• Nenhum resultado encontrado

A visão sócio-política de D. Duarte no Leal Conselheiro e em sua legislação

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A visão sócio-política de D. Duarte no Leal Conselheiro e em sua legislação"

Copied!
184
0
0

Texto

(1)

A V ISÃ O SÓ CIO -PO LÍTICA D E D . D UA RTE N O LEA L

CO N SELHEIRO E EM SUA LEG ISLA ÇÃ O

M ESTRA D O EM H ISTÓRIA

(2)

A V ISÃ O SÓ CIO -PO LÍTICA D E D . D UA RTE N O LEA L

CO N SELHEIRO E EM SUA LEG ISLA ÇÃ O

D issertação ap resentad a à Banca Exam inad o ra d a Univ ersid ad e Fed eral d e Go iás, co m o exig ência p arcial p ara a o btenção d o título d e M estre em H istó ria, so b a o rientação d o Pro f. D r. Jo sé A ntô nio C. Camarg o Ro d rig ues d e So uz a

(3)
(4)

Dedicató ria

Para meu filho Jo rg e M ig uel, razão d o meu v iv er e a quem tiv e que p riv ar d a m inha d ed icação exclusiv a e d o meu temp o limitad o p ara co ncluir este so nho .

Para minha m ãe, Od ete, que me ap o io u ao máximo e a quem minhas exig ências castig aram.

À meus irm ão s, V ânia, Júnio r e Marcelo , que semp re me d eram fo rças e que nunca me neg aram ajud a.

À meus amig o s d a UFG, d o Trabalho d e M estrad o e o s d o Co ração que entend eram minhas ausências e minhas “ crises” d e Criação .

Para Jo sé A ntô nio d e Camarg o Ro d rig ues d e So uza. M eu m estre e a quem d ev o a co rag em d e ultrap assar meus med o s, minhas limitaçõ es e q ue fez co m que eu co nfiasse em mim.

Para o s mem bro s d a Banca Examinad o ra, que muito me auxiliaram co m suas v alio sas sug estõ es.

Para to d o s aqueles que d ireta o u ind iretamente p articip aram d esse so nho .

Ofereço este humild e p ed aço d e

(5)

A gradecimento s

Um p o eta d isse que “ O ho mem é um anjo d e uma asa só , que p recisa d o ap o io d e o utro s para v o ar” .

Em no sso “ V ô o ” co ntamo s co m a ajud a inestimáv el d e v ário s anjo s que unind o fo rças no s p o ssibilitaram cheg ar até aqui e a quem d ev emo s no ssa eterna e p ro fund a g ratid ão .

Em no sso cam inhar releg amo s a seg und o p lano no ssa co nd ição d e mãe e filha, p o is assim a p ro d ução histo rio g ráfica exig iu que ag íssemo s, mas felizmente fo i p o r p o uco temp o . Po r isso , p rimeiram ente p ed im o s p erd ão e d ep o is ag rad ecemo s a felicid ad e que o Jo rg e M ig uel tro uxe, à no ssa v id a, e à minha mãe, Od ete, que so ube cuid ar d e no sso bebê, no s liberand o p ara o trabalho intelectual, p eno so , mas extremamente reco mp ensad o r, que é a elabo ração d e no ssa d issertação d e mestrad o .

A o s amig o s co o rd enad o res, p ro fesso res, secretário s d o Pro g rama d e M estrad o em H istó ria d as So cied ad es A g rárias que muito co ntribuíram p ara no sso p ro g resso intele ctual, ag rad ecemo s co m sincerid ad e.

(6)

A o s p refeito s D r. Gasp ar e D r. Carlo s p ela ajud a mo ral e financeira receb id a e à Secretária M unicip al d e Ed ucação , M arinete d as Graças Fag und es, no sso muito o brig ad o , v aleu!

A g rad ecemo s d e co ração a no sso s irmão s Vânia, Júnio r e M arcelo e a to d o s o s amig o s que muito no s ajud aram ao no s o ferecer uma palav ra d e estímulo , d e esp erança e d e co nfo rto no s mo mento s d ifíceis.

A queles que p o r suas críticas, nem semp re co nstrutiv as, no s d eram fo rças p ara co ntinuar lutand o p ara co ncretiz ar este so nho , ag rad ecemo s.

A CA PES, que em no sso último ano d e M estrad o no s co nced eu uma bo lsa d e estud o , facilitand o d e fo rma inquestio náv el no sso s estud o s.

A o Instituto Camõ es, que em Po rtug al, no s auxilio u co m uma bo lsa d e estud o s que p ermitiu p ro lo ng ar no ssa estad ia naquele País p o r quase um mês, o no sso muito o brig ad o !

À s biblio tecas, museus, salas d e estud o etc, que no s facilitaram o acesso às fo ntes e ao material emp reg ad o p ara no sso estud o , no sso s ag rad ecimento s.

(7)

sincerid ad e e d e to d o o co ração .

E, p ara finaliz ar, ag rad ecemo s as d o uto ras M aria H elena d a Cruz Co elho e M aria Jo sé Tav ares que interced eram p o r nó s junto ao Instituto Cam õ es, p o ssibilitand o o usufruto d e uma bo lsa d e estud o .

E estend emo s no sso s ag rad ecimento s à Dra. Lena Castelo Branco e ao D r. Jo ão Ped ro M end es q ue aceitaram fazer p arte d e no ssa Banca Examinad o ra e que no Exam e d e Qualificação muito no s ajud aram co m suas sug estõ es precio sas, semp re m uito bem-v ind as, esp eramo s retribuir co m o resultad o final d e no sso trabalho a co nfiança em nó s d ep o sitad a!

(8)

ÍN D ICE

IN TRO DUÇÃ O ... 8

CA PÍTULO I ... 18

PO RTU GA L N O IN ÍCIO D O SÉCU LO X V ... 18

1AS CO N D IÇÕ ES GEOC LIM Á TIC A S E OS RECURSO S NA TURA IS D E PORTUG A L N O IN ÍCIO D O SÉCULO XV ... 20

2A POPULA ÇÃ O ... 31

3AS RELA Ç ÕES CID A D E-CA M PO: CO M PLEM EN TA RID A D E O U RIV A LID A D E ? ... 41

4A ECONOMIA PORTUGUESA DURA NTE A 1ª META DE DO SÉCULO XV ... 53

CA PÍTULO II ... 74

1 A SO CIED A D E PO RTUG UESA N O LEA L CO N SELH EIRO... 76

2O LEA L CO N SELH EIRO... 97

3. A SO CIED A D E PO RTUG UESA N O LEA L CO N SELH EIRO... 108

CA PÍTULO - III... 122

A S PO LÍTICA S URBA N A E A GRÁ RIA D E DOM D UA RTE ... 122

CO N SIDERA ÇÕ ES FIN A IS ... 170

FON TES... 175

BIBLIOGRA FIA ... 176

(9)

INTRODUÇÃO

O p resente trabalho intitulad o , A V isão Sócio- Política de D om D uarte no Leal Conselheiro e em Sua Legislação, abarca um p erío d o histó rico d e ap ro ximad am ente cinqüenta ano s, em que tentaremo s analisar a histó ria d e Po rtug al, d esd e fins d o século XIV até ao término d a p rimeira metad e d o século XV.

Esco lhemo s esse tema, d e um lad o , p o rque está intimamente lig ad o ao no sso antig o d esejo , cultiv ad o d esd e a épo ca em que freqüentáv amo s o curso d e g rad uação em histó ria, d e v ir a estud ar mais p ro fund amente a histó ria med iev al p o rtug uesa.

(10)

rei culto , alg o raro naquela ép o ca, atuand o co mo braço d ireito d e seu p ai, D . Jo ão I (1357-1433), a p artir d a exp eriência que ad quiriu d esd e 1411, mas tamb ém ter co ncebid o um p ro jeto só cio -p o lítico basead o na leald ad e interp esso al, d e p ais p ara co m o s filho s, d e filho s p ara co m o p ais, d o g o v ernante p ara co m o s seus súd ito s, e d estes p ara co m o seu rei.

A lém d isso , no ssas p rincip ais fo ntes d e inv estig ação e análise: a o b ra Leal Co nselheiro, O liv ro d a Cartuxa o u Liv ro d o s Co nselho s d e El Rei D. D uarte e a Lei M ental, acabaram po r no s mo strar e lev ar a refletir so bre um a v isão d e mund o , quer em suas linhas g erais e mensag ens (v isív eis o u co ntid as nas entrelinhas), que m o stram um cenário ambíg uo , em q ue o espaço e a trad ição rurais p assaram a co nv iv er co m a “ rap id ez” e as transfo rm açõ es d e um mund o urbano que d esp o ntav a célere, na mais no v a nação euro p éia, d esp ertand o em nó s, fascínio , eno rm e interesse e curio sid ad e, d ad o s esses que tentaremo s mo strar ao leito r ao lo ng o d a trabalho .

(11)

v erd ad e d o s fato s, nem faz jus ao s ato s e ao p ensamento d o referid o mo narca, exp ressa em seus escrito s, antes referid o s.

Po r o utro lad o , temo s estud io so s d a m ed iev alid ad e p o rtug uesa que refutam essa v isão d ep reciativ a d e Do m Duarte, entre o s quais: Faria d e V asco ncelo s e o Pe. Do ming o s M aurício , que em suas o bras p ro curam reabilitar, o u antes, ap resentar um no v o p erfil d este rei.

