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Adolescentes portadores de deficiência visual: percepções sobre sexualidade.

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Academic year: 2017

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ADOLESCENTES PORTADORES DE DEFI CI ÊNCI A VI SUAL: PERCEPÇÕES SOBRE SEXUALI DADE

Giovana Raquel de Moura1 Eva Néri Rubim Pedro2

Mour a GR, Pedr o ENR. Adolescent es por t ador es de deficiência v isual: per cepções sobr e sex ualidade. Rev Lat ino- am Enferm agem 2006 m arço- abril; 14( 2) : 220- 6.

Est e est udo é de nat ur eza ex plor at ór io- descr it iv a e t ev e por obj et iv o conhecer as per cepções dos adolescent es port adores de deficiência visual acerca de sua sexualidade. Os dados foram colet ados nos m eses de m aio e j unho de 2004, por m eio de ent revist as sem i- est rut uradas com oit o adolescent es deficient es visuais freqüent adores de um a inst it uição em Port o Alegre, RS, Brasil. As inform ações foram subm et idas à t écnica de análise de cont eúdo de Bardin, das quais em ergiram duas cat egorias principais: Sexualidade e Modificações sociocom port am ent ais. Observou- se que os suj eit os carecem de inform ações a respeit o de diversas quest ões que envolvem a sexualidade com o conhecim ent os m orfofisiológicos, psicoafet ivos, cuidados prevent ivos. Os pr ofissionais da saúde, pr incipalm ent e enfer m eir os, necessit am de pr epar o par a abor dar essas quest ões e cont ribuir para o desenvolvim ent o da sexualidade saudável desses indivíduos.

DESCRI TORES: adolescent e; sex ualidade; cegueir a; enfer m agem

VI SUALLY I MPAI RED TEENAGERS: PERCEPTI ONS ON SEXUALI TY

This explorat ory- descript ive st udy aim ed t o reveal percept ions of visually im paired t eenagers on t heir sexualit y. Dat a was collect ed from May t o June 2004 by m eans of sem ist ruct ured int erviews, carried out wit h eight visually im paired t eenagers st udying at an inst it ut ion in Port o Alegre, Brazil. The collect ed inform at ion w as analy zed t hr ough cont ent analy sis accor ding t o Bar din. Tw o m ain cat egor ies em er ged: Sex ualit y and Socio- behavioral changes. The research part icipant s lack inform at ion on various sexualit y- relat ed issues, such as: knowledge on physiology, anat om y, affect ion and prevent ive care. Healt h professionals, especially nurses, need t o be prepared t o deal wit h t hese issues and t o cont ribut e t o t he developm ent of a healt hy sexualit y of t hese individuals.

DESCRI PTORS: adolescent ; sexualit y; blindness; nursing

ADOLESCENTES PORTADORES DE DEFI CI ENCI A VI SUAL: PERCEPCI ONES SOBRE SEXUALI DAD

Est e est udio ex plor at or io- descr ipt iv o t uv o por obj et iv o conocer las per cepciones de adolescent es portadores de deficiencia visual acerca de su sexualidad. Los datos fueron recogidos en m ayo y j unio de 2004, m ediante entrevistas sem iestructuradas con ocho adolescentes deficientes visuales que frecuentan una institución en Por t o Alegr e, Rio Gr ande do Sul, Br asil. Las infor m aciones fuer on som et idas a la t écnica de análisis de con t en id o seg ú n Bar d in . De ellas em er g ier on d os cat eg or ías p r in cip ales: Sex u alid ad y Mod if icacion es sociocom port am ent ales. Se puede observar que a los suj et os les falt an inform aciones con respect o a diversas cuestiones que involucran la sexualidad, tales com o conocim ientos m orfofisiológicos, psicoafectivos y de cuidados pr ev ent iv os. Los pr ofesionales de la salud, pr incipalm ent e los enfer m er os, necesit an de pr epar ación par a abordar esas cuest iones y cont ribuir al desarrollo de una sexualidad saludable para esos individuos.

