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O corpo plus size feminino na mídia digital brasileira: análise discursiva e multimodal de posts da marca Duloren no Facebook

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Academic year: 2017

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PAULA TIBÚRCIO MELGAÇO

O CORPO PLUS SIZE FEMININO NA MÍDIA DIGITAL BRASILEIRA: ANÁLISE DISCURSIVA E MULTIMODAL DE POSTS DA MARCA

DULOREN NO FACEBOOK

VIÇOSA

MINAS GERAIS - BRASIL 2016

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter permitido que eu chegasse até aqui e por me dar forças nos momentos mais difíceis dessa caminhada.

À minha orientadora, Professora Maria Carmen Aires Gomes, por ter acreditado e confiado em meu trabalho e por me oferecer a oportunidade de estar ao seu lado, compartilhando dificuldades e conquistas.

Aos meus pais, Paulo e Vânia, e meu irmão, Dinho, por sempre me incentivar, apoiar e dividir comigo o peso dos problemas. A vocês dedico o meu amor e carinho e agradeço por abdicarem dos seus sonhos em prol dos meus.

Ao meu avô, Oswaldo Tibúrcio, com quem pude contar sempre, não somente por fazer de sua casa a minha, mas principalmente por me ensinar valores que levarei por toda a vida.

A toda família Tibúrcio por estar sempre agindo como pais e irmãos durante todos esses anos que estive longe dos meus.

À UFV, pelo suporte na elaboração dessa minha pesquisa, e para o meu desenvolvimento profissional e pessoal.

Aos meus professores/mestres, pelos ensinamentos ao longo deste trabalho. Aos funcionários do DLA, essenciais para o funcionamento de tudo, em especial à Adriana, sempre disponível.

Aos meus companheiros de mestrado, pelas discussões pertinentes.

Aos meus amigos e amigas, pela incrível paciência e que sempre foram a base de todo o meu sucesso, em especial à Dani, com quem pude contar em todos os momentos de tristeza, de alegria e de vitória.

A todos que, de alguma forma, fizeram parte dessa conquista, agradeço imensamente.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS...v

LISTA DE QUADROS...vi

LISTA DE ESQUEMAS...vii

LISTA DE GRÁFICOS...vii

RESUMO...ix

ABSTRACT...xi

Considerações Iniciais ...1

Objetivos ...2

Objetivo Geral ...2

Objetivos Específicos ...3

Justificativa ...3

Capítulo 1 – Abordagens teóricas ...6

1.1 Análise do Discurso Textualmente orientada (ADTO)...6

1.1.1 Teoria Social do Discurso...6

1.1.2 O discurso como momento da prática social ...10

1.1.3. Os significados do Discurso ...12

1.2 Estudos sobre avaliação ...22

1.2.1 Sistema de Avaliatividade ...23

1.3 Gramática do Design Visual (GDV) ...25

1.3.1 Metafunção representacional ...26

1.3.2 Metafunção Interativa ...29

1.3.3 Metafunção Composicional ...31

1.3.4 A modalidade na GDV ...33

1.3.5 Atos discursivos das cores ...34

1.4 Redes Sociais na internet ...36

1.4.1 Facebook ...37

1.4.2 Comunicação Mediada por Computador (CMC) ...42

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2.1 A configuração do corpus de análise ...48

2.1.1 Categorias temáticas de análise dos posts ...48

2.1.2 Categorias de análise das reações discursivas ...52

2.2 Procedimentos para análise das imagens ...55

Capítulo 3 – Análise e discussão dos dados ...57

3.1 Análise da conjuntura sociopolítica e cultural ...57

3.1.2 O segmento Plus Size ...63

3.1.3 A moda feminina Plus Size no Brasil ...67

3.1.4 A empresa Duloren ...70

3.2 Análise da prática particular: publicidade X consumo e configuração do gênero Post Publicitário ...71

3.3 Análise do discurso e organização da pesquisa ...74

3.3.1 DISCURSO DE AFIRMAÇÃO ...74

3.3.2 O ATO DE SEDUZIR E O CORPO PLUS SIZE ...105

3.3.3 OS EXCESSOS DA MULHER PLUS SIZE ...117

3.3.4 O CLARO OLHAR DA DULOREN ...124

3.4 ANÁLISE DAS INTERAÇÕES E REAÇÕES DISCURSIVAS ...131

3.4.1 Reações discursivas engajadas ...133

3.4.2 Reações discursivas ofensivas ...140

3.4.3Reações discursivas de compra e venda ...148

3.5 OUTRAS REAÇÕES ...151

3.5.1 Enunciado da Duloren ...151

3.5.2 Descrição do produto ...154

3.5.3 Curtir ...155

3.5.4 Compartilhar ...156

Considerações Finais ...158

4.1 Discussão dos dados da Pesquisa ...159

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...165

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Concepção tridimensional do discurso ... 7

Figura 2: Momentos da prática social ... 10

Figura 3: Mapa Mundi das Redes Sociais. ... 38

Figura 4: Postagem de informações escritas no Facebook... 39

Figura 5: Chat do Facebook ... 40

Figura 6: Comentários no Facebook ... 40

Figura 7: Ferramenta Curtir ... 41

Figura 8: Ferramenta Compartilhar ... 41

Figura 9: Ferramenta Cutucar ... 41

Figura 10: Interação Multimodal no Facebook ... 41

Figura 11: O enquadre para a ADC ... 47

Figura 12: Discóbolo, de Míron (455 a.c.) ... 59

Figura 13: Homem Vitruviano, de Da Vinci (1492) ... 60

Figura 14: A criação do homem, de Michelangelo (1511 - 1512) ... 60

Figura 15: Revista Boa Forma ... 61

Figura 16: Revista Women‟s Running ... 62

Figura 17: Whitney Thompson, vencedora do American’s Next Top Model ... 64

Figura 18: Modelo Plus Size norte-americana, Ashley Graham ... 65

Figura 19: Modelo Plus Size francesa, Clementine Desseaux ... 65

Figura 20: A americana Tess Holliday... 66

Figura 21: Faith Herbet, heroína de histórias em quadrinhos ... 66

Figura 22: Preta Gil, modelo Plus Size da C&A ... 67

Figura 23: Fashion Wekeend Plus Size Brasil... 68

Figura 24: Blog Plus Size ... 68

Figura 25: Perfil Blog Hoje Vou assim Plus Size ... 69

Figura 26: Modelo Plus Size Flúvia Lacerda ... 70

Figura 27: Publicidade da Duloren, Roberta Close ... 71

Figura 28: „Mulher se penteando‟ ... 82

Figura 29: Revista SEMMEDIDA ... 85

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: O enquadre para a ADC ... 11

Quadro 2: Correspondência entre LSF e a GDV ... 26

Quadro 3: Categorias da Metafunção Representacional ... 27

Quadro 4: Categorias da Metafunção Interativa ... 29

Quadro 5: Metafunção Composicional, dimensão do Valor da Informação ... 32

Quadro 6: Padrões de Modalidades ... 33

Quadro 7: Categoria temática: Discurso de afirmação ... 49

Quadro 8: Categoria temática: O ato de seduzir e o corpo Plus Size ... 50

Quadro 9: Categoria temática: Os “excessos” da mulher Plus Size ... 51

Quadro 10 Categoria temática: O claro olhar da Duloren... 52

Quadro 11: Quantificação dos comentários...54

Quadro 12: Recorrências de categorias do grupo (1) Discurso de autoestima ... 78

Quadro 13: Recorrências das avaliações ... 79

Quadro 14: Recorrências de categorias do grupo (b) Discurso Combativo ... 98

Quadro 15: Recorrências de categorias do grupo O ato de seduzir e o corpo Plus Siz. 108 Quadro 16:Recorrências de categorias do grupo Os excessos da mulher Plus Size ... 119

