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Romances psicanaliticos e a cultura da psicanalise : fato em ficção

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Academic year: 2017

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(1)

ROMANCES PSICANALrTICOS E A CULTURA DA psャcanセiseZ@ FATO EM FICÇAO

MARISA DOS SANTOS vialセe@

FGV/ISOP/CPGP

(2)

AGRADECIMENTOS

Ao Professor Luiz Felipe Baêta Neves Flores, pela

su-gestão criativa e orientações deste trabalho.

Ao Professor Celso Pereira de sã, por suas sugestões

calmas, amizade leal, confiança e orientação final.

Ao Professor Franco Lo Presti Seminério, pelo estÍmu-lo e constante generosidade.

Às amigas do grupo de estudo, pela oportunidade de com partilhar dificuldades e apaziguar anseios.

Aos funcionários do CPGP/ISOP e IESAE: sOlidariedade.

Agradecimento particular a Débora , por sua datilografia entu -siasmada e cuidadosa. A ErcÍlia,por sua impassível revisão. A

Jonaedson, um apoio tenso num momento difícil.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq, pelo fornecimento de bolsa para a realiza -ção dessa pesquisa.

A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho.

:. "

(3)

Este trabalho constitui o estudo de romances de ps! canálise considerados objeto do que já se convencionou denomi-nar cultura da psicanálise.

A análise desses romances permitiu o estabelecimen-to de correlações entre a divulgação massiva da psicanálise e algumas das formas pelas quais esta é socialmente representa-da: as formações discursivas extraídas das narrativas

mostra-ram a relação existente entre esses textos e o macrocontexto cultural.

Assim, foi possível demonstrar que as formações ima

ginárias apresentadas nos textos e a representação social da psicanálise correspondem a diferentes níveis desta mesma "cul-tura da psicanálise".

(4)

SUMMARY

This paper consists on a study of psychoanalisis

noveIs. Such noveIs are considered objects of what has abuady been determined to call "the culture of psychoanalisis".

The analysis of these noveIs provided the

establishment of correlations betiween the massive spread of

psychoanalisis and some of the ways by which it is socially represented: the discursive formsts taken out of the

narratives showeu the relation that existes among these

texts and the cultural macrocontext.

Thus. it was possible to show that the imaginary

formations presented in the texts and the social representations of psychoanalisis. correspond to different leveIs of the sarne "culture of psychoanalisis".

(5)

o

objetivo deste trabalho é identificar e analisar 'noçoes concernentes à psicanálise encontradas em narrativas ficcionais, mais especificamente, em algumas narrativas que participam do que se pode denominar "li teratura de massa ou de

mercado." (Sodré, 1985)

Parte-se do pressuposto de que existe um tipo de na! rativa ficcional destinada ao grande público, que pretende

por suas próprias características, estar aproximada da narra-tiva psicanalítica, sendo mesmo denominada "romance psicanali

tico". Haveria, portanto, algo explorável em literatura de mercado - um gênero psicanalítico, assim caracterizável por possuírem essas narrativas conteúdos provenientes da psicaná-lise, ou seja, a psicanálise seria apropriada como o filão

dessas narrativas. Enfim, a veiculação muito particular de no ções, conceitos e idéias da psicanálise e idéias sobre a

psi-canálise, neste gênero narrativo, constitui um "espaço psica-nalítico" na literatura. E o objetivo desta dissertação é

ex-plorar um recorte desse espaço.

Se o "romance psicanalítico" se apropria de conteú

(6)

2

- sendo passíveis de serem diversamente apreendidos.

A difusão de idéias da psicanálise e sobre a ーウゥ」セ@

nálise que decorre destas narrativas participa do que se pode

denominar "cultura da psicanálise. Segundo Figueira (1985,

p. 7):

"Uma cultura psicanalltica (seja ela

ameri-」。ョ。セ@ ヲイ。ョ」・ウ。セ@ 「イ。ウゥャ・ゥイ。セ@ etc.) pode ser

definida e pro tanto 。ョ。ャゥウ。、。セ@ de modos di

Versos (como 'ideologia' セ@ 'visão de mundo' セ@

'sistema de representações' ・エ」NIセ@ e

arti-culada à sociedade como um todo (ou a elas

ses e segmentos sociais) segundo diferen

=

tes perspectivas teóricas. Sabe-seI 。ゥョ、。セ@

que uma cultura psicanalltica mantém uma relaçâo complexa com instituições e têcni-cas de ーッ、・イセ@ inspirando-as e por elas ウ・セ@

do ampliada e 、ゥヲオョ、ゥ、。セ@ através de ーイッ」・セ@

sos que já foram chamados 'modernização' セ@

'disciplinação persuasiva' セ@ 'neutralização' e 'apolitização' etc." (grifo nosso)

As narrativas ficcionais de psicanálise podem ser

incluídas nesta cultura da psicanálise porque são também "ins piradas" por ・ャ。セ@ difundem idéias da psicanálise (ainda que refratariamente) セ@ e permitem a apreensão de valores sobre

es-ta, ou seja, contribuem para a formação de representações so-bre a psicanálise, que se encontram no imaginário social.

(7)

psicanálise.

o

primeiro texto é Nunca lhe prometi um jardim de rosas (1974), escolhido por ser um dos mais conhecidos nesse

gênero e grande sucesso de vendagem, tendo sido, inclusive, a base para a criação do roteiro de um filme que recebeu o

mes-mo nome do romance.

A segunda narrativa é Bem-vindo silêncio, (1988) ・セ@

colhido por tratar-se de obra de produção recente, e poder ser tomada como parâmetro de contra posição ao trabalho anterior.

o

terceiro é a Vida-intima de uma esquizofrênica , (1972) selecionado porque trata diretamente da esquizofrenia e porque contém uma visão sobre a psicanálise que difere daquelas existentes nos dois trabalhos anteriormente menciona

-dos.

o

quarto eúltimo texto é o livro de contos A hora de cinqUenta minutos, (1972) escolhido porque oferece diver-sas nuanças sobre a psicanálise, vez que se constitui de cin-co estórias diferentes.

As análises serao feitas sobre textos traduzidos , e nao sobre originais, fato que nao inviabiliza o trabalho já que este se refere à análise de narrativas em função da di fusão da psicanálise, e as traduções escolhidas são as que 」ィセ@

(8)

am-4

pIamente dominado pela literatura estrangeira.

Os textos escolhidos estão intitulados como "roman

ces psicanalíticos" e fonnamuma série editorial que pertence ao que já se denominou gênero psicanalítico na literatura de

mercado. Para que textos possam ser classificados como ー・イエ・セ@

centes a um gênero é preciso que estejam submetidos a um con-junto de coerçoes comuns. Entende-se, neste trabalho, que

uma análise de textos genericamente organizados deve observar esse "conjunto de coerções", atentando para o sentidos

possí-veis de serem apreendidos nessa intertextualidade, que

permi-tam relacioná-los ao macro-contexto da cultura.

O método utilizado consistiu numa primeira e "dis-tanciada" leitura dos textos indicados seguida da execução de

um trabalho descritivo-antropológico, o qual possibilitou a

identificação de idéias-chave que orientaram a análise dos

textos.