DESCRI PTORES: adolescent e; sexualidad; ceguer a; enfer m er ía

1 Enferm eira, e- m ail: giovanam oura@pop.com .br; 2 Enferm eira, Dout or em Educação, Professor Adj unt o da Escola de Enferm agem da Universidade Federal

(2)

I NTRODUÇÃO

D

eficiência v isual é um t er m o em pr egado p ar a r ef er ir - se à p er d a v isu al q u e n ão p od e ser co r r i g i d a co m l e n t e s p o r p r e scr i çã o r e g u l a r( 1 ). Com preende t ant o a cegueira t ot al, ou sej a, a perda t o t a l d a v i sã o n o s d o i s o l h o s, q u a n t o a v i sã o su b n o r m a l , q u e é u m a i r r ev er sív el e a cen t u a d a dim inuição da acuidade visual que não se consegue corrigir pelos recursos ópt icos com uns( 2).

Se n d o a a d o l e scê n ci a u m p e r ío d o q u e com preende grandes m odificações no processo vit al, en t r e elas a sex u alid ad e, su r g iu o in t er esse em con h ecer com o ocor r e essa per cepção n os j ov en s com deficiência visual.

A sexualidade talvez se constitua em um dos tópicos m ais im portantes e m ais difíceis, tanto para o pr ópr io adolescent e e par a seus pais, com o par a a sociedade com o um todo( 3). A opinião popular estende a deficiência para a sexualidade do indivíduo, tratando o portador de deficiência com o um ser de sexualidade incom pleta, vendo- o com o eterna criança, o que gera a est igm at ização da sexualidade desses indivíduos( 4). Se encarar a sexualidade j á é um processo d if ícil p ar a os ad olescen t es d ot ad os d e t od os os sent idos, que t eoricam ent e se enquadram no m odelo d e “ n or m alid ad e”, p r econ izad o p ela m íd ia e p ela so ci ed a d e, co m o ser á essa ex p er i ên ci a p a r a o s j ovens port adores de deficiência visual que, além de a d o l e sce r, p r e ci sa m e n f r e n t a r p r e co n ce i t o s e est igm as? Com o ser á que esses j ovens, por t ador es d e d ef iciên cia v isu al, p er ceb em su a sex u alid ad e? Essa s e o u t r a s q u e st õ e s l e v a r a m a s a u t o r a s a i n v e st i g a r a t e m á t i ca , t e n d o e m v i st a q u e , a o r e a l i za r e m a t i v i d a d e s j u n t o a a d o l e sce n t e s, p e r ce b e r a m m u i t a s i n q u i e t a çõ e s e d ú v i d a s. Perceberam que várias das orient ações fornecidas a e ssa p o p u l a çã o é d e b o a q u a l i d a d e v i su a l , pr opor cionando e inst igando debat es e discussões. Quest ionaram , ent ão, com o seria esse processo em a d o l e sce n t e s co m n e ce ssi d a d e s e sp e ci a i s e selecionar am a deficiência v isual com o foco de seu est udo.

O indivíduo portador de deficiência visual tem cerceado seu acesso a inform ações sobre a educação para a saúde, visto que essas, em sua m aioria, utilizam a v isão com o est r at égia de com unicação( 5). Assim , se n d o a e n f e r m a g e m u m a ci ê n ci a q u e a t u a n o p r o ce sso d e cu i d a r, ca b e a o s e n f e r m e i r o s desenvolverem recursos que facilit em a com unicação

com o deficiente visual para que os m esm os se tornem m ais independent es no seu aut ocuidado.

