Bifurcac¸˜ao de Poincar´e-Andronov-Hopf
para difeomorfismos do plano.
Pricila da Silva Barbosa
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Programa: Matem´atica Aplicada
Orientador: Prof. Dr. Ant ˆonio Luiz Pereira
Durante o desenvolvimento deste trabalho a autora recebeu aux´ılio financeiro do CNPq.
para difeomorfismos do plano.
Esta vers˜ao definitiva da dissertac¸˜ao cont´em as correc¸ ˜oes e alterac¸ ˜oes sugeridas pela Comiss˜ao Julgadora durante a defesa realizada por Pricila da Silva Barbosa em 18/05/2010.
Comiss˜ao Julgadora:
Prof. Dr. Ant ˆonio Luiz Pereira (orientador) - IME-USP Prof. Dr. Marcone Corrˆea Pereira - EACH-USP
AGRADECIMENTOS
Agradec¸o...
Primeiramente a minha fam´ılia, em especial `a minha m˜ae por me incentivar nos estudos e me apoiar nos momentos dif´ıceis.
Ao meu orientador Prof. Dr. Ant ˆonio Luiz Pereira, por toda a paciˆencia e dedicac¸˜ao ao passar horas e horas me ajudando para que tudo isso fosse poss´ıvel.
A todos os meus amigos do IME, em especial `a Catalina Rua e Juan Fernando Zapata, por me ajudarem durante o mestrado e de alguma forma neste trabalho.
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho ´e apresentar uma exposic¸˜ao detalhada do Teorema de
Poincar´e-Andronov-Hopf para uma fam´ılia de transformac¸ ˜oes no plano, baseada em um trabalho de
O. Lanford [1]. Este teorema d´a condic¸ ˜oes para o aparecimento de uma curva fechada invariante para o fluxo quando o parˆametro passa por um determinado valor.
Apresentamos tamb´em uma aplicac¸˜ao a um sistema dinˆamico que modela a evoluc¸˜ao do prec¸o e excesso de demanda em um mercado constitu´ıdo por uma ´unica mercadoria.
ABSTRACT
The main purpose of this work is to present a detailed exposition of thePoincar´e-Andronov-Hopf
Theorem for a family of transformations in the plane, based on a work of O. Lanford [1]. This
theorem gives conditions for the appearance of a closed invariant curve under the flow, when the parameter crosses a certain value.
We also present an application to a dynamical system modelling the evolution of the price and the excess demand in a single asset market.
Keywords:bifurcation, normal form, closed invariant curve, stability.
SUM ´
ARIO
1. Preliminares. 3
1.1. Sistemas Dinˆamicos. . . 3
1.2. Conjuntosα-limite ew-limite de uma ´orbita. . . 5
1.3. O Teorema da Bifurcac¸˜ao de Hopf emR2eRn. . . . 5
1.4. Variedade Central. . . 6
2. Bifurcac¸˜ao de Poincar´e-Andronov-Hopf para Difeomorfismos do Plano. 9 2.1. Difeomorfismos do Plano. . . 9
2.2. Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. . . 10
2.3. Bifurcac¸˜ao de Poincar´e-Andronov-Hopf. . . 25
3. Uma Aplicac¸˜ao. 43 3.1. Introduc¸˜ao. . . 44
3.2. A Unicidade do Equil´ıbrio e Propriedades B´asicas de Estabilidade. . . 45
3.3. Bifurcac¸˜ao de Hopf e Curva Invariante Fechada. . . 52
3.4. Simulac¸˜ao Num´erica . . . 58
INTRODUC
¸ ˜
AO
O prop ´osito desse trabalho ´e discutir oTeorema de Poincar´e-Andronov-Hopfpara difeomorfismos do plano, fazer uma aplicac¸˜ao e em seguida uma simulac¸˜ao num´erica. Em 1942, Hopf estabeleceu condic¸ ˜oes para a ocorrˆencia de um tipo de bifurcac¸˜ao num sistema n-dimensional. Entretanto, esse tipo de bifurcac¸˜ao j´a havia sido sugerido por Poincar´e, em 1892, e estudado por Andronov, em 1929, para um sistema bidimensional, sendo por isto geralmente conhecida como Bifurcac¸˜ao de Poincar´e-Andronov-Hopf. Esse teorema descreve o que acontece quando um ponto de equil´ıbrio de uma equac¸˜ao diferencial dependendo de um parˆametro passa de est´avel a inst´avel, em um valor cr´ıtico do parˆametro. Um trabalho realizado por Ruelle e Takens [4] estende a teoria da bifurcac¸˜ao de Hopf para transformac¸ ˜oes. Eles estavam interessados em estudar o aparecimento de um toro invariante est´avel que, sob algumas condic¸ ˜oes, aparece nas proximidades de uma ´orbita fechada inst´avel.
A prova feita por Ruelle e Takens passa por demonstrar oTeorema de Poincar´e-Andronov-Hopf
para a transformac¸˜ao de Poincar´e. Dado um campo de vetoresXe uma ´orbita fechadaγdo fluxo ψtdeX, a id´eia ´e considerar a transformac¸˜ao de Poincar´ePassociado aγ. Supondo que exista uma
circunferˆencia σque ´e invariante sobP, ent˜ao ∪
t
ψt(σ) ´e um toro invariante para o fluxo deX.
SejamXµuma fam´ılia de campos de vetores eγµuma fam´ılia cont´ınua de ´orbitas fechadas desses
campos. ´E poss´ıvel que exista umµ0de tal forma queγµ seja est´avel paraµ < µ0 e inst´avel para
µ > µ0, e um toro invariante est´avel se forme nesse local. Sabemos queγµ ´e est´avel se os autovalores
da derivada da transformac¸˜ao de Poincar´ePµ tˆem autovalores com m ´odulo menor do que 1 (e
inst´avel se algum dos autovalores tem m ´odulo maior do que 1). O teorema de bifurcac¸˜ao de Hopf para difeomorfismos d´a condic¸ ˜oes para o aparecimento do toro, ap ´os a perda de estabilidade de
γµ.