H á biblio g rafia esp ecializ ad a q ue co rro bo ra este no sso p o nto d e v ista e que d esbanca as v isõ es mais trad icio nais e co nserv ad o ras. Pro curamo s não ser tend encio so s, ao analisar am bas as v ertentes histo rio g ráficas.

Co m relação ao s trabalho s m ais recentes so bre Do m Duarte, d ev em o s ressaltar aqueles d a auto ria d e Jo sé Gama, em que o auto r salienta, no entanto , o caráter filo só fico d o Leal

Co nselheiro e sua imp o rtância co mo tal1.

Po stura semelhante enco ntramo s no s trab alho s p ro d uzid o s p elo s estud antes d e Pó s-Grad uação d a Univ ersid ad e Fed eral Flum inense2, so b o rientação d a reno mad a med iev alista

1 P od em os ci t ar en t r e s ua s obr a s: a) A F i l os ofi a da C u l t u r a Por t u gu esa n o L e al

C on se l he i r o d e D. Dua r t e. Br ag a: F C G/ J NI C T , 19 95 ; b) Not a s pa r a u ma F i l os ofi a d a

C ul t u r a. R evi s t a Br a s i l ei r a d e F i l os ofi a. S ão Pa u l o, v. 36 , fa s c. 1 46 , 19 87 ; c) An á l i s e da s Pa i x ões n o “L ea l C on sel h ei r o”. Revi s t a P or t u gu es a d e F i l os ofi a. Dom Dua r t e ( 13 91 -1 99 1) n o 6 º C en t en á r i o d o s eu n as ci m en t o. Br ag a, ju l . \s et . , t omo XLVI I , fa s c. 3, 1 99 1.

2 Podem s er ci t a dos : Al ex a n dr a Ma ch a do, O di s cur s o d o P aço – o i d eal d e n obr e n o

(12)

brasileira, Pro fesso ra Do uto ra Vânia Frõ es, não tend o o s seus auto res, no entanto , se p reo cup ad o em analisar a atuação g o v ernativ a d e D. D uarte co nso ante a sua b ag ag em cultural e maneira d e v er e p ensar o mund o d e seu tem po e a realid ad e d e seu p aís.

Este é um d o s mo tiv o s que no s estimularam a p esquisar a o bra literário -leg islativ a e o g o v erno d e Do m D uarte e v erificar a sua o rig inalid ad e. Ora, d ad o q ue o Pro g rama d e M estrad o , cuja v ertente histo rio g ráfica co nv erg e sua atenção p ara a histó ria reg io nal e brasileira, este trabalho rev erte -se, p o is, d e um caráter o rig inal e inéd ito , co nquanto tenha sid o d ificílim o realizá-lo .

Quand o esco lhemo s este assunto sabíamo s d as d ificuld ad es p elas quais iríamo s p assar, mas, o d esejo d e realizá-lo fo i mais fo rte, e aqui está um estud o que, não sup o mo s co mp leto , nem acabad o , mas sim, co mo o p o nto d e d eco lag em p ara v ô o s mais alto s.

Para nó s, as im p o rtância d este tema, d eco rre d o fato d e que a co lo nização d o Brasil, no início d o século XV I, fo i em p arte,

(13)

uma herança b ásica e d ireta d as d eterminaçõ es leg islativ as d e cunho p o lítico -so cial e ag rário d a Dinastia d e A v is, e ig ualmente que a co lo niz ação o u o cup ação d as terras g o ianas d eco rreu, o utro ssim, d a fo rma juríd ica d e exp lo ração e co lo nização d a terra “brasilis” .

Esse d ad o s no s lev aram a fo rm ular as seg uintes hipó teses d e trab alho : 1) A s co nd içõ es g eo g ráfico s e naturais d e Po rtug al imp eliram a sua g ente e o s seus d irig entes, no final d e século XIV e p rincíp io s d o XV , a p ensar e a ag ir so cial e p o liticamente co nd icio nad o s e p reso s a uma so cied ad e ag rária o u não ? 2) A no v a d inastia, a d e A v is, que ascend eu ao p o d er em 1385, p ercebeu (o u não ) que estav am a aco ntecer o u não mud anças so ciais e eco nô micas no camp o e na cid ad e, naquele mo mento ? 3) O p erfil d e D . Duarte, atrav és d o s texto s que escrev eu, e d e sua atuação g o v ernamental, co nd izem o u não co m a im ag em d ep reciativ a que alg uns histo riad o res d ele traçaram ? 4) Tal p erfil, d elinead o no s mencio nad o s texto s, reflete o u não um a co ncepção só cio -p o lítica p rep arad a e co nso ante o s no v o s temp o s e rumo s a serem d ad o s a nação ?

(14)

analisar o teo r d e que a so cied ad e p o rtug uesa, no p erío d o em exam e, não estav a tão rig id amente d iv id id a o u era imó v el co mo , à p rimeira v ista, p areceu a muito s histo riad o res; mo strar co mo o Estad o p o rtug uês se encaminha p ara a buro cratização ad ministrativ a no g o v erno d e D . Duarte; examinar e analisar as p o líticas ag rária e urb ana co ncebid as, ad o tad as e p raticad as p o r D. Duarte, co rrelacio nand o -as co m seu p ro jeto g lo bal d e g o v erno .

Para realizar no sso s intento s, o rg aniz amo s este trabalho em três cap ítulo s. N o p rimeiro , intitulad o Portugal no início do século XV, tentaremo s esbo çar um p ano rama g eral so bre Po rtug al, entre 1400 e 1438, em que trataremo s d o s seg uintes asp ecto s: a) A s co nd içõ es Geo -Climáticas e o s Recurso s N aturais; b) A Po p ulação no Esp aço Lusitano ; c) A s relaçõ es entre cid ad e-camp o ; d ) as ativ id ad es Eco nô micas.

A chamo s que, ao trabalhar esses tó p ico s, teremo s co nd içõ es d e esbo çar um p ainel estrutural so bre Po rtug al no p erío d o que no s interessa e d essa fo rma, intro d uziremo s o leito r interessad o no mund o lusitano .

(15)

d iv id imo s o cap ítulo em tó p ico s que, ao no sso v er, co nd uzem a um melho r entend imento d o texto , e que p o r sua ló g ica to rna o assunto co mp reensív el e acessív el a quem, p o r v entura, o leia e que não tenha maio res co nhecimento so bre o assunto . Para a realização d e no sso intento , assim d iv id imo s o cap ítulo : a) D o n Duarte co mo auto r d o Leal Co nselheiro e co mo rei, d estacand o as d iferentes v isõ es histo rio g ráficas a cerca d e sua p esso a, p ara uns, caracterizad o co mo uma p esso a fraca, sem v o ntad e e melancó lic a, e p ara o utro s auto res, retratad o co mo uma fig ura injustiçad a p o r auto res tend encio so s, p ro curand o , ao final, ap resentar no ssa p ró p ria v isão so bre este mo narca lusitano , b ) d ep o is, o ferecemo s uma v isão g lo bal d o Leal Co nselheiro, examinand o sua estrutura interna, seus o bjetiv o s, o p úblico a que se d estinav a, etc; c) p o r último , analisaremo s as co ncep çõ es d e D. Duarte so bre o mund o , o ho mem e a so cied ad e.

(16)

Ora bem, a v isão d e D. Duarte baseo u-se num p lano d e g o v erno em que se d estacam as d iferenças e semelhanças existentes entre o s m und o s urbano e o rural; a p rio rização d as categ o rias so ciais lig ad as à burg uesia citad ina d etento ra d o p o d er eco nô mico e co ncelhio ap ó s a Rev o lução d e 1383-1385, em d etrim ento d a v elha no breza, que não ap o iav a o M estre d e A v is.

Essa p o lítica d e benefício s, co meçad a co m D. Jo ão I, acabo u no rteand o to d a a v id a p o lítica e so cial d o Reino , co m relação à cid ad e e ao camp o .

A lém d isso , tal p o lítica v isav a a que o s burg ueses d etento res d o p o d er eco nô mico , também ascend essem so cialm ente e p o liticamente, uma v ez que eram eles que p o d iam financiar, em bo a p arte, o p ro jeto exp ansio nista d a D inastia d e A v is e d eles p ró p rio s.

Dep aramo -no s, o utro ssim, co m a intensificação d a urbaniz ação em territó rio p o rtug uês, no p erío d o em tela, fato esse que, também , co ntribuiu p ara, em maio r o u meno r g rau, co nfo rme a reg ião , d esestruturar a antig a so cied ad e med iev al p o rtug uesa, embo ra a mesma co ntinuasse send o d epend ente d o camp o .

(17)

sua p o lítica centralizad o ra p o d eria v ir a so frer o bstáculo s, d e um lad o e d e o utro , p o r isso , ele ad o to u med id as leg ais, institucio nais e mo rais que v isav am , atrav és d e seu exemp lo , a reo rg anizar essa so cied ad e em transição .

É p o r tais razõ es que esta d issertação se enquad ra na Linha d e Pesquisa d o Pro g rama d e M estrad o , intitulad a histó ria d as cid ad e-cam po .

