CARLOS EUSTÁQUIO SOUKEF DOMINGOS
Dissertação de Mestrado
Estudo de viabilidade técnico-econômica para a implementação de unidades produtoras de propeno e polipropileno, a partir do gás liqüefeito de petróleo produzido na refinaria
Gabriel Passos (Betim-MG), utilizando a técnica de opções reais.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia Química
da Universidade Federal de Minas Gerais
Orientador: Profa. Tânia Lúcia Santos Miranda Co-Orientador: Prof. Marcelo Borges Mansur
Belo Horizonte
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Dissertação de Mestrado
Estudo de viabilidade técnico-econômica para a implementação de unidades produtoras de propeno e polipropileno, a partir do gás liqüefeito de petróleo produzido na refinaria Gabriel
Passos (Betim-MG), utilizando a técnica de opções reais.
Autor: Carlos Eustáquio Soukef Domingos Orientadora: Profa. Tânia Lúcia Santos Miranda Co-Orientador: Prof. Marcelo Borges Mansur
Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Engenharia Química como parte dos
requisitos exigidos para a obtenção do título de MESTRE EM ENGENHARIA QUÍMICA
Domingos, Carlos Eustáquio Soukef.
D671e Estudo de viabilidade técnico-econômica para a implementação de unidades produtoras de propeno e polipropileno, a partir do gás liqüefeito de petróleo produzido na refinaria Gabriel Passos (Betim-MG), utilizando a técnica de opções reais [manuscrito] / Carlos Eustáquio Soukef Domingos. – 2005.
xiii, 118 f., enc.: il.
Orientador: Tânia Lúcia Santos Miranda. Coorientador: Marcelo Borges Mansur.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Engenharia.
Anexos: f. 102-118.
Bibliografia: 99-101.
1. Engenharia química - Teses. 2. Polipropileno - Teses. 3. Fluxo de caixa - Teses. 4. Gás liquefeito de petróleo - Teses. I. Miranda, Tânia Lúcia Santos. II. Mansur, Marcelo Borges. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Engenharia. IV. Título.
AGRADECIMENTOS
Aos Meus Orientadores Tânia Lúcia Santos Miranda Marcelo Borges Mansur
Pelo apoio, paciência, dedicação e profissionalismo em toda a extensão desse trabalho
Aos Professores da Pós-Graduação
Pelas proveitosas aulas que se prolongarão na memória
A todos os Colegas da Pós-Graduação, em especial aos mestrandos da Petrobras: Dussé, Nelmo, Leandro, Casali e José Márcio
A PETROBRAS S.A. pela grande oportunidade, patrocínio e estrutura oferecidos Familiares
Soderini: pelo amor, incentivo e carinho
Denise: pelos comentários, sugestões e revisões Mariana e Caio: pelo ensino da vida
Fernanda: pela motivação de viver Mãe : obrigado por tudo. Te amo muito!
RESUMO
Foi realizado, neste trabalho, o estudo de viabilidade técnica-econômica para a implantação de um complexo para a produção de polipropileno no estado de Minas Gerais, utilizando-se a técnica de opções reais. O complexo petroquímico é composto por duas unidades de processamento: unidade de separação de propeno e unidade para produção de polipropileno. A matéria prima para a produção do polipropileno é o propeno, principal componente presente no gás liqüefeito de petróleo (GLP) produzido nas unidades de craqueamento
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 - Possibilidades de utilização do propeno contido no GLP da REGAP . ... 02
Figura 2.1 - Classificação de um projeto quanto ao interesse estratégico para a empresa e a sua rentabilidade ... 09
Figura 2.2 - Esquema da cadeia petroquímica nacional ... 11
Figura 3.1 - Processo de implementação para análise de uma opção real (Amram e Kulatilaka, 1999) ... 25
Figura 3.2 - Comprador de uma opção de compra. ... 28
Figura 3.3 - Lançador de uma opção de compra. ... 29
Figura 3.4 - Comprador de uma opção de venda. ... 29
Figura 3.5 - Lançador de uma opção de venda. ... 30
Figura 3.6 - Representação da função normal N(d). ... 36
Figura 3.7 - Estrutura do modelo binomial considerando quatro intervalos de tempo. ... 44
Figura 3.8 - Curva de distribuição de probabilidade gerada a partir de simulação de Monte Carlo. ... 46
Figura 4.1 - Esquema de Produção de GLP na REGAP. ... 47
Figura 4.2 - Esquema proposto para produção de propeno e polipropileno na REGAP. ... 48
Figura 4.3 - Fluxograma de processo simplificado da Unidade de Separação de Propeno. ... 50
Figura 5.1 - Distribuição de investimento na unidade de separação de propeno. ... 72
Figura 5.2 - Investimento nas unidades de polipropileno x capacidade. ... 73
Figura 5.3 - Distribuição de investimento na unidade de produção de poliprolileno ... 74
Figura 5.4 - Distribuição de probabilidade do preço do GLP. ... 75
Figura 5.5 - Série histórica de preço do GLP ... 76
Figura 5.6 - Série histórica do preço do polipropileno ... 79
Figura 5.7 - Curva normal de distribuição do preço do polipropileno ... 80
Figura 6.1 - Curva de distribuição de probabilidade do VPL ... 88
Figura 6.2 - Árvore binomial do VPL com as respectivas probabilidades de ocorrência ... 91
Figura 6.3 - Árvore de eventos do VPL ... 92
Figura 6.4 - Valor da opção de espera x Volatilidade do VPL ... 94
Figura A.1 - Fluxograma esquemático do processo Novolen ... 104
Figura A.2 - Fluxograma esquemático do processo Basell Spheripol ... 105
Figura A.4 - Fluxograma esquemático do processo Borstar PP ... 109
Figura A.5 - Fluxograma esquemático do processo BP ... 111
Figura A.6 - Fluxograma esquemático do processo Chisso ... 113
Figura A.7 - Fluxograma esquemático do processo UNIPOL PP ... 115
LISTA DE TABELAS
Tabela I.1 - Composição típica do GLP produzido pela REGAP. ... 01
Tabela III.1 - Opção financeira x opção real ... ... 27
Tabela III.2 - Influência dos fatores nas opções de compra e venda. ... 37
Tabela IV.1 - Especificação comercial do propeno (Maccamm, 2000).. ... 55
Tabela IV.2 - Capacidade de produção de propeno das refinarias da Petrobras. ... 56
Tabela IV.3 - Potencial de produção de propeno das refinarias da Petrobras. ... 57
Tabela IV.4 - Produção de propeno nas Centrais Petroquímicas do Brasil ... 57
Tabela IV.5 - Principais aplicações do propeno no mundo ... 60
Tabela IV.6 - Demanda mundial de polímeros. ... 61
Tabela IV.7 - Empresas consumidoras de propeno no Brasil ... 62
Tabela V.1 - Modelo de fluxo de caixa. ... 69
Tabela V.2 - Consumo específico de utilidades. ... 76
Tabela V.3 - Custos de utilidades ... 77
Tabela VI.1 - Fluxo de caixa do projeto ... 81
Tabela VI.2 - Planilha Invest ... 82
Tabela VI.3 - Planilha C.Oper.Prop ... 83