D a d o e sse co n t e x t o , d e v e - se a ssu m i r a r e sp o n sa b i l i d a d e j u n t o à so ci e d a d e e n q u a n t o cu i d a d o r es, p esq u i sa d o r es e ed u ca d o r es p a r a a sa ú d e , co n t r i b u i n d o p a r a o d e se n v o l v i m e n t o e in t eg r ação social d os ad olescen t es p or t ad or es d e d e f i ci ê n ci a v i su a l . Re f l e t i n d o so b r e o p a p e l d o e n f e r m e i r o , e n q u a n t o u m e d u ca d o r e m sa ú d e , v isualiza- se, nesse cont ex t o do deficient e v isual, a possibilidade de se dim inuir os conflitos e inquietações que acom panham esses indiv íduos e, dessa for m a, auxiliá- los no exercício de um a sexualidade livre de pr econceit os e m al- ent endidos.

Assi m , e sse e st u d o t e v e co m o o b j e t i v o conhecer quais as percepções dos adolescent es com deficiência visual acerca de sua sexualidade.

METODOLOGI A

Est a é um a pesquisa do t ipo ex plor at ór io-descrit ivo com abordagem qualit at iva.

O est u do desen v olv eu - se n o Cen t r o Lou is Braille em Port o Alegre, RS, Brasil. O Cent ro é um a inst it uição pública, que visa a prom oção da inclusão social de pessoas por t ador as de deficiên cia v isu al ( cegos e de visão subnorm al) , através da reabilitação. A população do estudo foi com posta por oito adolescen t es por t ador es de def iciên cia v isu al qu e fr eqüent av am o Cent r o Louis Br aille, sendo quat r o suj eitos do sexo m asculino e quatro do sexo fem inino. Part iciparam do est udo adolescent es com idades que variaram entre 14 e 20 anos. Os critérios de inclusão ut ilizados for am os seguint es: ser em adolescent es por t ador es de deficiência v isual - independent e de ser essa congênit a ou adquir ida - alfabet izados, e cu j o s p a i s e / o u r e sp o n sá v e i s a u t o r i za sse m a part icipação. Excluíram - se do est udo os adolescent es port adores de deficiência neurológica grave.

Pa r a a co l e t a d o s d a d o s, o i n st r u m en t o u t i l i za d o f o i a e n t r e v i st a se m i - e st r u t u r a d a . As e n t r e v i st a s o co r r e r a m e m d a t a s p r o g r a m a d a s, conform e a disponibilidade dos suj eit os, em espaço r e se r v a d o n a I n st i t u i çã o , d e f o r m a i n d i v i d u a l , r espeit ando a pr ivacidade daqueles.

(3)

Ap ó s o t é r m i n o d a s e n t r e v i st a s, a pesquisadora procedeu ao esclarecim ento das dúvidas ap r esen t ad as p el o s ad o l escen t es. Pr est ar am - se, t a m b é m , i n f o r m a çõ e s a d i ci o n a i s q u e v i e r a m a co m p l e m e n t a r a s r e sp o st a s e m i t i d a s p e l o s adolescen t es, dem on st r an do o papel edu cat iv o do est udo.

As i n f o r m a çõ e s o b t i d a s p o r m e i o d a s entrevistas foram subm etidas à técnica de análise de co n t e ú d o( 6 ). A t r a n scr i çã o d o s d e p o i m e n t o s co n st i t u ír a m a s ca t e g o r i a s e su b ca t e g o r i a s i d e n t i f i ca d a s a p ó s a r e a l i za çã o d a s e t a p a s preconizadas pelo m ét odo. A et apa de análise prévia const it uiu- se de várias leit uras do m at erial colet ado; a exploração do m at erial const it uiu- se na codificação com o obj et ivo de ident ificar no t ext o os núcleos de sent ido e, post eriorm ent e, a et apa de agrupam ent o dos dados e classificação com seleção das categorias, as quais se denom inaram Sexualidade e Modificações sociocom por t am ent ais.