Pro curamo s no s basear, p ara realiz ar no sso trabalho , no méto d o estrutural/ co njuntural. Partimo s d o g eral p ara o p articular, buscand o ap licar esse p ro ced imento ao o rd enar o texto , tratand o d a macro -estrutura d a histó ria p o rtug uesa d o s fins d o século XIV p ara o s início s d o século XV .

O seg und o cap ítulo é o elo interm ed iário co m o último , o nd e intro d uzimo s a fig ura e a o bra literária d e D o m D uarte. O último capítulo é, p o rtanto , o p o nto chav e d e no sso estud o , o nd e fo calizaremo s o o bjeto central inv estig ad o .

(18)
(19)
(20)

M ar Po rtuguês

Ó mar salg ad o , quanto d o teu sal São lág rimas d e Po rtug al!

Po r te cruzarmo s, quantas mães cho raram, Quanto s filho s em v ão rez aram!

Quantas no iv as ficaram p o r casar Para que fo sses no sso , ó mar!

Valeu a p ena? Tud o v ale a p ena Se a alm a não é p equena

Quem quer p assar além d o Bo jad o r Tem que p assar além d a d o r.

(21)

1 A s condiçõ es G eoclimáticas e o s Recurso s Naturais de Po rtugal no início do Século X V

A s p aisag ens mud am, transfo rmam -se, mas, d e aco rd o co m a p ermanência d o s elemento s que caracteriz am uma reg ião natural, p o d em manter-se relativ am ente inalterad as p o r século s, e até mesmo milênio s. A ssim, as reg iõ es naturais, ap esar d e so frerem mo d ificaçõ es, co nserv am a sua ind iv id ualid ad e, a sua esp ecificid ad e, a sua id entid ad e, p o d end o -se d izer que, as reg iõ es naturais, ho je existentes em Po rtug al, p o uco d iferem d a realid ad e g eo g ráfica med iev al.

A s p aisag ens humaniz ad as que ho je co ntemp lamo s co m certeza seriam irreco nhecív eis, d urante o s século s XIV e XV . M as, as serras, as altitud es, as lo ng itud es, o s curso s d o s rio s, em meno r p ro p o rção , as co res, estas seriam facilmente reco nhecid as.

(22)

São d uas z o nas naturais, d istintas entre si mesmo , embo ra, p o ssamo s afirmar que as características climáticas, atlântica e m ed iterrânica, existem p o r to d o o p aís.

O no rte ap resenta co ntrastes muito marcantes, d iv id ind o -se naturalmente em d uas reg iõ es o N o rte A tlântico , uma reg ião lito rânea, temp erad a e úmid a e o N o rte Transmo ntano , g eralmente p lanáltico , seco , d e tem peraturas anuais extremas.

Enquanto o N o rte é acentuad amente marcante em seus v erd es, o Sul caracteriza-se p ela m o no to nia d e sua p aisag em g eo g ráfica, o nd e enco ntramo s p lanalto s méd io s, extensas bacias hid ro g ráficas, terreno s p lano s e p o uca chuv a. (Fig ura A nexo )

Co m relação ao asp ecto p ed o ló g ico , Po rtug al é p o bre. Os so lo s são muito ácid o s o u alcalino s, o bserv and o -se, p o r isso , um baixo v alo r ag ro ló g ico . Este é um d o s mo tiv o s que to rnam o s terreno s p o rtug ueses, em bo a p arte d o territó rio luso , fraco s o u imp ró p rio s p ara a ag ricultura; aquelas áreas o nd e as culturas se to rnam "quase" imp o ssív eis, p assam a exig ir um esfo rço técnico e p ro d utiv o muito g rand e e d isp end io so .

A s ro chas-mães q ue d ão o rig em ao subso lo p o rtug uês são quatro : ro chas calcárias, ro chas cristalinas, areias e g rés, xisto s p o uco o u nad a cristalino s.

(23)

d o húmus. Estes terreno s se caracteriz am p o r serem lev es, azo tad o s, firmes, alcalino s e o nd e, em g eral, o clim a é temp erad o ,

"estes bo ns terreno s não são m uito s em Po rtug al, ap enas um a faixa sig nificativ a, situad a na Estrem ad ura, entre o p aralelo d a Batalha e d e Lisbo a... d ep o is, sem p re na z o na sul d o País, alg uns fo co s d isp erso s e red uz id o s, co m o o s calcário s lacustres terciário s d e Erv id el-M o ura e o s p rim ário s d e Elv as- Estrem o z . N a z o na no rte estes so lo s só fig uram em brev es m anchas lo caliz ad as entre A nad ia e C antanhed e"3.

Existem, aind a, alg uns fo co s d esse tip o d e so lo , embo ra red uz id o s, d isp erso s p elo territó rio p o rtug uês.

Os so lo s p red o minantes em Po rtug al são aqueles d eriv ad o s d as ro chas cristalinas, p rincip almente d o s g ranito s, d o s d io rito s e d o s xisto s metamó rfico s. A d eco mp o sição d essas ro chas cristalinas fo rma so lo s d e v alo r ag ro ló g ico o u d e fertilid ad e v ariáv el, d e aco rd o co m o clima, a altitud e e o d ecliv e d a reg ião analisad a. Essas ro chas são d e fácil d esag reg ação e o s d etrito s acumulam-se em bacias e d ep ressõ es, fo rmand o so lo s p ro fund o s, d e arid ez mo d erad a; o s terreno s d o N o rte são muito p o uco p erm eáv eis.

"N o Su l d o País, o s so lo s d estes tip o p ro v ém d e d io rito s e xisto s m etam ó rfico s. Existem na área d e Po rtaleg re, na d e

(24)

Év o ra e na d e Beja, esp ecialm ente na d e Beja, o nd e se situam o s so lo s m ais rico s d e Po rtug al, o s célebres 'barro s'".4

O terceiro tip o d e so lo é o fo rmad o a p artir d e áreas e g rés, ro chas d etríticas silicio sas, o s quais o cup am bo a p arte d a reg ião sul d e Po rtug al. Tem um v alo r ag ro ló g ico muito baixo , d ev id o à falta d e sais nutritiv o s em sua co mp o sição , e a v eg etação p red o minante são o s p inheirais e o s matag ais. Este "é o caso do noroeste da Estremadura, sudeste da Beira Baix a, Ribatejo, península de

Setúbal e bacia do Sado."5

O último tip o d e so lo é aquele fo rmad o p elo s ro chas xistentas, não cristalinas. Esses so lo s são aqueles inférteis, muito p o bres, imp ermeáv eis. A única fo rm a d e to rná-lo s p ro d utiv o s é atrav és d a ad ubação intensiv a. Enco ntram o s estes so lo s nas reg iõ es d e Trás-o s-M o ntes, d o A lto Do uro , d as Três Beiras, d o A lentejo e d o A lg arv e.

Ora, uma v ez que bo a fatia territo rial p o rtug uesa, ap resentav a tais característica acima referid as, só co m muito trabalho seria p o ssív el o bter uma p ro d utiv id ad e raz o áv el, sem co nsid erar o s fato res naturais ad v erso s, co mo as enchentes e as secas, aliás, fenô meno s muito co muns d urante o p erío d o histó rico em exame, bem co mo as d ificuld ad es tecno ló g icas d aquele p erío d o .

(25)

Isso exp lica, então , as sucessiv as crises frumentárias que asso laram Po rtug al d urante alg uns bo ns m o mento s d o s século s XIV e XV .

Em termo s g eo climáticas p o d emo s estabelecer uma relação d e p arentesco o u p ermanência d o s elemento s naturais d e lo ng a d uração d o século XV , até o s d ias atuais.

Co m relação às p aisag ens urbanísticas e humanizad as, cremo s ser imp o ssív el reter o s elemento s mutáv eis d as reg iõ es naturais: v eg etação , camp o s, p asto s, mato s. Co m certeza, p o d em ser e fo ram m o d ificad o s, d e aco rd o co m a ação transfo rmad o ra d o ser humano , v isand o em p rimeira instância a satisfação d e suas necessid ad es.

A ap ro p riação d a natureza na Id ad e M éd ia, embo ra realizad a co m técnicas rud imentares, tev e um efeito d ev astad o r. A s queimad as, as d errub ad as d as flo restas, seja p ara o bter mad eira, p asto o u so lo fértil p ara a ag ricultura, acabaram p o r to rnar imp ro d utiv a uma bo a fatia d o territó rio p o rtug u ês, que, co mo v imo s, é p o bre em sais minerais; d aí ter baixo v alo r g enético e nutritiv o e, p o r co nseg uinte, p o b rez a ag ro ló g ica.

(26)

o casio nar p erío d o s d e fo m e. Essa situação o brig av a o ho m em med iev al a p ro curar o utro s recurso s p ara suprir suas necessid ad es.

A ssim, o s recurso s naturais, o ferecid o s p elas flo restas, as quais o cup av am v astas extensõ es d o territó rio luso , eram d e suma imp o rtância p ara as co munid ad es med iev ais.

A p alav ra "flo restas", na d o cumentação o ficial d a ép o ca em ap reço , fo i semp re substituíd a p elo s term o s mata, mato o u p elo p ró p rio no me d as árv o res p red o minantes no s v ário s lo cais, p o r exem p lo : p inhal, castanhal, no g ueiral, freixial e carv alhal (Fig ura em A nexo ).