Nossa atenc¸˜ao ser´a focalizada no trabalho de Lanford [1], onde o estudo ´e feito para difeomorfis-mos do plano em geral, e n˜ao para o caso particular da transformac¸˜ao de Poincar´e. Consideraredifeomorfis-mos neste trabalho uma fam´ılia de transformac¸ ˜oes do planoΦµ, de classeC4, a um parˆametro real, em
uma vizinhanc¸a do zero no espac¸o de Banach Zem Z, com Φµ(0) = 0 para todo µ. Queremos
observar o que acontece quando µ varia e a origem muda de est´avel a um ponto fixo inst´avel deΦµ, isto ´e, algum dos autovalores do espectro de DΦµ(0) cruza a circunferˆencia unit´aria. Isto pode acontecer de v´arias maneiras, mas consideraremos apenas o caso de um ´unico par complexo conjugado de autovalores simples n˜ao reais; assumiremos que o restante do espectro deDΦµ(0) se
encontra estritamente dentro da circunferˆencia unit´aria, e para simplificar a notac¸˜ao, assumiremos tamb´em que isso ocorre emµ=0.
CAP´ITULO 1
PRELIMINARES.
A teoria de Sistemas Dinˆamicos estuda o comportamento a longo prazo da evoluc¸˜ao de um sistema. A moderna teoria de sistemas dinˆamicos originou-se no final do s´eculo 19, procurando responder quest ˜oes fundamentais relativas a estabilidade e evoluc¸˜ao do sistema solar, o que levou ao desenvolvimento de um campo rico e poderoso, com aplicac¸ ˜oes a f´ısica, biologia, meteorologia, astronomia, economia e outras ´areas. Por analogia com a mecˆanica celeste, a evoluc¸˜ao de um estado particular de um sistema dinˆamico ´e referido como uma ´orbita. Um certo n ´umero de temas aparecem repetidamente no estudo de sistemas dinˆamicos: existˆencia e estabilidade de equil´ıbrios e ´orbitas peri ´odicas, comportamento assint ´otico, estabilidade por pertubac¸ ˜oes, etc.
1.1.
Sistemas Dinˆamicos.
Um sistema dinˆamico cont´ınuo consiste em um espac¸o m´etricoXe uma fam´ılia de transformac¸ ˜oes a um parˆametro{Tµ : X →X}, comµ∈ Rouµ ∈ R+0, que forma um grupo ou semigrupo a um
parˆametro, ou seja,Tµ1+µ2 =Tµ1◦Tµ2 eT
0=Id. O sistema dinˆamico ´e chamado de fluxo seµvaria
emRe um semi-fluxo seµvaria emR+
0.
Definic¸˜ao 1.1 Um sub-conjunto A∈X ´e invariante para o sistema dinˆamico Tµse, para todo x∈A, Tµ(x)
est´a definido e pertence a A para todoµ∈R.
Um sistema dinˆamico discreto consiste de um espac¸o m´etricoXe uma func¸˜aoT:X→X. Para
n ∈ N, a n-´esima iterac¸˜ao deT ´e a n-´esima composic¸˜ao Tn = T◦ · · · ◦T (n vezes) e definimos T0 como a func¸˜ao identidade, denotada por Id. Se T ´e invers´ıvel, ent˜aoT−n = T−1◦ · · · ◦T−1 (n
vezes). ComoTn+m =Tn◦Tm, essas iterac¸ ˜oes formam um grupo seT´e invers´ıvel. Embora tenhamos
definido sistemas dinˆamicos de maneira bem geral,Xtem muitas vezes uma estrutura adicional que ´e preservada pela func¸˜aoT. Por exemplo, (X,T) pode ser um espac¸o de medida e uma transformac¸˜ao que preserva medida; um espac¸o topol ´ogico e uma transformac¸˜ao cont´ınua; um espac¸o m´etrico e uma isometria, ou uma variedade diferenci´avel e uma transformac¸˜ao diferenci´avel.
Definic¸˜ao 1.2 Se T ´e uma transformac¸˜ao em X, o ponto x ´e um ponto fixo para T se T(x) = x. O ponto x ´e peri´odico de per´ıodo n se Tn(x) = x. O menor positivo n para cada Tn(x) = x ´e chamado de primeiro per´ıodo de x. O conjunto de todas as iterac¸˜oes de um ponto peri´odico ´e denominado uma ´orbita peri´odica.
Exemplo 1.1:Considerando o sistema dinˆamico discreto sobre a reta realRdefinido pelas iterac¸ ˜oes
da aplicac¸˜aoT:x7−→ −x, temos que o ponto 0 ´e um ponto fixo.
Definic¸˜ao 1.3 Seja X um espac¸o m´etrico e T: X−→ X uma transformac¸˜ao. Dizemos que um ponto fixo fixo p de T ´e atrator se T(p)=p e Tn(x)−→p quando n−→ ∞, para todo x∈X.
O resultado que segue ´e frequentemente usado para provar a existˆencia de pontos fixos.
Teorema 1.1 Seja X um espac¸o m´etrico completo. Se T :X−→ X ´e cont´ınua e, para algum m, Tm ´e uma contrac¸˜ao, ent˜ao existe um ´unico ponto fixo p para T. Mais ainda, p ´e atrator.
A demonstrac¸˜ao do Teorema 1.1 pode ser visto em [7]. O teorema seguinte ´e conhecido como M´etodo Indireto de Lyapunov.
Teorema 1.2 Seja T uma transformac¸˜ao de classe C1, com ponto fixo x.
a) Se todos os autovalores da matriz Jacobiana DT(x) tˆem m´odulo menor que 1, ent˜ao o ponto fixo x ´e assintoticamente est´avel.
1.2 Conjuntosα-limite ew-limite de uma ´orbita. 5
1.2.
Conjuntos
α
-limite e
w
-limite de uma ´orbita.
SejamXum subconjunto aberto do espac¸o euclidianoRn, eT : X −→ Rn um campo vetorial
de classeCk,k≥1. Sejaφ(t)=φ(t,x) a curva integral deTpassando pelo pontox, definida no seu
intervalo m´aximoIx=(w−(x),w+(x)). Sew+(x)=∞, define-se o conjunto
w(x)={q∈X;∃{tn}com tn−→ ∞eφ(tn)−→q,quando n−→ ∞}.
Analogamente, sew−(x)=−∞, define-se o conjunto
α(x)={q∈X; ∃{tn}com tn−→ −∞eφ(tn)−→q, quando n−→ ∞}.
Os conjuntosw(x) eα(x) s˜ao chamados, respectivamente, de conjuntow-limite e conjuntoα-limite dex.
Definic¸˜ao 1.4 O conjunto w-limite de uma ´orbitaγ, que denotaremos por w(γ), ´e o conjunto w(x), para qualquer x ∈ γ. O conjuntoα-limite de uma ´orbitaγ, que denotaremos por α(γ), ´e o conjuntoα(x), para qualquer x∈γ. E w(x)=w(y)se x,y∈γ.