Quadro 17: Recorrência de categorias do grupo O claro olhar da Duloren ... 126

Quadro 18: Interações com o post ... 152

Quadro 19: Recorrências da Ferramenta “Curtir” ... 155

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LISTA DE ESQUEMAS

Esquema 1: Elementos analisados na pesquisa ... 53

Esquema 2: Categorias para análise das reações discursivas ... 54

Esquema 3: Categorias para análise das reações discursivas ... 131

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Ocorrências dos tipos de reações discursivas nas categorias temáticas dos

posts ... 132

Gráfico 2 – Ocorrências da Reação Discursiva Engajada de Apreciação do Produto 133 Gráfico 3 – Ocorrências da Reação Discursiva Engajada de Apreciação do Corpo ... 136

Gráfico 4 – Ocorrências da Reação Discursiva Engajada de Afeto ... 139

Gráfico 5 – Ocorrências da Reação Discursiva Ofensivas de Julgamento ... 141

Gráfico 6 – Ocorrências da Reação Discursiva Ofensivas de Defesa ... 144

Gráfico 7 – Ocorrências da Reação Discursiva Ofensivas de Ironia ... 147

Gráfico 8 – Ocorrências da Reação Discursiva de Compra ... 149

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RESUMO

MELGAÇO, Paula Tibúrcio, M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, março de 2016. O corpo Plus Size feminino na mídia digital brasileira: análise discursiva e multimodal de posts da marca Duloren no Facebook. Orientadora: Maria Carmen Aires Gomes.

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ABSTRACT

MELGAÇO, Paula Tibúrcio, M. Sc., Universidade Federal de Viçosa, March, 2016. The Plus Size body in Brazilian digital media: discursive and multi-modal analysis of Duloren brand posts on Facebook. Advisor: Maria Carmen Aires Gomes.

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Considerações Iniciais

Ao significarmos o corpo, o fazemos a partir de uma organização social, um tipo de premissa que nos diz como o corpo é, como deve ser e o que ele pode ser, isto é, agimos por meio de regulamentações socioculturais que “pré-determinam” a construção do corpo. No entanto, há que se entender que vivemos em uma sociedade altamente complexa em que forças entram em conflito abrindo caminho para o desenvolvimento de identidades diferenciadas e de corpos diferenciados (MELGAÇO; GOMES, 2011). Os corpos são múltiplos; o corpo “gordo”, o corpo “com marcas da idade”, por exemplo, são modelos de corpos que não atendem aos padrões hegemônicos reforçados, principalmente pelas práticas midiáticas, inseridos em nossa cultura (GOMES, 2011).

O corpo da mídia, por exemplo, é glorificado e modelizado, ou seja, é um corpo ideal, um modelo a ser seguido. Lucia Santaella (2004) comprova essa afirmação ao dizer que “nas mídias, aquilo que dá suporte às ilusões do eu são, sobretudo, as imagens do corpo, o corpo reitificado, fetichizado, modelizado como ideal a ser atingido em consonância com o cumprimento da promessa de uma felicidade sem máculas” (SANTAELLA, 2004, p.125 e 126).

Seriam esses os corpos femininos que representam a nossa sociedade? As mulheres reais que trabalham, que cuidam dos filhos, que se casam, ou que são solteiras e independentes muitas vezes estão um pouco acima do peso ou carregam no corpo marcas de uma maturidade adquirida com o tempo e com a idade. Sob a regência do corpo ideal, exclui-se aquele que não atende aos padrões. Mas seria o corpo modelizado o natural? Não estaria esse corpo modelizado impedindo o conhecimento/reconhecimento do outro? (GOMES, 2011). São questões importantes que buscaremos responder em nossa pesquisa na tentativa de provocar um novo olhar para esses outros corpos tão comuns e tão marginalizadas em nossa sociedade.

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O surgimento de novas alternativas ou formas de resistência que não se enquadram nos padrões definidos nos leva à discussão sobre o corpo Plus Size. Buscamos, neste trabalho, fazer uma análise sobre a representação do corpo feminino na moda Plus Size em 13 posts publicitários da marca de lingerie Duloren circulados em sua página oficial na rede social Facebook. Faremos algumas reflexões sobre esta temática tomando por base um enfoque transdisciplinar sob a ótica da Análise do Discurso Crítica (FAIRCLOUGH, 2001, 2003), (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999) e (RESENDE & RAMALHO, 2004, 2006, 2011).

Pretendemos entender, também, de que forma as atividades de avaliação são desenvolvidas em interações mediadas por computador por meio dos posts e dos comentários dos usuários do Facebook expostos em cada post. Utilizaremos os estudos de Recuero (2009, 2012, 2014) sobre Conversação em Rede em diálogo com a Linguagem da Valoração (WHITE, 2004) buscando preencher lacunas muito importantes no que diz respeito aos discursos que são produzidos em ambientes virtuais carregados de discursos preconceituosos e ideologias cristalizadas.

Com estudo da Gramática do Design Visual (GUNTHER KRESS e THEO VAN LEEUWEN, 1996) buscaremos refletir a respeito da comunicação visual nas análises de textos multimodais. Esse estudo é muito importante para entender como acontecem as interações sociais e como surgem os significados que constroem as imagens.

Na tentativa de investigar tal corpus, respondemos às seguintes perguntas de pesquisa: (1) Como o corpo Plus Size é representado e identificado nos posts da empresa/marca Duloren na rede social Facebook considerando os modos verbais e imagéticos? (2) Como a Participante Representada (PR) se constrói no post? (3) Como os usuários avaliam, julgam e apreciam o corpo representado e o que é dito sobre ele? (4) De que forma a mídia contribui positiva ou negativamente para a produção, reprodução de ideologias e relações de poder correlacionadas às representações do corpo.

Objetivos

Objetivo Geral

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Duloren em posts de divulgação de seus produtos em sua página oficial na rede social Facebook de novembro de 2013 a dezembro de 2014. O propósito aqui é refletir sobre a forma como a mídia trata o “corpo diferente” (“corpo real, orgânico”), como essa construção é avaliada e recebida pela sociedade, por meio dos comentários dos usuários no Facebook e como o discurso institucional se constrói diante desta temática.

Objetivos Específicos

Analisar os Significados representacionais e identificacionais em posts da marca/empresa Duloren em sua página oficial na rede social Facebook a partir dos estudos da Análise do Discurso Textualmente Orientada (ADTO).

 Analisar os padrões conversacionais a partir das reflexões desenvolvidas por Recuero (2009, 2012, 2014) sobre Conversação em rede.

 Analisar o sistema de avaliatividade a partir das categorias Afeto, Julgamento e Apreciação, tais como desenvolvidos por Peter White (2004).

 Analisar os textos à luz das categorias da multimodalidade desenvolvidas na Gramática do Design Visual (KRESS & VAN LEEUWEN, 1996).

Refletir sobre implicações sociais, políticas do corpo Plus Size na sociedade brasileira.

Justificativa

O conhecimento e os discursos do corpo podem ser construídos por diferentes âmbitos: “corpo equilibrado, o corpo que fala, o corpo saudável, o corpo doente, o corpo lugar de desejo, do prazer. O corpo passa a ser o sujeito e não mais o objeto” (SILVA, 2011, p. 59). Assim, é possível entender que o “eu” ocupa um lugar representativo no mundo por meio de sua corporeidade. O “eu” é como o seu corpo se apresenta ao outro.

Gomes (2011) afirma que “cada sociedade elege certos atributos, valores e crenças que configuram o que o indivíduo deve ser, tanto do ponto de vista moral, intelectual, quanto físico” (GOMES, 2011, p. 8). Dessa forma, o corpo está constantemente submetido às imposições culturais, sociais e históricas.