A crise ag ro -so cial d o século XIV , tev e co mo uma d e suas co nseqüências o av anço d a flo resta e d as áreas d itas "incultas" em to d o territó rio p o rtug uês. Co m o av anço d a flo resta surg iu uma v eg etação mais rasteira que transfo rmo u a p arte d o so lo cultiv ad o em matag al, que, mesmo send o meno s útil d o q ue a flo resta, co nstituiu fo nte d e rend a e d e abastecimento p ara a p o p ulação , d ad o que o mato fo rnecia-lhe caça, lenha, teto d as mo rad ias etc.

(27)

co bertura v eg etal p o r o utra sim ilar. Tal fo i o caso d e se reflo restar áreas d ev astad as co m o p lantio d o p inheiro -brav o , d e fácil exp ansão e d e bo a resistência ao s mais v ariad o s tip o s d e so lo . M as, se p o r um lad o , o p inheiro fo i uma bo a alternativ a p ara o reflo restamento , inclusiv e p ara a o btenção d e lenha, em co ntrap artid a, ele emp o b receu aq ueles so lo s o nd e antes tinham p red o minad o carv alhais, cujas fo lhas co ntribuem p ara a fertilização d o so lo , bem co mo não o esg o tam. Esse fato , d e um lad o , o brig o u ao ag riculto r ter d e reco rrer a técnicas ag ríco las mais ap rimo rad as e a d isp end er mais temp o e d inheiro , p ara to rnar esses so lo s m ais p ro d utiv o s, e d e o utro , co ntribuiu p ara a d im inuição d a p ro d ução d e v ív eres, p ara o aband o no d as áreas to rnad as "imp ro d utiv as" e p ara o aum ento co nsecutiv o d o s p reço s d o s g ênero s ag ríco las.

A flo resta aind a era o habitat natural d e muito s animais que, p ara as co m unid ad es med iev ais tiv eram eno rme imp o rtância, d ad o que muito s d eles lhes fo rneciam carne fresca e p eles que, curtid as e trabalhad as se transfo rmav am em ag asalho co ntra as intemp éries clim áticas, o u eram exp o rtad as.

(28)

uma ativ id ad e p ro p ed êutica d a g uerra. Co ntud o , não eram exclusiv amente o s no bres que a p raticaram. Co m efeito , p ara as camad as p o p ulares, a caça era um elemento co mp lementar d e sua d ieta, d e seu co tid iano .

A caça p raticad a p elas co munid ad es m ed iev ais p o d ia ser classificad a em três tip o s: a d efensiv a, a o fensiv a e a lucrativ a.

A caça d efensiv a era uma luta d a "cultura" co ntra as "natureza"; nesse caso , o s animais selv ag ens que habitav am o s "flo restas", as "matas" o u o s "bo sques" inv ad iam o territó rio o cup ad o p elo ho mem med iev al, seja atrás d e suas p lantaçõ es, caso fo ssem herbív o ro s, seja atrás d e seus animais "criad o s", quand o carnív o ro s. O que im p o rta salientar é que, tanto num caso co mo no o utro , esses animais selv ag ens prejud icav am as ativ id ad es ag ro p asto ris d o s ald eõ es lav rad o res.

Fo i nesse q uad ro d e d efesa d e seus interesses que ele, o ho mem co mum, d o p o v o , uso u a caça (ativ id ad e o rig inalmente d a no breza) p ara se p recav er d o s p rejuízo s causad o s p ela fauna selv ag em.

(29)

ap reciad a co mo alimento e ap enas sua p ele p o d eria ser ap ro v eitad a.

A caça ao s anim ais herbív o ro s, (lebres, co elho s, v ead o s, jav alis), era mo tiv ad a tanto p o rque eles p ro v o cav am g rand es p rejuíz o s à ag ricultura, quanto p o rq ue também serv iam co mo co mp lem ento alimentar, p o is a carne d e qualquer d esses animais era muito apreciad a, p o r causa d e sua excelente qualid ad e. A d emais, muito s camp o neses fug iam d e seu "labo r" d iário p ara o bter alg uma carne a fim d e quebrar a ro tina d o "p ão " e d o "v inho " e manter suas criaçõ es, reserv and o -as p ara o casiõ es esp eciais.

Isso , p o rém, g erav a sérias co ntend as entre o s no bres e o s camp o neses, p o rquanto , muitas v ez es, estes aleg av am p raticar a caça d efensiv a co mo artifício p ara usufruir d aquele p riv ilég io d o s no bres.

A caça lucrativ a era p raticad a p o r caçad o res p ro fissio nais, q ue faziam d essa ativ id ad e o seu m eio d e v id a. A basteciam o mercad o urbano d e p eles e carne d e animais selv ag ens, em caráter lo cal o u reg io nal, d ev id o ao p ro blema d e co nserv ação d a carne e à d ificuld ad e quanto ao seu transp o rte.

Outra ativ id ad e natural d e relev o , em Po rtug al, no p erío d o em ap reço , era a mineração . Extraíram -se o o uro , a p rata, o ferro , o chum bo , o alúmen e o salitre.

(30)

finais d e quatro cento s. O ferro era exp lo rad o em Trás-o s-M o ntes (no Camp o d e Jales, M o nte N eg ro ); o chumbo , o alúm en e o salitre também eram exp lo rad o s na reg ião .

A p ro d ução mineraló g ica era em p equena escala e quand o muito , suficiente p ara o fab rico d e instrumento s e ferramentas ag ríco las. Quanto ao s metais no bres, o o uro e a p rata, também eram insuficientes p ara as necessid ad es nacio nais; p ara a fabricação d e mo ed as, reco rria-se freqüentemente à imp o rtação d esses minerais em o utras p raças.

N a mineração , aind a, se d estacav am as p ed reiras e o s barreiro s, d e o nd e se extraíam o calcário , o g ranito , o basalto , o barro , que eram emp reg ad o s nas co nstruçõ es e nas o larias.

M esmo co m essa p ro d ução mineral, p o d ia-se co nsid erar Po rtug al um país p o bre, uma v ez que o luc ro o btid o co m essa ativ id ad e, na Baixa Id ad e, não era co mp ensad o r.

Enfim , um o utro recurso natural p o rtug uês, não meno s d esp rezív el q ue o s d emais, era o sal, cuja ativ id ad e extrativ a enco ntrav a co nd içõ es bem satisfató rias, tais co mo uma extensa co sta marítima, v ento s fo rtes e quentes e temp eratura elev ad a d urante b o a p arte d o ano .

(31)

p erm anente escassez d a mão -d e-o bra inv iabiliz av a a sua extração . O sal g ema era extraíd o na reg ião d e Rio M aio r.

(32)

2 A Po pulação

O mo m ento histó rico em exame 1400-1438 caracteriz a-se p ela ausência d e d o cum ento s censitário s lig ad o s, d iretamente, ao cô mp uto g eral d a p o p ulação p o rtug uesa d e então , o q ue só irá aco ntecer reg ularmente a p artir d o seg und o quartel d o século XV I.

A d o cumentação o ficial6, quand o existente, não o bjetiv av a a co ntag em p o p ulacio nal, d e maneira que o s reg istro s d isp o nív eis, d e um lad o , são relativ o s à d eterminad as reg iõ es o u lo cais, o u d eterminad o s assunto s, e o u à situaçõ es esp ecíficas, alg uns, p o r exemp lo , se rep o rtam à questõ es militares, o utro s d e natureza eclesiástica se referem a nascimento s, ó bito s e casam ento s, o utro s m ais a assunto s fiscais. M as, nenhum reg istrav a a co ntag em g eral d a po p ulação , muito meno s sua d istribuição p elo territó rio p o rtug uês (Fig ura em A nexo ).

A d emais, a quase to talid ad e d esses reg istro s, cô mp uto s, numeramento s, listas d e inquiriçõ es, etc, fo ram d esap arecend o à

6 “M es m o i n di r et as , as du as ún i cas fon t es abr an gen d o t odo o pa í s s ã o a l i s t a d a s

(33)

med id a que p erd iam sua atualid ad e. M uito s d eles d esapareceram p o rque não fo ram d ev id amente co nserv ad o s e o tem po se encarreg o u d e d estruí-lo s. É p reciso co nsid erar, o utro ssim, que, certamente, ho uv e um número co nsid eráv el d eles que fo ram sistemática e co nscientemente "tirad o s d e circulação ", p o rq ue isso era o u d o interesse d a co ro a, o u d o s senho res, o u d o s co ncelho s o u d o s eclesiástico s. N a maio r p arte d o s caso s d esse tip o , co m certeza, estav am a d efraud ar d ireito s d e o utrem em benefício d esses g rup o s so ciais, e p o r isso mesmo , co nv inha que v iessem a ser d estruíd o s.

To d av ia, uma d as razõ es p ara o "d esap arecimento d o cumental" d esse p erío d o era o uso co rrente d e eliminar as co isas co nsid erad as "inúteis" e a falta d e uma p reo cup ação em p reserv ar d ad o s e memó rias relacio nad o s ao s "fato s" o u às "necessid ad es" mo mentâneas, co mo o s "p ed id o s" reais. Perd iam sua atualid ad e e imp o rtância, ao p asso que iam surg ind o no v as situaçõ es e o utras necessid ad es.