Observac¸˜ao 1.1:Sejamφ(t) = φ(t,x) a curva integral do campoT pelo pontox eψ(t) = ψ(t,x) a curva integral do campo−Tpelo pontox, ent˜aoψ(t,x)= φ(−t,x). Segue-se da´ı que ow-limite de
ψ(t) ´e igual aoα-limite deφ(t) e, reciprocamente, ow-limite deφ(t) ´e igual aoα-limite deψ(t). Por este motivo, para estudarmos as propriedades gerais dos conjuntosα-limite ew-limite de ´orbitas ´e suficiente nos restringirmos ao estudo do conjuntow-limite.
Definic¸˜ao 1.5 Um ponto x ´e chamado de positivamente recorrente se x ∈ w(x), e se T ´e invers´ıvel, x ´e negativamente recorrente se x∈α(x). x ´e dito recorrente se ´e positivamente e negativamente recorrente.
Exemplo 1.2:Pontos peri ´odicos s˜ao pontos recorrentes.
Observac¸˜ao 1.2:O conjuntoR(T) dos pontos recorrentes ´eT-invariante.
1.3.
O Teorema da Bifurcac¸˜ao de Hopf em
R
2e
R
n.
Teorema 1.3 (da bifurcac¸˜ao de Hopf emR2) SejaΨµum campo de vetores de classe Ck(k≥4)emR2, tal
complexos conjugados distintos λ(µ) e λ(µ), tais que, para µ > 0 temos que Reλ(µ) > 0.Suponhamos
tamb´em que d(Reλ(µ))
dµ >0emµ=0. Ent˜ao:
a) Existe uma func¸˜aoµ: (−ϵ, ϵ)→Rde classe Ck−2, tal queµ(0)=0e para todo x1,0,(x1,0, µ(x1))
est´a sobre uma ´orbita peri´odica fechada deΨcom raio crescente da ordem de √µe per´ıodo pr´oximo de
2π
|λ(0)|.
b) Existe uma vizinhanc¸a U de(0,0,0)emR3tal que qualquer ´orbita fechada em U ´e uma dessas acima. Al´em disso, se(0,0)´e um atrator ¨ındefinido”paraΨ0, ent˜ao:
c) µ(x1)>0para todo x1,0e as ´orbitas peri´odicas s˜ao atratoras.
Definic¸˜ao 1.6 (0,0) ´e um atrator ¨ındefinido”paraΨ0se ∂
3V
∂x3 1
(0,0)<0. Onde V(x1, µ)=P(x1, µ)−x1e P
´e a transformac¸˜ao do primeiro retorno do campoΨem relac¸˜ao ao eixo(x1,0).
Teorema 1.4 (da bifurcac¸˜ao de Hopf emRn) SejaΨµum campo de vetores emRnde classe Ck+1, com k≥4, com todas as hip´oteses do Teorema 1.3 mantidas exceto que assumimos que o resto do espectro ´e distinto dos dois autovalores simplesλ(µ), λ(µ). Ent˜ao a conclus˜ao a) ´e verdadeira. A conclus˜ao b) ´e verdadeira se o resto do espectro permanece do lado direito do semi plano quandoµpassa pelo 0. A conclus˜ao c) ´e verdade se, em relac¸˜ao aλ(µ), λ(µ), 0 ´e um atrator ¨ındefinido”no mesmo sentido do Teorema 1.3, e se quando as coordenadas s˜ao escolhidas de modo que
DΨ0(0)=
0 |λ(0)| D3Ψ1(0)
−|λ(0)| 0 D3Ψ2(0)
0 0 D3Ψ3(0)
,
λ(0)<σ(D3Ψ3(0))(espectro de D3Ψ2(0)).
As demonstrac¸ ˜oes dos Teoremas 1.3 e 1.4 n˜ao ser˜ao feitas neste trabalho, mas podem ser vistas em [5].
1.4.
Variedade Central.
1.4 Variedade Central. 7
dimens˜ao 2. Para os leitores interessados ´e poss´ıvel ver a demonstrac¸˜ao do mesmo no apˆendice B do artigo [1]. Antes de enunciarmos o teorema, precisamos de alguns resultados de ´Algebra Linear, que seguem adiante.
Definic¸˜ao 1.7 Seja B uma matriz complexa n×n. Seλ´e um autovalor de B, seja
Vλ={v∈Cn: (B−λI)iv=0para algum i∈N}.
Se B ´e real eγ´e um autovalor real, seja
VRγ =Rn∩Vγ={v∈Rn: (B−γI)iv=0para algum i∈N}.
Se B ´e real eλ,λ´e um par de autovalores complexos, seja
VR
λ,λ=R
n
∩(Vλ⊕Vλ).
Esses espac¸os s˜ao chamados de autoespac¸os generalizados.
Teorema 1.5 (da Variedade Central) SejaΨuma aplicac¸˜ao da vizinhanc¸a do zero no espac¸o de BanachZ
emZ. Suponhamos queΨtem k+1derivadas cont´ınuas, queΨ(0)=0, DΨ(0)tem raio espectral 1 e que o espectro de DΨ(0)tem uma parte contida na circunferˆencia unit´aria com um n ´umero finito de autovalores, e o restante est´a a uma distˆancia n˜ao nula da mesma. Suponhamos que Y, o auto-espac¸o generalizado de DΨ(0)pertencente `a parte do espectro sobre a circunferˆencia unit´aria, tem dimens˜ao d <∞. Ent˜ao existe
uma vizinhanc¸aVdo0emZe uma subvariedadeM⊂ Vde classe Ck e dimens˜ao d, contendo a origem e
tangente a Y em0, tal que:
a) (Invariˆancia Local) Se x∈MeΨ(x)∈V, ent˜aoΨ(x)∈M.
b) (Atratividade Local) SeΨn(x)∈Vpara todo n∈N, ent˜ao quando n→ ∞, a distˆancia deΨn(x)aM
vai a zero.
Uma variedade M como descrita no teorema ´e chamada de variedade central (para o ponto
fixo 0 deΨ). N˜ao ´e em geral ´unica, mas porb), pelo menos cont´em todos os pontosw-limite de
CAP´ITULO 2
BIFURCAC
¸ ˜
AO DE
POINCAR ´E-ANDRONOV-HOPF PARA
DIFEOMORFISMOS DO PLANO.
