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Rev. Ceres, Viçosa, v. 63, n.4, p. 584-587, jul/ago, 2016
RESUMO
ABSTRACT
Submetido em 12/02/2014 Aprovado em 23/02/2016.
1 Esta pesquisa foi realizada pela Embrapa Acre em parceria com a Empresa Floresta Desenvolvimento de Projetos Ltda. 2 Embrapa Acre, Rio Branco, Acre, Brasil. rodrigo.s.santos@embrapa.br
3 Floresta Desenvolvimento de Projetos Ltda., Rio Branco, Acre, Brasil. roberto@floresta.com
4 Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Animal, Viçosa, Minas Gerais, Brasil. nanjos@ufv.br
* Autor para correspondência: rodrigo.s.santos@embrapa.br
Comunicação
Primeiro registro do besouro-amarelo-do-eucalipto em plantio de
eucalipto no Estado do Acre
1A ocorrência do besouro-amarelo-do-eucalipto, Costalimaita ferruginea (Fabricius) (Coleoptera: Chrysomelidae),
foi confirmada em plantio de Eucalyptus pellita F. Muell, Eucalyptus urophylla S. T. Blakee Eucalyptus camaldulensis
Dehn., no município de Senador Guiomard, Acre. O ataque foi constatado com maior intensidade em E. pellita, seguido
por E. urophylla e E. camaldulensis em menor intensidade. Este é o primeiro registro dessa espécie de besouro
desfolhador, em eucaliptais cultivados no Estado, contribuindo assim para o aumento do conhecimento sobre a distri-buição geográfica desse inseto na região amazônica, bem como no Brasil.
Palavras-chave: desfolhador de eucalipto; Chrysomelidae; Myrtaceae; Eucalyptus; silvicultura. Rodrigo Souza Santos2*, Roberto Gonçalves3, Norivaldo dos Anjos Silva4
10.1590/0034-737X201663040020
First record of eucalyptus yellow beetle in eucalyptus plantation in the state of Acre, Brazil
The occurrence of the Eucalyptus yellow beetle, Costalimaita ferruginea (Fabricius) (Coleoptera: Chrysomelidae),was reported in plantations of Eucalyptus pellita F. Muell, Eucalyptus urophylla S. T. Blake and Eucalyptus camaldulensis Dehn. in the municipality of Senador Guiomard, Acre, Brazil. The attack was verified with higher
intensity in E. pellita, followed by E. urophylla and lower intensity in E. camaldulensis . This is the first record of this
defoliator beetle species in eucalyptus plantations in this state, thus contributing to the increase in knowledge about the geographical distribution of this insect in the Amazon region, as well as in Brazil.
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Primeiro registro do besouro-amarelo-do-eucalipto em plantio de eucalipto no Estado do Acre
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INTRODUÇÃO
A eucaliptocultura, introduzida no Brasil no século XX, tornou-se importante atividade econômica do país, ocupando área de aproximadamente 4,8 milhões de hec-tares (Abraf, 2012). A importância econômica do eucalipto (Eucalyptus L’Her, Myrtaceae) decorre do seu rápido
cres-cimento, de sua capacidade produtiva, de sua adaptabili-dade em diversos ambientes e, principalmente, da di-versidade de espécies e híbridos, o que torna possível atender à demanda de grande parte dos segmentos que utilizam produtos florestais (Garlet et al., 2009),
princi-palmente o setor de papel e celulose (Bacha & Barros, 2004).
Com a expansão da área plantada, os problemas entomológicos dos eucaliptais aumentaram, visto que a monocultura de maciços florestais homogêneos também favorece a ocorrência e manutenção de altas populações de insetos daninhos nas árvores, por causa, sobretudo, da grande disponibilidade de alimento e da simplificação do ambiente (Altieri, 2003; Panizzi & Parra, 2009), o que pode prejudicar o empreendimento florestal (Ohmart & Edwards, 1991).
Entre os insetos associados à eucaliptocultura, rela-tam-se principalmente as formigas-cortadeiras, os besou-ros e as lagartas desfolhadores, seguidos por espécies que atacam as raízes, os broqueadores de tronco e os su-gadores de seiva (Zanuncio et al., 1993; Santos et al.,
2008; Costa et al., 2011), podendo assumir o status de
pragas, dependendo do seu nível populacional.