Par a at ender as consider ações bioét icas do est udo, o proj et o foi aprovado pelo Com it ê de Ét ica em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande d o Su l - UFRGS, se n d o e l a b o r a d o u m Te r m o d e Consent im ent o Livre e Esclarecido ent regue aos pais e / o u r e sp o n sá v e i s p e l o s a d o l e sce n t e s. Al é m d a aut or ização dos pais/ r esponsáv eis, leu- se o t er m o d e con sen t im en t o, em v oz alt a, n a p r esen ça d os ent revist ados para que os m esm os concordassem e assinassem . Par a a m anut enção do anonim at o dos suj eit os os m esm os for am denom inados com o S1 , S2, S3 sucessivam ent e.

NÚCLEOS TEMÁTI COS

Sex u alidade

Nessa cat egor ia os adolescent es enfocar am v ár ias t em át icas:

- Alt er ações m or fofisiológicas

Em r elação às alt er ações m or fofisiológicas decor r ent es da adolescência, os j ov ens deficient es v i su ai s ap on t ar am d i v er sas m od i f i cações q u e se processavam em seus corpos, segundo dem onst ram os seguint es depoim ent os.

Eu com ecei a criar seio, porque eu não tinha, com ecei a

ficar m enst ruada ( S2) .

Olha, eu t ô com eçando a criar barba, a voz engrossou

m ais ( S3) .

Na passagem da infância para a idade adulta, um dos aspectos peculiares é a m aturação fisiológica. Nesse m om ent o do ciclo vit al, o hipot álam o passa a est im ular a hipófise par a a pr odução de hor m ônios do crescim ent o e am adurecim ent o, fazendo com que ocorra o desenvolvim ent o das caract eríst icas sexuais secundár ias( 7).

Ap e sa r d e n ã o p o d e r e m e n x e r g a r a s m u d a n ça s e m se u s co r p o s, o s a d o l e sce n t e s port adores de deficiência visual percebem que est ão cr escen d o e q u e seu co r p o se m o d i f i ca . No t a m est r ut ur as que ant es não possuíam , com o os seios para as m eninas ou a barba para os m eninos. Esse fat o é com preensível, pois as m odificações biológicas q u e ca r a ct e r i za m e sse p r o ce sso p r o p i ci a m a experiência de um a série de eventos psicológicos que cu lm in am n aq u ilo q u e se d en om in a aq u isição d e ident idade sexual( 8). Além disso, ouvem com ent ários de out r as pessoas e dão- se cont a de m udanças no com port am ent o dos out ros em relação a eles, com o dem onst ra a seguint e fala.

[ ...] eu vi que o m eu corpo com eçou a desenvolver m ais, quando eu vi que os guris se im portavam m ais com isso, com

bunda, peito, coxa ... assim [ ...] ( S1) .

Em r e l a çã o à m e n st r u a çã o o s su j e i t o s r elat ar am :

[ ...] não sei, é um sangue noj ent o ( S1 fem inino) .

[ ...] ninguém nunca m e disse, eu sei que com m ulher pode acontecer ( S4 m asculino) .

Os a d o l e sce n t e s d e m o n st r a r a m p o u co conhecim ent o acerca da fisiologia da m enst ruação e seu papel no ciclo r epr odut iv o. Os m eninos sabem que é algo que faz parte do desenvolvim ento fem inino e, port ant o, só acont ece com as m ulheres, algum as m e n i n a s a sso ci a m co m sa n g u e / sa n g r a m e n t o e r efer em ser algo noj ent o, dem onst r ando desagr ado q u an d o m en cion am esse san g r am en t o. Am b os os sexos, porém , t êm vaga idéia sobre a finalidade da m en st r u ação.

Apesar de as adolescent es que part iciparam do est udo j á t er em m enst r uado, algum as m eninas r ev el ar am q u e n ão so u b er am co m o p r o ced er d a prim eira vez que isso acont eceu com elas.

[ ...] eu só falei, tá - Fiquei m enstruada - , apesar de eu

pensar: bá, e agora? (S5).