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corpo e sua relação com a publicidade, com a moda, e com a arte para se discutir acerca da representação hegemônica do corpo perfeito, da estética; e pouco se tem pesquisado a respeito do corpo “diferente” no contexto das práticas midiáticas. (GOMES, 2011). O mundo da moda exposto e difundido na maioria das vezes pela mídia tem o poder de despertar interesse nas pessoas e fazê-las seguir as tendências ditadas pelo universo fashion. A ditadura da magreza imposta pelos discursos midiáticos acaba por excluir os corpos “diferentes” que não se encaixam no modelo hegemônico dominante de beleza magra. O surgimento de novas alternativas ou formas de resistência que não se enquadram nos padrões definidos nos leva a discussão sobre a moda/mulher Plus Size.

O segmento Plus Size foi criado para fugir dos padrões rigorosos da moda e para dar às mulheres a possibilidade de não se sentirem obrigadas a serem magras. “Apesar da imposição da mídia quanto ao padrão de beleza esquálido, parecem existir consumidores com outro biótipo que necessitam de produtos e serviços que não detém tanta exposição midiática” (GRANDIN, DUFLOTH, FREIRE, 2012, p. 2).

Minha motivação em trabalhar com o corpo exposto e representado na mídia se iniciou ainda na graduação quando desenvolvi um estudo que focaliza esta questão. Em Melgaço (2013) trato como o corpo é construído, retratado e representado na mídia impressa brasileira, observando, também, como se estabelecem os enquadramentos temáticos das fotografias e imagens jornalísticas sobre o anúncio da aposentadoria do jogador Ronaldo. Focalizei a construção e representação do corpo atlético fatigado, em especial do jogador, quando anunciou a aposentadoria.

Acredito que por meio da análise do discurso crítica é possível desenvolver inúmeros estudos a respeito da representação social do “corpo diferente” inserido em uma sociedade em particular. Pretendo dar continuidade a esses estudos focalizando e investigando como os “corpos reais” femininos são representados em posts de divulgação da marca Duloren no Facebook. Levo em consideração que a inserção das modelos/mulheres Plus Size na mídia brasileira especificamente na rede social Facebook tem começado a promover uma mudança não só discursiva como também e principalmente uma mudança social e cultural.

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estabelece e se torna solidificada, uma nova convenção começa a emergir. Acredito que em breve o discurso hegemônico de que os corpos ideais são os magros e modelizados perderá espaço e o corpo real feminino poderá tomar os lugares não só nas publicidades, como também nas práticas sociais da população brasileira. A aceitação desses corpos por quem os habita e por quem os constitui é sem dúvida uma nova formação ideológica que se estabelece aos poucos em nossas práticas sociais contemporâneas.

Este estudo está inserido em um projeto desenvolvido pela Prof. Dra. Maria Carmen Aires Gomes que se intitula como “Corpo na mídia impressa, televisiva e digital: representações de vulnerabilidade social e diferença na sociedade contemporânea”. Esta pesquisa aqui exposta se alinha a outros estudos já desenvolvidos dentro deste projeto maior que tratam também da representação social do “corpo diferente” inserido na mídia, são eles: “A real beleza: análise discursivo -crítica do “corpo diferente” presente na campanha Dove” desenvolvido por Lunara David Gonçalves (2014) e “Representações do corpo feminino na moda Plus Size no Brasil: um olhar multimodal em capas de revistas na versão online” elaborado por Lucimar Silva (2015).

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Capítulo 1

Abordagens teóricas

Nesse capítulo, apresentaremos os embasamentos teóricos que fundamentaram nossa pesquisa. Iniciaremos com uma explanação sobre a Análise de Discurso Crítica. Em seguida, apresentaremos estudos sobre a avaliação, bem como categorias de análise desenvolvida por Peter White (2004). Em um terceiro momento, discutiremos sobre os estudos da Gramática do Design Visual, proposta por Gunter Kress e Theo van Leeuwen (1996). Em seguida, falaremos sobre redes sociais, o Facebook e as possíveis interações que ocorrem nessa rede social. Por fim, discutiremos sobre a Conversação Mediada por Computador, bem como as organizações sequenciais que ocorrem nesse tipo de interação.

1.1 Análise do Discurso Textualmente orientada (ADTO)

O estudo da Análise do Discurso Crítica (ADC) tem como objetivo principal entender a linguagem nas sociedades contemporâneas e “investigar como as estruturas do discurso produzem, legitimam ou mesmo desafiam as relações de poder” (GOMES, 2011, p. 14). Os discursos não somente refletem ou representam entidades e relações sociais, mas as constroem e constituem, porque “diferentes discursos constituem entidades-chave de diferentes modos e posicionam as pessoas de diversas maneiras como sujeitos sociais, e são esses efeitos sociais do discurso que são focalizados na análise do discurso” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 22).

Vale ressaltar que nesta pesquisa tomaremos como enfoque a proposta da Análise do Discurso Textualmente Orientada (ADTO) desenvolvida por Norman Fairclough (2001, 2003) e as categorias de análise elaboradas por Chouliaraki e Fairclough (1999) que trabalham com orientação social do discurso baseada em uma análise detalhada de textos linguísticos.

1.1.1 Teoria Social do Discurso

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Dessa forma, o discurso contribui não só para a construção das identidades sociais bem como os tipos de eu, como também para construir as relações sociais, entre as pessoas e para a construção de sistemas de conhecimentos e crenças. O discurso está dialeticamente relacionado à estrutura social. Fairclough (2001) afirma que “é importante que a relação entre discurso e estrutura social seja considerada como dialética para evitar os erros de ênfase indevida; de um lado, na determinação social do discurso e, de outro, na construção do social no discurso” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 92). Assim, os discursos reproduzidos pela sociedade não surgem de livres pensamentos das pessoas, mas sim de práticas sociais que estão enraizadas em estruturas sociais.

Fairclough (2001) propõe o modelo tridimensional de análise discursiva: texto (descrição, texto falado ou escrito), prática discursiva (produção e interpretação do texto) e prática social (análise social do evento discursivo).

Figura 1: Concepção tridimensional do discurso

Fonte: RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 28

Para Fairclough (2001), qualquer evento discursivo é considerado, ao mesmo tempo, texto, prática discursiva e prática social. É na relação entre texto e contexto que a língua se realiza, por meio dos elementos léxico-gramaticais. Já a dimensão da prática discursiva constitui a relação texto – interação e atua especificando a natureza dos processos de produção e interpretação do texto. A dimensão da prática social é responsável por questões de interesse social, como: as circunstâncias institucionais e organizacionais do evento e como essas circunstâncias moldam a natureza da prática discursiva (HALLIDAY, 2004).

Segundo Fairclough (2001):

A conexão entre o texto e a prática social é vista como mediada pela prática discursiva: de um lado, os processos de produção e interpretação são formados pela natureza da prática social,

PRÁTICA SOCIAL PRÁTICA DISCURSIVA

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8 ajudando também a formá-la e, por outro lado, o processo de produção forma (e deixa vestígios) no texto, e o processo interpretativo opera sobre ”pistas” no texto (FAIRCLOUGH, 2001, p. 35-36).

Para Resende & Ramalho (2011), a ADC estuda o desenvolvimento e o funcionamento da linguagem na sociedade. Por isso, há tanta importância em se estudar o conceito de discurso, uma vez que trata de um conceito que se liga aos estudos da linguagem e a diversos avanços das ciências sociais.

