1975, p.865) .

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No plano int erno, Lênin propõe a Nova Polít ica Econôm ica ( NEP) , com o est rat égia para lidar com a reação cam ponesa ao socialism o.

A Nova Polít ica Econôm ica foi propost a em 1921, num quadro de reação dos cam poneses ( que ent ão const it uíam 70% da sociedade russa) ao socialism o. Para obt er o consent im ent o dos cam poneses às m udanças em cur so na Rússia após a Rev olução, Lênin precisou fazer concessões no cam po econôm ico. Concessões que dent ro daquela conj unt ura poderiam parecer recuos das conquist as iniciadas em 1917 pela Revolução Bolchevique.

A Rússia v ivia um a sit uação caót ica, um a crise social e econôm ica, com o consequências da Prim eira Guerra Mundial e da Guerra Civil. Era um quadro de m iséria, e para aguçar a sit uação, não cont aram com o apoio t écnico e financeiro da esperada revolução nos países indust rializados, principalm ent e a Alem anha.

Era necessária um a polít ica para a econom ia que represent asse t am bém a busca de quebrar a reação cam ponesa. A NEP at endia parcialm ent e aos int eresses dos cam poneses, porque perm it ia det erm inadas prát icas de m ercado ent re os m esm os, com o venderem part e da sua produção a preço fixo para o Est ado, ao m esm o t em po em que cessav am det erm inadas prát icas vigent es durant e o cham ado “ Com unism o de Guerra” com o a requisição forçada de v íveres agrícolas e m at érias prim as, o racionam ent o de alim ent os e produt os indust rializados, a dist ribuição de t íquet es e t alões de racionam ent o no lugar de pagam ent os em m oeda e t rocas diret as de produt os.

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É evident e que um a polít ica econôm ica que perm it isse cert as relações de m ercado poderia t razer crít icas de dent ro do próprio m ovim ent o revolucionário russo, principalm ent e do prolet ariado que vivia sob condições m at eriais m uit o inferiores aos nepm en1.

Num t ex t o pré- carcerário, dat ado de 14 de j unho de 1926, quando escrev e para o Com it ê Cent ral do Part ido Com unist a Soviét ico com a int enção de alert ar os cam aradas soviét icos sobre o perigo das lut as int ernas ali present es, Gram sci afirm a que j am ais na hist ória ocorrera que um a classe dom inant e, em seu conj unt o, se visse em condições de v ida inferiores a det erm inados elem ent os e est rat os da classe dom inada e subm et ida. Para ele, t al t ipo de cont radição fora reservada pela hist ória ao prolet ariado russo; assim , resid iam em t al cont radição os m aiores perigos para a dit adura do prolet ariado, sobret udo nos países onde o capit alism o não alcançara um grande desenv olv im ent o e não conseguira unificar as forças produt ivas.

Segundo Gram sci, era dessa cont radição – que, de rest o, apresent ava- se j á sob alguns aspect os nos países capit alist as onde o prolet ariado alcançara obj et ivam ent e um a função social m ais elevada – que nasciam o reform ism o e o sindicalism o, que nasciam o espírit o corporat iv o e as est rat ificações da arist ocracia operária.

Mas ressalt ava que o prolet ariado não poderia se t ornar classe dom inant e se não superasse essa cont radição, sacrificando seus int eresses corporat iv os; não podendo m ant er sua hegem onia e sua dit adura se, m esm o quando se t orna dom inant e, não sacrificar t ais int eresses im ediat os em nom e dos int eresses gerais e perm anent es de classe.

Decerto, é fácil fazer demagogia neste terreno, insistindo sobre os lados negativos da contradição: ‘É você o dominante, ó operário malvestido e mal-alimentado, ou é dominante o nepman encasacado e que tem à sua disposição todos os bens da terra?’ Do mesmo modo, os reformistas – após uma greve revolucionária que ampliou a coesão e a disciplina da massa, mas que, com sua longa duração, empobreceu ainda mais cada operário – dizem: ‘Você lutou para

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que? Para ficar mais arruinado e mais pobre!’ É fácil fazer demagogia neste terreno; e é difícil deixar de fazê-la quando a questão é posta nos termos do espírito corporativo e não naqueles do leninismo, ou seja, da doutrina da hegemonia do proletariado, que se encontra historicamente numa posição e não em outra (GRAMSCI apud COUTINHO, 2011, p.108-109).