MATERIAL E MÉTODOS
Em setembro de 2013, besouros foram encontrados alimentando-se de folhas de Eucalyptus pellita F. Muell, Eucalyptus urophylla S. T. Blake e Eucalyptus camaldulensis Dehn., cultivados na fazenda Camboré
(10°13’07.9" S; 67°41’33.5" O; 203 m de altitude), no município de Senador Guiomard, AC. A fazenda Camboré cultiva eucalipto em plantio extensivo e, no entorno dos talhões, há presença de pasto e de vegetação de capo-eira.
A área em que foi registrada a presença do inseto corresponde a 3,0 ha, com espaçamento de 3,0 x 3,0 m entre árvores, plantas com nove meses de idade e altura aproxi-mada de 3,2 m. Machos (n = 11) e fêmeas (n = 12) desses besouros foram coletados manualmente, diretamente nas folhas do terço inferior da copa, em árvores das três espé-cies, e acondicionados em frascos de vidro identificados. Esse material foi encaminhado ao Laboratório de Entomologia da Embrapa Acre, em Rio Branco, AC, onde foi submetido à triagem e montagem entomológica dos espécimes coletados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os insetos foram identificados como sendo os crisomelídeos Costalimaita ferruginea (Fabricius)
(Coleoptera: Chrysomelidae), depositados na Coleção do Museu Regional de Entomologia (UFVB), em Viçosa, MG. Os besouros desfolhadores constituem o terceiro gru-po de insetos-praga mais relevantes para a silvicultura brasileira e sua importância vem crescendo, em função do crescimento de novos registros, principalmente na cultura do eucalipto (Montes et al., 2012). Coleópteros desfolhadores da família Chrysomelidae compõem um im-portante grupo de herbívoros associados a eucaliptos, particularmente em árvores jovens (Ohmart & Edwards, 1991). Dentre os crisomelídeos, destaca-se C. ferruginea,
como o principal besouro desfolhador do eucalipto, em virtude de sua voracidade e de seu potencial biótico (San-tos et al., 2008), sendo conhecido, popularmente, por
“besouro-amarelo-do-eucalipto” ou “vaquinha” (Gallo et al., 2002).
Em altos níveis populacionais, esse inseto promove intensa desfolha em árvores cultivadas, provocando a re-dução da capacidade fotossintética e o consequente atra-so do seu crescimento e desenvolvimento (Mendes et al.,
1998). Os adultos se alimentam das folhas, perfurando-as, deixando-as com um aspecto rendilhado. As folhas danificadas perdem água pelas bordas dos orifícios, so-frendo murcha e secamento (Costa et al., 2011).
O prejuízo é acentuado quando a gema apical (pontei-ro) da planta também é atacada, sendo cortada pelos be-souros, causando ramificações laterais nas árvores. O im-pacto do ataque do besouro sobre o crescimento inicial e a produção de eucaliptos aumenta com o decorrer do tem-po, de acordo com a intensidade de desfolhamento pro-vocado por diferentes níveis populacionais do inseto na área (Montes et al., 2012).
Além de espécies de eucalipto, C. ferruginea tem como
plantas hospedeiras: abacateiro (Persea americana Mill.),
algodoeiro (Gossypium sp.), araçazeiro (Psidium sp.),
ca-jueiro (Anacardium occidentale L.), camu-camu [Myrciaria dubia (H.B.K.) McVaugh], goiabeira (Psidium guajava L.),
jambeiro (Syzygium malaccense L.), jambolão (Syzygium cumini Lamarck), jabuticabeira [Myrciaria cauliflora
(Mart.)], manacá [Tibouchina mutabilis (Vell.) Cogn.],
macieira (Malus domestica Borkh), mangueira (Mangifera indica L.), pitangueira (Eugenia uniflora L.),
araçá-do-mato (Psidium guineense Sw.), videira (Vitis vinifera L.),
cagaiteira (Eugenia dysenterica DC.), araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh), ingá (Inga edulis Mart.), limão Tahiti
(Citrus latifolia Tanaka) e acácia (Acacia mangium Willd.)