Tabela VI.4 - Planilha C.Oper.PP ... 84
Tabela VI.5 - Planilha Custos ... 85
Tabela VI.6 - Planilha C.Logíst ... 85
Tabela VI.7 - Planilha Receita ... 86
Tabela VI.8 - Planilha NCG ... 87
Tabela VI.9 - Resultados estatísticos da simulação de Monte Carlo ... 89
Tabela VI.10 - VPL médio projetado. ... 92
Tabela VI.11 - VPLs descontados para o ano de 2008. ... 93
NOMENCLATURA
c valor da opção de compra, $
d parâmetro de descida do ativo
FCk fluxo de caixa líquido no período k
i taxa de desconto, %
IL índice de lucratividade
K preço do exercício, $
k número de períodos da vida econômica do projeto, anos N(d) função normal cumulativa de d
n número de intervalos de movimento do ativo
rf taxa livre de risco, %
rm taxa de retorno do mercado, %
rp taxa de retorno do capital próprio, % S preço do ativo básico ou subjacente, $
T tempo de expiração da opção, ano
TMA taxa mínima de atratividade, % TIR taxa interna de retorno, %
VO valor das opções, $
VPL valor presente líquido, $
VPLE valor presente líquido estratégico, $
u parâmetro de subida do ativo
Z termo que representa um processo de Wiener padrão
w variável de substituição
y variável de substituição
GREGO
β relação entre a covariância de
r
p er
m pela variância der
m∆ unidades do ativo base protegido pela opção
δ dividendos, %
t
ε
variável aleatória de distribuição normalσ volatilidade do ativo básico, %
µ taxa de retorno média esperada do ativo base, %
Π valor total do portfólio
SUBSCRITO
i parâmetro para integração
j parâmetro para integração
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO . ... 01
2. ANÁLISE DE INVESTIMENTO ... 06
2.1 – A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DE INVESTIMENTO ... 06
2.2 – ESTRATÉGIA NA ANÁLISE DE PROJETOS DE INVESTIMENTO. ... 08
2.3 – TÉCNICAS PARA A ANÁLISE DE INVESTIMENTO... 12
2.3.1 – VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL). ... 12
2.3.2 – TAXA INTERNA RETORNO (TIR). ... 15
2.3.3 – COMPARAÇÃO ENTRE VPL E TIR ... 16
2.3.4 – ÍNDICE DE LUCRATIVIDADE (IL) ... 17
2.3.5 – TEMPO DE RETORNO DO INVESTIMENTO... 18
2.3.6 – PONTO DE NIVELAMENTO. ... 18
3 – OPÇÕES REAIS ... 19
3.1 – TRATAMENTO MATEMÁTICO DA TÉCNICA OPÇÕES REAIS ... 25
3.1.1 – RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS ... 29
3.1.1.1 – SOLUÇÃO ANALÍTICA: MODELO DE BLACK E SCHOLES ... 30
3.1.1.2 – SOLUÇÃO NUMÉRICA: MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS ... 38
3.1.2 – MODELO BINOMIAL ... 40
3.1.3 – MÉTODO DE SIMULAÇÃO DE MONTE CARLO. ... 43
4 – PRODUÇÃO DE PROPENO E POLIPROPILENO E SUAS APLICAÇÕES. ... 46
4.1 – PRODUÇÃO DE GLP NA REGAP ... 46
4.2 – DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE SEPARAÇÃO DE PROPENO PROPOSTA PARA A REGAP ... 48
4.3 – CARACTERÍSTICAS DO PROPENO A SER PRODUZIDO PELA REGAP ... 53
4.4 – DADOS DE MERCADO DE PROPENO PRODUZIDOS NO PAÍS ... 55
4.5 – OUTROS PRODUTOS QUÍMICOS OBTIDOS A PARTIR DO PROPENO... 57
4.6 – DADOS DE MERCADO DE POLIPROPILENO... 59
5 – METODOLOGIA DE ANÁLISE DAS OPÇÕES ESTUDADAS ... 64
5.1 – DEFINIÇÃO DO ESTUDO DE CASO ... 64
5.2 – METODOLOGIA ADOTADA ... 64
5.3 – PREMISSAS E RESTRIÇÕES ADOTADAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO FLUXO DE CAIXA ... 67
5.3.1 – PREMISSAS GERAIS ... 68
5.3.2 – INVESTIMENTO ... 69
5.3.3 – CUSTOS... 72
5.3.4 – RECEITA ... 76
6 – RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 78
6.1 – FLUXO DE CAIXA DO PROJETO ... 78
6.2 – ANÁLISE DE OPÇÕES REAIS... 86
6.2.1 – CÁLCULO DA VOLATILIDADE DO VPL ... 86
6.2.2 – CONSTRUÇÃO DA ÁRVORE DE EVENTOS ... 88
6.2.3 – DETERMINAÇÃO DO MELHOR MOMENTO DE INVESTIR ... 89
7 – CONCLUSÕES. ... 94
8 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ... 95
9 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 97
APÊNDICE A – ROTAS TECNOLÓGICAS PARA A PRODUÇÃO DE POLIPROPILENO. ... 99
A.1 – PROCESSO NOVOLEN ... 100
A.2 – PROCESSO BASELL SPHERIPOL. ... 102
A.3 – PROCESSO BASELL SPHERIZONE ... 103
A.4 – PROCESSO BORSTAR. ... 105
A.5 – PROCESSO BP. ... 107
A.6 – PROCESSO CHISSO... 109
A.7 – PROCESSO UNIPOL PP. ... 111
1 – INTRODUÇÃO
O gás liqüefeito de petróleo ou GLP é um produto do refino do petróleo que pode ser
utilizado tanto como combustível doméstico quanto como combustível industrial. No
Brasil, o uso do GLP é principalmente voltado ao consumo doméstico. A composição típica
do GLP produzido na Refinaria Gabriel Passos (REGAP) em Betim-MG é mostrada na
Tabela I.1.
Tabela I.1 - Composição típica do GLP produzido pela REGAP.
Componente % volume
Metano 0,01
Eteno 0,09
Etano 2,37
Propeno 22,28
Propano 19,13
i-Buteno 9,74
1-Buteno 5,62
Cis-2-Buteno 4,00
Trans-2-Buteno 6,35
Isobutano 15,46
n-Butano 13,94
1,3-Butadieno 0,17
i-Pentano 0,62
n-Pentano 0,22
Verifica-se, pela Tabela I.1, que o propeno é o componente presente em maior quantidade
no GLP produzido na REGAP, em torno de 22% em volume. Com relação à aplicação do
mundial, uma vez que é utilizado como matéria-prima para a produção de uma série de
derivados petroquímicos como o polipropileno, ácido acrílico, óxido de propeno, cumeno,
fenóis etc. O preço do propeno no mercado internacional gira em torno de US$/t 360,00,
enquanto o do GLP, em torno de US$/t 180,00. Como o preço do propeno é duas vezes
maior que o do GLP, torna-se interessante investigar a possibilidade de viabilização de um
investimento, pela REGAP, para a implementação de uma Unidade de Separação do
Propeno presente no GLP.
Diversas são as opções a ser investigadas para a utilização do propeno produzido
atualmente na REGAP, como pode ser observado através do esquema mostrado na Figura
1.1.
Figura 1.1 - Possibilidades de utilização do propeno contido no GLP da REGAP.
A REGAP pode optar por colocar o GLP no mercado sem extrair o propeno, como faz
propeno puro e o GLP separadamente. Como a diferença no preço entre o GLP e o propeno
puro é alta (relação 2:1), esta opção pode ser atrativa, ou seja, viável economicamente.
Porém, não existe, ainda, mercado local para o consumo do volume de propeno a ser
produzido, cuja oferta seria de 93.000 t/a. Neste caso, o investimento teria que considerar,
também, alternativas para o transporte do propeno puro produzido até o mercado
consumidor de propeno. Assim, pode-se imaginar a construção de um duto ligando a
REGAP até o mercado consumidor, ou então assumir um custo operacional de transporte
do propeno em caminhões-tanque.