E para Gram sci a razão das lut as int ernas no Part ido Com unist a da URSS residia nessa cont radição. Para ele, era o elem ent o essencial das discussões ent re seus cam aradas.

Reside neste elemento a raiz dos erros do bloco das oposições e a origem dos perigos latentes contidos em sua atividade. Na ideologia e na prática do bloco das oposições, renasce plenamente toda a tradição da social-democracia e do sindicalismo, que impediu até agora o proletariado ocidental de se organizar em classe dirigente (GRAMSCI apud COUTINHO, 2011, p. 109).

Som ent e um a firm e unidade e um a firm e disciplina no part ido que gov ernava o Est ado operário poderiam assegurar a hegem onia prolet ária em regim e de Nova Polít ica Econôm ica, ou sej a, em pleno desenvolvim ent o da cont radição m encionada por Gram sci. Mas a unidade e a disciplina, nest e caso, pensav a, não poderiam ser m ecânicas e coercit iv as.

Dev eriam ser leais e obt idas pela convicção; não dev eriam ser as de um dest acam ent o inim igo aprisionado ou cer cado, que pensa sem pre em fugir ou em at acar de surpresa. Ao t erm inar sua cart a, Gram sci faz um alert a aos cam aradas russos de que a unidade do part ido revolucionário era essencial para a consolidação não só da Revolução de 1917, m as t am bém das forças revolucionárias m undiais que t inham na Rússia seu espelho.

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Já no plano ext erno, Lênin propõe a polít ica de “ frent e única” , propost a lev ant ada no I V Congresso da I I I I nt ernacional, pela qual orient a a aproxim ação ent re socialist as e com unist as no sent ido de fort alecer o m ov im ent o prolet ário int ernacional ant e a reação dos países aliados.

Em 1922, no IV Congresso da III Internacional, Lênin propõe a fórmula da frente única da classe operária, fundada sobre a unidade de ação sindical e política entre comunistas e socialistas (o que não exclui, naturalmente, a crítica às posições dos socialistas) (GRUPPI, 1978, p.140).

A polít ica da “ frent e única” foi inicialm ent e crit i cada por Gram sci, m as em t orno de 1924, ele revê sua posição. Reconhece que Lênin percebera o início de um a nov a et apa na lut a de classes, em âm bit o nacional e int ernacional.

Inicialmente, Gramsci não aceita a tática da “frente única”. Mas, em 1924, faz uma autocrítica e aprova a proposição de Lênin. Depois de 1926, quando se encontra nos cárceres do fascismo italiano, ele reflete sobre os limites das concepções defendidas pelo movimento operário mundial para realizar a revolução socialista. É quando investiga a passagem da guerra de movimento à guerra de posição e, assim, da fórmula da “revolução permanente” para a da “hegemonia civil”. Então, ele indica a importância da frente cultural, ao lado das frentes econômicas e políticas, salientando o fato de que fora Lênin quem observara a necessidade dessa iniciativa (DORE SOARES, 2000, p. 46-47).

No caso da “ frent e única” , a aliança ent re com unist as e socialist as era prim ordial ao fort alecim ent o do socialism o diant e do soerguim ent o das nações que form aram um pact o int ernacional para isolar a Rússia, com o os Est ados Unidos, a I nglat erra e a França. Além disso, m anifest ações de ext rem a direit a j á t inham com eçado a aparecer na Alem anha e na I t ália.

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Elas m arcariam a passagem da “ guerra de m ovim ent o” à “ guerra de posição” . É a part ir delas que Gram sci at ribui a Lênin a elaboração da dout rina da hegem onia, a qual seria a nov a referência conceit ual para ent ender o Est ado m oderno, t ípico das sociedades ocident ais de capit alism o avançado.

Essas polít icas são t om adas por ele com o referência da form ulação de nov as est rat égias para a lut a social, que superavam o confront o diret o e abert o com a supost a “ m áquina est at al” . A av aliação das polít icas de Lênin aparece nos escrit os carcerários de Gram sci.