Tais d o cumento s relativ o s à p o p ulação p o d em ser classificad o s em três tip o s: a) Fo ntes d e d ad o s numérico s d e p esso as, d e âmbito nacio nal; b) Fo ntes que reg istram co isas alusiv as a p esso as; c) Fo ntes que info rmam número s esp arso s d e p esso as a resp eito d e reg iõ es e lug ares, e que co ntêm imp ressõ es so bre o estad o d em o g ráfico d o País o u d e p artes d ele. D e aco rd o , p o rtanto , co m o s d ad o s existentes, e co mp arand o -o s co m as fo ntes

(34)

d isp o nív eis relativ as à o utro s lo cais d a Península Ibérica, estima-se, ap ro xim ad amente, que a p o pulação p o rtug uesa, à ép o ca em ap reço , d ev ia and ar à v o lta d e 900.000 a 1.000.000 d e hab itantes, co nquanto na centúria anterio r tiv esse ating id o a cifra d e 1.500.0007.

Esse d ecréscimo p o p ulacio nal p o d e ser exp licad o p o r v ário s fato res, d ifíceis d e serem o rd enad o s, seg und o um g rau d e imp o rtância, mas que tiv eram, co mo se d ep reend e, eno rme repercussão neg ativ a so bre a so cied ad e p o rtug uesa d e então , ao interferir, p o r exemp lo , no d esenv o lv imento eco nô m ico d o País, nas relaçõ es entre as v ilas/ cid ad es e o camp o , enfim nas p ró p rias relaçõ es so ciais, co mo teremo s o casião d e v er mais ad iante.

Dentre o s fato res p ro p iciad o res e ag rav ad o res d essa crise d emo g ráfica, p o d emo s citar: o s maus ano s ag ríco las, co nseqüentes d as v ariaçõ es e o scilaçõ es clim áticas inco ntro láv eis, d urante a p rimeira metad e d o século XIV , o s quais incid iram não ap enas no to cante à red ução d e v ív eres (trig o , centeio , cev ad a), o brig and o o Estad o a imp o rtá-lo s d o estrang eiro , mas tam bém so bre a fo me, a d esnutrição e a saúd e d as camad as so ciais mais humild es; a Peste N eg ra, (1347-49) que d e aco rd o co m as estimativ as d o s d emó g rafo s elimino u 1/ 3 d a p o p ulação euro p éia, seg uid a d e o utras crises ep id êmicas interm itentes, d urante o transco rrer d a seg und a metad e d o século XIV . A p ro p ó sito ,

(35)

Oliv eira M arques, d iz que entre a realid ad e d o s fato s e o exag ero p ró p rio d o s ho mens d a ép o ca, p o d e-se calcular que p elo meno s d e 1/ 3 a 1/ 2 d a p o p ulação p o rtug uesa ating id a p ela peste, teria mo rrid o8; as g uerras, em p articular, as que D. Fernand o (1367-1383) m antev e co m Castela, e ig ualmente a que suced eu à sua mo rte, entre 1383-1385, p o r o casião d a crise d inástico -sucessó ria, e as exp ed içõ es militares env iad as a Ceuta (1415) e a Tâng er (1437).

Enfim , para ilustrar a crise d emo g ráfica p o rque p assav a a nação p o rtug uesa, aind a à ép o ca d e D . Duarte, sirv a d e exemp lo , o testem unho d o Co nd e d e A rraio lo s, em 1433, ao d esaco nselhar ao M o narca emp reend er a co nquista d o reino d e Fez , no no rte d a Á frica, p o r co nta d a d ificuld ad e em m antê-lo co m tão p o uca g ente co mo era a p o rtug uesa nesse mo mento9.

À p arte esses fato res, não no s esqueçam o s também d e que o s mesmo s aind a co ntribuíram ig ualmente, p ara que tiv esse o co rrid o não só um êxo d o rural, mas também mig raçõ es d e reg ião

8 “As con s eqü ên ci a s d a Pes t e Negr a for am de ca pi t a l i mp or t â n ci a p a r a a h i s t ór i a

dem og r áfi ca p or t u gu esa . J á s em a t en d er a os q uei xu m es exa ger ad os d a ép oca, d e qu e 2/ 3 ou mes m o 9 / 10 da popu l a çã o t er i a m m or r i do, h á qu e a d mi t i r , em pa r al el o com o qu e s e ver i fi cou a l ém - fr on t ei r a s, q ue u m t er ço a met a de dos gen t es per eceu d e fa ct o em p ou cos m es es . ”

C f. : MAR QUE S, A. H. de Ol i vei r a . o. c. p. 2 1.

(36)

p ara reg ião , d e áreas meno s "d esenv o lv id o s" p ara áreas mais "d esenv o lv id as", etc. Esses d eslo camento s, d e um lad o , p ro v o cav am sério s p ro blemas d e afluxo rep entino d e g ente d esqualificad a p ara trabalhar o u nas o ficinas artesanais o u no co mércio , nas v ilas e cid ad es, aumentand o , assim, o núm ero d e mend ig o s, lad rõ es e marg inais, e d e o utro , incid iam d iretam ente p ara a falta d e mão -d e-o bra na zo na rural, que aind a p ro v o co u a escassez d o s g ênero s ag ríco las e a elev ação d o p reço d o s mesmo s. Esse quad ro terrív el ag rav o u o s pro blem as já existentes, o brig and o o s mo narcas p o rtug ueses a to marem med id as p ara co ntro lar o afluxo d essa massa à cid ad e e a m anter o ho mem no camp o , lig and o -o ao seu o fício o rig inal.

Em suma, a p o p ulação p o rtug uesa, d e então , era co nstituíd a p o r uma g rand e maio ria cristã, co nv iv end o , "quase" p acificam ente co m alg um as mino rias relig io sas, co mo o s jud eus. Disse "quase", p o rque ho uv e mo mento s em q ue o relacio namento entre a maio ria e as mino rias se to rno u co nflitiv o .

(37)

Estav a esp alhad a p o r to d o s o s lad o s, no s camp o s, nas p equenas cid ad es, no s g rand es centro s urb ano s, o cup and o lo cais d eno minad o s mo uraria e alfama.

N o p rincíp io d o século XV , o número d e mo uro s em Po rtug al já se enco ntrav a bastante red uzid o10.

A s causas d essa d iminuição d emo g ráfica, são , aind a, ind efinid as. Tud o lev a a crer que, d urante o s século s XIV e XV o u tenham se inco rp o rad o à so cied ad e cristã, o u tenham sid o d iz imad o s p elas ep id em ias d e p este o u, aind a, tenham emig rad o p ara Granad a e p ara o no rte d a Á frica. A p esar d isso , a incid ência d e mo uro s liv res era maio r ao sul d e Po rtug al, no A lg arv e, o nd e se enco ntrav a o maio r número d e mo urarias existentes no Reino .

"Tais co m unas eram , d e sul p ara no rte, aind a no século XV : no A lg arv e, as d e Tav ira, Faro , Lo ulé e Silv es; no A lentejo , as d e Beja, M o ura, Serp a, Év o ra, Estrem o z , Elv as, A v is, A lcácer d o sal, Setúbal, Palm ela e A lm ad a, além d a d e, p o ssiv elm ente, V ila V iço sa, M o urão e V ila N o v a d a Baro nia; na Estrem ad u ra, as d e Lisbo a, Sintra e A lenquer; p o r fim , no Ribatejo , a d e Santarém . A lém d elas hav ia m o urarias em m uito s o utro s p o v o ad o s d o Reino , tais co m o C o im bra e Leiria, na Estrem ad ura, So rtelha, na Beira, (...) Em Lisbo a, o único caso d e m o uraria relativ am ente bem estud ad a, a

10 Nã o podem os pr eci s a r o n úm er o de mour os em P or t u ga l , n o s écu l o XI V e XV

d evi do à fal t a d e docu m en t açã o: " n ão h á el em en t os n u m ér i cos a d ar em - n os q ua l qu er i n dí ci o da p er cen t a gem de m ou r os n o Por t ug a l de en t ã o" .

(38)

resp ectiv a área nunca fo i além d o s 5 ha, bo a p arte d ela, aliás, o cup ad a p o r quintas e cam p o s cultiv ad o s. É p ro v áv el que sua p o p ulação não sup erasse as 500 alm as no século XV ".11

Os jud eus eram o utra mino ria relig io sa e estav am d isp erso s p o r to d o o territó rio p o rtug uês. H av iam cheg ad o ao p aís, antes mesmo d e que a nação tiv esse surg id o , esp alhand o -se, d e no rte a sul. Viv iam , em g eral, em bairro s sep arad o s, no centro s d as cid ad es e v ilas, em lo cais co m intensa v id a artesanal e co mercial. Ded icaram-se, p rincip almente, às ativ id ad es secund ária e terciária d a eco no mia, mas, entre eles, também, p o d iam se enco ntrar lav rad o res e o utro s trabalhad o res d o seto r p rimário12.

Co nsid erand o -se que o s jud eus se d ed icav am princip al-mente às ativ id ad es co merciais e m o netárias e às "p ro fissõ es liberais", em p articular a m ed icina, o Estad o tinha eno rme interesse p o r eles e o s co stumav a p ro teg er. Po r sinal, M estre Gued elha, astró lo g o e m éd ico p articular d e D. D uarte era jud eu.

