CONSUMO DE SUPLEMENTOS ESPORTIVOS E COMPOSIÇÃO
CORPORAL DE ADOLESCENTES PRATICANTES DE EXERCÍCIOS
FÍSICOS EM ACADEMIAS
ARARAQUARA
CONSUMO DE SUPLEMENTOS ESPORTIVOS E COMPOSIÇÃO
CORPORAL DE ADOLESCENTES PRATICANTES DE EXERCÍCIOS
FÍSICOS EM ACADEMIAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós -Graduação em Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Alimentos e Nutrição, área de concentração: Ciências Nutricionais.
Orientadora: Prof.ª Drª. Maria de Lourdes Pires Bianchi
Co-Orientadora: Prof.ª Drª. Jacqueline Pontes Monteiro
ARARAQUARA
Ficha Catalográfica
Elaborada Pelo Serviço Técnico de Biblioteca e Documentação Faculdade de Ciências Farmacêuticas
UNESP – Campus de Araraquara
Simeão Júnior, Carlos Alberto
S976c Consumo de suplementos esportivos e composição corporal de adolescentes praticantes de exercícios físicos em academias / Carlos Alberto Simeão Junior. – Araraquara, 2007.
96 f.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista. “Júlio de Mesquita Filho”. Faculdade de Ciências Farmacêuticas. Programa de Pós Graduação em Alimentos e Nutrição.
Orientadora: Maria de Lourdes Pires Bianchi Co-orientadora: Jacqueline Pontes Monteiro
1. Adolescentes – Nutrição - Suplementos dietéticos. 2. Esportes - Suplementos dietéticos. 3. Academias. I. Bianchi, Maria de Lourdes Pires, orient. II. Monteiro, Jacqueline Pontes, co-orient. III. Título.
612.3.
Profª. Drª. Maria de Lourdes Pires Bianchi
Profª. Drª. Lídia Teresa de Abreu Pires
Prof. Dr. João Bosco Faria
Profª. Drª. Cecília Rodrigues Silva
Profª. Drª. Lusânia Maria Greggi Antunes
À minha filha, Beatriz Dalmolin Simeão, por ser a razão que me conduz à vida e a ter
Agradeço a Deus, pelo dom da vida, por me fortalecer na caminhada e não
À minha orientadora Profª. Drª. Maria de Lourdes Pires Bianchi, pelo voto de
confiança, aceitando orientar-me. Obrigado por sua amizade, e ajuda, desde a fase
de preparação para o exame de ingresso no mestrado. Obrigado por tudo. A vitória
também é sua!
À Profª. Drª. Jacqueline Pontes Monteiro, pela disposição, amizade e incentivo
durante a realização deste trabalho. Guardarei comigo sua imagem como pessoa,;
levarei, como exemplo, sua imagem como pesquisadora.
À Profª. Drª. Lídia Teresa de Abreu Pires, por sempre ter me incentivado na busca
pelo conhecimento, sendo minha primeira orientadora no projeto de iniciação
científica, ainda na graduação. Obrigado por tudo! Obrigado por permitir meu
desenvolvimento científico e sempre apoiar os meus projetos.
Ao Prof. Dr. João Bosco Faria, coordenador do programa de Pós-Graduação em
Alimentos e Nutrição, pelo incentivo à busca do conhecimento, apoio e compreensão
nas diversas etapas deste trabalho.
À Profª. Drª. Lusânia Maria Greggi Antunes e à Profª. Drª. Cecília Rodrigues Silva,
por todos os momentos nos quais me possibilitaram aprender .
À Profª. Drª. Aureluce Demonte, pela ajuda, amizade, orientações e incentivo à
sinceros agradecimentos. Vocês foram especiais.
Aos profissionais e amigos, Rodrigo, Érika e Estela, que em algum momento
contribuíram com este trabalho. Muito obrigado!
A todos os amigos, por sua presença durante esses anos, em especial à Carla,
Cristiano, Edson, Isa e Rodrigo.
Em especial à Maria Isabel Dalmolin, por ser a companheira que é, e por
fortalecer-me nos mofortalecer-mentos de dificuldades.
Aos meus pais, Carlos e Cida, por sempre demonstrarem seu carinho, amor e
1 INTRODUÇÃO ...17
2 OBJETIVOS...20
3 REVISÃO DE LITERATURA ...21
3.1 Adolescência ...21
3.2 Dados Demográficos ...23
3.3 A adolescência como período de transição...23
3.4 A adolescência na psicologia ...25
3.5 Transformações fisiológicas rápidas ...28
3.6 Os três períodos pubertários ...30
3.7 As atitudes psicossociais ligadas ao corpo ...31
4 NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA...33
4.1 Saúde do adolescente...33
4.2 Hábitos alimentares na adolescência...34
4.3 O consumo alimentar e a atividade física voltada à percepção da aparência corporal...37
4.4 A imagem corporal e a prática de dietas dos adolescentes ...39
5 CONSUMO DE SUPLEMENTOS ESPORTIVOS ...41
6 CASUÍSTICA E METODOS ...48
6.1 População estudada...48
6.2 Dados antropométricos ...49
esteróides anabólicos e prática de exercícios físicos...51
7 RESULTADOS...52
8 DISCUSSÃO ...72
9 CONCLUSÃO ...79
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...82
11 ANEXOS ...90
A1 Termo de consentimento livre e esclarecido...91
A2 Carta resposta do comitê de ética ...93
ASBRA Associação Brasileira de Adolescência
ACT Água Corporal Total
Cm Centímetros
g/cm Gramas por Centímetros de Altura
g/dia Gramas por Dia
IMC Índice de Massa Corporal
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
KHZ Quilohertz
Kg Quilograma de Peso
Kcal Quilocalorias
Kcal/dia Quilocalorias por Dia
Kcal/Kg Quilocalorias por Quilograma de Peso
Kcal/cm Quilocalorias por Centímetro de Altura
Kcal/g Quilocalorias por Gramas de Peso
Kg/m² Quilocalorias por Metros Quadrados
MCM Massa Corporal Magra
MCG Massa Corporal Gorda
MCC Massa Celular Corporal
mg/dia Miligramas por dia
mg Miligrama
NRC Conselho de Pesquisa Nacional
OMS Organização Mundial da Saúde
OPAS Organização Pan-americana da Saúde
Figura 1. Distribuição por Gênero (Masculino e Feminino)
Figura 2. Distribuição por Faixa Etária
Figura 3. Classificação do Índice de Massa Corporal de acordo com a Organização
Mundial da Saúde de 1998
Figura 4. Distribuição do percentual de gordura corporal masculino, segundo
classificação de Lohman (1987)
Figura 5. Distribuição do percentual de gordura corporal feminino, segundo
classificação de Lohman (1987)
Figura 6. Tempo de prática dos exercícios regularmente
Figura 7. Média de horas por semana nas academias
Figura 8. Objetivos quanto à prática de exercícios físicos
Figura 9. Utilização de dietas nos últimos 30 dias
Figura 10. Objetivos quanto à realização de dietas
Figura 11. Fonte de indicação/orientação de dietas
Figura 12. Consumo de suplementos
Figura 13. Tipos de suplementos utilizados pelos adolescentes
Figura 14. Fonte de indicação/orientação para utilização de suplementos
Figura 15. Uso de suplementos na família
Figura 16. Uso de suplementos entre os amigos
Figura 17. Conhecimento de usuários de esteróides anabolizantes
Figura 18. Uso de esteróide anabolizante pelo entrevistado
Figura 19. Possível utilização de esteróides anabolizantes pelos próprios
Tabela 1. Deveres do Desenvolvimento na Adolescência
Tabela 2. Classificação do Estado Nutricional de acordo com os percentis de IMC
recomendados pela OMS, em 1995
Atualmente, a maioria dos adolescentes freqüenta as academias de ginástica pelos
fatores estética e aparência física, nos quais o alto consumo de suplementos e o uso
de esteróides anabolizantes são evidentes. Esse consumo se fortaleceu devido ao
grande aumento no número de academias e ao lançamento de diversos
suplementos no mercado, voltados à musculação e aos esportes que exigem
desempenho máximo. Este estudo teve como objetivo avaliar a composição
corporal, o consumo de suplementos esportivos e o uso de esteróides anabólicos em
adolescentes com faixa etária entre 15 a 19 anos de idade, praticantes de exercícios
físicos em academias da cidade de Ribeirão Preto - SP, destacando as principais
fontes de indicação da utilização de suplementos, os principais tipos de suplementos
utilizados em academias, a freqüência de adolescentes usuários de suplementos e
os variados motivos pelos quais os adolescentes procuram as academias. Foram
utilizados na análise, os seguintes procedimentos: registro do peso, da estatura,
cálculo e análise do Índice Massa Corporal - IMC (de acordo com as variáveis de
peso e altura), avaliação da composição corporal por meio de Impedância Bioelétrica
e a utilização de um questionário que analisa a freqüência do uso de suplementos
esportivos, esteróides anabólicos e a prática de exercícios físicos. Nos resultados
obtidos, 80,0% dos adolescentes classificam-se como eutróficos, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde, de 1995. Porém, na análise do percentual de
gordura corporal, verifica-se que 64% das adolescentes encontram-se em um
padrão moderadamente alto de gordura, o que nos adolescentes observa-se que
11% enquadram-se como moderadamente alta e 11% na classificação alta. Os
sua massa muscular. Os suplementos mais consumidos foram as bebidas esportivas
(63,0%) e a maior fonte de indicação foi a “por conta própria” (69,0%). Concluindo, o
estudo mostrou que o consumo de suplementos e o percentual de gordura corporal
entre os gêneros foram bastante elevados nos adolescentes avaliados em duas
academias da cidade de Ribeirão Preto – SP, despertando ainda mais o interesse
pela elaboração de estudos cada vez mais voltados à temática, para que seja
possível esclarecer aos consumidores, os diversos tipos, efeitos e composições dos
suplementos mais vendidos no mercado, auxiliando-os na procura de uma
orientação especializada para o diagnóstico da necessidade do uso desses produtos
e, se for necessário, oferecer orientação para o uso correto, sempre buscando
proporcionar, por meio de programas de educação alimentar, um maior
conhecimento sobre o conteúdo e as conseqüências de uma ingestão incorreta
durante longo prazo, garantindo assim a saúde e prevenindo doenças.