Neste cap´ıtulo trabalharemos com um difeomorfismo Φµ. A utilizac¸˜ao do Teorema 1.5 nos
permitir´a reduzir o estudo ao plano. Apresentaremos uma forma can ˆonica para o difeomorfismo e daremos condic¸ ˜oes para a existˆencia de bifurcac¸˜ao. Posteriormente mostraremos a existˆencia de uma curva fechada invariante para a aplicac¸˜aoΦµ, utilizando o princ´ıpio da contrac¸˜ao.
2.1.
Difeomorfismos do Plano.
Uma das t´ecnicas utilizadas por RuelleeTakens´e a reduc¸˜ao de um problema geral para outro em dimens˜ao 2. Eles fizeram isto utilizando o Teorema 1.5, mas a id´eia aqui ´e aplic´a-lo para a transformac¸˜ao:
Ψ: (x, µ)7−→(Φµ(x), µ),
ondeΦµ ´e um difeomorfismo do espac¸o de BanachZem Z, que depende de um parˆametro real µ. SeDΦ0tem dois autovalores complexos conjugados simples na circunferˆencia unit´aria, ent˜ao
o auto-espac¸o generalizado deDΦ(0) tem dimens˜ao 3. A dimens˜ao extra encontra-se na direc¸˜ao
deµ. O Teorema 1.5 ent˜ao garante a existˆencia de uma variedade central M de dimens˜ao 3. Se
fixarmosµsuficientemente pequeno, obteremos uma sec¸˜aoMµ de dimens˜ao 2 deM, que ´e
local-mente invariante e atratora para Φµ. Como estamos interessados no comportamento recorrente,
podemos restringirΦµaMµ. Estamos ent˜ao reduzindo o estudo a uma fam´ılia de transformac¸ ˜oes
suficientemente regulares (C4 ´e suficiente) a um parˆametro real, que denotaremos ainda porΦ
µ, de
uma vizinhanc¸a do zero emR2sobreR2, comΦµ(0,0)= (0,0) eDΦ0(0,0) tendo dois autovalores
complexos conjugados distintos, sobre a circunferˆencia unit´aria.
2.2.
Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜ao
Φ
µ.
Queremos mostrar a existˆencia de uma curva fechada invariante para Φµ, comµ > 0. Para
isto ´e importante encontrar uma forma conveniente paraΦµ. Assumimos que os autovalores de DΦµ(0,0) passam atrav´es da circunferˆencia unit´aria com velocidade positiva quandoµpassa pelo 0. Podemos ent˜ao reparametrizar os autovalores deDΦµ(0,0) de forma a obtˆe-los como (1+µ)eiθ(µ)
e (1+µ)e−iθ(µ), o que muda a velocidade, mas n˜ao os valores paraµ=0. Fazendo uma mudanc¸a
de coordenadas suaveµ-dependente, podemos denotarDΦµ(0,0) por:
DΦµ(0,0)= (1+µ)
sencosθθ((µµ)) −sencosθθ((µµ)) .
Assim, a aplicac¸˜aoΦµpode ser denotada por:
Φµ : R2 −→ R2
(x1,x2) 7−→ (1+µ)
sencosθθ((µµ)) −sencosθθ((µµ))
xx1
2
+ gµ(x1,x2),
(2.1)
onde gµ ´e uma func¸˜ao suave com componentes g1 e g2, tendo expans˜ao em s´erie de Taylor
iniciando-se com termos quadr´aticos, ou seja,gµ=O(||(x1,x2)||2) uniformemente emµ. Temos que
|gµ| ´e menor do que um polin ˆomio complexo com coeficientes cont´ınuos em µ, com termos de
ordem maior ou igual a 2. O pr ´oximo passo ´e fazer mais uma mudanc¸a de coordenada para levar
Φµa uma forma can ˆonica apropriada. A aplicac¸˜aoΦµpode ser escrita na forma:
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 11 Vamos escrever cada par (x1,x2) ∈ R2 como um n ´umero complexo z = x1 +i x2 e, tomando
e
Φµ(z)= Φ1(x1,x2)+iΦ2(x1,x2), ondeΦµ=(Φ1,Φ2), teremos:
e
Φµ(z) = (1+µ)[x1cosθ(µ)−x2senθ(µ)]+i(1+µ)[x1senθ(µ)+x2cosθ(µ)]+O(|z|2)
= (1+µ)[cosθ(µ)+isenθ(µ)](x1+i x2)+O(|z|2)
= (1+µ)eiθ(µ)z+O(|z|2).
Tomandoλ(µ)=(1+µ)eiθ(µ)a equac¸˜ao acima toma a forma:
e
Φµ(z)=λ(µ)z+O(|z|2).
Ao longo desse texto ser´a comum aparecer a express˜ao O(|z|n) com n ∈ N. Com isto queremos
dizer que |
e
Φµ(z)−λ(µ)z|
|z|n ≤ K, com K uma constante independente deµ, ou seja, a aproximac¸˜ao
´e uniforme emµ. De agora em diante, tamb´em para facilitar a notac¸˜ao, denotaremoseΦµporΦµ.
Lema 2.1 A aplicac¸˜aoΦµ(z)pode ser escrita em s´erie de Taylor centrada na origem, na forma: Φµ(z)=λ(µ)z+A2(z)+A3(z)+O(|z|4),
onde
Ak(z)= k
∑
j=0
ξj(k−j)zj(z)k−j,
para k=2e3 e ξj(k−j)∈C. Em particular,
ξ20 = 1
8{(g1)x1x1−(g1)x2x2+2(g2)x1x2+i[(g2)x1x1 −(g2)x2x2 −2(g1)x1x2]},
ξ11 = 1
4{(g1)x1x1+(g1)x2x2+i[(g2)x1x1 +(g2)x2x2]},
ξ02 = 1
8{(g1)x1x1−(g1)x2x2−2(g2)x1x2+i[(g2)x1x1 −(g2)x2x2 +2(g1)x1x2]}e
ξ21 = 1
16{(g1)x1x1x1 +(g1)x1x2x2 +(g2)x1x1x2 +(g2)x2x2x2+i[(g2)x1x1x1+(g2)x1x2x2−(g1)x1x1x2 −(g1)x2x2x2]}.
Demonstrac¸˜ao:Vamos reescrever os termos de ordem maior ou igual a 2 deΦµ(z) . J´a sabemos que
g1eg2emµ. A s´erie de Taylor degna origem ´e dada por:
g1(x1,x2) = 1
2
[
(g1)x1x1x
2
1+2(g1)x1x2x1x2+(g1)x2x2x
2 2 ] + 1 3! [
(g1)x1x1x1x
3
1+3(g1)x1x1x2x
2
1x2+3(g1)x1x2x2x1x
2
2+(g1)x2x2x2x
3 2
]
+O(||(x1,x2)||2).