Os reis p o rtug ueses emitiram uma série d e d isp o siçõ es que beneficiaram o s jud eus, p o r exemp lo ; "cartas d e p riv ilég io em

11 M ARQUE S, A. H. de Ol i vei r a . o. c. p. 3 3

12 “Sã o i n úm er os os d ocu men t os qu e com pr ova m a a ct i vi d a de pr ofi s si on a l d os ju deus ,

com o ou r i ves , t i n t u r ei r os, fer r ei r os , al fa i a t es, ca r n i cei r os , m er cad or es , s ap at ei r os et c. E r am m en os d ot a d os pa r a t r a bal h os d e ca m po, m as t a m bém se a ch a m a gr i cul t or es , l og ar ei r os , for n eced or es de fr ut a , m ol ei r os” .

(39)

fav o r d e físico s e cirurg iõ es; isenção d e ap o sentad o ria, afo ramento e co mp ra d e p ro p ried ad es, d elimitação d o esp aço p ara as jud iarias em crescimento ; no meação p ara carg o s jud iciais d as co munas, etc."13.

N o co rrer d o s século s XIV e XV, o número d e jud iarias cresceu co nsid erav elmente: "N a realidade o número de comunas aumentou enormemente em confronto com os dados recolhidos para o

século X IV . A s 32 comunas urbanas multiplicaram- se em 139

comunas.”14

N ão temo s o número p reciso d e jud eus resid entes em Po rtug al no início d o século XV , mas d e aco rd o co m o s auto res co mp ulsad o s, o seu crescimento d em o g ráfico fo i co nsid eráv el, embo ra fo ssem ap enas 2% o u 3% d e to d a a p o p ulação .

Entretanto , o s cristão s p o rtug ueses, embo ra fo ssem mais to lerantes d o que o s castelhano s, p o r v ezes, ag red iam e atacav am as jud iarias, o brig ad o o s mo narcas a to marem sev eras med id as co ntra eles p o r causa d o s abuso s co metid o s, o s quais se caracterizav am p o r insulto s à relig ião jud aica, v io lências co rp o rais, ro ubo s às p ro p ried ad es e ao s bens que lhes p ertenciam etc.

(40)

A lém d e cristão s, mo uro s e jud eus, aind a hav ia em Po rtug al, no p erío d o em ap reço , um número co nsid eráv el d e estrang eiro s, cujo ing resso era facilitad o , em p arte, p ela "fro nteira seca" co m Castela, p o r causa d as cid ad es po rtuárias, e p o rque as auto rid ad es, ineficientes o u d isp licentes, se inco m o d av am mais co m as mercad o rias que entrav am no p aís, sujeitas à p o rtag em, d o que co m o s transeuntes. A v ig ilância e o co ntro le só melho rav a em temp o d e g uerra.

Entre o s estrang eiro s, era p o ssív el enco ntrar g ente d e to d o tip o : mercad o res, feirantes, almo crev es, carreteiro s, p asto res, marinheiro s, p ereg rino s, relig io so s, p ed intes, co leto res d e esmo las e tributo s, emb aixad o res, co rreio s, cav aleiro s and antes, aço ug ueiro s, v ag abund o s, saltim banco s, crimino so s em fug a e o utro s.

M as fo ram o s mercad o res, d ev id o à sua imp o rtância eco nô mica, que mais atenção , co ntro le e p riv ilég io s receberam d a Co ro a. Eram o s mais citad o s no s d o cum ento s o ficiais15.

(41)
(42)

3 A s Relaçõ es Cidade- Campo : Co mplementaridade o u Riv alidade ?

N o p erío d o em estud o , as v ilas/ cid ad es p o rtug uesas so freram um relativ o crescimento p o p ulacio nal, face às razõ es que ap resentamo s no tó p ico anterio r. M uita g ente também v eio d o reino d e Castela, p rincip almente, o s jud eus que, o u fo ram exp ulso s, o u que fug iram d esse reino d urante o século XIV e início d o século XV.

N esse mo mento , o s centro s urbano s reco nhecid o s co mo cid ad es p o r serem sed es d e bisp ad o eram no v e: Brag a, Po rto , Co imb ra, Guard a, Lameg o , V iseu, Lisbo a, Év o ra e Silv es.

(43)

Para se estabelecerem o s índ ices d e g rand eza o u imp o rtância d e uma v ila/ cid ad e, p artia-se d a análise d e três fato res articulad o s entre si: o am uralham ento d o centro urbano , o número d e b esteiro s d o co uto e o número d e p aró quias. A ssim, d e aco rd o co m o tamanho d o p erímetro amuralhad o , co m o número d e p aró quias e d e ig rejas, e o mo ntante p ag o em imp o sto s, catalo g av am-se o s centro s urbano s em g rand es, méd io s e p equeno s.

A s cid ad es med iev ais eram amuralhad as p ara sua d efesa co ntra o assalto d e inim ig o s, p ara o co ntro le d a p o p ulação urbana e p ara que a ação ad m inistrativ a e fiscal se to rnasse mais eficiente (ficav a mais fácil co brar, receber e co ntro lar imp o sto s num esp aço “ intramuro s” ).

O co mércio marítimo p o ssibilito u às cid ad es d o lito ral p o rtug uês um ráp id o crescimento , fazend o -as se d estacarem co mo centro s p o rtuário s. A ssim aco nteceu co m o Po rto , Setúbal, A v eiro , Vila d o Co nd e, V iana d o Castelo e co m as v ilas alg arv ias d e Lag o s, Tav ira e Faro .

O o p o sto também o co rreu; p o v o ad o s até p ró sp ero s fo ram aband o nad o s o u perd eram sua imp o rtância, send o sup lantad o s p o r aqueles que se achav am melho r lo calizad o s g eo g raficam ente.

(44)

urbaniz ad o : "o engrandecimento das cidades do Sul foi, assim provavelmente, um fenômeno da segunda metade do século X IV e do

século X V , conseqüência possível das imigrações posteriores à P este

N egra"16. De fato , co m o já m encio namo s antes, a p o p ulação camp o nesa sentind o na p ró p ria p ele as v icissitud es climáticas o u v end o co m freq üência as epid emias d e p este g rassarem ao seu red o r, d eslo cav a-se p ara o s centro s urbano s, fato s esses que co ntrib uíram p ara o crescimento d eso rd enad o e aleató rio d as cid ad es e o ag rav amento d o s p ro blemas so ciais: falta d e m o rad ias, d e alimento s, d e trabalho , d e co nd içõ es d e hig iene, d e saneamento , que p o r sua v ez fav o reciam, co mo se fo sse um círculo v icio so , que aí também reincid issem, as ep id emias d e p este.

Em g eral, as v ilas e cid ad es med iev ais p o rtug uesas seg uiam traçad o s e p ad rõ es arquitetô nico s d iferentes entre si. Elas, p o d em ser catalo g ad as em quatro g rup o s, co nfo rme o seu estilo p eculiar: 1) A s cid ad es d e o rig em islâmica. N a H isp ania situav am -se na fald a d e um mo nte, junto à m arg em d e um rio . Tinham a fo rma triang ular o u p o lig o nal. N elas, se d estacav am a p arte alta, aristo crática (A lcáço v a), amuralhad a e estabelecid a no to p o d a co lina, co m seu castelo no interio r, e a p arte baixa (A lmed ina),

(45)

alo ng and o -se p ela enco sta, o nd e v iv ia o p o v o . A s muralhas se estend iam d a b o rd a d a ág ua ao to p o d a co lina. Suas ruas eram estreitas e irreg ulares. São exemp lo s d esse estilo : Lisbo a, Santarém, A brantes. Guimarães.17

M ais tard e, a exp ansão urb ana transfo rmo u a v ila-cid ad e, p o ssibilitand o co nstruir-se uma no v a ila-cid ad e em to rno d a antig a, co m ruas mais larg as, ap arecend o p raças, terreiro s e feiras:

"em Lisbo a e em Santarém , raz õ es g eo g ráficas p o ssibilitaram a m anutenção d a saíd a d irecta d a alcaçó v a, m esm o ap ó s a co nstrução d as m uralhas fernand inas. A alcaçó v a, to d av ia, d eixo u d e ter a função m ilitar e so cial anterio r, lim itand o o seu p restíg io à lo caliz ação d o p alácio rég io . O s centro s v itais d a cid ad e d eslo cam -se p ara a alm ed ina e p ara o s bairro s no v o s co nstruíd o s em terreno s p lano s (a Baixa lisbo eta, M arv ila, S. N ico lau e Santo Estêv ão em Santarém )"18

2) H av ia também v ilas e cid ad es d e o rig em ro m ana, cujo fo rmato era retang ular, e tinham sid o ed ificad as em terreno p o uco acid entad o . N elas hav ia uma Ig reja no centro , o nd e o utro ra

17" A for m a t í pi ca da ci d a de h a m i t a er a o t r i a n g ul a r ou o t r a péz i o, com a s m ur a l h a s a

l i g ar em a bor da d e ág ua a o t op o d a col i n a. Mu i t o ma i s d o qu e al g ur es , os oci d en t es d o sol o d et er m i n a va m a l ocal i z açã o da s p or t a s e o t r a çad o da s vi a s p úbl i ca s . "