Currently, the majority of the teenagers go at the gymnastics academy worried about
the esthetic and physical appearance. In these places the high consumption of
supplements and the use of anabolic steroids are evident. This consumption has
been fortified by the great increase in the number of academies and a lot of different
supplements in the market, which help to the strength section of training and the
sports that demand high performance. The mean of this study was to evaluate the
corporal composition, the consumption of sportive supplements and the use of
anabolic steroids on teenagers, who were 15-19 years of age, habitué of physical
exercises at gymnastics academies of the Ribeirão Preto City – São Paulo - BR,
pointing out the main sources of indication of the use of supplements, the major types
of supplements used in academies, the frequency that teenagers use the
supplements and the different reasons that the teenagers look for the academies. To
analyzed the results had been used the following procedures: register of the weight,
of the stature, calculation and analysis of the Index Corporal Mass - IMC (in
accordance with the variable of weight and height), calculation of the corporal
composition using the method of Bioeletric Impedance and the use of a
questionnaire, which analyzes the frequency of the use of the sportive supplements,
anabolic steroids and the practice of the physical exercises. In the results, was
related that 80.0% of the teenagers are classified as eutrofics, the Health
International Organization, of 1995. However, in the analysis of the percentage of fat
body mass, it was verified that, 64% of the teenagers were in a moderately high
standard of fat, what in the teenagers it is observed that 11% are fit moderately as
high and 11% in the high classification. The teenagers remain, on average, 9,9 hours
drinks were the higher consumed supplements (63.0%) and the biggest source of
indication was the “by myself” (69.0%). The study showed that the consumption of
supplements and the percentage of fat body composition between the genders had
been very high in the teenagers evaluated at the two academies in Ribeirão Preto
City – São Paulo - BR, bringing to the light the interesting to elaborated more studies
in this area, in this way, will be possible to clarify the consumers of the diverse types,
effect and compositions of the supplements that were best sold in the market. It will
make possible to assist to look for an specialized orientation to the diagnosis of the
necessity of use these products and, if it be necessary, to offer orientation for the
correct use, always looking for to provide, by the education programs, to feed a
bigger knowledge on the content and the consequences of a incorrect ingestion
during long period, thus guaranteeing the health and preventing illnesses.
1. INTRODUÇÃO
A palavra “adolescer” originou-se do latim e significa crescer, engrossar,
tornar-se maior, atingir a maioridade, caracterizando um indivíduo apto a crescer. Os
humanos, em comparação com outros seres vivos, são os únicos que vivem a
adolescência como uma importante etapa do desenvolvimento, quando são
acometidos das maiores modificações do seu processo vital (TIBA, 1986).
A sociedade impõe ao adolescente, nesse meio tempo, um período de
espera, conhecido também como “moratória”, que lhe proporciona a maturação
necessária para ingressar na fase adulta, tendo assim, capacidade para suportar
novas responsabilidades, assimilando seus valores no meio social,
desenvolvendo-se e sabendo competir de igual para igual. A adolescência é, por fim, um tempo de
suspensão entre a infância e a fase adulta (CALLIGARIS, 2000).
Não se sabe, ao certo, a duração da adolescência, e muito menos de sua
moratória. Sendo assim, ela é caracterizada pelas transformações fisiológicas
decorrentes da puberdade, considerada marca de cálculo para a identificação do
início dessa fase.
Atualmente, as academias de ginástica são os locais de maior procura para
a prática de exercícios físicos (ASSUNÇÃO, 2003). A maioria dos freqüentadores
dessas academias tem acesso facilitado no que diz respeito à nutrição e ao exercício
físico. Tal acesso se dá pelo nível de escolaridade e motivação para a prática da
atividade (PEREIRA et al, 2004). É fácil identificar o motivo pelo qual a maioria dos
adolescentes freqüenta as academias de ginástica. Provavelmente, pelo fator
estético corporal e da aparência física, desprezando a melhora do desempenho, da
Para Vieira et al. (2002), as preocupações em torno da imagem corporal
passam a ser a motivação dos adolescentes para a prática de atividades físicas nas
academias e clubes. Como a sociedade e a mídia impõem uma pressão quanto à
forma física dos indivíduos, tais preocupações tornam-se um foco de colaboração
para o aumento da ingestão de suplementos e anabolizantes (STRICKER, 2002).
O consumo de suplementos tornou-se fonte primária para se obter um bom
desenvolvimento físico, no caso de atletas ou possíveis praticantes de exercícios
físicos, como os adolescentes, bem como um meio rápido para se obter contornos e
formas corporais. Tudo isso devido ao grande aumento no número de academias e
produção de diversos suplementos no mercado, voltados à musculação e a esportes
de alta intensidade. Muitos desses suplementos levam o usuário a acreditar que
determinados resultados sirvam de pontos positivos, especificamente, no
desenvolvimento de seu preparo físico e aparência física.
Outro ponto de vista que se faz necessário questionar: É realmente
indispensável o uso de suplementos nutricionais na prática de atividades físicas? Os
meus hábitos alimentares deixam a desejar a ponto de necessitar de uma
suplementação? Somente após a análise cautelosa das questões acima e de muitas
outras, é que se pode, com o auxílio de um nutricionista, desenvolver uma dieta que
inclua suplementos que venham a complementar a sua alimentação (FETT, 2000;
BACURAU, 2001).
Não há publicações suficientes na área sobre suplementos, ocasionando
uma possível falta de informação, tanto dos profissionais da área, quanto dos
praticantes de exercício físico, referente à suplementação, seus efeitos colaterais e
ao próprio hábito alimentar. Diante disso, o que ocorre atualmente, entre os
em seus objetivos, e uma simples dieta variada, equilibrada e moderada fica para
segundo plano, no contexto nutricional.