Analogamente obtemos a s´erie de Taylor para g2. Tomando gµ(z) = gµ(x1 +i x2) = g1(x1,x2)+
i g2(x1,x2), teremos:
gµ(x1+i x2) = 1
2
[
(g1)x1x1x
2
1+2(g1)x1x2x1x2+(g1)x2x2x
2 2 ] + 1 3! [
(g1)x1x1x1x
3
1+3(g1)x1x1x2x
2
1x2+3(g1)x1x2x2x1x
2
2+(g1)x2x2x2x
3 2 ] + i 2 [
(g2)x1x1x
2
1+2(g2)x1x2x1x2+(g2)x2x2x
2 2 ] + i 3! [
(g2)x1x1x1x
3
1+3(g2)x1x1x2x
2
1x2+3(g2)x1x2x2x1x
2
2+(g2)x2x2x2x
3 2
]
+O(||(x1,x2)||2).
Agora, tomandox1 = z
+z
2 ex2 =
z−z
2i na ´ultima express˜ao, e organizando os termos, chegamos
a:
gµ(z) = 1
2
[
(g1)x1x1
4 −
i(g1)x1x2
2 −
(g1)x2x2
4 +
i(g2)x1x1
4 +
(g2)x1x2
2 −
i(g2)x2x2 4
]
z2+
1 2
[
(g1)x1x1
2 +
(g1)x2x2
2 +
i(g2)x1x1
2 +
i(g2)x2x2 2 ] zz+ 1 2 [
(g1)x1x1
4 +
i(g1)x1x2
2 −
(g1)x2x2
4 +
i(g2)x1x1
4 +
(g2)x1x2
2 −
i(g2)x2x2 4
]
z2+ (2.2)
ξ30z3+ 1
3!
[
3(g1)x1x1x1
8 −
3i(g1)x1x1x2
8 +
3(g1)x1x2x2
8 −
3i(g1)x2x2x2
8 +
3i(g2)x1x1x1
8 +
3(g2)x1x1x2
8 +
3i(g2)x1x2x2
8 +
3(g2)x2x2x2 8
]
z2z+ξ12zz2+ξ03z3+O(|z|4).
Vale a pena observar que, no desenvolvimento de um termo de graunnas vari´aveisx1,x2s ´o
apare-cem termos de graunem (z,z). Assim ´e poss´ıvel escreverΦµ(z) na forma:
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 13
onde Ak(z) = k
∑
j=0
ξj(k−j)zj(z)k−j, para k = 2e3 e ξj(k−j) ∈ C. Em particular, da equac¸˜ao (2.2)
obtemos:
ξ20= 1
8{(g1)x1x1 −(g1)x2x2 +2(g2)x1x2+i[(g2)x1x1 −(g2)x2x2 −2(g1)x1x2]},
ξ11= 1
4{(g1)x1x1+(g1)x2x2+i[(g2)x1x1 +(g2)x2x2]}, (2.4)
ξ02= 1
8{(g1)x1x1 −(g1)x2x2 −2(g2)x1x2+i[(g2)x1x1 −(g2)x2x2 +2(g1)x1x2]}e
ξ21= 1
16{(g1)x1x1x1+(g1)x1x2x2+(g2)x1x1x2+(g2)x2x2x2+i[(g2)x1x1x1+(g2)x1x2x2−(g1)x1x1x2−(g1)x2x2x2]}. Nosso objetivo agora ´e, atrav´es de mudanc¸as de coordenadas para a aplicac¸˜ao (2.3), eliminar os termos de ordem 2, 3 e 4 da express˜ao deΦµ.
Lema 2.2 Seja
Φµ(z)=λz+A2(z)+A3(z)+O(|z|4),
a aplicac¸˜ao definida em (2.3), com coeficientes em (2.4) e λ = λ(µ) = (1+µ)eiθ(µ). Suponhamos que eiθ(0),1e e3iθ(0),1. Ent˜aoΦµpode ser transformada pela mudanc¸a de coordenadas complexa
τ : C −→ C
z 7−→ z′=z+γ(z),
ondeγ(z)=γµ(z)=γ2z2+γ1zz+γ0z2, comγ2= ξ20
λ−λ2,γ1=
ξ11
λ− |λ|2 eγ0=
ξ02
λ−λ2
, na aplicac¸˜ao sem
termos quadr´aticos:
e
Φµ(z′)=λz′+B3(z′)+O(|z′|4),
com B3(z′)= 3
∑
j=0
α3jz′j(z′)3−jeα3
j ∈C.
Demonstrac¸˜ao:Temos que, em uma vizinhanc¸a da origem no novo sistema de coordenadasz′,z′,
´e poss´ıvel inverter a aplicac¸˜aoτ, obtendo:
onde grauγ′=2 e grauk=3. Da express˜ao deτe da equac¸˜ao (2.5) teremos:
γ′(z′)+k(z′)+γ(z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4))+O(|z′|4)=0. (2.6) Vamos calcularγ(z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)). Agrupando os termos de mesma ordem e usando a
definic¸˜ao deγ(z), obtemos:
γ(z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)) = γ2[z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)]2+
γ1[z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)][z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)]+
γ0[z′+γ′(z′)+k(z′)+O(|z′|4)]2
= γ2[z′2+2z′γ′(z′)]+γ1[z′z′+z′γ′(z′)+z′γ′(z′)]+
γ0[z′ 2
+2z′γ′(z′)]+O(|z′|4)
= γ(z′)+γ2[2z′γ′(z′)]+γ1[z′γ′(z′)+z′γ′(z′)]+
γ0[2z′γ′(z′)]+O(|z′|4). (2.7)
Substituindo (2.7) em (2.6), chegamos a:
γ′(z′)+γ(z′)+k(z′)+γ2[2z′γ′(z′)]+γ1[z′γ′(z′)+z′γ′(z′)]+γ0[2z′γ′(z′)]+O(|z′|4)=0.
Comparando termos de mesma ordem, conclu´ımos que:
γ′(z′)=−γ(z′) e k(z′)=γ2[2z′γ(z′)]+γ1[z′γ(z′)+z′γ(z′)]+γ0[2z′γ(z′)].