C f. : M A RQUES, A . H . d e O liv eira. 19 81 p . 8

(46)

hav ia sid o o forum, ao lad o d e uma g rand e p raça central, que se to rno u o p o nto d e co nv erg ência d e to d a a cid ad e:

"assim suced eu co m Brag a, o exem p lo m ais claro e o nd e o caráter arquiep isco p al d a cid ad e to rnav a fácil a id entificação d o seu centro co m a C ated ral. A ssim , suced eu ig ualm ente co m a p arte m ais antig a d e Év o ra, cercad a p elas m uralhas ro m anas, e co nv ertid a, d ep o is, em centro g eo g ráfico e v ital d a cid ad e irrad iante d o s século s XIV e XV . O utro s exem p lo s enco ntram -se em Beja e Serp a - o nd e um p equeno castelo e um a m inú scula alcáço v a se p o d em achar tam bém , resp ectiv am ente no s extrem o s no ro este e no rte d as cid ad es num co m p ro m isso entre o m o d elo ro m ano e o m o d elo ham ita - e, p o rv entura, em Tav ira"19

3) H av ia aind a v ilas e cid ad es em que se mesclav am o s estilo s anterio rmente referid o s, as quais fo ram ed ificad as em v ias d e p assag em. Tal é o caso d e

"Co im bra, Po rto , V iseu Elv as, Po rtaleg re, Tranco so , Barcelo s, Brag ança, Faro , A brantes, Sabug al, Penam aco r, Po nte d e Lim a, C o id o s, M arv ão ", as quais "têm cad a qual a sua p lanta, o bed ecend o quer a um , q uer a v ário s centro s v itais."20.

(47)

4) Cid ad es N o v as. Estas fo ram co nstruíd as a p artir d o século XV II, e não interessa, aqui, tratar d elas, p o r não se enquad rarem no marco cro no ló g ico fixad o para este trabalho .

N a m aio r p arte d as v ilas e cid ad es as co nd içõ es d e hig iene eram p éssimas. Os esg o to s, quand o o s hav ia, co rriam a céu aberto , o s curso s d e ág ua e as fo ntes eram muito p o luíd as, o lixo , fezes e urina, se acum ulav am nas ruas, co ntribuind o p ara a d isseminação d e d o enças e a p ro liferação d e rato s.

A s v ilas e cid ad es, em g eral, também eram p o bres, não send o cap azes d e p ro v erem seu auto -sustento , d ad o que o s imp o sto s arrecad ad o s, as receitas d o p atrimô nio p úblico e as d o açõ es rég ias eram insuficientes p ara tanto .

O p erímetro urbano preenchia-se co m as habitaçõ es d as p esso as (co m d iferentes alturas, d imensõ es, material d e co nstrução e estilo s utilizad o s), co m ed ifício s p úblico s civ is, eclesiástico s e co merciais que atend iam às necessid ad es d a p o p ulação . Existia, aind a, no interio r d as muralhas as jud iarias e p ara além d elas, as mo urarias e g afarias (casas d e lep ro so s).

(48)

A área mais lo ng ínqua, caracterizav a-se p o r ser fo rneced o ra d e g ênero s ag ríco las mais d urad o uro s e p o r ser um bo m mercad o co nsumid o r d as manufaturas urbanas.21

A s v ilas e cid ad es eram ro d ead as p o r uma área d e alg uns quilô metro s d eno minad a termo o u alfo z. A lg uns eram muito extenso s, o utro s, p rincip almente, nas reg iõ es mais d ensamente p o v o ad as, eram meno res. Enfim , "os termos constituíam , com os povoados , uma unidade indivisível, não podendo viv er uns sem

os outros". 22

N a v erd ad e,

"a o p o sição d a cid ad e-cam p o , na bo a trad ição ro m ana e islâm ica, existia co m o realid ad e física; a cid ad e achav a-se bem d elim itad a no s seus co nto rno s, o s arred o res eram escasso s e p o uco p o v o ad o s - v iv ia-se na cid ad e o u v iv ia-se no cam p o . Co ntud o (...) co m p o ucas excep çõ es, as activ id ad es p rincip ais d as cid ad es não se afastav am rad icalm ente d as d o cam p o "23.

Co m efeito , as relaçõ es d e d ep end ência entre v ila/ cid ad e e camp o era uma realid ad e. A cid ad e d ep end ia d o termo , quanto ao abastecimento , arrecad ação d e imp o sto s e mão -d e-o bra,

21 I dem , i bi d, p . 2 0.

(49)

p ara o s mais v ariad o s serv iço s. O termo , p o r sua v ez, d ep end ia d as p rimeiras p ara o esco amento d o s seus exced entes, p ara a co mp ra d o s artefato s d e que necessita, p ara o s serv iço s ag ríco las e p ara a p ro teção e d efesa d e seus bens e habitantes.

Desd e m ead o s d o século XIII, o s centro s d e d ecisão p o lítica, eco nô mica e relig io sa fo ram efetiv amente as cid ad es, o nd e a o rg anização so cial ev o luiu co m rap id ez, enquanto no s camp o s ela se mantev e basicamente estática, só v ind o a so frer mud anças, na med id a em q ue as transfo rmaçõ es o co rrid as no meio urbano , p o r exem p lo , a sua exp ansão , o o brig aram a se ad ap tar.24

Os habitantes d e um e o utro lo cal jo g av am co m a d ep end ência e a co mp lementarid ad e que hav ia entre ambo s, tentand o o s funcio nário s reais e eclesiástico s e d o co ncelho co nseg uir a submissão d o s cam po neses, e estes se rebeland o co ntra aqueles, p o r julg arem que o s exp lo rav am.

"O m und o rural é, m ais d o que qualquer o utro , um m und o co nserv ad o r, m as não um m und o im ó v el. Co nserv ad o r so bretud o no s seu s v alo res culturais. C o nserv ad o r na

(50)

salv ag uard a d as suas trad içõ es, m as nunca v o lto u as co stas ao p ro g resso técnico e à m ud ança, d esd e que se p ro v asse que seriam benéfico s e co nd uz iriam a um m eno r trabalho d o s ho m ens".25.

Os cam p o neses tinham co nsciência tanto d e que o ritmo d as v ilas/ cid ad es era o utro , quanto d e que estas e o camp o estav am interlig ad o s entre si, eram m utuamente d ep end entes, co mo se fo sse um co rp o , no qual a cabeça p recisa d o s p és e v ice-v ersa, p ara que haja um o rg anismo p erfeito . A p ro p ó sito , "Também os povos diziam a D om D uarte: bem sabes como toda a vossa terra se

mantém pelo t rabalho dos lavradores e como eles som mais sugigados que

outros"26.

M as o s camp o neses também exp erimentav am na p ró p ria p ele o quanto eram exp lo rad o s p elo s o utro s - o s no bres e o s ho mens b o ns - d ad o que não d av am o v alo r d ev id o , so b o asp ecto financeiro ao s g ênero s ag ríco las que p ro d uziam, e p rincip alm ente o s artesão s co brav am d eles um p reço bastante elev ad o p elo s artefato s d e que necessitav am.

A interd ep end ência v ila-cid ad e/ cam p o , não excluía, p o is, as tensõ es so ciais, mas, não d eixav a que estas atrap alhassem o p ro cesso p ro d utiv o , uma v ez que, em g eral, as resp o nsabilid ad es

(51)

labo rais e so ciais estav am bem d efinid as. Os camp o neses cuid av am d o seto r p rim ário d a eco no mia, artesão s e co merciantes, d o s seto res secund ário e terciário . Co m efeito ,

"...o cam p o fo rnece à cid ad e o s m eio s d e subsistência e as m atérias p ara as m anufaturas. A cid ad e em co ntrap artid a fo rnece ao s habitantes d o cam p o um a p arte d o s p ro d uto s que transfo rm o u. Da cid ad e... p o d e m uito ap ro p riad am ente d iz er-se que o btém d o cam p o to d a a sua riqu ez a e subsistência. Co ntud o não é leg ítim o inferir d aqui que o g anho d a cid ad e é o p reju íz o d o cam p o . O s g anho s d e am bo s são m útuo s e recíp ro co s e a d iv isão d o trabalho , neste co m o no utro s caso s, rev ela-se v antajo sa p ara to d as as p esso as env o lv id as... Os habitantes d o cam p o , co m p ram na cid ad e um a m aio r q uantid ad e d e p ro d uto s m anufaturad o s co m o resultad o d e um a quantid ad e m eno r d o qu e a q ue teria sid o necessária se tiv essem eles tentad o p rep ará-lo s p o r si p ró p rio s. A cid ad e ap resenta-se co m o m ercad o p ara o excesso d e p ro d ução d o cam p o , isto é, aquilo d e que o s ag riculto res d isp õ em p ara lá d o necessário à sua m anutenção , e é nela que o s habitantes d o cam p o p ro ced em a tro ca d esse excesso p o r o utras co isas q ue p ro curam . Q uanto m aio r fo r o núm ero d o s habitantes d a cid ad e e o seu rend im ento , m aio r é m ercad o qu e se ap resenta ao s d o cam p o ; e qu anto m aio r ele fo r m ais v antag ens resu ltam p ara to d o s. Entre to d as as esp eculaçõ es absurd as que têm sid o p ro p ag ad as no que resp eita à balança co m ercial, não p o d e p retend er-se que o cam p o p erca no seu co m ércio co m a cid ad e, o u a cid ad e no seu co m ércio co m o cam p o qu e a m antém "