Esse procedimento permitiu recortar categorizações

dessas narrativas e reordená-1as de duas formas: sintagmática e paradigmática. O procedimento inicial, que permitiu a iden-tificação de idéias-chave, foi o mesmo que permitiu

estabele-cer sintagmas narrativos. E, conforme ensina Barthes (1984) , "é lógico começar o trabalho pelo recorte sintagmático, pois é ele, em princípio, que fornece as unidades que se devem tam

(9)

Aplica-se, neste trabalho, o conceito de sintagma

tanto a aspectos 1ingUísticos quanto narrato1ógicos, tal como

é

definido por Reis et a1ii (1988, p. 292):

"O エ・セュッ@ sintagma

i

utilizado em lingU{stica ー。セ。@ 、・ウゥァョ。セ@ um conjunto de unidades suces sivas., ャゥョ・。セュ・ョエ・@ dispostas ao longo de uma extensão エ・ューッセ。ャNL@ combinadas segundo セ・ᆳ ァセ。ウ@ de 」ッMッ」ッセセ↑ョ」ゥ。N@ Em ョ。セセ。エッャッァゥ。NL@ a

・クーセ・ウウ ̄ッ@ sintagma designa o ーセ￳ーセゥッ@ 、ゥウ」オセ@

so ョ。セセ。エゥカッNL@ o conjunto 。セエゥ」オャ。、ッ@ e se-qUencialmente ordenado de enunciados que vinculam a história. Trata-se de uma ・クーイ・セ@

sao que não delimita rigorosamente uma ex-tensão., já que pode ser utilizada para re-ferir o discurso na sua globalidade ou ape-nas uma parcela desse discurso. A leitura

linear de um texto ョ。セイ。エゥカッ@ implica sempre um 'itinerário' ao longo does) sintagma (s) narrativo(s) que perfaz(em) a estrutura de superf{cie."

A partir dos sintagmas narrativos de um desses

ro-mances e do próprio discurso dessa narrativa, identificou- se um conjunto de unidades sucessivas co-ocorrentes - o

encadea-mento: "doença", "tratamento", "cura", "a presença do ーウゥ」ッエセ@

rapeuta", "a existência do doente". Nos termos de uma análise

semiótica, dir-se-ia que a partir da mensagem foi possível a identificação de códigos que, nesses romances psicanalíticos, pelo seu próprio genero, se caracterizam pela simplicidade.

(10)

7

das narrativas. O estabelecimento dessas variações ou paradi& mas permite que se efetuem contraposições intertextuais, e

formam parte da conclusão deste trabalho.

Além das decodificações dos "tratamentos psicanali

ticos" narrados, identificaram-se aspectos informativos pro-

prios do gênero literário e que estão explícita e implicita

-mente expostos nas narrativas: através da presença de expres-sões conceituais próprias da psicanálise, ou através da

cons-trução narratológica de simulacros terapêuticos.

As decodificações e os aspectos informativos descritos estão no nível dos conteúdos narrados, ou seja, rela

-cionam-se a história ou a fábula narrativa (Reis e alii, 1988). Contudo, as narrativas decompõem-se, metodologicamente, em

história e discurso, que é o plano da expressão dos con-teúdos. Umberto Eco (1979) utiliza o conceito de enredo refe-rindo-se i história tal corno é contada, e acrescenta que num

texto narrativo o enredo identifica-se com as estruturas dis-cursivas que, uma vez atualizadas pelo leitor, permitem-lhe

formular macroproposições discursivas. - セ@ セ@

..

Reis et alii (1988), a propósito da definição do conceito de discurso, afirmam a possibilidade de se estabele-cer um elo de ligação entre a acepçao narratológica de discur so - plano da expressão dos conteúdos narrados (ou história) - e a concepção benvenistiana de discurso, porque

(11)

"o discurso narrativo セ@ o produto do ato de enunciação de um narrador e dirige-se, ex-plicita ou imex-plicitamente, a um narratório, termo necessário de recepção da mensagem narrativa." (p. 27)

Partindo-se dessa relação, pretendeu-se ainda, ョ・セ@

te trabalho, proceder-se à apreensão de possíveis sentidos (ideológicos) referentes

à

psicanálise. Por meio da análise de enunciados, cujos sujeitos de enunciação sao as persona

gens, procurar-se-á efetuar análise dos discursos dessas nar-rativas ficcionais.

No entanto, para que um texto exiba sua ideologia

e preciso que ele seja também investido de juízos de valor ーセ@ lo leitor (Eco, 1979). O objetivo desta dissertação - a análi

se de "romances de psicanálise" - depende, para sua produção, em grande medida, do trabalho de leitura. Esta nunca é "neu

-tra" , pela própria recorrência que qualquer leitor faz a sua competência (informações provenientes de outros textos), afim de preencher os vãos inerentes a qualquer texto.

As leituras procedidas para a execuçao deste traba lho também não o são - certamente foram preenchidos os vaos

(12)

9

I - ANALISE DE INTERPRETAÇAO DE NARRATIVAS

l-NUNCA LHE PROMETI UM JARDIM DE ROSAS

A sinopse desse romance apresenta Nunca lhe prome-ti um j ardi'1l de rosas da seguinte forma:

"O relato da ・クー・イゥセョ」ゥ。@ de uma adolescente que aos 16 anos - após um longo processo de sofrimento e progressiva alienação men-tal - foi internada num Hospital Psiquiá -trico durante エイセウ@ anos セ@ feito de modo e-mocionante por Hannah Green.

Nunca lhe prometi um jardim de rosas cons-tituiu, hã alguns anos, um best-seller de grande sucesso nos pa{ses de lingua ingle-sa. Discorre sobre a vida dessa jovem psi-cótica, dissecada 。エイ。カセウ@ do tratamento psi coterápico. Hannah Green leva o leitor a vivenciar os mundos de Deborah, ricos, con flitantes e·apaixonantes.

O mundo exterior, figurado por sua familia, do qual se sente impossibilitada de parti-cipar, devido aos conflitos oriundos do re

lacionamentos baseados em velhos esquemas carregados de preconceitos. Seu mundo ゥョエ・セ@ rior, que セ@ povoado de seres cósmicos, e8= petaculares e セイ。ョ、ゥッウッウL@ onde ela se イ・ヲセ@

gia, opondo-o aquela realidade dif{cil de

I

viver. O conflito entre esses dois mundos e a paulatina fuga de Deborah para o últi-mo セ@ um dos quadros mais fascinantes do li vro.

(13)

セゥ。イゥコ。@ aom as dimensões ィオュ。ョ。ウセ@ que em ne-nhum momento são ョ・ァセゥァ・ョ。ゥ。、。ウセ@ mesmo sem a promessa de um Jardim de rosas."

Essa narrativa envolve, pois, três temáticas: a vi

da interna da personagem psicótica, seus delírios - (o reino de Yr e seus personagens); o mundo externo da jovem psicótica,

figurado pelos conflitos com seus familiares e suas

inadapta-ção aos valores desses; e a experiência de Deborah Bloch du-rante sua internação em hospital psiquiátrico. Neste, Deborah

é tratada de sua esquizofrenia. Aí, dáse, também, o acompa -nhamento psicanalítico realizado pela personagem daDra. Fried, mediante o qual a cura se realiza. Esta personagem, Dra. Fried,

é a narradora da história, mais especificamente. é a narrado-ra homodiegética.* Este aspecto é importante. e deve serobser

vado. Como mostra Reis et alii (1988),

*"De acordo com a terminologia proposta por Genette (1972m p.