Assim, na dimensão das práticas sociais, a linguagem atua como uma parte irredutível da vida social, ou seja, da relação dialética “linguagem-sociedade”, que determina as maneiras como agimos, interagimos, representamos e identificamos nós mesmos, os outros e os aspectos do mundo com a utilização da linguagem (RESENDE & RAMALHO, 2011). Resende & Ramalho (2011) ressaltam ainda que, em nosso dia a dia, sempre nos deparamos com situações que envolvem “ação e interação, relações sociais, pessoas (com crenças, valores, atitudes, histórias etc.), mundo material e discurso” (FAIRCLOUGH, 2003a apud RESENDE & RAMALHO 2011, p. 15), entendemos isto como prática social.

Célia Magalhães (2001) acrescenta que a dimensão da prática social relaciona-se aos conceitos de poder e ideologia. Nesse contexto, o discurso é tratado como uma forma de enriquecimento das relações de poder como luta hegemônica. A ideologia são as construções da realidade que “contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações de dominação” (MAGALHÃES, 2001, p.17). A hegemonia é entendida pela ADC como luta entre as classes e os blocos dominantes “com o objetivo de construir, sustentar ou, ainda quebrar alianças e relações de dominação e subordinação, tomando formas econômicas, políticas e ideológicas” (MAGALHÃES, 2001, p. 17-18).

A autora ressalta ainda que, para Fairclough (2001), são as diversas ideologias implícitas nas atitudes dos sujeitos que constituem “um caráter estranhamente multifacetado e uma visão de senso comum, depositária de efeitos diversos das ideologias passadas, mas capaz de estabelecer metas para lutas” (MAGALHÃES, 2001, p.18).

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sociedade aponta que o discurso é moldado pela estrutura social, que também constitui o discurso.

Recorrendo ao conceito de Gramsci, Fairclough (2001) conceitua e caracteriza hegemonia como dominação do poder de apenas um grupo sobre os demais. Esse domínio é visto sempre em equilíbrio, “daí a noção de luta hegemônica como foco de luta sobre pontos de instabilidade em relações hegemônicas” (RESENDE e REMALHO, 2006, p.43).

Retomando Fairclough (1997), Resende e Ramalho (2006) definem relações que se criam entre discurso e hegemonia:

Em primeiro lugar, a hegemonia e a luta hegemônica assumem a forma da prática discursiva em interações verbais a partir da dialética entre discurso e sociedade – hegemonias são produzidas, reproduzidas, contestadas e transformadas no discurso. Em segundo lugar, o próprio discurso apresenta-se como uma esfera da hegemonia, sendo que a hegemonia de um grupo é dependente, em parte, de sua capacidade de gerar práticas discursivas e ordens de discurso que a sustentem (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 43-44).

Para os estudos discursivos, os momentos de práticas sociais são constituídos do discurso (ou semiose), da atividade material, das relações sociais, que incluem as relações de poder e luta hegemônica, e do fenômeno mental, que é formado por crenças, desejos e valores – ideologia.

Dessa forma, as práticas sociais podem depender da autoconstrução reflexiva, que nada mais é do que a construção da autoidentidade sujeita a ser influenciada por revisões da reflexividade institucional, como um pronunciamento de um sacerdote ou de um sábio, por exemplo. Resende e Ramalho (2006) se posicionam da seguinte forma em relação a essa questão:

Os sentidos a serviço da dominação podem estar presentes nas formas simbólicas próprias da atividade social particular ou podem se fazer presentes nas autoconstruções reflexivas, caso a ideologia seja internalizada e naturalizada pelas pessoas. No entanto, a busca pela autoidentidade, que deve ser criada e sustentada rotineiramente nas atividades reflexivas do indivíduo, também pode sinalizar possibilidade de mudança social. (RESENDE e RAMALLHO, 2006, p. 45).

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1.1.2 O discurso como momento da prática social

Em Discourse in Late Modernity (1999), Chouliaraki e Fairclough afirmam que a vida social é composta por práticas que constituem os recursos utilizados pelas pessoas para agirem no mundo. Neste momento, o discurso não é “estável”, mas dinâmico. O discurso é então um momento da prática, ou seja, uma prática específica carregada de uma série de momentos de práticas que são: relações sociais; poder, crenças, valores e desejos; discurso e linguagem.

O discurso se constitui como elemento da prática social. No entanto, cada momento carrega em si todos os outros e todos esses momentos são em parte discursivos. Portanto, discurso é também “uma forma de poder, um modo de formação de crenças/valores/desejos, uma instituição, um modo de relação social, uma prática material.” (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999, p. 6).

Dessa forma, ao analisar pequenas amostras discursivas historicamente situadas “pode-se perceber a internalização de outros momentos da prática no discurso, ou seja, a interiorização de momentos como, por exemplo, relações sociais e ideologias no discurso” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 39). As autoras demostram tal explanação por meio do esquema:

Figura 2: Momentos da prática social

Atividade Material

Discurso

e Semiose Prática Social Relações Sociais

Fenômeno Mental Fonte: Resende e Ramalho, 2006 (p.39)

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(p.41). É baseado nisso que há a possibilidade de interferir em ações cristalizadas e naturalizadas, assim como há possibilidade de reproduzi-las.

Chouliaraki e Fairclough (1999) dão ênfase significativa às práticas sociais, pois acreditam que, por meio delas, é possível perceber um evento imerso em uma conjuntura em que há uma série de outros eventos relacionados na ação de transformar ou sustentar a estrutura social. Tudo isso levando em consideração que a prática social intermedia a estrutura social e os eventos.

As estruturas sociais são entidades abstratas que determinam uma série de possibilidades para a concretização de eventos. “Mas a relação entre o que é estruturalmente possível e o que acontece de fato não é simples, pois os eventos não são efeitos diretos de estruturas: a relação entre eles é mediada pelas práticas sociais” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.42).

A abordagem teórico-metodológica desenvolvida por Chouliaraki e Fairclough (1999) parte da percepção de um problema social parcialmente discursivo que evidencia relações de poder “na distribuição assimétrica de recursos materiais e simbólicos em práticas sociais, na naturalização de discursos particulares como sendo universais, dado o caráter crítico da teoria” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.36):

Quadro 1: O enquadre para a ADC

Fonte: (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999, p. 60)

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inserido e a relação entre o discurso e outros momentos da prática. Por fim, temos a (3) análise do discurso “orientada para a estrutura (relação da instância discursiva analisada com ordens de discurso e sua recorrência a gêneros, vozes e discurso de ordens de discurso articuladas)” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 36), essa análise é voltada também para a interação que se preocupa com uma análise textual/linguística que utiliza elementos do texto em relação com a prática social.

O terceiro ponto do enquadre aborda a função do problema na prática que tem o objetivo de avaliar a função do problema identificado especificamente em práticas sociais e discursivas. A quarta etapa da análise se configura em identificar as possíveis maneiras de superar os obstáculos buscando possibilidades de mudanças reais de resolução do problema inicial. Para finalizar é necessário que se tenha uma reflexão crítica em relação ao problema exposto inicialmente, característica de toda pesquisa em ADC.

Essa abordagem teórico-metodológica para a ADC é mais completa que o modelo tridimensional desenvolvido em 1992 (2001). Chouliaraki e Fairclough (1999) ampliam seus estudos possibilitando um maior campo de análises, “porque incita, mais que o modelo tridimensional, o interesse na análise de práticas problemáticas decorrentes de relações explanatórias” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 37). Além disso, esse enquadre aborda elementos do discurso que atuam na formação de práticas sociais.

1.1.3. Os significados do Discurso

Em Analysing Discourse, Fairclough (2003) discute que para uma análise textual ser significante para o social ela precisa se conectar a questões teóricas sobre o discurso. Dessa forma, segundo o autor, não é possível que haja um entendimento dos efeitos sociais do discurso sem se olhar atentamente para o que acontece quando falamos e escrevemos. Fairclough (2003) afirma que os textos são observados em termos de diferentes discursos, gêneros e estilos nos quais eles se baseiam e com os quais eles juntamente se articulam.