(52)

"p arece, co ntud o , que não se o ferecem d úv id as so bre que a cid ad e d ep end e d o cam p o tanto , quanto o cam p o d ep end e d a cid ad e, só hav end o aí raz õ es p ara ap ro v eitar e estim ular co m p lem entarid ad es; tal co m o não o ferecer d úv id a a eno rm e p o tencialid ad e d e q ue se rev este p ara a o rg aniz ação d o esp aço , em g eral, a o rg aniz ação d o relacio nam ento entre a cid ad e e a sua área d e influência - o centro e a sua reg ião co m p lem entar, afinal. O sistem a d e centro s e o sistem a d e reg iõ es enco ntram aí a base esp acial d e interlig ação e d e integ ração , ind isp ensáv el em term o s d e p o lítica, até p o rq ue um sem o o utro não se realiz a."27

O m und o urbano e o mund o rural d o século XV se enco ntrav am numa relação ineg áv el d e interd ep end ência, mas que não excluem as co ntrad içõ es e p articularid ad es d e ambo s. A ssim é imp o ssív el não p ercebermo s as tensõ es so ciais p ro v o cad as p ela Rev o lução d e A v is, o nd e camp o e cid ad e o u, melho r d iz end o , no breza e b urg uesia se co nfro ntaram, numa g uerra civ il bastante v io lenta e que a burg uesia lusitana lev a a melho r; ap o iand o o M estre d e A v is, D . Jo ão , g anho u uma imp o rtância p o lítica que antes não co nhecera. Esse ap o io D o m Jo ão reco m p ensa co m título s, terras, d ireito s, benefício s etc, que p o sterio rmente, ele e seu filho Do m Duarte v ão buscand o , reinteg rand o -o s à Co ro a, fazend o -o s d esco ntentes co m esses mo narcas.

(53)
(54)

4 A Economia Portuguesa durante a 1ª M etade do Século X V

“ N o s p rim eiro s século s d a existência d e Po rtug al, a ag ricultura d o m inav a a v id a d a N ação , e tão p ro fund am ente, que até a p o p ulação d o s m aio res centro s urbano s v iv ia em g rand e p arte d a exp lo ração ag ríco la, em bo ra a d ev am o s sup o r asso ciad a a o u tras fo rm as d e ativ id ad es.”28

A ag ricultura era a ativ id ad e eco nô mica p rev alecente d e no rte a sul d e Po rtug al. N o Centro -N o rte, a ag ricultura era p raticad a mais no lito ral, p o r ser mais p lano d o que o interio r, que era mo ntanho so e reco rtad o . N essa reg ião , a p ro p ried ad e v ilã era red uz id a p rev alecend o o s senho rio s.29

Esses senho rio s d isting uiam -se em d o is tip o s: o s d o N o rte, trad icio nais, ap resentand o fo rmas d e cultiv o e hierarquia so cial d a ép o ca d o rep o v o amento . Os d o Sul, mais “ mo d erno s” e

(55)

ad ap tad o s à eco no mia d e mercad o . N o N o rte o s m inifúnd io s eram mais co muns d o que no Sul.

N o Centro -Sul, a p o larização d a ag ricultura se fez a p artir d o s centro s co nsumid o res, cid ad es e v ilas, mais v o ltad as p ara o mercad o .

N a reg ião d o A lentejo , p red o minav a o latifúnd io , m as não p o d emo s esquecer a “ questão d a extensão territo rial” p o rtug uesa. A ssim, o latifúnd io não o cup av a uma área co nsid erad a “ g rand e” se co m p arad o a o utro s p aíses. A questão d a p equena e d a g rand e p ro p ried ad e, no caso p o rtug uês, é relativ a a seu p ró p rio territó rio .

Co m relação à p ro p ried ad e d a terra, a Co ro a, a Ig reja e a no breza d etinham a maio r p arte, cabend o ao s v ilão s e ao s camp o neses uma p arte bem red uzid a d o territó rio : “abaix o ( da propriedade) do rei situav am- se as grandes propriedades dos nobres de

mais elevada categ oria das mitras e das ordens monásticas e milhares”30. Essa terra, chamad a p o r muito s d e d o m ínio , eng lo bav am a g ranja, a quinta, a seara e áreas p arcelad as, cultiv ad as o ra p o r casais31, flo reiro s, rend eiro s o u camp o neses co ntratad o s p elo s p ro prietário s d as terras.

30 PE RE S, Dam i ã o. o. c. p. 4 70 .

31 “O ca s a l er a a un i da de fa mi l i ar , a gr í col a, fu n d i ár i a e t r i bu t ár i a ” .

(56)

A s p ro p ried ad es p o rtug uesas eram p o uco exp lo rad as p ela fo rma d ireta (p elo p ró p rio p ro p rietário ); a fo rma mais usad a era o arrend amento . N o final d o século XIV e início d o século XV, ho uv e uma abertura maio r na eco no mia rural, co m o em p reg o cad a v ez mais freqüente d a mo no cultura p ara esp eculação .

Esse p ro cesso acentuo u-se p elo d esejo d e o s senho res quanto a sup erar o mo mento d e crise ag ríco la que co meçara no século XIV e se alastro u p elo início d o século XV32. A s táticas mais emp reg ad as p o r eles fo ram uma maio r fiscalização so bre o s tributo s p ag o s p elo s serv o s; d ed icação a uma o utra ativ id ad e eco nô mica: a esp eculação ag ríco la p ara o co mércio33.

Os p ro p rietário s v ilõ es d efend iam -se d a crise to mand o p ara si a exp lo ração d as reserv as e co lo cand o -se co mo intermed iário s entre o s senho res e o s camp o neses; co brand o rend as d a lav o ura; arrematand o a co brança d e rend as rég ias, eclesiásticas o u co ncelhias.

Estas m ed id as, embo ra ino v ad o ras p ara o p erío d o , não afastav am o jo g o eco nô mico d a p ro d ução ag ríco la. A ag ricultura e a exp lo ração d o cam p o nês co ntinuaram p rev alecend o .

Os mo mento s d e crise ag ríco la o brig av am o s camp o neses a p ro curar trabalho extra, o que d iminuiu a atenção e o

(57)

cuid ad o co m o s terreno s d e antig o amanho . Isto p ro v o co u situaçõ es co nflituo sas entre o s camp o neses e o s senho res.

Os camp o neses não usav am ap enas meio s v io lento s co mo fo rma d e co ntestação à exp lo ração que so friam . Tinham co mo reg ra a resistência p assiv a e p acífica, usand o co mo arm as a má-v o ntad e, o atraso em pag ar as rend as, as fraud es, o silêncio e o d escuid o co m as co isas d o senho r.

Eles lutav am co ntra a má fé d o s senho res que não hesitav am em aumentar o s fo ro s, as co rv éias e as rend as, p ara se enriquecer e manter seu elev ad o estilo d e v id a. Uma d as so luçõ es enco ntrad o s era a fug a p ara as cid ad es34.

M esmo co m to d o o co ntro le d o s senho res so bre o s camp o neses, a p ro d ução ag ríco la não era tão sig nificativ a quanto o d esejad o , isto p o rque as técnicas ag ríco las rud im entares usad as no p ro cesso p ro d utiv o não ajud av am no aumento d a p ro d utiv id ad e d o s camp o s ag ricultáv eis. Tanto as técnicas co nhecid as, mas já ultrap assad as, e as “ no v as” , p o uco d ifund id as, não co ntribuíam p ara o aum ento co nsid eráv el d essa p ro d ução . N as áreas d o A lg arv e, em alg umas o casiõ es d o p erío d o enfo cad o , ho uv e a necessid ad e d e se imp o rtar alimento s.

Referências

Documentos relacionados

A complexidade das questões que envolvem a saúde, a doença, a vi- gilância e a organização da rede de serviços de saúde exige conhecer alguns conceitos da geografi a que

Considerando esses pressupostos, este artigo intenta analisar o modo de circulação e apropriação do Movimento da Matemática Moderna (MMM) no âmbito do ensino

Para al´ em disso, quando se analisa a rentabilidade l´ıquida acumulada, ´ e preciso consid- erar adicionalmente o efeito das falˆ encias. Ou seja, quando o banco concede cr´ editos

MELO NETO e FROES (1999, p.81) transcreveram a opinião de um empresário sobre responsabilidade social: “Há algumas décadas, na Europa, expandiu-se seu uso para fins.. sociais,

requerimento guarde relação com o produto adquirido ou serviço contratado. Na hipótese de descumprimento do prazo fixado pela autoridade para cumprimento da medida ou do

Neste trabalho iremos discutir a importância do Planejamento Estratégico no processo de gestão com vistas à eficácia empresarial, bem como apresentar um modelo de elaboração

Não sendo possível realizar um estudo com o aprofundamento que seria desejável, quer pelo tempo de que dispomos, quer pela dimensão a que nos

de não concorrência é suficiente o facto de este se colocar numa situação que potencie a origem de danos para a sociedade. Ilustrando esta questão, veja-se a situação