[...] Mi pare che Ilici aveva compreso che occorreva un mutamento dalla guerra manovrata, applicata vittoriosamente in Oriente nel 17, alla guerra di posizione che era la sola possibile in Occidente, dove, come osserva Krasnov, in breve spazio gli eserciti potevano accumulare sterminate quantità di munizioni, dove i quadri sociali erano di per sé ancora capaci di diventare trincee munitissime. Questo mi pare significare la formula del «fronte unico» che corrisponde alla concezione di un solo fronte dell’Intesa sotto il comando unico di Foch (GRAMSCI, 1975, p.866).

Se, para Gram sci, as est rat égias de lut a dev eriam ser m udadas pelo m ov im ent o operário, é porque percebe que o Est ado das sociedades de capit alism o avançado hav ia m udado, não m ais se configurava com o aquele denunciado e crit icado no Manifest o do Part ido Com unist a, que persist ia ainda, por exem plo, na sociedade russa do início do século XX – a Rússia Czarist a. No Est ado Russo, que veio abaixo com a Rev olução de 1917, a sociedade civ il era prim ordial e gelat inosa, pouco com plex a e as próprias condições de organização social da Rússia im possibilit avam naquele m om ent o o seu desenvolvim ent o. Para Gram sci, necessit ava- se de um a m obilização de carát er nacional para que a sociedade civil se desenv olvesse e deixasse de ser gelat inosa.

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det erm inação que na Rússia era diret a e lançava as m assas às ruas para o assalt o revolucionário, com plicava- se na Europa Cent ral e Ocident al em função de t odas essas superest rut uras polít icas, criadas pelo m aior desenvolvim ent o do capit alism o; t ornando m ais lent a e prudent e a ação das m assas e, port ant o, requerendo do part ido rev olucionário t oda um a est rat égia e um a t át ica bem m ais com plexas e de longo alcance do que aquelas que foram necessárias aos bolcheviques no período ent re m arço e nov em bro de 1917.

Segundo Gram sci, Lênin ensinara que para vencer o inim igo do prolet ariado – que era poderoso e que possuía m uit os m eios e reserv as à sua disposição – , a classe revolucionária t eria não som ent e que aprov eit ar as fissuras apresent adas pelo seu bloco, m as t am bém ut ilizar t odo aliado possível, ainda que incert o, oscilant e e prov isório. Ensinou que, na guerra dos ex ércit os, não se pode at ingir o obj et ivo est rat égico, que é a dest ruição do inim igo e a ocupação do seu t errit ório, sem t er ant es at ingido um a série de obj et iv os t át icos, v isando a desagregar o inim igo ant es de enfrent á- lo em cam po abert o. Todo o período pré- revolucionário se apresent av a com o um a

(...) atividade predominantemente tática, voltada para a aquisição pelo proletariado de novos aliados, para a desagregação do aparelho organizativo de ataque e de defesa do inimigo, para o conhecimento e esgotamento de suas reservas (GRAMSCI apud COUTINHO, 2011, p.103).

Lênin não t eve t em po de desenvolver plenam ent e a fórm ula da hegem onia, apesar de t ê- la int uído com o assinala Gram sci, cham ando a at enção para as polít icas que adot ou, com o a NEP e a frent e única. A t arefa não era apenas de Lênin, era nacional.

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1.3 - Hegem onia

A nova caract erização do Est ado m oderno requer a reform ulação t eórica de “ ferram ent as” capazes de explicar a nova conj unt ura social e as nov as relações de poder ent re as classes fundam ent ais no sist em a capit alist a. Para Gram sci, o conceit o de “ revolução perm anent e”, gerado em um cont ext o no qual as grandes organizações polít icas e econôm icas priv adas do t ipo m oderno ainda não hav iam se desenvolvido, foi superado dialet icam ent e pelo conceit o de “ hegem onia civil” . O conceit o de “ hegem onia civ il” supera o de “ rev olução perm anent e” , assim ilando- o e post eriorm ent e negando- o, m ost rando suas lim it ações:

[...] Anche la quistione della cosidetta «rivoluzione permanente», concetto politico sorto verso il 1848, come espressione scientifica del giacobinismo in un periodo in cui non si erano ancora costituiti i grandi partiti politici e i grandi sindacati economici e che ulteriormente sarà composto e superato nel concetto di «egemonia civile». (GRAMSCI, 1975, p.972).