Uma outra possibilidade a ser considerada trata-se do investimento pela PETROBRAS na
construção de uma Unidade de Produção de Polipropileno em Betim-MG, anexo à refinaria,
em parceria com um empreendedor externo. A vantagem deste negócio para a REGAP seria
a venda do propeno como matéria-prima de alto valor agregado. Para o empreendedor, as
vantagens no empreendimento estariam centradas na existência de um mercado local de
polipropileno, com crescente demanda, e a vantagem logística em relação aos seus
concorrentes que obtêm o polímero de outras regiões. Os possíveis obstáculos para essa
opção seriam a não absorção de toda a produção do insumo produzido e a existência de
uma economia de escala para as Unidades Produtoras de Polipropileno. Embora existam, no
mundo, unidades com capacidade de produção menores que 100.000 t/a de polipropileno, a
escala consagrada como mínima para estas unidades gira em torno de 200.000 t/a.
A análise destas alternativas é complexa e depende de critérios técnicos tais como mercado,
custo, demanda e tecnologia, além de critérios econômicos tais como incertezas do mercado
e da economia. A análise desse tipo de investimento pode ser feita por técnicas tradicionais
como o Fluxo de Caixa Descontado (FCD). Esse método de avaliação, apesar de ser
largamente utilizado para a análise de investimentos em empresas, não consegue captar as
opções embutidas no projeto, uma vez que não leva em conta as incertezas, nem assume um
gerenciamento ativo do projeto (Copeland e Antikarov, 2002). O indicador Valor Presente
expectativa de cenário do fluxo de caixa de um projeto considerando um gerenciamento
passivo durante o tempo de vida esperado do projeto (Dias, 1998).
Entretanto, como o mercado atual é caracterizado por mudanças, incertezas e constantes
interações competitivas, a realização do fluxo de caixa por essas técnicas pode diferir
significativamente do que seria previsto inicialmente pelo gerente do projeto. Assim,
grandes empresas vêm utilizando, cada vez mais, uma nova técnica de análise de
investimentos conhecida como Opções Reais. Esta técnica, formulada a partir de técnicas
tradicionais de análise de investimento, leva em conta o melhor momento, a
irreversibilidade de se investir e as incertezas associadas ao projeto, sendo, pois, de
previsão mais realista dos possíveis cenários futuros aos quais estarão sujeitos o andamento
do projeto.
Nesse contexto é que se insere a presente Dissertação de Mestrado, que pretende
desenvolver o estudo da viabilidade técnica-econômica para a implantação de uma linha de
produção de polipropileno em Betim-MG, utilizando como ferramenta a teoria das Opções
Reais. A opção real analisada nesta dissertação de mestrado é a de espera ou diferimento,
ou seja, determinar se é melhor investir agora ou adiar o investimento para a implantação
de um complexo industrial para a produção de polipropileno em Betim-MG.
Para fundamentar o estudo, é apresentada, no capítulo 2, a revisão da literatura contendo
informações sobre a importância da análise de investimentos, as estratégias e técnicas
tradicionais como o VPL, por exemplo. O estudo da técnica das “Opções Reais” é realizado
no capítulo 3, sendo apresentadas as diversas metodologias empregadas na análise de
investimento utilizando-se esta técnica.
No capítulo 4, são apresentados os dados referentes à produção de GPL na REGAP,
incluindo a descrição da Unidade de Separação de Propeno proposta para a REGAP, além
No capítulo 5, é apresentada a metodologia a ser empregada neste trabalho para avaliar a
viabilidade econômica de implantação de um complexo industrial para a produção de
polipropileno em Betim-MG utilizando-se a técnica de “Opções Reais”.
A análise e discussão dos resultados obtidos neste estudo são apresentados no Capítulo 6,
seguida das conclusões do trabalho reunidas no Capítulo 7. Por fim, no Capítulo 8, são
2 – ANÁLISE DE INVESTIMENTO
2.1 – A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DE INVESTIMENTO
O objetivo primordial de qualquer empresa reside na criação de valor para os seus
acionistas. Para tal, é necessário que os executivos da empresa façam investimentos tais que
retornem, no mínimo, o custo de oportunidade do capital ou a taxa de atratividade mínima
estabelecida pela empresa, determinada em função dos custos de capital próprio e de
terceiros. A maximização de riqueza do acionista determina a opção de investimento deste
em uma determinada empresa, em detrimento da opção de investimento em outras
empresas, ou ainda negócios com risco equivalente. Em outras palavras, a análise
econômica de projetos, que precede a tomada de decisões de investimento, está associada
ao objetivo da empresa no que concerne às funções de maximização de riqueza e utilidades,
aliada à minimização de custos.
Segundo Porter (1980), o investimento é o fator mais importante da vantagem competitiva.
A orçamentação de capital se preocupa com a alocação de recursos entre projetos de
investimento, numa base de longo prazo. A criação de valor para os acionistas depende,
portanto, da carteira de projetos de investimentos da empresa.
Define-se investimento como sendo o ato de incorrer em um custo imediato visando uma
recompensa futura, sendo esta a criadora de um valor futuro para os acionistas, que pode
ser tangível ou intangível. O investimento envolve o adiamento do consumo imediato a fim
de viabilizar o consumo em um período futuro. A troca entre o consumo hoje e consumo no
futuro, ou em outros termos, entre o consumo e o investimento, é o coração das escolhas
que um indivíduo ou empresa deve fazer, seja diretamente, seja implicitamente no seu dia a
Segundo Dixit e Pindyck (1994), a decisão do investimento se baseia nas seguintes
características:
- Decisão parcialmente ou completamente irreversível. O comprometimento
de recursos é, em geral, irreversível. Por exemplo, não se pode reaver todo o
valor despendido na aquisição de um determinado equipamento destinado
inicialmente para um dado projeto que foi parcialmente ou totalmente
desativado.
- Decisão cheia de incertezas sobre a recompensa futura. Este tipo de decisão
é típico quando existem incertezas sobre as receitas do fluxo de caixa do
projeto, como é o caso de incertezas técnicas e de mercado, por exemplo.
- Decisão no momento adequado. O investimento dificilmente é do tipo agora
ou nunca. Neste caso, pode-se adiar o investimento para que se obtenham
novas informações, contudo é preciso estar ciente de que as incertezas nunca
serão totalmente eliminadas.
Essas três características interagem entre si para determinar o melhor momento de decisão
de investimento para a empresa. Algumas decisões são opostas ao investimento, ou seja,
garantem benefício imediato a um custo incerto no futuro. Este tipo de investimento
também é irreversível, como, por exemplo, a exploração de madeiras de florestas tropicais.
Empresas envolvidas na construção de plantas industriais, na instalação de novos
equipamentos, ou ainda, pessoas que aprimoram seus estudos em programas de
capacitação, por exemplo, são investidores que almejam um benefício futuro. Esses
exemplos são claros, mas como citado por Dixit e Pindyck (1994), existem investimentos
menos óbvios, como, por exemplo, a decisão de parar uma fábrica que está dando prejuízo
Os recursos básicos de uma empresa são provenientes dos fluxos de caixa (capital próprio)
e de capital de terceiros (dívidas). Parte dos fluxos de caixa produzidos pertencem aos
acionistas, que são os proprietários da empresa com maior risco, devendo ter sua utilidade
individual maximizada. Uma empresa poderá garantir o interesse dos acionistas
simplesmente adotando como meta a maximização da riqueza destes. Cada acionista, então,
usa a sua parte para maximizar sua utilidade. A função crucial do gerenciamento é decidir
onde alocar os recursos disponíveis na organização: P&D, treinamento, aumento de
capacidade, sistemas de informação etc. Porém, como o volume de recursos disponíveis
para a carteira de investimento é finito, o gerenciamento deve decidir quais projetos serão
implementados.
2.2 – ESTRATÉGIA NA ANÁLISE DE PROJETOS DE INVESTIMENTO
A realização de um projeto é o resultado de um sistema de metas que se inicia com o
planejamento estratégico de uma companhia. Neste sentido, o investimento (premissas e
resultados) deverá ser coerente com o interesse estratégico da empresa.