(4)

[ ...] eu penso que esperm atozóide é um a espécie de

horm ônio, eu acho que o hom em produz, a função seria pra relação

dos dois, se j unta no útero, que é o horm ônio da m ulher e assim

cria a célula que dá a vida ( S3, m asculino) .

Ah, eu não sei m uito bem , é do hom em [ ...] serve pra

fecundação, um a coisa assim ( S4, m asculino) .

A m aioria dos adolescentes dem onstrou saber que os esper m at ozóides est ão associados ao sex o m a scu l i n o , p o r é m h o u v e m u i t a co n f u sã o e m r esponder o que são ( células, hor m ônios) e qual a sua função, dem onst rando seu pouco conhecim ent o n o q u e d i z r e sp e i t o à f i si o l o g i a d a r e p r o d u çã o , principalm ent e em se t rat ando do corpo do out ro.

O co r p o d o o u t r o , p a r a o p o r t a d o r d e deficiência visual, é um m istério que m uitas vezes só é d e sv e n d a d o co m a e x p e r i ê n ci a se x u a l , principalm ent e para os que não t êm irm ãos do sexo opost o, pois, at é t ocar em alguém do out ro sexo, o deficiente visual não tem a real idéia de com o ele se configura( 4).

Ta m b é m h o u v e co n f u sã o p o r p a r t e d o s m e n i n o s q u e , m e sm o sa b e n d o se t r a t a r e m o s esperm atozóides de algo que faz parte de seu próprio cor p o, d em on st r am d esin f or m ação acer ca d e su a função. Na adolescência, o corpo sofre profundas e rápidas t ransform ações. A part ir desse fat o biológico, afirm a- se que as m odificações escapam ao cont role do adolescent e, não só exigindo reconst rução da sua a u t o - i m a g e m , co m o t a m b é m i n f l u e n ci a n d o , sobr em aneir a, na const r ução de sua ident idade, ou sej a o conhecim ent o de si m esm o( 9). Do pont o de v ist a de adolescent e por t ador de deficiência v isual, acr edit a- se que a nova for m a de se per ceber sofr e influência ext er na. A desinfor m ação sobr e a função do seu corpo pode ser visualizada no depoim ent o de um m enino.

Esperm atozóide é aquele que se encontra no óvulo [ ...]

parece que serve para im pedir a gravidez ( S6) .

O suj eito possui um a vaga noção sobre o que sej a esperm at ozóide e t ent a reunir as inform ações, a fim de form ar sua opinião sobre o t em a.

- Relações afet iv o- sex uais

Nest a t em át ica os j ovens deficient es visuais m anifest aram - se acerca das relações afet ivo- sexuais, posicionando- se frent e ao nam oro e ao “ ficar ”.

Os d e p o i m e n t o s d e m o n st r a m b e m su a s per cepções.

[ ...] ficar é só ... t u fica um dia e t u não conhece a

pessoa, não tem com prom isso de nada, tu pode ficar só por um as

horas, t u pode só dar beij o e t chau ( S5, fem inino) .

Nam orar é quando é um a coisa séria, com com prom isso,

que tem intim idade [ ...] nam orado sério assim m esm o, de levar

em casa, de conhecer os m eus pais [ ...] ( S5, fem inino) .

Os adolescen t es por t ador es de def iciên cia v isual fazem clara dist inção ent r e ficar e nam orar. Ficar est á associado a u m m om en t o apen as, sem co m p r o m i sso o u cr i ação d e v ín cu l o . Já n am o r ar r ef let e u m env olv im en t o m aior, u m com pr om isso, t or na- se algo m ais sér io, associado à fidelidade e int im idade. A m aior ia dos ent r ev ist ados r ev elou j á t e r “ f i ca d o ” co m a l g u é m o u t e r t i d o a l g u m n am or ado( a) .

Um a das entrevistadas dem onstrou tendência à negação quando se abordou o t em a nam oro/ ficar, com o dem onst ra a sua fala.

Nam orado, nunca! Nem quero t er, nem nunca fiquei,

nem vou ficar com ninguém [ ...] ( S2, fem inino) .