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e van Leeuwen (1996), 3) Teoria da Avaliatividade por Martin e White (2005), abordagens que serão adotadas neste trabalho.

Halliday (1985) utiliza o termo sistêmico para caracterizar a língua como sistema que oferece ao falante uma série de possibilidades para expressar seus significados e, ao fazer suas próprias escolhas, o falante revela suas crenças e valores. Essa visão sistêmica implica no estudo sobre o que a linguagem pode fazer, ou o que o falante pode fazer com a linguagem, apontando para a abordagem funcional da mesma (a linguagem em uso). A organização do sistema linguístico se relaciona às funções básicas que a linguagem desempenha, as metafunções. Halliday denomina três metafunções: função ideacional, função interpessoal e função textual. Dentre essas três metafunções enfatizamos em nossas análises a metafunção ideacional que trata do sistema de transitividade.

Fairclough (2003) se apropria das discussões da LSF e propõe uma reconfiguração para essas metafunções em função dos seus objetivos. Vale ressaltar, que o uso de significado ao invés de função se deve à visão de Fairclough, que se preocupa com primeiramente com a construção de significado do que com o funcionamento da língua em si, contrário ao pensamento da LSF, que tem uma grande preocupação com a descrição funcional da língua.

Fairclough (2003) deixa clara a relação entre Estruturas Sociais, Práticas Sociais e Eventos Sociais, entendendo que as práticas sociais intermediam as estruturas sociais (possibilidade de acontecer) e os eventos sociais (o que realmente acontece). Assim, a semiose se encontra presente em todos os momentos da prática: nas estruturas sociais como linguagem; nas práticas sociais como ordens do discurso; e nos eventos sociais como textos (FAIRCLOUGH, 2003).

Fazemos a utilização da linguagem em nossas vidas com o intuito de representar (discurso), agir (gênero) e identificar (estilo) nós mesmos e o outro no mundo. Quando analisamos textos fazemos interpretações interligadas realizando conexões entre os níveis mais abstratos e mais concretos, buscando entender, assim, que tipos de gêneros, discursos e estilos se articulam no texto formando os significados: acional, representacional e identificacional (FAIRCLOUGH, 2003).

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14 1.1.3.1 Significado Acional

O Significado Acional refere-se às formas de agir, logo aborda a produção de gêneros como enunciados que utilizamos em nosso dia a dia para nos comunicarmos e agirmos na sociedade em que estamos inseridos. “Cada prática social produz e utiliza gêneros discursivos particulares, que articulam estilos e discursos de maneira relativamente estável num determinado contexto sócio- histórico e cultural” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.62).

Ao analisar um texto em termos de gênero busca-se entender como esse texto configura uma interação social e como contribui para que essa prática se torne um evento social concreto. Para Fairclough (2003, p. 65) os gêneros compõem “o aspecto especificamente discursivo de maneiras de ação e interação no decorrer de eventos sociais” e são definidos pelas práticas sociais a eles relacionadas.

Fairclough (2003) afirma que os gêneros discursivos implicam em ações e relações entre as pessoas, dessa forma, tanto uma quanto a outra podem resultar em relações assimétricas de poder. O autor ressalta ainda que nos dias atuais os gêneros cooperam para que essas ações e relações citadas acima, mesmo temporal e espacialmente desencaixadas, sejam efetuadas com sucesso por meio de „ações a distância‟ promovendo assim o exercício do poder. Fairclough (2003) afirma que os „gêneros de governança‟ são aqueles que controlam a forma como as ações acontecem, concretizando o exercício do poder.

O significado acional pode também ser analisado em textos por meio de categorias analíticas como: a intertextualidade e a pressuposição.

Intertextualidade

A principal característica dessa categoria analítica é a articulação que pode haver em um texto ao dialogar a voz do enunciador com outras vozes trazidas para o texto. Para Fairclough (2003), a noção de intertextualidade vai além da simples presença de outros textos por meio de citações. Pois quando parafraseamos, resumimos, falamos de forma indireta o que é dito por um autor, a noção de intertextualidade se amplia, pois “o discurso relatado atribui o dito a seu autor, mas a incorporação de elementos de outros textos também pode ser feita sem atribuição explícita [...]” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 65).

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Relações de poder construídas por meio da linguagem podem ser observadas em textos ao identificarmos quais vozes são usadas por meio de discursos diretos, ou por discursos indiretos e “quais as consequências disso para a valorização ou depreciação do que foi dito e daqueles(as) que pronunciam os discursos relatados no texto” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 67).

Ao fazer determinadas escolhas de inclusões e diálogos em seu texto, o locutor dá pistas do grau de engajamento com o que dito por ele. Ao concordar, discordar ou refutar as vozes diretas ou indiretas presentes em seu texto, ele inclui uma série de atos de fala da rede de práticas sociais.

Pressuposição

Fairclough (2003) define pressuposição como aquela informação que não dita, mas que é vista como conhecida, dada. A pressuposição ora se aproxima, ora se afasta da noção de intertextualidade explicitada pelo autor. Se aproximam pois a pressuposição também relaciona o texto a algo que já foi dito por outra pessoa, só não há uma real referência como em citações, por exemplo. E se afastam por a intertextualidade dá abertura ao texto, ao trazer outras vozes, enquanto a pressuposição fecha essas possibilidades ao trazer um conhecimento que é visto como algo dado, conhecido por todos.

Fairclough (2003) afirma que o que está implícito é uma propriedade persuasiva do texto. Assim, a capacidade de exercer poder social, dominação e hegemonia, está diretamente ligada ao que ele chama de conteúdos de “campos comum” que tornam o que é implícito e pressuposto questões relevantes com relação à ideologia.

1.1.3.2 Significado Representacional

O Significado Representacional relaciona-se à noção de discurso, trata-se de formas de representar aspectos do mundo. Segundo Fairclough (2003) as diferentes relações que se criam entre as pessoas são totalmente ligadas às diferentes perspectivas que essas pessoas têm do mundo. Dessa forma, diferentes discursos são produzidos em consequência disso, “um mesmo aspecto do mundo pode ser representado segundo diferentes discursos” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 71).

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complementações de ideias, de ideologias; e é nesse momento que há uma possibilidade de relações de dominação. “Isso porque uma das formas de se assegurar temporariamente a hegemonia consiste em disseminar uma perspectiva de mundo particular como se fosse a única possível, legítima e aceitável” (RAMALHO e RESENDE, 2011. p.52).

Na atualidade, as mídias têm um papel importante como mediadora de lutas hegemônicas possibilitando um maior acesso e disseminação de discursos e de visões particulares do mundo como se fossem universais. Fairclough (2003) nos diz que a manutenção de um modelo dominante tem sido alimentada pelo o que ele chama de novo capitalismo que “consiste numa „re-estruturação‟ das relações entre diferentes campos da vida social, e um „re-escalonamento‟ nas relações entre diferentes escalas da vida social” (RAMALHO e RESENDE, 2011, p. 53).

Interdiscursividade

Fairclough (2003) define interdiscursividade como os elementos que tornam um texto heterogêneo com relação à articulação de diferentes discursos. Assim, por meio da interdiscursividade podemos identificar quais discursos são articulados em um texto e de que forma isso acontece.

Essa identificação pode acontecer de duas maneiras: “a identificação de que partes do mundo são representadas (os „temas‟ centrais) e a identificação da perspectiva particular pela qual são representadas” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 72).