Os adolescentes são os que mais resistem às orientações nutricionais de
profissionais especialistas na área, tornando-se alvo fácil da cobiça da mídia e do
marketing, que estabelecem a necessidade de um corpo perfeito em um curto prazo
de tempo. Com isso, os adolescentes acatam as informações e orientações dos
colegas e instrutores, muitas vezes desprovidos de conhecimentos concretos sobre
o assunto e seus malefícios (PEREIRA et al, 2004).
O consumo de suplementos esportivos e esteróides anabolizantes, assim
como, o conhecimento de sua composição corporal, avaliados neste estudo, podem
contribuir para ampliar pesquisas, com o desenvolvimento de outros trabalhos nesta
2. OBJETIVOS GERAIS
• Determinar a freqüência do consumo de suplementos esportivos e a
composição corporal de adolescentes freqüentadores de academias, na
cidade de Ribeirão Preto-SP.
2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Determinar as principais fontes de indicação da utilização de suplementos;
• Verificar os principais tipos de suplementos utilizados em academias;
• Determinar a freqüência de adolescentes usuários de suplementos;
• Conhecer o uso de esteróides anabólicos em adolescentes;
• Descrever os variados motivos pelos quais os adolescentes procuram as
academias;
• Avaliar a composição corporal de adolescentes praticantes de exercícios
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 A ADOLESCÊNCIA
Na Idade Média, as crianças e os adolescentes eram considerados “Adultos
em Miniatura”. Somente no século XX é que alguns conceituados pesquisadores,
como Hall, Freud, Erikson, Gesell e Piaget , começaram a elaborar os conceitos da
adolescência (COATES, 1995).
Para Bock et al. (2001) os conceitos adolescência e juventude são
indefinidos; alguns autores concluem que a adolescência tem início ao término da
infância, por volta dos 12 anos, e seu fim antes da juventude, por volta dos 18 anos.
Mas esse conceito é definido, muitas vezes, pela cultura social. É complexo
esclarecer a fase que vai da puberdade à idade adulta. Isso ocorre devido à
adolescência não se caracterizar como fase natural do desenvolvimento humano e
sim como um período definido pela sociedade; portanto, podemos dizer que: “[...]
nós não temos adolescência e sim adolescentes” (p. 291).
Para Saito, “A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a
fase adulta, caracterizada por profundas transformações somáticas, psicológicas e
sociais” (1993 apud Albano, 2000, p. 1).
A OMS (1995) estabelece uma faixa etária de 10 a 19 anos para a
caracterização da adolescência, dividindo-a em duas fases distintas:
• 1ª Fase: de 10 a 14 anos de idade, caracteriza-se pelo início das mudanças
puberais;
• 2ª Fase: de 15 a 19 anos de idade, caracteriza-se pelo término da fase de
A adolescência é caracterizada, nos dias atuais, pela psicologia, como um
aspecto natural do próprio desenvolvimento humano, que se encaixa logo ao término
da infância e que antecede a vida adulta. São atitudes e fases naturais, que todo e
qualquer ser humano considerado normal vivencia no decorrer do seu
desenvolvimento (BOCK, 2004).
Atualmente, a adolescência é fundamentada junto à realização dos sonhos
e desejos adultos. O adolescente que é afastado e excluído da vida adulta passa a
servir como catálogo de escolha dos sonhos dos mesmos, no qual a liberdade e a
autonomia são os produtos de maior interesse. Isso faz com que os adolescentes
usem de sua rebeldia como objeto de imitação em busca do ideal cultural básico.
Acredita-se que a adolescência seja um ideal social, mas também que se torne um
ideal necessário na modernidade (CALLIGARIS, 2000).
Segundo Calligaris (2000), existem grupos nos quais os adolescentes se
reúnem, em busca de identidade própria, com estilos e traços definidos claramente,
tendo em comum um look(vestimentas, cabelos, maquiagem), preferências culturais
(tipo de música, imprensa) e comportamentos (bares, clubes, restaurantes). Esses
grupos formados por adolescentes se tornam um produto facilmente comercializável,
ou seja, tornam-se alvos públicos do marketing e da mídia, sendo que eles mesmos
produzem os apetrechos, as senhas de reconhecimento e os traços de look
circulantes no mercado e necessários para a identificação dos grupos.
Os looks, que primeiramente surgiram como rebeldia, hoje são ideais de
adesão para os membros dos grupos, tornando a adolescência, assim uma espécie
de franchise, utilizada como proposta de idealização para todo o mundo
3.2 DADOS DEMOGRÁFICOS
Segundo Albano (2000), o número de adolescentes tem aumentado cada
vez mais na maior parte dos países das Américas, nos últimos decênios. Indivíduos
com faixa etária entre 10 e 19 anos aumentaram de 80 milhões, no início da década
de 60, para 133,5 milhões, em 1990, nos trinta maiores países das Américas
(incluindo Canadá e Estados Unidos). Já no Brasil, segundo dados do IBGE (1996),
11,2% da população total é composta por indivíduos com faixa etária entre 10 e 14
anos de idade e 10,6% correspondem a indivíduos com faixa etária entre 15 e 19
anos, totalizando 21,8% de adolescentes, sendo 50,3% do gênero masculino e
49,7% do gênero feminino. Um dado interessante é que na região Sudeste
concentra-se aproximadamente 41,7% da população de adolescentes.
Dados da SEADE (1996) afirmam que, no estado de São Paulo, 20,05% é a
população total de indivíduos com idade entre 10 e 19 anos; no Município de São
Paulo, é de 19,04%.
3.3 A ADOLESCÊNCIA COMO PERÍODO DE TRANSIÇÃO
Quando o adolescente passa por esse momento de transição, novos
comportamentos e respostas são necessários para o desenvolvimento de sua
maturidade, mas nem sempre os adolescentes reconhecem ou assimilam esses
novos comportamentos e respostas.
De acordo com Herbert (1991), temos como exemplo:
deve somar à equação, que contém de um lado seus escrúpulos morais e do outro suas próprias inclinações sexuais, o risco específico de engravidar (p. 75).
Os pais devem orientar e acompanhar seus filhos diante dessas
dificuldades, auxiliando na maneira como eles devem enfrentar tais mudanças.
Segundo Bock (2004), a relação entre adolescentes e adultos é
estabelecida por conflitos que desestabilizam sua integridade social. Os jovens
desejam ser independentes, principalmente de seus pais e, por conta própria, aos
poucos, eles se afastam e se libertam dos adultos. Mas, muitas vezes, os adultos
não querem perder o controle sobre seus filhos. Assim sendo, o adolescente se
contrapõe aos pais, desobedecendo ao que por eles foi imposto.
O que mais se pede aos adultos, atualmente: compreensão, tolerância,
aceitação e a paciência para com os adolescentes, pois adolescência é uma fase
passageira, que se constitui de variações espontâneas de comportamento do próprio
desenvolvimento, o que não é difícil de seguir, pois aqueles que por essa fase
passaram possuem o conhecimento que pode possibilitar o controle de
determinadas situações. Porém esse comportamento, ou seja, essa naturalização
da adolescência, impede a construção de políticas que providenciam a inserção dos
mesmos no meio social (BOCK, 2004).
Os filhos precisam de maior apoio emocional dos pais, a partir da
puberdade, mas de maneira discreta e indireta, durante o desenvolvimento. Não
devemos estudar os adolescentes e seus problemas sem considerarmos a interação
dos mesmos com os pais, já possuídos de suas próprias preocupações e
ansiedades (HERBERT, 1991).
A adolescência, segundo C. Murray Parkes, psiquiatra britânico,
No fluxo contínuo da vida, a pessoa passa por muitas mudanças. Chegar, partir, crescer, decair, conseguir, fracassar, toda mudança envolve perda e ganho. O antigo meio deve ser abandonado, o novo, aceito. As pessoas vão e vêm, um emprego acaba, outro começa... aprendem-se novas qualificações, abandonam-se as antigas, as expectativas se realizam ou as esperanças fogem; em todas estas situações o indivíduo encara a necessidade de abandonar um modo de vida e aceitar outro (apud Herbert, 1991, p.74).