Essa posição do suj eito pode j ustificar- se pelo fat o de qu e o adolescen t e por t ador de deficiên cia v isu al, im possibilit ado de se en gaj ar n os padr ões est ét icos preconizados pela sociedade, passa a agir com o o est ereót ipo que carrega, ou sej a, com o um ser assexuado e sem desej o, respaldando com isso as expect at ivas dos dem ais a seu respeit o( 10). - Con h ecim en t os sob r e an t icon cep ção e d oen ças sex ualm ent e t r ansm issív eis

Nessa t em át ica, em r elação aos m ét od os an t icon cep cion ais, os ad olescen t es en t r ev ist ad os m anifest aram - se com o apresent ado a seguir.

Os anticoncepcionais são m edicam entos para prevenir

a gravidez, pra m ulher ter m enos chance de engravidar ( S6,

m asculino) .

São pílulas para evitar que a m ulher engravide ( S1,

fem inino) .

Em bora possuam o conhecim ent o de que os m ét odos an t icon cepcion ais ex ist em e saibam cit ar nom es, a m aioria dos suj eit os revelou nunca t er t ido o p o r t u n i d a d e d e m a n u se a r e sse s m é t o d o s e d e sco n h e ce r a m a n e i r a a d e q u a d a d e u sá - l o s, confor m e dem onst r am suas falas.

[ ...] cam isinha eu já peguei um a, um a vez, m as fechada,

não sei bem com o é ( S4, m asculino) .

[ ...] no colégio têm palestras, assim , alguém lá na frente

m ost ra, no m eu caso não adiant a m uit o ( S8, m asculino) .

(5)

A cultura sexual de m assa é quase restrita a est ím u los v isu ais. Falt am n o Brasil p r og r am as d e educação sex ual adapt ados ao deficient e v isual. Já que esses indivíduos não podem aprender por im itação v isual, o ideal ser ia que t odos os m ov im ent os lhes f o sse m d e m o n st r a d o s e co m e l e s j u n t a m e n t e realizados, explorando- se, dessa form a, os sent idos rem anescent es do deficient e visual, t at o e audição, de m odo a cont r ibuir par a o m elhor ent endim ent o das inform ações( 4,12).

A criação de espaços para esses j ovens deve se const it uir de m eios que lhes possibilit em falar o que sentem para saciar suas necessidades em ocionais e de desenvolvim ent o at ravés de at ividades t écnicas e/ ou pr át icas pela educação alt er nat iv a, pr ogr am as de t reinam ent o vocacional e elaboração de proj et os de vida( 11).

Em r e l a çã o à s d o e n ça s se x u a l m e n t e t r an sm issív eis, r espon der am com os depoim en t os seguint es:

São doenças que passam através do sexo, sexo sem

cam isinha ( S1, fem inino) .

É o vírus da AI DS, né, é o HI V [ ...] ( S2, fem inino) .

Apesar de dem onstrarem certo conhecim ento acerca das DSTs, alguns suj eitos ainda fazem confusão com relação às form as de cont ágio, o que pode ser percebido com o que se lê.

[ ...] não pode beber no m esm o copo que a outra pessoa

bebeu, não pode usar a m esm a seringa da outra pessoa, aí pega

doença (S2, fem inino).

[ ...] essas doenças, nós pegam os quando a pessoa usa

o m esm o tipo de escova de dente, usa os m esm os obj etos, daí é

assim que acont ece ( S6, m asculino) .

Per cebe- se que os adolescent es deficient es visuais apr esent am desconhecim ent o e infor m ações er r ôn eas com r elação às f or m as d e con t ág io d as d oen ças sex u alm en t e t r an sm issív eis. Os m esm os r e f e r e m q u e a ú n i ca f o r m a d e i n f o r m a çã o q u e possuem a esse respeit o lhes é t ransm it ida por m eio de out ras pessoas. Pelas falas dos suj eit os pode- se per ceber qu e n em sem pr e essas in f or m ações são co r r e t a s. I sso se a g r a v a d e v i d o à ca r ê n ci a d e m at er iais in f or m at iv os r elacion ad os a essa ár ea, adapt ados ao deficient e visual, dificult ando o acesso dos m esm os a inform ações precisas.