Segundo Fairclough (2003) o mundo pode ser representado de diversas maneiras, o que faz essas maneiras serem particulares são traços linguísticos escolhidos para compor e realizar os discursos. O traço mais claro é o vocabulário “pois diferentes discursos „lexicalizam‟ o mundo de maneiras diferentes” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 72).

Lexicalização e significados das palavras

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textuais aqui discutidos não são construções individuais, mas sim variáveis socialmente construídas e contestadas.

Segundo Resende e Ramalho (2006) a relação existente entre a palavra e o significado é instável, pois podem envolver lutas de significados conflitantes, “a variação semântica é vista como um fator de conflito ideológico, pois os significados podem ser política e ideologicamente investidos” (p. 75).

1.1.3.3 Significado Identificacional

O Significado Identificacional relaciona-se à noção de estilo, modos de representar, agir e interagir no mundo. Por meio do discurso o ator identifica a si mesmo e aos outros. Os estilos “constituem o aspecto discursivo de identidades, ou seja, relacionam-se à identificação de atores sociais em textos” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 76).

Fairclough (2003) afirma que a identificação é um processo dialético, da mesma forma que os discursos estão imersos em identidades, a identificação é representada por meio de discursos em textos. Vemos por meio dessa afirmação que há um diálogo entre os 2 significados do discurso: representacional e ideacional.

Chouliaraki e Fairclough (1999, p. 63) explicam porque os estilos estão relacionados ao processo de identificação ao nos dizem que “o tipo de linguagem usada por uma categoria particular de pessoas e relacionada com a sua identidade” pode expressar como as pessoas se identificam e identificam os outros no mundo.

Ramalho e Resende (2011) refletem sobre a constituição recíproca da ação individual e da estrutura social e afirmam que, de acordo com a perspectiva transformacional de constituição da sociedade, os atores sociais não são totalmente livres nem totalmente constrangidos pelas estruturas sociais. As pessoas não são apenas expostas e influenciadas com relação a formas de agir e interagir e participarem de eventos sociais, mas têm também agência para atuarem no mundo.

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18 Identidade e diferença

Como dito anteriormente os estilos constituem o aspecto das identidades,

relacionando-se à identificação de atores em textos (RESENDE e RAMALHO,

2006), as identidades se constituem por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos

pelos quais elas são representadas (WOODWARD, 2000). A análise do discurso

crítica reflete sobre as representações de quem é incluído e quem é excluído.

Silva (2000) discute que, na perspectiva da diversidade, a relação entre

identidade e diferença tende a ser cristalizada, naturalizada, pois são vistas como

dados de exposição da vida social em que é necessário se ter um posicionamento.

Para o autor existe uma relação muito estreita entre a identidade e a diferença e a

forma afirmativa como nos referimos à identidade esconde essa relação de

dependência. Silva (2000) afirma que

Em geral, consideramos a diferença como um produto derivado da identidade. Nesta perspectiva, a identidade é a referência, é o ponto original relativamente ao qual se define a diferença. Isto reflete a tendência a tomar aquilo que somos como sendo a norma pela qual descrevemos ou avaliamos aquilo que não somos. (SILVA, 2000, p. 76).

A identidade é marcada pela diferença, o nós e o eles. A demarcação das

fronteiras que levam à diferença e à exclusão se dá por meio de símbolos e, um

deles é o corpo, no qual se realizam aparências, crenças, significações, de modo que

"a afirmação da identidade e da diferença no discurso traduz conflitos de poder entre

grupos assimetricamente situados” (RAMALHO e RESENDE, 2006, p.77).

A própria existência dessas identidades se configura como um conflito, uma

crise de identidades hegemônicas. Woodward (2000) nos diz que, para uma

identidade se afirmar, parece ser necessário colocá-la contra a outra que, por sua vez,

precisa ser desvalorizada. No entanto, é necessário levar em conta a fluidez das

identidades, se as mesmas não são fixas, torna-se complexo apontar identidades

essenciais, únicas.

Woodward (2000) reflete sobre a posição de Hall (2000) com relação à

fluidez das identidades:

A posição de Hall (2000) enfatiza a fluidez da identidade. Ao ver a identidade como uma questão da “tornar-se” aqueles que reivindicam a identidade não se limitam a ser posicionados pela identidade: eles seriam capazes de posicionar a si próprios e de reconstruir e transformar as identidades históricas, herdadas de um

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19 Para Bauman (2004) as identidades são líquidas pois flutuam no ar, algumas

de nossa própria escolha, mas outras infladas lançadas pelas pessoas em nossa volta,

e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às

últimas.” (BAUMAN, 2004, p.19). Bauman (2004) afirma que nós habitamos um mundo líquido, um mundo moderno. Buscamos pois construir e manter nossas

identidades em constante movimento lutando para nos unir aos grupos que se

assemelham a nós.

Woodward (2000) retomando Hall (2000) afirma que o sujeito sempre se

manifesta partindo de uma posição histórica e cultural específica que delimita a

diferença entre o nós e o eles, a qual é relativa ao posicionamento social no qual

estamos inseridos. Consideradas as mudanças sociais atuais é preciso levar em conta

"o apagamento das fronteiras entre o pessoal e o político". Nesta perspectiva,

devemos considerar a identidade não só como um construto simbólico, mas também

social e histórico em que, as mudanças sociais interpelam também mudanças

identitárias.

As identidades são produzidas por sistemas de representação, que se dão em

um processo cultural. Com relação às representações, observa-se que o poder diante

delas nos revela como e por que alguns significados são preferidos em relação a

outros. Essa ação orienta para relações de dominação, e para representações de

identidades que são constrangidas social e culturalmente.

Para Hall (2000, p. 109), as identidades são construídas dentro do discurso e por isso é necessário entendê-las como produzidas “em locais históricos e institucionais específicos, no interior de formações e práticas discursivas específicas, por estratégias e iniciativas específicas”.

Além disso, as identidades emergem

no interior do jogo de modalidades específicas de poder e são, assim, mais o produto da marcação da diferença e da exclusão do que o signo de uma unidade idêntica, naturalmente constituída, de uma “identidade” em seu significado tradicional. (HALL, 2000, p.109)

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20

investigação de relações de dominação” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.77). É através das representações que a relação entre identidade e diferença se estabelece e logo se liga a sistemas de poder, assim, interrogar e protestar identidades e diferenças é também protestar “sistemas legitimados que lhes servem de suporte na atribuição de sentido”. Para Fairclough (2003), discurso é uma maneira particular de representar alguma parte do mundo, seja ela física, social ou psicológica, assim, escolhas específicas representam identidades e logo representam também diferenças. Diante disso, Resende e Ramalho (2006) ressaltam que essa observação feita acima comprova a relação dialética existente entre os significados acional, representacional e ideacional.

Avaliação

A avaliação é uma das categorias relacionadas ao significado identificacional e se subdivide: afirmações avaliativas, afirmações com verbos de processo mental afetivo e presunções avaliativas.

As afirmações avaliativas “são afirmações acerca do que é desejável ou indesejável, relevante ou irrelevante” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 79). Segundo Fairclough (2003), os elementos que identificam uma afirmação avaliativa são: um atributo, um verbo, um advérbio, ou um sinal de exclamação. As afirmações avaliativas podem ocorrer em escalas de intensidade sendo de intensidade alta ou de intensidade baixa.

Já as afirmações com verbos de processo mental afetivo surgem no texto com a presença de vconstruções que delimitam por meio da afetividade certa subjetividade que marca claramente a ação e afirmação do sujeito, exemplo: “eu adoro sorvete”, “eu gosto de sorvete”, “eu detesto sorvete”.