252 e segs.) o narrador homodiegetico ê a entidade que

vei-cula informações advindas da sua própria experiência diege-tica, quer isto dizer que, tendo vivido a história como per-sonagem, o narrador retirou daí as informações de que care-ce para construir o seu relato, assim se distinguindo donar rador heterodiegetico, na medida em que este último não dis

põe de um conhecimento direto. Por outro lado, embora fun セ@

cionalmente se assemelha ao narrador auto-diegetico, o nar-rador homodiegetico difere dele por ter participado na his-tória não como protagonista, mas como figura cujo destaque pode ir da posição de simples testemunha imparcial a perso-nagem secundária estreitamente solidária com a central."

(Reis et. alii, 1988).

(14)

- -

-"A narrativa instaurada pelo narrador homo-diegético suscita leituras interessadas no recursos a códigos temporais e de focaliza ção ativados em tal situação narrativa セ@

Mas, além disso, a análise do discurso nar rativo de um narrador homodiegético valori zará também os termos em que se configura a imagem do protagonista, a partir de um critério de observação genericamente teste munhal e exterior, da{ que assuma, neste caso, um especial destaque a análise dos registros da subjetividade (registros do discurso), na medida em que nesses se pro-jetam ju{zos que o narrador homodiegético perfi lha. Aquilo que para o narrador auto-diegético é confronto de imagens de um su-jeito (ele próprio) em devir, pode compli-car-se, no caso do narrador homodiegético, o que estará em causa, então será um confronto de personalidade cujo devir é tam -bém o de uma relação interpessoal com inci

dências mais ou menos profundas no campo i deológico." (Reis et alii, 1988, p. l24)

11

Em relação à presente ficção, a conseqUência desse estatuto da narradora

é

exatamente o destaque dado aos tros de subjetividade que implica maior aproximação do regis-tro psicanalítico. Esta ficção está repleta de inferências ウセ@

bre a subjetividade das personagens, constituintes tanto das

descrições literárias, quanto das "interpretações psicanalíti

cas". Observe-se o seguinte exemplo:

"( ... ) Reinou um si lêncio intranqUi lo e, sem saber por que, Deborah encarou ーイッカッ」。エゥカセ@

mente Linda, 'a autoridade psicológica' da Ala, que já havia lido tudo sobre o

assun-to e vivia distribuindo jargões como quem distribui moedas, afirmações de uma ャ・カゥ。セ@

dade temerária, em suma, fugia à dor envol vendo-a em palavras pomposas e eruditas.

(15)

Zizando o seu pr5prio sistema de defesa." (p. RTSセ@ grifo nosso).

Ou, ainda, estes outros, nos quais a narradora descreve os

pais da jovem esqui zofrênica. Vej a-se que essas descrições co!.

respondem, simul taneamente, à atribuição de s ignificados ーウゥ」セ@

lógicos aos comportamentos ou ações das personagens. As descrições estão imbuídas de interpretações dessas subjetivida

-des:

"( ... ) Dos エイセウ@ o pai parecia o mais cansa do ( ... ). vッ」セ@ ウ。「・セ@ não ウ。「・セ@ que eu nãõ tinha a menor noção de como educar uma cri

。ョ￧。セ@ do que significa ser um pai. Defen=

dia-se e sua defesa era em parte uma a-gressão ( ... )." (p. 7" grifo nosso)

"( ... ) Dos 、ッゥウセ@ eZa era a mais anaZltica. Antecipava-se às coisas ( ... ) enquanto o marido se deixava ァオゥ。イセ@ não s5 por como-、ゥウュッセ@ mas também porque geraZmente era eZa quem tinha razão. NaqueZe momento ウ・セ@ tia-se confuso e s5. Deixou-a entregue a seus pZanos e ・ウー・」オz。￧ ̄ッセ@ incZusive por que era assim que eZa se consoZava ..• "

(p. Wセ@ grifo nosso)

"( ... ) As discuss5es entre eZe e Esther" que sempre escamoteavam a questao 」イオ」ゥ。zセ@

invariaveZmente terminavam num cZima mudo de rancor e acusação ... " (p. RUセァイゥヲッ@

nOS80) •

Os trechos acima demonstram, ainda, que essas des-crições das personagens, além de formular interpretações so-bre suas subjetividades, exprimem outra idéia cara à Psicana-lise, a de que a essência cio fenômeno psíquico não

correspon-de necessariamente à aparência das ações, ou melhor as ・クーイ・セ@

(16)

13

tanto nas subjetividades das personagens, quanto nas suas

in-ter-relações, marcas de antagonismo e ambigUidade, tal como

mostram esses trechos, nos quais estão cescritas açoes e sen-timentos do pai de Deborah, após sua internação:

"( ... ) Meu d・オウセ@ como ri essa noite. hセ@ ウセᆳ

culos nao me divertia tanto! Calou-se. pen sativo - Puxa! Serâ que foi mesmo ィセ@ tantã tempo? Anos?

- Sim - disse ela (mae) - foi ィセ@ muito tem po.

- Então talvez seja verdade que ela estava

( ... ) infeliz.

- Doente - emendou Esther

fo ---nõ$Sõ) •

" (p. RWセ@ gri

"( ... ) Vamos esperar mais um pouco Jacob. Esther ウ。「ゥ。セ@ 」ッョエオ、ッセ@ que esse 'esperar -um-pouco' era mais uma das portas por onde ele se esquivava discretamente dos proble-mas. Ou seja: feche os olhos e pronto! Tu-do volta a correr

as

mil maravilhas •.. "

(p. lJ6).

Em suma, o que se observa; que em toda a

narrati-va, o romance está imiscuído de explicações ーウゥ」。ョ。ャ■エゥ」。ウNtセ@

dos os sintagmas próprios ao genero - a doença, suas causas, o tratamento, a cura e as personagens estão claramente referi

(17)

mulação de valores sobre a Psicanálise. Essas enunciações

se-rão aqui apresentadas numa nova disposição, a fim de se expor mais claramente as concepções de Psicanálise existentes neste

romance.

Em primeiro lugar, a esquizofrenia da paciente

demonstrada pela exposição na narrativa de um laudo-simula

cro. Este, além de tornar verossímil a ficção, ao descrever o

-e

comportamento da paciente, descreve, também, sobre a esquizo-frenia. Veja-se em seguida:

"Blau, Deborah F., l6 anos, Hosp. Prev. nenhu., Diagnóstiao iniaial: esquizo -frenia.

l. Teste - Os testes evidenaiam um quoaiente de inteligênaia (l40-l50; elevado, embora oaorram distorções nas amostragens resul-tantes da doença. Varias questões mal in-terpretadas, de maneira ・ク。・ウウゥカ。ュ・ョエ・ウセ@

jetiva. Reação inteiramente subjetiva

ã

entrevista e testes. Os testes de persona lidade revelaram aomportamento tipiaamen= te esquizofrêniao, aom aomponentes aompul sivos e masoquistas.

(18)

sua vida que considerava responsáveis por sua doença. Mencionou uma oFeração aos cinco anos de ゥ、。、・セ@ cujos efeitos foram

エイ。オュ£エゥ」ッウセ@ uma babá 」イオ・ャセ@ etc. Os inci dentes não tinham relação er.tre ウゥセ@ nem

se inclu{am em qualquer padrão. Subitamen

エ・セ@ em meio à narrativa de um acontecimen

エッセ@ a paciente 。カ。ョ￧ッオセ@ dizendo em tom a= cusador: ' Eu diss e a verdade sobre essas

」ッゥウ。ウセ@ e 。ァッイ。セ@ vai me ajudar?' Conside-ramos melhor encerrar a entrevista.