DenotandoeΦµcomo sendoΦµna nova coordenadaz′, teremos :
e
Φµ(z′) = (τ◦Φµ◦τ−1)(z′) = (τ◦Φµ)(z) = Φµ(z)+γ(Φµ(z))
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 15 Vamos desenvolver a equac¸˜ao acima. Agrupando os termos de mesma ordem deΦµ(z′−γ(z′)+ k(z′)+O(|z′|4)), segue que:
Φµ(z′−γ(z′)+k(z′)+O(|z′|4)) = λz′+{−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′ 2
}+
{λk(z′)+ξ20[−2z′γ(z′)]+ξ11[−z′γ(z′)−z′γ(z′)]+
ξ02[−2z′γ(z′)]+ξ30z′3+ξ21z′2z′+ξ12z′z′ 2
+ξ03z′ 3
}+
O(|z′|4), (2.9)
e, pela definic¸˜ao deγ(z), temos:
γ(Φµ(z′−γ(z′)+k(z′)+O(|z′|4))) = γ(λz′+(−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ
02z′ 2
))+O(|z′|4) = γ2{λz′+[−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′
2
]}2+
γ1{λz′+[−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′ 2
]} {λz′+[−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′2]}+
γ0{λz′+[−λγ(z′)+ξ20z′ 2
+ξ11z′z′+ξ02z′2]}2+O(|z′|4) = γ(λz′)+γ2{2λz′[−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′
2
]}+
γ1{λz′(−λγ(z′)+ξ02z′2+ξ11z′z′+ξ20z′ 2
)+
λz′(−λγ(z′)+ξ
20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′ 2
)}+ (2.10)
γ0{2λz′[−λγ(z′)+ξ02z′2+ξ11z′z′+ξ20z′ 2
]}+O(|z′|4).
Usando as equac¸ ˜oes (2.8), (2.9) e (2.10) teremos:
e
Φµ(z′) = λz′+{−λγ(z′)+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′ 2
}+γ(λz′)+O(|z′|3) = λz′−λγ2z′2−λγ1z′z′−λγ0z′
2
+ξ20z′2+ξ11z′z′+ξ02z′ 2
+
λ2γ2z′2+λλγ1z′z′+λ 2
γ0z′ 2
+O(|z′|3)
= λz′+[(−λγ2+ξ20+λ2γ2)z′2+(−λγ1+ξ11+|λ|2γ1)z′z′+
(−λγ0+ξ02+λ 2
γ0)z′ 2
]+O(|z′|3). (2.11)
Observemos que −λγ2 +ξ20+λ2γ2 (coeficiente de z′2) se anula quando tomamos γ2 = ξ20
λ−λ2.
O coeficiente dez′z′, −λγ
1+ξ11+|λ|2γ1, se anula quando tomamosγ1 =
ξ11
−λγ0+ξ02 +λ 2
γ0 (coeficiente de z′ 2
) se anula quando tomamos γ0 = ξ02
λ−λ2
. Notemos que os
denominadores nas express ˜oes deγ2,γ1eγ0n˜ao se anulam, visto que|λ|=1+µ, e n˜ao h´a problema
paraµ,0. A mudanc¸a de coordenadas utilizada est´a bem definida quandoµ−→0, pois:
λ−λ2 ,0⇐⇒ eiθ(0),1 ,
λ−1,0⇐⇒ eiθ(0),1 ,
λ−λ2 ,0⇐⇒ e3iθ(0),1 .
Portanto, utilizando a mudanc¸a de coordenadas µ-dependente para a aplicac¸˜ao Φµ, anulamos
os termos de ordem quadr´atica. Logo, substituindo os valores de γ2, γ1 eγ0 na equac¸˜ao (2.11),
obtemos a aplicac˜ao sem termos quadr´aticos:
e
Φµ(z′)=λz′+B3(z′)+O(|z′|4), (2.12)
comB3(z′)= 3
∑
j=0
α3jz′j(z′)3−jeα3
j ∈C.
Lema 2.3 Seja
Φµ(z)=λz+B3(z)+O(|z|4),
a aplicac¸˜ao definida em (2.12) e comλ=λ(µ)=(1+µ)eiθ(µ). Suponhamos que e2iθ(0),1e e4iθ(0) ,1.
Ent˜aoΦµ pode ser transformada pela mudanc¸a de coordenadas complexa
τ : C −→ C
z 7−→ z′=z+γ(z),
ondeγ(z)=γµ(z)=γ3z3+γ2z2z+γ1zz2+γ0z3, comγ3= α
3 3
λ−λ3,γ2=0,γ1 =
α3 1
λ−λ|λ|2 eγ0 =
α3 0
λ−λ3
,
na aplicac¸˜ao com somente um termo c ´ubico:
e
Φµ(z′)=λz′+α3
2z′2z′+C4(z′)+O(|z′|5),
com C4(z′)= 4
∑
j=0
β4jz′j(z′)4−jeβ4
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 17 Demonstrac¸˜ao:Temos que, em uma vizinhanc¸a da origem no novo sistema de coordenadasz′,z′,
´e poss´ıvel inverter a aplicac¸˜aoτ, obtendo:
z=z′−γ(z′)+O(|z′|4).
DenotandoeΦµcomo sendoΦµna nova coordenadaz′, teremos :
e
Φµ(z′) = (τ◦Φµ◦τ−1)(z′)
= (τ◦Φµ)(z) = Φµ(z)+γ(Φµ(z))
= Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|4))+γ(Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|4))). (2.13)
Vamos desenvolver a equac¸˜ao acima. Agrupando os termos de mesma ordem deΦµ(z′−γ(z′)+
O(|z′|4)), segue que:
Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|4)) = λ(z′−γ(z′)+O(|z′|4))+α33(z′−γ(z′)+O(|z′|4))3+
α32(z′−γ(z′)+O(|z′|4))2(z′−γ(z′)+O(|z′|4))+
α31(z′−γ(z′)+O(|z′|4))(z′−γ(z′)+O(|z′|4))2+
α30(z′−γ(z′)+O(|z′|4))3+O(|z′|4)
= λz′−λγ(z′)+α33z′3+α32z′2z′+α3 1z′z′
2
+α30z′3+O(|z′|4), (2.14)
e pela definic¸˜ao deγ(z) temos:
γ(Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|4))) = γ(λz′−λγ(z′)+α3
3z′3+α32z′2z′+α31z′z′ 2
+α3
0z′ 3
+O(|z′|4)) = γ3(λz′−λγ(z′)+α33z′3+α32z′2z′+α31z′z′
2
+α30z′3+O(|z′|4))3+
γ2(λz′−λγ(z′)+α33z′3+α32z′2z′+α31z′z′ 2
+α30z′3+O(|z′|4))2.