Qualquer investimento em estudo situa-se dentro das combinações mostradas
Figura 2.1 - Classificação de um projeto quanto ao interesse estratégico
para a empresa e a sua rentabilidade.
Quadrante 1 - Situação ideal. Dificilmente um projeto conjuga interesses estratégicos e
econômicos de maneira favorável.
Quadrante 2 - Projeto sem interesse estratégico, mas com bom resultado empresarial.
Representa um desvio dos objetivos da empresa. Caso o projeto seja robusto, este sugere
novas oportunidades para a empresa, devendo a mesma rever suas estratégias ou
simplesmente descartar o projeto.
Quadrante 3 - Baixa rentabilidade, mas com interesse estratégico. São geralmente projetos
em pesquisa, plantas piloto, cujos resultados são obtidos a longo prazo. Nestes casos, é
necessária uma análise cuidadosa do real interesse estratégico do projeto.
No planejamento estratégico da Petrobras (Plano Estratégico Petrobras, 2003), as seguintes
diretrizes para a área petroquímica encontram-se definidas:
1- Atuar, através de parcerias, com gestão compartilhada, no negócio de
poliolefinas.
2- Associar-se a empresas detentoras de tecnologia para a produção de outros
petroquímicos.
3- Promover as sinergias entre os ativos de petroquímica do Cone Sul (Brasil e
Argentina).
4- Otimizar o portfolio petroquímico.
O investimento na produção de propeno/polipropileno na REGAP se encaixa em todos os
quatro itens da estratégia de negócios da Petrobras. A empresa é líder de produção de
polipropileno no Cone Sul, assim, estaria otimizando o seu portfolio se produzisse propeno
e propileno nas suas refinarias para o mercado interno, ou mesmo em parceria com outras
empresas através de gestão compartilhada. Atualmente, no Brasil, a Petrobras só produz e
comercializa o monômero propeno oriundo das Unidades de Craqueamento Catalítico e
Coqueamento Retardado nas seguintes refinarias: RLAM, REDUC, RECAP/RPBC.
Conforme apresentado no capítulo 1, o propeno produzido na REGAP está sendo queimado
como combustível no GLP. O destino mais nobre do propeno é como matéria-prima para a
fabricação de produtos químicos e petroquímicos, tais como polipropileno, acrilonotrila,
ácido acrílico, acrilatos, óxido de propeno, isopropanol, n-butanol etc. Esta atuação poderia
se dar na forma de parcerias com empresas que já operam com propeno e/ou propileno no
mercado mundial, com aquisição de tecnologia ou associação com empresas detentoras de
tecnologia. No caso da REGAP, estuda-se a possibilidade de implementação de uma rota de
produção de polipropileno a partir do propeno. O mercado de polipropileno é promissor em
Minas Gerais, já que o Estado se destaca na indústria automobilística, grande consumidora
deste polímero. Além disso, a integração da produção e do refino de petróleo com a
petroquímica pode criar um mecanismo de proteção denominado hedge, que
refino, preço do petróleo e do gás, pois os produtos petroquímicos agregam valor e
rentabilidade. Os grandes competidores do setor de exploração, produção e refino de óleo e
gás também atuam na área petroquímica.
A Petrobras busca um posicionamento na gestão de negócios com foco na integração da
cadeia petroquímica. O esquema da cadeia petroquímica nacional pode ser visto na Figura
2.2.
Figura 2.2 - Esquema da cadeia petroquímica nacional.
O Brasil possui 3 centrais de matéria-prima: (1) Braskem, localizada no pólo petroquímico
de Camaçari-BA, (2) COPESUL, na cidade de Triunfo-RS e (3) PQU, em Mauá-SP. Essas
empresas são, basicamente, geradoras de monômeros como propeno, etileno, butadieno,
benzeno, butenos etc., que são destinados para as Unidades Produtoras de Polímeros. As
centrais de matéria-prima são preparadas para consumir nafta ou gás natural para a
produção de monômeros básicos. As refinarias têm correntes com concentrações de
espécies em potencial para a geração de monômeros a partir de correntes geradas nas
unidades. No caso da REGAP, o propeno contido no GLP pode ser separado na Unidade de
Propeno, a ser construída na REGAP, e alimentado diretamente à indústria petroquímica
para a produção do polímero. Esta constitui uma das possibilidades analisada no presente
2.3 – TÉCNICAS PARA ANÁLISE DE INVESTIMENTO
Para se definir a carteira de projetos a ser implementada, a gerência das empresas utiliza
técnicas quantitativas e qualitativas. A análise de investimento é feita normalmente através
de modelos de avaliação do fluxo de caixa projetado. Dentre as técnicas disponíveis, o
Fluxo de Caixa Descontado (FCD) é a mais utilizada e, também, a que possui, aliado a sua
facilidade de aplicação, o maior apelo intuitivo. A técnica se baseia no cálculo dos
seguintes indicadores econômicos:
- VPL: Valor Presente Líquido
- TIR: Taxa Interna Retorno
- IL: Índice de Lucratividade
Esses indicadores são bastante recomendados na análise dos projetos de investimento.
Entretanto, outros indicadores também podem proporcionar informações adicionais
importantes, a saber:
- Tempo de Retorno do Investimento
- Ponto de Nivelamento
Todos esses indicadores serão discutidos a seguir.
2.3.1 – VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL)
O VPL consiste na soma algébrica dos custos e dos benefícios líquidos de um projeto
durante a sua vida econômica, trazidos à data de atualização do fluxo de caixa,
utilizando-se, para isto, uma taxa de desconto apropriada. O cálculo do VPL é expresso pela seguinte
equação:
( )
kn
k
k i
FC VPL=
∑
+=
1 / 0
em que FC é o valor genérico do fluxo de caixa líquido no período k (positivo se for
benefício, negativo se for custo), i é a taxa de desconto e k é o número de períodos da vida
econômica do projeto.
O fluxo de caixa livre do projeto deverá pagar as duas fontes de capital (dívida e capital
próprio) empregadas no projeto. Assim, o VPL positivo significa que a atualização dos
benefícios supera a dos custos estimados e seu montante representa o quanto a empresa
deverá ganhar se realizar o projeto, em comparação à não realização do mesmo. Em outras
palavras, representa o ganho adicional esperado à remuneração obtida pela aplicação do
dinheiro na taxa de desconto adotada. O VPL nulo significa que os fluxos de caixa do
projeto são exatamente suficientes para remunerar o capital investido, ou seja, dívida e
capital próprio. Já um VPL menor que zero significa que o projeto deve ser rejeitado. A
avaliação de projetos de investimento pela metodologia do VPL é consagrada na teoria e na
prática financeira.
Os recursos para o investimento são oriundos de duas fontes: capital próprio e capital de
terceiros. A dificuldade no cálculo do VPL está na estimativa da taxa de desconto a ser
utilizada, principalmente na determinação do custo de capital próprio e, até mesmo, na
projeção dos fluxos de caixa futuros. O cálculo dessa taxa deve considerar o benefício
fiscal do uso do capital de terceiros, custos de transação, custos de emissão de novos títulos
e custos referentes a dificuldades financeiras e subsídios. As principais técnicas utilizadas
para a determinação da taxa são o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) e a técnica
do Valor Presente Ajustado (VPA).
O CMPC se baseia no fato de que o projeto deve ser lucrativo o suficiente para pagar os
juros (líquido de benefício fiscal) do débito usado para financiá-lo e, adicionalmente, gerar
uma taxa de retorno esperada superior ao exigido pelos acionistas que também o financiam.
Desta forma, o CMPC é calculado como uma média ponderada entre o custo do capital
O VPA parte do cálculo do valor presente líquido, considerando inicialmente que o projeto
seja totalmente financiado por capital próprio, e ajusta o VPL ao financiamento do projeto.