3.4 A ADOLESCÊNCIA NA PSICOLOGIA
Segundo Bock (2004), do final da infância ao início da fase adulta, o ser
humano atravessa um período de modificações e manifestações, tanto físicas e
psicológicas quanto morais e sociais. Com essa visão psicológica que naturaliza a
adolescência, todos podem esperar que um dia essa adolescência chegue. Dessa
forma, “ela” (adolescência naturalizada) se torna um processo difícil, com várias
brigas consideradas pela sociedade “naturais” em seu desenvolvimento.
Para Mahan e Escott-Stump (1998), a adolescência engloba a
maturação da mente e do organismo. Além do crescimento fisiológico da puberdade,
a adolescência compreende, também, o desenvolvimento dos aspectos emocionais
e intelectuais, rapidamente. A capacidade de desenvolver pensamentos de
considerações existentes, só no domínio das idéias e sem base material, contrário
aos pensamentos concretos da infância, possibilita ao adolescente desenvolver os
“deveres da adolescência”.
Logo a seguir, temos os seguintes deveres do desenvolvimento da
Muitos desses deveres podem vir a influenciar o bem-estar nutricional dos
adolescentes, por meio de perturbações psicológicas, fisiológicas, emocionais e
sociais, entre outras.
Williams (1997) declara que os jovens, na fase adolescente, sentem muita
falta da segurança de sua infância, mas, ao mesmo tempo, desejam alcançar a
maturidade e a independência da vida adulta. O maior problema psicossocial
encontrado na adolescência é a batalha desses jovens entre a identidade pessoal e
a propagação de papéis. Isso ocorre no início da infância, atingindo seu pico máximo
na crise de identidade adolescente.
As mudanças profundas que acontecem no corpo, junto do desenvolvimento
sexual, acabam por modificar completamente, em muitos dos casos, as imagens
corporais, proporcionando, conseqüentemente, tensões diversificadas em ambos os
gêneros, durante seu amadurecimento (WILLIAMS, 1997).
As preocupações em torno da identidade própria, desenvolvimento sexual e
preparação para uma vida adulta, que envolva um papel na sociedade tecnológica e
emocionais e sociais no decorrer da vida adolescente. Nessa fase, torna-se grande a
pressão pela aceitação pelo grupo de amigos, pelo modismo de se vestir e pelos
hábitos alimentares comuns (JACOBSON, 1998).
Atualmente, a sociedade tecnológicamente desenvolvida estabelece
prioridades acerca do valor educacional, sendo necessário que os adolescentes
passem por uma preparação mais prolongada, retardando a fase de casamento,
constituição de família e idade de reprodução. Como conseqüência surge conflitos
familiares e tensões sociais que, por sua vez, alteram os comportamentos
nutricionais, já que esses adolescentes comem com freqüência fora de casa e se
adaptam a diferentes hábitos alimentares decorrentes do grupo de amigos
(WILLIAMS, 1997).
Os adolescentes, nesta fase, buscam sua identidade através de pessoas
que sejam iguais a eles, que possuam os mesmos gostos, que tenham os mesmos
sonhos e vontades, no intuito de serem descobertos e notados pela sociedade. Eles
já não aceitam determinadas regras impostas pelos pais, por isso se afastam em
busca de pessoas que possuam os mesmos estilos (grupos isolados). Seu
comportamento, seu humor e ânimo são modificados e eles acabam por se
distanciar, cada vez mais, dos pais e da sociedade, à procura de sua independência
(ABERASTURY, KNOBEL, 1989).
A adolescência é a transição de uma fase de grandes acontecimentos para
uma fase também ativa e dinâmica, porém, com grandes questionamentos que
proporcionam a formação autocrítica e a transformação moral do indivíduo. Veja:
“[...] a passagem de uma atitude de simples espectador para uma outra ativa,
questionadora. Que inclusive vai gerar revisão, autocrítica, transformação” (Becker,
Para Calligaris (2000) os adolescentes encontram um grande obstáculo
quando chega o momento em que a busca pela sua independência e seu ingresso
na sociedade é impedida pelos adultos; isso ocorre devido à falta de percepção por
parte dos adultos, quanto ao aparecimento das características próprias da vida
adulta. Ele ainda nos diz: “Numa sociedade em que os adultos fossem definidos por
alguma competência específica, não haveria adolescentes, só candidatos e uma
iniciação pela qual seria fácil decidir: sabe ou não sabe, é ou não é adulto” (apud
Bock, 2004, p. 7).
Para o comércio a importância está no vender, com isso, observa-se o
crescimento do mercado de drogas de fácil acesso. Esse mercado ganha os
adolescentes modificando sua moral. Tendo como agravante, para aqueles
adolescentes que utilizam drogas, que a dosagem seja, a cada momento, maior para
sua auto-satisfação (BOCK ET AL, 2001).
Com o uso prolongado de drogas, há desenvolvimento de dependência
física e psicológica, e as capacidades de pensar, realizar e decidir ficam alteradas;
com isso, os adolescentes se afastam dos amigos e familiares.
As pessoas que consomem drogas ou que possuem algum vício não o
fazem pela tristeza e pela infelicidade; elas o fazem pelo prazer imediato que
proporciona tal substância e pelo status social.
3.5 TRANSFORMAÇÕES FISIOLÓGICAS RÁPIDAS
Spenlé (1975) observa que, na adolescência, o fator de maior importância é
a aprendizagem social, sendo que as transformações da maturidade ficam em
segundo plano. Não podemos deixar que essas mudanças permaneçam em
adolescentes. Muitos estudos tratam dessas transformações na infância, sem
contextualizar como ponto principal o crescimento físico. Já na adolescência esse
ponto é observado com mais cuidado. As alterações físicas permitem um
entendimento e uma concretização geral da fase em que a criança termina sua
infância para entrar na adolescência. O mesmo não acontece com as alterações
psicológicas e de personalidade que, na maioria das vezes, tornam-se estáveis e
complexas para o entendimento de muitos.
De acordo com Spenlé (1975), na infância, é impossível estabelecer um
determinado estágio de desenvolvimento físico propriamente dito. Nessa fase, o
crescimento e o desenvolvimento se fazem contínuos e progressivos. “Já na
adolescência, o crescimento acelerado é acompanhado de transformações drásticas
no organismo”.
Para muitos estudiosos, médicos e especialistas da adolescência, as
transformações fisiológicas e do crescimento foram escolhidas para serem
estudados em primeiro lugar, antes das psicológicas, devido às complicações e
distúrbios não sincronizados dessa fase.
Sabe-se que é no início da puberdade que acontece a segunda e última
aceleração do crescimento. Em decorrência da preponderância hormonal envolvida,
ocorrem grandes mudanças físicas, incluindo o desenvolvimento dos ossos,
características sexuais, massa muscular e gordura. A idade cronológica, nesse
período de maturação, deixou de ser referência para a análise do crescimento. A
idade fisiológica, entretanto, encontra-se como fator de grande importância quando
se fala em meninos e meninas, pois ela é responsável pelas diversas flutuações nas
taxas metabólicas, necessidades alimentares, capacidade de aprendizagem,
A fase pubertária é considerada, por Mahan e Escott-Stump (1998), como
pouco compreendida entre os indivíduos. O crescimento e as mudanças na fase
adolescente são tão rápidos quanto no início da infância. Assim como a puberdade,
a velocidade máxima do ganho de estatura ocorre de acordo com o indivíduo e sua
idade. Esses fatos ocorrem mais cedo no gênero feminino e mais tardio no gênero
masculino. Ao se atingir a maturidade sexual, a velocidade de crescimento linear e o
ganho de peso se tornam mais lentos, raramente continuando no final da
adolescência para o gênero feminino e no início dos vinte anos para o gênero
masculino. Observa-se, também, que, no decorrer do período pré-puberal, o
aumento na porcentagem de gordura e músculos para homens e mulheres tende a
ser homogêneo, enquadrando-se em um percentual de gordura entre 15% e 19%.
Já na puberdade, o gênero feminino adquire uma porcentagem muito mais alta de
gordura. Na fase adulta a concentração percentual gira em torno de 37% de gordura
corporal no gênero feminino e 15% no gênero masculino.