O con ceit o de guerra de m ovim ent o deveria ser superado porque as form as de lut a social e as est rat égias polít icas hav iam se m odificado, não se t rat ando m ais de em preender um a lut a ( lit eral) de m ilícia cont ra o Est ado. As nov as “ t rincheiras” de lut a est avam agora localizadas na sociedade civ il e as grandes m anobras polít icas eram realizadas no int erior das várias organizações que a com punham . Port ant o, o conceit o de guerra de m ov im ent o foi superado pelo conceit o de guerra de posição, com o m ost ra Gram sci:

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A análise do pensam ent o gram sciano perm it e com preender não som ent e o que caract eriza o “ Est ado força” , m as t am bém com o se dá sua superação a part ir do conceit o de egem onia civile.

O que caract eriza o “ Est ado força” é a ausência de um a sociedade civil organizada, robust a. O “ Est ado força” é o Est ado sem hegem onia, é um Est ado coerção e sem consenso. O “ Est ado for ça” é aquele que deveria ser derrubado violent am ent e, com o preconizav a a “ fórm ula de 1848” , cuj a fórm ula de enfrent am ent o aparece no Manifest o, com o guerra de m ov im ent o e que Gram sci relaciona à “ rev olução perm anent e” .

Já o conceit o de “ hegem onia civil” diz respeit o ao desenvolvim ent o da sociedade civil, à sua organização, ao Est ado m oderno caract erizado com o coerção + hegem onia. Com o afirm a Gram sci, “ ( ...) nel senso, si pot rebbe dire, che St at o = societ à polit ica + societ à civ ile, cioè egem onia corazzat a

di coercizione” ( GRAMSCI , 1975, p.763- 764) .

O conceit o de “ hegem onia civ il” supera hist oricam ent e o conceit o de “ revolução perm anent e” ao dem onst rar a nov a “ face” do Est ado - for ça + consenso - ; o conceit o de guerra de posição supera o de guerra de m ov im ent o ao dem onst rar que as novas t rincheiras de lut a est ão na sociedade civil; o conceit o de “ hegem onia civ il” só pode ser adot ado quando a sociedade civ il se desenvolve, organiza- se e se t orna com plexa.

O conceit o gram sciano de “ hegem onia civil” caract eriza o Est ado m oderno com o sendo sociedade polít ica + sociedade civ il, am bas form ando um a unidade fundam ent al que perm it e explicar a est rat égia polít ica de dom inação dos grupos dirigent es nas sociedades de capit alism o avançado. Nessas últ im as, a direção que é int elect ual e m oral depende da at uação dos int elect uais vinculados ao grupo dirigent e que operam nas várias organizações que com põem a sociedade civil ( aparelhos priv ados de hegem onia) de m aneira a educar e alcançar o consenso at iv o dos dem ais grupos sociais.

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Analisando a at uação dos int elect uais vinculados aos principais grupos sociais nas sociedades de capit alism o av ançado e sua relação com o Est ado, Gram sci afirm a que se podem fixar dois grandes “ planos” superest rut urais: a sociedade civ il - conj unt o dos organism os cham ados “ privados” – e o out ro é a sociedade polít ica ou o Est ado e que cor respondem respect iv am ent e às funções de hegem onia que o grupo dom inant e exercit a em t oda a sociedade e de “ dom ínio diret o” que se exprim e no Est ado e no governo “ j urídico” .

Os int elect uais apresent am funções organizat ivas e conect iv as na const ru ção e m anut enção da hegem onia do grupo social ao qual est ão vinculados. Eles são os “ funcionários” do grupo dom inant e para o exercício das funções subalt ernas da hegem onia social e do governo polít ico:

1) del consenso «spontaneo» dato dalle grandi masse della popolazione all’indirizzo impresso alla vita sociale dal gruppo fondamentale dominante, consenso che nasce «storicamente» dal prestigio (e quindi dalla fiducia) derivante al gruppo dominante dalla sua posizione e dalla sua funzione nel mondo della produzione; 2) dell’apparato di coercizione statale che assicura «legalmente» la disciplina di quei gruppi che non «consentono» né attivamente né passivamente, ma è costituito per tutta la società in previsione dei momenti di crisi nel comando e nella direzione in cui il consenso spontaneo vien meno (GRAMSCI, 1975, p.1518-1519).