Segundo Marreco (2001), o modelo mais utilizado para a estimativa do custo do capital
próprio é denominado Capital Asset Pricing Model (CAPM), que considera que o retorno
requerido de uma dada ação pelos acionistas pode ser estimado pela soma de duas parcelas,
a taxa livre de risco e o prêmio de risco do mercado, ponderado pela sensibilidade do
retorno do ativo em relação ao retorno do mercado. A fórmula para estimar o custo do
capital próprio pelo modelo CAPM é dada por:
) .( m f
f
p r r r
r = +β − (2.2)
em que:
p
r é a taxa de retorno do capital próprio,
f
r é a taxa livre de risco,
m
r é a taxa de retorno do mercado,
β = cov(rp −rm)/var(rm), representando a sensibilidade do retorno do ativo em
relação ao retorno do mercado, matematicamente dado pela relação entre a
covariância de r e p r pela variância dem r , e m
)
(rm −rf representa o prêmio esperado sobre o risco de mercado
Já o custo de capital de terceiros deve ser a taxa de longo prazo que reflete a taxa
atualmente demandada pelos credores. Isso ocorre porque as taxas de curto prazo não
incorporam as expectativas de longo prazo para a inflação (Rappaport, 1998).
Segundo Copeland e Antikarov (2002), o VPL é o indicador mais utilizado pelas grandes
empresas na tomada de decisões de investimento. Klammer (1972) relata que um
levantamento feito junto a 100 grandes empresas indicou que, em 1959, apenas 19% delas
aplicava o VPL, tendo este índice aumentado para 57%, em 1970. Em 1978, Schall et al.
(1978) tomaram uma amostragem de 424 grandes empresas e verificaram que 86% destas
2.3.2 – TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR)
A TIR é a taxa na qual os desembolsos (ou os valores negativos) igualam-se aos embolsos
(valores positivos) do fluxo de caixa. Matematicamente, a TIR é o valor que anula o VPL
do fluxo de caixa. Essa taxa é calculada obtendo-se as raízes da Eq. (2.1), ou seja:
( )
1 0/ 0
= +
∑
=k n
k
k i
FC (2.3)
Essa equação é resolvida por algoritmos matemáticos iterativos, uma vez que a TIR é
calculada obtendo-se as raízes de um polinômio de grau “n” que representa o número de
períodos do fluxo de caixa.
Caso o VPL calculado para uma determinada taxa de desconto seja maior que zero, tem-se
que a TIR é maior que a taxa de desconto utilizada, ou seja, existe um ganho em relação a
deixar o capital investido à taxa de desconto considerada. Portanto, o projeto irá pagar o
custo do capital próprio e o capital de terceiros e, ainda, haverá excedente de dinheiro. Caso
o VPL seja igual a zero, o projeto pagará o retorno mínimo exigido pelo capital próprio e o
capital de terceiros. Caso o VPL seja menor que zero, o projeto não é viável
economicamente, de acordo com a análise feita pelo fluxo de caixa descontado.
Conforme é mostrado no capítulo 3, técnicas mais atuais revelam que a decisão de
investimento baseada no VPL não é tão linear assim. Segundo Dias (1998), o gerente
poderá estar “engavetando” um bom projeto, descartando, assim, opções que possam estar
embutidas no projeto. Se as incertezas quanto ao fluxo de caixa do projeto forem elevadas,
o gerente de projeto pode trabalhar no sentido de obter novas informações que possam
2.3.3 – COMPARAÇÃO ENTRE VPL E TIR
Quando não há restrição orçamentária, o VPL constitui-se no melhor critério de seleção ou
ordenação de oportunidades de investimento. Porém, os orçamentos para investimento são
limitados. Na análise de projetos independentes, se dois projetos ou mais se mostram
atrativos, sendo que a realização de um implica na não realização do outro, pode existir um
conflito na tomada de decisão sobre em qual projeto será feito o investimento.
Dependendo da taxa de desconto utilizada na análise de investimento de dois projetos A e
B, pode-se obter a TIR do projeto A maior que a TIR do projeto B. Contudo, o VPL do
projeto B pode ser maior que o do projeto A. Essa situação ocorre, geralmente, quando há
uma diferença na escala, ou seja, quando o custo de um dos projetos é maior ou quando
houver diferença no perfil de distribuição dos fluxos de caixa ao longo do tempo. Neste
caso, o investidor permanece com a dúvida sobre qual critério adotar na tomada de decisão.
O método da TIR busca a eficiência dos recursos investidos, enquanto o método do VPL
busca a maximização da riqueza, ou seja, a criação de valor.
Há a hipótese de que a maximização de valor da empresa induz a escolha do VPL, que
retrata exatamente este aumento de valor. A técnica TIR tem como base a suposição de que
os fluxos de caixa gerados são reinvestidos ao valor apurado da TIR, que é um valor virtual,
não sendo possível esta possibilidade. Já o VPL pressupõe que os fluxos de caixa são
reinvestidos à Taxa Mínima de Atratividade (TMA), que é uma taxa para o investidor livre
de risco.
O fluxo de caixa convencional considera valores de investimentos negativos no início,
seguidos de valores positivos que identificam os benefícios líquidos ao longo da vida
econômica do projeto, ou seja, o fluxo apresenta uma única inversão de sinais com uma
única TIR que anula o fluxo de caixa. Podem ocorrer fluxos de caixa ditos não
convencionais nos quais alternam-se dispêndios e benefícios ao longo da vida econômica
com saídas de caixa. Já no fluxo de caixa convencional, apenas uma solução é obtida. Este
é mais um problema a ser considerado no uso da TIR como critério para decisão.
Em geral, as empresas utilizam os dois métodos, mas em caso de conflito, devido a esses
dois problemas relacionados à TIR, recomenda-se a utilização do VPL como principal
indicador econômico do projeto, principalmente quando se está analisando alternativas
mutuamente excludentes (Campos, 2001).
2.3.4 – ÍNDICE DE LUCRATIVIDADE (IL)
O índice de lucratividade (IL) é a razão entre o VPL e o investimento atualizado. Esse
indicador representa a intensidade com que o investimento é capaz de gerar valor por
Unidade de Investimento, sendo, pois, um indicador da rentabilidade do projeto. O
investimento é atualizado trazendo os desembolsos ao valor presente. O critério adotado de
decisão é:
- IL ≥ 1 , aceita-se a alternativa.
- IL < 1, rejeita-se a alternativa.
Assim, o projeto com VPL positivo deverá ser aceito pelo critério do IL, pois o projeto
remunera uma quantia maior que o investimento. O índice de lucratividade é utilizado em
complemento à TIR e ao VPL na seleção do melhor grupo de projetos realizáveis com um
determinado orçamento. Entretanto, devido à independência de projetos, trata-se de uma
solução imperfeita. Pode ocorrer no caso comparativo entre dois projetos que o projeto com
maior IL possuir um menor VPL. Portanto, mesmo no gerenciamento do portfolio de
2.3.5 – TEMPO DE RETORNO DO INVESTIMENTO
O tempo de retorno do investimento indica o período necessário para a recuperação do
capital investido. Esse indicador trata, portanto, de um critério de liquidez e não de
rentabilidade, uma vez que não reflete o comportamento do projeto após a recuperação do
capital investido, ou seja, não considera o que ocorre em boa parte da sua vida econômica.
Quando se compara projetos com o critério do tempo de retorno, corre-se o risco de rejeitar
projetos com melhor rentabilidade pelo critério do VPL, justamente pela desconsideração
do que ocorre com o fluxo de caixa após o período de retorno.
Empresas com pouca disponibilidade de caixa executam projetos que geram caixa nos
prazos mais curtos possíveis, mas o critério do tempo de retorno só deverá ser usado como
indicador suplementar ao VPL, à TIR e ao IL.