3.6. OS TRÊS PERÍODOS PUBERTÁRIOS
Spenlé (1975) utiliza o conceito de Laroche para esclarecer essas três fases
distintas. Ele estabelece a primeira fase como sendo puberal (pré-pubertário),
caracterizada pelo aparecimento de aspectos sexuais secundários (pêlos púbicos e
axilares) e pelo aumento da transpiração axilar em ambos os gêneros. A segunda
fase é chamada de puberdade propriamente dita em que o crescimento diminui e os
aspectos sexuais continuam a se desenvolver. Na terceira fase, pós-pubertário,
ocorre a finalização por completo do desenvolvimento das glândulas sexuais e dos
puberdade, pois as transformações não ocorrem simultaneamente e por um mesmo
tempo.
3.7 AS ATITUDES PSICOSSEXUAIS LIGADAS AO CORPO
Para se obter uma imagem corporal de adulto é necessária uma interação
entre os fatores intelectuais e emocionais, na qual os aspectos nutricionais são de
suma importância. Contudo, os adolescentes nunca estão satisfeitos com seus
corpos, que mudam constantemente no decorrer da adolescência, aumentando
assim, a vontade de ter um corpo igual ao de um colega ou ídolo cultural construído
a cada dia (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 1998).
Mahan; Escott-Stump (1998) relata ainda que diante de uma aparência física
idealizada, os adolescentes tiram conclusões, muitas vezes precipitadas, acerca do
que fazer para se obter uma imagem adequada; este pode ser um comportamento
que os deixam vulneráveis aos distúrbios alimentares e suas conseqüências.
O desejo insaciável dos adolescentes, de mudar o seu crescimento ou
aparência física, pode levá-los à utilização de manipulações dietéticas incorretas,
que podem trazer conseqüências negativas e expô-los aos olhos da mídia e à
exploração dos interesses comerciais. O rápido ganho de peso, conseqüência do
desenvolvimento pubertário, leva muitas adolescentes a mudar por conta própria,
sem necessidade, a quantidade de alimentos que consomem. O gênero masculino,
entretanto, deseja aumentar a sua musculatura, equiparando-a com a de adultos, o
que leva à utilização de suplementos nutricionais e conceitos alimentares incorretos
(MAHAN, ESCOTT-STUMP, 1998).
Williams (1997) descreve que, na adolescência, as mudanças corpóreas
características sexuais. O nível em que ocorrem essas mudanças é dependente e
variado, no contexto sexual diversificado.
Nas meninas, observa-se que o depósito de gordura subcutânea aumenta
na região abdominal, na largura dos quadris, pélvis óssea (reprodução),
sobressaindo-se uma faixa pélvica de gordura; daí surge as preocupações e
ansiedades para as meninas cautelosas com a aparência corporal. No caso dos
meninos, o crescimento da massa muscular e o crescimento dos ossos constituem o
ponto de indicação do crescimento físico. O estirão de crescimento é mais lento do
que nas meninas, mas sem demora eles as ultrapassam em peso e estatura
(HAMMER, 1991).
De acordo com Spenlé (1975), vemos que um adolescente pode ser
influenciado pelos membros de seu grupo a mudar de orientação sexual devido ao
tratamento que lhe é adotado. Conforme o tratamento a ele atribuído, o seu
comportamento é estabelecido; no entanto, um adolescente pode vir a negar a
imagem que a ele é atribuída ou acatá-la como forma de aceitação. A escolha
comportamental do adolescente varia de acordo com a personalidade, história
pessoal, pressões do meio, etc.
Sabe-se, também, que a personalidade é concretizada através de grandes
mudanças físicas, onde predomina a grande valorização da imagem corporal, o que
pode vir a modificar os hábitos alimentares desses adolescentes, influenciados por
grupos de amigos que também podem desequilibrar o cotidiano alimentar (ALBANO,
4. NUTRIÇÃO NA ADOLESCÊNCIA
4.1 SAÚDE DO ADOLESCENTE
A relação entre saúde e adolescência não tem sido levada em consideração
por muitos, atualmente. Um dos maiores motivos é a baixa taxa de mortalidade.
Mas, ao observarmos atenciosamente, vemos que as alterações socioeconômicas e
culturais, no mundo, têm provocado certas mudanças no contexto
saúde-adolescente, fazendo com que os indivíduos voltem mais sua atenção para o
desenvolvimento físico e psicológico, em busca de uma melhor qualidade de vida
dos adolescentes (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE [OPAS], 1995).
Segundo Albano (2000), no Brasil, os três primeiros serviços voltados à
saúde do adolescente tiveram início entre 1974 e 1975, com a colaboração de
hospitais universitários. Na década de 80, outros trabalhos associados a
universidades e hospitais, entre outros, desenvolveram-se no Brasil. No ano de
1978, foi criado o Comitê de Adolescência, pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
Chipkevitch (1995) cita que, em 1985, o 1º Congresso Brasileiro de
Adolescência foi realizado e ainda ocorre, atualmente, a cada dois anos. Em 1989,
criou-se a Associação Brasileira de Adolescência (ASBRA), composta de
multiprofissionais e associados de diversos estados brasileiros com diferentes
especializações.
Albano (2000) descreve sobre a criação do Prosad – Programa de Saúde do
Adolescente, do Ministério da Saúde, oficializado em 1989, abrangendo indivíduos
com faixa etária entre 10 a 19 anos. Esse programa conta com as seguintes áreas
de atuação ou ações programáticas: “Acompanhamento do
reprodutiva, saúde do escolar adolescente e prevenção de acidentes” (CASTRO,
1995).
4.2 HÁBITOS ALIMENTARES NA ADOLESCÊNCIA
Com a evolução do desenvolvimento adolescente, com a sua participação
mais ativa na sociedade, sua vontade de querer ser independente e seus horários
repletamente ocupados, acabam por influenciar seus hábitos alimentares. Eles
comem mais rapidamente e longe de casa, compram comidas prontas e tornam-se
alvos principais da mídia e do comércio (MAHAN , ESCOTT-STUMP, 1998).
A alimentação dos adolescentes é vista como caótica, pois quanto mais
velhos eles ficam, mais abandonam refeições feitas em casa, como, por exemplo, o
café da manhã e o almoço. No caso do gênero feminino, mais refeições são
perdidas no dia-a-dia, como descreve STORY (1984).
Apesar de toda essa preocupação com o hábito de lanchar, os adolescentes
podem alcançar suas necessidades nutricionais através dos alimentos consumidos
fora das refeições tradicionais. Sendo assim, a escolha dos alimentos é de suma
importância, comparados à hora ou lugar onde eles resolvem comer
(BIGLER-DOUGHTEN , JENKINS, 1987).
É necessário que seja bem recomendada na alimentação, a ingestão de
vegetais, frutas frescas e produtos de grãos integrais, para a complementação e
auxílio dos demais alimentos ricos em valor energético e proteínas (MAHAN,
ESCOTT-STUMP, 1998).
No decorrer do pico máximo de estirão do crescimento, os adolescentes
necessitam de uma grande quantidade de nutrientes. Entretanto, devem tomar cuidado
crescimento. Estes hábitos excessivos adotados podem desencadear, no período da
adolescência, uma série de doenças crônicas (MAHAN , ESCOTT-STUMP, 1998).
Alterações físicas e psicológicas comprometem os hábitos alimentares da
maioria dos adolescentes. O gênero masculino possui uma alimentação mais completa
do que o gênero feminino, pois o seu apetite é muito grande e a quantidade de
alimentos consumidos costuma garantir as necessidades de nutrientes adequadas. O
gênero feminino, por outro lado, é prejudicado por dois fatores que o colocam sob
pressão: seu peso e sua aparência corporal (WILLIAMS, 1997).
Os hábitos e comportamentos alimentares do adolescente são impulsivos, o
que pode caracterizar-se por uma anarquia na eleição dos alimentos e na maneira
de nutrir-se (MOREIRA, CARBAJAL, 1992).