Para Gram sci, um ex em plo de at uação desses “ fun cionários” na sociedade civ il est á j ust am ent e na elaboração e com posição da cham ada “ opinião pública” , que est á est reit am ent e conect ada com a quest ão da hegem onia polít ica. A “ opinião pública” é o pont o de cont at o ent re a sociedade civil e a sociedade polít ica, ent re o consenso e a força. Ela não é um fat o m ecânico, espont âneo e nat ural, m as é buscada, educada, const ruída, organizada pelos int elect uais vinculados ao grupo dom inant e e que a const roem nos vários organism os pri vados que com põem a sociedade civil.

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1975, p.915) . Logo, exist e a lut a pelo m onopólio dos órgãos de opinião pública com o j ornais, part idos, parlam ent o, inst it uições de ensino, ou sej a, aparelhos privados de hegem onia, de m aneira que apenas um a força m olde a opinião pública e, port ant o, a vont ade polít ica nacional “ disponendo i discordi in un pulviscolo individuale e disorganico” ( I dem ) .

Assim , a análise da cult ura se t orna condição sine qua non para a análise não só do conceit o de hegem onia em Gram sci com o t am bém para o ent endim ent o do poder alcançado ( sem precedent es) pelo Est ado m oderno, o Est ado que personifica a fórm ula da “ hegem onia civil” .

Considerando que a hegem onia é alcançada com a lut a incessant e pela obt enção do consenso at ivo dos gru pos sociais subalt ernos e que o consenso não é espont âneo, m as precisa ser educado, Gram sci dest aca o papel fundam ent al que a cult ura passa a t er para consolidar a direção int elect ual e m oral da burguesia. Nessa direção, recupera episódios da hist ória it aliana e os analisa à luz do conceit o de hegem onia – é o que acont ece quando discut e, por exem plo, o processo do Risorgim ent o I t aliano e a função de direção polít ica exercida pelos m oderados no m esm o.

A função dirigent e do part ido m oderado em relação ao Part it o d’Azione est á ligada ao aspect o da direção int elect ual e m oral, ou sej a, à

quest ão da hegem onia. Os m oderados represent avam um grupo social hom ogêneo em cont raposição ao Part it o d’Azione que não se apoiavam em nenhum a classe hist órica.

O prot agonism o polít ico em preendido pelos m oderados não se rest ringiria ao processo da unificação it aliana, m as ainda cont inuaria por um longo período na vida est at al daquele país. Port ant o, evidencia- se a necessidade de um det erm inado grupo social que alm ej e alcançar a hegem onia, ser dirigent e ant es de chegar ao governo e m esm o após a conquist a do poder, deverá cont inuar sendo t am bém dirigent e a fim de m ant er sua hegem onia em relação aos dem ais grupos sociais. A dirigência est á relacionada ao aspect o int elect ual e m oral, à quest ão ét ica do est ado, à educação e aquisição do consenso na sociedade civil.

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t ornou- se, segundo Gram sci, um aspect o da função de dom ínio, e a assim ilação da elit e int elect ual do part ido adversário pelos m oderados t ornou- se um aspect o da direção int elect ual e m oral.

Dalla politica dei moderati appare chiaro che ci può e ci deve essere una attività egemonica anche prima dell’andata al potere e che non bisogna contare solo sulla forza materiale che il potere dà per esercitare una direzione efficace: appunto la brillante soluzione di questi problemi ha reso possibile il Risorgimento nelle forme e nei limiti in cui esso si è effettuato, senza «Terrore», come «rivoluzione senza rivoluzione» ossia come «rivoluzione passiva» per impiegare un’espressione del Cuoco in un senso un po’ diverso da quello che il Cuoco vuole dire (GRAMSCI, 1975, p.2010-2011).

A hegem onia é um a direção int elect ual porque diz respeit o a um a concepção de m undo que ex pressa os int eresses de um det erm inado grupo social, apresent ando- a com o se m anifest asse os int eresses de t odos os grupos sociais.

A hegem onia é um a direção m oral porque as concepções de m undo im plicam form as de com port am ent o e valores que lhe são adequados, form as de com port am ent o e valores que, ao serem assim ilados pelos grupos sociais subalt ernos, conv ert em - se num t erreno propício para garant ir a m anut enção e reprodução de int eresses de det erm inado grupo social.