(Junqueira, 1962; Mariconi, 1985; Couturier et al., 1999;
Gallo et al.,2002; Silva, 2008; Arnhold & Gonçalvez, 2010;
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No caso examinado, foi constatado que as folhas mais novas e a região apical das árvores atacadas apresenta-vam sinais de rendilhamentos, principalmente nas árvores de E. pellita e, em menor intensidade, nas de E. urophylla
e de E. camaldulensis. Este resultado difere do reportado
por Montes et al., (2012), que indicaram ataques mais
intenso de C. ferruginea em E. urophylla; intermediário,
em E. pellita e com menos injúria em E. camaldulensis, em
plantio no município de Presidente Prudente, SP. No en-tanto, como os mecanismos de resistência de plantas a insetos são influenciados por fatores da própria planta (idade, parte infestada, fenologia, etc) e do inseto (densi-dade populacional, potencial biótico, genótipo etc) e, por fatores climáticos e edáficos (umidade, temperatura, pluviosidade, disponibilidade de nutrientes etc) (Lara, 1991; Marschalek, 2000; Bueno et al., 2006; Morais, 2009),
genótipos de eucalipto cultivados em diferentes regiões tenderão a apresentar diferentes níveis de resistência ao ataque de pragas.
A região preferencial de ataque do inseto concorda com aquela identificada por Mendes et al., (1998), que
relataram a preferência de C. ferruginea por brotos e
par-tes apicais de eucalipto, o que pode causar perdas signifi-cativas do parênquima clorofiliano, prejudicando, assim, seu desenvolvimento. Segundo Montes et al., (2012), o
desfolhamento do terço superior da copa, juntamente com o corte do ponteiro principal, pode implicar perdas de até 168,65 m3 de madeira por hectare.
Possivelmente, a preferência de C. ferruginea por
es-pécies e híbridos de Eucalyptus se dê por características
físico-químicas das folhas, como a presença de fagoestimu-lantes e de altos teores de nitrogênio (Ohmart et al.,1985).
Além desses fatores, existem diferenças de compostos secundários das folhas das espécies de eucalipto, como taninos, outros compostos fenólicos, gorduras e óleos essenciais, que influenciam negativamente no processo de herbivoria (Ohmart & Edwards, 1991).
Costalimaita ferruginea é uma espécie de besouro
desfolhador com ampla distribuição geográfica, que só não havia sido constatada nos Estados do Acre e Tocantins (Mendes et al., 1998). Assim, graças a seu hábito polífago
e a sua ampla ocorrência no Brasil, fazem-se necessários estudos sistemáticos de monitoramento, por parte dos silvicultores, a fim de permitir o registro e o posterior con-trole da infestação, quando no início (Lunz & Azevedo, 2011). Além disso, considerando-se o uso de culturas agrí-colas e florestais, hospedeiras de C. ferruginea, nos
siste-mas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), refor-ça-se a necessidade de extensivo monitoramento das infestações nessas áreas.
Em geral, surtos de besouros desfolhadores em euca-liptos são controlados com inseticidas piretroides (Costa
et al., 2011), embora sinta-se ainda a ausência de
pesqui-sas sobre o impacto ambiental despesqui-sas aplicações e até a do registro de produtos específicos para o controle de C. ferruginea em eucalipto (Agrofit, 2013; Lunz & Azevedo,
2011). Portanto, essas pesquisas se fazem necessárias para se avaliarem inseticidas eficientes no controle desse be-souro em cultivos de eucalipto. No entanto, independen-temente do método de controle a ser adotado, é de funda-mental importância conhecer a dinâmica populacional da praga-alvo e, se possível, obter informações sobre fatores bióticos e, ou, abióticos que influenciam suas populações (Costa et al., 2011), o que ajudaria na escolha de técnicas
de manejo mais racionais e adequadas.
O registro de C. ferruginea no Estado do Acre
contri-bui para o aumento do conhecimento da ocorrência e dis-tribuição geográfica desse crisomelídeo, em plantios de eucalipto, na região amazônica, bem como no Brasil. Estu-dos sobre sua dinâmica populacional, sobre seus níveis de dano e sobre a resistência de espécies e híbridos de eucalipto ao ataque de C. ferruginea são recomendados, a
fim de se traçarem estratégias de controle desse inseto no Estado.
CONCLUSÕES
O besouro-amarelo-do-eucalipto, Costalimaita ferruginea, encontra-se presente no Estado do Acre,
as-sociado a eucaliptais comerciais, sendo observado um ata-que intenso em Eucalyptus pellita.
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