Pode-se observar que uns começam a fazer regime para emagrecer, outros
querem ganhar peso, uns resolvem se tornar vegetarianos, outros desenvolvem
transtornos alimentares. Alguns adolescentes demonstram um interesse exagerado
pela alimentação, enquanto outros parecem não se importar, comendo demais ou
inconscientemente (HERBOLD , FRATES, 2000).
Outro fator está relacionado às tensões sociais e pessoais, pois segundo
Williams (1997), atualmente, a sociedade tem gerado grandes pressões acerca da
aparência corporal, em muitos dos adolescentes. Isso faz com que, principalmente
adolescentes do gênero feminino, comecem a optar por dietas inadequadas, rígidas
ou até mesmo auto-impostas, para perder peso.
Essas dietas podem ser classificadas, muitas vezes, como regimes de
inanição, precursores de doenças alimentares complexas e de longo alcance, como,
por exemplo, a anorexia nervosa e a bulimia nervosa. Isso ocorre devido a uma
mesmo quando o seu peso corporal real está dentro do normal ou abaixo dos limites
normais(CASPER , OFFER, 1990).
Em relação aos hábitos alimentares, os adolescentes são influenciados por
modelos culturais que se refletem nos seus costumes e comportamentos, levando-os
a modificações que se refletem nos hábitos alimentares: freqüentemente não realizar
o desjejum, burlar algumas refeições, substituindo-as por lanches e alimentos
industrializados de alta densidade calórica, ricos em açúcares e lipídeos e, também,
o aumento a cada dia, do consumo de álcool. Tem sido demostrado que a dieta dos
adolescentes contém quantidades inadequadas de cálcio, ferro e outros nutrientes
essenciais. Diante dessas alterações, esse grupo tem sido considerado possuidor de
elevado risco nutricional (JACOBSON, 1998).
Os meios de comunicação veiculam ou produzem notícias, representações e
expectativas nos indivíduos, com propagandas, informações e noticiários, que
estimulam o uso de produtos dietéticos e práticas para emagracimento e instigam o
consumo de lanches tipo fast food. Não se trata de uma decisão ou ação das
empresas midiáticas; elas integram um contexto empresarial e um sistema de
crenças em que há uma estreita relação entre uma suposta verdade biomédica e um
desejo social e individual. O corpo é um campo de luta que envolve diferentes
saberes, práticas e imaginário social (SERRA, DOS SANTOS, 2003).
A mídia remete o adolescente a vivenciar um dilema. O veículo que estimula
a prática do fast food, via publicidade, utilizando-se da imagem de pessoas famosas
para a divulgação dessa prática, utiliza-se também de discursos de especialistas que
não indicam e nem concordam, sob o ponto de vista da saúde do adolescente, com
o consumo desses produtos. Na veiculação desses produtos, estão sendo
condizentes com as práticas alimentares que os profissionais de saúde apontam
como saudáveis ou desejáveis (SERRA, DOS SANTOS, 2003).
É fundamental ressaltar a importância da família como instituição ímpar sobre
os hábitos alimentares do indivíduo (GAMBARDELLA et al, 1999; FISBERG et al,
2000).
Quanto aos adolescentes, conforme vão se tornando mais independentes,
modificam seus hábitos alimentares, pois o ambiente escolar e os amigos os
influenciam na escolha dos alimentos, estabelecendo, conseqüentemente, o que é
socialmente aceito e, em contrapartida, instala-se a rebeldia aos padrões familiares
(AMOS et al, 1998, GAMBARDELLA et al, 1999).
Um especialista deve sempre se lembrar desses conceitos ao ajudar um
adolescente e sua família a encontrar padrões alimentares adequados para toda a
vida (WILLIAMS, 1997).
4.3 O CONSUMO ALIMENTAR E A ATIVIDADE FÍSICA VOLTADA À
PERCEPÇÃO DA APARÊNCIA CORPORAL
Durante a adolescência, os jovens passam por várias modificações
biopsicossociais, morais e físicas, entre outras. É nesse período e no decorrer de
seu desenvolvimento que os adolescentes, em geral, necessitam de uma quantidade
maior de energia e nutrientes para que o seu desenvolvimento e crescimento sejam
bem sucedidos (BRAGGION, MATSUDO, MATSUDO, 2000).
Também durante a adolescência, os jovens passam por diversas
transformações físicas que os levam a indagar sobre a descoberta de sua nova
função. A mudança do corpo infantil para o corpo adulto gera no jovem adolescente
amadurecendo biopsicosocialmente, adquirindo autonomia e procurando depender
menos de seus pais (MORETTO, 1990). Como conseqüência, os hábitos
alimentares são influenciados.
A nutrição em si torna-se um dos fatores de maior importância no
desenvolvimento adolescente, do qual é necessário atualizar-se, ou seja, conhecer
os hábitos alimentares e a regularidade com que os adolescentes praticam atividade
física, no intuito de manter o controle da saúde. Várias pesquisas constataram que o
que mais ocasiona distúrbios alimentares prejudiciais aos adolescentes é o hábito de
assistir televisão e o uso improdutivo de computadores, praticado por eles em seu
tempo livre (PARHAM, 1999).
Os fatores social e cultural, por sua vez, impõem a magreza como forma de
aceitação em seu meio, principalmente, entre as mulheres. Devido a essa pressão,
as adolescentes geram em seu psicológico, o medo de engordar e sair de seu peso
ideal, e buscam sempre manter o controle do mesmo (MUELLER et al, 1995).
Esses padrões sociais acabam por influenciar negativamente o consumo
alimentar dos adolescentes, levando-os, em certos casos, a omitir refeições importantes
como o café da manhã ou o jantar, diminuindo o consumo de nutrientes, para se manter
no padrão de beleza adequado (BENEDICT, WERTHEIN , LOVE, 1998).
A aprovação e a aceitação dos hábitos alimentares e sua seleção nutricional
são de suma importância para os adolescentes. Devido à falta de conscientização
com relação aos agravos da saúde, os bons hábitos alimentares são descartados
por eles, em termos de prioridade, mesmo sabendo dos benefícios a curto e longo
prazo (NEUMARK-SZTAINER et al, 1999).
A percepção da aparência é um fator constituinte da imagem corporal que
estudos demonstraram que a maioria das adolescentes utiliza dietas para manter o
peso, mesmo com a porcentagem do índice de massa corporal normal para sua
idade e gênero (FRENCH et al, 1994).
Estudos demonstram que a prática de atividades físicas tem diminuído entre
os adolescentes e com o passar da idade. Apenas 42,7% das adolescentes de
quadro socioeconômico baixo e 64,3% de quadro socioeconômico alto são
regularmente ativas (MATSUDO et al, 1998).
A falta de equipamentos associada à falta de tempo, de interesse,
autodisciplina e clima inadequado são os principais fatores, dentre outros, que
impossibilitam a prática de atividades físicas pelos adolescentes (BRAGGION,
MATSUDO,MATSUDO, 2000).
Sabemos que o aumento do sedentarismo tem repercutido em todo o mundo.
O nível de atividade física entre adolescentes e crianças tem diminuído no mundo
inteiro; sendo assim, adolescentes se mostram cada vez mais sedentários (MATSUDO
et al, 1998).
4.4A IMAGEM CORPÓREA E A PRÁTICA DE DIETAS DOS ADOLESCENTES
Sabe-se que, na atualidade, os adolescentes raramente estão satisfeitos
com sua aparência corporal. As garotas são as que mais encontram desaprovações
com o seu peso e forma corporal. O gênero masculino também possui
desaprovações e grandes comparações com formas físicas de outros colegas que,
muitas vezes, não se enquadram ao seu perfil. Com isso, para ambos os gêneros,
essas comparações e desejos acabam por modificar os hábitos alimentares corretos,
Por meio desse estudo Moore (1990) constatou as grandes diferenças que
existem no modo de como as mulheres e os homens se vêem. As mulheres (34%)
se vêem duas vezes mais gordas que os homens (15%). Os homens (16 versus 7%)
se vêem duas vezes mais magros que as mulheres. Homens e mulheres
considerados negros não se vêem como muito gordos. Desmond (1989) declara que
o peso corpóreo maior não estabelece a mesma marca entre os negros, como
ocorre entre os brancos.