Quando num a dat a com em orat iva ( com ercial) , por exem plo, o Dia Das Mães, um filho não dá um present e para sua m ãe pode ocorrer dela ficar chat eada, quest ionar o am or do filho. No ent ant o, se ocorre o cont rário, o filho lem bra- se da dat a e ent rega um present e para a m ãe, m esm o se a relação dos dois não é boa, pode acont ecer de a m ãe ficar feliz. E m uit as v ezes o filho que não deu um present e, por não t er condições de fazê- lo naquele m om ent o, é um m elhor filho que aquele que deu, m as pelo fat o de não dar um presente, sua m ãe se sent e m al, quest iona- se sobre a educação que deu ao filho, et c.

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m odo de ser nat ural, inat o e com o se fosse um padrão de com port am ent o global.

O capit alism o com o ideologia ( concepção de m undo) se im põe a t udo e a t odos, t ranspôs barreiras e uniu arbit rariam ent e os povos sob a égide do capit al, descon siderando as part icularidades de cada cult ura, de cada pov o, em nom e do lucro e da acum ulação. Mas age- se, sent i- se, de m aneira a reproduzir essa ideologia dom inant e.

O conceit o de hegem onia significa que o “ real” se organiza com o hegem onia. O conceit o apreende o “ real” . Num Est ado que governa com base na força e no consenso, se esgot a a fórm ula de lut a polít ica esboçada por Marx e Engels, que Gram sci cham ou de “ guerra de m ovim ent o” ( present e no Manifest o de 1848) .

Guerra de m ov im ent o é o conceit o para apreender um a realidade de ação polít ica cont ra o Est ado, form ulada por Marx e Engels. Se o ent endim ent o do Est ado m uda, porque o Est ado m udou, m uda t am bém a form a de ação polít ica de confront o com o Est ado.

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CAPÍ TULO 2

ESTRATÉGI AS PARA A CON STRUÇÃO D A HEGEM ON I A PO R PARTE DO S GRUPO S SO CI AI S SUBALTERN OS: Um “ con he ce - t e a t i m e sm o”

1.1 – Um processo de “ cisão”

Gram sci afirm a que a filosofia da práxis concebe a realidade das relações hum anas de conhecim ent o e pensam ent o com o elem ent o de hegem onia polít ica. Ele rechaça a int erpret ação econom icist a de que as ideologias são ilusões e afirm a, ao cont rário, que elas são const ruções prát icas, inst rum ent os de direção polít ica.

As ideologias são para os governados m eras “ ilusões” , um engano súbit o, enquant o são para os gov ernant es um engano v olunt ário e conscient e.

Para a filosofia da práx is as ideologias são fat os hist óricos reais que se deve com bat er e desvelar em sua nat ureza de inst rum ent os de dom ínio que são, não por razões de m oralidade, m as por razões de lut a polít ica, para t ornar int elect ualm ent e independent es os governados dos gov ernant es, para dest ruir um a hegem onia e criar out ra.

La filosofia della praxis intende invece giustificare non con principi generici, ma con la storia concreta, la storicità delle filosofie, storicità che è dialettica perché dà luogo a lotte di sistemi, a lotte tra modi di vedere la realtà, e sarebbe strano che chi è convinto della propria filosofia, ritenesse concrete e non illusorie le credenze avversarie (e di questo si tratta, poiché altrimenti i filosofi della praxis dovrebbero ritenere illusorie le loro proprie concezioni o essere degli scettici e degli agnostici) (GRAMSCI, 1975, p.1299).

Para Gram sci a filosofia da práx is t am bém é um a ideologia, apresent a seu carát er social e hist órico, m as ao cont rário das ideologias burguesas não procura esconder as cont radições exist ent es na sociedade. É ela m esm a a t eoria dessas cont radições.

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La filosofia della praxis non solo pretendeva di spiegare e giustificare tutto il passato, ma di spiegare e giustificare storicamente anche se stessa, cioè era il massimo «storicismo», la liberazione totale da ogni «ideologismo» astratto, la reale conquista del mondo storico, l’inizio di una nuova civiltà (GRAMSCI, 1975, p.1864).