2.3.6 – PONTO DE NIVELAMENTO
O ponto de nivelamento representa o percentual da produção a ser comercializado que
permite recuperar os custos operacionais e os investimentos, ou seja, é o nível de produção
que torna o VPL igual a zero. Esse indicador é importante na análise de riscos associados
3 – OPÇÕES REAIS
A técnica de Opções Reais baseia-se no fluxo de caixa descontado, complementar à análise
empresarial de projetos de investimento. A aplicação dessa técnica é recomendada quanto
maiores forem as incertezas e as flexibilidades gerencias relacionadas ao projeto. Contudo,
tal metodologia não substitui o método do fluxo de caixa descontado, apenas pode
contribuir para enriquecer a avaliação empresarial do projeto.
O VPL subestima sistematicamente toda a oportunidade de investimento durante o tempo
de vida do projeto, pois é embasado em fluxos de caixa esperados. Assim, não leva em
conta a flexibilidade do valor. Na abordagem do VPL, como comentado anteriormente,
todo o projeto com VPL negativo é rejeitado, descartando possibilidades de prorrogação
onde se pode investir em novas informações que tornem o projeto viável. Como o VPL
assume um gerenciamento passivo de empreendimento, subestimando oportunidades que
possam ocorrer durante o tempo de vida do projeto, o gerente do projeto só espera que
ocorra aquilo que foi previsto no fluxo de caixa calculado, ficando passivo diante de novas
informações que possam vir a aparecer. Algumas vezes, o desempenho de um projeto pode
permitir que um segundo projeto, que não seria possível sem o primeiro, possa ser
implementado. Isso é comum em muitos projetos de pesquisa e desenvolvimento.
Considerada uma teoria ortodoxa por Dixit e Pindyck (1994), a técnica do VPL não
reconhece as implicações qualitativas e quantitativas entre irreversibilidade, incerteza e
escolha do momento de se investir.
Um exemplo simples citado por Copeland e Antikarov (2002) pode demonstrar a limitação
do uso do VPL na análise de um investimento. Suponha que possamos comprar um banco
hipotético que lhe permite depositar, hoje, um dólar e lhe garante, com absoluta segurança,
US$ 1,05 um ano depois. Pretende-se determinar qual o valor do banco hipotético hoje.
Pela avaliação do VPL, o banco não valeria nada pois só estaria oferecendo 5%, ao passo
que o mercado oferece 10%. O erro nesta avaliação reside no fato de que, enquanto os 5%
incerto, ou seja, poderá cair para um valor menor que 5% durante a vigência da avaliação (1
ano). Se isto acontecer, o investimento no banco seria lucrativo. Conclui-se, portanto, que a
análise pelo VPL é enganosa porque não leva em consideração o valor da opção e
flexibilidade que o banco hipotético oferece.
Outro exemplo citado por Dias (1998) enfatiza a limitação da análise do VPL. Sejam dois
campos de petróleo com 100 milhões de barris, ambos não desenvolvidos, e com VPL de
menos US$ 3 milhões, nas atuais expectativas do mercado. O campo A tem o direito de
exploração de 6 meses e o campo B de 3 anos. Pela análise do VPL, ambos os campos não
valeriam nada e nem haveria diferença de preço entre os mesmos. Mas é intuitivo perceber
que estes direitos têm um valor devido à incerteza e a opção de postergar o
desenvolvimento do campo. O VPL hoje é negativo, mas é possível que venha a ser
positivo no futuro. Além disto, o campo B é de maior valor, devido ao maior prazo de
expiração do seu direito. Quanto maior o prazo de expiração, maior será o valor da opção.
A análise econômica de projetos sempre usou ferramentas desenvolvidas para análise de
ativos financeiros (Dias, 1998). A teoria das opções reais surgiu a partir de uma analogia
com as opções financeiras. Uma opção financeira provê ao seu titular o direito (e não a
obrigação) de comprar ou vender um determinado ativo em uma data preestabelecida por
um preço determinado no contrato (preço de exercício). Em uma opção européia, o titular
só pode exercer o seu direito na data de expiração estabelecida no contrato. Já em uma
opção americana, o titular poderá exercer o seu direito de compra/venda em qualquer
momento, até a data do vencimento.
Tanto a abordagem do Fluxo de Caixa Descontado (FDC) quanto a das Opções Reais
consideram todos os fluxos de caixa ao longo da vida de um projeto. Ambas descontam os
fluxos de caixa para o presente e ambas usam o custo de oportunidade de mercado para o
capital. No entanto, o FDC é uma abordagem de opções reais sem considerar flexibilidade
No VPL, não são consideradas todas as variáveis importantes do negócio, mas somente o
valor presente dos custos fixos e o valor presente dos fluxos de caixa operacionais,
utilizando-se uma taxa de desconto ajustada ao risco. Na análise de opções reais, ao
contrário, além das considerações utilizadas no VPL, também são levadas em consideração
o tempo de expiração, incertezas técnicas, econômicas e as ações de outros investidores. A
análise pode ser vista como um problema de otimização, sendo a função objetivo o VPL,
que é desejado ser maximizado.
Dixit e Pindyck (1994) demonstraram que a adoção dos critérios do VPL como regra de
decisão isolada levam à rejeição de projetos que, quando analisados pela Teoria das Opções
Reais, seriam aceitos. Isso geralmente ocorre com projetos que têm opções, como projetos
de P&D. Os mesmos autores sugerem, ainda, um Valor Presente Líquido Expandido ou
Valor Presente Líquido Estratégico (VPLE), dado pela Eq. (3.1), considerando as incertezas
e opções embutidas no projeto.
VPLE = VPL + VO (3.1)
Em que VPLE é o Valor Presente Líquido Estratégico (expandido), VPL é o Valor Presente
Líquido tradicional e VO representa o Valor das Opções embutidas no projeto.
Alguns exemplos de decisão de investimento apoiados pela técnica de opções reais
envolvem: (1) a determinação do custo para se investir em uma flexibilidade, (2) o valor
que o produto deve alcançar para dar início a um projeto, (3) a possibilidade de
investimento em pesquisa de mercado, (4) a busca por uma tecnologia alternativa, incluindo
custo, que possa ser introduzida em determinado processo etc.
O Fluxo de Caixa Descontado estabelece investir em projetos com VPL > 0 e rejeitar
projetos com VPL < 0. A análise através das opções reais pode recomendar projetos
estratégicos e através de um gerenciamento ativo, iniciar investimentos seqüenciais para
projeto, ou seja, a informação possui um valor econômico e estratégico que pode mudar o
rumo do projeto. Muitos gerentes acreditam que incertezas são um problema e deveriam ser
evitadas. Se uma empresa está devidamente posicionada, ela poderia tirar vantagem das
incertezas. A incerteza tem o lado bom e o lado ruim.
Portanto, uma opção real é o direito, mas não a obrigação, de empreender uma ação (por
exemplo, diferir, expandir, contrair ou abandonar) a um custo pré-determinado que se
denomina preço de exercício, por um período pré-estabelecido – a vida da opção. Uma
oportunidade irreversível de investimento é parecida com uma opção de compra financeira.
De acordo com Trigeorgis (1995), os principais tipos de opção são:
- Opção de espera ou diferimento. Nenhum investimento é do tipo “agora ou
nunca”. Pode-se aguardar por novas informações, antes de investir, adiando,
assim, o início do projeto. Essa opção ocorre na maioria dos projetos em que
haja a possibilidade de adiar o seu início. Ela é importante em indústrias de
extração de recursos naturais, produtos de papel, fazendas etc.
- Opção de crescimento ou expansão. Pode-se pagar a opção de aumentar a
capacidade de um projeto. É uma opção de compra americana. Está embutida
em indústrias com geração de múltiplos produtos, de alta tecnologia e P&D.