Para Mahan e Escott-Stump (1998), os métodos utilizados pelos estudantes,
para perder peso, seguem um padrão de exercícios e o ato de não realizar algumas
refeições, mais freqüente no gênero feminino. Os estudantes brancos relatam com
mais facilidade a utilização dos exercícios como meio utilizado para perder e
controlar o peso, diferente do que acontece com os estudantes negros.
Um fato é que 3% das mulheres e 1% dos homens se utilizaram do vômito
para controlar o seu peso, dentro dos sete dias antecedentes ao estudo, mas este
número aumentou para 14% e 4%, respectivamente, quando foram interrogados
com a seguinte pergunta: - “Você já usou o vômito para controlar o seu peso?”
(MAHAN, ESCOTT-STUMP, 1998).
Concluindo, vemos que um adolescente com aparência física normal pode
se classificar diferentemente no aspecto da imagem corporal. Este é o principal fator
pelo qual os adolescentes modificam seus hábitos alimentares e diversos
comportamentos para mudar a sua forma física. Os profissionais da saúde precisam
estar atentos a esses comportamentos, sondando a extensão dos comportamentos
alimentares e a execução inapropriada de exercícios. Esses adolescentes podem
estar realizando dietas, mesmo estando com o peso adequado, necessitando, assim,
5. CONSUMO DE SUPLEMENTOS ESPORTIVOS
Desde a Grécia antiga (580 a.C), a adoção de dietas especiais faz parte do
ritual de preparação para as competições (GRANDJEAN, 1997). A humanidade
sempre lançou mão da manipulação dietética e do uso de alimentos específicos para
atingir objetivos específicos.
No século XIX, por exemplo, preconizava-se a dietoterapia para tratamento e
prevenção de doenças (MAHAN; ESCOTT-STUMP, 1998), e reconheceu-se a
importância da nutrição para a melhoria do desempenho no esporte (PROBART et
al., 1993).
A busca frenética do “corpo perfeito” tem levado as pessoas desinformadas a
adotar estratégias radicais, que nem sempre estão relacionadas à promoção da
saúde. Com relação à nutrição, destaca-se o surgimento de diversas “dietas
milagrosas” e também dos Suplementos Nutricionais.
Nos últimos anos, vários produtos, como os suplementos, têm sido
comercializados com a promessa de melhorar a capacidade atlética. Infelizmente, muitos
desses apelos são baseados em evidências anedóticas ou vias metabólicas teóricas
sobre a substância em questão, ao invés de serem baseados em pesquisas científicas
revisadas. Muitos suplementos comercializados como ergogênicos são baseados em
dados de estudos in vitro ou com animais, com pouca ou nenhuma evidência de que
sejam eficazes para melhorar a performance de humanos (WILLIAMS, 1993;
MCNAUGHTON, DALTON, TARR, 1999; SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO
ESPORTE, 2003). Suplementos ergogênicos são aqueles que podem promover aumento
do desempenho físico além da capacidade fisiológica (LANCHA JR, 2002).
A palavra suplemento, originada do latim, “supplementu”, é um substantivo
que se dá a mais, suplemento salarial. 3. Parte que se adiciona a um todo para
ampliá-lo, esclarecê-lo ou aperfeiçoá-lo (FERREIRA, 1986).
Em 1994, nos EUA, por meio da aprovação do Senado, foi criado o Dietary
Supplements Health and Education Act (DSHEA), o qual esclarece o conceito de
suplemento alimentar:
Æ Produto (com exceção de tabaco) utilizado com o objetivo de suplementar
a dieta e que contenha um ou mais dos seguintes ingredientes: vitamina, mineral,
erva ou outro tipo de planta, aminoácido, substância dietética capaz de aumentar o
conteúdo calórico total da planta, aminoácido, substância dietética capaz de
aumentar o conteúdo calórico total da dieta, ou concentrado, metabólico,
constituinte, extrato, ou combinação desses nutrientes.
Æ Produto produzido para ser ingerido na forma de pílulas, cápsulas, tabletes
ou como líquido.
Æ Produto não produzido para uso convencional como alimento ou como
único item de uma refeição ou dieta.
Æ Produto no qual o rótulo apresente a denominação: suplemento dietético.
Æ Produto com inclusão de substâncias como drogas novas aprovadas,
antibióticos ou produtos biológicos licenciados, comercializados como suplementos
dietéticos ou alimento, antes da aprovação, certificação ou licença para serem
utilizadas como medicamento.
Os suplementos alimentares podem estar na forma de tabletes, cápsulas, pó,
gel ou líquido; precisam ser rotulados como suplementos alimentares e não podem
ser apresentados como um alimento convencional ou único item de uma refeição ou
Os suplementos nutricionais têm o objetivo de suprir um ou mais nutrientes.
Os mais comuns são os multivitamínicos/multiminerais, vendidos sob forma de
tabletes, cápsulas, pílulas, pós ou líquidos (FLEISCHER, READ, 1982).
As propagandas dos suplementos nutricionais normalmente são enganosas e/ou
conduzem a interpretações erradas. Esses suplementos podem ser comercializados,
nos EUA, sem o aval do FDA, no que diz respeito a sua segurança e seus efeitos, e
muitos dos efeitos alardeados não são confirmados. A concentração dos ingredientes
ativos varia de um produto para outro, justamente devido à ausência da
regulamentação (SARUBIN, 2000; STEPHENS, OLSEN, 2001).
No Brasil, a regulamentação de alimentos e medicamentos é realizada pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Saúde, porém a
mesma não define suplementos. Alguns dos produtos são classificados como
alimentos para fins especiais (para praticantes de atividade física); o termo
suplemento seria designado apenas para vitaminas e minerais, isolados ou
associados (Portaria nº 32, 1998), desde que não ultrapassem 100% da Ingestão
Diária Recomendada, pois, neste caso, seriam considerados medicamentos, assim
como o são os fitoterápicos, o que gera confusão para a regulamentação dos
produtos, assim como uma falta de padronização entre os profissionais que
trabalham na área; deste modo, termos como suplemento nutricional, suplemento
alimentar, complemento, complemento nutricional, complemento alimentar ou
simplesmente suplemento são empregados para os mais diversos produtos.
Os esportistas vêm se tornando cada vez mais adeptos do uso de
suplementos nutricionais, o que abre espaço para a utilização indevida dos mesmos
(ARAÚJO, SOARES, 1999: ROSENBLOOM, JONNALAGADDA, SKINNER, 2002).
com atletas demonstram que muitos são consumidores regulares de suplementos
(GRUNEWALD, BAILEY, 1993; BRILL, KEANE, 1994; SOBAL, MARQUART, 1994;
FELDER et al, 1998; GUERRA, 1999; BAYLIS et al, 2001).
Há cada vez mais evidências na literatura, de que a indústria dos
suplementos continua a crescer (APPLEGATE, 1999; SARUBIN, 2000; STEPHENS,
OLSEN, 2001; BAYLIS et al, 2001).
O FDA estima que haja no mercado mais de 29.000 suplementos diferentes, e
que, a cada ano, cerca de 1.000 produtos novos são lançados (SARUBIN, 2000).
O mercado tradicional das lojas de produtos naturais e farmácias se expandiu,
incluindo lojas esportivas, pedidos por correio e vendas pela internet. Os
suplementos direcionados a atletas e à performance esportiva constituem um
importante nicho desse mercado (BAYLIS et al, 2001). As vendas de alguns
suplementos ilustram a rápida resposta dos consumidores ao marketing e à
"propaganda boca-a-boca" desses produtos.
A elevada prevalência do uso de suplementos sugere que muitas pessoas
acreditam em apelos que são feitos sem comprovação científica (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003).
Desde a antiguidade, os atletas apelam para o uso de substâncias que lhes
dêem alguma vantagem competitiva. O uso desses suplementos, contudo, não é
restrito aos atletas de elite (WILLIAMS, 1993; APPLEGATE, GRIVETTI, 1997;
APPLEGATE, 1999; STEPHENS, OLSEN. 2001). Os "atletas de final-de-semana"
também almejam sucesso e procuram meios para atingi-lo, que estão além de suas
próprias habilidades e esforços (APPLEGATE, 1999).
