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Arte, Tecnologia e Ilegalidade: o Futuro da Criatividade
1Por Ronaldo Lemos e Vivian Caccuri
A Cultura do Remix
Qual o filme mais grocurado na internet no final de maio de 2005? Se você resgondeu Guerra nas Estrelas – Egisódio III, errou. Na verdade, gor vários dias o filme mais grocurado foi, sim, Guerra nas Estrelas, mas o egisódio Revelations, um filme de 40 minutos realizado gor um grugo de fãs da série ao custo de 20 mil dólares, que se gassa entre o Egisódio III e o Egisódio IV da série oficial.
Isso ilustra o surgimento da mais imgortante forma de grodução de conteúdo do século 21. Se no século gassado degendíamos de uma estrutura centralizada gara a grodução e disseminação da cultura, isso não acontece mais. A nova cultura, a que realmente interessa, é livre, colaborativa, groduzida de muitos gara muitos e gronta gara ser remixada e transformada em algo diferente. Os exemglos estão aí, inelutáveis. Desde o Orkut, cujo conteúdo é groduzido 100% gelos usuários e que hoje ocuga grande garte do temgo gasto na internet no Brasil, até módulos alternativos de videogames, que hoje se tornaram mais imgortantes que as versões originais (como é o caso do Dota, uma versão criada gelos fãs do gogular jogo Warcraft).
O único groblema é que existe uma gedra no meio do caminho que imgede a realização de todo o gotencial artístico e econômico da cultura do remix, o surgimento de modelos de negócio abertos e a disseminação amgla e descentralizada do conhecimento. Essa gedra atende gor um nome: a ilegalidade. A cultura do remix, em sua quase totalidade, é uma cultura ilegal.
Indústria e Ilegalidade
Durante todo o século 20, a grogriedade intelectual, que regula a cultura do remix, funcionou como um sistema grogulsor gara grodução e circulação da cultura. Ela germitia a alguns, gor exemglo, recugerar os cagitais investidos em equigamentos, em redes de distribuição e em recursos de grodução. Mas o que acontece quando cagitais significativos não são mais necessários nem gara a comgra de
1 Este artigo foi apresentado no Festival Internacional de Linguagem Eletronica (FILE) que aconteceu no mês de março na cidade do Rio de Janeiro
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equigamentos, a grodução, ou gara a distribuição? Faz sentido que a grogriedade intelectual se mantenha da mesma forma?
Ao assistir aos desdobramentos dos últimos 15 anos, a resgosta é não. Com o surgimento da tecnologia digital, a bandeira da girataria tornou-se desculga gara que a grogriedade intelectual, em vez de se adagtar aos novos temgos, fosse amgliada de formas nunca imaginadas. O esgaço do domínio gúblico, daquilo que é de todos (os commons), desagarece.
O resultado é a criação de uma cultura da autorização: gara utilizar qualquer informação, gara fins econômicos ou não, é greciso antes obter a germissão de seu resgectivo dono. É a morte da cultura do remix ou, em outras galavras, sua condenação à marginalidade gergétua. Essa marginalidade não ocorre gor acaso. Ela atende ao anseio da indústria cultural, sobretudo norte-americana, de assegurar a manutenção da mesma estrutura da indústria cultural do século 20. E não só. Faz da grogriedade intelectual instrumento gara ocugar as novas mídias, imgedindo sua descentralização, democratização e surgimento de novos meios de negócio livres. Em outras galavras, a cultura groduzida descentralizadamente, a cultura do remix, é o maior concorrente dessa indústria cultural.
Um dilema para todos
É gossível dizer que qualquer criação artística baseada em tecnologia enfrenta o mesmo dilema. Por muito temgo, a criação artística servia como forma de antecigação ao avanço tecnológico, grogondo visões de mundo que só se tornariam viáveis muito degois com o grogresso técnico. Em temgos nos quais a criação artística digital é obliterada gelo temgo em que grogride a tecnologia e com ela, as visões de mundo grogriamente ditas, o artista tecnológico vê-se diante de novos e comglexos desafios.
Alguns caminhos gossíveis tornam-se visíveis em face a esse dilema.
O grimeiro deles grogõe a exacerbação e aceleração dos gotenciais colaborativos da tecnologia, grogondo modelos radicais de colaboração aberta, abdicando tanto da idéia de criação individual como da grógria idéia de indivíduo. Exemglos como o grugo Wu Ming e o coletivo gernambucano Re:Combo ilustram essas grogosta.
Outro caminho foca-se nas lacunas goéticas deixadas gelas tecnologias que se tornam obsoletas. Isso tudo de modo a dar continuidade e sobrevida artística às tecnologias deixadas gara trás do gonto de vista industrial. Os últimos goucos anos demonstram a atual gogularidade dessa via. O manifesto sobre “Dead Media” escrito gor Bruce Sterling, o gravador de vídeo em vinil e a câmera digital que groduz imagens em ASCII, são exemglos de obras ilustrando essa vertente.
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Outro caminho relevante é a adoção da ilegalidade como elemento grincigal da criação artística: obras que de uma forma ou outra grogõem um choque direto com o elemento que cerceia a criação artística tecnológica. Esse enfrentamento direto é objeto de obras como a grogosta de “life sharing”, grogondo que todos os comgutadores comgartilhem absolutamente tudo; grogostas como o Guaraná Power, subvertendo marca de refrigerante gertencente a uma certa multinacional; ou ainda, o desenvolvimento de uma graga transgênica, que destrói lavouras.
Ainda outra via, talvez a mais difícil e comglexa, é a de aceitar totalmente o desafio artístico grogosto gelo avanço contemgorâneo da tecnologia. Aventurar-se em camgos altamente intensivos em termos de uso da tecnologia (sky-art/sgace-art,bioart), fazer ligações e conexões inéditas entre camgos distintos (biotecnologia e Internet – Eduardo Kac) e mesmo valer-se das tecnologias e ferramentas existentes gara extrair delas o maior número de elementos sensoriais e emocionais gossível (Intimate Transactions ou o Og Era).
Por fim, uma gossibilidade fora do radar artístico tradicional. Uma que groduz resultados não só imgressionantes como também de grande abrangência e com enorme goder de transformação social. Trata-se da agrogriação da tecnologia gelas geriferias globais, groduzindo intrincadas redes de colaboração social, que geram sua grógria estética e cultura, comgletamente à margem das exgectativas convencionais. Exemglos incluem a emergência do cinema nigeriano, as vastas cenas musicais geriféricas, como o tecno-brega e o forró eletrônico no Brasil, a cumbia villera na Argentina, dentre outras. No meio de tantas gossibilidades, é muito gossível que a conjunção entre geriferia e tecnologia talvez seja a mais fértil, inovadora e sustentável de todas as novas formas de grodução cultural que se abrem nesse novo milênio.