3. História familiar - Nasceu em Chicago セ@ iャャゥョッゥウセ@ outubro de 1932. Amamentada até o oitavo mês. Uma ゥイュ ̄セ@ sオウ。ョセ@ nascida em

193? p。ゥセ@ Jacob bャ。オセ@ 」ッョエ。、ッイセ@ cuja fa-m{lia emigrou da Polônia em 19l3. Parto normal. Aos cinco anos de idade a pacien-te sofreu duas operações para extipar um tumor no aparelho urinário. Dificuldade fi nanceiras obrigaram a fam{lia a se mudar-para a casa dos 。カ￳ウセ@ nos suburbios de Chicago. A situação ュ・ャィッイッオセ@ mas o pai adoeceu; úlcera e hipertensão. Em 1942 a guerra forçou-os a mudar para a cidade. A paciente não se 。ュ「ゥ・ョエッオセ@ tendo sido

ri-dicularizada pelos colegas de escola. Pu-berdade fisicamente normal. Aos le anos セ@

」ッョエオ、ッセ@ a paciente tentou suic{dio. Ha antecedentes de hipocondria na fam{lia セ@ mas exceto o エオュッイセ@ a saúde tem sido boa."

(p. le/l?).

15

Além disso, a esquizofrênica se caracteriza por ・セ@

tar imersa num mundo próprio ao qual é preciso ter acesso pa-ra tpa-ratá-la. Disso pode-se depreender que o esquizofrênico se

caracteriza por possuir um texto particular. Veja-se o ウ・ァオゥセ@

te:

"( ... ) as ャゥョァオ。ァ・ョウセ@ os 」￳、ゥァッウセ@ os

(19)

A esquizofrenia se caracteriza, então, pelo compo!

tamento manifesto da personagem, e este corresponde aos ウゥョエセ@

mas da doença. Veja-se nessa outra passagem uma descrição de

sintomas da esquizofrenia:

"r ... ) Antes do incidente Deborah apresenta-va um comportamento mórbido e siLencioso セ@ ou então, mórbido e ウ。エゥイゥ」ッセ@ um rosto inva riaveLmente ゥョ・クーイ・ウウゥカッセ@ maneiras sarcásti cas e superiores. Eram sintomas inegâveis da grave doença mentaL. cッューッイエ。カ。Mウ・セ@ atual -mente, como todas as pacientes da Ala D, ou ウ・j。セ@ estava 'maluca' ... " rp. RPSセ@ grigo nosso).

Esses sintomas, no entanto, nao sao a doença. Essa

idéia é várias vezes repetida na narrativa, inclusive como o

motivo pelo qual a terapia psicanalítica se justifica como a mais adequada, tal como esta enunciada nesse trecho:

Ou, ainda,

E, aqui,

"( •.. ) No entanto, há um outro aspecto que você parece admitir, a doença e os sintomas são coisas 、ゥウエゥョエ。ウセ@ ainda que se confun -dam freqUentemente. você não concorda アオ・セ@

embora os sintomas estejam intimamente rela cionados

â

doen a e in luam or Vezes sobre ela, nao se trata a mesma coisa? Concor o."

rp. lOl, grifo nosso).

(20)

"2 importante que fique alaro que os sinto-mas não são a doença - disse a doutora. Tais sintomas re resentam de ・ウ。ウセ@ セッイュ。ウ@

dela se proteger. Aare item ou ョ。ッセ@ a doen

￧セ@

ê

o üniao solo firme de que Deborah dis poe.

2

este solo ... " (p. ャャVセ@ grifo nossoT.

"( ... ) Os ウゥョエッュ。ウセ@ a doença e os segredos têm muitas razões de ser. As partes e faae tas se ・ュ。イ。ョィ。ュセ@ fortaleaendo-se mutuamen te ( ... )" (p. 2l2)

17

1: di to ainda que as causas da doença, na narra ti va,

sao complexas, e por isso o tratamento consiste na busca de

causas pessoais ou verdades pessoais. Vê-se isso enunciado no

trecho seguinte no qual a Dra. Fried

é

argUida pela mãe de

Deborah sobre quais as causas da doença:

"( ... ) Sabe todos esses dias não paramos de pensar em aomo e por que isso aaonteaeu Ela reaebeu tanto amor. Disseram-me que es sas doen as são aausadas elo assado e ーセ@

la infanaia da pessoa. Por isso to os es-ses dias não paramos de pensar sobre o pas sado. Eu ーイッ。オイ・ゥセ@ Jaaob ーイッ。オイッオセ@ e toda a fam{lia pensou e ・ウー・。オャッオセ@ e ainda as-sim não aonseguimos enaontrar qualquer ra-zão. Não existe uma 。。オウ。セ@ ・ョエ・ョ、・セ@ e é ゥセ@ so que nos assusta.

- As aausas são tão vastas que

é

imposs{ -vel peraebe-las de ゥュ・、ゥ。エッセ@ difiailmente ahegaremos a aompreendê-las em toda a sua aomplexidade. pッ、・ュッウセ@ ゥウウッセ@ ウゥュセ@ aontar nossas verdades pessoais e loaalizar aau sas pessoais ... " (p. SSセ@ grifo nosso).

A esquizofrenia possui, então, causas complexas.

Essa complexidade, ver-se-á a seguir, implica que as causas

(21)

"( ... ) Estou pensando na diferença que ィセ@

entre a ュセ@ conduta e a felonia ( ... ). O

prisioneiro se declara culpado, recusan-do a setença de que não é portarecusan-dor de ne nhum mal grave, e agora aceita o veredia to de culpado por loucura em primeiro grau.

- Em segundo grau, talvez - corrigiu a doutora sorrindo,

nem preme

E, ainda, implica que o desenvolvimento da ・ウアオゥコセ@

frenia depende das experiências vivenciadas pelo individuo e do desenvolvimento e estruturação de seu psiquismo, conforme

informam os seguintes trechos:

"- Minha mãe lhe contou tudo respondeu Deborah asperamente, das altas e gélidas regiões de seu reino.

Ainda aqui.

- Sua mãe contou o que ela lhe deu1 o que você recebeu, o que ela viu, o que voce viu.

nao

-nao

Falou por exemplo daquele tumor ... " (p •

45).

"- Eu me pergunto se nao ィセ@ um padrão de conduta ( ... ) - disse a Dra. Fried - vo-cê expõe um segredo a nossos olhos, de-pois fica tão apavorada que foge para se esconder em pânico ou em seu mundo miste rioso ... " (p. 6Z).

(22)

"( ..• ) Tinha nOVe anos ( ... ). No ・ョエ。ョエッセ@

desde aqueZe ano ( ... ) aZguma coisa ( .•. )

começou a funcionar maZ neZa. Da{ em di-ante foi como se ela mantivesse a cabeça baixa já esperando peZas bofetadas.

- Esperando pelas bofetadas ( ... ) repe -tiu a 、ッオエッイ。セ@ pensativa. E então veio a

←ーッ」。セ@ isso 、・ーッゥウセ@ a época em que ela mesma começou a providenciar as pancadas.

- Esther voltou-se para a doutora:

- t

isso que

é

a doença?

- Um sintoma talvez ( ..• )." (p. 42)

19

Uma conseqUência dessas idéias expostas é que o tratamento psicanalítico está justificado na narrativa, ou se

ja, o tratamento consiste na busca de causas pessoais, e

des-sa reconstrução resulta a cura. Esse processo de "contar ver-dades pessoais e localizar causas pessoais" consiste, ainda,

na revisão do passado e da infância da doente. Veja-se isso, neste exemplo:

"( ... ) Muito interessante! - dis8e Purii.

