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Um enfoque didático às equações de Maxwell.

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Revista Brasileira de Ensino de F´ısica,v. 37, n. 2, 2301 (2015) www.sbfisica.org.br

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1806-11173721674

Artigos Gerais

Um enfoque did´

atico `

as equa¸c˜

oes de Maxwell

(A pedagogical approach to Maxwell’s Equations)

G.F. Leal Ferreira

Instituto de F´ısica de S˜ao Carlos, Universidade de S˜ao Paulo, S˜ao Carlos, SP, Brazil

Recebido em 4/9/2014; Aceito em 2/2/2015; Publicado em 30/6/2015

Mostra-se como encarar as equa¸c˜oe de Maxwell, tanto para fenˆomenos peri´odicos, reunindo emiss˜ao e o campo de radia¸c˜ao, como para o caso geral, mais interessante, dos aperi´odicos, com as equa¸c˜oes dependentes do tempo, e, em especial, sobre o significado daquelas independentes do tempo. Comenta-se a diferen¸ca do enfoque propi-ciado pela aproxima¸c˜ao de estados quase-permanentes, em que as fontes, cargas e correntes atuais determinam completamente os campos, e o das equa¸c˜oes exatas, em que isto, “stricto sensu”, j´a ocorre.

Palavras-chave:equa¸c˜oes de Maxwell, estados quase-permanentes, fenˆomenos peri´odicos, fenˆomenos aperi´odicos.

It is shown how to regard Maxwell’s equations for both periodic, putting together emission and radiation fields, and non-periodic phenomena, discussing both the time dependent equations as well as the role played by the time-independent ones. The difference in approach resulting from the quasi-permanent approximation, in which the sources feed the fields, and that of the exact equations, in which, strictly speaking, that is no longer true, is commented.

Keywords: Maxwell’s equation, quasi-permanent states, periodic phenomena, aperiodic phenomena.

1. Introdu¸

ao

No ensino do eletromagnetismo, grande parte do tempo ´e dedicada aos aspectos est´aticos, tanto na eletrost´atica e como na magnetost´atica: isso permite ao aluno familiarizar-se com os entes, campo el´etrico e campo magn´etico [1] (um bi-vetor na compacta linguagem da ´algebra geom´etrica [2]). Os fenˆomenos dependen-tes do tempo aparecem na lei da indu¸c˜ao de Faraday, abordando-se ent˜ao, usualmente, os fenˆomenos quase-permanentes de indu¸c˜ao e mesmo os de carga de con-densadores, estes envolvendo correntes ’abertas’. Mas estas abordagens s˜ao realizadas na linguagem de circui-tos el´etricos e fluxos magn´eticos e n˜ao na de campos. Quando retornamos a estes, verifica-se, como Maxwell fez, que para se obter compatibilidade entre as equa¸c˜oes dos campos, e a equa¸c˜ao da continuidade (conserva¸c˜ao da carga el´etrica), deve-se introduzir na equa¸c˜ao do ro-tacional do campo magn´etico, ao lado das correntes re-ais, a corrente de deslocamento, alcan¸cando-se assim o sistema completo das equa¸c˜oes de Maxwell. Mas neste ponto, n˜ao h´a usualmente a preocupa¸c˜ao de se procurar estabelecer o conjunto de equa¸c˜oes que cobrem aqueles importantes estados quase-permanentes antes estuda-dos. Relembraremos aqui (ver Se¸c˜ao 5) que nesta apro-xima¸c˜ao, constru´ıda a partir de emenda `as equa¸c˜oes

est´aticas, a corrente de deslocamento envolve o campo eletrost´atico e n˜ao o campo el´etrico total [3]. Isto cinge as solu¸c˜oes `a regi˜ao pr´oxima das cargas, omitindo a descri¸c˜ao de emiss˜ao de ondas eletromagn´eticas. Neste trabalho, trataremos de alguns pontos relativos `a apre-senta¸c˜ao did´atica das equa¸c˜oes de Maxwell. De posse do seu arcabou¸co completo, a primeira abordagem ´e feita num caso muito particular, o das ondas eletro-magn´eticas livres, em que as fontes s˜ao ignoradas. Em-bora cubra o aspecto importante da transmiss˜ao, gos-tar´ıamos de mostrar que nesse tipo de problema, en-volvendo solu¸c˜oes peri´odicas no tempo, as fontes po-dem ser mantidas sem onerar de forma significativa o c´alculo, permitindo expor, em princ´ıpio, n˜ao s´o a trans-miss˜ao como a cria¸c˜ao de ondas eletromagn´eticas pelas suas fontes. A nossa an´alise ir´a adiante, abordando o caso geral n˜ao-peri´odico — certamente o mais interes-sante —, onde, seguindo L. J´anossy [4], verificar-se-´a na Se¸c˜ao 4 que duas s˜ao efetivamente as equa¸c˜oes de Maxwell — somente aquelas envolvendo o tempo —, as outras duas sendo apenas equa¸c˜oes acess´orias, de de-fini¸c˜ao de grandezas. A´ı veremos que os campos el´etrico e magn´etico s˜ao determinados a partir de seus valores iniciais e da densidade de corrente como fonte e gozam em rela¸c˜ao a esta ´ultima de uma certa autonomia que viola a estreita correla¸c˜ao entre fontes e campos

(2)

2301-2 Ferreira

mida da conceitua¸c˜ao vinda da apresenta¸c˜ao inicial da est´atica. Mas aquela correla¸c˜ao de fato existe na apro-xima¸c˜ao dos estados quase-permanentes quando cargas e correntes determinam os campos, como ser´a exami-nado na Se¸c˜ao 5.

2.

As equa¸

oes de Maxwell

Tomaremos as equa¸c˜oes de Maxwell no CGS gaussiano, comca velocidade da luz. Elas s˜ao, no v´acuo,

∇·E= 4πρ, (1)

∇×E=−1

c ∂B

∂t, (2)

∇·B= 0, (3)

∇×B= 4πJ c +

1 c

∂E

∂t, (4) em queE eBs˜ao os campos el´etrico e magn´etico, ρe

J, as densidades de carga e de corrente de condu¸c˜ao, todas as grandezas em princ´ıpio fun¸c˜oes da posi¸c˜aoxe do tempot.

Notemos que se achamos a divergˆencia da Eq. (4), obtemos a equa¸c˜ao da continuidade

∇·J+∂ρ

∂t = 0, (5) que n˜ao necessita ser considerada como integrante do sistema das equa¸c˜oes de Maxwell, mas que desempe-nhar´a seu papel na aproxima¸c˜ao dos estados quase-permanentes.

3.

Fenˆ

omenos peri´

odicos

No caso de fenˆomenos peri´odicos, de frequˆencia angular ω, a dependˆencia no tempo ´e do tipoeiωt

, e as Eqs. (1)-(4) tornam-se em

∇·E= 4πρ, (6)

∇×E=−iω

c B, (7)

∇·B= 0, (8)

∇×B= 4πJ c +

c E, (9) e

∇·J =−iω

c ρ, (10) em que, por economia de s´ımbolos, mantivemos as de-signa¸c˜oes das grandezas embora elas agora s´o depen-dam da posi¸c˜aox.

Substituindo o valor de B em fun¸c˜ao de E pela Eq. (7) e desenvolvendo o termo∇×∇×Ena Eq. (9), vem

∇∇·E− ∇2E=−iω

c

(

4πJ c +

iω c E

)

. (11)

Usando agora a equa¸c˜ao de Poisson, Eq. (5), e subs-tituindoρem fun¸c˜ao deJna Eq. (18), vem

∇2E+ω 2 c2E=

4πi ω

(ω2

c2J+∇∇·J

)

, (12)

equa¸c˜ao que exibir´a explicitamente as fontes do campo el´etrico ao separarmos J em uma corrente longitudi-nal JL e outra transversal JT, tais que∇×JL = 0 e

∇·JT = 0.

A corrente longitudinal (irrotacional) contribui em ambos os termos entre parˆenteses no lado direito da Eq. (12), termo temporal e termo espacial, enquanto que a transversal (solenoidal), apenas no termo tempo-ral, dependente de ω. Pela Eq. (7), B´e proporcional ao rotacional deE. Logo, se aplicarmos o rotacional a ambos os membros da Eq. (12), obteremos uma rela¸c˜ao mais simples — na verdade uma simples equa¸c˜ao de onda inomogˆenea —, tendo em vista que o rotacional de um gradiente ´e nulo. Tem-se ent˜ao

∇2B+ω 2 c2B=−

c ∇×JT, (13) mostrando que as fontes do campo magn´etico oscilante s˜ao exclusivamente as correntes transversais.

No caso de fontes localizadas, como no caso de um fio retil´ıneo com corrente,Btem origem na descontinui-dade transversal da corrente, gerando correntes super-ficiais azimutais na sua superf´ıcie. Levado esse caso ao limite do dipolo oscilante, este fato mostra que o campo magn´etico irradiado pelo dipolo oscilante faz formal-mente papel semelhante ao do potencial vetor no tra-tamento usual, e ´e tamb´em exclusivamente azimutal.

4.

Equa¸

oes de Maxwell,

fenˆ

omenos

aperi´

odicos

Como gerar solu¸c˜ao de sistema de equa¸c˜oes envolvendo o tempo ´e construir o futuro, dadas as fontes e con-dic˜oes iniciais adequadas em t = 0 [4], vemos que as equa¸c˜oes importantes no sistema da Se¸c˜ao 2 s˜ao as Eqs. (2) e (4), envolvendo o tempo, tendo a densidade de corrente J(x, t) como fonte. Mas que papel tˆem as Eqs. (1) e (3)? Elas s˜ao equa¸c˜oes acess´orias, de de-fini¸c˜ao a Eq. (1), e de condi¸c˜ao inicial a Eq. (3). De fato, dados E(x,0) e B(x,0), este satisfazendo a condi¸c˜ao

∇·B(x,0) = 0, a Eq. (1) define a densidade inicial de carga, e as Eqs. (2) e (4) geramB(x,∆t) eE(x,∆t) no tempo ∆t.

(3)

Um enfoque did´atico `as equa¸c˜oes de Maxwell 2301-3

correntes, e que manter-se-´a na aproxima¸c˜ao dos esta-dos quase-permanentes, que analisaremos na pr´oxima se¸c˜ao.

Concluindo, vˆe-se que os campos ganham autono-mia em rela¸c˜ao `as fontes atuais, j´a que n˜ao ´e poss´ıvel inferi-los diretamente das fontes a partir de um instante inicial: o conhecimento deρ(x,0) n˜ao permite o c´alculo deE(x,0). E haver´a uma dinˆamica mesmo queJ(x, t) seja nulo parat≥0, devido ao campo eletromagn´etico livre, agora abrangido na solu¸c˜ao (o que n˜ao ocorrer´a com as equa¸c˜oes aproximadas). Note-se tamb´em que poder´ıamos transformar as duas equa¸c˜oes, Eqs. (2) e (4), em uma ´unica, de ordem superior, em termos de um dos campos, por´em com perda de vis˜ao da mecˆanica da solu¸c˜ao.

5.

Aproxima¸

ao de estados

quase-per-manentes

Na Eletrost´atica aprendemos a calcular o campo ele-trost´atico h(x) e o campo magnetost´atico solenoidal

B(x) a partir de sua fontes, cargas e correntes. Com a Lei da Indu¸c˜ao, os fenˆomenos e os campos agora depen-dem do tempo e adicionamos ao campo el´etrico a com-ponente solenoidal, S(x, t), regidos, esta e h(x), pelas equa¸c˜oes

∇·h= 4πρ, ∇×h= 0,

∇·S= 0, ∇×S=−∂B

∂t , (14)

E=h+S, (15)

∇·B= 0, ∇×B= 4πJ c +

1 c

∂h

∂t, (16)

∇·J+∂ρ

∂t = 0, (17)

que formam um sistema consistente com a equa¸c˜ao da continuidade, Eq. (5), como pode ser visto tomando-se a divergˆencia dos dois lados da segunda das Eqs. (16). A equa¸c˜ao da continuidade, Eq. (17), deve agora ser incorporada ao sistema, o que se justifica pela presen¸ca do campo adicional, S. O sistema difere do exato pela presen¸ca, no lado direito da segunda das Eqs. (16), do campo eletrost´atico h no lugar do campo el´etrico to-tal E, Eq. (4). Isto confina as solu¸c˜oes do sistema, Eqs. (14)-(17), `a regi˜ao pr´oxima `as fontes, excluindo a radia¸c˜ao. Mais exatamente, pode-se mostrar que o sistema ´e correto para velocidade v das cargas tal que v2/c2 1, acelera¸c˜ao a at´e distˆancias r tais que ar/c21 [3].

Vamos ver como a densidade de carga inicial, ρ(x,0), e a densidade de corrente,J(x, t), determinam os campos h(x, t), S(x, t) e B(x, t). Admite-se que, do conhecimento da densidade de carga, o campo ele-trost´atico fica determinado, ainda que, num procedi-mento num´erico, tal pr´atica introduzisse infind´aveis

in-tegra¸c˜oes espaciais. Com isto, como temos incorporado a equa¸c˜ao da continuidade, Eq. (5), podemos calcular ρ(x,∆t) no instante ∆te da´ı determinarh(x,∆t), em princ´ıpio, pelas primeiras das Eqs. (14). Como conhece-mosh(x,0) isto permite conhecermos tamb´em∂h/∂t, e com isto,B(x,0) fica determinado pelas Eqs. (16). Re-petindo o procedimento para os tempos ∆t e 2∆t, de-terminamosB(x,∆t), permitindo obter-seS(x,0) pelas ´

ultimas das Eqs. (14) e o campo el´etrico E(x,0) pela Eq. (15), e assim para os ∆t’s seguintes. Vˆe-se que s˜ao os campos solenoidalSe el´etricoE(x, t) que vˆem agora a reboque do c´alculo. E assim, podemos afirmar que as fontes atuais determinam os campos.

Por outro lado, ´e f´acil de se ver que, para fenˆomenos peri´odicos, em lugar da Eq. (13), obt´em-se

∇2B=−4π

c ∇×JL. (18)

6.

Considera¸

oes finais

Acreditamos ter apresentado aqui uma forma mais did´atica de encarar as equa¸c˜oes de Maxwell: no caso peri´odico, reunindo transmiss˜ao e cria¸c˜ao; no aperi´odico, discriminando o papel das equa¸c˜oes, e no caso dos quase-permanentes, mostrando sua correla¸c˜ao com a vis˜ao est´atica de vincula¸c˜ao estreita entre fontes e campos.

Agradecimentos

Agradecemos a Luiz Nunes de Oliveira pela leitura cr´ıtica e sugest˜oes incorporadas ao texto.

Nota do Editor

Esse artigo j´a estava praticamente aceito quando rece-bemos a not´ıcia do falecimento do autor, ocorrido em S˜ao Calos, no ´ultima dia 10 de janeiro desse ano. Las-timamos a perda do professor Guilherme Fontes Leal Ferreira, que era um colaborador pioneiro e muito cons-tante das publica¸c˜oes da SBF.

Referˆ

encias

[1] J.B. Marion, Classical Eletromagnetic Radiation

(Academic Press, New York, 1965).

[2] J. Vaz, Revista Brasileira de Ensino de F´ısica19, 234 (1997).

[3] G.F. Leal Ferreira, Revista Brasileira de Ensino de F´ısica23, 395 (2001).

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