(λz′−λγ(z′)+α3 3z′
3
+α3 2z′
2
z′+α3 1z′z′
2+α3 0z′
3+O(|z′|4))+
γ1(λz′−λγ(z′)+α33z′3+α32z′2z′+α31z′z′ 2
+α30z′3+O(|z′|4)).
(λz′−λγ(z′)+α3 3z′
3
+α3 2z′
2
z′+α3 1z′z′
2+α3 0z′
3+O
(|z′|4))2+
γ0(λz′−λγ(z′)+α33z′ 3
+α3
2z′ 2
z′+α3
1z′z′ 2+α3
0z′
3+O(|z′|4))3+O(|z′|4)
= γ3λ3z′3+γ2λ|λ|2z′2z′+γ1λ|λ|2z′z′ 2
+γ0λ 3
Pelas equac¸ ˜oes (2.13), (2.14) e (2.15) chegamos a:
e
Φµ(z′) = λz′−λγ(z′)+α33z′3+α23z′2z′+α3 1z′z′
2
+α30z′3+
γ3λ3z′3+γ2λ|λ|2z′2z′+γ1λ|λ|2z′z′ 2
+γ0λ 3
z′3+O(|z′|4)
= λz′−λγ3z′3−λγ2z′2z′−λγ1z′z′ 2
−λγ0z′ 3
+α33z′3+α32z′2z′+α3 1z′z′
2
+
α30z′3+γ3λ3z′3+γ
2λ|λ|2z′2z′+γ1λ|λ|2z′z′ 2
+γ0λ 3
z′3+O(|z′|4)
= λz′+(−λγ3+λ3γ3+α33)z′3+(−λγ2+λ|λ|2γ2+α32)z′2z′+ (2.16)
(−λγ1+λ|λ|2γ1+α31)z′z′ 2
+(−λγ0+λ3γ0+α3
0)z′ 3
+O(|z′|4).
Observemos que −λγ3 +λ3γ3+α33 (coeficiente de z′3) se anula quando tomamos γ3 =
α3 3
λ−λ3.
Tamb´em temos que −λγ1 +λ|λ|2γ1+α31 (coeficiente de z′z′ 2
) se anula quando tomamos γ1 =
α3 1
λ−λ|λ|2, e −λγ0+λ 3
γ0+α30(coeficiente dez′ 3
) se anula quando tomamosγ0=
α3 0
λ−λ3
. Notemos
que os denominadores nas express ˜oes deγ3,γ1eγ0 n˜ao se anulam, visto que|λ| = 1+µ, e n˜ao
h´a problema paraµ,0. A mudanc¸a de coordenadas utilizada est´a bem definida quandoµ−→0, pois:
λ−λ3 ,0⇐⇒ e2iθ(0),1 ,
λ−λ,0⇐⇒ e2iθ(0),1 ,
λ−λ3 ,0⇐⇒ e4iθ(0),1 .
Portanto, podemos fazer uma mudanc¸a de coordenadasµ-dependente, deixando a aplicac¸˜ao com somente um termo c ´ubico. Assim, substituindo os valores de γ0, γ1, γ2eγ3 na equac¸˜ao (2.16),
obtemos:
e
Φµ(z′)=λz′+α32z′2z′+C4(z′)+O(|z′|5), (2.17)
comC4(z′)= 4
∑
j=0
β4jz′j(z′)4−jeβ4
j ∈C.
Observemos que, na hip ´otese desse lema, se tiv´essemos trocado γ2 = 0 por γ2 =
α3 2
λ−λ|λ|2,
ent˜ao para µ , 0 seria poss´ıvel cancelar o termoz′2z′ deΦeµ(z′), mas a express˜ao de γ
2 diverge
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 19 Notemos que o coeficiente ´e o mesmo coeficiente do termo c ´ubicoz′2z′na equac¸˜ao (2.12).
Lema 2.4 Seja
Φµ(z)=λz+α32z2z+C4(z)+O(|z|5),
a aplicac¸˜ao definida em (2.17) e comλ= λ(µ) =(1+µ)eiθ(µ). Suponhamos que eiθ(0) , 1, e3iθ(0) ,1e
e5iθ(0) ,1. Ent˜aoΦµpode ser transformada pela mudanc¸a de coordenadas complexa
τ : C −→ C
z 7−→ z′=z+γ(z),
onde λ = λ(µ), γ(z) = γ4z4 +γ3z3z+γ2z2z2+γ1zz3 +γ0z4, com γ4 =
β44
λ−λ4, γ3 =
β43 λ−λ2|λ|2,
γ2=
β42
λ− |λ|4,γ1=
β4 1
λ−λ2|λ|2 eγ0
= β
4 0
λ−λ4
, na aplicac¸˜ao sem termos qu´articos:
e
Φµ(z′)=λz′+α32z′2z′+O(|z′|5).
Demonstrac¸˜ao:Temos que, em uma vizinhanc¸a da origem, no novo sistema de coordenadasz′,z′,
´e poss´ıvel inverter a aplicac¸˜aoτ, obtendo:
z=z′−γ(z′)+O(|z′|5).
DenotandoeΦµcomo sendoΦµna nova coordenadaz′, teremos :
e
Φµ(z′) = (τ◦Φµ◦τ−1)(z′)
= (τ◦Φµ)(z) = Φµ(z)+γ(Φµ(z))
Vamos desenvolver a equac¸˜ao (2.18). Pela definic¸˜ao deγ(z) temos:
γ(Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|5))) = γ[λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+β4
4z′4+β43z′3z′+
β42z′2z′2+β4 1z′z′
3
+β40z′4+O(|z′|5)]
= γ4[λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+β44z′4+β43z′3z′+β42z′2z′ 2
+
β41z′z′3+β4 0z′
4
+O(|z′|5)]4+γ3[λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+
β44z′4+β34z′3z′+β4 2z′2z′
2
+β41z′z′3+β4 0z′
4
+O(|z′|5)]3.
[λz′−λγ(z′)+α3
2z′ 2
z′+β4 4z′
4
+β4 3z′
3
z′+β4 2z′
2
z′2+
β4 1z′z′
3+β4 0z′
4+O
(|z′|5)]+γ
2[λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+
β44z′4+β34z′3z′+β4 2z′2z′
2
+β41z′z′3+β4 0z′
4
+O(|z′|5)]2.