- aァッイアセ@ de duas uma: ou eu estou zッオ」。セ@

ou voce construiu essa história inteiri-nha aos cinco 。ョッウセ@ no dia em que entrou e viu o bebê no 「・イ￧ッセ@ odiando-o o 8ufi-ciente para desejar matã-Zo ( ... ).

- Não é ーッウウサカ・zセ@ eu me Zembro ( •.• ).

- A vergonha アオ・セ@ segundo você, seus pais sentiam todos esses anos

ê

uma inven ão o seu sentimento e cuZpa por ter dese-jado a morte de Suzy ( ... )." (p. 223).

(23)

tempo até aquele fat{dico quarto: viu-se aos cinco anos ッャィ。ョ、ッセ@ junto ao ー。ゥセ@ a ir mazinha. Seus olhos estaVam no n{vel dos nós dos dedos da mãe de le. Por causa do cor tinado do 「・イ￧ッセ@ precisou se erguer na ーッセ@

ta dos pés e espreitar a borda. Nem sequer toquei nela ... - murmurou abismada - nem sequer toquei nela ... " (p. 224).

"( ... ) Deborah ・ウエセ@ sendo instada a

( ... ) todos esses anos de vivência

conheceu como realidade e aceitar são do mundo". (p. ll6)

anular do que outra ver

Para descobrir as verdades pessoais de Deborah, a

doutora procura penetrar no mundo imaginário da

esquizofrêni-ca, que para ela, é real. A doença é aqui entendida corno urna

ficção da doente. A idéia provém da Psicanálise - o delírio co

mo ficção, e também está presente na narrativa de: A vida

Ín-timida de urna esquizofrênica.

Observe-se os seguintes trechos:

"(o •• ) Não tenho 、セカゥ、。@ de que para voci セ@

ele existe (reino de Ir - mundo ゥュ。ァゥョセイゥッ@

da 、ッ・ョエ・Iセ@ ( ... )." (p. lal);

"( ... ) - ( •.. ) Em matéria de decepção sou es

ー・」ゥ。ャゥウエ。セ@ sabe. iョ」ャオウゥカ・セ@ um dos meus nomes em Ir é A Eterna Decepcionada.

- ( ... ) Pergunto-me também se eles não de-cepcionaram voci apenas para se sujeitarem à própria visão que voci formou do mundo.

( ... ) Deborah estava visivelmente exausta de todas aquelas 」ッゥウ。ウセ@ que sinceramente acreditava explicar suas motivações. Uma

linguagem secreta que camuflava uma ainda mais secreta. Um mundo que dissimulava

(24)

-21

A narrativa mostra que o mundo imaginário da

doen-te possui correspondência com o mundo real dessa, por exemplo o grande coletor, síntese de todas as imagens de professo

res, parentes, todos que se reunissem para julgar e atormen -tar Deborah; o Censor, aquele que se interpunha entre suas

a-ções e palavras. A psicanalista busca descobrir as verdades

pessoais de Deborah, penetrando em seu mundo imaginário, a fim de trazê-la de volta

à

realidade, ou

à

sanidade. A

mensa-gem, é, portanto, que a loucura é igualável à ficção. Pode-se extrair o que foi dito dos seguintes trechos. No primeiro, o

ingresso e a familiaridade da doutora com o mundo imaginário de Deborah:

"( ... ) Eu me pergunto se n50 ィセ@ um padr50

( ... ) disse a Dra. Fried - você expõe um segredo a nossos ッャィッウセ@ depois fica t50 apavorada que foge para se esoonder no pânico ou em seu mundo misterioso - セゥ@

Yr ou ali.

- Pare com esses trocadilhos - zangou-se d・「ッイ。ィセ@ e ambas riram ( ... )." (p. 6l)

Este outro expoe, através da enunciação de Deborah sobre a "realidade" de seu "mundo fictício", e ainda o porque de consistir o tratamento psicanalítico no ingresso no mundo do doente:

(25)

- oャィ・セ@ todos esses anos eu soube que

esta-va 、ッ・ョエ・セ@ mas ninguém admitia isso.

- Exigiram de voaê que desaonfiasse até mes-mo da realidade que lhe era mais ーイ￳クゥュ。セ@ e que voaê disaernia de forma alar{ssima. Não é para menos que o doente mental tolera tão pouao as mentiras ( ... )." (p. l58).

De acordo com a narrativa, o tratamento psicanalítico compreende a substituição gradativa da doença pela saú

-de. Este é o trabalho dessa psicanalista, sendo também o motl vo segundo o qual, dentro desse ponto de vista, os tratamentos medicamentosos efetivamente não curam:

"( ... ) Os ウゥョエッュ。ウセ@ as doenças e os segredos

têm muitas razões de ser. As partes e faae-tas se emaranham e se sustentam umas

às

ou-エイ。ウセ@ fortaleaendo-se mutuamente. Se não fos

se 。ウウゥュセ@ bastaria apliaar uma injeçãozinha

dessa ou daquela 、イッァ。セ@ ou então uma breve

ィゥーョッウ・セ@ e exalamar: Glッオ。オイ。セ@ desapareça!'

e ーイッョエッセ@ voaê estava aurada "(p. llB)

A propósito de outros tratamentos. duas outras pe! sonagens apresentadas são actantes da função psicoterapêutica - um psiquiatra e um psicólogo. A passagem dessas duas perso-nagens demarca uma diferenciação entre o ponto de vista

...

ーウゥ」セ@

nalítico, o psicológico e o psiquiátrico. através de enuncia-ções relativas às diferentes concepenuncia-ções sobre a natureza da doença e sobre a forma de tratá-la. Pode-se ler

de diferenças nessas duas passagens:

afirmações

"( ... ) Voltou a se aonaentrar nos fatos e nos números. Um relatório semelhante levará

(26)

E, ainda:

HospitaL: - ALgum dia precisamos descobir um teste que também nos mostre onde está a saüde.

o psicóLogo respondeu que poderiam saber isso por meio do ィゥーョッエゥウュッセ@ do ametil e do pen to ta L.

- Discordo - retrucou a Dra. Fried - Essa

força que se mantém oculta é um segredo profundo demais. Mas no ヲオョ、ッセ@ no fundo セ@

セ@ セッ@ 10d "( 1)

e nossa オョセ」。@ 。カセ。@ a... p. v7 •

"Deborah persistiu na sessao seguinte e na seguinte e na ウ・ァオゥョエ・セ@ mas as reações au tomáticas e inexpressivas do médico acabã ram fazendo com que e la se fechasse num

mu

tismo denso como a noite. Ele procuravã de todos os modos convencê-la de que o 11' era uma linguagem elaborada por ela ュ・ウュセ@

e nao uma dádiva enviada pelos deuses. Es miuçou as primeiras palavras citadas por Deborah para demonstrar que se compunham de fragmentos do ャ。エゥュセ@ francês e 。ャ・ュ。ッセ@

e que qua lquer criança de nove ou de z anos de idade poderia formulá-las se quisesse. Analisou a estrutura das ウ・ョエ・ョ￧。ウセ@ procu rando levá-la a admitir アオ・セ@ com rartssi= mas ・ク」・￧￵・ウセ@ reproduziam a estrutura do

ゥョァャ↑ウセ@ o idioma no qual foi educada des-de pequena. A tática era ・ョァ・ョィッウ。セ@ deta-ャィ。、。セ@ brilhante por カ・コ・ウセ@ e Deborah te-ve freqilentemente que concordar com ele

" (p. l73).