O consumo de vitaminas, aminoácidos, extratos vegetais e outras substâncias
nutrição esportiva. O tipo de suplemento utilizado varia continuamente
(APPLEGATE, 1996). É evidente, pelo tipo de suplemento relatado em determinadas
épocas ou por determinados grupos, que o consumo de suplementos se dá em
ciclos ou tendências, com novos suplementos se tornando populares e outros saindo
de moda rapidamente (BAYLIS et al, 2001).
Os produtos utilizados por atletas e entusiastas do fitness incluem
aminoácidos, similares do hormônio do crescimento ou esteróides anabólicos,
oligoelementos, ervas, hormônios, suplementos de vitaminas e minerais
combinados, que consistem numa variedade desses produtos numa mesma
embalagem (SHORT, 1994).
Os atletas são os alvos perfeitos da "fórmula ou da pílula mágica" (MULLIN,
1996). Muitos atletas acreditam que os suplementos nutricionais melhorem seu
desempenho, ou seja, são necessários para compensar o estresse de treinamentos
intensos ou, ainda, que ajudem a compensar uma dieta inadequada (MULLIN, 1996;
GUERRA, 1999).
Melhorar a performance, prevenir doenças, compensar uma alimentação
inadequada, prover mais energia, combater a fadiga, melhorar a aparência física e
atender à demanda de nutrientes específicos, devido ao intenso nível de atividade
física, são as principais razões para justificar o consumo de suplementos (SOBAL,
MARQUART, 1994; STEPHENS, OLSEN, 2001).
Atletas consomem mais calorias que os indivíduos sedentários, o que
freqüentemente lhes garante níveis adequados de vitaminas e minerais. Há
tendência, entre vários atletas, para consumir alimentos com baixa densidade de
suplementam sua alimentação são geralmente os que menos precisam (SOBAL,
MARQUART, 1994).
Segundo Williams (1995), há algumas condições em que o uso de
suplementos pode auxiliar no atendimento das necessidades nutricionais dos
indivíduos, durante situações de treinamento e/ou competição. Os suplementos
podem ajudar quando:
→ há dificuldades na ingestão de grandes quantidades de alimentos,
necessários para atender às necessidades energéticas do indivíduo que está
competindo ou treinando intensamente;
→ se deseja reduzir a necessidade de defecção durante a competição;
→ a obtenção de alimentos ricos em carboidratos está dificultada ou caso as
condições higiênicas prejudiquem a preparação e/ou consumo de alimentos;
→ se necessita de recuperação rápida e o indivíduo apresenta anorexia
pós-esforço (falta de vontade de consumir alimentos após o término do exercício);
→ há a necessidade de obtenção de nutrientes por parte de indivíduos
submetidos a períodos de restrição calórica, evitando, assim, o estabelecimento de
carências.
É claro que esses são apenas alguns exemplos de situações específicas em
que o uso de suplementos esportivos pode contribuir de algum modo.
Kamber et al (2001) analisaram 75 produtos de diversos fabricantes,
utilizados em nutrição esportiva, dos quais 9% continham uma substância diferente
da indicada no rótulo, ou continham substâncias como efedrina e cafeína, sem
indicação clara no rótulo.
No melhor dos casos, o produto pode não conter a quantidade de ingrediente
produto pode conter contaminantes, níveis perigosos de ingredientes ativos,
substâncias não identificáveis ou ingredientes não usuais que, se consumidos em
excesso, podem representar danos potenciais e ocasionar a morte. Devido aos
possíveis riscos, os profissionais da saúde devem conhecer a segurança de um
produto, antes de recomendá-lo (BRILL, KEANE, 1994; SARUBIN, 2000).
A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2003), por alerta do Comitê
Olímpico Internacional (COI), que aponta para a detecção da presença de esteróides
em suplementos alimentares (como vitaminas, creatina e aminoácidos), sem a
devida indicação no rótulo dos produtos, recomenda aos profissionais da medicina
do esporte a máxima cautela na prescrição desses produtos. De acordo com um
estudo internacional financiado pelo COI (SCHÃNZER, 2003), de 634 suplementos
analisados pelo Laboratório Antidoping de Colônia (provenientes de 215
fornecedores e 13 países), 94 (14,8%) continham precursores de hormônios não
declarados nos rótulos, entre eles precursores de nandrolona e testosterona, que
poderiam, inclusive, gerar casos positivos de doping em provas olímpicas.
Há uma preocupação crescente com possíveis reações adversas a
suplementos disponíveis comercializados. A ingestão de alguns agentes nutricionais,
particularmente em dosagens elevadas ou por períodos prolongados, é algumas
vezes associada com efeitos adversos. A natureza desses efeitos pode variar de
pequenas queixas a problemas sérios de saúde, até mesmo a morte.
Devido ao crescimento das estatísticas, os profissionais da saúde devem
entender os efeitos benéficos e danosos dos suplementos alimentares que têm sido
comercializados para o público. É preciso maior embasamento desses profissionais
nessa área de pesquisa, pois os trabalhos são escassos, servindo, assim, como
6. CASUÍSTICA E MÉTODOS
6.1 POPULAÇÃO ESTUDADA
A população selecionada para o grupo de estudos foi composta por 80
adolescentes de ambos os gêneros, escolhidos aleatoriamente, com faixas etárias
entre 15 e 19 anos de idade, em quatro academias de ginástica da cidade de
Ribeirão Preto – SP. Os adolescentes foram selecionados pelo programa de fitness
da academia (Physical Test®) e dentre estes foram sorteados aleatoriamente, 10%
da média dos adolescentes encontrados nas academias.
Para a escolha das academias foi dada preferência às de acesso facilitado,
ou próximo ao centro da cidade, que possuíssem a prática de exercícios físicos
variados e que não abrangessem uma única faixa etária. Foram selecionadas
academias de médio porte, que de acordo com Saba (1999), possuem entre 500 a
1200 clientes. Foram selecionados somente adolescentes que freqüentavam a
academia pelo menos duas vezes por semana em torno de 45 minutos ou mais de
atividade ou exercício físico.
Todos os participantes foram escolhidos em horários e dias da semana
diversos e ficaram cientes de sua participação como voluntários e de não sofrerem
nenhuma conseqüência no caso de uma possível desistência. Assinaram um termo
de consentimento livre esclarecido, autorizando a utilização dos dados de forma
sigilosa, com finalidade de pesquisa científica (ANEXO 1). Vale ressaltar que este
6.2 DADOS ANTROPOMÉTRICOS
A antropometria foi realizada em todos os participantes, registrando-se o
peso e a estatura para o cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal).
Os adolescentes foram pesados descalços, em balança de plataforma da
marca Filizola®, com trajes leves. Antes da aferição do peso de cada participante, a
balança foi previamente calibrada e sua precisão verificada por meio da pesagem de
peso padronizado. A estatura foi mensurada por meio de haste graduada fixada em
superfície plana, tendo em sua extremidade um marcador adaptável ao alto da
cabeça. Os adolescentes ficaram descalços, de costas para a haste, com os pés
unidos, em posição ereta, com o olhar para o horizonte.
O Índice de Massa Corporal (IMC) foi calculado através da fórmula
peso(kg)/estatura2 (m). Utilizaram-se as curvas do National Center for Health
Statistics – NCHS (2000), elaboradas pelo Centro de Prevenção e Controle de
Doenças dos Estados Unidos, internacionalmente conhecidas e utilizadas para
diagnosticar casos de sobrepeso, obesidade e baixo peso em adolescentes e
crianças, assumindo como pontos de corte a escala de percentil recomendada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS, 1995) demonstradas na tabela 2.
Tabela 2 – Classificação do estado nutricional de acordo com os percentis de IMC recomendados pela OMS em 1995.
Pontos de corte de acordo com os
percentis de IMC
Classificação do Estado Nutricional
< 5
5 ├ 85
85 ├ 95
≥ 95
Baixo Peso
Eutrofia
Sobrepeso