Nesse sent ido, a ideia de que o Est ado t am bém est á present e no pensam ent o e na ação dos grupos sociais subalt ernos exige que a lut a para superar essa sit uação sej a “ um conhece- t e a t i m esm o” , um confront o ent re concepções de m undo, um a lut a ideológica, a const rução da hegem onia. Essa é a guerra de posição. Conquist ar posições de força na sociedade civil. Organizar- se. Organizar a cult ura.

Por nossa própria concepção de m undo, diz Gram sci, pert encem os sem pre a um det erm inado grupo social que t em em com um essa m esm a concepção. E quando ela não é crít ica, coerent e e unit ária, m as fragm ent ada, disform e e cont radit ória, pert encem os ao m esm o t em po a um a m ult iplicidade de hom ens- m assa que reúne em si t raços dos “ hom ens da caverna” e t raços do conhecim ent o m ais elaborado de um det erm inado t em po. Esse é o senso com um . Para superá- lo, Gram sci apresent a várias indicações, t endo com o prem issa a pergunt a: “ Qual é o m eu t ipo de conform ism o e de qual hom em - m assa faço part e?” .

L’inizio dell’elaborazione critica è la coscienza di quello che è realmente, cioè un «conosci te stesso» come prodotto del processo storico finora svoltosi che ha lasciato in te stesso un’infinità di tracce accolte senza beneficio d’inventario. Occorre fare inizialmente un tale inventario (GRAMSCI, 1975, p.1376).

O “ conhece- t e a t i m esm o” dá início a um processo de “ cisão” . Ele é, ao m esm o t em po, um m ovim ent o de elevação int elect ual e m oral - o início do “ invent ário” . Com eça com um confront o int erno, um a crít ica a si m esm o e à própria concepção de m undo.

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O sen so com um não apresent a um a coerência ou ordem int elect ual, m as é ele t am bém um a expressão social e hist órica do grupo ao qual est á vinculado: non esist e un solo senso com une, che anche esso è un prodot t o e un divenire st orico ( GRAMSCI , 1975, p.1378) .

Para Gram sci, o senso com um não pode const it uir um a ordem int elect ual porque não pode reduzir- se à unidade e à coerência nem m esm o na consciência individual para não falar da consciência colet iva.

Mas esse m esm o senso com um apresent a um carát er prát ico, exat am ent e para as pessoas que dele com part ilham , m esm o que elas não percebam as incoerências e cont radições exist ent es no seu int erior. Às vezes um a pessoa afirm a um a det erm inada ideia de m aneira verbal, m as no seu agir ( sua prát ica) est á im plícit a out ra ideia, m uit as v ezes at é cont rast ant e com a ideia inicialm ent e afirm ada de m aneira verbal.

L’uomo attivo di massa opera praticamente, ma non ha una chiara coscienza teorica di questo suo operare che pure è un conoscere il mondo in quanto lo trasforma. La sua coscienza teorica anzi può essere storicamente in contrasto col suo operare. Si può quasi dire che egli ha due coscienze teoriche (o una coscienza contraddittoria), una implicita nel suo operare e che realmente lo unisce a tutti i suoi collaboratori nella trasformazione pratica della realtà e una superficialmente esplicita o verbale che ha ereditato dal passato e ha accolto senza critica. Tuttavia questa concezione «verbale» non è senza conseguenze: essa riannoda a un gruppo sociale determinato, influisce nella condotta morale, nell’indirizzo della volontà, in modo |16 bis| più o meno energico, che può giungere fino a un punto in cui la contradditorietà della coscienza non permette nessuna azione, nessuna decisione, nessuna scelta e produce uno stato di passività morale e politica (GRAMSCI, 1975, p.1385).

Por isso, pelo seu carát er prát ico, é que se deve dar at enção aos aspect os m ais int eressant es e racionais do núcleo sadio do senso com um , pois ele é o pont o de part ida para a elev ação int elect ual e m oral das m assas populares. Não se t rat a de rechaçar com plet a e arbit rariam ent e t odo o senso com um , m as apenas aquilo que ent ra em choque com o pensam ent o coerent e, racional ( em cont raposição às at it udes best iais e passionais e t am bém m íst icas) e unit ário ( a consciência filosófica) .

Referências

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