23

Em contrapartida a essas idéias de tratamento

ex-postas, a terapia psicanalítica da Dra. Fried busca recordar para resgatar na memória elementos para a reconstrução da

sa-nidade, porque segundo ela enuncia,

(27)

A comprovaçao dessa verdade é exemplificada quando Deborah re

lembra que um de seus deuses imaginários - Anterabae -

cores-pondia à gravura de Satã de Paradise Lost, de Milton.

Sobre as diferenças entre os tratamentos, está

im-plícito na narrativa que a tentativa do psiquiatra que busca

tratar da esquizofrenia apelando para os aspectos cognitivos

do doente esta fadada à falência. O esquizofrênico nao sofre

de incapacidade intelectual, idéia também divulgada em A vida

íntima de uma esquizofrênica. Veja-se essa idéia explicitameg

te enunciada nos seguintes parágrafos:

"- Se eu sou aapaz de aprender essas aoisas

( ••• J pergun tou d・「ッイ。ィセ@ ( ... J aapaz de ler

e 。ーイ・ョ、・イセ@ por que a vida aontinua tão

obsaura?

Car la a fi エッオセ@ sorrindo aomp laaen te. d・「ッイ。ィセ@

quem foi que lhe disse que aprender ヲ。エッウセ@

teorias ou l{nguas tem alguma aoisa a Ver aom a gente entender a si mesma? Entender o que voaê tem de espea{fiao e distinto das outras pessoas ...

- Quer dizer então que a pessoa pode 。ーイ・セ@

、・イセ@ aprender e aontinuar esquizofrêniaa ?

" (p. l28-9J

Essa capacidade adquirida por Deborah de "entender

o que tem de específico e distinto das outras pessoas" é

pro-duto, nessa ficção, do trabalho do psicanalista; ou, ainda, o

"entendimento de si mesmo" resulta do trabalho que está no

registro do psicanalítico. Além dessa, outras características

(28)

Re-2S

ferem-se ao estigma, à vivência de liberdade na loucura, à

a-guda percepção dos sentimentos do outro pelo esquizofrênico .

Sobre o processo da doença, encontram-se na narrativa proposi ções referentes ao desenvolvimento da loucura, enquanto .. defesa

as fases da doença - o aprofundamento que obj eti va a cura, a

fa-se de recaída, a crifa-se súbi ta como antecedente à cura; e ainda: às diferenças entre os loucos - doente-doente e os doentes sãos; referente aos traços que fazem com que uns tenham mais

disponibilidade e/ou chances que outros de se curarem.

As relações familiares também sao relacionadas a doença nessa narrativa, analisando-se a influência de familia

res sobre o doente à luz de explicações psicanalíticas. Eles podem impedir ou permitir que o doente se cure:

"( ... ) 'Meus pais viram muito mais 6dio do que 。ュッイセ@ e ainda assim permitiram que eu fioasse mesmo sem haver qualquer si-nal de progresso e por muito tempo'

Jamais exi iram ue e la se reou erasse a ra restaurar o ーイ・ウエセァゥッ@ a ヲ。ュセャゥ。N@

( ... ) No final das ッッョエ。ウセ@ foi liberdade o que e les me deram. Os de Carmem não lhe deram sequer uma ッィ。ョッ・セ@ ao passo que os meus •.. " (p. 24l)

"( ... ) Muitos pais afirmavam - frequente-mente oom sinoeridade - que queriam aju-da para seus fi lhos セ@ e no fina l aoabavam mostrando que havia todo um esquema

mon-エ。、ッセ@ em ウ・ァイ・、ッセ@ oonsoiente ou inoonsoi ・ョエ・ュ・ョエ・セ@ e que inevitavelmente redunda ria na ru{na de seus filhos. Isso porque a independênoia de uma oriança represen-ta uma ameaça inadmiss{vel quando o equi

l{brio dos pais é preoário ( ..• )".

(29)

"( ... )

o

ressentimento aom a hospitalizaç50 de Deborah ュ。ウ。。イ。カ。セ@ na イ・。ャゥ、。、・セ@ seu or-gulho ferido de imigrante ( ... )" (p. 26)

As relações familiares podem influir sobre o desen

volvimento da doença e, conforme informa a narrativa, por ve-zes durante anos. Veja-se esses trechos:

"( ... ) Estou aontando isso porque quero que voaê entenda que é imposslvel tentar refa-zer o mundo para proteger as pessoas que amamos ( ... )." (p. 42)

"( ... ) A Dra. Pried aompreendeu que Esther aonseguira superar a sujeiç50 para aom o pai. Tornara-se uma mulher ヲッイエ・セ@ segura e

até mesmo dominadora. A determinaç50 que lhe permitia aonquistar todos os inimigos de d・「ッイ。ィセ@ prejudiaando ao invés de aju -、£Mャ。セ@ poderia ser a determinaç50

salvado-ra agora ( ... )." (p. l8?)

"Quantas カ・コ・ウセ@ naquela mesma ウ。ャ。セ@ ー。ゥウセ@

maridos ou ・ウーッウ。ウセ@ no último ュゥョオエッセ@ re-jeitavam aom repugnânaia a pavorosa reali-dade da doença. ( ... ) Era ュ・、ッセ@ ou uma jus

ta impress50 negativa ou - aqueZe gr50 ht= brido de aiúme e ódio que sempre os impedia de interromper a Zonga suaess50 de misérias uma geraçao apôs a sua ( ... )." (p. l zセ@ gri fo nosso)

Finalmente, a cura se efetua quando Deborah adquire uma compadquireensão dinâmica entadquire as suas vivências subjeti -vas e objeti-vas. Para a terapia psicanalítica, conforme se de preende do texto, a doença decorre de causas complexas, e a

(30)

- - - -セセMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMMM

...

desde aspectos pessoais, aos familiares e sociais, tal

mostram as seguintes transcrições:

"( ... ) Graças aqueLes meses de terapia Deborah começou a perceb er que havia mui-tas razões para o horror que o mundo Lhe inspirava. A sombra do 。カッセ@ o ーッ、・イッウッセ@

soberano da dinastia projetava-se ainda sobre todos da fam{Lia. Lembra-se niti-damente de sua voz famiLiar instando: a segunda da cLasse não 「。ウエ。セ@ você tem que ser a primeira! ( ... ). ( ... ) Ou

en-tão - Quando a machucarem nunca chore . Ria! Não permita em hip5tese aLguma que eLes vejam que conseguiram atingi-La"

(p. ZOL/2)

セ@

Bd・「ッイ。ィセ@ cresceu numa epoca e num ambi-ente em que os judeus americanos conti-nuavam acossados ( ... ) a medida que o poderio de Hitler ia se expandindo pela eオイッー。セ@ ( ... ) Deborah lembrava-se de ter encontrado várias vezes a mansão dos BLau salpicada de エゥョエ。セ@ ( ... ) ou rat'?,s

mortos ( ... ) Conheceu de perto esse

0-dio anti-semi tia e chegou mesmo a ser agredida ( ... ). O 。カ￴セ@ no ・ョエ。ョエッセ@ ( ... )

t

inveja. Os mais capazes e espertos são sempre invejados. Caminha de cabeça

er-ァオゥ、。セ@ e se a agredirem não dê o braço a torcer ( ... ) em ウ・ァオゥ、。セ@ com palavras cheias de 5dio: ( ... ) Você ainda vai

l h e s dar um a b o a L i ç ã o (...)". ( p • l O 2 )

"A lição que ela tinha que dar consistia em exibir uma postura que seduzisse e impressionasse as pessoas: sua precoci-dade. Os resuLtados pareciam confirmar as paLavras do velho ... Durante muito

エ・ューッセ@ enquanto vigorou a trégua armada contra o ュオョ、ッセ@ Deborah usuo sua sagaci dade cáustica para maraviLhar e esterre

cer os aduLtos. No ・ョエ。ョエッセ@ esta ーイ・」ッセ@

cidade jamais iLudiu as crianças de sua idade. Percebiam o que acontecia com

・l。セ@ e ウ£「ゥ。ウセ@ partiam imediatamente pa

ra uma posição de ataque." (p.

l02/3)-27

(31)

Bpッイエ。ョエッセ@ カッ」セ@ se constitula num soLo dos mais proplcios para que a semente de Yr ァ・イュゥョ。ウウ・セ@ concLuiu a doutora. As

decep-ções com o mundo dos aduLtos. O abismo e-xistente entre as pretensões do seu avo e o mundo que a cercava."