Em se t r a t a n d o d e ed u ca çã o em sa ú d e, principalm ent e sexualidade, a lit erat ura em braile é esca ssa , o s r ecu r so s d i sp o n ív e i s d e st i n a m - se a pessoas vident es, sendo as inform ações t ransm it idas

d e f o r m a b a st a n t e su p e r f i ci a l e n ã o a t e n d e n d o adequ adam en t e às n ecessidades de u m deficien t e visual( 5).

A educação par a a saúde é definida com o “ [ . . . ] u m p r o cesso p l a n i f i ca d o e si st em á t i co d e com unicação e de ensino- aprendizagem orient ado a f aci l i t ar a aq u i si ção , esco l h a e m an u t en ção d as práticas saudáveis e dificultar as práticas de risco”( 13). Os problem as que at ingem os adolescent es co m o g e st a çã o i n d e se j a d a , a b o r t o , d o e n ça s sex ualm ent e t r ansm issív eis, HI V/ AI DS são alv o de preocupação ent re form uladores de polít icas, pais e educadores de um m odo geral. O preparo dos j ovens p ar a o ex er cício sau d áv el d a sex u alid ad e r eq u er int ervenção planej ada por part e dos profissionais da saúde e da educação que est ej am fundam ent adas em u m a con cepção de adolescên cia, sex u alidade, educação sexual de m odo a at ender a int egralidade hum ana, em que a sex ualidade sej a com pr eendida co m o u m a d a s e x p r e ssõ e s q u e e n v o l v e a f e t o s, sent idos, desej os, com unicação e criação( 14- 16).

Modificações sociocom por t am ent ais

Ne ssa ca t e g o r i a su r g i u a t e m á t i ca Necessidade de aut o- afirm ação. Ent ende- se para os d e f i ci e n t e s v i su a i s co m o a n e ce ssi d a d e d e se r r econ h ecido n a su a con dição, com seu s dir eit os e d e v e r e s, l i m i t e s e p o ssi b i l i d a d e s e se a f i r m a r / r econhecer enquant o cidadão.

- Necessidade de aut o- afirm ação

Em r el ação a essa t em át i ca, o s su j ei t o s relat aram m aior liberdade/ aut onom ia com o um a das pr incipais m odificações que est av am ex per enciando en qu an t o adolescen t es, con f or m e dem on st r am as falas dos suj eit os.

Antes eu só ficava em casa, eu tava enjoado de depender

dos m eus pais [ ...] agora eu saio um pouco ( S6, m asculino) .

[ ...] deu vontade de aprender as coisas, se desenvolver,

cam inhar na rua, m udou t udo, assim ( S7, fem inino) .

(6)

Muitos deficientes visuais são “ educados” para serem indefesos e dependentes, sendo- lhes im pressa, pelas próprias fam ílias, a idéia de que são inábeis e incapazes( 17). I sso pode ser percebido nas falas dos suj eit os:

Com m eus onze pra doze (anos) eu com ecei a entrar na

escola, que eu entrei muito tarde, porque eu não podia (S2, feminino).

A con scien t ização e o ap oio p or p ar t e d a fam ília e da sociedade em ger al são fundam ent ais p a r a q u e o s p o r t a d o r e s d e d e f i ci ê n ci a v i su a l d e se n v o l v a m su a s p o t e n ci a l i d a d e s e a d q u i r a m aut onom ia.

