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A relação entre suppositio e significatio na Summa Logicae de Guilherme de Ockham.

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(1)

A RELA;Ao ENTRE

SUPPOSITIO

E

SIGNIFICATIO

NA

SUMMA LOGICAE

DE GUILHERME DE OCKHAM

Ernesto Perini SANTOSl

• RESUMO : Os conceitos de sinificatio e de supposiio sao centrais na semmtica ockhamiana; a pri­ meira no;ao e uma propriedade de termos isolados; a seunda, de termos em proposi;oes . A com­ preensao da rela;ao entre os dois e muito importante ; esta em jogo 0 carater atomista ou proposicional de sua semantica. A defini;ao de cada un destes termos remete a defini;ao do outro, nao sendo possivel determinar a priori dade de un sobre 0 outro a partir de suas defini;oes . Ambos termos ten excessos em rela;ao ao outro, cobrem casos nao cobertos pelo outro. A analise destes excessos per­ mite identificar 0 termo dominante para explica;ao de tipos diferentes de fen6menos lingiisticos. Estes tipos de fen6menos sao identiicados como campos conceituais diferentes, 0 que permite es­ tabelecer a prioridade de un termo sobre 0 outro em campos diferentes da semantica .

• PALAVRAS-CHAVE : Signiicaio; supposiio; semantica.

I

Qual a relaQ.o entre

significaio e supposiio

em Ockham?

A

significaQ.o e uma

propriedade do termo tonado isoladamente. Un signo linguistico e significativo se

traz algo ao conhecimento e pode supor por este algo numa proposiQ.o . Esta definiQ.o

n.o diz que un termo s6 e significativo numa proposiQ.o, mas que ele deve poder

entrar numa proposiQ.o, ou e ele mesmo uma proposiQ.o. Ser significativo e uma

propriedade pre-proposicional do termo .

A

suposiQ.o e uma propriedade proposi­

cional do termo . Un termo s6 supae pOI algo numa proposiQ.o . Voltaremos as defi­

niQaes de uma e outra propriedade, mas podemos ja ver que definindo uma ou outra

como prioritaria estamos fazendo uma oPQ.0 por uma semantica atomista ou propo­

sicional. Com efeito , se dissermos que a propriedade fundamental do termo e a signi­

ficaQ.o , diremos que a semantica fundamenta-se em propriedades do termo tonado

isoladamente ; inversamente, se fizermos a oPQ.0 pela suposiQ.o, diremos que a se­

mantica interessa-se por propriedades que ocorrem em contextos proposicionais .

0

1 Professor de Filosofia - Universidade Federal de Minas Gerais -3 1 270-900 -Belo Horizonte - MG.

(2)

que esta em jogo nao e pouco , procuramos definir qual e a instancia fundamental de

uma teoria do signo linguistico, a partir de duas no:6es basicas . Determinar assim a

rela:ao entre

signficaio

e

supposiio

e uma tarefa importante na compreensao da

semantica ockhamiana. Nao iremos refazer

0

rico debate sobre este tema na literatura

ockhamiana, os comentadores serao considerados somente na medida em que inte­

ressar ao argumento .

Nao e possivel dizer que uma no:ao se define em virtude da outra. A defini:ao

de signo linguistico remete

a

suposi:ao e inversamente . Vamos inicialmente caracte­

rizar a circularidade de defini:6es . Em seguida, veremos os excessos da suposi:ao e

da significa:ao e

0

que os caracteriza. Analisaremos, por fim, a rela:ao entre os dois

excessos , que remetem a casos nos quais nao

l

excesso algum. Esta estrategia nos

permitira estabelecer uma rela:ao entre suposi:ao e significa:ao que nao e de prio­

ridade de uma sobre a outra, mas de dominios conceituais diferentes .

II

A defini:ao de "signo linguistico " faz referencia

a

propriedade de suPoI :

Compreende-se de outra maneira signo como aquilo que faz vir algo ao conhecimento e esta destinado por natureza a supor por este algo ou a ser adicionado a tl tipo de signo numa pro­ posi:ao . . . ou 0 que e destinado a ser composto de tais sinos, como a rase. (Ockham, 1989, p.7)2

Propomos a seguinte defini:ao de "signo linguistico" :

Def.

signo lingUistico: x

e un signo lingUistico se e somente se

x

traz

0

conhe­

cimento de

a,

se

x

e apreendido,

a

e diferente de

x

e

x

pode supor por

a

numa pro­

posi:ao, fazer parte de uma proposi:ao ou e uma proposi:ao .