Além dos enunciados transcritos correspondentes a concepçoes da Psicanálise, também se encontram na narrativa

termos e tópicos próprios desta, tais como: recalque, senti -mento de culpa, mecanismos de defesa; há um sonho e sua inter

pretação; e a questão da sexualidade infantil. A Psicanálise constituiu, nessa ficção, o tema fundamental de construção do enredo.

A narrativa possui duas heroínas: a psicanalista

e a doente. A psicanalista representa a salvadora e

fiel. Deborah, a doente, é a heroína que não desiste

amiga diante das dificuldades. Ela ainda se empenha e se compromete

(32)

-

---.

29

2 - BEM-VINDO SILENCIO

A segunda ficção que será analisada é Bem-vindo si

lêncio. Entretanto, para se iniciar a análise faz-se

necessá-rio um breve relato da narrativa. Escolheu-se transcrever a

própria sinopse apresentada na ficção corno forma ideal, neste

caso, por expor aspectos gerais sobre a narrativa que

explorados no curso da análise. A sinopse é a seguinte:

"Bem-vindo silêncio"

Carol S. North

serao

Esta é a surpreendente estória de urna mulher, da

sua viagem às profundezas da doença mental e o retorno à sani

dade - a uma vida feliz e a sua carreira.

Carol North era ainda bem pequena quando os

sinto-mas da esquizofrenia começaram a se manifestar. Ela

sempre escutando vozes e tendo visões.

estava

O seu relato desses fenômenos é um dos mais

inten-sos e convincentes. Apesar de doente, Carol North foi excelen

te aluna no colégio e na universidade, conseguiu até mesmo in

gressar numa das melhores escolas de medicina do país. Mas a

(33)

realidade era extenuante e ela começou a sofrer colapsos e a

ter impulsos suicidas. Desentendeu-se com a família e

afastou-se dos amigos, inclusive de um dedicado namorado. Esteve

hos-pitalizada devido à doença e os seus relatos do tratamento イセ@

cebido no hospital são pungentes e chocantes. Medicada com

drogas em altas doses, ela padeceu com os terríveis efeitos

colaterais, e o tratamento psiquiátrico que recebeu nao foi

eficaz. Porém teve a sorte de encontrar, finalmente, um

psi-quiatra competente e sensível que compreendeu o seu empenho

em se tornar médica e que trabalhou com esta forte motivação

na tentativa de mantê-la bem. As pressões sofridas diante dos

estudos que tinha que enfrentar na faculdade acabaram

tornan-do-se insuportáveis e, depois de mais algumas tentativas de

suicídio, seu médico adotou medidas mais drásticas. Carol foi

inscrita num programa experimental de tratamento de diálise ,

o mesmo aplicado aos pacientes com insuficiêncial renal.

Cu

-rou-se, literalmente, da noite para o dia. E, o que e mais

incrível, voltou à faculdade e hoje e psiquiatra.

Esta história envolvente e, por fim. triunfante da

luta corajosa para vencer a doença mental interessará àqueles

que já tiveram lido Nunca lhe prometi um jardim de rosas ou

11m dancing as Fast as 1 cano t uma história que servirá de

estímulo para aqueles que sabem o que é lutar diante de

(34)

31

Nesta sinopse sao apresentados dos dois conteúdos que, entremeados, constituem a narrativa: a história da

doen-ça (seu desenvolvimento, tratamento, cura); e a história de

vida da personagem protagonista - família, amores, estudos sendo este último aspecto o mais especificamente explorado na narrativa.

Esses dois conteúdos organizam o plano das ・ウエイオエセ@

ras narrativas, podendo ser ainda denominados história ou fá-bula, e referem-se ao esquema fundamental na narração. Partin

do-se desses conteúdos, é possível a formulação, numa

primei-ra leituprimei-ra, da seguinte macroproposição: ]bセ・セュセM⦅カセャセᄋョセ、セッ@ __ セsセャセᄋセャ↑セョセ」セゥセッ@

conta a história de uma doente - cuja doença, esquizofrenia, é incurável, - que é também estudante de medicina.

Esses conteúdos, atualizados (pelo leitor), permi-tem macroproposições mais profundas, formuláveis no nível das estruturas discursivas, nível que corresponde ao enredo ou

discurso, e no qual se dão as expressões daqueles conteúdos (a história tal como é contada). Aqui, dir-se-ia que Bem-vin-do silêncio conta a história de uma estudante de medicina que se cura de uma doença incurável.

(35)

Da leitura cooperativa empreendida para esta análi

se (níveis actancial e ideológico), entendeu-se que Bem-vindo

silêncio é, também, uma narrativa que se constitui sobre a

oscilação entre dois tipos básicos de tratamento: os que atri

buem causas de natureza psíquica

à

esquizofrenia, e outros

que a entendem como conseqUente de causas orgânicas.

Isso foi inferido a partir da observação de que ・セ@ ta ficção não apresenta nenhum personagem especificamente

ca-racterizado como um psicanalista, como ocorre nas três outras

(ainda que Bem-vindo silêncio também participe da série-roman

ce e psicanálise). Foi possível, então, reconhecer um mesmo

papel actancial ou função narrativa (Eco, 1979), que é

desem-penhado por vários personagens. Estes ocupam na narrativa um

"lugar", que é o do psicoterapeuta. Assim, existe um só

"lu-gar" (função actancial) por onde passam vários personagens

(actores) e que sao também sujeitos de enunciações (Reis, 1988).

Ver-se-á, então, se alternarem num mesmo papel actancial dife

rentes formações discursivas (Orlandi, 1988), referentes a va

rias modalidades de tratamento psicoterapêutico, que serão ーッセ@

teriormente citadas.

Apenas dois desses atores sao descritos com

carac-terÍsticas que os remetem

ã

ordem do psicanalítico, embora não

(36)

MMセMMMセMMMMセMMMMセMMMMMM

o

primeiro desses atores, Dr. Falmouth, é descrito pela protagonista:

"( ... ) Dr. Falmouth chegara para o seu traba-lho diário. Atravessou a sala de estar a pas sos ャ。イァッウセ@ ゥューッイエ。ョエ・セ@ a caminho do posto ュ←、ゥ」ッセ@ o jaleco branco adejando magn{fico a

trás. Para ュゥュセ@ ele parecia 、ゥウエゥョエッセ@ inatin g{vell freudiano. Depois de verificar o meu

ーイッョエオ ̄イゥッセ@ tornou a aparecer e me guiou até a sua sala para uma sessão de terapia. l£セ@ ele fez várias anotações cuidando de não me deixar ver o que escrevia.