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21 Modalidade

Para Fairclough (2003) essa categoria do significado identificacional se refere ao quanto as pessoas podem ou não se comprometer quando fazem afirmações, perguntas, demandas ou ofertas. Ele subdivide essa categoria em duas, modalidade epistêmica que se refere à troca de conhecimento bem como o comprometimento com a „verdade‟. Já a modalidade deôtica, refere-se à troca de atividades, ao comprometimento com a obrigatoriedade e a necessidade.

Fairclough (2003) desenvolve ainda nessa categoria a modalidade objetiva, que trata da “a base subjetiva do julgamento está implícita: não fica claro qual o ponto de vista privilegiado na representação” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 83). O autor observa nessa categoria se o falante produz seu ponto de vista individualmente, ou se ele reproduz o ponto de vista de um grupo. Já a modalidade subjetiva refere-se ao grau de afinidade com relação a informações explícitas, aquelas que deixam claro o que está sendo dito e expressado vem do próprio falante.

O autor dá importância especial a essa categoria do significado identificacional, pois, para ele, “o quanto você se compromete é uma parte significativa do que você é – então escolhas de modalidade em textos podem ser vistas como parte do processo de texturização de auto-identidades” (FAIRCLOUGH, 2003, p. 85). Assim, a modalidade é a relação entre o autor do texto e a representação.

Metáfora

Essa categoria analítica leva em conta que os conceitos podem ser “metaforicamente estruturados no pensamento e consequentemente na linguagem, logo, a metáfora não nasce na linguagem, ela reflete na linguagem porque existe em nosso sistema conceptual” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.86). Assim, esses conceitos estruturam não só os pensamentos como também a nossa forma de agir, de se relacionar no mundo e com as pessoas. Dessa forma, através das metáforas, compreendemos aspectos de um conceito em termos de outro por meio das metáforas conceptuais, das metáforas orientacionais e das metáforas ontológicas.

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2006, p.87). Segundo as autoras, assim como a nossa orientação espacial nos leva à metáforas orientacionais, a nosso experiência física, especialmente nosso corpo, nos leva a metáforas ontológicas, que são “maneiras de entender eventos, atividades, emoções, ideias como entidades e substâncias. Entender nossa experiência em termos de objetos e substâncias físicas nos permite identifica-la como entidades às quais podemos nos referir, categorizar, agrupar” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p.87).

Fairclough (2001) afirma que as metáforas não são apenas adereços estilísticos superficiais do discurso, ao usarmos uma metáfora em detrimento de outra, estamos significando as coisas e as formas como nos relacionamos, agimos, pensamos e revelamos parte de nossas crenças.

Vale ressaltar que os três significados do discurso se relacionam entre si e mantêm uma relação de dependência, “os três aspectos não são isolados entre si, sua distinção é somente uma necessidade metodológica” (RESENDE e RAMALHO, 2006, p. 89). Dessa forma, podemos afirmar que os discursos (significado representacional) são efetivados e concretizados por meio dos gêneros (significado acional) e atitudes e identidades, que revelam estilos (significado identificacional) são representados em discurso.

No item a seguir buscaremos refletir a respeito dos estudos sobre a avaliação. 1.2 Estudos sobre avaliação

Os estudos sobre avaliação tiveram grandes contribuições para a construção da presente pesquisa. Os estudos de Labov (1972) a respeito da avaliação em narrativas foi ponto de partida para muitos outros estudos neste âmbito. Labov (1972) desenvolveu o conceito de avaliação baseado em seu estudo sobre a fala de afro-americanos. Ao analisar essas falas, o autor pode perceber um importante elemento discursivo, a avaliação da narrativa, que seria uma forma de o falante tornar essa fala mais bonita, elaborada e mais interessante.

Para Labov (1972) a avaliação é um elemento da narrativa que tem a finalidade de informar sobre a carga dramática ou clima emocional de uma determinada situação, ou um evento e das personagens. A avaliação torna-se, assim, um elemento que pode ocorrer em qualquer momento da narrativa.

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e Hunston (1999) ressaltam que as palavras avaliativas identificadas por estas classes de palavras atuam como pistas para desenhar e descrever eventos e pessoas, mostrando o posicionamento desses falantes diante de algum determinado fato.

Linde (1997) revê os estudos discursivos e ressalta em sua pesquisa a avaliação em dois níveis, o linguístico e o interacional. A autora leva em consideração não só as características do que ou de quem está sendo avaliado, mas também de quem avalia. Linde (1997) acredita que a avaliação não é desenvolvida apenas por um falante, mas é construída juntamente com o outro que, por sua vez, participa ativamente na construção da avaliação.

Já Charles Goodwin e Marjorie Goodwin (1992) em seus estudos focaram especificamente na avaliação afirmando que se trata de uma prática em que os falantes interagem demonstrando suas opiniões a respeito das pessoas e/ou eventos que estão sendo avaliados. Baseados nessa questão, os autores desenvolveram alguns conceitos que podem ser utilizados para análises detalhadas em investigações a respeito de avaliações. Alguns dos conceitos são: segmento avaliativo, que podem ser representados pelos adjetivos; ação avaliativa, que é realizada por um participante que deixa claro seu envolvimento afetivo quanto ao participante que está sendo avaliado. Outro conceito o da atividade de avaliação que trata de uma atividade interacional que relaciona vários participantes que produzem e monitoram as ações relevantes dos outros participantes. Na próxima seção veremos White (2004) afirmando que a avaliatividade se preocupa em entender como os falantes ou produtores de textos aprovam ou desaprovam algo e quais são as estratégias utilizadas por eles para convencer seus ouvintes e leitores

1.2.1 Sistema de Avaliatividade

Segundo Fuzer e Cabral (2007) a linguagem desempenha três metafunções: ideacional (representação do mundo), interpessoal (relação entre as pessoas) e textual (organização da linguagem). Encontramos a avaliatividade na metafunção interpessoal pois ela é responsável pela relação entre as pessoas demonstrando indicações de aprovação ou desaprovação em relação aos seres e aos fatos sociais.

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abordagem avaliativa “apresenta técnicas para analisar, de forma sistemática, como a avaliação e a perspectiva operam em textos completos e em grupos de textos de qualquer registro” (WHITE, 2004, p.177).

White (2004) desenvolve um modelo proposto pela abordagem da valoração que fornece uma descrição com opções para construirmos diferentes tipos de avaliações, sejam elas positivas ou negativas. A teoria da avaliação proposta por White (2004) propõe três subsistemas: atitude, engajamento e gradação. A atitude dá conta dos significados interpessoais, tratando das avaliações positivas e negativas direcionadas a um indivíduo, a objetos ou a eventos. Dentro desse subsistema temos três categorias: afeto, julgamento e apreciação. A categoria de afeto liga-se à emoção, isso acontece quando é colocado em primeiro plano os sentimentos do falante. A categoria julgamento refere-se a “significados que indicam uma visão da aceitabilidade social do comportamento de agentes humanos, uma avaliação feita através de referências a alguns sistemas de normas sociais” (WHITE, 2004, p. 179). Essa categoria se subdivide em duas em sanção social e estima social.

Os julgamentos por sanção social “envolvem a afirmação de que alguns conjuntos de regras ou regulamentos, codificados de forma mais ou menos explícita pela cultura, estão em jogo” (WHITE, 2004, p. 187). As regras expostas por meio desse tipo de julgamento se relacionam a questões morais ou legais, de modo que envolvem questões de legalidade e moralidade. Os julgamentos de estima social “envolvem avaliações que podem levar o indivíduo a ser elevado ou rebaixado na estima de sua comunidade, mas que não possuem implicações legais ou morais” (WHITE, 2004, p.187). Segundo White (2004),

Os julgamentos de estima social podem estar ligados à normalidade (ate que ponto alguém é estranho ou pouco usual), capacidade (quão capaz esse alguém é) e tenacidade (quão determinado ele é). Os julgamentos de sanção social têm a ver com a veracidade (quão sincero alguém é) e a propriedade (quão ético ele é) (WHITE, 2004, p.187)

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O engajamento se preocupa em compreender até que ponto o falante está alinhado, ou não, aos posicionamentos de outros falantes em seus textos. Já a gradação é responsável por identificar o aumento ou diminuição do grau das avaliações e compreende, também, a força e o foco da avaliação.