Essa opção pode também ter uma importância estratégica, especialmente se
permitir à empresa capitalizar futuras oportunidades de crescimento.
- Opção de parada (e reinicio) de operação. É uma opção natural do projeto. A
decisão de parar a produção de uma fábrica é uma decisão de investimento. Se o
fluxo de caixa da empresa ou do projeto não está sendo suficiente para cobrir o
custo operacional, poderá ser melhor parar a produção de uma fábrica
temporariamente, especialmente se os custos de parar e retornar são pequenos,
- Opção de contração. Reduzir a dimensão de um projeto. Se as condições do
mercado são desfavoráveis relativo às previstas anteriormente, a empresa pode
operar abaixo da capacidade nominal ou até reduzir a capacidade, economizando
parte do investimento. Esse tipo de opção é particularmente valorizado na
introdução de um novo produto num mercado incerto.
- Opções de conversão. São opções de sair e entrar em um ramo de atividade, ou
de fechar e reabrir uma fábrica. Por exemplo, equipamentos geradores para
carga de pico, em geral turbinas alimentadas a gás, são ligados quando os preços
da energia elétrica aumentam, e desligadas quando os preços da eletricidade
diminuem.
- Opções de abandono. Se as condições de mercado declinam rapidamente, o
gerente pode abandonar a operação corrente definitivamente e revender os
equipamentos em um mercado de segunda mão. Esta opção tem importância em
indústrias de capital intensivo, tais como aviação e ferrovias, serviços
financeiros, introdução de novos produtos em mercados incertos etc.
- Opções corporativas de crescimento. Projetos na vida real sempre envolvem
várias opções presentes em combinação. O valor das opções combinadas pode
diferir da soma do valor das opções separadas. Apesar de um VPL negativo,
investimentos em infra-estrutura, pesquisa e desenvolvimento, potenciais
produtos secundários desenvolvidos durante a geração do produto principal,
podem criar opções estratégicas para a empresa.
Para facilitar o entendimento das várias opções embutidas em um investimento de capital, é
apresentado, a seguir, o exemplo proposto por Trigeorgis (1995). Uma grande companhia
de petróleo possui o direito de um ano de iniciar a perfuração de uma área não
desenvolvida, com potencial de reserva de petróleo. Inicialmente, o projeto requer certo
Em seguida, pode-se ter que investir na construção de facilidades para o processo de
perfuração. A extração do óleo poderá ser iniciada somente quando os primeiros
investimentos forem completados, ou seja, o fluxo de caixa somente será gerado a partir do
último investimento. Durante a construção, se as condições do mercado se deteriorarem, o
gerenciamento poderá escolher interromper qualquer futuro investimento. O gerenciamento
poderá também escolher reduzir a escala de operação, economizando uma parte do
investimento restante, se o mercado estiver fraco. Ao contrário, a unidade poderá ter seu
projeto ampliado se os preços do óleo sinalizarem uma elevação. A qualquer período do
tempo de construção, o gerenciamento poderá salvar uma parte do investimento vendendo a
planta ou os equipamentos, ou mesmo mudando o projeto para um uso alternativo. Uma
refinaria de óleo associada ao empreendimento poderá ser projetada com fontes alternativas
de energia para processar o óleo gerando uma variedade de produtos refinados. Esse tipo de
projeto apresenta uma variedade de opções reais.
Algumas empresas obtém suas opções de investimento como resultado de patentes ou
propriedades de terrenos ou recursos naturais – opções naturais presentes no negócio. Mas,
geralmente, elas surgem de conhecimento tecnológico, posição no mercado, reputação e
escala que são criados ao longo do tempo possibilitando a empresa investir produtivamente
enquanto outros indivíduos ou firmas não conseguem realizar. O mais importante é que tais
opções de investir são valorizadas. O valor da empresa é atribuído substancialmente às
opções presentes no negócio e à possibilidade de crescer no futuro em oposição ao capital
que a empresa possui.
A flexibilidade possui sempre um valor positivo, mas a questão é saber se o preço que se
paga por ela é justo ou não. É necessário reconhecer inicialmente que a técnica do FCD não
consegue captar esta flexibilidade e detectar quando a utilização das opções reais pode
alterar sensivelmente a resposta. Copeland e Antikarov (2002) ilustram bem esta situação
resposta, pois, segundo estes autores, quando há muita incerteza e quando os executivos
têm flexibilidade para reagir a ela, as opções reais são muito importantes. Se a rentabilidade
probabilidade de ser exercida e, portanto, terá baixo valor relativo. Já, se o VPL for muito
baixo, nenhuma opção salvará o projeto. Entretanto, para um VPL próximo de zero, o valor
da flexibilidade poderá fazer uma grande diferença.
3.1 – TRATAMENTO MATEMÁTICO DA TÉCNICA DE OPÇÕES REAIS
Ao se aplicar a técnica de opções reais, o primeiro passo consiste na identificação das
opções embutidas no projeto para, em seguida, escolher o modelo de valoração destas
opções e se obter o valor justo do prêmio. A Figura 3.1 resume o processo de
implementação e ferramentas para valorar uma opção.
Figura 3.1 - Processo de implementação para análise de uma opção real
(Amram e Kulatilaka, 1999).
Conforme se observa na Figura 3.1, existem três formas para o cálculo do valor das opções:
Simulações mediante processo estocástico. Essas formas de soluções são explicados
posteriormente, neste capítulo.
O valor de uma opção se relaciona com as variáveis definidas a seguir:
- Preço do ativo básico ou subjacente (S). Quanto maior o preço do ativo básico,
maior será a opção de compra e menor a opção de venda. O ativo básico ou
subjacente de uma opção financeira é um valor mobiliário como uma ação
ordinária ou um título, enquanto no caso de opções reais, o ativo subjacente é
algo tangível como, por exemplo, uma unidade de negócios, um equipamento
ou um projeto.
- Preço do exercício (K). Quanto maior o preço de exercício, maior será o preço
das opções de venda e menor o preço das opções de compra.
- Tempo de expiração (T). Representa o tempo entre a compra e a data de
exercício da opção. Quanto maior for o tempo de expiração, maior será o valor
tanto da opção de compra quanto da opção de venda.
- Volatilidade (σ). Mede o comportamento do ativo básico em relação ao
mercado. Quanto maior a volatilidade, maior o valor de uma opção, visto que o
comprador de uma opção perde, no máximo, o valor do prêmio pago pela opção,
sendo os seus ganhos ilimitados.
- Taxa livre de risco (r ). O aumento da taxa livre de risco implica em um f
aumento da opção de compra e uma redução da opção de venda, isto porque um
aumento na taxa livre de risco tende a aumentar a taxa de crescimento das
- Dividendos (δ). Esses reduzem o preço do ativo básico na data de sua
distribuição, tendo, portanto, o efeito de quanto maior for o pagamento de
dividendos, maior será o preço da opção de venda e menor o preço da opção de
compra.
A teoria das opções reais, assim como o VPL, foi motivada usando os conceitos do
mercado financeiro. As diferenças entre uma opção financeira uma opção real são
apresentadas mostradas na Tabela III.1.
Tabela III.1 – Opção financeira x opção real
Opções financeiras Opções reais
O ativo é do tipo financeiro: opção de
compra e opção de venda
O ativo é real ou produtivo: projeto de
P&D, equipamento, máquina, projeto de
produção de um remédio
São de curto prazo de expiração (< 1 ano) Podem ser até perpétuas
Preço de exercício certo Preço de exercício pode ser incerto
Não existe o tempo de construção Existe o tempo de construção
Segundo Lander e Pinches (1998) , a teoria das opções reais não está sendo amplamente
utilizada na prática para a tomada de decisão de investimento pelos seguintes motivos:
- Os modelos usados atualmente não são bem conhecidos e entendidos pelos
gerentes e técnicos. Além disto, gerentes, técnicos e até acadêmicos não possuem
habilidades matemáticas para usar os modelos de maneira confortável e/ou confiável.