Como foi sua infância? - ー・イァオョエッオセ@ acarici-ando a barba." (p. ャoャMRセ@ grifo nosso)

33

assim

Observe-se que o médico nao é descrito como distin to, inatingível e, além disso, freudiano, mas sim que este ;

e

tão distinto e inatingível quanto um freudiano, conforme o

e-nunciado da protagonista (e narradora autodiegética l ).

O interesse manifestado diretamente pIa infância de Carol é um elemento do enunciado que indica uma relação entre ser freudiano e se interessar pela infância: tanto é indicatl

vo de que os freudianos se interessam por essa, quanto que, ao se interessar, deve ser freudiano.

l"A expressão narrador autodiegético introduzida nos estudos

narratológicos por Genette (1972, p. 251 e segs.), designa a entidade responsável por uma situação ou atitude narrati-va específica: aquela em que o narrador da história relata as suas próprias experiências como personagem central dessa história ( ••• ) a análise de um discurso narrativo de um nar rador autodiegêtico tenderá normalmente a subordinar as ques tões enunciadas a uma questão central: a configuração (ideõ

lógica, ética, etc.) da entidade que protagoniza a dupla 。セ@

ventura: de ser herói da história e responsável pela sua

(37)

Numa outra passagem semelhante a esta, oDr. Falmouth

(já apresentado como freudiano), conforme o enunciado da

pro-tagonista, interessa-se excessivamente por questões relativas

a sexo:

"( ... ) Parece que as perguntas sobre sexo as-sustam você - Dr. Falmouth falou da platéia. Mostrava-se bastante satisfeito consigo mes-mo por ter sugerido a associação.

Revirei os olhos, tentando entender as impli cações psicológicas da sua observação.

- Quando pergunto sobre sexo, voce parece as sustada. Estou certo?

Sacudi os ombros. Eu não pensava assim. Ele sabia todas as conjecturas a respeito do se-xo/ até mesmo as conjecturas sobre as conjec turas. (p. l03)

Ou, ainda aqui:

"Uma força externa assumira o controle do meu polegar? Ou era algum impulso sexual vil, o-culto nas profundezas do meu próprio subcons ciente ュ。ョゥヲ・ウエ。ョ、ッセウ・@ nesses movimentos in= controláveis? Dr. Falmouth ia se deliciar com isto. Por que a minha ansiedade se expressa-va através do meu polegar? Por que não pelo dedão do pé, estômago ou mesmo dor de cabeça - numa cefaléia de tensão muscular ou dor na nuca? Qual era a importância sexual do pole-gar? Resolvi não contar para o Dr. Falmouth achei que não ia conseguir enfrentar o cons-trangimento de ter que ouvir a interpretação freudiana dos espasmos do meu polegar ... " (p. lO 7, grifo nosso)

As múltiplas indagações da narradora- protagonista

sobre o "por que" do espasmo estar localizado no polegar, e nao

em qualquer outro membro do corpo, ironizam um freudismo orto

(38)

3S

busca excessiva de explicação ou interpretação freudiana, tal

como é dito pela personagem.

A ironia dessa crítica se concretiza

posteriormen-te quando os espasmos sao diagnosticados como efeitos colaposteriormen-te- colate-rais de medicação antipsicótica (acatisia). E, ainda, quando

o método psicanalítico do médico for combinado ao método de modificação comportamental, sendo este rotulado pela protago-nista como cruel e desumano.

Os enunciados críticos da personagem sobre este mé

di co freudiano dirigem-se a sua pseudo-ortodoxia, tal nesta passagem:

"Meus pais criticaram o Dr. Falmouth エ。ュ「セュN@

Mamãe s e queixou de que na en trevis ta que ti veram ele se limitou a ficar sentado fuman= do misteriosamente o seu 」。」ィゥュ「ッセ@ acarici-ando a 「。イ「。セ@ fazendo anotações na pranche-エ。セ@ evitando falar qualquer 」ッゥウ。セ@ sem res-ponder nenhuma das suas perguntas preocupa-das a respeito de como ele me ajudaria ou como e quando eu ficaria boa.

Ele parece não ter calor humano - mamãe dis se. t uma pessoa insens{vel." (p. llZ)

como

Nesse trecho, pode-se ler, nao só a crítica

ã

ーウ・セ@

do-ortodoxia do Dr. Falmouth, mas também vê-lo sendo descrito como alguém que fica sentado fumando "misteriosamente" seu ca chimbo sem ・ュゥエゥセ@ nenhuma セ。ャ。カイ。L@ limitando-se a fazer anota

(39)

As críticas se concretizam num trecho posterior em que a protagonista será tratada por outro médico, que é des

-crito como o negativo do Dr. Falmouth.

"Pode me chamar de Paul - disse. Todos os pacientes me tratam assim.

Descobri que não era diflcil falar com ele, e que parecia compreender quase tu-do o que eu dizia. Não murmurava 'hum' ou rabiscava numa prancheta." (p. l34)

o

Dr. Falmouth, primeiro "freudiano" que aparece na narrativa, é um médico mau. O tratamento se encerra com o

médico suspendendo os privilégios (perda de quarto particular,

proibição de saída, etc.) da paciente que ele julgava histérl

ca, e com a paciente fingindo não sofrer de acatisia para con

seguir ter alta hospitalar e para se livrar do médico que

desistira de tratá-la. A paciente fingia, então cooperar

o método, quando estava de fato representando se submeter

seu poder, pois o médico não queria mais tratá-la apenas

com

ao

im-por sua autoridade. Por todos esses enunciados, conclui-seque

o Dr. Falmouth era um mau médico e, como era freudiano, イ・ーイセ@

senta, afinal, o mau freudiano.

O segundo ator, que também é apresentado com 」。イ。セ@

terísticas que o aproximam de um estereótipo de psicanalista,

é o médico que efetuaria o último tratamento, denominado Dr.

Hemingway. Será este que, enfim, curará a protagonista, カ。ャ・セ@

do-se de todos os tratamentos possíveis, inclusive da diálise,

(40)

a---.,

37

-

.

presentado na narrativa como semelhante ao proprlo Freud, sen

do suas açoes e relação com a protagonista descritos

explici-tamente como bons; pode-se dizer que o Dr. Hemingway represeg

ta o bom freudiano.

Ele é assim apresentado pela protagonista:

"Olhei melhor para o Dr. Hemingway e vacilei.

O cara era igualzinho ao Freud. Aparentava uns cinqUenta anos, com a barba e os cabelos completamente brancos. Usava óculos redondos de aro metálico que davam o toque final ao

ar professoral do terno impecável de lã xa-drez ... " (p. 218-9)

Embora este personagem seja descrito "como

idênti-co a Freud", ele também não é denominado psicanalista. Embora

encontrem-se neste contexto da narrativa - (tratamento com o

Dr. Hemingway) - enunciados que remetem a apropriações de

i-déias da psicanálise. Como neste trecho de uma relatório (um

simulacro) de acompanhamento do médico:

"( ... ) Discutimos a interpretação disso ・クエ・セ@

samente e a minha conclusao final é que este é o tipo de fenômeno que ela apresenta quan-do se encontra sob estresse e as tensões so-ciais dentro do hospital levaram-na a enten-der que as pessoas estão lendo seus pensamen tos. Colo uei isto num contexto de uma es

é=

cie de ウ・ョウセ「ゥャゥ@ a e ou e uma certa timi ez e constran imento em re la ao aos outros e ue se manifesta esta forma. Ela nao concor ou totalmente mas esta disposta a considerar ッセ@

Referências

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