No próximo item discutiremos como a Gramática do Design visual, proposta por Kress e Theo van Leeuwen (1996), contribuirá para entendermos como ocorrem as interações sociais e como surgem os significados dos elementos que constituem as imagens.

1.3 Gramática do Design Visual (GDV)

Com base no livro Reading Images: the Grammar of Visual Design de Gunther Kress e Theo van Leeuwen (1996), é possível refletir sobre a comunicação visual presente em inúmeras análises de textos. A Gramática do Design Visual (GDV) é muito útil para entender como acontecem as interações sociais e como surgem os significados dos elementos que constituem as imagens. Esses elementos podem ser: pessoas, coisas ou lugares.

Se na linguagem verbal os diferentes pontos de vista são expressos por meio de léxicos, na comunicação visual podem ser expressos através da escolha de diferentes cores, alinhamentos, letras. Kress e van Leeuwen (1996) postulam que os signos nunca são arbitrários, e a motivação é reformulada na relação da produção de signos com o contexto, em que o signo é produzido. Dessa forma, podemos perceber que os signos não são estáticos, estão sempre em movimentos acarretando em novas significações. (SILVA, 2011, p. 25).

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Quadro 2: Correspondência entre LSF e a GDV

Metafunções LSF – Halliday

Metafunções GDV – Kress e van Leeuwen

Ideacional Representacional

Interpessoal Interativa

Textual Composicional

Fonte: (GONÇALVES, 2014, p.26)

Kress e van Leeuwen (1996) utilizam e adaptam as metafunções de linguagem propostas por Halliday, utilizando as seguintes categorias: representacionais, interacionais e composicionais, descritas na sequência.

1.3.1 Metafunção representacional

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Quadro 3: Categorias da Metafunção Representacional Metafunção Descrição das categorias referentes à metafunção

Representacional/Ideacional

Representacional Ideacional

Narrativa

Ação: O participante representado é o ponto de onde parte o vetor, em direção à meta.

Não Transacional: Apresenta um participante, o ator. A meta não é representada.

Transacional: Apresenta pelo menos dois participantes, ator e meta.

Bidirecional: Apresenta dois participantes, ambos são ator e meta.

Reação: O ator, tido como reator, reage a algum fenômeno.

Não Transacional: Um reator é representado. Seu olhar dirige-se para fora da imagem.

Transacional: O olhar do reator dirige-se para o fenômeno, que está na imagem.

Verbal/Mental: O participante está ligado a um balão, representando sua fala ou pensamento.

Conversão: A comunicação é apresentada como um ciclo retransmissor (participante) é tanto ator em relação outro, quanto meta em relação a um outro.

Simbolismo Geométrico: Não há participante, há apenas um vetor que aponta para um ponto fora da imagem.

Conceitual

Classificacional: Os participantes se relacionam entre si de forma taxonômica, de forma subordinada por tema ou categoria.

Analítico: Apresenta o portador e o atributo. Nesse tipo de representação o atributo identifica o portador.

Fonte: Gonçalves (2014), com base em Kress e van Leeuwen (2006); Brito e Pimenta (2006)

Segundo Kress e van Leeuwen (1996) existem dois tipos de participantes que se envolvem em comunicações visuais: participantes interativos (PI) e os participantes representados (PR). O PI é aquele que ouve, fala e lê, o PR é o expresso na imagem, podendo ser uma pessoa, um lugar ou uma coisa. Imagens narrativas que apresentam apenas um participante são chamadas de não-transacionais, e o participante é visto como Ator. As imagens que apresentam dois participantes são denominadas transacionais, tendo o participante representado (PR) como o Ator, de onde parte o vetor, ou a Meta, que é para onde o vetor aponta.

1) Processo narrativo é uma representação narrativa feita pela presença de vetores que indicam direcionalidade. Esse processo se subdivide em cinco novos tipos de processos: a) processo acional, b) reacional, c) da fala e mental, d) de conversão e e) simbolismo geométrico.

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muito clara e é exatamente por que elas ocorrem simultaneamente ou em sucessões.

b) O processo reacional ocorre quando o vetor (traço que representa direcionalidade) parte do olhar do (PR) participante representado. Nesse processo, o participante não será denominado Ator, e sim Reator, quem está olhando, no caso, um humano; e não há uma Meta, mas sim um Fenômeno que seria o participante que o Reator está olhando. O processo reacional pode ser tanto transacional como não- transacional. “Na reação transacional, o vetor da linha visual conecta dois participantes, o reator e o fenômeno. Na reação não-transacional, o vetor da linha emanado de um participante, o Reator, não se direciona a nenhum outro participante” (DO CARMO, 2014, p.122)

c) Para entender o funcionamento do processo da fala, podemos pegar como exemplo as tirinhas. A utilização dos balões compostos de falas, pensamentos e diálogos compõem o sentindo desse processo. Assim, entendemos que este faz uma conexão entre a existência do humano e o conteúdo do processo mental – pensamentos.

d) O processo de conversão é formado por um conjunto de processos transacionais (dois participantes). Essa cadeia de processos dá origem a um terceiro participante, o chamado Relay, que pode modificar e transformar o que recebe (SILVA, 2011). É possível perceber que se forma um ciclo onde o participante pode caracterizar-se ora como Meta, ora como Ator e, assim, sucessivamente.

e) O simbolismo geométrico caracteriza-se por não incluir nenhum participante em sua forma de comunicação. Esse processo utiliza-se apenas de setas que indicam direcionalidade e se diferenciam por tamanho ou forma.

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1.3.2 Metafunção Interativa

A metafunção interativa é responsável exatamente pela interação entre o Participante Representado (PR) e o Participante Interativo (PI). É responsável pela maneira como o produtor da imagem se relaciona com o observador. Essa interação é mediada pelos participantes representados na fotografia. Na impossibilidade do fotógrafo estar fisicamente presente no momento em que o observador vê a fotografia, e assim poder interagir diretamente com, o fotógrafo interage com o observador através dos participantes representados nas fotos.

Quadro 4: Categorias da Metafunção Interativa

Metafunção Descrição das categorias referentes a cada metafunção

Interpessoal/ Interativa

Olhar: Determinado pelo vetor que se forma

entre os olhares do participante e o do leitor.

Demanda: O participante olha diretamente para o observador.

Oferta: O participante não olha para observador.

Distância Social: É a exposição do participante

perto ou longe do leitor.

Plano Fechado: Inclui o participante e os ombros do participantes.

Plano Médio: Inclui o participante até a altura dos joelhos.

Plano Aberto: Inclui o participante por inteiro.

Perspectiva: Ângulo em que os participantes são

mostrados.

Ângulo Frontal: Participante visto de frente.

Ângulo Oblíquo: Participante visto de forma enviesada.

Ângulo Vertical: Participante visto de cima, ou de baixo.

Fonte: Gonçalves (2014), com base em Kress e van Leeuwen (2006); Brito e Pimenta (2006)

1) O recurso Contato visual é o primeiro a ser utilizado para que haja a interação entre os participantes. Essa interação pode se estabelecer por meio de três relações possíveis:

 PR → PR

 PI → PR  PI → PI

Imagem

Figura 1: Concepção tridimensional do discurso
Figura 2: Momentos da prática social
Figura 3: Mapa Mundi das Redes Sociais.
Figura 6: Comentários no Facebook
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Referências

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