- Muitas premissas para a modelagem são geralmente violados na prática da teoria
- As informações requeridas para o tratamento matemático limita o escopo de
aplicação.
De uma maneira geral, pode-se representar graficamente os resultados de um lançador e de
um comprador de opções de compra e venda das seguintes formas:
a) Comprador de uma opção de compra.
O comprador de uma opção de compra aposta na elevação do preço do ativo base S.
b) Lançador de uma opção de compra.
O lançador de uma opção de compra aposta na queda do preço do ativo base S.
Figura 3.3 - Lançador de uma opção de compra.
c) Comprador de uma opção de venda.
O comprador de uma opção de venda aposta na queda do preço do ativo base S.
d) Lançador de uma opção de venda.
O lançador de uma opção de venda não aposta na queda do preço do ativo base S.
Figura 3.5. - Lançador de uma opção de venda.
3.1.1 – RESOLUÇÃO DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS PARCIAIS
Para o desenvolvimento de um modelo matemático que descreva o comportamento de
investimentos mediante a teoria de opções reais, algumas hipóteses precisam ser
estabelecidas:
- Não há custos de transação ou impostos.
- Qualquer ativo pode ser comprado ou vendido em qualquer quantidade, com
seus preços seguindo processos estocásticos contínuo e estacionário.
- A ação objeto não rende dividendos durante o tempo de vida da opção.
- Existe um ativo livre de risco cuja taxa de retorno não varia com o tempo.
- A variância do retorno do ativo básico ou volatilidade é constante ao longo do
- A taxa de retorno do ativo básico obedece a uma distribuição log-normal.
Os principais modelos teóricos para a avaliação de opções reais são os modelos de Black e
Scholes (1973) e Cox et al. (1979).
3.1.1.1 – SOLUÇÃO ANALÍTICA: MODELO DE BLACK E SCHOLES
O modelo matemático proposto por Black e Scholes (1973) para a avaliação de
investimentos marcou uma nova era no mercado de opções, impulsionando o investimento
em opções e estudos de derivativos.
A idéia central no desenvolvimento do modelo reside na adoção de um portfolio constituído
de uma opção de compra européia, sendo que ∆ unidades do ativo base constitui um
portfolio livre de risco eliminado através de um mecanismo de hedge que reduz a exposição
ao risco. Por exemplo, se o preço do ativo básico cai, o preço da opção de compra sobe,
mantendo-se o valor do portfolio. O valor desse portfolioΠpode ser representado pela
seguinte equação:
S c+∆
− =
Π (3.2)
em que:
S = preço do ativo base, função do tempo, volatilidade e taxa de retorno esperada.
c = valor da opção de compra, função de S e tempo.
∆ = unidades do ativo base. Revela a parcela de uma ação protegida por uma opção.
Sendo ∆ a variação no preço da opção pela variação no preço do ativo base, a Eq. (3.2)
pode ser escrita na forma diferencial, dada por:
dS S c dc d
∂ ∂ + − =
Π (3.3)
De acordo com Dixit e Pindyck (1994), o preço do ativo básico se comporta de acordo com
dZ dt
S dS
.
. σ
µ +
= (3.4)
em que:
µ = taxa de retorno média esperada do ativo base (constante ao longo do tempo).
σ = volatilidade (constante ao longo do tempo).
dZ = termo que representa um processo de Wiener padrão.
O processo estocástico ocorre quando uma variável pode assumir qualquer valor no tempo.
Um tipo de processo estocástico muito simples e bastante usado em modelos de finanças é
o processo de Wiener (Dixit e Pindyck, 1994), também chamado movimento Browniano,
caracterizado por três propriedades. A primeira é ser um processo de Markov, onde o
passado não conta, sendo que todas as informações do preço do ativo estão contidas no seu
preço corrente. A segunda é ter incrementos independentes, ou seja, qualquer variação ∆S
no preço é independente da ocorrida em outro momento. A terceira é que as variações de
distribuição do ativo S têm distribuição normal com variância proporcional ao intervalo de
tempo ocorrido.
Matematicamente, em tempo contínuo, o processo de Wiener pode ser descrito como:
dt
dz=εt (3.5)
em que:
z = caracterização de um processo de Wiener.
t
ε = variável aleatória de distribuição normal, valor esperado 0 e variância 1.
dt = variação infinitesimal de tempo.
A Eq. (3.5) mostra que variações na variável z em um certo intervalo de tempo dt são
dadas pela multiplicação da raiz de dt por εt, que é uma retirada aleatória de uma
Dada as características de εt, de acordo com a Eq. (3.5), verifica-se que o valor esperado
da variação de z é zero e sua variância é proporcional ao intervalo de tempo da variação,
matematicamente representado por:
E (dz) = 0
Var (dz) = dt
O processo de Wiener tem distribuição normal com média 0. Pode-se generalizar o
processo acrescentando uma variável µ para tendência e outra σ para a variância.
Pode-se, portanto, escrever matematicamente um movimento Browniano com tendência através
da seguinte equação:
dZ dt
dS=µ. +σ. (3.6)
Segundo a Eq. (3.4), o preço do ativo básico é função de duas parcelas: a primeira
representa uma média histórica de crescimento do ativo S, que é a contribuição
determinística da equação, e a segunda representa a contribuição probabilística da variação
de S.
A Eq. (3.4) pode ser expandida utilizando-se o lema de Itô, desenvolvido para o cálculo
estocástico. Este lema é utilizado no cálculo estocástico, assim como a série de Taylor se
aplica no cálculo ordinário, e será explicado a seguir.
Seja x uma função de t e z dada por:
dz t x b dt t x a
dx= ( , ) + ( , )
De acordo com o lema de Itô (Dixit e Pindyck, 1994), para esta expressão:
dz x c t x b dt x c t x b t c x c t x a dc ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ = ( , ) 2 ) , ( ) , ( 2 2 2
Assim, aplicando o lema de Itô na Eq. (3.4), tem-se:
dz S c S dt S c S t c S c S dc ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ = . . 2 . . . 2 2 2 2 σ σ
Substituindo a Eq. (3.7) em (3.3), obtém-se, após algum algebrismo: dt S c S t c d ∂ ∂ + ∂ ∂ − = Π 2 2 2 2 . 2 . σ (3.8)
Logo, de acordo com a Eq. (3.8), a variação no valor do portfolio livre de risco, depende
somente do tempo e do preço do ativo básico, uma vez que foi eliminado o termo aleatório
dz. O portfolio livre de risco deverá render, pelo menos, a taxa livre de risco, taxa esta
observável no mercado. Nesse caso, a variação do portfolio Π é dada por:
dt r
dΠ = f.Π. (3.9)
Substituindo as Eqs. (3.3) e (3.9) na Eq. (3.8), obtém-se a equação de Black-Scholes
(1973), na forma diferencial:
0 . . . . 2 2 2 2 2 = − ∂ ∂ + ∂ ∂ + ∂ ∂ c r S c S r S c S t c f f σ (3.10)
É importante observar que a equação de Black-Scholes não traz o termo do retorno médio
esperado µ, mas somente a volatilidade do ativo básico σ.
A resolução da equação diferencial parcial (3.10) para uma opção de compra c obedece as
seguintes condições:
(1) Condição inicial
c (S,t) = máximo (0,S-K) em t=T, ou seja, no tempo de exercício T, o valor da opção ou
vale 0 (virou pó) ou vale a diferença entre o preço do ativo básico e o preço de exercício
K.
(2) Condições de contorno
Se S=0, c=0 para qualquer t ≤ T