Un signo linguistico significa aquilo por que pode SUpOI. A suposi:ao a que

O ckham faz referencia aqui e a suposi:ao pessoal (Sp) ;

pela defini:ao, un signo sup6e

por aquilo que significa,

0

que e proprio da suposi:ao pessoal. A defini:ao da supo­

si:ao pessoal, pOI sua vez , faz referencia ao significado do termo .

De maneira geral, a suposi:ao e pessoal quando

0

termo sup6e por seu signi­

ficado . . 3

Propomos a seguinte defini:ao de "suposi:ao pessoal" :

Def.

suposi;ao pessoa1: x

sup6e em suposi:ao pessoal por

a

se e somente se

x

significa

a , x

ocupa a posi:ao de sujeito ou predicado numa proposi:ao e

x

fica no

lugar de

a .

2 "Aliter accipitur sign um pro ilia quod aliquid facit in cognition em venire e t natum est pro ilia supponere vel tali addi in propositione . . . vel quod natum est componi ex talibus, cuiusmodi est ora tio. " Somme de Loique doravante sera citada como SL.

3 "Suppositio personalis, universaliter, est iia quando temnus supponit pro suo signficato . . . " , (SL, p.201).

(3)

As defini;oes sao circulares , nao e possivel dizer, a partir das defini;oes , qual

a

no;ao prioritaria,4 como parece pretender Loux ( 1 979, p .420). Deve-se observar, com

Panaccio , que esta circularidade de defini;oes nao e tao grave quanto

0

seria numa

constru;ao axiomatica (1984) . Na ordem da defini;.o , como diz ainda Panaccio , nao

M prioridade . Mas nao M so circularidade de defini;oes entre

significaio

e

supposiio,

M tambem excessos num e noutro caso . Un termo po de supor por algo que nao

significa e significar algo por que nao supoe . Nosso proximo passo sera examinar

estes excessos, para esclarecer a rela;ao entre estes dois conceitos na

Summa 10gicae

de Ockham.

III

A suposi;ao excede a significa;ao quando un termo em suposi;ao simples (SS)5

ou em suposi;ao material (SM)6 supoe por algo que nao significa. Estes casos podem

ser identificados genericamente a no;ao contemporanea de men;ao, em oposi;ao ao

usa, que se identifica com a suposi;ao pessoal. Nos dois casos, os termos sao tonados

nao significativamente . Quais sao as condi;oes de tal excesso? Inicialmente, as con­

di;oes gerais da suposi;ao. Podemos definir "suposi;ao" sem considerar seus dife­

rentes modos, da seguinte forma :

Def.

Suposi;ao :

un termo

x

supoe por

a

se e somente se

x

esta na posi;ao de

sujeito ou predicado numa proposi;ao e

x

fica no lugar de

a .

As condi;oes da suposi;ao, independentes d e seu modo, sao :

a)

0

termo estar numa proposi;ao ;

b)

0

termo estar em posi;.o de sujeito ou predicado ;

c)

0

termo ficar no lugar de alguma coisa.

A condi;ao (a) restringe a propriedade de suposi;ao em rela;ao

a

significa;ao,

pois un termo e significante independentemente de sua inser;ao proposicional,

0

que nao ocorre com a suposi;ao . A condi;ao (b) refere-se a "termo " no sentido pri­

meiro do Capitulo 2 :

o nome "termo" compreende-se de tres modos . Num sentido, chama-se "termo" tudo aqui-10 que pode ser a copula au a extrema de uma proposi:ao categorica, a saber 0 sujeita au a preicada au ainda uma determina:ao de um extrema au de um verba 7

4 " The conclusion of this is tha t, according to the order of definition, neiher the n oion of sinicaion n or tha t of suppsition is logically pior to he other one in Ockham 's semanics" (Panaccio, 1 984, p . 67).

5 "Suppositio simplex est quando termin us supponit po intentione animae, sed n on tenetur signiicative . . . ", (SL, p.20 1 ) .

6 "Suppositio est materialis est quando termin us non supponit signiicative, sed supponit vel pro voce vel pro scipto"

(SL, p .202)

7 "Est autem sciendum quod hoc nomen 'termin us ' tipliciter accipitur. Uno modo vaca tur termn us omne ilud quod potest esse copula vele extemum propositionis categoicae, subiectum idelicet vel praeicatum, vel etiam determinatio extremi vel verbi' " (SL, p . 8).

(4)

Este sentido inclui termos simples e complexos,8 tomados significativamente

ou na0 9 Em uma frase como "as moscas engra;adas chegaram" , 0 termo que supoe

8 " as moscas engra;adas" , nao apenas "moscas " . Na frase " 'a mesa 8 verde ' 8 uma

frase " , 'a mesa

e

verde ' esta em SS e

e

um termo apenas no sentido acima apontado,

j a que 8 um termo complexo tomado nao significativamente .

0

excesso esta indicado

no segundo item, ja que termos supoem por algo que nao podem significar se nao

sao tomados significativamente.

0

item (c)

e

um termo primitivo, que identificamos

quando estao realizadas as outras condi90es da suposi9ao lO

0

excesso da suposi9ao

em rela9ao

a

significa9ao esta portanto em termos (no primeiro sentido do Capitulo

2)

em context os proposicionais tomados nao significativamente. S6 M termos tomados

nao significativamente em contextos proposicionais . Um termo s6 pode estar em SM

ou em SS

num contexto proposicional, porque em tais casos deve haver um termo

em suposi9ao SP no outro extrema da proposi9ao ll Para que um termo suponha em

SS

ou SM,

e

necessario que 0 outro extrema da proposi9ao signifique 0 conceito (SS),

ou 0 som vocal ou a marca escrita (SM) pelo que vai supor 0 termo tomado nao signi­

ficativamente . No exemplo acima, "a mesa 8 verde" esta em suposi9ao simples porque

8

sinificada como rase pelo predicado "8 uma frase" . A suposi9ao

e

un conceito que

8 mais amplo que 0 de significa9ao se consider amos os termos em proposi90es .

Quando a significa9ao excede a suposi9ao? Un termo significa de maneira se­

cundaria aquilo por que nao pode supor, 0 que nao depende de um contexto propo­

sicional. " Branco " remete, de maneira secundaria,

a

brancura, mesmo fora de uma

proposi9ao .

0

que determina 0 excesso da significa9ao neste caso?

0

termo ter mais

de un significado, isto

e,

significar de mais de um modo aquilo que significa. Termos

conotativos sao justamente termos que significam aquilo que significam de mais de

un modo, 12 em oposi9ao a termos absolutos . 13 Ha uma primeira oposi9ao em rela9ao

a

suposi9ao : nao interessa aqui a inser9ao proposicional do termo . Esta oposi9ao

aponta para uma outra, a do sentido de "termo" . No caso anterior, vimos como "ter­

mo" 8 tomado no sentido da primeira defini9ao do Capitulo

2.

Neste caso, "termo "

e

tonado no sentido da segunda defini9ao deste mesmo Capitulo .

E

termo todo ele­

mento incomplexo, distinto da proposi9ao.

E

neste sentido de "termo" que podemos

falar de termos conotativos e absolutos. Ockham mesmo diz que 8 neste sentido que

8 "Et isto modo etiam una propositio potest esse termn us, sicut potest esse pars proposition is" , (Ibidem). 0 fato de poder ser um elemento complexo opoe este senti do de "termo" ao segundo sentido do Capitulo 2 : "Aliter a ccipitur hoc nomen 'temin us' secundum quod distinguitur contra oraion em; et sic omne n complexum vocatur temin us" , (Ibidem).

9 Termos neste sentido podem supor se tomados nao significativamente, contrariamente ao terceiro sentldo do Capitulo 2 : " Tertio modo accipitur 'teminus ' praecise et mais sticte pro illo quos signiicaive sumptum potest esse subiectum vel praedicatum propositionis" (Ibidem).

1 0 Supomos aqui asser:oes verdadeiras, 0 que nao infiui no nosso argumento.

1 1 "Sed termin us non in omni propositione potest habere supposition em simplicem vel materialem, sed tunc tantum quando termin us talis compara tur aJteri extremo quod respicit intentionem animae vel vocem vel scriptum " , (SL, p . 204).

12 "Nomen autem connotativum est llud quod signficat aliquid pimaio et aliquid secundaio" , (SL, p . 1 6). 1 3 "Nomina mere absoluta sun t lla quae non significan t aiquid pncipaliter et aliud vel idem secundaio, sed quidquid

signiica tur per illud nomen, aeque pimo signficatur. . . " (Ibidem}.

(5)

"termo" e tonado na

Summa.

14

Sao conotativos termos simples, un termo complexo

nao e dito conotativo .

E

claro que , sendo uma propriedade do termo independente

do contexto proposicional,

0

termo aqui nao pode ser tonado nao significativamente,

o que s6 ocorre numa proposi9aO .

A rigor, nao se deveria falar em "ser tonado" de modo algum, ja que un termo

s6 e tonado de tal ou tal modo em uma proposi9aO . Convem esclarecer

0

sentido de

"ser tonado significativamente " . Un termo esta em SP quando e tonado signifi­

cativamente, e isto a distingue dos outros tipos de suposi9aO . Termos tonados em

SP e apenas termos tonados em SP sup6em pOI seu sinificado. Ora, termos em SP e

apenas eles sao tonados significativamente, assim, " supor pOI seu significado " e " ser

tonado signiicativamente" sao equivalentes, nos dois casos identiicamos os term os

em SP. 15 Assim, se consideramos

0

significado de un termo, tratamos daquilo porque

sup6e se tonado significativamente .

E

claro que, tratando do excesso da significa9aO

sobre a suposi9aO, un termo significa algo por que sup6e e algo pOI que nao pode

SUpOI.

IV

Ora, num e noutro caso a possibilidade dos excessos refere-se a un termo no

qual nao ha excesso , seja un termo em

SP,

seja un termo que nao significa nada por

que nao possa SUpOI. Un termo que sup6e em

SS

ou

SM

sup6e por aquilo que nao

significa e esta possibilidade e ela mesma coordenada pOI un termo em

SP,

que sup6e

por aquilo que significa. A possibilidade da suposi9aO exceder a significa9aO refere-se

a un termo cujos

supposita

identificam-se aquilo que significa.

Termos que significam algo por que nao sup6em sao termos que ten uma signi­

fica9aO primaria e uma significa9aO secundaria. Eles significam aquilo que significam

os termos principais a partir dos quais foram impostos , pelo que nao podem SUpOI.

Esta referencia ao significado principal aparece no Capitulo 33 de

SL,

no terceiro sen­

tido de "significar" :

Compreende-se "significar" de outro modo quando se diz que e significado aquilo a partir do que 0 som vocal foi imposto ou aquilo que e significado de modo primario pelo conceito prin­ cipal ou pelo som vocal principal. Deste modo, dizemos que "branco" signiica a brancura, porque "brancura" significa a brancura, pelo que contudo 0 signo "branco" nao sup6e.16

1 4 " Visa aequivocatione istius nomnis 'termin us ' prosequendum est de diisionbus termni incomplexi" (SL, p . l 0). Na verdade, ao dizer que a suposi:ao trabalha com outro sentido de termo, dizemos que Ockham nao usa 0 mesmo sentido de "termo" ao longo de toda Summa. Parece-nos, contudo, que ele usa 0 sentido 2 de "termo" nos capitulos que se seguem a esta declara:ao, mesmo se, para sabe-lo, seja preciso ver qual sentido e operacional.

15 Ockham diz que nao basta dizer que un termo sup6e por seu sinificado para estar suposi:ao pessoal, e preciso dizer que e tonado significativamente. Esta precisao, diz Biard , deve-se aos diferentes tipos de Significado (Ct. 1 989, p.80), mas pode ser desconsiderada; alguns importantes comentadores 0 fazem : ct. Loux, 1 974, p.24; Karger, 1 984, p.90 ; Adams, 1 987, p . 346; Panaccio, 1 99 1 , p . 37. Boehner acredita ser necessario a precisao, mas sua ex­ plica:ao parece-nos redundante (ct. 1992, p. 237).

16 "Aiter a ccipitur 'significare ' quando illud dicitur significai a quo ipsa vox mponitur vel ilud quod pimo modo signicatur per conceptum prncipalem vel vocem pncipalem. Et sic dicimus quod 'album ' significa t albedinem,

(6)

Nao entraremos aqui na discussao deste trecho, que envolve uma relaQao entre

signos nem sempre considerada pelos comentadores. Basta notar como "branco" re­

mete

a

brancura, que nao significa de modo primario, pelo que portanto nao pode

SUpOI. Por que "branco" significa a brancura neste sentido de "significar" ? Porque

significa aquilo a partir do que foi imposto . "Branco " remete justamente aquilo que

e

significado por "brancura" , que , sendo un termo absoluto, supae por aquilo que

significa .

E

justamente isto que queriamos estabeleceI. Un e outro excesso remetem

a situaQoes nas quais n

a

o ha excessos, ou seja, a termos em

SP

ou a termos absolutos .

Vimos no inicio do texto como os casos principais da suposiQao

(Sp),

que de­

termina a possibilidade do desvio da suposiQao, e da significaQao (termos absolutos),

a partir do qual sao impostos os term os cuja significaQao excede a suposiQao, remetem

un ao outro, ou seja, nao saimos da circularidade das definiQaes .

A passagem pelos excessos nos indica, contudo, campos diferentes dominados

ou pela suposiQao ou pela significaQao . A suposiQao

e 0

conceito central no nivel

proposicional.

Inicialmente, Ockham quer tomar a no;;ao d e referencia padrao ou supposiio pessoal como conceitualmente anterior a no;;ao de sentido ou significaio; ele quer dizer que nao . rela;;ao palavra-mundo semanticamente mais fundamental do que aquelas envolvidas no funcionamento de un termo como artificio de referencia (refering deice) em contextos proposicionais normais. (Lox, 1979, p 423)17

Considerada no nivel proposicional, a linguagem ten como conceito central

a

suposiQao .

0

sentido de "termo" usado na deiniQao de "suposiQao" considera a lingua­

gem ja formada, ja constituida em proposiQaes ;

0

termo ai

e 0

resultado da consideraQao

de sua funQao sintatica em proposiQaes . Se toda lingua gem for proposicional, a su­

posiQao

e 0

conceito central.

Mas toda linguagem e

proposicional em Ockham?

A compleidade desta rela;;ao entre significa;;ao e suposi;;ao manifesta-se no aspecto te­ leol6gico dos enunciados que concernem ao signo e a significa;;ao. 0 signo esta destinado a supor , ele e definido por esta aptidao ao mesmo tempo em que ele e colocado como anterior. Resumindo, a significa;;ao e colocada como suposi;;ao potencial. (Biard, 1989, p 93)18

quia 'albedo' significat albedinem, pro qua tamen albedine non supponit hoc signum 'album' " (SL, p. 100).

1 7 0 segundo ponto de que Loux trata, que entender 0 sentido de un termo "is rather to be understood in tems of recognitionaJ skils or identijcatoy abiiies" (p.423), nao se deve a prioridade da suposi�ao sobre a sigmfica�ao, mas ao nominalismo de Ockham (Cl. Panaccio, 1 984, p.63).

18 A interpreta�ao de Biard, assim como a De Rijk (1 982), favorece a suppositio, as expensas da signiicatio. Em ambos os casos, a abordagem e mais historica. Parece claro, tanto em De Rijk quanto em Biard ( 1 989), que a evolu�ao da logica medieval parte da ideia de significa�ao atemporal e independente de contexto de un termo em dire�ao a ideia de suposi�ao, e Ockham e, neste como noutros pontos, fundamental artifice da mudanGa. Isto nao significa, no entanto, nem que Ockham tenha realizado toda a passagem na sua obra, nem que devamos projetar evolu�6es que se realizaram plenamente depois dele e eventualmente a partir dele como acabadas na

(7)

o

signo assim definido e

0

signo linguistico . Ele s6 e signo

ingisico

na medida

em que pode entrar numa proposiQao , que e aquilo que

0

diferencia de outros tipos

de signo .

0

fato de ser destinado a fazer parte de uma proposiQao, supondo ou nao,

distingue "signo linguistico" de "signo" no Capitulo 1 de

SL.

Un signo linguistico que pode entrar numa proposiQao nao esta contudo ne­

cessariamente numa proposiQao .

t

dificil justificar esta posiQao na

Summa ,

porque

un signo nao esta num contexto proposicional se considerarmos sua genese a partir

da experiencia, que nao

e

tematizada na

Summa .

Assim, na

Orlinatio,

que trata da

teoria do conhecimento, podemos ler :

todo ato judicativo pressupoe na mesma potEmcia 0 conhecimento incomplexo dos termos, porque pressupoe 0 ato de apreensao, e o ato de apreensao a respeito de un certo complexo pressupoe o conhecimento incomplexo dos termos . . . (Ockham, 1967, p.21}19

Esta passagem refere-se a termos mentais, mas a propriedade de ser signifi­

cativo fora de contextos proposicionais pode ser transferida a termos convencionais

a eles associados . Do ponto de vista da origem da significaQao, a linguagem nao e

necessariamente proposicional, ou antes os termos nao estao necessariamente em pro­

posiQoes. Ao contrario , a apreensao de complexos (proposiQoes) pressupoe a apreen­

sao de incomplexos (termos), que sao, portanto, anteriores e podem existir no intelecto

sem as proposiQoes . Ora, deste ponto de vista, nao a suposiQao, mas a significaQao,

e

prioritaria.

Considerando a linguagem un conjunto de proposiQoes , a suposiQao

e 0

con­

ceito principal; considerando a linguagem do ponto de vista do surgimento da signifi­

caQao a partir da experiencia, isto e, a partir de uma teoria do conhecimento, a significaQao

e

0

conceito principal.

t

interessante observar como ambos aparecem no texto da

Summa ,

no qual poderiamos esperar que apenas a suposiQao dominasse . Os dois ex­

cess os encontrados indicam precisamente que os dois conceit os centrais da seman­

tica ockhamiana sao alternadamente dominantes no texto mesmo da

Summa

e em

campos ben precisos .

Ha uma mudanQa do sentido de "termo " ,

0

que e un fato importante quando

se trata justamente da 16gica dos termos ,

0

tema da primeira parte da

Summa .

Os

fatos relevantes tambem nao sao os mesmos . Nao e a mesma coisa, com efeito, re­

ferir -se

a

origem do significado de un termo na experiencia e referir -se

a

organizaQao

de termos numa proposiQao . Ha uma mudanQa de ponto de vista, ou seja, os fatos

considerados relevantes num contexto nao

0

sao em outro . Nao interessa saber

0

termo mental a partir do qual un termo convencional foi imposto para saber em que

tipo de suposiQao esta. Inversamente, a inserQao proposicional de un termo nao e

relevante se vamos considerar a imposiQao de un termo .

sua obra, mesmo que elas se encontrem ai como tend en cia ou in n uce.

19 " quod omnis actus iudicativus praesupponit in eadem potentia notitiam incomplexam temnorum, quia presu­ pponit actum aprehensivum. Et actus aprehensivus respectu alicuius complexi presupponit notiiam incomplexam terminorum .. . " ; este texto e citado em Panaccio, 1 984, p.68.

(8)

Se podemos definir onde cada no;ao e dominante, nao podemos separa-Ias de

maneira estanque . Da linguagem ja organizada em proposi;oes, somos remetidos

a

rela;ao entre termos que se explicam a partir da origem da significa;ao . E , inversa­

mente ,

0

signo lingifstico, mesmo quando definido antes de sua inser;ao proposi­

cional, define-se como lingifstico pela possibilidade da inser;ao proposicional. Esta

e a circularidade de defini;oes . Ha uma outra circularidade, que nos remete de un

e outro excessos a casos nos quais nao ha excesso .

Sugerimos assim que existem na prime ira parte da

Summa

dois dominios con­

ceituais distintos, que consideram aspectos diferentes da linguagem e usam diferen­

tes sentidos de "termo" . Num destes dominios, onde "termo" e deinido como elemento

simples e a linguagem e consider ada a partir de sua origem na experiencia, a no;ao

de

siicaio

e mais importante. No outro dominio, on de "termo" e deinido a partir de

sua fun;ao sintatica e consideram-se as rela;oes entre os signos, a no;ao de

supposiio

e prioritaria. Devemos estar atentos as ferramentas conceituais usadas em cada caso

para entender que no;ao e dominante em cada momenta e que aspectos da lingua­

gem sao relevantes . Esta e uma distin;ao de metodo, dirfamos hoje, para abordar

aspectos diferentes da teoria do signo lingiistico . Nao sao abordagens contraditorias,

mas complementares . Ha uma duplicidade de metoda que procura se adequar

a

com­

plexidade dos fen6menos abordados . Se esta duplicidade nao e tematizada par

O ckham, ela e pelo menos praticada, como acreditamos ter mostrado parcialmente

neste texto .

SANTOS, E .

P . Suppositio

and

signiicaio

in Ockham's

Summa Loicae. TranslFormlA;ao (Sao Pa ulo),

v. 19, p. 195-203, 1996 .

• ABSTRACT: Signiicatio and suppositio are cenral noions in Ocham 's semanics; he former is propriety of isolated terms, he later, of terms in proposiional contexts. Understandng he relaion between both noions is mportant to determine he atomisic or propositonal character of Ockham 's semanics. The deniion of each term refers to he oher, not aloing any pioity of one of hem. Boh terms exceed one anoher, covering cases which are ouside he scope the oher. We ideniy, hrough he analyss of his excess the dominant term for he explanaion of diferent ins of ingusic phenomena. These dfferent kinds of phenomena are ideniied ith two dfferent conceptual ields, each term (suppositio and significatio) being dominant in one ield.

• EYWORDS: Significatio; suppositio; semanics.

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