CONSI DERAÇÕES FI NAI S

Os pr of ission ais de saú de, pr in cipalm en t e en f er m eir os, est ão m al pr epar ados par a t r at ar as quest ões de saúde j unt o ao port ador de deficiência. Ta l v ez p o r i sso sej a t ã o d i f íci l a a b o r d a g em d e quest ões com o a sexualidade do deficient e visual. O que explica, de certa form a, o fato de se pesquisar e escrever pouco sobre o assunt o.

Con h ecer as per cepções dos adolescen t es com d ef iciên cia v isu al acer ca d e su a sex u alid ad e oport unizou verificar que esses adolescent es carecem d e i n f o r m a çõ es e co n h eci m en t o s co m r el a çã o a diversas quest ões que envolvem a sexualidade.

A experiência j unto aos adolescentes perm itiu um conv ív io r ico em t r ocas e m om ent os de pr azer em conhecim entos que a academ ia m uitas vezes não pode oferecer e t am bém est im ulou m ais a assunção do papel com o provedor de saúde e educador.

Acredita- se que o obj etivo foi alcançado com êxito, pois se percebe que a m aioria dos entrevistados têm algum a inform ação sobre as questões abordadas, t ais com o m enst r uação, esper m at ozóides, doenças sex u alm en t e t r an sm issív eis e an t icon cepção, m as n e m se m p r e e ssa s i n f o r m a çõ e s e st ã o co r r e t a s, const it uindo- se de idéias vagas e confusas. Pode- se associar esse fat o a falhas nos m eios de divulgação das infor m ações.

As infor m ações que são divulgadas at r avés dos m eios de com unicação com o t elevisão, j or nais, revist as, cart azes e folders, dist ribuídos em diversos locais, não at ingem de m aneira eficaz o port ador de deficiência visual. Falt am em nosso m eio program as d e e d u ca çã o se x u a l q u e se j a m a d a p t a d o s a o deficient e visual, com inform ações escrit as em braile e que pr iv ilegiem os dem ais sent idos, post o que a v isão n ão é o ú n ico m eio d e q u e se d isp õe p ar a divulgar e apr eender infor m ações.

Tod as as d ú v id as d os ad olescen t es f or am esclarecidas ao final das entrevistas, assim com o lhes f or am f or n ecid as in f or m ações ad icion ais sob r e os d i v e r so s a ssu n t o s a b o r d a d o s. Esse m o m e n t o const it uiu- se, na per cepção da pesquisador a, com o um a das ações educat ivas pert inent es ao profissional en f er m eir o. Nesse caso r ecor r eu - se à or ien t ação verbal, m as poderiam t er sido usadas várias out ras a çõ e s co m o o f i ci n a s, j o g o s, b r i n ca d e i r a s, dr am at ização.

Est a pesquisa não encer r a a com pr eensão acerca da sexualidade do deficient e visual, ela deixa algum as r eflex ões e apont a par a a necessidade de fu t u r as pesqu isas sobr e o assu n t o. Um est u do de car át er lon g it u d in al, acom p an h an d o ad olescen t es d ef i ci en t es v i su ai s q u e t en h am si d o o r i en t ad o s/ educados por m eio de um a m etodologia de educação em saúde, adequada às suas necessidades, seria um dos cam in h os de se v er ificar a eficácia das ações educat ivas no desenvolvim ent o de sua sexualidade. Por exem plo, ao t érm ino de um período, poder- se- ia observar e m ensurar quantos contraíram algum a DST, q u an t os f izer am u so d e con t r acep ção ou t iv er am filhos, ent re out ras sit uações.

A educação para a saúde não é um a hipótese a b st r a t a , é u m a r e a l i d a d e q u e r e sp o n d e à s necessidades de saúde e à possibilidade obj et iva de adquir ir com por t am ent os posit iv os. Acr edit a- se que as pessoas, m esm o as por t ador as de necessidades especiais e, nesse caso, os deficientes visuais, devem poder t er suas pr ópr ias decisões e conhecim ent os sobr e sua saúde, ex er cendo assim seus dir eit os e deveres para o pleno exercício de sua cidadania.

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