[λz′−λγ(z′)+α3
2z′ 2
z′+β4 4z′
4
+β4 3z′
3
z′+β4 2z′
2
z′2+
β4 1z′z′
3+β4 0z′
4+O
(|z′|5)]2+γ
1[λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+
β44z′4+β34z′3z′+β4 2z′2z′
2
+β41z′z′3+β4 0z′
4
+O(|z′|5)].
[λz′−λγ(z′)+α3
2z′ 2
z′+β4 4z′
4
+β4 3z′
3
z′+β4 2z′
2
z′2+
β4 1z′z′
3+β4 0z′
4+O
(|z′|5)]3+γ
0[λz′−λγ(z′)+α32z′ 2
z′+
β4 4z′
4
+β4 3z′
3
z′+β4 2z′
2
z′2+β4 1z′z′
3+β4 0z′
4+O(
|z′|5)]4
= γ4λ4z′4+γ3λ2|λ|2z′3z′+γ
2|λ|4z′2z′ 2
+γ1λ2|λ|2z′z′3+ (2.19)
γ0λ 4
2.2 Forma Can ˆonica da Aplicac¸˜aoΦµ. 21 E agrupando os termos de mesma ordem deΦµ(z′−γ(z′)+O(|z′|5)), segue que:
Φµ(z′−γ(z′)+O(|z′|5)) = λ(z′−γ(z′)+O(|z′|5))+
α32(z′−γ(z′)+O(|z′|5))2(z′−γ(z′)+O(|z′|5))+
β44(z′−γ(z′)+O(|z′|5))4+
β43(z′−γ(z′)+O(|z′|5))3(z′−γ(z′)+O(|z′|5))+
β42(z′−γ(z′)+O(|z′|5))2(z′−γ(z′)+O(|z′|5))2+
β41(z′−γ(z′)+O(|z′|5))(z′−γ(z′)+O(|z′|5))3+
β40(z′−γ(z′)+O(|z′|5))4+O
(|z′|5)
= λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+β4
4z′4+β43z′3z′+β42z′2z′ 2
+ (2.20)
β41z′z′3+β4 0z′
4
+O(|z′|5) Pelas equac¸ ˜oes (2.18) , (2.20) e (2.19) chegamos a:
e
Φµ(z′) = λz′−λγ(z′)+α32z′2z′+β4
4z′4+β43z′3z′+β42z′2z′ 2
+β41z′z′3+β4 0z′
4
+
γ4λ4z′4+γ3λ2|λ|2z′3z′+γ2|λ|4z′2z′ 2
+γ1λ 2
|λ|2z′z′3+γ0λ4z′4+O(|z′|)5
= λz′+α32z′2z′−γ
4λz′4−γ3λz′3z′−γ2λz′2z′ 2
−γ1λz′z′ 3
−γ0λz′ 4
+
β44z′4+β34z′3z′+β4 2z′2z′
2
+β41z′z′3+β4 0z′
4
+
γ4λ4z′4+γ3λ2|λ|2z′3z′+γ2|λ|4z′2z′ 2
+γ1λ2|λ|2z′z′3+γ0λ4z′4+O(|z′|)5 = λz′+α32z′2z′+(−γ4λ+β4
4+γ4λ4)z′4+(−γ3λ+β34+γ3λ2|λ|2)z′3z′+ (2.21)
(−γ2λ+β42+γ2|λ|4)z′2z′ 2
+(−γ1λ+β4
1+γ1λ 2
|λ|2)z′z′3+(−γ0λ+β4
0+γ0λ 4
)z′4+O(|z′|)5.
Observemos que−γ4λ+β44+γ4λ4 (coeficiente dez′4) se anula quando tomamosγ4 =
β4 4
λ−λ4. E
−γ3λ+β43+γ3λ2|λ|2(coeficiente dez′3z′) se anula quando tomamosγ3 =
β43
λ−λ2|λ|2. A express˜ao
−γ2λ+β42+γ2|λ|4(coeficiente dez′2z′ 2
) se anula quando tomamosγ2 =
β4 2
λ− |λ|4. De fato,−γ1λ+
β4 1+γ1λ
2
|λ|2 (coeficiente dez′z′3) se anula quando tomamosγ
1 =
β4 1
λ−λ2|λ|2. E−
(coeficiente dez′4) se anula quando tomamosγ0 = β
4 0
λ−λ4
. Notemos que os denominadores nas
express ˜oes deγ4,γ3,γ2,γ1eγ0n˜ao se anulam, visto que|λ|=1+µ, e n˜ao h´a problema paraµ,0.
A mudanc¸a de coordenadas utilizada est´a bem definida quandoµ−→0, pois:
λ−λ4 ,0⇐⇒ e3iθ(0),1 ,
λ−λ2 ,0⇐⇒ eiθ(0),1 ,
λ−1,0⇐⇒ eiθ(0),1 ,
λ−λ2 ,0⇐⇒ e3iθ(0),1 ,
λ−λ4 ,0⇐⇒ e5iθ(0),1 .
Portanto podemos fazer uma mudanc¸a de coordenadasµ-dependente, deixando a aplicac¸˜ao Φµ
sem termos qu´articos. Assim, substituindo os valores de γ0, γ1, γ2, γ3 e γ4 na equac¸˜ao (2.21),
obtemos:
e
Φµ(z′)=λz′+α3
2z′2z′+O(|z′|5).
Pelos Lemas 2.2, 2.3 e 2.4 temos que, supondo ekiθ(0) , 1, parak = 1,2,3,4 e 5, ´e poss´ıvel fazer
mudanc¸as de coordenadas para a aplicac¸˜aoΦµ(z)=λ(µ)z+ k
∑
j=0
αkjzj(z)k−j+O(|z|k+1), de tal forma a
deix´a-la na formaΦµ(z)=λ(µ)z+α3
2z2z+O(|z|5). Assim podemos enunciar e demonstrar o seguinte
teorema:
Teorema 2.1 Seja
Φµ : R2 −→ R2
(x1,x2) 7−→ (1+µ)
sencosθθ((µµ)) −sencosθθ((µµ))
xx1
2
+ gµ(x1,x2),
uma fam´ılia de aplicac¸˜oes do plano de classe C4. Suponhamos queΦ
µ(0,0)=(0,0)para todoµ, DΦµ(0,0)
tem autovalores(1+µ)eiθ(µ)e(1+µ)e−iθ(µ)(ap´os reparametrizac¸˜ao deµ), e ekiθ(0) ,1para k=1,2,3,4 e5. Ent˜ao existe um mudanc¸a suave de coordenadasµ-dependente numa vizinhanc¸a da origem, tal que nas
novas coordenadasΦµtoma a forma: